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A reportagem a seguir foi publicada depois da reação inesperada do brasileiro Daniel Alves, jogador do Barcelona, Espanha, ao ser atingido por uma banana atirada contra ele por um torcedor do time adversário durante um dos jogos do campeonato espanhol de 2014. O ato racista e, principalmente, a reação do lateral-direito geraram muitas discussões e polêmica na mídia. Na sequência, você vai ler um texto: a reprodução de uma carta de leitor, publicada na edição seguinte da mesma revista, comentando o assunto da reportagem. Eles ficaram só com a casca Ao reagir com fina ironia à provocação, o craque brasileiro venceu racistas que teimam em exibir seu primitivismo nos estádios de futebol de todo o mundo No imaginário Livro das Espécies, que, teimosamente, repousa na estante da história do futebol, os brasileiros figuram como macacos no mínimo há mais de noventa anos. Em 1920, ao disputarem o campeonato sul-americano no Chile, os integrantes da equipe nacional foram chamados de “macaquitos” por um jornal argentino. […] No domingo 27 [abril de 2014], o tal Livro das Espécies ganhou, infelizmente, uma nova edição – mas, pelo menos, revista e atualizada. E, com isso, uma versão 2014 do “todos somos macaquitos”. Eram trinta minutos do segundo tempo do jogo Villarreal versus Barcelona quando o brasileiro Daniel Alves, titular da equipe azul e grená, se encaminhou para bater um escanteio. Uma banana, então, foi atirada em sua direção. O lateral – um baiano de 30 anos, pardo, como se diz nos censos, e de olhos verdes – reagiu de forma inesperada para o público e certamente também para o agressor: pegou a fruta, descascou-a e a pôs na boca. Aquele era o oitavo caso de racismo nos gramados espanhóis somente na atual temporada. Teria sido alvo de tímidos protestos não fosse a reação irreverente do jogador brasileiro – e a entrada em cena do craque Neymar, seu companheiro de Barcelona e de seleção brasileira. Na noite do próprio domingo, o atacante postou três imagens em sua conta no Instagram. Na última delas, aparecia empunhando uma banana ao lado de seu filho, Davi Lucca – que, por sua vez, segurava uma providencial banana de pelúcia. Na legenda, o ex-santista escreveu a hashtag #somostodosmacacos em quatro idiomas: português, inglês, espanhol e catalão. Até a última quinta-feira, essa postagem havia recebido quase 580000 curtidas, enquanto uma legião de celebridades – dos esportes, das artes, da política etc. – repetia o gesto em apoio a Daniel Alves. O que se soube depois é que a reação de Daniel contra a atitude racista do torcedor do Villarreal começou a nascer há um mês em conversas com Neymar. As insistentes agressões de teor racial fizeram acender uma luz vermelha entre os membros do estafe do atacante. […] Preocupados com provocações racistas ocorridas no campeonato espanhol, o pai do atacante e Eduardo Musa, um de seus assessores mais próximos, procuraram a agência de publicidade Loducca, de São Paulo. “Eles me disseram que Neymar não poderia ficar quieto”, conta Guga Ketzer, vice-presidente de criação e sócio da Loducca, que bolou a hashtag usada pelo jogador. “Foi uma ação pro bono”, garante Ketzer. A notícia de que a foto de Neymar com o filho e também a avassaladora hashtag haviam sido resultado do empenho de publicitários pôs em xeque toda a reação anti-racista, a começar pela atitude de Daniel Alves. O lateral negou qualquer relação entre sua resposta no estádio e a “ação” do ex-camisa 10 do Santos. […] “Ainda que Neymar e Daniel Alves tenham articulado a reação, a iniciativa foi bastante inteligente, Daniel engoliu os racistas. Não importa se ele programou ou não a ação. O torcedor que levou a banana ao estádio também programou essa atitude”, argumenta o antropólogo Roberto DaMatta. “Os jogadores negros, na imensa maioria das vezes, ganham mais do que seus detratores. Isso perturba os racistas.” Para o filósofo Luiz Felipe Pondé, “muita gente pegou carona e só quis parecer bonitinho na foto, mas a origem da campanha de Neymar é inteligente. Pegar uma banana e dizer que #somostodosmacacos é muito mais criativo do que abrir um processo”. [...] Para além da estratégia de ação, a iniciativa de Neymar, bem mais do que o gesto de Daniel Alves, não encontrou unanimidade entre especialistas da causa negra. Para a historiadora Renísia Cristina Garcia Filice, de Brasília, “Daniel respondeu de forma madura às provocações; já Neymar, ao afirmar que somos todos macacos, referendou o mito da democracia racial. E ao lidar com essa situação fazendo brincadeira amenizou sua gravidade”. [...] Assustado com a extraordinária repercussão do caso Daniel Alves, o Villarreal rapidamente localizou o torcedor e o puniu, proibindo-o, para sempre, de entrar em seu estádio. A polícia espanhola prendeu o criminoso (por algumas horas) e revelou seu nome e seu rosto. David Campayo Lleo, de 26 anos, era instrutor das categorias de base do clube. ATIVIDADE 3 8º ano PREFEITURA MUNICIPAL DE CABO FRIO Região dos Lagos – Estado do Rio de JaneiroSecretaria Municipal de Educação Escola:C.E.M. PROFESSORA MARLI CAPP Aluno: Ano de escolaridade: 8° Turma: Carga horária da atividade:3h/a Componente Curricular: Língua Portuguesa Professor(a) que produziu a atividade:Daiane Supervisor(a) Escolar responsável pela revisão atividade: Mª José Período: de 09/08/2021 a 13/08/2021 Módulo: 4 about:blank A ideia de que, mais do que em outros esportes, o futebol desperta emoções primitivas – capazes de levar os torcedores a infringir os códigos de civilidade – é recorrente entre estudiosos. “O movimento de chutar é um ato de agressão, por mais terna e flexível que seja a maneira com que o bom jogador saiba ‘cuidar’ da bola”, observa o ensaísta Anatol Rosenfeld (1912-1973) em Negro, Macumba e Futebol. “O futebol é a nossa versão moderna dos gladiadores de Roma”, analisa Luiz Felipe Pondé. “O problema não é o esporte, são as pessoas. Você continua encontrando hoje resquícios da base cultural e política que alimentou a escravidão; são as mesmas questões raciais que estão presentes na sociedade moderna”, afirma o sociólogo Harry Edwards, professor emérito da Universidade da Califórnia em Berkeley. [...] Com seu gesto, Daniel Alves – nascido em Juazeiro, onde os negros, com seus cinquenta tons de negritude, têm uma inabalável auto estima – não contribuiu apenas para a própria causa, mas para a de todos nós, humanos, demasiado humanos. Rivaldo Gama. Revista Veja, São Paulo, Abril,p.84-91, 7 maio 2014. Carta do leitor Racismo Parabéns pela reportagem “Eles ficaram só com a casca”(7 de maio). Sou espanhol, moro no Brasil e tenho vergonha do que aconteceu no estádio Villlarreal e de outras ações racistas em meu país. Achei muito boa a reação de Daniel Alves e apoio seu movimento . Na reportagem [...], acho que faltou destacar os vários apoios na Epanha ao jogador do Barcelona. Artistas, jornalistas... todos eles comendo banana no dia seguinte ao acontecimento e falando da estupidez de alguns torcedores. Infelizmente, na Espanha há ignorantes racistas – como em outros países, inclindo o Brasil. Temos muito a melhorar, mas não acho que a sociedade espanhola seja racista nem preconceituosa. Diego Ballesteros González por e- mail Revista Veja, São Paulo, Abril,p.34, 14 maio 2014. Exercícios 1-De acordo com o texto, o racismo contra jogadores brasileiros não é uma novidade no futebol. No primeiro parágrafo do texto, é citado um episódio de racismo na história do futebol brasileiro. Qual foi essa situação de racismo? __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________2-O que fez com que o caso do lateral-direito Daniel Alves se destacasse e se configurasse de forma diferente dos demais casos de racismo contra jogadores brasileiros ? __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ 3-A campanha iniciada pelo jogador de futebol Neymar pela hashtag #somostodosmacacos foi um sucesso, mas também foi alvo de críticas. Como o texto deixa explícito ao leitor que a campanha foi um sucesso? ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ 4-Comente o fragmento abaixo retirado do texto. “Os jogadores negros na maioria das vezes, ganham mais do que seus destratores. Isso perturba o racista...” __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________ 5-O leitor Diego Ballesteros González, um espanhol que vive no Brasil, enviou uma carta após a puplicação da reportagem. O que pode ter motivado esse leitor a expressar sua opinião publicamente, enviando uma carta à revista? __________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________
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