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19/12/2020 Por que o Brasil não está caminhando para o common law, e por que isso importa – Mello e Souza & Associados
melloesouza.adv.br/2018/05/03/por-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa/ 1/20
https://www.facebook.com/sharer.php?u=http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F
https://web.whatsapp.com/send?text=Por%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa%20%E2%98%9B%20http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F
https://twitter.com/share?url=http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F&text=Acabei%20de%20ver%20Por%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa%20-%20Clique%20para%20ver%20tamb%C3%A9m%20%E2%98%9B%20
mailto:?subject=Por%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa&body=http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F%0A%0APor%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa%0A%0APor%20Pedro%20Henrique%20Reschke%2C%20Advogado%20e%20Professor%20do%20CESUSC%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0AWhat%20seems%20most%20special%20about%20Common%20Law%20jurisdictions%20is%20that%20they%20have%20a%20great%20deal%20of%20case%20law%20that%20is%20not%20about%20the%20interpretation%20of%20legislation.%20It%20is%20only%20about%20the%20interpretation%20of%20other%20case%20law.%E2%80%9D%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%C2%A0I%20-%C2%A0Introdu%C3%A7%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AO%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20num%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law%20%E2%80%93%20ou%2C%20pelo%20menos%2C%20essa%20%C3%A9%20a%20conclus%C3%A3o%20atingida%20por%20muitos%20dos%20estudos%20recentes%20de%20direito%20processual%20civil.%20Ao%20interpretar%20o%20significado%20do%20reconhecimento%20da%20import%C3%A2ncia%20dos%20precedentes%2C%20em%20n%C3%ADvel%20constitucional%20%28Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%29%20e%20infraconstitucional%20%28CPC%20de%202015%29%2C%20parcela%20significativa%20da%20doutrina%20afirma%20estarmos%20diante%20de%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20da%20natureza%20do%20sistema%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20que%20estaria%20abandonando%20suas%20origens%20de%20civil%20law%20rumo%20a%20uma%20vers%C3%A3o%20tupiniquim%20do%20common%20law%20anglo-sax%C3%A3o.%0D%0A%0D%0ASegundo%20Fredie%20Didier%20Jr.%2C%20por%20exemplo%2C%20o%20Brasil%20teria%20sofrido%20tamanha%20influ%C3%AAncia%20do%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20mais%20poss%C3%ADvel%20consider%C3%A1-lo%20um%20sistema%20exclusivamente%20civil%20law%2C%20mas%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20sistema%20h%C3%ADbrido%2C%20um%20brazilian%20lawe%20julgamento%20de%20demandas%20repetitivas.%0D%0A%0D%0AClaro%2C%20essas%20vozes%20n%C3%A3o%20s%C3%A3o%20un%C3%A2nimes%3B%20h%C3%A1%20tamb%C3%A9m%20quem%20defenda%20opini%C3%A3o%20diversa%3A%20instituir%20o%20respeito%20a%20alguns%20precedentes%20e%20provimentos%20vinculantes%20n%C3%A3o%20significa%20modificar%20a%20natureza%20de%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico.%20Mas%2C%20de%20forma%20geral%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20identificar%20no%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%20uma%20associa%C3%A7%C3%A3o%20forte%20entre%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20de%20qualquer%20natureza%20%E2%80%93%20como%20algo%20que%20n%C3%A3o%20nos%20pertence.%20Qualquer%20coisa%20al%C3%A9m%20da%20perspectiva%20decisionista%20do%20livre%20convencimento%20%C3%A9%20tida%20como%20incompat%C3%ADvel%20com%20nosso%20sistema%2C%20pelo%20que%20seria%20veemente%20a%20necessidade%20dessa%20reforma%20%E2%80%9Cimportada%E2%80%9D%20do%20common%20law.%20A%20salva%C3%A7%C3%A3o%20est%C3%A1%20l%C3%A1%20fora.%0D%0A%0D%0AEste%20trabalho%20defende%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20caminha%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20que%20isso%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20apenas%20um%20problema%20sem%C3%A2ntico.%20Dizer%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20tornando%20common%20law%20%C3%A9%20cometer%2C%20pelo%20menos%2C%20dois%20erros%20fundamentais.%20Em%20primeiro%20lugar%2C%20significa%20adotar%20uma%20concep%C3%A7%C3%A3o%20excessivamente%20reducionista%20de%20civil%20law%20e%20de%20common%20law.%20Segundo%2C%20e%20mais%20grave%2C%20significa%20emprestar%20ao%20%E2%80%9Csistema%20brasileiro%20de%20precedentes%E2%80%9D%20uma%20legitimidade%20material%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20autom%C3%A1tica%2C%20mas%20precisa%20ser%20conquistada%20na%20pr%C3%A1tica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AII%20-%20Os%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20do%20mundo%20ocidental%3B%0D%0A%0D%0AO%20conceito%20de%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20no%20direito%20comparado%2C%20tem%20um%20prop%C3%B3sito%20eminentemente%20classificat%C3%B3rio.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20mesmo%20que%20falar%20em%20sistema%20jur%C3%ADdico%20no%20contexto%20do%20estudo%20de%20um%20determinado%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%20Nesse%20caso%2C%20a%20express%C3%A3o%20ganha%20um%20significado%20distinto%2C%20referindo-se%20ao%20conjunto%20de%20normas%20vigentes%20dentro%20de%20um%20determinado%20pa%C3%ADs%3B%20aqui%2C%20a%20express%C3%A3o%20sistema%20jur%C3%ADdico%20pode%20ser%20tomada%20como%20sin%C3%B4nimo%20de%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%0D%0A%0D%0AJ%C3%A1%20no%20direito%20comparado%2C%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20s%C3%A3o%20modelos%20ideais%2C%20baseados%20nas%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20que%20se%20apresentam%20em%20ordenamentos%20jur%C3%ADdicos%20distintos.%20Assim%2C%20dizer%20que%20determinado%20pa%C3%ADs%20adota%20um%20sistema%20de%20civil%20law%20n%C3%A3o%20significa%20dizer%20que%20ele%20seja%20exatamente%20igual%20aos%20outros%20que%20comp%C3%B5em%20o%20mesmo%20sistema.%20Falar%20e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recedentes%20%E2%80%93%20%E2%80%9Co%20common%20law%20facilmente%20vislumbrou%20que%20a%20certeza%20jur%C3%ADdica%20apenas%20poderia%20ser%20obtida%20mediante%20o%20stare%20decisis%E2%80%9D.%20Enfim%3A%20o%20common%20law%20tem%20peculiaridades%20que%20v%C3%A3o%20muito%20al%C3%A9m%20de%20um%20enfoque%20maior%20da%20lei%20criada%20pelo%20magistrado.%0D%0A%0D%0AAli%C3%A1s%2C%20mesmo%20sob%20esse%20ponto%20de%20vista%2C%20a%20rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20common%20law%20e%20o%20stare%20decisis%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20imune%20a%20cr%C3%ADticas.%20Primeiro%20porque%2C%20apesar%20das%20centenas%20de%20anos%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%2C%20ainda%20n%C3%A3o%20existe%20uma%20obra%20definitiva%20sobre%20a%20natureza%20do%20precedente%20judicial%2C%20nem%20sobre%20a%20origem%20da%20autoridade%20vinculante%2C%20que%20ainda%20s%C3%A3o%20frequentemente%20investigadas%20%28resgatando%2C%20assim%2C%20a%20cl%C3%A1ssica%20cr%C3%ADtica%20de%20Bentham%2C%20equiparando%20o%20direito%20jurisprudencial%20a%20regras%20de%20comportamento%20canino%20%E2%80%93%20dog%20law%29.%0D%0A%0D%0ANo%20nosso%20contexto%20atual%2C%20que%20v%C3%AA%20nos%20precedentes%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20v%C3%A1lvula%20de%20escape%20necess%C3%A1ria%20e%20inevit%C3%A1vel%20para%20o%20problema%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%2C%20parece%20estranho%20saber%20que%20o%20precedente%20judicial%20%C3%A9%20um%20fen%C3%B4meno%20ainda%20incompreendido%20dentro%20do%20pr%C3%B3prio%20common%20law.%20Igualmente%20peculiar%20%C3%A9%20descobrir%20que%20h%C3%A1%20correntes%20s%C3%A9rias%20de%20pesquisa%20nos%20pa%C3%ADses%20anglo-sax%C3%B5es%20defendendo%20uma%20mitiga%C3%A7%C3%A3o%20do%20stare%20decisis%20em%20favor%20do%20fortalecimento%20de%20uma%20codifica%C3%A7%C3%A3o%20nos%20moldes%20do%20civil%20law%20%E2%80%93%20n%C3%A3o%20seria%20esse%2C%20exatamente%2C%20o%20nosso%20problema%3F%20Isso%20deve%20ser%20interpretado%20como%20sinal%20claro%20de%20que%20o%20common%20law%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20sistema%20fechado%2C%20que%20j%C3%A1%20resolveu%20todos%20os%20seus%20problemas.%20A%20doutrina%20do%20precedente%20%E2%80%93%20que%20cogitamos%20importar%20e%20instaurar%20por%20meio%20de%20lei%20no%20nosso%20sistema%20%E2%80%93%20ainda%20vem%20sendo%20constantemente%20trabalhada%20e%20aprimorada%20na%20pr%C3%A1tica.%20Ela%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20%E2%80%9Cponto%20final%E2%80%9D%20no%20sistema%20do%20common%20law%2C%20e%20nem%20poder%C3%A1%20ser%20vista%20como%20tal%20dentro%20do%20ordenamento%20brasileiro.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AIV%20-%20A%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20brasileira%20e%20o%20impacto%20das%20decis%C3%B5es%20vinculantes%3B%0D%0A%0D%0ADemonstrou-se%20o%20que%20%C3%A9%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20na%20%C3%B3tica%20do%20direito%20comparado%2C%20e%20expuseram-se%20as%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20dos%20sistemas%20de%20common%20law%2C%20enquanto%20arqu%C3%A9tipos%20ideais.%20Falta%20analisar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20realmente%20nisso%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20%E2%80%93%20se%20%C3%A9%20que%20est%C3%A1%20se%20transformando%20mesmo%20em%20alguma%20coisa.%0D%0A%0D%0AEstudar%20para%20onde%20vai%20o%20Brasil%20exige%20que%20se%20entenda%20de%20onde%20ele%20parte.%20Zaneti%20Jr.%20aponta%20um%20%E2%80%9Cparadoxo%20metodol%C3%B3gico%E2%80%9D%20desde%20a%20origem%20do%20nosso%20sistema%3A%20a%20nossa%20ordem%20pol%C3%ADtico-constitucional%20%C3%A9%20de%20veia%20republicana%20e%20federativa%2C%20inspirada%20no%20modelo%20norte-americano%2C%20enquanto%20os%20demais%20ramos%20do%20direito%20infraconstitucional%2C%20privado%20e%20p%C3%BAblico%20%28inclusive%20o%20direito%20processual%29%2C%20s%C3%A3o%20tipicamente%20romano-germ%C3%A2nicos.%20Apesar%20dessa%20constru%C3%A7%C3%A3o%20mista%2C%20que%20poderia%20levar%20%C3%A0%20compreens%C3%A3o%20de%20que%20j%C3%A1%20ser%C3%ADamos%20um%20pouco%20common%20law%2C%20%C3%A9%20essa%20veia%20romano-germ%C3%A2nica%20que%20inspira%20o%20funcionamento%20e%20o%20m%C3%A9todo%20do%20nosso%20Judici%C3%A1rio.%20Por%20isso%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20classificar%20o%20direito%20brasileiro%2C%20assim%20como%20os%20demais%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20latino-americanos%2C%20como%20um%20sistema%20de%20civil%20law.%0D%0A%0D%0ADe%20fato%2C%20o%20sistema%20brasileiro%20%C3%A9%20influenciado%20pela%20vis%C3%A3o%20positivista%20focada%20no%20Poder%20Legislativo%20como%20foco%20produtor%20de%20normas%20jur%C3%ADdicas%2C%20decorrente%20da%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Francesa%2C%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20neutra%20e%20imparcial%20do%20direito%20pelo%20juiz%2C%20que%20se%20limitava%20a%20simplesmente%20ditar%20a%20vontade%20concreta%20da%20lei%20%E2%80%93%20que%2C%20por%20sua%20pr%C3%B3pria%20natureza%2C%20era%20um%20texto%20geral%20e%20abstrato%29.%0D%0A%0D%0AA%20base%20filos%C3%B3fica%20brasileira%2C%20assim%2C%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20a%20de%20cria%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20pelos%20tribunais%2C%20mas%20a%20da%20cren%C3%A7a%20na%20univocidade%20da%20lei%20e%20do%20juiz%20como%20mero%20aplicador%20neutro%20do%20direito.%20Nosso%20sistema%20%C3%A9%20constru%C3%ADdo%20tendo%20por%20base%20a%20legitimidade%20democr%C3%A1tica%20do%20direito%20produzido%20pelos%20representantes%20do%20povo%2C%20e%20no%20juiz%20enquanto%20aplicador.%20Por%20outro%20lado%2C%20o%20avan%C3%A7o%20da%20teoria%20do%20direito%20dos%20pa%C3%ADses%20de%20civil%20law%2C%20apoiado%20nas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20interpretativas%20p%C3%B3s-positivistas%2C%20reconheceu%20a%20impossibilidade%20de%20aplicar%20o%20texto%20normativo%20como%20tendo%20sentido%20em%20si%20pr%C3%B3prio.%20A%20renovada%20for%C3%A7a%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20que%20levou%20alguns%20te%C3%B3ricos%20a%20falarem%20em%20legisprudence%2C%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20nem%20s%C3%B3%20legisla%C3%A7%C3%A3o%2C%20nem%20s%C3%B3%20jurisprud%C3%AAncia%20%E2%80%93%20%C3%A9%20decorr%C3%AAncia%20desse%20fen%C3%B4meno.%0D%0A%0D%0AAl%C3%A9m%20de%20uma%20necessidade%20te%C3%B3rica%2C%20decorrente%20da%20necessidade%20de%20tratar%20o%20jurisdicionado%20com%20isonomia%20e%20diminuir%20o%20efeito%20nocivo%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20fragmentadas%2C%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20for%C3%A7a%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20no%20civil%20law%20brasileiro%20tamb%C3%A9m%20%C3%A9%20uma%20forma%20de%20lidar%20com%20a%20litigiosidade%20repetitiva%20que%20prejudica%20o%20bom%20funcionamento%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio.%0D%0A%0D%0ADesde%201963%2C%20quando%20foi%20criado%20o%20instituto%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20j%C3%A1%20se%20fala%20na%20recep%C3%A7%C3%A3o%20da%20f%C3%B3rmula%20do%20stare%20decisis%20pelo%20ordenamento%20brasileiro%3B%20os%20principais%20coment%C3%A1rios%20e%20justificativas%20doutrin%C3%A1rias%20para%20os%20institutos%20da%20repercuss%C3%A3o%20geral%20e%20da%20s%C3%BAmula%20vinculante%2C%20tidos%20a%20partir%20da%20Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%2C%20tamb%C3%A9m%20afirmavam%20serem%20ambos%20institutos%20de%20veia%20tipicamente%20anglo-sax%C3%A3.%20E%20o%20CPC%20de%202015%2C%20especialmente%20em%20seus%20arts.%20926%20e%20927%2C%20instituiu%20um%20rol%20de%20provimentos%20judiciais%20que%20s%C3%A3o%20vinculantes%20para%20o%20%C3%B3rg%C3%A3o%20que%20os%20proferiu%20e%20aqueles%20hierarquicamente%20subordinados.%20Trata-se%2C%20assim%2C%20da%20coroa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tend%C3%AAncia%20decorrente%20da%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20hist%C3%B3rica%20natural%20do%20sistema%20brasileiro.%0D%0A%0D%0AEsse%20conjunto%20de%20decis%C3%B5es%20vinculantes%2C%20estruturados%20como%20normas%20jur%C3%ADdicas%20emitidas%20pelo%20Judici%C3%A1rio%2C%20p%C3%B5e%20em%20conflito%20duas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20de%20precedente%3A%20de%20um%20lado%2C%20garantidor%20da%20isonomia%20formal%2C%20e%2C%20de%20outro%2C%20um%20modo%20de%20resolver%20rapidamente%20causas%20repetitivas%20que%20afogam%20o%20Judici%C3%A1rio%2C%20%E2%80%93%20conflito%20que%20pode%20tamb%C3%A9m%20ser%20posto%20como%20uma%20contraposi%C3%A7%C3%A3o%20entre%20racionalidade%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20e%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica%20do%20precedente.%20O%20precedente%20com%20for%C3%A7a%20vinculante%20ope%20legis%2C%20estruturado%20por%20meio%20de%20provimentos%20judiciais%20obrigat%C3%B3rios%20%28sem%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20raz%C3%B5es%20fundamentais%20de%20decidir%29%2C%20%C3%A9%20emblem%C3%A1tico%20dessa%20segunda%20concep%C3%A7%C3%A3o.%20Em%20linhas%20gerais%2C%20%C3%A9%20esse%20o%20estado%20da%20arte%20do%20precedente%20judicial%20no%20Brasil%3B%20resta%20investigar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20esse%20%E2%80%9Cdesvirtuamento%E2%80%9D%20do%20civil%20law%20padr%C3%A3o%20%C3%A9%20raz%C3%A3o%20suficiente%20para%20se%20dizer%20que%20o%20Brasil%20estaria%20passando%20por%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20sist%C3%AAmica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AV%20-%20O%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20se%20transformando%20em%20common%20law%3B%0D%0A%0D%0AA%20pretens%C3%A3o%20de%20diferenciar%20common%20law%20e%20civil%20law%20simplesmente%20pela%20origem%20da%20norma%20jur%C3%ADdica%20%E2%80%93%20constru%C3%ADda%20judicialmente%20no%20primeiro%20caso%20e%20pela%20lei%20escrita%20no%20segundo%20%E2%80%93%20%C3%A9%20tentadora%20pela%20simplicidade%20e%20pela%20did%C3%A1tica.%20Essa%20diferen%C3%A7a%20b%C3%A1sica%20de%20fato%20existe%2C%20mas%20%C3%A9%20uma%20quest%C3%A3o%20cultural%2C%20muito%20mais%20do%20que%20um%20problema%20simples%20de%20fonte%20do%20direito.%20Definir%20o%20common%20law%20pela%20falta%20de%20um%20c%C3%B3digo%20legislativo%20organizado%20%C3%A9%20aderir%20a%20um%20modelo%20ideal%20de%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20corresponde%20%C3%A0%20realidade%20daqueles%20pa%C3%ADses.%20Trata-se%2C%20em%20suma%2C%20de%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20elegantemente%20errada%20para%20um%20problema%20complexo.%20A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20no%20common%20law%20nos%20%C3%BAltimos%20anos%20tem%20sido%20significativa%2C%20a%20ponto%20de%20a%20lei%20feita%20unicamente%20pelos%20ju%C3%ADzes%20hoje%20constituir%20a%20exce%C3%A7%C3%A3o%2C%20n%C3%A3o%20a%20regra%20%E2%80%93%20v%C3%AAm%20aumentando%20a%20confian%C3%A7a%20que%20depositam%20nas%20decis%C3%B5es%20passadas%20dos%20tribunais%20como%20fonte%20de%20direito.%0D%0A%0D%0A%C3%80%20primeira%20vista%2C%20ent%C3%A3o%2C%20a%20divis%C3%A3o%20pelo%20ponto%20de%20vista%20lei%20vs.%20precedente%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20suficiente%20para%20dar%20conta%20da%20diferen%C3%A7a%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20Segundo%20Taruffo%2C%20o%20mesmo%20se%20pode%20dizer%20de%20outro%20crit%C3%A9rios%20tradicionais%20de%20separa%C3%A7%C3%A3o%2C%20que%20contrap%C3%B5e%20os%20sistemas%20de%20civil%20law%20e%20common%20law%20como%20predominantemente%20orais%20ou%20escritos%2C%20respectivamente%3B%20ou%2C%20ainda%2C%20com%20olhos%20ao%20tipo%20de%20processo%2C%20se%20adversarial%20ou%20inquisitorial.%0D%0A%0D%0AAssim%20como%20a%20dicotomia%20de%20fontes%2C%20essas%20oposi%C3%A7%C3%B5es%20simples%20n%C3%A3o%20d%C3%A3o%20conta%20de%20toda%20a%20complexidade%20que%20separa%20os%20dois%20sistemas.%20As%20diferen%C3%A7as%20entre%20os%20dois%20s%C3%A3o%20hist%C3%B3ricas%20e%20comportamentais%2C%20vinculadas%20ao%20modo%20como%20cada%20um%20deles%20foi%20constru%C3%ADdo%2C%20e%20a%20como%20se%20enxerga%20e%20se%20aplica%20o%20direito%20e%20os%20precedentes.%20Talvez%20a%20principal%20caracter%C3%ADstica%20que%20realmente%20diferencie%20os%20dois%20sistemas%2C%20pelo%20menos%20do%20ponto%20de%20vista%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%2C%20seja%20a%20cultura%20argumentativa%20constru%C3%ADda%20nos%20pa%C3%ADses%20de%20common%20law%20como%20requisito%20para%20a%20adequada%20operacionaliza%C3%A7%C3%A3o%20da%20cultura%20de%20precedentes.%0D%0A%0D%0AH%C3%A1%20diferen%C3%A7as%20fundamentais%20entre%20as%20ferramentas%20de%20objetiva%C3%A7%C3%A3o%20processual%20adotadas%20pelo%20legislador%20brasileiro%20e%20um%20real%20sistema%20argumentativo%20de%20precedentes%20que%20se%20preocupe%20com%20a%20constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20com%20integridade.%20Enquanto%20isso%2C%20o%20juiz%20brasileiro%20que%20se%20deparar%20com%20algum%20pronunciamento%20vinculante%2C%20dever%C3%A1%20acompanhar%20aquele%20entendimento%2C%20por%20for%C3%A7a%20da%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa.%20Essa%20%C3%A9%20a%20primeira%20e%20mais%20elementar%20das%20diferen%C3%A7as%20%E2%80%93%20mas%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20significa.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20dif%C3%ADcil%20imaginar%20um%20efetivo%20sistema%20de%20precedentes%20que%20tenha%20sua%20g%C3%AAnese%20numa%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa%2C%20desde%20que%20seja%20aplicado%20racional%20e%20argumentativamente.%0D%0A%0D%0AA%20real%20diferen%C3%A7a%20reside%20no%20m%C3%A9todo.%20Os%20provimentos%20vinculantes%20no%20direito%20brasileiro%20se%20estruturam%20como%20enunciados%20normativos.%20N%C3%A3o%20h%C3%A1%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20com%20as%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20o%20juiz%20a%20tomar%20determinada%20decis%C3%A3o%2C%20nem%20com%20os%20princ%C3%ADpios%20jur%C3%ADdicos%20que%20o%20orientaram%2C%20mas%20apenas%20com%20o%20resultado%20final%20do%20julgamento%2C%20traduzido%20%E2%80%93%20pelo%20pr%C3%B3prio%20julgador%20%E2%80%93%20num%20enunciado%20geral%20e%20abstrato%2C%20nos%20moldes%20de%20uma%20norma.%20Como%20se%20esse%20enunciado%20judicial%20fosse%20resultado%20de%20um%20processo%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o%20da%20lei%20e%20n%C3%A3o%20dependesse%2C%20ele%20pr%C3%B3prio%2C%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o.%20Trabalhamos%20com%20precedentes%20da%20mesma%20forma%20que%20trabalhamos%20com%20a%20lei%2C%20esperando%2C%20no%20fundo%2C%20que%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%20se%20d%C3%AA%20por%20mera%20subsun%C3%A7%C3%A3o.%20Evolu%C3%ADmos%2C%20assim%2C%20do%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-lei%E2%80%9D%20ao%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-s%C3%BAmula%E2%80%9D.%20Por%20isso%2C%20a%20figura%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20assim%20como%20das%20s%C3%BAmulas%20vinculantes%2C%20acoplou-se%20com%20facilidade%20ao%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20criando%20como%20que%20um%20%E2%80%9Cstare%20decisis%20%C3%A0%20brasileira%E2%80%9D.%0D%0A%0D%0AEnquanto%20isso%2C%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20precedentes%20no%20common%20law%20%C3%A9%20argumentativa%3A%20o%20que%20vincula%20os%20casos%20subsequentes%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20uma%20regra%20geral%20anunciada%20pelo%20juiz%20do%20precedente%2C%20mas%20a%20raz%C3%A3o%20fundamental%20de%20decidir%20%28ratio%20decidendi%29%2C%20que%20cabe%20ao%20julgador%20do%20caso%20futuro%20extrair.%20Assim%2C%20tal%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20necessariamente%20pr%C3%A1tica%20e%20argumentativa%3A%20ao%20juiz%20n%C3%A3o%20basta%20aplicar%20uma%20resposta%20pr%C3%A9-moldada%2C%20mas%20sim%20estudar%20os%20princ%C3%ADpios%20que%20orientaram%20a%20decis%C3%A3o%20anterior%20e%20aplic%C3%A1-los%2C%20de%20forma%20coerente%2C%20ao%20caso%20atual%2C%20e%20n%C3%A3o%20apenas%20numa%20lista%20de%20decis%C3%B5es%20que%20s%C3%A3o%20isoladamente%20vinculantes.%0D%0A%0D%0AIsso%20n%C3%A3o%20pressup%C3%B5e%20que%20estejamos%20nos%20tornando%2C%20muito%20menos%20que%20precisemos%20nos%20tornar%2C%20um%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law.%20Precisamos%20%E2%80%93%20isso%20sim%20%E2%80%93%20desenvolver%20uma%20cultura%20argumentativa%20de%20precedentes%20coerente%20com%20o%20nosso%20civil%20law.%20De%20outro%20lado%2C%20nos%20contentaremos%20com%20um%20%E2%80%9Csistema%20de%20precedentes%E2%80%9D%20voltado%20n%C3%A3o%20%C3%A0%20constru%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20com%20integridade%20e%20coer%C3%AAncia%20interna%2C%20mas%20como%20mera%20t%C3%A9cnica%20de%20julgamento%20de%20casos%20repetitivos%2C%20que%20afoga%20as%20peculiaridades%20de%20cada%20caso%20concreto%20e%2C%20junto%20com%20elas%2C%20o%20pr%C3%B3prio%20direito.%0D%0A%0D%0ADecidir%20com%20racionalidade%20sist%C3%AAmica%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20requisito%20operacional%20de%20uma%20ou%20de%20outra%20fam%C3%ADlia%20jur%C3%ADdica%20espec%C3%ADfica%2C%20mas%20pressuposto%20l%C3%B3gico%20universal.%20O%20direito%20n%C3%A3o%20pode%20servir%20apenas%20para%20resolver%20os%20problemas%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio%3B%20a%20administra%C3%A7%C3%A3o%20da%20justi%C3%A7a%20n%C3%A3o%20pode%20se%20transformar%20num%20fim%20em%20si%20pr%C3%B3pria.%20Por%20isso%2C%20afirmar%20que%20o%20Brasil%20se%20tornou%20common%20law%20%C3%A9%20uma%20grave%20indu%C3%A7%C3%A3o%20a%20erro%2C%20porque%20se%20faz%20crer%20que%20essa%20cultura%20argumentativa%20j%C3%A1%20teria%20sido%20alcan%C3%A7ada.%20%C3%89%20como%20dizer%20que%20a%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20decis%C3%B3ria%20de%20origem%20normativa%20teria%20o%20cond%C3%A3o%20de%20fazer%20com%20que%20as%20coisas%20aqui%20se%20tornassem%20iguais%20%C3%A0s%20coisas%20l%C3%A1%2C%20desonerando%20o%20operador%20jur%C3%ADdico%20do%20compromisso%20intelectual%20necess%C3%A1rio%20para%20resolver%20os%20nossos%20problemas%2C%20que%20s%C3%A3o%20peculiares%20e%20exclusivamente%20nossos.%0D%0A%0D%0AIsso%20porque%20a%20tal%20%E2%80%9Cjurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%E2%80%9D%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20problema%20isolado.%20Est%C3%A1%20inserida%20num%20contexto%20muito%20maior%2C%20de%20crise%20do%20pr%C3%B3prio%20direito.%20O%20que%20se%20p%C3%B5e%20em%20jogo%20%C3%A9%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%2C%20que%20decorre%20da%20falta%20de%20fundamenta%C3%A7%C3%A3o%20racional%2C%20e%20transforma%20a%20decis%C3%A3o%20num%20ato%20n%C3%A3o%20de%20direito%2C%20mas%20de%20poder.%20O%20jurisdicionado%20se%20v%C3%AA%20na%20angustiante%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20n%C3%A3o%20saber%20o%20que%20diz%20o%20direito%2C%20porque%20a%20lei%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20vale%20%E2%80%93%20o%20que%2C%20em%20ampla%20medida%2C%20se%20relaciona%20com%20o%20fen%C3%B4meno%20da%20infla%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%2C%20t%C3%ADpico%20do%20final%20do%20s%C3%A9c.%20XX%20e%20do%20come%C3%A7o%20do%20s%C3%A9c.%20XXI%3A%20%C3%A9%20muito%20dif%C3%ADcil%20extrair%20sentido%20de%20uma%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20extensa%2C%20fracionada%20e%20contradit%C3%B3ria.%0D%0A%0D%0AE%20a%20solu%C3%A7%C3%A3o%20que%20o%20sistema%20prop%C3%B5e%20para%20esse%20problema%20%C3%A9%20tornar%20vinculantes%20e%20indiscut%C3%ADveis%20esses%20mesmos%20provimentos%20judiciais.%20Tudo%20sob%20o%20manto%20legitimador%20da%20ideia%20de%20que%20funciona%20assim%20no%20common%20law%2C%20e%20funciona%20bem%2C%20ent%C3%A3o%20funcionar%C3%A1%20bem%20aqui.%20%C3%89%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20confort%C3%A1vel%20a%20curto%20prazo%2C%20admite-se.%20Num%20cen%C3%A1rio%20onde%20o%20mosaico%20de%20entendimentos%20jurisprudenciais%20n%C3%A3o%20permite%20que%20se%20conhe%C3%A7a%20adequadamente%20o%20que%20%C3%A9%20a%20lei%20vigente%20no%20pa%C3%ADs%2C%20a%20fixa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tese%2C%20qualquer%20que%20seja%2C%20traz%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica.%20Mesmo%20que%20n%C3%A3o%20represente%20a%20melhor%20resposta%2C%20nem%20tenha%20legitimidade%20racional%2C%20ela%20resolve%20a%20diverg%C3%AAncia%2C%20por%20ter%20for%C3%A7a%20vinculante%20legal.%20Pode%20n%C3%A3o%20ser%20a%20melhor%20resposta%2C%20mas%20%C3%A9%20alguma%20resposta%2C%20situa%C3%A7%C3%A3o%20mais%20vantajosa%20do%20que%20o%20cen%C3%A1rio%20fracionado%20e%20imprevis%C3%ADvel%20que%20temos%20hoje.%0D%0A%0D%0AEm%20meio%20%C3%A0%20crise%20na%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20respostas%20judiciais%20adequadas%2C%20que%20p%C3%B5e%20em%20xeque%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20da%20jurisdi%C3%A7%C3%A3o%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais.%0D%0A%0D%0APor%20isso%2C%20%C3%A9%20preciso%20defender%20com%20veem%C3%AAncia%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20trocando%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica.%20Evitamos%2C%20assim%2C%20o%20erro%20de%20estudar%20os%20precedentes%20vinculantes%20daqui%20com%20uma%20simples%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20de%20como%20eles%20funcionam%20l%C3%A1%20%E2%80%93%20como%20se%20apreender%20os%20conceitos%20de%20ratio%20decidendi%20e%20distinguishing%20e%20overruling%20a%20partir%20de%20autores%20americanos%20e%20ingleses%20fosse%20suficiente%20para%20compreender%20a%20nossa%20jurisprud%C3%AAncia%20vinculante%2C%20esquecendo%20a%20enorme%20diferen%C3%A7a%20metodol%C3%B3gica%20e%20cultural%20que%20existe%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20O%20rol%20de%20provimentos%20vinculantes%20do%20art.%20927%20do%20CPC%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20instituto%20derivado%20do%20common%20law%2C%20mesmo%20que%20a%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20da%20entidade%20abstrata%20que%20chamamos%20de%20%E2%80%9Co%20legislador%E2%80%9D%20tenha%20sido%20o%20modelo%20anglo-sax%C3%A3o%20de%20stare%20decisis.%20H%C3%A1%20uma%20enorme%20diferen%C3%A7a%20entre%20importar%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20e%20construir%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20novo%20com%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20em%20alguma%20experi%C3%AAncia%20estrangeira.%20Disso%20se%20retira%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20redobrada%20que%20o%20jurista%20brasileiro%20deve%20ter%20com%20os%20conceitos%20operacionais%20de%20supera%C3%A7%C3%A3o%20e%2C%20especialmente%2C%20de%20distin%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%2C%20alinhando-os%20a%20uma%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20estudos%20interpretativos%20da%20pr%C3%B3pria%20lei.%0D%0A%0D%0AA%20solu%C3%A7%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20que%20h%C3%A1%2C%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20muito%20longe.%20%C3%89%20preciso%20aplicar%20o%20c%C3%B3digo%20como%20um%20todo%2C%20n%C3%A3o%20em%20tiras.%20N%C3%A3o%20existe%20art.%20927%20%28rol%20de%20provimentos%20vinculantes%29%20sem%20art.%20926%20%28dever%20de%20estabilidade%2C%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20da%20jurisprud%C3%AAncia%29.%20N%C3%A3o%20existe%20sistema%20de%20precedentes%20sem%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20em%20construir%2C%20argumentativamente%2C%20respostas%20judiciais%20que%20guardem%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20principiol%C3%B3gica%2C%20extraindo%20motivos%20determinantes%20e%20realizando%20distin%C3%A7%C3%B5es%20e%20supera%C3%A7%C3%B5es%20quando%20for%20adequado%20%28art.%20489%2C%20%C2%A7%201%C2%BA%29.%20Obriga%C3%A7%C3%A3o%20do%20juiz%2C%20das%20partes%2C%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblico%20%E2%80%93%20de%20todos%20os%20atores%20processuais.%20Dever%20de%20coopera%C3%A7%C3%A3o%2C%20enfim%20%28art.%206%C2%BA%29.%0D%0A%0D%0ANada%20disso%20nos%20obriga%20a%20importar%20qualquer%20coisa%20do%20common%20law.%20Est%C3%A1%20tudo%20l%C3%A1%2C%20no%20pr%C3%B3prio%20CPC.%20Basta%20aplic%C3%A1-lo.%0D%0A%0D%0AEm%20suma%3A%20existe%20um%20abismo%20de%20diferen%C3%A7a%20entre%20afirmar%2C%20como%20fazem%20Marinoni%2C%20que%20existe%20uma%20converg%C3%AAncia%20te%C3%B3rica%20e%20metodol%C3%B3gica%20entre%20os%20dois%20sistemas%2C%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20a%20alguns%20de%20seus%20institutos%20fundamentais%2C%20e%20dizer%20que%20est%C3%A1%20havendo%20uma%20efetiva%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20e%20que%2C%20a%20partir%20do%20CPC%20de%202015%2C%20podemos%20passar%20a%20estudar%20o%20Direito%20no%20Brasil%20como%20se%20estiv%C3%A9ssemos%20na%20Inglaterra%20ou%20nos%20Estados%20Unidos.%20Colocando%20da%20primeira%20forma%2C%20convidamos%20um%20estudo%20dos%20institutos%20argumentativos%20muito%20bem%20desenvolvidos%20no%20common%20law%20e%20observamos%20os%20cuidados%20constantes%20daquele%20sistema%20com%20a%20legitima%C3%A7%C3%A3o%20racional%20do%20processo%20decis%C3%B3rio%2C%20que%20contrastam%20violentamente%20com%20a%20pretens%C3%A3o%20padronizadora%20do%20processo%20civil%20objetivo%20brasileiro.%20Se%2C%20por%20outro%20lado%2C%20entendermos%20que%20houve%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20corremos%20o%20risco%20de%20nos%20satisfazermos%20com%20o%20estado%20atual%20de%20coisas%2C%20privando%20o%20sistema%20do%20necess%C3%A1rio%20choque%20paradigm%C3%A1tico%20que%20for%C3%A7a%20a%20adapta%C3%A7%C3%A3o%20intelectual.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AVI%20-%20Conclus%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AEste%20breve%20ensaio%20n%C3%A3o%20deve%20ser%20tomado%20como%20um%20ataque%20a%20qualquer%20associa%C3%A7%C3%A3o%20did%C3%A1tica%20entre%20o%20sistema%20brasileiro%20e%20o%20common%20law%2C%20nem%2C%20muito%20menos%2C%20como%20uma%20cruzada%20contra%20autores%20e%20autoras%20defensores%20dessa%20guinada%20metodol%C3%B3gica.%20Pretendi%20fazer%2C%20na%20verdade%2C%20uma%20ressalva%20metodol%C3%B3gica%3A%20n%C3%A3o%20estamos%20importando%20nenhum%20instituto%20do%20common%20law.%20Os%20precedentes%20constru%C3%ADdos%20no%20Brasil%20a%20partir%20do%20nosso%20sistema%2C%20e%20para%20o%20nosso%20sistema%2C%20n%C3%A3o%20podem%20ser%20justificados%20pelas%20mesmas%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20os%20ju%C3%ADzes%20da%20Inglaterra%20do%20s%C3%A9c.%20XII%20a%20respeitar%20as%20decis%C3%B5es%20anteriores%2C%20nem%20podem%20ser%20explicados%20a%20partir%20de%20teorias%20pensadas%20internamente%20para%20o%20modelo%20americano.%0D%0A%0D%0ANecess%C3%A1ria%20ressalva%3A%20isso%20n%C3%A3o%20quer%20dizer%20que%20n%C3%A3o%20possamos%20estudar%20obras%20de%20hermen%C3%AAutica%2C%20argumenta%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20e%20teoria%20do%20direito%20escritas%20por%20autores%20anglo-sax%C3%B4nicos.%20Obras%20que%20estudam%20o%20fen%C3%B4meno%20jur%C3%ADdico%20com%20um%20ponto%20de%20vista%20externo%20s%C3%A3o%20leitura%20essencial%20para%20se%20construir%20adequadamente%20o%20processo%20argumen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19/12/2020 Por que o Brasil não está caminhando para o common law, e por que isso importa – Mello e Souza & Associados
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mailto:?subject=Por%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa&body=http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F%0A%0APor%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa%0A%0APor%20Pedro%20Henrique%20Reschke%2C%20Advogado%20e%20Professor%20do%20CESUSC%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0AWhat%20seems%20most%20special%20about%20Common%20Law%20jurisdictions%20is%20that%20they%20have%20a%20great%20deal%20of%20case%20law%20that%20is%20not%20about%20the%20interpretation%20of%20legislation.%20It%20is%20only%20about%20the%20interpretation%20of%20other%20case%20law.%E2%80%9D%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%C2%A0I%20-%C2%A0Introdu%C3%A7%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AO%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20num%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law%20%E2%80%93%20ou%2C%20pelo%20menos%2C%20essa%20%C3%A9%20a%20conclus%C3%A3o%20atingida%20por%20muitos%20dos%20estudos%20recentes%20de%20direito%20processual%20civil.%20Ao%20interpretar%20o%20significado%20do%20reconhecimento%20da%20import%C3%A2ncia%20dos%20precedentes%2C%20em%20n%C3%ADvel%20constitucional%20%28Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%29%20e%20infraconstitucional%20%28CPC%20de%202015%29%2C%20parcela%20significativa%20da%20doutrina%20afirma%20estarmos%20diante%20de%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20da%20natureza%20do%20sistema%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20que%20estaria%20abandonando%20suas%20origens%20de%20civil%20law%20rumo%20a%20uma%20vers%C3%A3o%20tupiniquim%20do%20common%20law%20anglo-sax%C3%A3o.%0D%0A%0D%0ASegundo%20Fredie%20Didier%20Jr.%2C%20por%20exemplo%2C%20o%20Brasil%20teria%20sofrido%20tamanha%20influ%C3%AAncia%20do%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20mais%20poss%C3%ADvel%20consider%C3%A1-lo%20um%20sistema%20exclusivamente%20civil%20law%2C%20mas%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20sistema%20h%C3%ADbrido%2C%20um%20brazilian%20lawe%20julgamento%20de%20demandas%20repetitivas.%0D%0A%0D%0AClaro%2C%20essas%20vozes%20n%C3%A3o%20s%C3%A3o%20un%C3%A2nimes%3B%20h%C3%A1%20tamb%C3%A9m%20quem%20defenda%20opini%C3%A3o%20diversa%3A%20instituir%20o%20respeito%20a%20alguns%20precedentes%20e%20provimentos%20vinculantes%20n%C3%A3o%20significa%20modificar%20a%20natureza%20de%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico.%20Mas%2C%20de%20forma%20geral%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20identificar%20no%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%20uma%20associa%C3%A7%C3%A3o%20forte%20entre%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20de%20qualquer%20natureza%20%E2%80%93%20como%20algo%20que%20n%C3%A3o%20nos%20pertence.%20Qualquer%20coisa%20al%C3%A9m%20da%20perspectiva%20decisionista%20do%20livre%20convencimento%20%C3%A9%20tida%20como%20incompat%C3%ADvel%20com%20nosso%20sistema%2C%20pelo%20que%20seria%20veemente%20a%20necessidade%20dessa%20reforma%20%E2%80%9Cimportada%E2%80%9D%20do%20common%20law.%20A%20salva%C3%A7%C3%A3o%20est%C3%A1%20l%C3%A1%20fora.%0D%0A%0D%0AEste%20trabalho%20defende%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20caminha%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20que%20isso%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20apenas%20um%20problema%20sem%C3%A2ntico.%20Dizer%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20tornando%20common%20law%20%C3%A9%20cometer%2C%20pelo%20menos%2C%20dois%20erros%20fundamentais.%20Em%20primeiro%20lugar%2C%20significa%20adotar%20uma%20concep%C3%A7%C3%A3o%20excessivamente%20reducionista%20de%20civil%20law%20e%20de%20common%20law.%20Segundo%2C%20e%20mais%20grave%2C%20significa%20emprestar%20ao%20%E2%80%9Csistema%20brasileiro%20de%20precedentes%E2%80%9D%20uma%20legitimidade%20material%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20autom%C3%A1tica%2C%20mas%20precisa%20ser%20conquistada%20na%20pr%C3%A1tica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AII%20-%20Os%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20do%20mundo%20ocidental%3B%0D%0A%0D%0AO%20conceito%20de%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20no%20direito%20comparado%2C%20tem%20um%20prop%C3%B3sito%20eminentemente%20classificat%C3%B3rio.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20mesmo%20que%20falar%20em%20sistema%20jur%C3%ADdico%20no%20contexto%20do%20estudo%20de%20um%20determinado%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%20Nesse%20caso%2C%20a%20express%C3%A3o%20ganha%20um%20significado%20distinto%2C%20referindo-se%20ao%20conjunto%20de%20normas%20vigentes%20dentro%20de%20um%20determinado%20pa%C3%ADs%3B%20aqui%2C%20a%20express%C3%A3o%20sistema%20jur%C3%ADdico%20pode%20ser%20tomada%20como%20sin%C3%B4nimo%20de%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%0D%0A%0D%0AJ%C3%A1%20no%20direito%20comparado%2C%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20s%C3%A3o%20modelos%20ideais%2C%20baseados%20nas%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20que%20se%20apresentam%20em%20ordenamentos%20jur%C3%ADdicos%20distintos.%20Assim%2C%20dizer%20que%20determinado%20pa%C3%ADs%20adota%20um%20sistema%20de%20civil%20law%20n%C3%A3o%20significa%20dizer%20que%20ele%20seja%20exatamente%20igual%20aos%20outros%20que%20comp%C3%B5em%20o%20mesmo%20sistema.%20Falar%20e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recedentes%20%E2%80%93%20%E2%80%9Co%20common%20law%20facilmente%20vislumbrou%20que%20a%20certeza%20jur%C3%ADdica%20apenas%20poderia%20ser%20obtida%20mediante%20o%20stare%20decisis%E2%80%9D.%20Enfim%3A%20o%20common%20law%20tem%20peculiaridades%20que%20v%C3%A3o%20muito%20al%C3%A9m%20de%20um%20enfoque%20maior%20da%20lei%20criada%20pelo%20magistrado.%0D%0A%0D%0AAli%C3%A1s%2C%20mesmo%20sob%20esse%20ponto%20de%20vista%2C%20a%20rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20common%20law%20e%20o%20stare%20decisis%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20imune%20a%20cr%C3%ADticas.%20Primeiro%20porque%2C%20apesar%20das%20centenas%20de%20anos%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%2C%20ainda%20n%C3%A3o%20existe%20uma%20obra%20definitiva%20sobre%20a%20natureza%20do%20precedente%20judicial%2C%20nem%20sobre%20a%20origem%20da%20autoridade%20vinculante%2C%20que%20ainda%20s%C3%A3o%20frequentemente%20investigadas%20%28resgatando%2C%20assim%2C%20a%20cl%C3%A1ssica%20cr%C3%ADtica%20de%20Bentham%2C%20equiparando%20o%20direito%20jurisprudencial%20a%20regras%20de%20comportamento%20canino%20%E2%80%93%20dog%20law%29.%0D%0A%0D%0ANo%20nosso%20contexto%20atual%2C%20que%20v%C3%AA%20nos%20precedentes%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20v%C3%A1lvula%20de%20escape%20necess%C3%A1ria%20e%20inevit%C3%A1vel%20para%20o%20problema%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%2C%20parece%20estranho%20saber%20que%20o%20precedente%20judicial%20%C3%A9%20um%20fen%C3%B4meno%20ainda%20incompreendido%20dentro%20do%20pr%C3%B3prio%20common%20law.%20Igualmente%20peculiar%20%C3%A9%20descobrir%20que%20h%C3%A1%20correntes%20s%C3%A9rias%20de%20pesquisa%20nos%20pa%C3%ADses%20anglo-sax%C3%B5es%20defendendo%20uma%20mitiga%C3%A7%C3%A3o%20do%20stare%20decisis%20em%20favor%20do%20fortalecimento%20de%20uma%20codifica%C3%A7%C3%A3o%20nos%20moldes%20do%20civil%20law%20%E2%80%93%20n%C3%A3o%20seria%20esse%2C%20exatamente%2C%20o%20nosso%20problema%3F%20Isso%20deve%20ser%20interpretado%20como%20sinal%20claro%20de%20que%20o%20common%20law%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20sistema%20fechado%2C%20que%20j%C3%A1%20resolveu%20todos%20os%20seus%20problemas.%20A%20doutrina%20do%20precedente%20%E2%80%93%20que%20cogitamos%20importar%20e%20instaurar%20por%20meio%20de%20lei%20no%20nosso%20sistema%20%E2%80%93%20ainda%20vem%20sendo%20constantemente%20trabalhada%20e%20aprimorada%20na%20pr%C3%A1tica.%20Ela%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20%E2%80%9Cponto%20final%E2%80%9D%20no%20sistema%20do%20common%20law%2C%20e%20nem%20poder%C3%A1%20ser%20vista%20como%20tal%20dentro%20do%20ordenamento%20brasileiro.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AIV%20-%20A%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20brasileira%20e%20o%20impacto%20das%20decis%C3%B5es%20vinculantes%3B%0D%0A%0D%0ADemonstrou-se%20o%20que%20%C3%A9%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20na%20%C3%B3tica%20do%20direito%20comparado%2C%20e%20expuseram-se%20as%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20dos%20sistemas%20de%20common%20law%2C%20enquanto%20arqu%C3%A9tipos%20ideais.%20Falta%20analisar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20realmente%20nisso%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20%E2%80%93%20se%20%C3%A9%20que%20est%C3%A1%20se%20transformando%20mesmo%20em%20alguma%20coisa.%0D%0A%0D%0AEstudar%20para%20onde%20vai%20o%20Brasil%20exige%20que%20se%20entenda%20de%20onde%20ele%20parte.%20Zaneti%20Jr.%20aponta%20um%20%E2%80%9Cparadoxo%20metodol%C3%B3gico%E2%80%9D%20desde%20a%20origem%20do%20nosso%20sistema%3A%20a%20nossa%20ordem%20pol%C3%ADtico-constitucional%20%C3%A9%20de%20veia%20republicana%20e%20federativa%2C%20inspirada%20no%20modelo%20norte-americano%2C%20enquanto%20os%20demais%20ramos%20do%20direito%20infraconstitucional%2C%20privado%20e%20p%C3%BAblico%20%28inclusive%20o%20direito%20processual%29%2C%20s%C3%A3o%20tipicamente%20romano-germ%C3%A2nicos.%20Apesar%20dessa%20constru%C3%A7%C3%A3o%20mista%2C%20que%20poderia%20levar%20%C3%A0%20compreens%C3%A3o%20de%20que%20j%C3%A1%20ser%C3%ADamos%20um%20pouco%20common%20law%2C%20%C3%A9%20essa%20veia%20romano-germ%C3%A2nica%20que%20inspira%20o%20funcionamento%20e%20o%20m%C3%A9todo%20do%20nosso%20Judici%C3%A1rio.%20Por%20isso%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20classificar%20o%20direito%20brasileiro%2C%20assim%20como%20os%20demais%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20latino-americanos%2C%20como%20um%20sistema%20de%20civil%20law.%0D%0A%0D%0ADe%20fato%2C%20o%20sistema%20brasileiro%20%C3%A9%20influenciado%20pela%20vis%C3%A3o%20positivista%20focada%20no%20Poder%20Legislativo%20como%20foco%20produtor%20de%20normas%20jur%C3%ADdicas%2C%20decorrente%20da%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Francesa%2C%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20neutra%20e%20imparcial%20do%20direito%20pelo%20juiz%2C%20que%20se%20limitava%20a%20simplesmente%20ditar%20a%20vontade%20concreta%20da%20lei%20%E2%80%93%20que%2C%20por%20sua%20pr%C3%B3pria%20natureza%2C%20era%20um%20texto%20geral%20e%20abstrato%29.%0D%0A%0D%0AA%20base%20filos%C3%B3fica%20brasileira%2C%20assim%2C%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20a%20de%20cria%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20pelos%20tribunais%2C%20mas%20a%20da%20cren%C3%A7a%20na%20univocidade%20da%20lei%20e%20do%20juiz%20como%20mero%20aplicador%20neutro%20do%20direito.%20Nosso%20sistema%20%C3%A9%20constru%C3%ADdo%20tendo%20por%20base%20a%20legitimidade%20democr%C3%A1tica%20do%20direito%20produzido%20pelos%20representantes%20do%20povo%2C%20e%20no%20juiz%20enquanto%20aplicador.%20Por%20outro%20lado%2C%20o%20avan%C3%A7o%20da%20teoria%20do%20direito%20dos%20pa%C3%ADses%20de%20civil%20law%2C%20apoiado%20nas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20interpretativas%20p%C3%B3s-positivistas%2C%20reconheceu%20a%20impossibilidade%20de%20aplicar%20o%20texto%20normativo%20como%20tendo%20sentido%20em%20si%20pr%C3%B3prio.%20A%20renovada%20for%C3%A7a%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20que%20levou%20alguns%20te%C3%B3ricos%20a%20falarem%20em%20legisprudence%2C%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20nem%20s%C3%B3%20legisla%C3%A7%C3%A3o%2C%20nem%20s%C3%B3%20jurisprud%C3%AAncia%20%E2%80%93%20%C3%A9%20decorr%C3%AAncia%20desse%20fen%C3%B4meno.%0D%0A%0D%0AAl%C3%A9m%20de%20uma%20necessidade%20te%C3%B3rica%2C%20decorrente%20da%20necessidade%20de%20tratar%20o%20jurisdicionado%20com%20isonomia%20e%20diminuir%20o%20efeito%20nocivo%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20fragmentadas%2C%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20for%C3%A7a%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20no%20civil%20law%20brasileiro%20tamb%C3%A9m%20%C3%A9%20uma%20forma%20de%20lidar%20com%20a%20litigiosidade%20repetitiva%20que%20prejudica%20o%20bom%20funcionamento%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio.%0D%0A%0D%0ADesde%201963%2C%20quando%20foi%20criado%20o%20instituto%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20j%C3%A1%20se%20fala%20na%20recep%C3%A7%C3%A3o%20da%20f%C3%B3rmula%20do%20stare%20decisis%20pelo%20ordenamento%20brasileiro%3B%20os%20principais%20coment%C3%A1rios%20e%20justificativas%20doutrin%C3%A1rias%20para%20os%20institutos%20da%20repercuss%C3%A3o%20geral%20e%20da%20s%C3%BAmula%20vinculante%2C%20tidos%20a%20partir%20da%20Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%2C%20tamb%C3%A9m%20afirmavam%20serem%20ambos%20institutos%20de%20veia%20tipicamente%20anglo-sax%C3%A3.%20E%20o%20CPC%20de%202015%2C%20especialmente%20em%20seus%20arts.%20926%20e%20927%2C%20instituiu%20um%20rol%20de%20provimentos%20judiciais%20que%20s%C3%A3o%20vinculantes%20para%20o%20%C3%B3rg%C3%A3o%20que%20os%20proferiu%20e%20aqueles%20hierarquicamente%20subordinados.%20Trata-se%2C%20assim%2C%20da%20coroa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tend%C3%AAncia%20decorrente%20da%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20hist%C3%B3rica%20natural%20do%20sistema%20brasileiro.%0D%0A%0D%0AEsse%20conjunto%20de%20decis%C3%B5es%20vinculantes%2C%20estruturados%20como%20normas%20jur%C3%ADdicas%20emitidas%20pelo%20Judici%C3%A1rio%2C%20p%C3%B5e%20em%20conflito%20duas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20de%20precedente%3A%20de%20um%20lado%2C%20garantidor%20da%20isonomia%20formal%2C%20e%2C%20de%20outro%2C%20um%20modo%20de%20resolver%20rapidamente%20causas%20repetitivas%20que%20afogam%20o%20Judici%C3%A1rio%2C%20%E2%80%93%20conflito%20que%20pode%20tamb%C3%A9m%20ser%20posto%20como%20uma%20contraposi%C3%A7%C3%A3o%20entre%20racionalidade%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20e%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica%20do%20precedente.%20O%20precedente%20com%20for%C3%A7a%20vinculante%20ope%20legis%2C%20estruturado%20por%20meio%20de%20provimentos%20judiciais%20obrigat%C3%B3rios%20%28sem%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20raz%C3%B5es%20fundamentais%20de%20decidir%29%2C%20%C3%A9%20emblem%C3%A1tico%20dessa%20segunda%20concep%C3%A7%C3%A3o.%20Em%20linhas%20gerais%2C%20%C3%A9%20esse%20o%20estado%20da%20arte%20do%20precedente%20judicial%20no%20Brasil%3B%20resta%20investigar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20esse%20%E2%80%9Cdesvirtuamento%E2%80%9D%20do%20civil%20law%20padr%C3%A3o%20%C3%A9%20raz%C3%A3o%20suficiente%20para%20se%20dizer%20que%20o%20Brasil%20estaria%20passando%20por%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20sist%C3%AAmica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AV%20-%20O%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20se%20transformando%20em%20common%20law%3B%0D%0A%0D%0AA%20pretens%C3%A3o%20de%20diferenciar%20common%20law%20e%20civil%20law%20simplesmente%20pela%20origem%20da%20norma%20jur%C3%ADdica%20%E2%80%93%20constru%C3%ADda%20judicialmente%20no%20primeiro%20caso%20e%20pela%20lei%20escrita%20no%20segundo%20%E2%80%93%20%C3%A9%20tentadora%20pela%20simplicidade%20e%20pela%20did%C3%A1tica.%20Essa%20diferen%C3%A7a%20b%C3%A1sica%20de%20fato%20existe%2C%20mas%20%C3%A9%20uma%20quest%C3%A3o%20cultural%2C%20muito%20mais%20do%20que%20um%20problema%20simples%20de%20fonte%20do%20direito.%20Definir%20o%20common%20law%20pela%20falta%20de%20um%20c%C3%B3digo%20legislativo%20organizado%20%C3%A9%20aderir%20a%20um%20modelo%20ideal%20de%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20corresponde%20%C3%A0%20realidade%20daqueles%20pa%C3%ADses.%20Trata-se%2C%20em%20suma%2C%20de%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20elegantemente%20errada%20para%20um%20problema%20complexo.%20A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20no%20common%20law%20nos%20%C3%BAltimos%20anos%20tem%20sido%20significativa%2C%20a%20ponto%20de%20a%20lei%20feita%20unicamente%20pelos%20ju%C3%ADzes%20hoje%20constituir%20a%20exce%C3%A7%C3%A3o%2C%20n%C3%A3o%20a%20regra%20%E2%80%93%20v%C3%AAm%20aumentando%20a%20confian%C3%A7a%20que%20depositam%20nas%20decis%C3%B5es%20passadas%20dos%20tribunais%20como%20fonte%20de%20direito.%0D%0A%0D%0A%C3%80%20primeira%20vista%2C%20ent%C3%A3o%2C%20a%20divis%C3%A3o%20pelo%20ponto%20de%20vista%20lei%20vs.%20precedente%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20suficiente%20para%20dar%20conta%20da%20diferen%C3%A7a%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20Segundo%20Taruffo%2C%20o%20mesmo%20se%20pode%20dizer%20de%20outro%20crit%C3%A9rios%20tradicionais%20de%20separa%C3%A7%C3%A3o%2C%20que%20contrap%C3%B5e%20os%20sistemas%20de%20civil%20law%20e%20common%20law%20como%20predominantemente%20orais%20ou%20escritos%2C%20respectivamente%3B%20ou%2C%20ainda%2C%20com%20olhos%20ao%20tipo%20de%20processo%2C%20se%20adversarial%20ou%20inquisitorial.%0D%0A%0D%0AAssim%20como%20a%20dicotomia%20de%20fontes%2C%20essas%20oposi%C3%A7%C3%B5es%20simples%20n%C3%A3o%20d%C3%A3o%20conta%20de%20toda%20a%20complexidade%20que%20separa%20os%20dois%20sistemas.%20As%20diferen%C3%A7as%20entre%20os%20dois%20s%C3%A3o%20hist%C3%B3ricas%20e%20comportamentais%2C%20vinculadas%20ao%20modo%20como%20cada%20um%20deles%20foi%20constru%C3%ADdo%2C%20e%20a%20como%20se%20enxerga%20e%20se%20aplica%20o%20direito%20e%20os%20precedentes.%20Talvez%20a%20principal%20caracter%C3%ADstica%20que%20realmente%20diferencie%20os%20dois%20sistemas%2C%20pelo%20menos%20do%20ponto%20de%20vista%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%2C%20seja%20a%20cultura%20argumentativa%20constru%C3%ADda%20nos%20pa%C3%ADses%20de%20common%20law%20como%20requisito%20para%20a%20adequada%20operacionaliza%C3%A7%C3%A3o%20da%20cultura%20de%20precedentes.%0D%0A%0D%0AH%C3%A1%20diferen%C3%A7as%20fundamentais%20entre%20as%20ferramentas%20de%20objetiva%C3%A7%C3%A3o%20processual%20adotadas%20pelo%20legislador%20brasileiro%20e%20um%20real%20sistema%20argumentativo%20de%20precedentes%20que%20se%20preocupe%20com%20a%20constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20com%20integridade.%20Enquanto%20isso%2C%20o%20juiz%20brasileiro%20que%20se%20deparar%20com%20algum%20pronunciamento%20vinculante%2C%20dever%C3%A1%20acompanhar%20aquele%20entendimento%2C%20por%20for%C3%A7a%20da%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa.%20Essa%20%C3%A9%20a%20primeira%20e%20mais%20elementar%20das%20diferen%C3%A7as%20%E2%80%93%20mas%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20significa.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20dif%C3%ADcil%20imaginar%20um%20efetivo%20sistema%20de%20precedentes%20que%20tenha%20sua%20g%C3%AAnese%20numa%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa%2C%20desde%20que%20seja%20aplicado%20racional%20e%20argumentativamente.%0D%0A%0D%0AA%20real%20diferen%C3%A7a%20reside%20no%20m%C3%A9todo.%20Os%20provimentos%20vinculantes%20no%20direito%20brasileiro%20se%20estruturam%20como%20enunciados%20normativos.%20N%C3%A3o%20h%C3%A1%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20com%20as%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20o%20juiz%20a%20tomar%20determinada%20decis%C3%A3o%2C%20nem%20com%20os%20princ%C3%ADpios%20jur%C3%ADdicos%20que%20o%20orientaram%2C%20mas%20apenas%20com%20o%20resultado%20final%20do%20julgamento%2C%20traduzido%20%E2%80%93%20pelo%20pr%C3%B3prio%20julgador%20%E2%80%93%20num%20enunciado%20geral%20e%20abstrato%2C%20nos%20moldes%20de%20uma%20norma.%20Como%20se%20esse%20enunciado%20judicial%20fosse%20resultado%20de%20um%20processo%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o%20da%20lei%20e%20n%C3%A3o%20dependesse%2C%20ele%20pr%C3%B3prio%2C%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o.%20Trabalhamos%20com%20precedentes%20da%20mesma%20forma%20que%20trabalhamos%20com%20a%20lei%2C%20esperando%2C%20no%20fundo%2C%20que%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%20se%20d%C3%AA%20por%20mera%20subsun%C3%A7%C3%A3o.%20Evolu%C3%ADmos%2C%20assim%2C%20do%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-lei%E2%80%9D%20ao%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-s%C3%BAmula%E2%80%9D.%20Por%20isso%2C%20a%20figura%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20assim%20como%20das%20s%C3%BAmulas%20vinculantes%2C%20acoplou-se%20com%20facilidade%20ao%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20criando%20como%20que%20um%20%E2%80%9Cstare%20decisis%20%C3%A0%20brasileira%E2%80%9D.%0D%0A%0D%0AEnquanto%20isso%2C%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20precedentes%20no%20common%20law%20%C3%A9%20argumentativa%3A%20o%20que%20vincula%20os%20casos%20subsequentes%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20uma%20regra%20geral%20anunciada%20pelo%20juiz%20do%20precedente%2C%20mas%20a%20raz%C3%A3o%20fundamental%20de%20decidir%20%28ratio%20decidendi%29%2C%20que%20cabe%20ao%20julgador%20do%20caso%20futuro%20extrair.%20Assim%2C%20tal%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20necessariamente%20pr%C3%A1tica%20e%20argumentativa%3A%20ao%20juiz%20n%C3%A3o%20basta%20aplicar%20uma%20resposta%20pr%C3%A9-moldada%2C%20mas%20sim%20estudar%20os%20princ%C3%ADpios%20que%20orientaram%20a%20decis%C3%A3o%20anterior%20e%20aplic%C3%A1-los%2C%20de%20forma%20coerente%2C%20ao%20caso%20atual%2C%20e%20n%C3%A3o%20apenas%20numa%20lista%20de%20decis%C3%B5es%20que%20s%C3%A3o%20isoladamente%20vinculantes.%0D%0A%0D%0AIsso%20n%C3%A3o%20pressup%C3%B5e%20que%20estejamos%20nos%20tornando%2C%20muito%20menos%20que%20precisemos%20nos%20tornar%2C%20um%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law.%20Precisamos%20%E2%80%93%20isso%20sim%20%E2%80%93%20desenvolver%20uma%20cultura%20argumentativa%20de%20precedentes%20coerente%20com%20o%20nosso%20civil%20law.%20De%20outro%20lado%2C%20nos%20contentaremos%20com%20um%20%E2%80%9Csistema%20de%20precedentes%E2%80%9D%20voltado%20n%C3%A3o%20%C3%A0%20constru%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20com%20integridade%20e%20coer%C3%AAncia%20interna%2C%20mas%20como%20mera%20t%C3%A9cnica%20de%20julgamento%20de%20casos%20repetitivos%2C%20que%20afoga%20as%20peculiaridades%20de%20cada%20caso%20concreto%20e%2C%20junto%20com%20elas%2C%20o%20pr%C3%B3prio%20direito.%0D%0A%0D%0ADecidir%20com%20racionalidade%20sist%C3%AAmica%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20requisito%20operacional%20de%20uma%20ou%20de%20outra%20fam%C3%ADlia%20jur%C3%ADdica%20espec%C3%ADfica%2C%20mas%20pressuposto%20l%C3%B3gico%20universal.%20O%20direito%20n%C3%A3o%20pode%20servir%20apenas%20para%20resolver%20os%20problemas%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio%3B%20a%20administra%C3%A7%C3%A3o%20da%20justi%C3%A7a%20n%C3%A3o%20pode%20se%20transformar%20num%20fim%20em%20si%20pr%C3%B3pria.%20Por%20isso%2C%20afirmar%20que%20o%20Brasil%20se%20tornou%20common%20law%20%C3%A9%20uma%20grave%20indu%C3%A7%C3%A3o%20a%20erro%2C%20porque%20se%20faz%20crer%20que%20essa%20cultura%20argumentativa%20j%C3%A1%20teria%20sido%20alcan%C3%A7ada.%20%C3%89%20como%20dizer%20que%20a%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20decis%C3%B3ria%20de%20origem%20normativa%20teria%20o%20cond%C3%A3o%20de%20fazer%20com%20que%20as%20coisas%20aqui%20se%20tornassem%20iguais%20%C3%A0s%20coisas%20l%C3%A1%2C%20desonerando%20o%20operador%20jur%C3%ADdico%20do%20compromisso%20intelectual%20necess%C3%A1rio%20para%20resolver%20os%20nossos%20problemas%2C%20que%20s%C3%A3o%20peculiares%20e%20exclusivamente%20nossos.%0D%0A%0D%0AIsso%20porque%20a%20tal%20%E2%80%9Cjurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%E2%80%9D%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20problema%20isolado.%20Est%C3%A1%20inserida%20num%20contexto%20muito%20maior%2C%20de%20crise%20do%20pr%C3%B3prio%20direito.%20O%20que%20se%20p%C3%B5e%20em%20jogo%20%C3%A9%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%2C%20que%20decorre%20da%20falta%20de%20fundamenta%C3%A7%C3%A3o%20racional%2C%20e%20transforma%20a%20decis%C3%A3o%20num%20ato%20n%C3%A3o%20de%20direito%2C%20mas%20de%20poder.%20O%20jurisdicionado%20se%20v%C3%AA%20na%20angustiante%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20n%C3%A3o%20saber%20o%20que%20diz%20o%20direito%2C%20porque%20a%20lei%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20vale%20%E2%80%93%20o%20que%2C%20em%20ampla%20medida%2C%20se%20relaciona%20com%20o%20fen%C3%B4meno%20da%20infla%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%2C%20t%C3%ADpico%20do%20final%20do%20s%C3%A9c.%20XX%20e%20do%20come%C3%A7o%20do%20s%C3%A9c.%20XXI%3A%20%C3%A9%20muito%20dif%C3%ADcil%20extrair%20sentido%20de%20uma%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20extensa%2C%20fracionada%20e%20contradit%C3%B3ria.%0D%0A%0D%0AE%20a%20solu%C3%A7%C3%A3o%20que%20o%20sistema%20prop%C3%B5e%20para%20esse%20problema%20%C3%A9%20tornar%20vinculantes%20e%20indiscut%C3%ADveis%20esses%20mesmos%20provimentos%20judiciais.%20Tudo%20sob%20o%20manto%20legitimador%20da%20ideia%20de%20que%20funciona%20assim%20no%20common%20law%2C%20e%20funciona%20bem%2C%20ent%C3%A3o%20funcionar%C3%A1%20bem%20aqui.%20%C3%89%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20confort%C3%A1vel%20a%20curto%20prazo%2C%20admite-se.%20Num%20cen%C3%A1rio%20onde%20o%20mosaico%20de%20entendimentos%20jurisprudenciais%20n%C3%A3o%20permite%20que%20se%20conhe%C3%A7a%20adequadamente%20o%20que%20%C3%A9%20a%20lei%20vigente%20no%20pa%C3%ADs%2C%20a%20fixa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tese%2C%20qualquer%20que%20seja%2C%20traz%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica.%20Mesmo%20que%20n%C3%A3o%20represente%20a%20melhor%20resposta%2C%20nem%20tenha%20legitimidade%20racional%2C%20ela%20resolve%20a%20diverg%C3%AAncia%2C%20por%20ter%20for%C3%A7a%20vinculante%20legal.%20Pode%20n%C3%A3o%20ser%20a%20melhor%20resposta%2C%20mas%20%C3%A9%20alguma%20resposta%2C%20situa%C3%A7%C3%A3o%20mais%20vantajosa%20do%20que%20o%20cen%C3%A1rio%20fracionado%20e%20imprevis%C3%ADvel%20que%20temos%20hoje.%0D%0A%0D%0AEm%20meio%20%C3%A0%20crise%20na%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20respostas%20judiciais%20adequadas%2C%20que%20p%C3%B5e%20em%20xeque%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20da%20jurisdi%C3%A7%C3%A3o%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais.%0D%0A%0D%0APor%20isso%2C%20%C3%A9%20preciso%20defender%20com%20veem%C3%AAncia%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20trocando%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica.%20Evitamos%2C%20assim%2C%20o%20erro%20de%20estudar%20os%20precedentes%20vinculantes%20daqui%20com%20uma%20simples%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20de%20como%20eles%20funcionam%20l%C3%A1%20%E2%80%93%20como%20se%20apreender%20os%20conceitos%20de%20ratio%20decidendi%20e%20distinguishing%20e%20overruling%20a%20partir%20de%20autores%20americanos%20e%20ingleses%20fosse%20suficiente%20para%20compreender%20a%20nossa%20jurisprud%C3%AAncia%20vinculante%2C%20esquecendo%20a%20enorme%20diferen%C3%A7a%20metodol%C3%B3gica%20e%20cultural%20que%20existe%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20O%20rol%20de%20provimentos%20vinculantes%20do%20art.%20927%20do%20CPC%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20instituto%20derivado%20do%20common%20law%2C%20mesmo%20que%20a%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20da%20entidade%20abstrata%20que%20chamamos%20de%20%E2%80%9Co%20legislador%E2%80%9D%20tenha%20sido%20o%20modelo%20anglo-sax%C3%A3o%20de%20stare%20decisis.%20H%C3%A1%20uma%20enorme%20diferen%C3%A7a%20entre%20importar%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20e%20construir%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20novo%20com%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20em%20alguma%20experi%C3%AAncia%20estrangeira.%20Disso%20se%20retira%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20redobrada%20que%20o%20jurista%20brasileiro%20deve%20ter%20com%20os%20conceitos%20operacionais%20de%20supera%C3%A7%C3%A3o%20e%2C%20especialmente%2C%20de%20distin%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%2C%20alinhando-os%20a%20uma%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20estudos%20interpretativos%20da%20pr%C3%B3pria%20lei.%0D%0A%0D%0AA%20solu%C3%A7%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20que%20h%C3%A1%2C%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20muito%20longe.%20%C3%89%20preciso%20aplicar%20o%20c%C3%B3digo%20como%20um%20todo%2C%20n%C3%A3o%20em%20tiras.%20N%C3%A3o%20existe%20art.%20927%20%28rol%20de%20provimentos%20vinculantes%29%20sem%20art.%20926%20%28dever%20de%20estabilidade%2C%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20da%20jurisprud%C3%AAncia%29.%20N%C3%A3o%20existe%20sistema%20de%20precedentes%20sem%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20em%20construir%2C%20argumentativamente%2C%20respostas%20judiciais%20que%20guardem%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20principiol%C3%B3gica%2C%20extraindo%20motivos%20determinantes%20e%20realizando%20distin%C3%A7%C3%B5es%20e%20supera%C3%A7%C3%B5es%20quando%20for%20adequado%20%28art.%20489%2C%20%C2%A7%201%C2%BA%29.%20Obriga%C3%A7%C3%A3o%20do%20juiz%2C%20das%20partes%2C%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblico%20%E2%80%93%20de%20todos%20os%20atores%20processuais.%20Dever%20de%20coopera%C3%A7%C3%A3o%2C%20enfim%20%28art.%206%C2%BA%29.%0D%0A%0D%0ANada%20disso%20nos%20obriga%20a%20importar%20qualquer%20coisa%20do%20common%20law.%20Est%C3%A1%20tudo%20l%C3%A1%2C%20no%20pr%C3%B3prio%20CPC.%20Basta%20aplic%C3%A1-lo.%0D%0A%0D%0AEm%20suma%3A%20existe%20um%20abismo%20de%20diferen%C3%A7a%20entre%20afirmar%2C%20como%20fazem%20Marinoni%2C%20que%20existe%20uma%20converg%C3%AAncia%20te%C3%B3rica%20e%20metodol%C3%B3gica%20entre%20os%20dois%20sistemas%2C%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20a%20alguns%20de%20seus%20institutos%20fundamentais%2C%20e%20dizer%20que%20est%C3%A1%20havendo%20uma%20efetiva%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20e%20que%2C%20a%20partir%20do%20CPC%20de%202015%2C%20podemos%20passar%20a%20estudar%20o%20Direito%20no%20Brasil%20como%20se%20estiv%C3%A9ssemos%20na%20Inglaterra%20ou%20nos%20Estados%20Unidos.%20Colocando%20da%20primeira%20forma%2C%20convidamos%20um%20estudo%20dos%20institutos%20argumentativos%20muito%20bem%20desenvolvidos%20no%20common%20law%20e%20observamos%20os%20cuidados%20constantes%20daquele%20sistema%20com%20a%20legitima%C3%A7%C3%A3o%20racional%20do%20processo%20decis%C3%B3rio%2C%20que%20contrastam%20violentamente%20com%20a%20pretens%C3%A3o%20padronizadora%20do%20processo%20civil%20objetivo%20brasileiro.%20Se%2C%20por%20outro%20lado%2C%20entendermos%20que%20houve%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20corremos%20o%20risco%20de%20nos%20satisfazermos%20com%20o%20estado%20atual%20de%20coisas%2C%20privando%20o%20sistema%20do%20necess%C3%A1rio%20choque%20paradigm%C3%A1tico%20que%20for%C3%A7a%20a%20adapta%C3%A7%C3%A3o%20intelectual.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AVI%20-%20Conclus%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AEste%20breve%20ensaio%20n%C3%A3o%20deve%20ser%20tomado%20como%20um%20ataque%20a%20qualquer%20associa%C3%A7%C3%A3o%20did%C3%A1tica%20entre%20o%20sistema%20brasileiro%20e%20o%20common%20law%2C%20nem%2C%20muito%20menos%2C%20como%20uma%20cruzada%20contra%20autores%20e%20autoras%20defensores%20dessa%20guinada%20metodol%C3%B3gica.%20Pretendi%20fazer%2C%20na%20verdade%2C%20uma%20ressalva%20metodol%C3%B3gica%3A%20n%C3%A3o%20estamos%20importando%20nenhum%20instituto%20do%20common%20law.%20Os%20precedentes%20constru%C3%ADdos%20no%20Brasil%20a%20partir%20do%20nosso%20sistema%2C%20e%20para%20o%20nosso%20sistema%2C%20n%C3%A3o%20podem%20ser%20justificados%20pelas%20mesmas%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20os%20ju%C3%ADzes%20da%20Inglaterra%20do%20s%C3%A9c.%20XII%20a%20respeitar%20as%20decis%C3%B5es%20anteriores%2C%20nem%20podem%20ser%20explicados%20a%20partir%20de%20teorias%20pensadas%20internamente%20para%20o%20modelo%20americano.%0D%0A%0D%0ANecess%C3%A1ria%20ressalva%3A%20isso%20n%C3%A3o%20quer%20dizer%20que%20n%C3%A3o%20possamos%20estudar%20obras%20de%20hermen%C3%AAutica%2C%20argumenta%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20e%20teoria%20do%20direito%20escritas%20por%20autores%20anglo-sax%C3%B4nicos.%20Obras%20que%20estudam%20o%20fen%C3%B4meno%20jur%C3%ADdico%20com%20um%20ponto%20de%20vista%20externo%20s%C3%A3o%20leitura%20essencial%20para%20se%20construir%20adequadamente%20o%20processo%20argumen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19/12/2020 Por que o Brasil não está caminhando para o common law, e por que isso importa – Mello e Souza & Associados
melloesouza.adv.br/2018/05/03/por-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa/ 3/20
Por que o Brasil não está caminhando para o
common law, e por que isso importa
Por Pedro Henrique Reschke, Advogado e Professor do CESUSC
 
What seems most special about Common Law jurisdictions is that
they have a great deal of case law that is not about the
interpretation of legislation. It is only about the interpretation
of other case law.”[1]
 
 I – Introdução;
O Brasil está se transformando num país de common law – ou, pelo menos, essa é a
conclusão atingida por muitos dos estudos recentes de direito processual civil. Ao
interpretar o significado do reconhecimento da importância dos precedentes, em nível
constitucional (Emenda Constitucional n. 45/2004) e infraconstitucional (CPC de 2015),
parcela significativa da doutrina afirma estarmos diante de transformação da natureza do
sistema jurídico brasileiro, que estaria abandonando suas origens de civil law rumo a uma
versão tupiniquim do common law anglo-saxão.
Segundo Fredie Didier Jr., por exemplo, o Brasil teria sofrido tamanha influência do
common law que não é mais possível considerá-lo um sistema exclusivamente civil law, mas
uma espécie de sistema híbrido, um brazilian law[2]. Sergio Gilberto Porto fala na
commonlawlização do sistema brasileiro em decorrência da adoção de institutos como a
repercussão geral e a súmula vinculante[3]. Marinoni parte da premissa de que o respeito
aos precedentes é um instituto típico do common law, ao qual o direito brasileiro tem
necessidade de “se render”[4]. O Ministro Teori Zavascki afirmou publicamente que
“caminhamos a passos largos para o common law”[5]. Essa “evolução” rumo ao common law é
também mencionada em decisões judiciais, especialmente no âmbito dos tribunais
superiores, como justificativa para a utilização de institutos como a uniformização de
jurisprudência [6]e julgamento de demandas repetitivas.
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mailto:?subject=Por%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa&body=http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F%0A%0APor%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa%0A%0APor%20Pedro%20Henrique%20Reschke%2C%20Advogado%20e%20Professor%20do%20CESUSC%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0AWhat%20seems%20most%20special%20about%20Common%20Law%20jurisdictions%20is%20that%20they%20have%20a%20great%20deal%20of%20case%20law%20that%20is%20not%20about%20the%20interpretation%20of%20legislation.%20It%20is%20only%20about%20the%20interpretation%20of%20other%20case%20law.%E2%80%9D%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%C2%A0I%20-%C2%A0Introdu%C3%A7%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AO%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20num%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law%20%E2%80%93%20ou%2C%20pelo%20menos%2C%20essa%20%C3%A9%20a%20conclus%C3%A3o%20atingida%20por%20muitos%20dos%20estudos%20recentes%20de%20direito%20processual%20civil.%20Ao%20interpretar%20o%20significado%20do%20reconhecimento%20da%20import%C3%A2ncia%20dos%20precedentes%2C%20em%20n%C3%ADvel%20constitucional%20%28Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%29%20e%20infraconstitucional%20%28CPC%20de%202015%29%2C%20parcela%20significativa%20da%20doutrina%20afirma%20estarmos%20diante%20de%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20da%20natureza%20do%20sistema%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20que%20estaria%20abandonando%20suas%20origens%20de%20civil%20law%20rumo%20a%20uma%20vers%C3%A3o%20tupiniquim%20do%20common%20law%20anglo-sax%C3%A3o.%0D%0A%0D%0ASegundo%20Fredie%20Didier%20Jr.%2C%20por%20exemplo%2C%20o%20Brasil%20teria%20sofrido%20tamanha%20influ%C3%AAncia%20do%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20mais%20poss%C3%ADvel%20consider%C3%A1-lo%20um%20sistema%20exclusivamente%20civil%20law%2C%20mas%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20sistema%20h%C3%ADbrido%2C%20um%20brazilian%20lawe%20julgamento%20de%20demandas%20repetitivas.%0D%0A%0D%0AClaro%2C%20essas%20vozes%20n%C3%A3o%20s%C3%A3o%20un%C3%A2nimes%3B%20h%C3%A1%20tamb%C3%A9m%20quem%20defenda%20opini%C3%A3o%20diversa%3A%20instituir%20o%20respeito%20a%20alguns%20precedentes%20e%20provimentos%20vinculantes%20n%C3%A3o%20significa%20modificar%20a%20natureza%20de%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico.%20Mas%2C%20de%20forma%20geral%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20identificar%20no%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%20uma%20associa%C3%A7%C3%A3o%20forte%20entre%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20de%20qualquer%20natureza%20%E2%80%93%20como%20algo%20que%20n%C3%A3o%20nos%20pertence.%20Qualquer%20coisa%20al%C3%A9m%20da%20perspectiva%20decisionista%20do%20livre%20convencimento%20%C3%A9%20tida%20como%20incompat%C3%ADvel%20com%20nosso%20sistema%2C%20pelo%20que%20seria%20veemente%20a%20necessidade%20dessa%20reforma%20%E2%80%9Cimportada%E2%80%9D%20do%20common%20law.%20A%20salva%C3%A7%C3%A3o%20est%C3%A1%20l%C3%A1%20fora.%0D%0A%0D%0AEste%20trabalho%20defende%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20caminha%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20que%20isso%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20apenas%20um%20problema%20sem%C3%A2ntico.%20Dizer%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20tornando%20common%20law%20%C3%A9%20cometer%2C%20pelo%20menos%2C%20dois%20erros%20fundamentais.%20Em%20primeiro%20lugar%2C%20significa%20adotar%20uma%20concep%C3%A7%C3%A3o%20excessivamente%20reducionista%20de%20civil%20law%20e%20de%20common%20law.%20Segundo%2C%20e%20mais%20grave%2C%20significa%20emprestar%20ao%20%E2%80%9Csistema%20brasileiro%20de%20precedentes%E2%80%9D%20uma%20legitimidade%20material%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20autom%C3%A1tica%2C%20mas%20precisa%20ser%20conquistada%20na%20pr%C3%A1tica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AII%20-%20Os%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20do%20mundo%20ocidental%3B%0D%0A%0D%0AO%20conceito%20de%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20no%20direito%20comparado%2C%20tem%20um%20prop%C3%B3sito%20eminentemente%20classificat%C3%B3rio.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20mesmo%20que%20falar%20em%20sistema%20jur%C3%ADdico%20no%20contexto%20do%20estudo%20de%20um%20determinado%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%20Nesse%20caso%2C%20a%20express%C3%A3o%20ganha%20um%20significado%20distinto%2C%20referindo-se%20ao%20conjunto%20de%20normas%20vigentes%20dentro%20de%20um%20determinado%20pa%C3%ADs%3B%20aqui%2C%20a%20express%C3%A3o%20sistema%20jur%C3%ADdico%20pode%20ser%20tomada%20como%20sin%C3%B4nimo%20de%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%0D%0A%0D%0AJ%C3%A1%20no%20direito%20comparado%2C%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20s%C3%A3o%20modelos%20ideais%2C%20baseados%20nas%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20que%20se%20apresentam%20em%20ordenamentos%20jur%C3%ADdicos%20distintos.%20Assim%2C%20dizer%20que%20determinado%20pa%C3%ADs%20adota%20um%20sistema%20de%20civil%20law%20n%C3%A3o%20significa%20dizer%20que%20ele%20seja%20exatamente%20igual%20aos%20outros%20que%20comp%C3%B5em%20o%20mesmo%20sistema.%20Falar%20e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recedentes%20%E2%80%93%20%E2%80%9Co%20common%20law%20facilmente%20vislumbrou%20que%20a%20certeza%20jur%C3%ADdica%20apenas%20poderia%20ser%20obtida%20mediante%20o%20stare%20decisis%E2%80%9D.%20Enfim%3A%20o%20common%20law%20tem%20peculiaridades%20que%20v%C3%A3o%20muito%20al%C3%A9m%20de%20um%20enfoque%20maior%20da%20lei%20criada%20pelo%20magistrado.%0D%0A%0D%0AAli%C3%A1s%2C%20mesmo%20sob%20esse%20ponto%20de%20vista%2C%20a%20rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20common%20law%20e%20o%20stare%20decisis%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20imune%20a%20cr%C3%ADticas.%20Primeiro%20porque%2C%20apesar%20das%20centenas%20de%20anos%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%2C%20ainda%20n%C3%A3o%20existe%20uma%20obra%20definitiva%20sobre%20a%20natureza%20do%20precedente%20judicial%2C%20nem%20sobre%20a%20origem%20da%20autoridade%20vinculante%2C%20que%20ainda%20s%C3%A3o%20frequentemente%20investigadas%20%28resgatando%2C%20assim%2C%20a%20cl%C3%A1ssica%20cr%C3%ADtica%20de%20Bentham%2C%20equiparando%20o%20direito%20jurisprudencial%20a%20regras%20de%20comportamento%20canino%20%E2%80%93%20dog%20law%29.%0D%0A%0D%0ANo%20nosso%20contexto%20atual%2C%20que%20v%C3%AA%20nos%20precedentes%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20v%C3%A1lvula%20de%20escape%20necess%C3%A1ria%20e%20inevit%C3%A1vel%20para%20o%20problema%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%2C%20parece%20estranho%20saber%20que%20o%20precedente%20judicial%20%C3%A9%20um%20fen%C3%B4meno%20ainda%20incompreendido%20dentro%20do%20pr%C3%B3prio%20common%20law.%20Igualmente%20peculiar%20%C3%A9%20descobrir%20que%20h%C3%A1%20correntes%20s%C3%A9rias%20de%20pesquisa%20nos%20pa%C3%ADses%20anglo-sax%C3%B5es%20defendendo%20uma%20mitiga%C3%A7%C3%A3o%20do%20stare%20decisis%20em%20favor%20do%20fortalecimento%20de%20uma%20codifica%C3%A7%C3%A3o%20nos%20moldes%20do%20civil%20law%20%E2%80%93%20n%C3%A3o%20seria%20esse%2C%20exatamente%2C%20o%20nosso%20problema%3F%20Isso%20deve%20ser%20interpretado%20como%20sinal%20claro%20de%20que%20o%20common%20law%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20sistema%20fechado%2C%20que%20j%C3%A1%20resolveu%20todos%20os%20seus%20problemas.%20A%20doutrina%20do%20precedente%20%E2%80%93%20que%20cogitamos%20importar%20e%20instaurar%20por%20meio%20de%20lei%20no%20nosso%20sistema%20%E2%80%93%20ainda%20vem%20sendo%20constantemente%20trabalhada%20e%20aprimorada%20na%20pr%C3%A1tica.%20Ela%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20%E2%80%9Cponto%20final%E2%80%9D%20no%20sistema%20do%20common%20law%2C%20e%20nem%20poder%C3%A1%20ser%20vista%20como%20tal%20dentro%20do%20ordenamento%20brasileiro.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AIV%20-%20A%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20brasileira%20e%20o%20impacto%20das%20decis%C3%B5es%20vinculantes%3B%0D%0A%0D%0ADemonstrou-se%20o%20que%20%C3%A9%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20na%20%C3%B3tica%20do%20direito%20comparado%2C%20e%20expuseram-se%20as%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20dos%20sistemas%20de%20common%20law%2C%20enquanto%20arqu%C3%A9tipos%20ideais.%20Falta%20analisar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20realmente%20nisso%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20%E2%80%93%20se%20%C3%A9%20que%20est%C3%A1%20se%20transformando%20mesmo%20em%20alguma%20coisa.%0D%0A%0D%0AEstudar%20para%20onde%20vai%20o%20Brasil%20exige%20que%20se%20entenda%20de%20onde%20ele%20parte.%20Zaneti%20Jr.%20aponta%20um%20%E2%80%9Cparadoxo%20metodol%C3%B3gico%E2%80%9D%20desde%20a%20origem%20do%20nosso%20sistema%3A%20a%20nossa%20ordem%20pol%C3%ADtico-constitucional%20%C3%A9%20de%20veia%20republicana%20e%20federativa%2C%20inspirada%20no%20modelo%20norte-americano%2C%20enquanto%20os%20demais%20ramos%20do%20direito%20infraconstitucional%2C%20privado%20e%20p%C3%BAblico%20%28inclusive%20o%20direito%20processual%29%2C%20s%C3%A3o%20tipicamente%20romano-germ%C3%A2nicos.%20Apesar%20dessa%20constru%C3%A7%C3%A3o%20mista%2C%20que%20poderia%20levar%20%C3%A0%20compreens%C3%A3o%20de%20que%20j%C3%A1%20ser%C3%ADamos%20um%20pouco%20common%20law%2C%20%C3%A9%20essa%20veia%20romano-germ%C3%A2nica%20que%20inspira%20o%20funcionamento%20e%20o%20m%C3%A9todo%20do%20nosso%20Judici%C3%A1rio.%20Por%20isso%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20classificar%20o%20direito%20brasileiro%2C%20assim%20como%20os%20demais%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20latino-americanos%2C%20como%20um%20sistema%20de%20civil%20law.%0D%0A%0D%0ADe%20fato%2C%20o%20sistema%20brasileiro%20%C3%A9%20influenciado%20pela%20vis%C3%A3o%20positivista%20focada%20no%20Poder%20Legislativo%20como%20foco%20produtor%20de%20normas%20jur%C3%ADdicas%2C%20decorrente%20da%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Francesa%2C%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20neutra%20e%20imparcial%20do%20direito%20pelo%20juiz%2C%20que%20se%20limitava%20a%20simplesmente%20ditar%20a%20vontade%20concreta%20da%20lei%20%E2%80%93%20que%2C%20por%20sua%20pr%C3%B3pria%20natureza%2C%20era%20um%20texto%20geral%20e%20abstrato%29.%0D%0A%0D%0AA%20base%20filos%C3%B3fica%20brasileira%2C%20assim%2C%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20a%20de%20cria%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20pelos%20tribunais%2C%20mas%20a%20da%20cren%C3%A7a%20na%20univocidade%20da%20lei%20e%20do%20juiz%20como%20mero%20aplicador%20neutro%20do%20direito.%20Nosso%20sistema%20%C3%A9%20constru%C3%ADdo%20tendo%20por%20base%20a%20legitimidade%20democr%C3%A1tica%20do%20direito%20produzido%20pelos%20representantes%20do%20povo%2C%20e%20no%20juiz%20enquanto%20aplicador.%20Por%20outro%20lado%2C%20o%20avan%C3%A7o%20da%20teoria%20do%20direito%20dos%20pa%C3%ADses%20de%20civil%20law%2C%20apoiado%20nas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20interpretativas%20p%C3%B3s-positivistas%2C%20reconheceu%20a%20impossibilidade%20de%20aplicar%20o%20texto%20normativo%20como%20tendo%20sentido%20em%20si%20pr%C3%B3prio.%20A%20renovada%20for%C3%A7a%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20que%20levou%20alguns%20te%C3%B3ricos%20a%20falarem%20em%20legisprudence%2C%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20nem%20s%C3%B3%20legisla%C3%A7%C3%A3o%2C%20nem%20s%C3%B3%20jurisprud%C3%AAncia%20%E2%80%93%20%C3%A9%20decorr%C3%AAncia%20desse%20fen%C3%B4meno.%0D%0A%0D%0AAl%C3%A9m%20de%20uma%20necessidade%20te%C3%B3rica%2C%20decorrente%20da%20necessidade%20de%20tratar%20o%20jurisdicionado%20com%20isonomia%20e%20diminuir%20o%20efeito%20nocivo%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20fragmentadas%2C%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20for%C3%A7a%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20no%20civil%20law%20brasileiro%20tamb%C3%A9m%20%C3%A9%20uma%20forma%20de%20lidar%20com%20a%20litigiosidade%20repetitiva%20que%20prejudica%20o%20bom%20funcionamento%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio.%0D%0A%0D%0ADesde%201963%2C%20quando%20foi%20criado%20o%20instituto%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20j%C3%A1%20se%20fala%20na%20recep%C3%A7%C3%A3o%20da%20f%C3%B3rmula%20do%20stare%20decisis%20pelo%20ordenamento%20brasileiro%3B%20os%20principais%20coment%C3%A1rios%20e%20justificativas%20doutrin%C3%A1rias%20para%20os%20institutos%20da%20repercuss%C3%A3o%20geral%20e%20da%20s%C3%BAmula%20vinculante%2C%20tidos%20a%20partir%20da%20Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%2C%20tamb%C3%A9m%20afirmavam%20serem%20ambos%20institutos%20de%20veia%20tipicamente%20anglo-sax%C3%A3.%20E%20o%20CPC%20de%202015%2C%20especialmente%20em%20seus%20arts.%20926%20e%20927%2C%20instituiu%20um%20rol%20de%20provimentos%20judiciais%20que%20s%C3%A3o%20vinculantes%20para%20o%20%C3%B3rg%C3%A3o%20que%20os%20proferiu%20e%20aqueles%20hierarquicamente%20subordinados.%20Trata-se%2C%20assim%2C%20da%20coroa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tend%C3%AAncia%20decorrente%20da%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20hist%C3%B3rica%20natural%20do%20sistema%20brasileiro.%0D%0A%0D%0AEsse%20conjunto%20de%20decis%C3%B5es%20vinculantes%2C%20estruturados%20como%20normas%20jur%C3%ADdicas%20emitidas%20pelo%20Judici%C3%A1rio%2C%20p%C3%B5e%20em%20conflito%20duas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20de%20precedente%3A%20de%20um%20lado%2C%20garantidor%20da%20isonomia%20formal%2C%20e%2C%20de%20outro%2C%20um%20modo%20de%20resolver%20rapidamente%20causas%20repetitivas%20que%20afogam%20o%20Judici%C3%A1rio%2C%20%E2%80%93%20conflito%20que%20pode%20tamb%C3%A9m%20ser%20posto%20como%20uma%20contraposi%C3%A7%C3%A3o%20entre%20racionalidade%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20e%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica%20do%20precedente.%20O%20precedente%20com%20for%C3%A7a%20vinculante%20ope%20legis%2C%20estruturado%20por%20meio%20de%20provimentos%20judiciais%20obrigat%C3%B3rios%20%28sem%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20raz%C3%B5es%20fundamentais%20de%20decidir%29%2C%20%C3%A9%20emblem%C3%A1tico%20dessa%20segunda%20concep%C3%A7%C3%A3o.%20Em%20linhas%20gerais%2C%20%C3%A9%20esse%20o%20estado%20da%20arte%20do%20precedente%20judicial%20no%20Brasil%3B%20resta%20investigar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20esse%20%E2%80%9Cdesvirtuamento%E2%80%9D%20do%20civil%20law%20padr%C3%A3o%20%C3%A9%20raz%C3%A3o%20suficiente%20para%20se%20dizer%20que%20o%20Brasil%20estaria%20passando%20por%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20sist%C3%AAmica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AV%20-%20O%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20se%20transformando%20em%20common%20law%3B%0D%0A%0D%0AA%20pretens%C3%A3o%20de%20diferenciar%20common%20law%20e%20civil%20law%20simplesmente%20pela%20origem%20da%20norma%20jur%C3%ADdica%20%E2%80%93%20constru%C3%ADda%20judicialmente%20no%20primeiro%20caso%20e%20pela%20lei%20escrita%20no%20segundo%20%E2%80%93%20%C3%A9%20tentadora%20pela%20simplicidade%20e%20pela%20did%C3%A1tica.%20Essa%20diferen%C3%A7a%20b%C3%A1sica%20de%20fato%20existe%2C%20mas%20%C3%A9%20uma%20quest%C3%A3o%20cultural%2C%20muito%20mais%20do%20que%20um%20problema%20simples%20de%20fonte%20do%20direito.%20Definir%20o%20common%20law%20pela%20falta%20de%20um%20c%C3%B3digo%20legislativo%20organizado%20%C3%A9%20aderir%20a%20um%20modelo%20ideal%20de%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20corresponde%20%C3%A0%20realidade%20daqueles%20pa%C3%ADses.%20Trata-se%2C%20em%20suma%2C%20de%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20elegantemente%20errada%20para%20um%20problema%20complexo.%20A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20no%20common%20law%20nos%20%C3%BAltimos%20anos%20tem%20sido%20significativa%2C%20a%20ponto%20de%20a%20lei%20feita%20unicamente%20pelos%20ju%C3%ADzes%20hoje%20constituir%20a%20exce%C3%A7%C3%A3o%2C%20n%C3%A3o%20a%20regra%20%E2%80%93%20v%C3%AAm%20aumentando%20a%20confian%C3%A7a%20que%20depositam%20nas%20decis%C3%B5es%20passadas%20dos%20tribunais%20como%20fonte%20de%20direito.%0D%0A%0D%0A%C3%80%20primeira%20vista%2C%20ent%C3%A3o%2C%20a%20divis%C3%A3o%20pelo%20ponto%20de%20vista%20lei%20vs.%20precedente%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20suficiente%20para%20dar%20conta%20da%20diferen%C3%A7a%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20Segundo%20Taruffo%2C%20o%20mesmo%20se%20pode%20dizer%20de%20outro%20crit%C3%A9rios%20tradicionais%20de%20separa%C3%A7%C3%A3o%2C%20que%20contrap%C3%B5e%20os%20sistemas%20de%20civil%20law%20e%20common%20law%20como%20predominantemente%20orais%20ou%20escritos%2C%20respectivamente%3B%20ou%2C%20ainda%2C%20com%20olhos%20ao%20tipo%20de%20processo%2C%20se%20adversarial%20ou%20inquisitorial.%0D%0A%0D%0AAssim%20como%20a%20dicotomia%20de%20fontes%2C%20essas%20oposi%C3%A7%C3%B5es%20simples%20n%C3%A3o%20d%C3%A3o%20conta%20de%20toda%20a%20complexidade%20que%20separa%20os%20dois%20sistemas.%20As%20diferen%C3%A7as%20entre%20os%20dois%20s%C3%A3o%20hist%C3%B3ricas%20e%20comportamentais%2C%20vinculadas%20ao%20modo%20como%20cada%20um%20deles%20foi%20constru%C3%ADdo%2C%20e%20a%20como%20se%20enxerga%20e%20se%20aplica%20o%20direito%20e%20os%20precedentes.%20Talvez%20a%20principal%20caracter%C3%ADstica%20que%20realmente%20diferencie%20os%20dois%20sistemas%2C%20pelo%20menos%20do%20ponto%20de%20vista%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%2C%20seja%20a%20cultura%20argumentativa%20constru%C3%ADda%20nos%20pa%C3%ADses%20de%20common%20law%20como%20requisito%20para%20a%20adequada%20operacionaliza%C3%A7%C3%A3o%20da%20cultura%20de%20precedentes.%0D%0A%0D%0AH%C3%A1%20diferen%C3%A7as%20fundamentais%20entre%20as%20ferramentas%20de%20objetiva%C3%A7%C3%A3o%20processual%20adotadas%20pelo%20legislador%20brasileiro%20e%20um%20real%20sistema%20argumentativo%20de%20precedentes%20que%20se%20preocupe%20com%20a%20constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20com%20integridade.%20Enquanto%20isso%2C%20o%20juiz%20brasileiro%20que%20se%20deparar%20com%20algum%20pronunciamento%20vinculante%2C%20dever%C3%A1%20acompanhar%20aquele%20entendimento%2C%20por%20for%C3%A7a%20da%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa.%20Essa%20%C3%A9%20a%20primeira%20e%20mais%20elementar%20das%20diferen%C3%A7as%20%E2%80%93%20mas%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20significa.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20dif%C3%ADcil%20imaginar%20um%20efetivo%20sistema%20de%20precedentes%20que%20tenha%20sua%20g%C3%AAnese%20numa%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa%2C%20desde%20que%20seja%20aplicado%20racional%20e%20argumentativamente.%0D%0A%0D%0AA%20real%20diferen%C3%A7a%20reside%20no%20m%C3%A9todo.%20Os%20provimentos%20vinculantes%20no%20direito%20brasileiro%20se%20estruturam%20como%20enunciados%20normativos.%20N%C3%A3o%20h%C3%A1%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20com%20as%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20o%20juiz%20a%20tomar%20determinada%20decis%C3%A3o%2C%20nem%20com%20os%20princ%C3%ADpios%20jur%C3%ADdicos%20que%20o%20orientaram%2C%20mas%20apenas%20com%20o%20resultado%20final%20do%20julgamento%2C%20traduzido%20%E2%80%93%20pelo%20pr%C3%B3prio%20julgador%20%E2%80%93%20num%20enunciado%20geral%20e%20abstrato%2C%20nos%20moldes%20de%20uma%20norma.%20Como%20se%20esse%20enunciado%20judicial%20fosse%20resultado%20de%20um%20processo%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o%20da%20lei%20e%20n%C3%A3o%20dependesse%2C%20ele%20pr%C3%B3prio%2C%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o.%20Trabalhamos%20com%20precedentes%20da%20mesma%20forma%20que%20trabalhamos%20com%20a%20lei%2C%20esperando%2C%20no%20fundo%2C%20que%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%20se%20d%C3%AA%20por%20mera%20subsun%C3%A7%C3%A3o.%20Evolu%C3%ADmos%2C%20assim%2C%20do%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-lei%E2%80%9D%20ao%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-s%C3%BAmula%E2%80%9D.%20Por%20isso%2C%20a%20figura%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20assim%20como%20das%20s%C3%BAmulas%20vinculantes%2C%20acoplou-se%20com%20facilidade%20ao%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20criando%20como%20que%20um%20%E2%80%9Cstare%20decisis%20%C3%A0%20brasileira%E2%80%9D.%0D%0A%0D%0AEnquanto%20isso%2C%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20precedentes%20no%20common%20law%20%C3%A9%20argumentativa%3A%20o%20que%20vincula%20os%20casos%20subsequentes%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20uma%20regra%20geral%20anunciada%20pelo%20juiz%20do%20precedente%2C%20mas%20a%20raz%C3%A3o%20fundamental%20de%20decidir%20%28ratio%20decidendi%29%2C%20que%20cabe%20ao%20julgador%20do%20caso%20futuro%20extrair.%20Assim%2C%20tal%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20necessariamente%20pr%C3%A1tica%20e%20argumentativa%3A%20ao%20juiz%20n%C3%A3o%20basta%20aplicar%20uma%20resposta%20pr%C3%A9-moldada%2C%20mas%20sim%20estudar%20os%20princ%C3%ADpios%20que%20orientaram%20a%20decis%C3%A3o%20anterior%20e%20aplic%C3%A1-los%2C%20de%20forma%20coerente%2C%20ao%20caso%20atual%2C%20e%20n%C3%A3o%20apenas%20numa%20lista%20de%20decis%C3%B5es%20que%20s%C3%A3o%20isoladamente%20vinculantes.%0D%0A%0D%0AIsso%20n%C3%A3o%20pressup%C3%B5e%20que%20estejamos%20nos%20tornando%2C%20muito%20menos%20que%20precisemos%20nos%20tornar%2C%20um%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law.%20Precisamos%20%E2%80%93%20isso%20sim%20%E2%80%93%20desenvolver%20uma%20cultura%20argumentativa%20de%20precedentes%20coerente%20com%20o%20nosso%20civil%20law.%20De%20outro%20lado%2C%20nos%20contentaremos%20com%20um%20%E2%80%9Csistema%20de%20precedentes%E2%80%9D%20voltado%20n%C3%A3o%20%C3%A0%20constru%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20com%20integridade%20e%20coer%C3%AAncia%20interna%2C%20mas%20como%20mera%20t%C3%A9cnica%20de%20julgamento%20de%20casos%20repetitivos%2C%20que%20afoga%20as%20peculiaridades%20de%20cada%20caso%20concreto%20e%2C%20junto%20com%20elas%2C%20o%20pr%C3%B3prio%20direito.%0D%0A%0D%0ADecidir%20com%20racionalidade%20sist%C3%AAmica%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20requisito%20operacional%20de%20uma%20ou%20de%20outra%20fam%C3%ADlia%20jur%C3%ADdica%20espec%C3%ADfica%2C%20mas%20pressuposto%20l%C3%B3gico%20universal.%20O%20direito%20n%C3%A3o%20pode%20servir%20apenas%20para%20resolver%20os%20problemas%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio%3B%20a%20administra%C3%A7%C3%A3o%20da%20justi%C3%A7a%20n%C3%A3o%20pode%20se%20transformar%20num%20fim%20em%20si%20pr%C3%B3pria.%20Por%20isso%2C%20afirmar%20que%20o%20Brasil%20se%20tornou%20common%20law%20%C3%A9%20uma%20grave%20indu%C3%A7%C3%A3o%20a%20erro%2C%20porque%20se%20faz%20crer%20que%20essa%20cultura%20argumentativa%20j%C3%A1%20teria%20sido%20alcan%C3%A7ada.%20%C3%89%20como%20dizer%20que%20a%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20decis%C3%B3ria%20de%20origem%20normativa%20teria%20o%20cond%C3%A3o%20de%20fazer%20com%20que%20as%20coisas%20aqui%20se%20tornassem%20iguais%20%C3%A0s%20coisas%20l%C3%A1%2C%20desonerando%20o%20operador%20jur%C3%ADdico%20do%20compromisso%20intelectual%20necess%C3%A1rio%20para%20resolver%20os%20nossos%20problemas%2C%20que%20s%C3%A3o%20peculiares%20e%20exclusivamente%20nossos.%0D%0A%0D%0AIsso%20porque%20a%20tal%20%E2%80%9Cjurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%E2%80%9D%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20problema%20isolado.%20Est%C3%A1%20inserida%20num%20contexto%20muito%20maior%2C%20de%20crise%20do%20pr%C3%B3prio%20direito.%20O%20que%20se%20p%C3%B5e%20em%20jogo%20%C3%A9%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%2C%20que%20decorre%20da%20falta%20de%20fundamenta%C3%A7%C3%A3o%20racional%2C%20e%20transforma%20a%20decis%C3%A3o%20num%20ato%20n%C3%A3o%20de%20direito%2C%20mas%20de%20poder.%20O%20jurisdicionado%20se%20v%C3%AA%20na%20angustiante%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20n%C3%A3o%20saber%20o%20que%20diz%20o%20direito%2C%20porque%20a%20lei%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20vale%20%E2%80%93%20o%20que%2C%20em%20ampla%20medida%2C%20se%20relaciona%20com%20o%20fen%C3%B4meno%20da%20infla%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%2C%20t%C3%ADpico%20do%20final%20do%20s%C3%A9c.%20XX%20e%20do%20come%C3%A7o%20do%20s%C3%A9c.%20XXI%3A%20%C3%A9%20muito%20dif%C3%ADcil%20extrair%20sentido%20de%20uma%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20extensa%2C%20fracionada%20e%20contradit%C3%B3ria.%0D%0A%0D%0AE%20a%20solu%C3%A7%C3%A3o%20que%20o%20sistema%20prop%C3%B5e%20para%20esse%20problema%20%C3%A9%20tornar%20vinculantes%20e%20indiscut%C3%ADveis%20esses%20mesmos%20provimentos%20judiciais.%20Tudo%20sob%20o%20manto%20legitimador%20da%20ideia%20de%20que%20funciona%20assim%20no%20common%20law%2C%20e%20funciona%20bem%2C%20ent%C3%A3o%20funcionar%C3%A1%20bem%20aqui.%20%C3%89%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20confort%C3%A1vel%20a%20curto%20prazo%2C%20admite-se.%20Num%20cen%C3%A1rio%20onde%20o%20mosaico%20de%20entendimentos%20jurisprudenciais%20n%C3%A3o%20permite%20que%20se%20conhe%C3%A7a%20adequadamente%20o%20que%20%C3%A9%20a%20lei%20vigente%20no%20pa%C3%ADs%2C%20a%20fixa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tese%2C%20qualquer%20que%20seja%2C%20traz%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica.%20Mesmo%20que%20n%C3%A3o%20represente%20a%20melhor%20resposta%2C%20nem%20tenha%20legitimidade%20racional%2C%20ela%20resolve%20a%20diverg%C3%AAncia%2C%20por%20ter%20for%C3%A7a%20vinculante%20legal.%20Pode%20n%C3%A3o%20ser%20a%20melhor%20resposta%2C%20mas%20%C3%A9%20alguma%20resposta%2C%20situa%C3%A7%C3%A3o%20mais%20vantajosa%20do%20que%20o%20cen%C3%A1rio%20fracionado%20e%20imprevis%C3%ADvel%20que%20temos%20hoje.%0D%0A%0D%0AEm%20meio%20%C3%A0%20crise%20na%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20respostas%20judiciais%20adequadas%2C%20que%20p%C3%B5e%20em%20xeque%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20da%20jurisdi%C3%A7%C3%A3o%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais.%0D%0A%0D%0APor%20isso%2C%20%C3%A9%20preciso%20defender%20com%20veem%C3%AAncia%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20trocando%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica.%20Evitamos%2C%20assim%2C%20o%20erro%20de%20estudar%20os%20precedentes%20vinculantes%20daqui%20com%20uma%20simples%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20de%20como%20eles%20funcionam%20l%C3%A1%20%E2%80%93%20como%20se%20apreender%20os%20conceitos%20de%20ratio%20decidendi%20e%20distinguishing%20e%20overruling%20a%20partir%20de%20autores%20americanos%20e%20ingleses%20fosse%20suficiente%20para%20compreender%20a%20nossa%20jurisprud%C3%AAncia%20vinculante%2C%20esquecendo%20a%20enorme%20diferen%C3%A7a%20metodol%C3%B3gica%20e%20cultural%20que%20existe%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20O%20rol%20de%20provimentos%20vinculantes%20do%20art.%20927%20do%20CPC%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20instituto%20derivado%20do%20common%20law%2C%20mesmo%20que%20a%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20da%20entidade%20abstrata%20que%20chamamos%20de%20%E2%80%9Co%20legislador%E2%80%9D%20tenha%20sido%20o%20modelo%20anglo-sax%C3%A3o%20de%20stare%20decisis.%20H%C3%A1%20uma%20enorme%20diferen%C3%A7a%20entre%20importar%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20e%20construir%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20novo%20com%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20em%20alguma%20experi%C3%AAncia%20estrangeira.%20Disso%20se%20retira%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20redobrada%20que%20o%20jurista%20brasileiro%20deve%20ter%20com%20os%20conceitos%20operacionais%20de%20supera%C3%A7%C3%A3o%20e%2C%20especialmente%2C%20de%20distin%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%2C%20alinhando-os%20a%20uma%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20estudos%20interpretativos%20da%20pr%C3%B3pria%20lei.%0D%0A%0D%0AA%20solu%C3%A7%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20que%20h%C3%A1%2C%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20muito%20longe.%20%C3%89%20preciso%20aplicar%20o%20c%C3%B3digo%20como%20um%20todo%2C%20n%C3%A3o%20em%20tiras.%20N%C3%A3o%20existe%20art.%20927%20%28rol%20de%20provimentos%20vinculantes%29%20sem%20art.%20926%20%28dever%20de%20estabilidade%2C%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20da%20jurisprud%C3%AAncia%29.%20N%C3%A3o%20existe%20sistema%20de%20precedentes%20sem%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20em%20construir%2C%20argumentativamente%2C%20respostas%20judiciais%20que%20guardem%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20principiol%C3%B3gica%2C%20extraindo%20motivos%20determinantes%20e%20realizando%20distin%C3%A7%C3%B5es%20e%20supera%C3%A7%C3%B5es%20quando%20for%20adequado%20%28art.%20489%2C%20%C2%A7%201%C2%BA%29.%20Obriga%C3%A7%C3%A3o%20do%20juiz%2C%20das%20partes%2C%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblico%20%E2%80%93%20de%20todos%20os%20atores%20processuais.%20Dever%20de%20coopera%C3%A7%C3%A3o%2C%20enfim%20%28art.%206%C2%BA%29.%0D%0A%0D%0ANada%20disso%20nos%20obriga%20a%20importar%20qualquer%20coisa%20do%20common%20law.%20Est%C3%A1%20tudo%20l%C3%A1%2C%20no%20pr%C3%B3prio%20CPC.%20Basta%20aplic%C3%A1-lo.%0D%0A%0D%0AEm%20suma%3A%20existe%20um%20abismo%20de%20diferen%C3%A7a%20entre%20afirmar%2C%20como%20fazem%20Marinoni%2C%20que%20existe%20uma%20converg%C3%AAncia%20te%C3%B3rica%20e%20metodol%C3%B3gica%20entre%20os%20dois%20sistemas%2C%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20a%20alguns%20de%20seus%20institutos%20fundamentais%2C%20e%20dizer%20que%20est%C3%A1%20havendo%20uma%20efetiva%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20e%20que%2C%20a%20partir%20do%20CPC%20de%202015%2C%20podemos%20passar%20a%20estudar%20o%20Direito%20no%20Brasil%20como%20se%20estiv%C3%A9ssemos%20na%20Inglaterra%20ou%20nos%20Estados%20Unidos.%20Colocando%20da%20primeira%20forma%2C%20convidamos%20um%20estudo%20dos%20institutos%20argumentativos%20muito%20bem%20desenvolvidos%20no%20common%20law%20e%20observamos%20os%20cuidados%20constantes%20daquele%20sistema%20com%20a%20legitima%C3%A7%C3%A3o%20racional%20do%20processo%20decis%C3%B3rio%2C%20que%20contrastam%20violentamente%20com%20a%20pretens%C3%A3o%20padronizadora%20do%20processo%20civil%20objetivo%20brasileiro.%20Se%2C%20por%20outro%20lado%2C%20entendermos%20que%20houve%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20corremos%20o%20risco%20de%20nos%20satisfazermos%20com%20o%20estado%20atual%20de%20coisas%2C%20privando%20o%20sistema%20do%20necess%C3%A1rio%20choque%20paradigm%C3%A1tico%20que%20for%C3%A7a%20a%20adapta%C3%A7%C3%A3o%20intelectual.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AVI%20-%20Conclus%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AEste%20breve%20ensaio%20n%C3%A3o%20deve%20ser%20tomado%20como%20um%20ataque%20a%20qualquer%20associa%C3%A7%C3%A3o%20did%C3%A1tica%20entre%20o%20sistema%20brasileiro%20e%20o%20common%20law%2C%20nem%2C%20muito%20menos%2C%20como%20uma%20cruzada%20contra%20autores%20e%20autoras%20defensores%20dessa%20guinada%20metodol%C3%B3gica.%20Pretendi%20fazer%2C%20na%20verdade%2C%20uma%20ressalva%20metodol%C3%B3gica%3A%20n%C3%A3o%20estamos%20importando%20nenhum%20instituto%20do%20common%20law.%20Os%20precedentes%20constru%C3%ADdos%20no%20Brasil%20a%20partir%20do%20nosso%20sistema%2C%20e%20para%20o%20nosso%20sistema%2C%20n%C3%A3o%20podem%20ser%20justificados%20pelas%20mesmas%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20os%20ju%C3%ADzes%20da%20Inglaterra%20do%20s%C3%A9c.%20XII%20a%20respeitar%20as%20decis%C3%B5es%20anteriores%2C%20nem%20podem%20ser%20explicados%20a%20partir%20de%20teorias%20pensadas%20internamente%20para%20o%20modelo%20americano.%0D%0A%0D%0ANecess%C3%A1ria%20ressalva%3A%20isso%20n%C3%A3o%20quer%20dizer%20que%20n%C3%A3o%20possamos%20estudar%20obras%20de%20hermen%C3%AAutica%2C%20argumenta%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20e%20teoria%20do%20direito%20escritas%20por%20autores%20anglo-sax%C3%B4nicos.%20Obras%20que%20estudam%20o%20fen%C3%B4meno%20jur%C3%ADdico%20com%20um%20ponto%20de%20vista%20externo%20s%C3%A3o%20leitura%20essencial%20para%20se%20construir%20adequadamente%20o%20processo%20argumen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19/12/2020 Por que o Brasil não está caminhando para o common law, e por que isso importa – Mello e Souza & Associados
melloesouza.adv.br/2018/05/03/por-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa/ 4/20
Claro, essas vozes não são unânimes; há também quem defenda opinião diversa: instituir o
respeito a alguns precedentes e provimentos vinculantes não significa modificar a
natureza de um sistema jurídico. Mas, de forma geral, é possível identificar no imaginário
jurídico brasileiro uma associação forte entre vinculação às decisões judiciais – de
qualquer natureza – como algo que não nos pertence. Qualquer coisa além da perspectiva
decisionista do livre convencimento é tida como incompatível com nosso sistema, pelo que
seria veemente a necessidade dessa reforma “importada” do common law. A salvação está lá
fora.
Este trabalho defende que o Brasil não caminha para o common law, e que isso não é apenas
um problema semântico. Dizer que o Brasil está se tornando common law é cometer, pelo
menos, dois erros fundamentais. Em primeiro lugar, significa adotar uma concepção
excessivamente reducionista de civil law e de common law. Segundo, e mais grave,
significa emprestar ao “sistema brasileiro de precedentes”[7] uma legitimidade material
que não é automática, mas precisa ser conquistada na prática.
 
II – Os sistemas jurídicos do mundo ocidental;
O conceito de sistema jurídico, no direito comparado, tem um propósito eminentemente
classificatório. Não é o mesmo que falar em sistema jurídico no contexto do estudo de um
determinado ordenamento jurídico. Nesse caso, a expressão ganha um significado
distinto, referindo-se ao conjunto de normas vigentes dentro de um determinado país;
aqui, a expressão sistema jurídico pode ser tomada como sinônimo de ordenamento
jurídico.
Já no direito comparado, sistemas jurídicos são modelos ideais, baseados nas principais
características que se apresentam em ordenamentos jurídicos distintos. Assim, dizer que
determinado país adota um sistema de civil law não significa dizer que ele seja exatamente
igual aos outros que compõem o mesmo sistema. Falar em sistemas ou tradições jurídicas
significa sacrificar peculiaridades em nome de possibilidades de diálogo comparativo,
moldando alguns arquétipos básicos baseados em padrões reconhecíveis em um grupo de
sistemas semelhantes. Mirjan Damaska compara a atividade de classificação dos sistemas
jurídicos à classificação de obras de arte em determinados estilos. Ninguém dirá, por
exemplo, que a catedral de Notre Dame não pertence ao estilo gótico em razão da falta de
pináculos, pois o restante de sua estrutura é formado por elementos que indicam
aproximação com o arquétipo da arquitetura gótica[8].
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mailto:?subject=Por%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa&body=http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F%0A%0APor%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa%0A%0APor%20Pedro%20Henrique%20Reschke%2C%20Advogado%20e%20Professor%20do%20CESUSC%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0AWhat%20seems%20most%20special%20about%20Common%20Law%20jurisdictions%20is%20that%20they%20have%20a%20great%20deal%20of%20case%20law%20that%20is%20not%20about%20the%20interpretation%20of%20legislation.%20It%20is%20only%20about%20the%20interpretation%20of%20other%20case%20law.%E2%80%9D%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%C2%A0I%20-%C2%A0Introdu%C3%A7%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AO%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20num%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law%20%E2%80%93%20ou%2C%20pelo%20menos%2C%20essa%20%C3%A9%20a%20conclus%C3%A3o%20atingida%20por%20muitos%20dos%20estudos%20recentes%20de%20direito%20processual%20civil.%20Ao%20interpretar%20o%20significado%20do%20reconhecimento%20da%20import%C3%A2ncia%20dos%20precedentes%2C%20em%20n%C3%ADvel%20constitucional%20%28Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%29%20e%20infraconstitucional%20%28CPC%20de%202015%29%2C%20parcela%20significativa%20da%20doutrina%20afirma%20estarmos%20diante%20de%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20da%20natureza%20do%20sistema%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20que%20estaria%20abandonando%20suas%20origens%20de%20civil%20law%20rumo%20a%20uma%20vers%C3%A3o%20tupiniquim%20do%20common%20law%20anglo-sax%C3%A3o.%0D%0A%0D%0ASegundo%20Fredie%20Didier%20Jr.%2C%20por%20exemplo%2C%20o%20Brasil%20teria%20sofrido%20tamanha%20influ%C3%AAncia%20do%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20mais%20poss%C3%ADvel%20consider%C3%A1-lo%20um%20sistema%20exclusivamente%20civil%20law%2C%20mas%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20sistema%20h%C3%ADbrido%2C%20um%20brazilian%20lawe%20julgamento%20de%20demandas%20repetitivas.%0D%0A%0D%0AClaro%2C%20essas%20vozes%20n%C3%A3o%20s%C3%A3o%20un%C3%A2nimes%3B%20h%C3%A1%20tamb%C3%A9m%20quem%20defenda%20opini%C3%A3o%20diversa%3A%20instituir%20o%20respeito%20a%20alguns%20precedentes%20e%20provimentos%20vinculantes%20n%C3%A3o%20significa%20modificar%20a%20natureza%20de%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico.%20Mas%2C%20de%20forma%20geral%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20identificar%20no%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%20uma%20associa%C3%A7%C3%A3o%20forte%20entre%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20de%20qualquer%20natureza%20%E2%80%93%20como%20algo%20que%20n%C3%A3o%20nos%20pertence.%20Qualquer%20coisa%20al%C3%A9m%20da%20perspectiva%20decisionista%20do%20livre%20convencimento%20%C3%A9%20tida%20como%20incompat%C3%ADvel%20com%20nosso%20sistema%2C%20pelo%20que%20seria%20veemente%20a%20necessidade%20dessa%20reforma%20%E2%80%9Cimportada%E2%80%9D%20do%20common%20law.%20A%20salva%C3%A7%C3%A3o%20est%C3%A1%20l%C3%A1%20fora.%0D%0A%0D%0AEste%20trabalho%20defende%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20caminha%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20que%20isso%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20apenas%20um%20problema%20sem%C3%A2ntico.%20Dizer%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20tornando%20common%20law%20%C3%A9%20cometer%2C%20pelo%20menos%2C%20dois%20erros%20fundamentais.%20Em%20primeiro%20lugar%2C%20significa%20adotar%20uma%20concep%C3%A7%C3%A3o%20excessivamente%20reducionista%20de%20civil%20law%20e%20de%20common%20law.%20Segundo%2C%20e%20mais%20grave%2C%20significa%20emprestar%20ao%20%E2%80%9Csistema%20brasileiro%20de%20precedentes%E2%80%9D%20uma%20legitimidade%20material%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20autom%C3%A1tica%2C%20mas%20precisa%20ser%20conquistada%20na%20pr%C3%A1tica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AII%20-%20Os%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20do%20mundo%20ocidental%3B%0D%0A%0D%0AO%20conceito%20de%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20no%20direito%20comparado%2C%20tem%20um%20prop%C3%B3sito%20eminentemente%20classificat%C3%B3rio.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20mesmo%20que%20falar%20em%20sistema%20jur%C3%ADdico%20no%20contexto%20do%20estudo%20de%20um%20determinado%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%20Nesse%20caso%2C%20a%20express%C3%A3o%20ganha%20um%20significado%20distinto%2C%20referindo-se%20ao%20conjunto%20de%20normas%20vigentes%20dentro%20de%20um%20determinado%20pa%C3%ADs%3B%20aqui%2C%20a%20express%C3%A3o%20sistema%20jur%C3%ADdico%20pode%20ser%20tomada%20como%20sin%C3%B4nimo%20de%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%0D%0A%0D%0AJ%C3%A1%20no%20direito%20comparado%2C%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20s%C3%A3o%20modelos%20ideais%2C%20baseados%20nas%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20que%20se%20apresentam%20em%20ordenamentos%20jur%C3%ADdicos%20distintos.%20Assim%2C%20dizer%20que%20determinado%20pa%C3%ADs%20adota%20um%20sistema%20de%20civil%20law%20n%C3%A3o%20significa%20dizer%20que%20ele%20seja%20exatamente%20igual%20aos%20outros%20que%20comp%C3%B5em%20o%20mesmo%20sistema.%20Falar%20e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recedentes%20%E2%80%93%20%E2%80%9Co%20common%20law%20facilmente%20vislumbrou%20que%20a%20certeza%20jur%C3%ADdica%20apenas%20poderia%20ser%20obtida%20mediante%20o%20stare%20decisis%E2%80%9D.%20Enfim%3A%20o%20common%20law%20tem%20peculiaridades%20que%20v%C3%A3o%20muito%20al%C3%A9m%20de%20um%20enfoque%20maior%20da%20lei%20criada%20pelo%20magistrado.%0D%0A%0D%0AAli%C3%A1s%2C%20mesmo%20sob%20esse%20ponto%20de%20vista%2C%20a%20rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20common%20law%20e%20o%20stare%20decisis%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20imune%20a%20cr%C3%ADticas.%20Primeiro%20porque%2C%20apesar%20das%20centenas%20de%20anos%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%2C%20ainda%20n%C3%A3o%20existe%20uma%20obra%20definitiva%20sobre%20a%20natureza%20do%20precedente%20judicial%2C%20nem%20sobre%20a%20origem%20da%20autoridade%20vinculante%2C%20que%20ainda%20s%C3%A3o%20frequentemente%20investigadas%20%28resgatando%2C%20assim%2C%20a%20cl%C3%A1ssica%20cr%C3%ADtica%20de%20Bentham%2C%20equiparando%20o%20direito%20jurisprudencial%20a%20regras%20de%20comportamento%20canino%20%E2%80%93%20dog%20law%29.%0D%0A%0D%0ANo%20nosso%20contexto%20atual%2C%20que%20v%C3%AA%20nos%20precedentes%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20v%C3%A1lvula%20de%20escape%20necess%C3%A1ria%20e%20inevit%C3%A1vel%20para%20o%20problema%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%2C%20parece%20estranho%20saber%20que%20o%20precedente%20judicial%20%C3%A9%20um%20fen%C3%B4meno%20ainda%20incompreendido%20dentro%20do%20pr%C3%B3prio%20common%20law.%20Igualmente%20peculiar%20%C3%A9%20descobrir%20que%20h%C3%A1%20correntes%20s%C3%A9rias%20de%20pesquisa%20nos%20pa%C3%ADses%20anglo-sax%C3%B5es%20defendendo%20uma%20mitiga%C3%A7%C3%A3o%20do%20stare%20decisis%20em%20favor%20do%20fortalecimento%20de%20uma%20codifica%C3%A7%C3%A3o%20nos%20moldes%20do%20civil%20law%20%E2%80%93%20n%C3%A3o%20seria%20esse%2C%20exatamente%2C%20o%20nosso%20problema%3F%20Isso%20deve%20ser%20interpretado%20como%20sinal%20claro%20de%20que%20o%20common%20law%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20sistema%20fechado%2C%20que%20j%C3%A1%20resolveu%20todos%20os%20seus%20problemas.%20A%20doutrina%20do%20precedente%20%E2%80%93%20que%20cogitamos%20importar%20e%20instaurar%20por%20meio%20de%20lei%20no%20nosso%20sistema%20%E2%80%93%20ainda%20vem%20sendo%20constantemente%20trabalhada%20e%20aprimorada%20na%20pr%C3%A1tica.%20Ela%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20%E2%80%9Cponto%20final%E2%80%9D%20no%20sistema%20do%20common%20law%2C%20e%20nem%20poder%C3%A1%20ser%20vista%20como%20tal%20dentro%20do%20ordenamento%20brasileiro.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AIV%20-%20A%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20brasileira%20e%20o%20impacto%20das%20decis%C3%B5es%20vinculantes%3B%0D%0A%0D%0ADemonstrou-se%20o%20que%20%C3%A9%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20na%20%C3%B3tica%20do%20direito%20comparado%2C%20e%20expuseram-se%20as%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20dos%20sistemas%20de%20common%20law%2C%20enquanto%20arqu%C3%A9tipos%20ideais.%20Falta%20analisar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20realmente%20nisso%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20%E2%80%93%20se%20%C3%A9%20que%20est%C3%A1%20se%20transformando%20mesmo%20em%20alguma%20coisa.%0D%0A%0D%0AEstudar%20para%20onde%20vai%20o%20Brasil%20exige%20que%20se%20entenda%20de%20onde%20ele%20parte.%20Zaneti%20Jr.%20aponta%20um%20%E2%80%9Cparadoxo%20metodol%C3%B3gico%E2%80%9D%20desde%20a%20origem%20do%20nosso%20sistema%3A%20a%20nossa%20ordem%20pol%C3%ADtico-constitucional%20%C3%A9%20de%20veia%20republicana%20e%20federativa%2C%20inspirada%20no%20modelo%20norte-americano%2C%20enquanto%20os%20demais%20ramos%20do%20direito%20infraconstitucional%2C%20privado%20e%20p%C3%BAblico%20%28inclusive%20o%20direito%20processual%29%2C%20s%C3%A3o%20tipicamente%20romano-germ%C3%A2nicos.%20Apesar%20dessa%20constru%C3%A7%C3%A3o%20mista%2C%20que%20poderia%20levar%20%C3%A0%20compreens%C3%A3o%20de%20que%20j%C3%A1%20ser%C3%ADamos%20um%20pouco%20common%20law%2C%20%C3%A9%20essa%20veia%20romano-germ%C3%A2nica%20que%20inspira%20o%20funcionamento%20e%20o%20m%C3%A9todo%20do%20nosso%20Judici%C3%A1rio.%20Por%20isso%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20classificar%20o%20direito%20brasileiro%2C%20assim%20como%20os%20demais%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20latino-americanos%2C%20como%20um%20sistema%20de%20civil%20law.%0D%0A%0D%0ADe%20fato%2C%20o%20sistema%20brasileiro%20%C3%A9%20influenciado%20pela%20vis%C3%A3o%20positivista%20focada%20no%20Poder%20Legislativo%20como%20foco%20produtor%20de%20normas%20jur%C3%ADdicas%2C%20decorrente%20da%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Francesa%2C%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20neutra%20e%20imparcial%20do%20direito%20pelo%20juiz%2C%20que%20se%20limitava%20a%20simplesmente%20ditar%20a%20vontade%20concreta%20da%20lei%20%E2%80%93%20que%2C%20por%20sua%20pr%C3%B3pria%20natureza%2C%20era%20um%20texto%20geral%20e%20abstrato%29.%0D%0A%0D%0AA%20base%20filos%C3%B3fica%20brasileira%2C%20assim%2C%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20a%20de%20cria%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20pelos%20tribunais%2C%20mas%20a%20da%20cren%C3%A7a%20na%20univocidade%20da%20lei%20e%20do%20juiz%20como%20mero%20aplicador%20neutro%20do%20direito.%20Nosso%20sistema%20%C3%A9%20constru%C3%ADdo%20tendo%20por%20base%20a%20legitimidade%20democr%C3%A1tica%20do%20direito%20produzido%20pelos%20representantes%20do%20povo%2C%20e%20no%20juiz%20enquanto%20aplicador.%20Por%20outro%20lado%2C%20o%20avan%C3%A7o%20da%20teoria%20do%20direito%20dos%20pa%C3%ADses%20de%20civil%20law%2C%20apoiado%20nas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20interpretativas%20p%C3%B3s-positivistas%2C%20reconheceu%20a%20impossibilidade%20de%20aplicar%20o%20texto%20normativo%20como%20tendo%20sentido%20em%20si%20pr%C3%B3prio.%20A%20renovada%20for%C3%A7a%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20que%20levou%20alguns%20te%C3%B3ricos%20a%20falarem%20em%20legisprudence%2C%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20nem%20s%C3%B3%20legisla%C3%A7%C3%A3o%2C%20nem%20s%C3%B3%20jurisprud%C3%AAncia%20%E2%80%93%20%C3%A9%20decorr%C3%AAncia%20desse%20fen%C3%B4meno.%0D%0A%0D%0AAl%C3%A9m%20de%20uma%20necessidade%20te%C3%B3rica%2C%20decorrente%20da%20necessidade%20de%20tratar%20o%20jurisdicionado%20com%20isonomia%20e%20diminuir%20o%20efeito%20nocivo%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20fragmentadas%2C%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20for%C3%A7a%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20no%20civil%20law%20brasileiro%20tamb%C3%A9m%20%C3%A9%20uma%20forma%20de%20lidar%20com%20a%20litigiosidade%20repetitiva%20que%20prejudica%20o%20bom%20funcionamento%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio.%0D%0A%0D%0ADesde%201963%2C%20quando%20foi%20criado%20o%20instituto%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20j%C3%A1%20se%20fala%20na%20recep%C3%A7%C3%A3o%20da%20f%C3%B3rmula%20do%20stare%20decisis%20pelo%20ordenamento%20brasileiro%3B%20os%20principais%20coment%C3%A1rios%20e%20justificativas%20doutrin%C3%A1rias%20para%20os%20institutos%20da%20repercuss%C3%A3o%20geral%20e%20da%20s%C3%BAmula%20vinculante%2C%20tidos%20a%20partir%20da%20Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%2C%20tamb%C3%A9m%20afirmavam%20serem%20ambos%20institutos%20de%20veia%20tipicamente%20anglo-sax%C3%A3.%20E%20o%20CPC%20de%202015%2C%20especialmente%20em%20seus%20arts.%20926%20e%20927%2C%20instituiu%20um%20rol%20de%20provimentos%20judiciais%20que%20s%C3%A3o%20vinculantes%20para%20o%20%C3%B3rg%C3%A3o%20que%20os%20proferiu%20e%20aqueles%20hierarquicamente%20subordinados.%20Trata-se%2C%20assim%2C%20da%20coroa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tend%C3%AAncia%20decorrente%20da%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20hist%C3%B3rica%20natural%20do%20sistema%20brasileiro.%0D%0A%0D%0AEsse%20conjunto%20de%20decis%C3%B5es%20vinculantes%2C%20estruturados%20como%20normas%20jur%C3%ADdicas%20emitidas%20pelo%20Judici%C3%A1rio%2C%20p%C3%B5e%20em%20conflito%20duas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20de%20precedente%3A%20de%20um%20lado%2C%20garantidor%20da%20isonomia%20formal%2C%20e%2C%20de%20outro%2C%20um%20modo%20de%20resolver%20rapidamente%20causas%20repetitivas%20que%20afogam%20o%20Judici%C3%A1rio%2C%20%E2%80%93%20conflito%20que%20pode%20tamb%C3%A9m%20ser%20posto%20como%20uma%20contraposi%C3%A7%C3%A3o%20entre%20racionalidade%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20e%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica%20do%20precedente.%20O%20precedente%20com%20for%C3%A7a%20vinculante%20ope%20legis%2C%20estruturado%20por%20meio%20de%20provimentos%20judiciais%20obrigat%C3%B3rios%20%28sem%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20raz%C3%B5es%20fundamentais%20de%20decidir%29%2C%20%C3%A9%20emblem%C3%A1tico%20dessa%20segunda%20concep%C3%A7%C3%A3o.%20Em%20linhas%20gerais%2C%20%C3%A9%20esse%20o%20estado%20da%20arte%20do%20precedente%20judicial%20no%20Brasil%3B%20resta%20investigar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20esse%20%E2%80%9Cdesvirtuamento%E2%80%9D%20do%20civil%20law%20padr%C3%A3o%20%C3%A9%20raz%C3%A3o%20suficiente%20para%20se%20dizer%20que%20o%20Brasil%20estaria%20passando%20por%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20sist%C3%AAmica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AV%20-%20O%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20se%20transformando%20em%20common%20law%3B%0D%0A%0D%0AA%20pretens%C3%A3o%20de%20diferenciar%20common%20law%20e%20civil%20law%20simplesmente%20pela%20origem%20da%20norma%20jur%C3%ADdica%20%E2%80%93%20constru%C3%ADda%20judicialmente%20no%20primeiro%20caso%20e%20pela%20lei%20escrita%20no%20segundo%20%E2%80%93%20%C3%A9%20tentadora%20pela%20simplicidade%20e%20pela%20did%C3%A1tica.%20Essa%20diferen%C3%A7a%20b%C3%A1sica%20de%20fato%20existe%2C%20mas%20%C3%A9%20uma%20quest%C3%A3o%20cultural%2C%20muito%20mais%20do%20que%20um%20problema%20simples%20de%20fonte%20do%20direito.%20Definir%20o%20common%20law%20pela%20falta%20de%20um%20c%C3%B3digo%20legislativo%20organizado%20%C3%A9%20aderir%20a%20um%20modelo%20ideal%20de%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20corresponde%20%C3%A0%20realidade%20daqueles%20pa%C3%ADses.%20Trata-se%2C%20em%20suma%2C%20de%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20elegantemente%20errada%20para%20um%20problema%20complexo.%20A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20no%20common%20law%20nos%20%C3%BAltimos%20anos%20tem%20sido%20significativa%2C%20a%20ponto%20de%20a%20lei%20feita%20unicamente%20pelos%20ju%C3%ADzes%20hoje%20constituir%20a%20exce%C3%A7%C3%A3o%2C%20n%C3%A3o%20a%20regra%20%E2%80%93%20v%C3%AAm%20aumentando%20a%20confian%C3%A7a%20que%20depositam%20nas%20decis%C3%B5es%20passadas%20dos%20tribunais%20como%20fonte%20de%20direito.%0D%0A%0D%0A%C3%80%20primeira%20vista%2C%20ent%C3%A3o%2C%20a%20divis%C3%A3o%20pelo%20ponto%20de%20vista%20lei%20vs.%20precedente%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20suficiente%20para%20dar%20conta%20da%20diferen%C3%A7a%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20Segundo%20Taruffo%2C%20o%20mesmo%20se%20pode%20dizer%20de%20outro%20crit%C3%A9rios%20tradicionais%20de%20separa%C3%A7%C3%A3o%2C%20que%20contrap%C3%B5e%20os%20sistemas%20de%20civil%20law%20e%20common%20law%20como%20predominantemente%20orais%20ou%20escritos%2C%20respectivamente%3B%20ou%2C%20ainda%2C%20com%20olhos%20ao%20tipo%20de%20processo%2C%20se%20adversarial%20ou%20inquisitorial.%0D%0A%0D%0AAssim%20como%20a%20dicotomia%20de%20fontes%2C%20essas%20oposi%C3%A7%C3%B5es%20simples%20n%C3%A3o%20d%C3%A3o%20conta%20de%20toda%20a%20complexidade%20que%20separa%20os%20dois%20sistemas.%20As%20diferen%C3%A7as%20entre%20os%20dois%20s%C3%A3o%20hist%C3%B3ricas%20e%20comportamentais%2C%20vinculadas%20ao%20modo%20como%20cada%20um%20deles%20foi%20constru%C3%ADdo%2C%20e%20a%20como%20se%20enxerga%20e%20se%20aplica%20o%20direito%20e%20os%20precedentes.%20Talvez%20a%20principal%20caracter%C3%ADstica%20que%20realmente%20diferencie%20os%20dois%20sistemas%2C%20pelo%20menos%20do%20ponto%20de%20vista%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%2C%20seja%20a%20cultura%20argumentativa%20constru%C3%ADda%20nos%20pa%C3%ADses%20de%20common%20law%20como%20requisito%20para%20a%20adequada%20operacionaliza%C3%A7%C3%A3o%20da%20cultura%20de%20precedentes.%0D%0A%0D%0AH%C3%A1%20diferen%C3%A7as%20fundamentais%20entre%20as%20ferramentas%20de%20objetiva%C3%A7%C3%A3o%20processual%20adotadas%20pelo%20legislador%20brasileiro%20e%20um%20real%20sistema%20argumentativo%20de%20precedentes%20que%20se%20preocupe%20com%20a%20constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20com%20integridade.%20Enquanto%20isso%2C%20o%20juiz%20brasileiro%20que%20se%20deparar%20com%20algum%20pronunciamento%20vinculante%2C%20dever%C3%A1%20acompanhar%20aquele%20entendimento%2C%20por%20for%C3%A7a%20da%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa.%20Essa%20%C3%A9%20a%20primeira%20e%20mais%20elementar%20das%20diferen%C3%A7as%20%E2%80%93%20mas%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20significa.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20dif%C3%ADcil%20imaginar%20um%20efetivo%20sistema%20de%20precedentes%20que%20tenha%20sua%20g%C3%AAnese%20numa%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa%2C%20desde%20que%20seja%20aplicado%20racional%20e%20argumentativamente.%0D%0A%0D%0AA%20real%20diferen%C3%A7a%20reside%20no%20m%C3%A9todo.%20Os%20provimentos%20vinculantes%20no%20direito%20brasileiro%20se%20estruturam%20como%20enunciados%20normativos.%20N%C3%A3o%20h%C3%A1%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20com%20as%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20o%20juiz%20a%20tomar%20determinada%20decis%C3%A3o%2C%20nem%20com%20os%20princ%C3%ADpios%20jur%C3%ADdicos%20que%20o%20orientaram%2C%20mas%20apenas%20com%20o%20resultado%20final%20do%20julgamento%2C%20traduzido%20%E2%80%93%20pelo%20pr%C3%B3prio%20julgador%20%E2%80%93%20num%20enunciado%20geral%20e%20abstrato%2C%20nos%20moldes%20de%20uma%20norma.%20Como%20se%20esse%20enunciado%20judicial%20fosse%20resultado%20de%20um%20processo%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o%20da%20lei%20e%20n%C3%A3o%20dependesse%2C%20ele%20pr%C3%B3prio%2C%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o.%20Trabalhamos%20com%20precedentes%20da%20mesma%20forma%20que%20trabalhamos%20com%20a%20lei%2C%20esperando%2C%20no%20fundo%2C%20que%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%20se%20d%C3%AA%20por%20mera%20subsun%C3%A7%C3%A3o.%20Evolu%C3%ADmos%2C%20assim%2C%20do%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-lei%E2%80%9D%20ao%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-s%C3%BAmula%E2%80%9D.%20Por%20isso%2C%20a%20figura%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20assim%20como%20das%20s%C3%BAmulas%20vinculantes%2C%20acoplou-se%20com%20facilidade%20ao%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20criando%20como%20que%20um%20%E2%80%9Cstare%20decisis%20%C3%A0%20brasileira%E2%80%9D.%0D%0A%0D%0AEnquanto%20isso%2C%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20precedentes%20no%20common%20law%20%C3%A9%20argumentativa%3A%20o%20que%20vincula%20os%20casos%20subsequentes%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20uma%20regra%20geral%20anunciada%20pelo%20juiz%20do%20precedente%2C%20mas%20a%20raz%C3%A3o%20fundamental%20de%20decidir%20%28ratio%20decidendi%29%2C%20que%20cabe%20ao%20julgador%20do%20caso%20futuro%20extrair.%20Assim%2C%20tal%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20necessariamente%20pr%C3%A1tica%20e%20argumentativa%3A%20ao%20juiz%20n%C3%A3o%20basta%20aplicar%20uma%20resposta%20pr%C3%A9-moldada%2C%20mas%20sim%20estudar%20os%20princ%C3%ADpios%20que%20orientaram%20a%20decis%C3%A3o%20anterior%20e%20aplic%C3%A1-los%2C%20de%20forma%20coerente%2C%20ao%20caso%20atual%2C%20e%20n%C3%A3o%20apenas%20numa%20lista%20de%20decis%C3%B5es%20que%20s%C3%A3o%20isoladamente%20vinculantes.%0D%0A%0D%0AIsso%20n%C3%A3o%20pressup%C3%B5e%20que%20estejamos%20nos%20tornando%2C%20muito%20menos%20que%20precisemos%20nos%20tornar%2C%20um%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law.%20Precisamos%20%E2%80%93%20isso%20sim%20%E2%80%93%20desenvolver%20uma%20cultura%20argumentativa%20de%20precedentes%20coerente%20com%20o%20nosso%20civil%20law.%20De%20outro%20lado%2C%20nos%20contentaremos%20com%20um%20%E2%80%9Csistema%20de%20precedentes%E2%80%9D%20voltado%20n%C3%A3o%20%C3%A0%20constru%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20com%20integridade%20e%20coer%C3%AAncia%20interna%2C%20mas%20como%20mera%20t%C3%A9cnica%20de%20julgamento%20de%20casos%20repetitivos%2C%20que%20afoga%20as%20peculiaridades%20de%20cada%20caso%20concreto%20e%2C%20junto%20com%20elas%2C%20o%20pr%C3%B3prio%20direito.%0D%0A%0D%0ADecidir%20com%20racionalidade%20sist%C3%AAmica%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20requisito%20operacional%20de%20uma%20ou%20de%20outra%20fam%C3%ADlia%20jur%C3%ADdica%20espec%C3%ADfica%2C%20mas%20pressuposto%20l%C3%B3gico%20universal.%20O%20direito%20n%C3%A3o%20pode%20servir%20apenas%20para%20resolver%20os%20problemas%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio%3B%20a%20administra%C3%A7%C3%A3o%20da%20justi%C3%A7a%20n%C3%A3o%20pode%20se%20transformar%20num%20fim%20em%20si%20pr%C3%B3pria.%20Por%20isso%2C%20afirmar%20que%20o%20Brasil%20se%20tornou%20common%20law%20%C3%A9%20uma%20grave%20indu%C3%A7%C3%A3o%20a%20erro%2C%20porque%20se%20faz%20crer%20que%20essa%20cultura%20argumentativa%20j%C3%A1%20teria%20sido%20alcan%C3%A7ada.%20%C3%89%20como%20dizer%20que%20a%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20decis%C3%B3ria%20de%20origem%20normativa%20teria%20o%20cond%C3%A3o%20de%20fazer%20com%20que%20as%20coisas%20aqui%20se%20tornassem%20iguais%20%C3%A0s%20coisas%20l%C3%A1%2C%20desonerando%20o%20operador%20jur%C3%ADdico%20do%20compromisso%20intelectual%20necess%C3%A1rio%20para%20resolver%20os%20nossos%20problemas%2C%20que%20s%C3%A3o%20peculiares%20e%20exclusivamente%20nossos.%0D%0A%0D%0AIsso%20porque%20a%20tal%20%E2%80%9Cjurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%E2%80%9D%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20problema%20isolado.%20Est%C3%A1%20inserida%20num%20contexto%20muito%20maior%2C%20de%20crise%20do%20pr%C3%B3prio%20direito.%20O%20que%20se%20p%C3%B5e%20em%20jogo%20%C3%A9%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%2C%20que%20decorre%20da%20falta%20de%20fundamenta%C3%A7%C3%A3o%20racional%2C%20e%20transforma%20a%20decis%C3%A3o%20num%20ato%20n%C3%A3o%20de%20direito%2C%20mas%20de%20poder.%20O%20jurisdicionado%20se%20v%C3%AA%20na%20angustiante%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20n%C3%A3o%20saber%20o%20que%20diz%20o%20direito%2C%20porque%20a%20lei%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20vale%20%E2%80%93%20o%20que%2C%20em%20ampla%20medida%2C%20se%20relaciona%20com%20o%20fen%C3%B4meno%20da%20infla%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%2C%20t%C3%ADpico%20do%20final%20do%20s%C3%A9c.%20XX%20e%20do%20come%C3%A7o%20do%20s%C3%A9c.%20XXI%3A%20%C3%A9%20muito%20dif%C3%ADcil%20extrair%20sentido%20de%20uma%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20extensa%2C%20fracionada%20e%20contradit%C3%B3ria.%0D%0A%0D%0AE%20a%20solu%C3%A7%C3%A3o%20que%20o%20sistema%20prop%C3%B5e%20para%20esse%20problema%20%C3%A9%20tornar%20vinculantes%20e%20indiscut%C3%ADveis%20esses%20mesmos%20provimentos%20judiciais.%20Tudo%20sob%20o%20manto%20legitimador%20da%20ideia%20de%20que%20funciona%20assim%20no%20common%20law%2C%20e%20funciona%20bem%2C%20ent%C3%A3o%20funcionar%C3%A1%20bem%20aqui.%20%C3%89%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20confort%C3%A1vel%20a%20curto%20prazo%2C%20admite-se.%20Num%20cen%C3%A1rio%20onde%20o%20mosaico%20de%20entendimentos%20jurisprudenciais%20n%C3%A3o%20permite%20que%20se%20conhe%C3%A7a%20adequadamente%20o%20que%20%C3%A9%20a%20lei%20vigente%20no%20pa%C3%ADs%2C%20a%20fixa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tese%2C%20qualquer%20que%20seja%2C%20traz%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica.%20Mesmo%20que%20n%C3%A3o%20represente%20a%20melhor%20resposta%2C%20nem%20tenha%20legitimidade%20racional%2C%20ela%20resolve%20a%20diverg%C3%AAncia%2C%20por%20ter%20for%C3%A7a%20vinculante%20legal.%20Pode%20n%C3%A3o%20ser%20a%20melhor%20resposta%2C%20mas%20%C3%A9%20alguma%20resposta%2C%20situa%C3%A7%C3%A3o%20mais%20vantajosa%20do%20que%20o%20cen%C3%A1rio%20fracionado%20e%20imprevis%C3%ADvel%20que%20temos%20hoje.%0D%0A%0D%0AEm%20meio%20%C3%A0%20crise%20na%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20respostas%20judiciais%20adequadas%2C%20que%20p%C3%B5e%20em%20xeque%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20da%20jurisdi%C3%A7%C3%A3o%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais.%0D%0A%0D%0APor%20isso%2C%20%C3%A9%20preciso%20defender%20com%20veem%C3%AAncia%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20trocando%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica.%20Evitamos%2C%20assim%2C%20o%20erro%20de%20estudar%20os%20precedentes%20vinculantes%20daqui%20com%20uma%20simples%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20de%20como%20eles%20funcionam%20l%C3%A1%20%E2%80%93%20como%20se%20apreender%20os%20conceitos%20de%20ratio%20decidendi%20e%20distinguishing%20e%20overruling%20a%20partir%20de%20autores%20americanos%20e%20ingleses%20fosse%20suficiente%20para%20compreender%20a%20nossa%20jurisprud%C3%AAncia%20vinculante%2C%20esquecendo%20a%20enorme%20diferen%C3%A7a%20metodol%C3%B3gica%20e%20cultural%20que%20existe%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20O%20rol%20de%20provimentos%20vinculantes%20do%20art.%20927%20do%20CPC%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20instituto%20derivado%20do%20common%20law%2C%20mesmo%20que%20a%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20da%20entidade%20abstrata%20que%20chamamos%20de%20%E2%80%9Co%20legislador%E2%80%9D%20tenha%20sido%20o%20modelo%20anglo-sax%C3%A3o%20de%20stare%20decisis.%20H%C3%A1%20uma%20enorme%20diferen%C3%A7a%20entre%20importar%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20e%20construir%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20novo%20com%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20em%20alguma%20experi%C3%AAncia%20estrangeira.%20Disso%20se%20retira%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20redobrada%20que%20o%20jurista%20brasileiro%20deve%20ter%20com%20os%20conceitos%20operacionais%20de%20supera%C3%A7%C3%A3o%20e%2C%20especialmente%2C%20de%20distin%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%2C%20alinhando-os%20a%20uma%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20estudos%20interpretativos%20da%20pr%C3%B3pria%20lei.%0D%0A%0D%0AA%20solu%C3%A7%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20que%20h%C3%A1%2C%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20muito%20longe.%20%C3%89%20preciso%20aplicar%20o%20c%C3%B3digo%20como%20um%20todo%2C%20n%C3%A3o%20em%20tiras.%20N%C3%A3o%20existe%20art.%20927%20%28rol%20de%20provimentos%20vinculantes%29%20sem%20art.%20926%20%28dever%20de%20estabilidade%2C%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20da%20jurisprud%C3%AAncia%29.%20N%C3%A3o%20existe%20sistema%20de%20precedentes%20sem%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20em%20construir%2C%20argumentativamente%2C%20respostas%20judiciais%20que%20guardem%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20principiol%C3%B3gica%2C%20extraindo%20motivos%20determinantes%20e%20realizando%20distin%C3%A7%C3%B5es%20e%20supera%C3%A7%C3%B5es%20quando%20for%20adequado%20%28art.%20489%2C%20%C2%A7%201%C2%BA%29.%20Obriga%C3%A7%C3%A3o%20do%20juiz%2C%20das%20partes%2C%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblico%20%E2%80%93%20de%20todos%20os%20atores%20processuais.%20Dever%20de%20coopera%C3%A7%C3%A3o%2C%20enfim%20%28art.%206%C2%BA%29.%0D%0A%0D%0ANada%20disso%20nos%20obriga%20a%20importar%20qualquer%20coisa%20do%20common%20law.%20Est%C3%A1%20tudo%20l%C3%A1%2C%20no%20pr%C3%B3prio%20CPC.%20Basta%20aplic%C3%A1-lo.%0D%0A%0D%0AEm%20suma%3A%20existe%20um%20abismo%20de%20diferen%C3%A7a%20entre%20afirmar%2C%20como%20fazem%20Marinoni%2C%20que%20existe%20uma%20converg%C3%AAncia%20te%C3%B3rica%20e%20metodol%C3%B3gica%20entre%20os%20dois%20sistemas%2C%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20a%20alguns%20de%20seus%20institutos%20fundamentais%2C%20e%20dizer%20que%20est%C3%A1%20havendo%20uma%20efetiva%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20e%20que%2C%20a%20partir%20do%20CPC%20de%202015%2C%20podemos%20passar%20a%20estudar%20o%20Direito%20no%20Brasil%20como%20se%20estiv%C3%A9ssemos%20na%20Inglaterra%20ou%20nos%20Estados%20Unidos.%20Colocando%20da%20primeira%20forma%2C%20convidamos%20um%20estudo%20dos%20institutos%20argumentativos%20muito%20bem%20desenvolvidos%20no%20common%20law%20e%20observamos%20os%20cuidados%20constantes%20daquele%20sistema%20com%20a%20legitima%C3%A7%C3%A3o%20racional%20do%20processo%20decis%C3%B3rio%2C%20que%20contrastam%20violentamente%20com%20a%20pretens%C3%A3o%20padronizadora%20do%20processo%20civil%20objetivo%20brasileiro.%20Se%2C%20por%20outro%20lado%2C%20entendermos%20que%20houve%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20corremos%20o%20risco%20de%20nos%20satisfazermos%20com%20o%20estado%20atual%20de%20coisas%2C%20privando%20o%20sistema%20do%20necess%C3%A1rio%20choque%20paradigm%C3%A1tico%20que%20for%C3%A7a%20a%20adapta%C3%A7%C3%A3o%20intelectual.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AVI%20-%20Conclus%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AEste%20breve%20ensaio%20n%C3%A3o%20deve%20ser%20tomado%20como%20um%20ataque%20a%20qualquer%20associa%C3%A7%C3%A3o%20did%C3%A1tica%20entre%20o%20sistema%20brasileiro%20e%20o%20common%20law%2C%20nem%2C%20muito%20menos%2C%20como%20uma%20cruzada%20contra%20autores%20e%20autoras%20defensores%20dessa%20guinada%20metodol%C3%B3gica.%20Pretendi%20fazer%2C%20na%20verdade%2C%20uma%20ressalva%20metodol%C3%B3gica%3A%20n%C3%A3o%20estamos%20importando%20nenhum%20instituto%20do%20common%20law.%20Os%20precedentes%20constru%C3%ADdos%20no%20Brasil%20a%20partir%20do%20nosso%20sistema%2C%20e%20para%20o%20nosso%20sistema%2C%20n%C3%A3o%20podem%20ser%20justificados%20pelas%20mesmas%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20os%20ju%C3%ADzes%20da%20Inglaterra%20do%20s%C3%A9c.%20XII%20a%20respeitar%20as%20decis%C3%B5es%20anteriores%2C%20nem%20podem%20ser%20explicados%20a%20partir%20de%20teorias%20pensadas%20internamente%20para%20o%20modelo%20americano.%0D%0A%0D%0ANecess%C3%A1ria%20ressalva%3A%20isso%20n%C3%A3o%20quer%20dizer%20que%20n%C3%A3o%20possamos%20estudar%20obras%20de%20hermen%C3%AAutica%2C%20argumenta%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20e%20teoria%20do%20direito%20escritas%20por%20autores%20anglo-sax%C3%B4nicos.%20Obras%20que%20estudam%20o%20fen%C3%B4meno%20jur%C3%ADdico%20com%20um%20ponto%20de%20vista%20externo%20s%C3%A3o%20leitura%20essencial%20para%20se%20construir%20adequadamente%20o%20processo%20argumen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19/12/2020 Por que o Brasil não está caminhando para o common law, e por que isso importa – Mello e Souza & Associados
melloesouza.adv.br/2018/05/03/por-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa/ 5/20
Assim, afirmar que o Brasil e a França são ambos países de civil law, por exemplo, não serve
para nada além de passar algumas informações muito elementares sobre as principais
características dos dois sistemas jurídicos. Na prática, existem diferenças gritantes entre
os dois – o sistema de controle de constitucionalidade brasileiro tem grandes inspirações
anglo-saxãs, por exemplo – mas nem por isso eles deixam de ser países de civil law. Tal
classificação envolve, além de um enquadramento geométrico de determinado
ordenamento no sistema-tipo, a direção do desenvolvimento histórico de cada país. A
questão, em suma, é de tradição jurídica.
O arquétipo, assim, serve para descrever características gerais de todos os ordenamentos
jurídicos que nele se enquadram, mas não serve para entender com precisão nenhum deles.
É com esse conceito de “sistema jurídico”, entendido como modelo ideal e não como um
conjunto de regras rígidas, que se trabalhará no restante deste estudo.
 
III – Ser common law não é apenas respeitar precedentes – e vice-versa;
O sistema inglês foi construído, desde o fim do absolutismo no século XIII, a partir da ideia
da judge-made law, embora o reconhecimento e a efetiva aplicação da doutrina do stare
decisis seja muito mais recente – apenas em 1898 a House of Lords reconheceu
expressamente a obrigação de respeitar seus próprios precedentes[9].
Nos países anglo-saxões não há termos distintos para o direito e para a lei. Ambos são law.
E há diversos tipos de law – diversos sistemas, no sentido interno – dentro de cada um
desses países. Há o direito legislado (statute law). Há o direito casuístico (case law), mais
propriamente alinhado com aquilo que chamamos de direito jurisprudencial. E há o direito
costumeiro (costumary law)[10]. Todos eles fazem parte do direito positivo dos países que
adotam o sistema de common law. Mas os dois últimos formam, mais propriamente, a
common law, como sistema autônomo, paralelo ao direito legislado – de modo que um
jurista americano ou inglês, deparando-se com uma questão problemática, poderá buscar a
solução para determinada questão de direito na lei legislada ou na common law. Há, então,
um corpo autônomo de direito positivo, que vem exclusivamente da tradição, construído a
partir de interpretações da lei escrita e dele próprio (pois a principal característica do
common law é que ele se constrói com base em interpretações jurisprudenciais de decisões
anteriores); e também há um outro corpo, de direito legislado[11].
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mailto:?subject=Por%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa&body=http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F%0A%0APor%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa%0A%0APor%20Pedro%20Henrique%20Reschke%2C%20Advogado%20e%20Professor%20do%20CESUSC%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0AWhat%20seems%20most%20special%20about%20Common%20Law%20jurisdictions%20is%20that%20they%20have%20a%20great%20deal%20of%20case%20law%20that%20is%20not%20about%20the%20interpretation%20of%20legislation.%20It%20is%20only%20about%20the%20interpretation%20of%20other%20case%20law.%E2%80%9D%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%C2%A0I%20-%C2%A0Introdu%C3%A7%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AO%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20num%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law%20%E2%80%93%20ou%2C%20pelo%20menos%2C%20essa%20%C3%A9%20a%20conclus%C3%A3o%20atingida%20por%20muitos%20dos%20estudos%20recentes%20de%20direito%20processual%20civil.%20Ao%20interpretar%20o%20significado%20do%20reconhecimento%20da%20import%C3%A2ncia%20dos%20precedentes%2C%20em%20n%C3%ADvel%20constitucional%20%28Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%29%20e%20infraconstitucional%20%28CPC%20de%202015%29%2C%20parcela%20significativa%20da%20doutrina%20afirma%20estarmos%20diante%20de%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20da%20natureza%20do%20sistema%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20que%20estaria%20abandonando%20suas%20origens%20de%20civil%20law%20rumo%20a%20uma%20vers%C3%A3o%20tupiniquim%20do%20common%20law%20anglo-sax%C3%A3o.%0D%0A%0D%0ASegundo%20Fredie%20Didier%20Jr.%2C%20por%20exemplo%2C%20o%20Brasil%20teria%20sofrido%20tamanha%20influ%C3%AAncia%20do%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20mais%20poss%C3%ADvel%20consider%C3%A1-lo%20um%20sistema%20exclusivamente%20civil%20law%2C%20mas%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20sistema%20h%C3%ADbrido%2C%20um%20brazilian%20lawe%20julgamento%20de%20demandas%20repetitivas.%0D%0A%0D%0AClaro%2C%20essas%20vozes%20n%C3%A3o%20s%C3%A3o%20un%C3%A2nimes%3B%20h%C3%A1%20tamb%C3%A9m%20quem%20defenda%20opini%C3%A3o%20diversa%3A%20instituir%20o%20respeito%20a%20alguns%20precedentes%20e%20provimentos%20vinculantes%20n%C3%A3o%20significa%20modificar%20a%20natureza%20de%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico.%20Mas%2C%20de%20forma%20geral%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20identificar%20no%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%20uma%20associa%C3%A7%C3%A3o%20forte%20entre%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20de%20qualquer%20natureza%20%E2%80%93%20como%20algo%20que%20n%C3%A3o%20nos%20pertence.%20Qualquer%20coisa%20al%C3%A9m%20da%20perspectiva%20decisionista%20do%20livre%20convencimento%20%C3%A9%20tida%20como%20incompat%C3%ADvel%20com%20nosso%20sistema%2C%20pelo%20que%20seria%20veemente%20a%20necessidade%20dessa%20reforma%20%E2%80%9Cimportada%E2%80%9D%20do%20common%20law.%20A%20salva%C3%A7%C3%A3o%20est%C3%A1%20l%C3%A1%20fora.%0D%0A%0D%0AEste%20trabalho%20defende%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20caminha%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20que%20isso%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20apenas%20um%20problema%20sem%C3%A2ntico.%20Dizer%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20tornando%20common%20law%20%C3%A9%20cometer%2C%20pelo%20menos%2C%20dois%20erros%20fundamentais.%20Em%20primeiro%20lugar%2C%20significa%20adotar%20uma%20concep%C3%A7%C3%A3o%20excessivamente%20reducionista%20de%20civil%20law%20e%20de%20common%20law.%20Segundo%2C%20e%20mais%20grave%2C%20significa%20emprestar%20ao%20%E2%80%9Csistema%20brasileiro%20de%20precedentes%E2%80%9D%20uma%20legitimidade%20material%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20autom%C3%A1tica%2C%20mas%20precisa%20ser%20conquistada%20na%20pr%C3%A1tica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AII%20-%20Os%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20do%20mundo%20ocidental%3B%0D%0A%0D%0AO%20conceito%20de%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20no%20direito%20comparado%2C%20tem%20um%20prop%C3%B3sito%20eminentemente%20classificat%C3%B3rio.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20mesmo%20que%20falar%20em%20sistema%20jur%C3%ADdico%20no%20contexto%20do%20estudo%20de%20um%20determinado%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%20Nesse%20caso%2C%20a%20express%C3%A3o%20ganha%20um%20significado%20distinto%2C%20referindo-se%20ao%20conjunto%20de%20normas%20vigentes%20dentro%20de%20um%20determinado%20pa%C3%ADs%3B%20aqui%2C%20a%20express%C3%A3o%20sistema%20jur%C3%ADdico%20pode%20ser%20tomada%20como%20sin%C3%B4nimo%20de%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%0D%0A%0D%0AJ%C3%A1%20no%20direito%20comparado%2C%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20s%C3%A3o%20modelos%20ideais%2C%20baseados%20nas%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20que%20se%20apresentam%20em%20ordenamentos%20jur%C3%ADdicos%20distintos.%20Assim%2C%20dizer%20que%20determinado%20pa%C3%ADs%20adota%20um%20sistema%20de%20civil%20law%20n%C3%A3o%20significa%20dizer%20que%20ele%20seja%20exatamente%20igual%20aos%20outros%20que%20comp%C3%B5em%20o%20mesmo%20sistema.%20Falar%20e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recedentes%20%E2%80%93%20%E2%80%9Co%20common%20law%20facilmente%20vislumbrou%20que%20a%20certeza%20jur%C3%ADdica%20apenas%20poderia%20ser%20obtida%20mediante%20o%20stare%20decisis%E2%80%9D.%20Enfim%3A%20o%20common%20law%20tem%20peculiaridades%20que%20v%C3%A3o%20muito%20al%C3%A9m%20de%20um%20enfoque%20maior%20da%20lei%20criada%20pelo%20magistrado.%0D%0A%0D%0AAli%C3%A1s%2C%20mesmo%20sob%20esse%20ponto%20de%20vista%2C%20a%20rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20common%20law%20e%20o%20stare%20decisis%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20imune%20a%20cr%C3%ADticas.%20Primeiro%20porque%2C%20apesar%20das%20centenas%20de%20anos%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%2C%20ainda%20n%C3%A3o%20existe%20uma%20obra%20definitiva%20sobre%20a%20natureza%20do%20precedente%20judicial%2C%20nem%20sobre%20a%20origem%20da%20autoridade%20vinculante%2C%20que%20ainda%20s%C3%A3o%20frequentemente%20investigadas%20%28resgatando%2C%20assim%2C%20a%20cl%C3%A1ssica%20cr%C3%ADtica%20de%20Bentham%2C%20equiparando%20o%20direito%20jurisprudencial%20a%20regras%20de%20comportamento%20canino%20%E2%80%93%20dog%20law%29.%0D%0A%0D%0ANo%20nosso%20contexto%20atual%2C%20que%20v%C3%AA%20nos%20precedentes%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20v%C3%A1lvula%20de%20escape%20necess%C3%A1ria%20e%20inevit%C3%A1vel%20para%20o%20problema%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%2C%20parece%20estranho%20saber%20que%20o%20precedente%20judicial%20%C3%A9%20um%20fen%C3%B4meno%20ainda%20incompreendido%20dentro%20do%20pr%C3%B3prio%20common%20law.%20Igualmente%20peculiar%20%C3%A9%20descobrir%20que%20h%C3%A1%20correntes%20s%C3%A9rias%20de%20pesquisa%20nos%20pa%C3%ADses%20anglo-sax%C3%B5es%20defendendo%20uma%20mitiga%C3%A7%C3%A3o%20do%20stare%20decisis%20em%20favor%20do%20fortalecimento%20de%20uma%20codifica%C3%A7%C3%A3o%20nos%20moldes%20do%20civil%20law%20%E2%80%93%20n%C3%A3o%20seria%20esse%2C%20exatamente%2C%20o%20nosso%20problema%3F%20Isso%20deve%20ser%20interpretado%20como%20sinal%20claro%20de%20que%20o%20common%20law%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20sistema%20fechado%2C%20que%20j%C3%A1%20resolveu%20todos%20os%20seus%20problemas.%20A%20doutrina%20do%20precedente%20%E2%80%93%20que%20cogitamos%20importar%20e%20instaurar%20por%20meio%20de%20lei%20no%20nosso%20sistema%20%E2%80%93%20ainda%20vem%20sendo%20constantemente%20trabalhada%20e%20aprimorada%20na%20pr%C3%A1tica.%20Ela%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20%E2%80%9Cponto%20final%E2%80%9D%20no%20sistema%20do%20common%20law%2C%20e%20nem%20poder%C3%A1%20ser%20vista%20como%20tal%20dentro%20do%20ordenamento%20brasileiro.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AIV%20-%20A%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20brasileira%20e%20o%20impacto%20das%20decis%C3%B5es%20vinculantes%3B%0D%0A%0D%0ADemonstrou-se%20o%20que%20%C3%A9%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20na%20%C3%B3tica%20do%20direito%20comparado%2C%20e%20expuseram-se%20as%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20dos%20sistemas%20de%20common%20law%2C%20enquanto%20arqu%C3%A9tipos%20ideais.%20Falta%20analisar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20realmente%20nisso%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20%E2%80%93%20se%20%C3%A9%20que%20est%C3%A1%20se%20transformando%20mesmo%20em%20alguma%20coisa.%0D%0A%0D%0AEstudar%20para%20onde%20vai%20o%20Brasil%20exige%20que%20se%20entenda%20de%20onde%20ele%20parte.%20Zaneti%20Jr.%20aponta%20um%20%E2%80%9Cparadoxo%20metodol%C3%B3gico%E2%80%9D%20desde%20a%20origem%20do%20nosso%20sistema%3A%20a%20nossa%20ordem%20pol%C3%ADtico-constitucional%20%C3%A9%20de%20veia%20republicana%20e%20federativa%2C%20inspirada%20no%20modelo%20norte-americano%2C%20enquanto%20os%20demais%20ramos%20do%20direito%20infraconstitucional%2C%20privado%20e%20p%C3%BAblico%20%28inclusive%20o%20direito%20processual%29%2C%20s%C3%A3o%20tipicamente%20romano-germ%C3%A2nicos.%20Apesar%20dessa%20constru%C3%A7%C3%A3o%20mista%2C%20que%20poderia%20levar%20%C3%A0%20compreens%C3%A3o%20de%20que%20j%C3%A1%20ser%C3%ADamos%20um%20pouco%20common%20law%2C%20%C3%A9%20essa%20veia%20romano-germ%C3%A2nica%20que%20inspira%20o%20funcionamento%20e%20o%20m%C3%A9todo%20do%20nosso%20Judici%C3%A1rio.%20Por%20isso%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20classificar%20o%20direito%20brasileiro%2C%20assim%20como%20os%20demais%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20latino-americanos%2C%20como%20um%20sistema%20de%20civil%20law.%0D%0A%0D%0ADe%20fato%2C%20o%20sistema%20brasileiro%20%C3%A9%20influenciado%20pela%20vis%C3%A3o%20positivista%20focada%20no%20Poder%20Legislativo%20como%20foco%20produtor%20de%20normas%20jur%C3%ADdicas%2C%20decorrente%20da%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Francesa%2C%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20neutra%20e%20imparcial%20do%20direito%20pelo%20juiz%2C%20que%20se%20limitava%20a%20simplesmente%20ditar%20a%20vontade%20concreta%20da%20lei%20%E2%80%93%20que%2C%20por%20sua%20pr%C3%B3pria%20natureza%2C%20era%20um%20texto%20geral%20e%20abstrato%29.%0D%0A%0D%0AA%20base%20filos%C3%B3fica%20brasileira%2C%20assim%2C%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20a%20de%20cria%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20pelos%20tribunais%2C%20mas%20a%20da%20cren%C3%A7a%20na%20univocidade%20da%20lei%20e%20do%20juiz%20como%20mero%20aplicador%20neutro%20do%20direito.%20Nosso%20sistema%20%C3%A9%20constru%C3%ADdo%20tendo%20por%20base%20a%20legitimidade%20democr%C3%A1tica%20do%20direito%20produzido%20pelos%20representantes%20do%20povo%2C%20e%20no%20juiz%20enquanto%20aplicador.%20Por%20outro%20lado%2C%20o%20avan%C3%A7o%20da%20teoria%20do%20direito%20dos%20pa%C3%ADses%20de%20civil%20law%2C%20apoiado%20nas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20interpretativas%20p%C3%B3s-positivistas%2C%20reconheceu%20a%20impossibilidade%20de%20aplicar%20o%20texto%20normativo%20como%20tendo%20sentido%20em%20si%20pr%C3%B3prio.%20A%20renovada%20for%C3%A7a%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20que%20levou%20alguns%20te%C3%B3ricos%20a%20falarem%20em%20legisprudence%2C%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20nem%20s%C3%B3%20legisla%C3%A7%C3%A3o%2C%20nem%20s%C3%B3%20jurisprud%C3%AAncia%20%E2%80%93%20%C3%A9%20decorr%C3%AAncia%20desse%20fen%C3%B4meno.%0D%0A%0D%0AAl%C3%A9m%20de%20uma%20necessidade%20te%C3%B3rica%2C%20decorrente%20da%20necessidade%20de%20tratar%20o%20jurisdicionado%20com%20isonomia%20e%20diminuir%20o%20efeito%20nocivo%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20fragmentadas%2C%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20for%C3%A7a%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20no%20civil%20law%20brasileiro%20tamb%C3%A9m%20%C3%A9%20uma%20forma%20de%20lidar%20com%20a%20litigiosidade%20repetitiva%20que%20prejudica%20o%20bom%20funcionamento%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio.%0D%0A%0D%0ADesde%201963%2C%20quando%20foi%20criado%20o%20instituto%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20j%C3%A1%20se%20fala%20na%20recep%C3%A7%C3%A3o%20da%20f%C3%B3rmula%20do%20stare%20decisis%20pelo%20ordenamento%20brasileiro%3B%20os%20principais%20coment%C3%A1rios%20e%20justificativas%20doutrin%C3%A1rias%20para%20os%20institutos%20da%20repercuss%C3%A3o%20geral%20e%20da%20s%C3%BAmula%20vinculante%2C%20tidos%20a%20partir%20da%20Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%2C%20tamb%C3%A9m%20afirmavam%20serem%20ambos%20institutos%20de%20veia%20tipicamente%20anglo-sax%C3%A3.%20E%20o%20CPC%20de%202015%2C%20especialmente%20em%20seus%20arts.%20926%20e%20927%2C%20instituiu%20um%20rol%20de%20provimentos%20judiciais%20que%20s%C3%A3o%20vinculantes%20para%20o%20%C3%B3rg%C3%A3o%20que%20os%20proferiu%20e%20aqueles%20hierarquicamente%20subordinados.%20Trata-se%2C%20assim%2C%20da%20coroa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tend%C3%AAncia%20decorrente%20da%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20hist%C3%B3rica%20natural%20do%20sistema%20brasileiro.%0D%0A%0D%0AEsse%20conjunto%20de%20decis%C3%B5es%20vinculantes%2C%20estruturados%20como%20normas%20jur%C3%ADdicas%20emitidas%20pelo%20Judici%C3%A1rio%2C%20p%C3%B5e%20em%20conflito%20duas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20de%20precedente%3A%20de%20um%20lado%2C%20garantidor%20da%20isonomia%20formal%2C%20e%2C%20de%20outro%2C%20um%20modo%20de%20resolver%20rapidamente%20causas%20repetitivas%20que%20afogam%20o%20Judici%C3%A1rio%2C%20%E2%80%93%20conflito%20que%20pode%20tamb%C3%A9m%20ser%20posto%20como%20uma%20contraposi%C3%A7%C3%A3o%20entre%20racionalidade%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20e%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica%20do%20precedente.%20O%20precedente%20com%20for%C3%A7a%20vinculante%20ope%20legis%2C%20estruturado%20por%20meio%20de%20provimentos%20judiciais%20obrigat%C3%B3rios%20%28sem%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20raz%C3%B5es%20fundamentais%20de%20decidir%29%2C%20%C3%A9%20emblem%C3%A1tico%20dessa%20segunda%20concep%C3%A7%C3%A3o.%20Em%20linhas%20gerais%2C%20%C3%A9%20esse%20o%20estado%20da%20arte%20do%20precedente%20judicial%20no%20Brasil%3B%20resta%20investigar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20esse%20%E2%80%9Cdesvirtuamento%E2%80%9D%20do%20civil%20law%20padr%C3%A3o%20%C3%A9%20raz%C3%A3o%20suficiente%20para%20se%20dizer%20que%20o%20Brasil%20estaria%20passando%20por%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20sist%C3%AAmica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AV%20-%20O%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20se%20transformando%20em%20common%20law%3B%0D%0A%0D%0AA%20pretens%C3%A3o%20de%20diferenciar%20common%20law%20e%20civil%20law%20simplesmente%20pela%20origem%20da%20norma%20jur%C3%ADdica%20%E2%80%93%20constru%C3%ADda%20judicialmente%20no%20primeiro%20caso%20e%20pela%20lei%20escrita%20no%20segundo%20%E2%80%93%20%C3%A9%20tentadora%20pela%20simplicidade%20e%20pela%20did%C3%A1tica.%20Essa%20diferen%C3%A7a%20b%C3%A1sica%20de%20fato%20existe%2C%20mas%20%C3%A9%20uma%20quest%C3%A3o%20cultural%2C%20muito%20mais%20do%20que%20um%20problema%20simples%20de%20fonte%20do%20direito.%20Definir%20o%20common%20law%20pela%20falta%20de%20um%20c%C3%B3digo%20legislativo%20organizado%20%C3%A9%20aderir%20a%20um%20modelo%20ideal%20de%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20corresponde%20%C3%A0%20realidade%20daqueles%20pa%C3%ADses.%20Trata-se%2C%20em%20suma%2C%20de%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20elegantemente%20errada%20para%20um%20problema%20complexo.%20A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20no%20common%20law%20nos%20%C3%BAltimos%20anos%20tem%20sido%20significativa%2C%20a%20ponto%20de%20a%20lei%20feita%20unicamente%20pelos%20ju%C3%ADzes%20hoje%20constituir%20a%20exce%C3%A7%C3%A3o%2C%20n%C3%A3o%20a%20regra%20%E2%80%93%20v%C3%AAm%20aumentando%20a%20confian%C3%A7a%20que%20depositam%20nas%20decis%C3%B5es%20passadas%20dos%20tribunais%20como%20fonte%20de%20direito.%0D%0A%0D%0A%C3%80%20primeira%20vista%2C%20ent%C3%A3o%2C%20a%20divis%C3%A3o%20pelo%20ponto%20de%20vista%20lei%20vs.%20precedente%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20suficiente%20para%20dar%20conta%20da%20diferen%C3%A7a%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20Segundo%20Taruffo%2C%20o%20mesmo%20se%20pode%20dizer%20de%20outro%20crit%C3%A9rios%20tradicionais%20de%20separa%C3%A7%C3%A3o%2C%20que%20contrap%C3%B5e%20os%20sistemas%20de%20civil%20law%20e%20common%20law%20como%20predominantemente%20orais%20ou%20escritos%2C%20respectivamente%3B%20ou%2C%20ainda%2C%20com%20olhos%20ao%20tipo%20de%20processo%2C%20se%20adversarial%20ou%20inquisitorial.%0D%0A%0D%0AAssim%20como%20a%20dicotomia%20de%20fontes%2C%20essas%20oposi%C3%A7%C3%B5es%20simples%20n%C3%A3o%20d%C3%A3o%20conta%20de%20toda%20a%20complexidade%20que%20separa%20os%20dois%20sistemas.%20As%20diferen%C3%A7as%20entre%20os%20dois%20s%C3%A3o%20hist%C3%B3ricas%20e%20comportamentais%2C%20vinculadas%20ao%20modo%20como%20cada%20um%20deles%20foi%20constru%C3%ADdo%2C%20e%20a%20como%20se%20enxerga%20e%20se%20aplica%20o%20direito%20e%20os%20precedentes.%20Talvez%20a%20principal%20caracter%C3%ADstica%20que%20realmente%20diferencie%20os%20dois%20sistemas%2C%20pelo%20menos%20do%20ponto%20de%20vista%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%2C%20seja%20a%20cultura%20argumentativa%20constru%C3%ADda%20nos%20pa%C3%ADses%20de%20common%20law%20como%20requisito%20para%20a%20adequada%20operacionaliza%C3%A7%C3%A3o%20da%20cultura%20de%20precedentes.%0D%0A%0D%0AH%C3%A1%20diferen%C3%A7as%20fundamentais%20entre%20as%20ferramentas%20de%20objetiva%C3%A7%C3%A3o%20processual%20adotadas%20pelo%20legislador%20brasileiro%20e%20um%20real%20sistema%20argumentativo%20de%20precedentes%20que%20se%20preocupe%20com%20a%20constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20com%20integridade.%20Enquanto%20isso%2C%20o%20juiz%20brasileiro%20que%20se%20deparar%20com%20algum%20pronunciamento%20vinculante%2C%20dever%C3%A1%20acompanhar%20aquele%20entendimento%2C%20por%20for%C3%A7a%20da%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa.%20Essa%20%C3%A9%20a%20primeira%20e%20mais%20elementar%20das%20diferen%C3%A7as%20%E2%80%93%20mas%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20significa.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20dif%C3%ADcil%20imaginar%20um%20efetivo%20sistema%20de%20precedentes%20que%20tenha%20sua%20g%C3%AAnese%20numa%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa%2C%20desde%20que%20seja%20aplicado%20racional%20e%20argumentativamente.%0D%0A%0D%0AA%20real%20diferen%C3%A7a%20reside%20no%20m%C3%A9todo.%20Os%20provimentos%20vinculantes%20no%20direito%20brasileiro%20se%20estruturam%20como%20enunciados%20normativos.%20N%C3%A3o%20h%C3%A1%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20com%20as%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20o%20juiz%20a%20tomar%20determinada%20decis%C3%A3o%2C%20nem%20com%20os%20princ%C3%ADpios%20jur%C3%ADdicos%20que%20o%20orientaram%2C%20mas%20apenas%20com%20o%20resultado%20final%20do%20julgamento%2C%20traduzido%20%E2%80%93%20pelo%20pr%C3%B3prio%20julgador%20%E2%80%93%20num%20enunciado%20geral%20e%20abstrato%2C%20nos%20moldes%20de%20uma%20norma.%20Como%20se%20esse%20enunciado%20judicial%20fosse%20resultado%20de%20um%20processo%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o%20da%20lei%20e%20n%C3%A3o%20dependesse%2C%20ele%20pr%C3%B3prio%2C%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o.%20Trabalhamos%20com%20precedentes%20da%20mesma%20forma%20que%20trabalhamos%20com%20a%20lei%2C%20esperando%2C%20no%20fundo%2C%20que%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%20se%20d%C3%AA%20por%20mera%20subsun%C3%A7%C3%A3o.%20Evolu%C3%ADmos%2C%20assim%2C%20do%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-lei%E2%80%9D%20ao%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-s%C3%BAmula%E2%80%9D.%20Por%20isso%2C%20a%20figura%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20assim%20como%20das%20s%C3%BAmulas%20vinculantes%2C%20acoplou-se%20com%20facilidade%20ao%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20criando%20como%20que%20um%20%E2%80%9Cstare%20decisis%20%C3%A0%20brasileira%E2%80%9D.%0D%0A%0D%0AEnquanto%20isso%2C%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20precedentes%20no%20common%20law%20%C3%A9%20argumentativa%3A%20o%20que%20vincula%20os%20casos%20subsequentes%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20uma%20regra%20geral%20anunciada%20pelo%20juiz%20do%20precedente%2C%20mas%20a%20raz%C3%A3o%20fundamental%20de%20decidir%20%28ratio%20decidendi%29%2C%20que%20cabe%20ao%20julgador%20do%20caso%20futuro%20extrair.%20Assim%2C%20tal%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20necessariamente%20pr%C3%A1tica%20e%20argumentativa%3A%20ao%20juiz%20n%C3%A3o%20basta%20aplicar%20uma%20resposta%20pr%C3%A9-moldada%2C%20mas%20sim%20estudar%20os%20princ%C3%ADpios%20que%20orientaram%20a%20decis%C3%A3o%20anterior%20e%20aplic%C3%A1-los%2C%20de%20forma%20coerente%2C%20ao%20caso%20atual%2C%20e%20n%C3%A3o%20apenas%20numa%20lista%20de%20decis%C3%B5es%20que%20s%C3%A3o%20isoladamente%20vinculantes.%0D%0A%0D%0AIsso%20n%C3%A3o%20pressup%C3%B5e%20que%20estejamos%20nos%20tornando%2C%20muito%20menos%20que%20precisemos%20nos%20tornar%2C%20um%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law.%20Precisamos%20%E2%80%93%20isso%20sim%20%E2%80%93%20desenvolver%20uma%20cultura%20argumentativa%20de%20precedentes%20coerente%20com%20o%20nosso%20civil%20law.%20De%20outro%20lado%2C%20nos%20contentaremos%20com%20um%20%E2%80%9Csistema%20de%20precedentes%E2%80%9D%20voltado%20n%C3%A3o%20%C3%A0%20constru%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20com%20integridade%20e%20coer%C3%AAncia%20interna%2C%20mas%20como%20mera%20t%C3%A9cnica%20de%20julgamento%20de%20casos%20repetitivos%2C%20que%20afoga%20as%20peculiaridades%20de%20cada%20caso%20concreto%20e%2C%20junto%20com%20elas%2C%20o%20pr%C3%B3prio%20direito.%0D%0A%0D%0ADecidir%20com%20racionalidade%20sist%C3%AAmica%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20requisito%20operacional%20de%20uma%20ou%20de%20outra%20fam%C3%ADlia%20jur%C3%ADdica%20espec%C3%ADfica%2C%20mas%20pressuposto%20l%C3%B3gico%20universal.%20O%20direito%20n%C3%A3o%20pode%20servir%20apenas%20para%20resolver%20os%20problemas%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio%3B%20a%20administra%C3%A7%C3%A3o%20da%20justi%C3%A7a%20n%C3%A3o%20pode%20se%20transformar%20num%20fim%20em%20si%20pr%C3%B3pria.%20Por%20isso%2C%20afirmar%20que%20o%20Brasil%20se%20tornou%20common%20law%20%C3%A9%20uma%20grave%20indu%C3%A7%C3%A3o%20a%20erro%2C%20porque%20se%20faz%20crer%20que%20essa%20cultura%20argumentativa%20j%C3%A1%20teria%20sido%20alcan%C3%A7ada.%20%C3%89%20como%20dizer%20que%20a%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20decis%C3%B3ria%20de%20origem%20normativa%20teria%20o%20cond%C3%A3o%20de%20fazer%20com%20que%20as%20coisas%20aqui%20se%20tornassem%20iguais%20%C3%A0s%20coisas%20l%C3%A1%2C%20desonerando%20o%20operador%20jur%C3%ADdico%20do%20compromisso%20intelectual%20necess%C3%A1rio%20para%20resolver%20os%20nossos%20problemas%2C%20que%20s%C3%A3o%20peculiares%20e%20exclusivamente%20nossos.%0D%0A%0D%0AIsso%20porque%20a%20tal%20%E2%80%9Cjurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%E2%80%9D%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20problema%20isolado.%20Est%C3%A1%20inserida%20num%20contexto%20muito%20maior%2C%20de%20crise%20do%20pr%C3%B3prio%20direito.%20O%20que%20se%20p%C3%B5e%20em%20jogo%20%C3%A9%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%2C%20que%20decorre%20da%20falta%20de%20fundamenta%C3%A7%C3%A3o%20racional%2C%20e%20transforma%20a%20decis%C3%A3o%20num%20ato%20n%C3%A3o%20de%20direito%2C%20mas%20de%20poder.%20O%20jurisdicionado%20se%20v%C3%AA%20na%20angustiante%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20n%C3%A3o%20saber%20o%20que%20diz%20o%20direito%2C%20porque%20a%20lei%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20vale%20%E2%80%93%20o%20que%2C%20em%20ampla%20medida%2C%20se%20relaciona%20com%20o%20fen%C3%B4meno%20da%20infla%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%2C%20t%C3%ADpico%20do%20final%20do%20s%C3%A9c.%20XX%20e%20do%20come%C3%A7o%20do%20s%C3%A9c.%20XXI%3A%20%C3%A9%20muito%20dif%C3%ADcil%20extrair%20sentido%20de%20uma%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20extensa%2C%20fracionada%20e%20contradit%C3%B3ria.%0D%0A%0D%0AE%20a%20solu%C3%A7%C3%A3o%20que%20o%20sistema%20prop%C3%B5e%20para%20esse%20problema%20%C3%A9%20tornar%20vinculantes%20e%20indiscut%C3%ADveis%20esses%20mesmos%20provimentos%20judiciais.%20Tudo%20sob%20o%20manto%20legitimador%20da%20ideia%20de%20que%20funciona%20assim%20no%20common%20law%2C%20e%20funciona%20bem%2C%20ent%C3%A3o%20funcionar%C3%A1%20bem%20aqui.%20%C3%89%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20confort%C3%A1vel%20a%20curto%20prazo%2C%20admite-se.%20Num%20cen%C3%A1rio%20onde%20o%20mosaico%20de%20entendimentos%20jurisprudenciais%20n%C3%A3o%20permite%20que%20se%20conhe%C3%A7a%20adequadamente%20o%20que%20%C3%A9%20a%20lei%20vigente%20no%20pa%C3%ADs%2C%20a%20fixa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tese%2C%20qualquer%20que%20seja%2C%20traz%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica.%20Mesmo%20que%20n%C3%A3o%20represente%20a%20melhor%20resposta%2C%20nem%20tenha%20legitimidade%20racional%2C%20ela%20resolve%20a%20diverg%C3%AAncia%2C%20por%20ter%20for%C3%A7a%20vinculante%20legal.%20Pode%20n%C3%A3o%20ser%20a%20melhor%20resposta%2C%20mas%20%C3%A9%20alguma%20resposta%2C%20situa%C3%A7%C3%A3o%20mais%20vantajosa%20do%20que%20o%20cen%C3%A1rio%20fracionado%20e%20imprevis%C3%ADvel%20que%20temos%20hoje.%0D%0A%0D%0AEm%20meio%20%C3%A0%20crise%20na%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20respostas%20judiciais%20adequadas%2C%20que%20p%C3%B5e%20em%20xeque%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20da%20jurisdi%C3%A7%C3%A3o%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais.%0D%0A%0D%0APor%20isso%2C%20%C3%A9%20preciso%20defender%20com%20veem%C3%AAncia%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20trocando%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica.%20Evitamos%2C%20assim%2C%20o%20erro%20de%20estudar%20os%20precedentes%20vinculantes%20daqui%20com%20uma%20simples%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20de%20como%20eles%20funcionam%20l%C3%A1%20%E2%80%93%20como%20se%20apreender%20os%20conceitos%20de%20ratio%20decidendi%20e%20distinguishing%20e%20overruling%20a%20partir%20de%20autores%20americanos%20e%20ingleses%20fosse%20suficiente%20para%20compreender%20a%20nossa%20jurisprud%C3%AAncia%20vinculante%2C%20esquecendo%20a%20enorme%20diferen%C3%A7a%20metodol%C3%B3gica%20e%20cultural%20que%20existe%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20O%20rol%20de%20provimentos%20vinculantes%20do%20art.%20927%20do%20CPC%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20instituto%20derivado%20do%20common%20law%2C%20mesmo%20que%20a%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20da%20entidade%20abstrata%20que%20chamamos%20de%20%E2%80%9Co%20legislador%E2%80%9D%20tenha%20sido%20o%20modelo%20anglo-sax%C3%A3o%20de%20stare%20decisis.%20H%C3%A1%20uma%20enorme%20diferen%C3%A7a%20entre%20importar%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20e%20construir%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20novo%20com%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20em%20alguma%20experi%C3%AAncia%20estrangeira.%20Disso%20se%20retira%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20redobrada%20que%20o%20jurista%20brasileiro%20deve%20ter%20com%20os%20conceitos%20operacionais%20de%20supera%C3%A7%C3%A3o%20e%2C%20especialmente%2C%20de%20distin%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%2C%20alinhando-os%20a%20uma%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20estudos%20interpretativos%20da%20pr%C3%B3pria%20lei.%0D%0A%0D%0AA%20solu%C3%A7%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20que%20h%C3%A1%2C%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20muito%20longe.%20%C3%89%20preciso%20aplicar%20o%20c%C3%B3digo%20como%20um%20todo%2C%20n%C3%A3o%20em%20tiras.%20N%C3%A3o%20existe%20art.%20927%20%28rol%20de%20provimentos%20vinculantes%29%20sem%20art.%20926%20%28dever%20de%20estabilidade%2C%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20da%20jurisprud%C3%AAncia%29.%20N%C3%A3o%20existe%20sistema%20de%20precedentes%20sem%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20em%20construir%2C%20argumentativamente%2C%20respostas%20judiciais%20que%20guardem%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20principiol%C3%B3gica%2C%20extraindo%20motivos%20determinantes%20e%20realizando%20distin%C3%A7%C3%B5es%20e%20supera%C3%A7%C3%B5es%20quando%20for%20adequado%20%28art.%20489%2C%20%C2%A7%201%C2%BA%29.%20Obriga%C3%A7%C3%A3o%20do%20juiz%2C%20das%20partes%2C%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblico%20%E2%80%93%20de%20todos%20os%20atores%20processuais.%20Dever%20de%20coopera%C3%A7%C3%A3o%2C%20enfim%20%28art.%206%C2%BA%29.%0D%0A%0D%0ANada%20disso%20nos%20obriga%20a%20importar%20qualquer%20coisa%20do%20common%20law.%20Est%C3%A1%20tudo%20l%C3%A1%2C%20no%20pr%C3%B3prio%20CPC.%20Basta%20aplic%C3%A1-lo.%0D%0A%0D%0AEm%20suma%3A%20existe%20um%20abismo%20de%20diferen%C3%A7a%20entre%20afirmar%2C%20como%20fazem%20Marinoni%2C%20que%20existe%20uma%20converg%C3%AAncia%20te%C3%B3rica%20e%20metodol%C3%B3gica%20entre%20os%20dois%20sistemas%2C%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20a%20alguns%20de%20seus%20institutos%20fundamentais%2C%20e%20dizer%20que%20est%C3%A1%20havendo%20uma%20efetiva%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20e%20que%2C%20a%20partir%20do%20CPC%20de%202015%2C%20podemos%20passar%20a%20estudar%20o%20Direito%20no%20Brasil%20como%20se%20estiv%C3%A9ssemos%20na%20Inglaterra%20ou%20nos%20Estados%20Unidos.%20Colocando%20da%20primeira%20forma%2C%20convidamos%20um%20estudo%20dos%20institutos%20argumentativos%20muito%20bem%20desenvolvidos%20no%20common%20law%20e%20observamos%20os%20cuidados%20constantes%20daquele%20sistema%20com%20a%20legitima%C3%A7%C3%A3o%20racional%20do%20processo%20decis%C3%B3rio%2C%20que%20contrastam%20violentamente%20com%20a%20pretens%C3%A3o%20padronizadora%20do%20processo%20civil%20objetivo%20brasileiro.%20Se%2C%20por%20outro%20lado%2C%20entendermos%20que%20houve%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20corremos%20o%20risco%20de%20nos%20satisfazermos%20com%20o%20estado%20atual%20de%20coisas%2C%20privando%20o%20sistema%20do%20necess%C3%A1rio%20choque%20paradigm%C3%A1tico%20que%20for%C3%A7a%20a%20adapta%C3%A7%C3%A3o%20intelectual.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AVI%20-%20Conclus%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AEste%20breve%20ensaio%20n%C3%A3o%20deve%20ser%20tomado%20como%20um%20ataque%20a%20qualquer%20associa%C3%A7%C3%A3o%20did%C3%A1tica%20entre%20o%20sistema%20brasileiro%20e%20o%20common%20law%2C%20nem%2C%20muito%20menos%2C%20como%20uma%20cruzada%20contra%20autores%20e%20autoras%20defensores%20dessa%20guinada%20metodol%C3%B3gica.%20Pretendi%20fazer%2C%20na%20verdade%2C%20uma%20ressalva%20metodol%C3%B3gica%3A%20n%C3%A3o%20estamos%20importando%20nenhum%20instituto%20do%20common%20law.%20Os%20precedentes%20constru%C3%ADdos%20no%20Brasil%20a%20partir%20do%20nosso%20sistema%2C%20e%20para%20o%20nosso%20sistema%2C%20n%C3%A3o%20podem%20ser%20justificados%20pelas%20mesmas%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20os%20ju%C3%ADzes%20da%20Inglaterra%20do%20s%C3%A9c.%20XII%20a%20respeitar%20as%20decis%C3%B5es%20anteriores%2C%20nem%20podem%20ser%20explicados%20a%20partir%20de%20teorias%20pensadas%20internamente%20para%20o%20modelo%20americano.%0D%0A%0D%0ANecess%C3%A1ria%20ressalva%3A%20isso%20n%C3%A3o%20quer%20dizer%20que%20n%C3%A3o%20possamos%20estudar%20obras%20de%20hermen%C3%AAutica%2C%20argumenta%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20e%20teoria%20do%20direito%20escritas%20por%20autores%20anglo-sax%C3%B4nicos.%20Obras%20que%20estudam%20o%20fen%C3%B4meno%20jur%C3%ADdico%20com%20um%20ponto%20de%20vista%20externo%20s%C3%A3o%20leitura%20essencial%20para%20se%20construir%20adequadamente%20o%20processo%20argumen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19/12/2020 Por que o Brasil não está caminhando para o common law, e por que isso importa – Mello e Souza & Associados
melloesouza.adv.br/2018/05/03/por-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa/ 6/20
Assim, os países anglo-saxões não só são países de common law, como também possuem uma
common law, ou seja, um conjunto de normas construídas paulatinamente por meio do
respeito a costumes e decisões judiciais vinculantes. O stare decisis não se impõe de uma
hora para outra, mas surge organicamente no meio desta tradição jurídica previamente
formada. Por isso, quando a House of Lords inglesa reconheceu a obrigação de seguir seus
próprios precedentes pela primeira vez em 1898, não o fez num vácuo ideológico.
Reconheceu-se que o stare decisis já era uma tradição secular, baseada no respeito ao
corpo pré-existente de princípios jurídicos consolidados pela tradição de respeito às
decisões anteriores, embora só naquele momento recebesse menção expressa[12].
Embora impere na prática a associação entre common law e precedentes – “o common law
facilmente vislumbrou que a certeza jurídica apenas poderia ser obtida mediante o stare
decisis”[13], afirma Marinoni –, é preciso destacar que não há convergência absoluta entre
common law e judge-made law. O sistema é caracterizado por outras peculiaridades: estilo
discursivo, atitude dos juristas, estrutura organizacional[14]. De acordo com os modelos
apontados por Damaska, a common law, em linhas gerais, tem uma estrutura colaborativa,
ao invés de hierárquica, pois o processo costuma ser oral, realizado num só ato – o trial –
e se resolver em apenas um grau de jurisdição; o acesso às vias recursais é mitigado e não
ocorre dentro do mesmo eixo procedimental. A formação daquilo que chamaríamos de
autos (embora o processo não possua, via de regra, a mesma representação física) é de
responsabilidade dos advogados, que apresentam as provas e argumentos oralmente
perante o juiz[15]. Enfim: o common law tem peculiaridades que vão muito além de um
enfoque maior da lei criada pelo magistrado.
Aliás, mesmo sob esse ponto de vista, a relação entre common law e o stare decisis não é
imune a críticas. Primeiro porque, apesar das centenas de anos de tradição, ainda não
existe uma obra definitiva sobre a natureza do precedente judicial, nem sobre a origem da
autoridade vinculante, que ainda são frequentemente investigadas[16] (especialmente
porque a vinculação é um dado, um fato pré-existente, que os filósofos do common law
buscam investigar – rigorosamente o contrário do que ocorre no sistema brasileiro, onde
a autoridade vinculante é algo que não existe e se pretende implementar). Em segundo
lugar, porque a superioridade do stare decisis como fonte de previsibilidade e segurança
jurídica não é incontroversa. Jeremy Waldron, professor da NYU, é crítico contundente da
previsibilidade trazida por precedentes que só são interpretados à luz de casos
subsequentes, ao invés de estabelecer regras gerais e abstratas[17] (resgatando, assim, a
clássica crítica de Bentham, equiparando o direito jurisprudencial a regras de
comportamento canino – dog law).
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mailto:?subject=Por%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa&body=http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F%0A%0APor%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa%0A%0APor%20Pedro%20Henrique%20Reschke%2C%20Advogado%20e%20Professor%20do%20CESUSC%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0AWhat%20seems%20most%20special%20about%20Common%20Law%20jurisdictions%20is%20that%20they%20have%20a%20great%20deal%20of%20case%20law%20that%20is%20not%20about%20the%20interpretation%20of%20legislation.%20It%20is%20only%20about%20the%20interpretation%20of%20other%20case%20law.%E2%80%9D%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%C2%A0I%20-%C2%A0Introdu%C3%A7%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AO%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20num%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law%20%E2%80%93%20ou%2C%20pelo%20menos%2C%20essa%20%C3%A9%20a%20conclus%C3%A3o%20atingida%20por%20muitos%20dos%20estudos%20recentes%20de%20direito%20processual%20civil.%20Ao%20interpretar%20o%20significado%20do%20reconhecimento%20da%20import%C3%A2ncia%20dos%20precedentes%2C%20em%20n%C3%ADvel%20constitucional%20%28Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%29%20e%20infraconstitucional%20%28CPC%20de%202015%29%2C%20parcela%20significativa%20da%20doutrina%20afirma%20estarmos%20diante%20de%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20da%20natureza%20do%20sistema%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20que%20estaria%20abandonando%20suas%20origens%20de%20civil%20law%20rumo%20a%20uma%20vers%C3%A3o%20tupiniquim%20do%20common%20law%20anglo-sax%C3%A3o.%0D%0A%0D%0ASegundo%20Fredie%20Didier%20Jr.%2C%20por%20exemplo%2C%20o%20Brasil%20teria%20sofrido%20tamanha%20influ%C3%AAncia%20do%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20mais%20poss%C3%ADvel%20consider%C3%A1-lo%20um%20sistema%20exclusivamente%20civil%20law%2C%20mas%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20sistema%20h%C3%ADbrido%2C%20um%20brazilian%20lawe%20julgamento%20de%20demandas%20repetitivas.%0D%0A%0D%0AClaro%2C%20essas%20vozes%20n%C3%A3o%20s%C3%A3o%20un%C3%A2nimes%3B%20h%C3%A1%20tamb%C3%A9m%20quem%20defenda%20opini%C3%A3o%20diversa%3A%20instituir%20o%20respeito%20a%20alguns%20precedentes%20e%20provimentos%20vinculantes%20n%C3%A3o%20significa%20modificar%20a%20natureza%20de%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico.%20Mas%2C%20de%20forma%20geral%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20identificar%20no%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%20uma%20associa%C3%A7%C3%A3o%20forte%20entre%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20de%20qualquer%20natureza%20%E2%80%93%20como%20algo%20que%20n%C3%A3o%20nos%20pertence.%20Qualquer%20coisa%20al%C3%A9m%20da%20perspectiva%20decisionista%20do%20livre%20convencimento%20%C3%A9%20tida%20como%20incompat%C3%ADvel%20com%20nosso%20sistema%2C%20pelo%20que%20seria%20veemente%20a%20necessidade%20dessa%20reforma%20%E2%80%9Cimportada%E2%80%9D%20do%20common%20law.%20A%20salva%C3%A7%C3%A3o%20est%C3%A1%20l%C3%A1%20fora.%0D%0A%0D%0AEste%20trabalho%20defende%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20caminha%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20que%20isso%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20apenas%20um%20problema%20sem%C3%A2ntico.%20Dizer%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20tornando%20common%20law%20%C3%A9%20cometer%2C%20pelo%20menos%2C%20dois%20erros%20fundamentais.%20Em%20primeiro%20lugar%2C%20significa%20adotar%20uma%20concep%C3%A7%C3%A3o%20excessivamente%20reducionista%20de%20civil%20law%20e%20de%20common%20law.%20Segundo%2C%20e%20mais%20grave%2C%20significa%20emprestar%20ao%20%E2%80%9Csistema%20brasileiro%20de%20precedentes%E2%80%9D%20uma%20legitimidade%20material%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20autom%C3%A1tica%2C%20mas%20precisa%20ser%20conquistada%20na%20pr%C3%A1tica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AII%20-%20Os%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20do%20mundo%20ocidental%3B%0D%0A%0D%0AO%20conceito%20de%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20no%20direito%20comparado%2C%20tem%20um%20prop%C3%B3sito%20eminentemente%20classificat%C3%B3rio.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20mesmo%20que%20falar%20em%20sistema%20jur%C3%ADdico%20no%20contexto%20do%20estudo%20de%20um%20determinado%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%20Nesse%20caso%2C%20a%20express%C3%A3o%20ganha%20um%20significado%20distinto%2C%20referindo-se%20ao%20conjunto%20de%20normas%20vigentes%20dentro%20de%20um%20determinado%20pa%C3%ADs%3B%20aqui%2C%20a%20express%C3%A3o%20sistema%20jur%C3%ADdico%20pode%20ser%20tomada%20como%20sin%C3%B4nimo%20de%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%0D%0A%0D%0AJ%C3%A1%20no%20direito%20comparado%2C%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20s%C3%A3o%20modelos%20ideais%2C%20baseados%20nas%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20que%20se%20apresentam%20em%20ordenamentos%20jur%C3%ADdicos%20distintos.%20Assim%2C%20dizer%20que%20determinado%20pa%C3%ADs%20adota%20um%20sistema%20de%20civil%20law%20n%C3%A3o%20significa%20dizer%20que%20ele%20seja%20exatamente%20igual%20aos%20outros%20que%20comp%C3%B5em%20o%20mesmo%20sistema.%20Falar%20e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recedentes%20%E2%80%93%20%E2%80%9Co%20common%20law%20facilmente%20vislumbrou%20que%20a%20certeza%20jur%C3%ADdica%20apenas%20poderia%20ser%20obtida%20mediante%20o%20stare%20decisis%E2%80%9D.%20Enfim%3A%20o%20common%20law%20tem%20peculiaridades%20que%20v%C3%A3o%20muito%20al%C3%A9m%20de%20um%20enfoque%20maior%20da%20lei%20criada%20pelo%20magistrado.%0D%0A%0D%0AAli%C3%A1s%2C%20mesmo%20sob%20esse%20ponto%20de%20vista%2C%20a%20rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20common%20law%20e%20o%20stare%20decisis%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20imune%20a%20cr%C3%ADticas.%20Primeiro%20porque%2C%20apesar%20das%20centenas%20de%20anos%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%2C%20ainda%20n%C3%A3o%20existe%20uma%20obra%20definitiva%20sobre%20a%20natureza%20do%20precedente%20judicial%2C%20nem%20sobre%20a%20origem%20da%20autoridade%20vinculante%2C%20que%20ainda%20s%C3%A3o%20frequentemente%20investigadas%20%28resgatando%2C%20assim%2C%20a%20cl%C3%A1ssica%20cr%C3%ADtica%20de%20Bentham%2C%20equiparando%20o%20direito%20jurisprudencial%20a%20regras%20de%20comportamento%20canino%20%E2%80%93%20dog%20law%29.%0D%0A%0D%0ANo%20nosso%20contexto%20atual%2C%20que%20v%C3%AA%20nos%20precedentes%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20v%C3%A1lvula%20de%20escape%20necess%C3%A1ria%20e%20inevit%C3%A1vel%20para%20o%20problema%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%2C%20parece%20estranho%20saber%20que%20o%20precedente%20judicial%20%C3%A9%20um%20fen%C3%B4meno%20ainda%20incompreendido%20dentro%20do%20pr%C3%B3prio%20common%20law.%20Igualmente%20peculiar%20%C3%A9%20descobrir%20que%20h%C3%A1%20correntes%20s%C3%A9rias%20de%20pesquisa%20nos%20pa%C3%ADses%20anglo-sax%C3%B5es%20defendendo%20uma%20mitiga%C3%A7%C3%A3o%20do%20stare%20decisis%20em%20favor%20do%20fortalecimento%20de%20uma%20codifica%C3%A7%C3%A3o%20nos%20moldes%20do%20civil%20law%20%E2%80%93%20n%C3%A3o%20seria%20esse%2C%20exatamente%2C%20o%20nosso%20problema%3F%20Isso%20deve%20ser%20interpretado%20como%20sinal%20claro%20de%20que%20o%20common%20law%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20sistema%20fechado%2C%20que%20j%C3%A1%20resolveu%20todos%20os%20seus%20problemas.%20A%20doutrina%20do%20precedente%20%E2%80%93%20que%20cogitamos%20importar%20e%20instaurar%20por%20meio%20de%20lei%20no%20nosso%20sistema%20%E2%80%93%20ainda%20vem%20sendo%20constantemente%20trabalhada%20e%20aprimorada%20na%20pr%C3%A1tica.%20Ela%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20%E2%80%9Cponto%20final%E2%80%9D%20no%20sistema%20do%20common%20law%2C%20e%20nem%20poder%C3%A1%20ser%20vista%20como%20tal%20dentro%20do%20ordenamento%20brasileiro.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AIV%20-%20A%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20brasileira%20e%20o%20impacto%20das%20decis%C3%B5es%20vinculantes%3B%0D%0A%0D%0ADemonstrou-se%20o%20que%20%C3%A9%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20na%20%C3%B3tica%20do%20direito%20comparado%2C%20e%20expuseram-se%20as%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20dos%20sistemas%20de%20common%20law%2C%20enquanto%20arqu%C3%A9tipos%20ideais.%20Falta%20analisar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20realmente%20nisso%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20%E2%80%93%20se%20%C3%A9%20que%20est%C3%A1%20se%20transformando%20mesmo%20em%20alguma%20coisa.%0D%0A%0D%0AEstudar%20para%20onde%20vai%20o%20Brasil%20exige%20que%20se%20entenda%20de%20onde%20ele%20parte.%20Zaneti%20Jr.%20aponta%20um%20%E2%80%9Cparadoxo%20metodol%C3%B3gico%E2%80%9D%20desde%20a%20origem%20do%20nosso%20sistema%3A%20a%20nossa%20ordem%20pol%C3%ADtico-constitucional%20%C3%A9%20de%20veia%20republicana%20e%20federativa%2C%20inspirada%20no%20modelo%20norte-americano%2C%20enquanto%20os%20demais%20ramos%20do%20direito%20infraconstitucional%2C%20privado%20e%20p%C3%BAblico%20%28inclusive%20o%20direito%20processual%29%2C%20s%C3%A3o%20tipicamente%20romano-germ%C3%A2nicos.%20Apesar%20dessa%20constru%C3%A7%C3%A3o%20mista%2C%20que%20poderia%20levar%20%C3%A0%20compreens%C3%A3o%20de%20que%20j%C3%A1%20ser%C3%ADamos%20um%20pouco%20common%20law%2C%20%C3%A9%20essa%20veia%20romano-germ%C3%A2nica%20que%20inspira%20o%20funcionamento%20e%20o%20m%C3%A9todo%20do%20nosso%20Judici%C3%A1rio.%20Por%20isso%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20classificar%20o%20direito%20brasileiro%2C%20assim%20como%20os%20demais%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20latino-americanos%2C%20como%20um%20sistema%20de%20civil%20law.%0D%0A%0D%0ADe%20fato%2C%20o%20sistema%20brasileiro%20%C3%A9%20influenciado%20pela%20vis%C3%A3o%20positivista%20focada%20no%20Poder%20Legislativo%20como%20foco%20produtor%20de%20normas%20jur%C3%ADdicas%2C%20decorrente%20da%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Francesa%2C%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20neutra%20e%20imparcial%20do%20direito%20pelo%20juiz%2C%20que%20se%20limitava%20a%20simplesmente%20ditar%20a%20vontade%20concreta%20da%20lei%20%E2%80%93%20que%2C%20por%20sua%20pr%C3%B3pria%20natureza%2C%20era%20um%20texto%20geral%20e%20abstrato%29.%0D%0A%0D%0AA%20base%20filos%C3%B3fica%20brasileira%2C%20assim%2C%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20a%20de%20cria%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20pelos%20tribunais%2C%20mas%20a%20da%20cren%C3%A7a%20na%20univocidade%20da%20lei%20e%20do%20juiz%20como%20mero%20aplicador%20neutro%20do%20direito.%20Nosso%20sistema%20%C3%A9%20constru%C3%ADdo%20tendo%20por%20base%20a%20legitimidade%20democr%C3%A1tica%20do%20direito%20produzido%20pelos%20representantes%20do%20povo%2C%20e%20no%20juiz%20enquanto%20aplicador.%20Por%20outro%20lado%2C%20o%20avan%C3%A7o%20da%20teoria%20do%20direito%20dos%20pa%C3%ADses%20de%20civil%20law%2C%20apoiado%20nas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20interpretativas%20p%C3%B3s-positivistas%2C%20reconheceu%20a%20impossibilidade%20de%20aplicar%20o%20texto%20normativo%20como%20tendo%20sentido%20em%20si%20pr%C3%B3prio.%20A%20renovada%20for%C3%A7a%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20que%20levou%20alguns%20te%C3%B3ricos%20a%20falarem%20em%20legisprudence%2C%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20nem%20s%C3%B3%20legisla%C3%A7%C3%A3o%2C%20nem%20s%C3%B3%20jurisprud%C3%AAncia%20%E2%80%93%20%C3%A9%20decorr%C3%AAncia%20desse%20fen%C3%B4meno.%0D%0A%0D%0AAl%C3%A9m%20de%20uma%20necessidade%20te%C3%B3rica%2C%20decorrente%20da%20necessidade%20de%20tratar%20o%20jurisdicionado%20com%20isonomia%20e%20diminuir%20o%20efeito%20nocivo%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20fragmentadas%2C%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20for%C3%A7a%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20no%20civil%20law%20brasileiro%20tamb%C3%A9m%20%C3%A9%20uma%20forma%20de%20lidar%20com%20a%20litigiosidade%20repetitiva%20que%20prejudica%20o%20bom%20funcionamento%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio.%0D%0A%0D%0ADesde%201963%2C%20quando%20foi%20criado%20o%20instituto%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20j%C3%A1%20se%20fala%20na%20recep%C3%A7%C3%A3o%20da%20f%C3%B3rmula%20do%20stare%20decisis%20pelo%20ordenamento%20brasileiro%3B%20os%20principais%20coment%C3%A1rios%20e%20justificativas%20doutrin%C3%A1rias%20para%20os%20institutos%20da%20repercuss%C3%A3o%20geral%20e%20da%20s%C3%BAmula%20vinculante%2C%20tidos%20a%20partir%20da%20Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%2C%20tamb%C3%A9m%20afirmavam%20serem%20ambos%20institutos%20de%20veia%20tipicamente%20anglo-sax%C3%A3.%20E%20o%20CPC%20de%202015%2C%20especialmente%20em%20seus%20arts.%20926%20e%20927%2C%20instituiu%20um%20rol%20de%20provimentos%20judiciais%20que%20s%C3%A3o%20vinculantes%20para%20o%20%C3%B3rg%C3%A3o%20que%20os%20proferiu%20e%20aqueles%20hierarquicamente%20subordinados.%20Trata-se%2C%20assim%2C%20da%20coroa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tend%C3%AAncia%20decorrente%20da%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20hist%C3%B3rica%20natural%20do%20sistema%20brasileiro.%0D%0A%0D%0AEsse%20conjunto%20de%20decis%C3%B5es%20vinculantes%2C%20estruturados%20como%20normas%20jur%C3%ADdicas%20emitidas%20pelo%20Judici%C3%A1rio%2C%20p%C3%B5e%20em%20conflito%20duas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20de%20precedente%3A%20de%20um%20lado%2C%20garantidor%20da%20isonomia%20formal%2C%20e%2C%20de%20outro%2C%20um%20modo%20de%20resolver%20rapidamente%20causas%20repetitivas%20que%20afogam%20o%20Judici%C3%A1rio%2C%20%E2%80%93%20conflito%20que%20pode%20tamb%C3%A9m%20ser%20posto%20como%20uma%20contraposi%C3%A7%C3%A3o%20entre%20racionalidade%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20e%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica%20do%20precedente.%20O%20precedente%20com%20for%C3%A7a%20vinculante%20ope%20legis%2C%20estruturado%20por%20meio%20de%20provimentos%20judiciais%20obrigat%C3%B3rios%20%28sem%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20raz%C3%B5es%20fundamentais%20de%20decidir%29%2C%20%C3%A9%20emblem%C3%A1tico%20dessa%20segunda%20concep%C3%A7%C3%A3o.%20Em%20linhas%20gerais%2C%20%C3%A9%20esse%20o%20estado%20da%20arte%20do%20precedente%20judicial%20no%20Brasil%3B%20resta%20investigar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20esse%20%E2%80%9Cdesvirtuamento%E2%80%9D%20do%20civil%20law%20padr%C3%A3o%20%C3%A9%20raz%C3%A3o%20suficiente%20para%20se%20dizer%20que%20o%20Brasil%20estaria%20passando%20por%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20sist%C3%AAmica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AV%20-%20O%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20se%20transformando%20em%20common%20law%3B%0D%0A%0D%0AA%20pretens%C3%A3o%20de%20diferenciar%20common%20law%20e%20civil%20law%20simplesmente%20pela%20origem%20da%20norma%20jur%C3%ADdica%20%E2%80%93%20constru%C3%ADda%20judicialmente%20no%20primeiro%20caso%20e%20pela%20lei%20escrita%20no%20segundo%20%E2%80%93%20%C3%A9%20tentadora%20pela%20simplicidade%20e%20pela%20did%C3%A1tica.%20Essa%20diferen%C3%A7a%20b%C3%A1sica%20de%20fato%20existe%2C%20mas%20%C3%A9%20uma%20quest%C3%A3o%20cultural%2C%20muito%20mais%20do%20que%20um%20problema%20simples%20de%20fonte%20do%20direito.%20Definir%20o%20common%20law%20pela%20falta%20de%20um%20c%C3%B3digo%20legislativo%20organizado%20%C3%A9%20aderir%20a%20um%20modelo%20ideal%20de%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20corresponde%20%C3%A0%20realidade%20daqueles%20pa%C3%ADses.%20Trata-se%2C%20em%20suma%2C%20de%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20elegantemente%20errada%20para%20um%20problema%20complexo.%20A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20no%20common%20law%20nos%20%C3%BAltimos%20anos%20tem%20sido%20significativa%2C%20a%20ponto%20de%20a%20lei%20feita%20unicamente%20pelos%20ju%C3%ADzes%20hoje%20constituir%20a%20exce%C3%A7%C3%A3o%2C%20n%C3%A3o%20a%20regra%20%E2%80%93%20v%C3%AAm%20aumentando%20a%20confian%C3%A7a%20que%20depositam%20nas%20decis%C3%B5es%20passadas%20dos%20tribunais%20como%20fonte%20de%20direito.%0D%0A%0D%0A%C3%80%20primeira%20vista%2C%20ent%C3%A3o%2C%20a%20divis%C3%A3o%20pelo%20ponto%20de%20vista%20lei%20vs.%20precedente%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20suficiente%20para%20dar%20conta%20da%20diferen%C3%A7a%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20Segundo%20Taruffo%2C%20o%20mesmo%20se%20pode%20dizer%20de%20outro%20crit%C3%A9rios%20tradicionais%20de%20separa%C3%A7%C3%A3o%2C%20que%20contrap%C3%B5e%20os%20sistemas%20de%20civil%20law%20e%20common%20law%20como%20predominantemente%20orais%20ou%20escritos%2C%20respectivamente%3B%20ou%2C%20ainda%2C%20com%20olhos%20ao%20tipo%20de%20processo%2C%20se%20adversarial%20ou%20inquisitorial.%0D%0A%0D%0AAssim%20como%20a%20dicotomia%20de%20fontes%2C%20essas%20oposi%C3%A7%C3%B5es%20simples%20n%C3%A3o%20d%C3%A3o%20conta%20de%20toda%20a%20complexidade%20que%20separa%20os%20dois%20sistemas.%20As%20diferen%C3%A7as%20entre%20os%20dois%20s%C3%A3o%20hist%C3%B3ricas%20e%20comportamentais%2C%20vinculadas%20ao%20modo%20como%20cada%20um%20deles%20foi%20constru%C3%ADdo%2C%20e%20a%20como%20se%20enxerga%20e%20se%20aplica%20o%20direito%20e%20os%20precedentes.%20Talvez%20a%20principal%20caracter%C3%ADstica%20que%20realmente%20diferencie%20os%20dois%20sistemas%2C%20pelo%20menos%20do%20ponto%20de%20vista%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%2C%20seja%20a%20cultura%20argumentativa%20constru%C3%ADda%20nos%20pa%C3%ADses%20de%20common%20law%20como%20requisito%20para%20a%20adequada%20operacionaliza%C3%A7%C3%A3o%20da%20cultura%20de%20precedentes.%0D%0A%0D%0AH%C3%A1%20diferen%C3%A7as%20fundamentais%20entre%20as%20ferramentas%20de%20objetiva%C3%A7%C3%A3o%20processual%20adotadas%20pelo%20legislador%20brasileiro%20e%20um%20real%20sistema%20argumentativo%20de%20precedentes%20que%20se%20preocupe%20com%20a%20constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20com%20integridade.%20Enquanto%20isso%2C%20o%20juiz%20brasileiro%20que%20se%20deparar%20com%20algum%20pronunciamento%20vinculante%2C%20dever%C3%A1%20acompanhar%20aquele%20entendimento%2C%20por%20for%C3%A7a%20da%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa.%20Essa%20%C3%A9%20a%20primeira%20e%20mais%20elementar%20das%20diferen%C3%A7as%20%E2%80%93%20mas%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20significa.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20dif%C3%ADcil%20imaginar%20um%20efetivo%20sistema%20de%20precedentes%20que%20tenha%20sua%20g%C3%AAnese%20numa%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa%2C%20desde%20que%20seja%20aplicado%20racional%20e%20argumentativamente.%0D%0A%0D%0AA%20real%20diferen%C3%A7a%20reside%20no%20m%C3%A9todo.%20Os%20provimentos%20vinculantes%20no%20direito%20brasileiro%20se%20estruturam%20como%20enunciados%20normativos.%20N%C3%A3o%20h%C3%A1%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20com%20as%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20o%20juiz%20a%20tomar%20determinada%20decis%C3%A3o%2C%20nem%20com%20os%20princ%C3%ADpios%20jur%C3%ADdicos%20que%20o%20orientaram%2C%20mas%20apenas%20com%20o%20resultado%20final%20do%20julgamento%2C%20traduzido%20%E2%80%93%20pelo%20pr%C3%B3prio%20julgador%20%E2%80%93%20num%20enunciado%20geral%20e%20abstrato%2C%20nos%20moldes%20de%20uma%20norma.%20Como%20se%20esse%20enunciado%20judicial%20fosse%20resultado%20de%20um%20processo%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o%20da%20lei%20e%20n%C3%A3o%20dependesse%2C%20ele%20pr%C3%B3prio%2C%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o.%20Trabalhamos%20com%20precedentes%20da%20mesma%20forma%20que%20trabalhamos%20com%20a%20lei%2C%20esperando%2C%20no%20fundo%2C%20que%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%20se%20d%C3%AA%20por%20mera%20subsun%C3%A7%C3%A3o.%20Evolu%C3%ADmos%2C%20assim%2C%20do%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-lei%E2%80%9D%20ao%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-s%C3%BAmula%E2%80%9D.%20Por%20isso%2C%20a%20figura%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20assim%20como%20das%20s%C3%BAmulas%20vinculantes%2C%20acoplou-se%20com%20facilidade%20ao%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20criando%20como%20que%20um%20%E2%80%9Cstare%20decisis%20%C3%A0%20brasileira%E2%80%9D.%0D%0A%0D%0AEnquanto%20isso%2C%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20precedentes%20no%20common%20law%20%C3%A9%20argumentativa%3A%20o%20que%20vincula%20os%20casos%20subsequentes%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20uma%20regra%20geral%20anunciada%20pelo%20juiz%20do%20precedente%2C%20mas%20a%20raz%C3%A3o%20fundamental%20de%20decidir%20%28ratio%20decidendi%29%2C%20que%20cabe%20ao%20julgador%20do%20caso%20futuro%20extrair.%20Assim%2C%20tal%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20necessariamente%20pr%C3%A1tica%20e%20argumentativa%3A%20ao%20juiz%20n%C3%A3o%20basta%20aplicar%20uma%20resposta%20pr%C3%A9-moldada%2C%20mas%20sim%20estudar%20os%20princ%C3%ADpios%20que%20orientaram%20a%20decis%C3%A3o%20anterior%20e%20aplic%C3%A1-los%2C%20de%20forma%20coerente%2C%20ao%20caso%20atual%2C%20e%20n%C3%A3o%20apenas%20numa%20lista%20de%20decis%C3%B5es%20que%20s%C3%A3o%20isoladamente%20vinculantes.%0D%0A%0D%0AIsso%20n%C3%A3o%20pressup%C3%B5e%20que%20estejamos%20nos%20tornando%2C%20muito%20menos%20que%20precisemos%20nos%20tornar%2C%20um%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law.%20Precisamos%20%E2%80%93%20isso%20sim%20%E2%80%93%20desenvolver%20uma%20cultura%20argumentativa%20de%20precedentes%20coerente%20com%20o%20nosso%20civil%20law.%20De%20outro%20lado%2C%20nos%20contentaremos%20com%20um%20%E2%80%9Csistema%20de%20precedentes%E2%80%9D%20voltado%20n%C3%A3o%20%C3%A0%20constru%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20com%20integridade%20e%20coer%C3%AAncia%20interna%2C%20mas%20como%20mera%20t%C3%A9cnica%20de%20julgamento%20de%20casos%20repetitivos%2C%20que%20afoga%20as%20peculiaridades%20de%20cada%20caso%20concreto%20e%2C%20junto%20com%20elas%2C%20o%20pr%C3%B3prio%20direito.%0D%0A%0D%0ADecidir%20com%20racionalidade%20sist%C3%AAmica%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20requisito%20operacional%20de%20uma%20ou%20de%20outra%20fam%C3%ADlia%20jur%C3%ADdica%20espec%C3%ADfica%2C%20mas%20pressuposto%20l%C3%B3gico%20universal.%20O%20direito%20n%C3%A3o%20pode%20servir%20apenas%20para%20resolver%20os%20problemas%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio%3B%20a%20administra%C3%A7%C3%A3o%20da%20justi%C3%A7a%20n%C3%A3o%20pode%20se%20transformar%20num%20fim%20em%20si%20pr%C3%B3pria.%20Por%20isso%2C%20afirmar%20que%20o%20Brasil%20se%20tornou%20common%20law%20%C3%A9%20uma%20grave%20indu%C3%A7%C3%A3o%20a%20erro%2C%20porque%20se%20faz%20crer%20que%20essa%20cultura%20argumentativa%20j%C3%A1%20teria%20sido%20alcan%C3%A7ada.%20%C3%89%20como%20dizer%20que%20a%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20decis%C3%B3ria%20de%20origem%20normativa%20teria%20o%20cond%C3%A3o%20de%20fazer%20com%20que%20as%20coisas%20aqui%20se%20tornassem%20iguais%20%C3%A0s%20coisas%20l%C3%A1%2C%20desonerando%20o%20operador%20jur%C3%ADdico%20do%20compromisso%20intelectual%20necess%C3%A1rio%20para%20resolver%20os%20nossos%20problemas%2C%20que%20s%C3%A3o%20peculiares%20e%20exclusivamente%20nossos.%0D%0A%0D%0AIsso%20porque%20a%20tal%20%E2%80%9Cjurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%E2%80%9D%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20problema%20isolado.%20Est%C3%A1%20inserida%20num%20contexto%20muito%20maior%2C%20de%20crise%20do%20pr%C3%B3prio%20direito.%20O%20que%20se%20p%C3%B5e%20em%20jogo%20%C3%A9%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%2C%20que%20decorre%20da%20falta%20de%20fundamenta%C3%A7%C3%A3o%20racional%2C%20e%20transforma%20a%20decis%C3%A3o%20num%20ato%20n%C3%A3o%20de%20direito%2C%20mas%20de%20poder.%20O%20jurisdicionado%20se%20v%C3%AA%20na%20angustiante%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20n%C3%A3o%20saber%20o%20que%20diz%20o%20direito%2C%20porque%20a%20lei%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20vale%20%E2%80%93%20o%20que%2C%20em%20ampla%20medida%2C%20se%20relaciona%20com%20o%20fen%C3%B4meno%20da%20infla%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%2C%20t%C3%ADpico%20do%20final%20do%20s%C3%A9c.%20XX%20e%20do%20come%C3%A7o%20do%20s%C3%A9c.%20XXI%3A%20%C3%A9%20muito%20dif%C3%ADcil%20extrair%20sentido%20de%20uma%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20extensa%2C%20fracionada%20e%20contradit%C3%B3ria.%0D%0A%0D%0AE%20a%20solu%C3%A7%C3%A3o%20que%20o%20sistema%20prop%C3%B5e%20para%20esse%20problema%20%C3%A9%20tornar%20vinculantes%20e%20indiscut%C3%ADveis%20esses%20mesmos%20provimentos%20judiciais.%20Tudo%20sob%20o%20manto%20legitimador%20da%20ideia%20de%20que%20funciona%20assim%20no%20common%20law%2C%20e%20funciona%20bem%2C%20ent%C3%A3o%20funcionar%C3%A1%20bem%20aqui.%20%C3%89%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20confort%C3%A1vel%20a%20curto%20prazo%2C%20admite-se.%20Num%20cen%C3%A1rio%20onde%20o%20mosaico%20de%20entendimentos%20jurisprudenciais%20n%C3%A3o%20permite%20que%20se%20conhe%C3%A7a%20adequadamente%20o%20que%20%C3%A9%20a%20lei%20vigente%20no%20pa%C3%ADs%2C%20a%20fixa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tese%2C%20qualquer%20que%20seja%2C%20traz%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica.%20Mesmo%20que%20n%C3%A3o%20represente%20a%20melhor%20resposta%2C%20nem%20tenha%20legitimidade%20racional%2C%20ela%20resolve%20a%20diverg%C3%AAncia%2C%20por%20ter%20for%C3%A7a%20vinculante%20legal.%20Pode%20n%C3%A3o%20ser%20a%20melhor%20resposta%2C%20mas%20%C3%A9%20alguma%20resposta%2C%20situa%C3%A7%C3%A3o%20mais%20vantajosa%20do%20que%20o%20cen%C3%A1rio%20fracionado%20e%20imprevis%C3%ADvel%20que%20temos%20hoje.%0D%0A%0D%0AEm%20meio%20%C3%A0%20crise%20na%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20respostas%20judiciais%20adequadas%2C%20que%20p%C3%B5e%20em%20xeque%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20da%20jurisdi%C3%A7%C3%A3o%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais.%0D%0A%0D%0APor%20isso%2C%20%C3%A9%20preciso%20defender%20com%20veem%C3%AAncia%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20trocando%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica.%20Evitamos%2C%20assim%2C%20o%20erro%20de%20estudar%20os%20precedentes%20vinculantes%20daqui%20com%20uma%20simples%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20de%20como%20eles%20funcionam%20l%C3%A1%20%E2%80%93%20como%20se%20apreender%20os%20conceitos%20de%20ratio%20decidendi%20e%20distinguishing%20e%20overruling%20a%20partir%20de%20autores%20americanos%20e%20ingleses%20fosse%20suficiente%20para%20compreender%20a%20nossa%20jurisprud%C3%AAncia%20vinculante%2C%20esquecendo%20a%20enorme%20diferen%C3%A7a%20metodol%C3%B3gica%20e%20cultural%20que%20existe%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20O%20rol%20de%20provimentos%20vinculantes%20do%20art.%20927%20do%20CPC%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20instituto%20derivado%20do%20common%20law%2C%20mesmo%20que%20a%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20da%20entidade%20abstrata%20que%20chamamos%20de%20%E2%80%9Co%20legislador%E2%80%9D%20tenha%20sido%20o%20modelo%20anglo-sax%C3%A3o%20de%20stare%20decisis.%20H%C3%A1%20uma%20enorme%20diferen%C3%A7a%20entre%20importar%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20e%20construir%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20novo%20com%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20em%20alguma%20experi%C3%AAncia%20estrangeira.%20Disso%20se%20retira%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20redobrada%20que%20o%20jurista%20brasileiro%20deve%20ter%20com%20os%20conceitos%20operacionais%20de%20supera%C3%A7%C3%A3o%20e%2C%20especialmente%2C%20de%20distin%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%2C%20alinhando-os%20a%20uma%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20estudos%20interpretativos%20da%20pr%C3%B3pria%20lei.%0D%0A%0D%0AA%20solu%C3%A7%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20que%20h%C3%A1%2C%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20muito%20longe.%20%C3%89%20preciso%20aplicar%20o%20c%C3%B3digo%20como%20um%20todo%2C%20n%C3%A3o%20em%20tiras.%20N%C3%A3o%20existe%20art.%20927%20%28rol%20de%20provimentos%20vinculantes%29%20sem%20art.%20926%20%28dever%20de%20estabilidade%2C%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20da%20jurisprud%C3%AAncia%29.%20N%C3%A3o%20existe%20sistema%20de%20precedentes%20sem%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20em%20construir%2C%20argumentativamente%2C%20respostas%20judiciais%20que%20guardem%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20principiol%C3%B3gica%2C%20extraindo%20motivos%20determinantes%20e%20realizando%20distin%C3%A7%C3%B5es%20e%20supera%C3%A7%C3%B5es%20quando%20for%20adequado%20%28art.%20489%2C%20%C2%A7%201%C2%BA%29.%20Obriga%C3%A7%C3%A3o%20do%20juiz%2C%20das%20partes%2C%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblico%20%E2%80%93%20de%20todos%20os%20atores%20processuais.%20Dever%20de%20coopera%C3%A7%C3%A3o%2C%20enfim%20%28art.%206%C2%BA%29.%0D%0A%0D%0ANada%20disso%20nos%20obriga%20a%20importar%20qualquer%20coisa%20do%20common%20law.%20Est%C3%A1%20tudo%20l%C3%A1%2C%20no%20pr%C3%B3prio%20CPC.%20Basta%20aplic%C3%A1-lo.%0D%0A%0D%0AEm%20suma%3A%20existe%20um%20abismo%20de%20diferen%C3%A7a%20entre%20afirmar%2C%20como%20fazem%20Marinoni%2C%20que%20existe%20uma%20converg%C3%AAncia%20te%C3%B3rica%20e%20metodol%C3%B3gica%20entre%20os%20dois%20sistemas%2C%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20a%20alguns%20de%20seus%20institutos%20fundamentais%2C%20e%20dizer%20que%20est%C3%A1%20havendo%20uma%20efetiva%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20e%20que%2C%20a%20partir%20do%20CPC%20de%202015%2C%20podemos%20passar%20a%20estudar%20o%20Direito%20no%20Brasil%20como%20se%20estiv%C3%A9ssemos%20na%20Inglaterra%20ou%20nos%20Estados%20Unidos.%20Colocando%20da%20primeira%20forma%2C%20convidamos%20um%20estudo%20dos%20institutos%20argumentativos%20muito%20bem%20desenvolvidos%20no%20common%20law%20e%20observamos%20os%20cuidados%20constantes%20daquele%20sistema%20com%20a%20legitima%C3%A7%C3%A3o%20racional%20do%20processo%20decis%C3%B3rio%2C%20que%20contrastam%20violentamente%20com%20a%20pretens%C3%A3o%20padronizadora%20do%20processo%20civil%20objetivo%20brasileiro.%20Se%2C%20por%20outro%20lado%2C%20entendermos%20que%20houve%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20corremos%20o%20risco%20de%20nos%20satisfazermos%20com%20o%20estado%20atual%20de%20coisas%2C%20privando%20o%20sistema%20do%20necess%C3%A1rio%20choque%20paradigm%C3%A1tico%20que%20for%C3%A7a%20a%20adapta%C3%A7%C3%A3o%20intelectual.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AVI%20-%20Conclus%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AEste%20breve%20ensaio%20n%C3%A3o%20deve%20ser%20tomado%20como%20um%20ataque%20a%20qualquer%20associa%C3%A7%C3%A3o%20did%C3%A1tica%20entre%20o%20sistema%20brasileiro%20e%20o%20common%20law%2C%20nem%2C%20muito%20menos%2C%20como%20uma%20cruzada%20contra%20autores%20e%20autoras%20defensores%20dessa%20guinada%20metodol%C3%B3gica.%20Pretendi%20fazer%2C%20na%20verdade%2C%20uma%20ressalva%20metodol%C3%B3gica%3A%20n%C3%A3o%20estamos%20importando%20nenhum%20instituto%20do%20common%20law.%20Os%20precedentes%20constru%C3%ADdos%20no%20Brasil%20a%20partir%20do%20nosso%20sistema%2C%20e%20para%20o%20nosso%20sistema%2C%20n%C3%A3o%20podem%20ser%20justificados%20pelas%20mesmas%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20os%20ju%C3%ADzes%20da%20Inglaterra%20do%20s%C3%A9c.%20XII%20a%20respeitar%20as%20decis%C3%B5es%20anteriores%2C%20nem%20podem%20ser%20explicados%20a%20partir%20de%20teorias%20pensadas%20internamente%20para%20o%20modelo%20americano.%0D%0A%0D%0ANecess%C3%A1ria%20ressalva%3A%20isso%20n%C3%A3o%20quer%20dizer%20que%20n%C3%A3o%20possamos%20estudar%20obras%20de%20hermen%C3%AAutica%2C%20argumenta%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20e%20teoria%20do%20direito%20escritas%20por%20autores%20anglo-sax%C3%B4nicos.%20Obras%20que%20estudam%20o%20fen%C3%B4meno%20jur%C3%ADdico%20com%20um%20ponto%20de%20vista%20externo%20s%C3%A3o%20leitura%20essencial%20para%20se%20construir%20adequadamente%20o%20processo%20argumen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19/12/2020 Por que o Brasil não está caminhando para o common law, e por que isso importa – Mello e Souza & Associados
melloesouza.adv.br/2018/05/03/por-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa/ 7/20
No nosso contexto atual, que vê nos precedentes uma espécie de válvula de escape
necessária e inevitável para o problema da jurisprudência lotérica, parece estranho saber
que o precedente judicial é um fenômeno ainda incompreendido dentro do próprio common
law. Igualmente peculiar é descobrir que há correntes sérias de pesquisa nos países anglo-
saxões defendendo uma mitigação do stare decisis em favor do fortalecimento de uma
codificação nos moldes do civil law – não seria esse, exatamente, o nosso problema? Isso
deve ser interpretado como sinal claro de que o common law não é um sistema fechado,
que já resolveu todos os seus problemas. A doutrina do precedente – que cogitamos
importar e instaurar por meio de lei no nosso sistema – ainda vem sendo constantemente
trabalhada e aprimorada na prática. Ela não é um “ponto final” no sistema do common law,
e nem poderá ser vista como tal dentro do ordenamento brasileiro.
 
IV – A tradição jurídica brasileira e o impacto das decisões vinculantes;
Demonstrou-se o que é um sistema jurídico, na ótica do direito comparado, e expuseram-se
as principais características dos sistemas de common law, enquanto arquétipos ideais.
Falta analisar, então, se é realmente nisso que o Brasil está se transformando – se é que
está se transformando mesmo em alguma coisa.
Estudar para onde vai o Brasil exige que se entenda de onde ele parte. Zaneti Jr. aponta um
“paradoxo metodológico” desde a origem do nosso sistema: a nossa ordem político-
constitucional é de veia republicana e federativa, inspirada no modelo norte-americano,
enquanto os demais ramos do direito infraconstitucional, privado e público (inclusive o
direito processual), são tipicamente romano-germânicos[18]. Apesar dessa construção
mista, que poderia levar à compreensão de que já seríamos um pouco common law, é essa
veia romano-germânica que inspira o funcionamento e o método do nosso Judiciário. Por
isso, é possível classificar o direito brasileiro, assim como os demais sistemas jurídicos
latino-americanos, como um sistema de civil law.
De fato, o sistema brasileiro é influenciado pela visão positivista focada no Poder
Legislativo como foco produtor de normas jurídicas, decorrente da Revolução Francesa,
da aplicação neutra e imparcial do direito pelo juiz, que se limitava a simplesmente ditar a
vontade concreta da lei – que, por sua própria natureza, era um texto geral e abstrato[19].
Nesse sentido, o magistrado não teria poder interpretativo nem criador do direito.
Caberia aos representantes políticos diretos da população a criação prévia das normas,
que ao juiz e ao Poder Judiciário cumpriria apenas dar efetividade, através da subsunção
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mailto:?subject=Por%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa&body=http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F%0A%0APor%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa%0A%0APor%20Pedro%20Henrique%20Reschke%2C%20Advogado%20e%20Professor%20do%20CESUSC%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0AWhat%20seems%20most%20special%20about%20Common%20Law%20jurisdictions%20is%20that%20they%20have%20a%20great%20deal%20of%20case%20law%20that%20is%20not%20about%20the%20interpretation%20of%20legislation.%20It%20is%20only%20about%20the%20interpretation%20of%20other%20case%20law.%E2%80%9D%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%C2%A0I%20-%C2%A0Introdu%C3%A7%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AO%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20num%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law%20%E2%80%93%20ou%2C%20pelo%20menos%2C%20essa%20%C3%A9%20a%20conclus%C3%A3o%20atingida%20por%20muitos%20dos%20estudos%20recentes%20de%20direito%20processual%20civil.%20Ao%20interpretar%20o%20significado%20do%20reconhecimento%20da%20import%C3%A2ncia%20dos%20precedentes%2C%20em%20n%C3%ADvel%20constitucional%20%28Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%29%20e%20infraconstitucional%20%28CPC%20de%202015%29%2C%20parcela%20significativa%20da%20doutrina%20afirma%20estarmos%20diante%20de%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20da%20natureza%20do%20sistema%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20que%20estaria%20abandonando%20suas%20origens%20de%20civil%20law%20rumo%20a%20uma%20vers%C3%A3o%20tupiniquim%20do%20common%20law%20anglo-sax%C3%A3o.%0D%0A%0D%0ASegundo%20Fredie%20Didier%20Jr.%2C%20por%20exemplo%2C%20o%20Brasil%20teria%20sofrido%20tamanha%20influ%C3%AAncia%20do%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20mais%20poss%C3%ADvel%20consider%C3%A1-lo%20um%20sistema%20exclusivamente%20civil%20law%2C%20mas%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20sistema%20h%C3%ADbrido%2C%20um%20brazilian%20lawe%20julgamento%20de%20demandas%20repetitivas.%0D%0A%0D%0AClaro%2C%20essas%20vozes%20n%C3%A3o%20s%C3%A3o%20un%C3%A2nimes%3B%20h%C3%A1%20tamb%C3%A9m%20quem%20defenda%20opini%C3%A3o%20diversa%3A%20instituir%20o%20respeito%20a%20alguns%20precedentes%20e%20provimentos%20vinculantes%20n%C3%A3o%20significa%20modificar%20a%20natureza%20de%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico.%20Mas%2C%20de%20forma%20geral%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20identificar%20no%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%20uma%20associa%C3%A7%C3%A3o%20forte%20entre%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20de%20qualquer%20natureza%20%E2%80%93%20como%20algo%20que%20n%C3%A3o%20nos%20pertence.%20Qualquer%20coisa%20al%C3%A9m%20da%20perspectiva%20decisionista%20do%20livre%20convencimento%20%C3%A9%20tida%20como%20incompat%C3%ADvel%20com%20nosso%20sistema%2C%20pelo%20que%20seria%20veemente%20a%20necessidade%20dessa%20reforma%20%E2%80%9Cimportada%E2%80%9D%20do%20common%20law.%20A%20salva%C3%A7%C3%A3o%20est%C3%A1%20l%C3%A1%20fora.%0D%0A%0D%0AEste%20trabalho%20defende%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20caminha%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20que%20isso%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20apenas%20um%20problema%20sem%C3%A2ntico.%20Dizer%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20tornando%20common%20law%20%C3%A9%20cometer%2C%20pelo%20menos%2C%20dois%20erros%20fundamentais.%20Em%20primeiro%20lugar%2C%20significa%20adotar%20uma%20concep%C3%A7%C3%A3o%20excessivamente%20reducionista%20de%20civil%20law%20e%20de%20common%20law.%20Segundo%2C%20e%20mais%20grave%2C%20significa%20emprestar%20ao%20%E2%80%9Csistema%20brasileiro%20de%20precedentes%E2%80%9D%20uma%20legitimidade%20material%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20autom%C3%A1tica%2C%20mas%20precisa%20ser%20conquistada%20na%20pr%C3%A1tica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AII%20-%20Os%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20do%20mundo%20ocidental%3B%0D%0A%0D%0AO%20conceito%20de%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20no%20direito%20comparado%2C%20tem%20um%20prop%C3%B3sito%20eminentemente%20classificat%C3%B3rio.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20mesmo%20que%20falar%20em%20sistema%20jur%C3%ADdico%20no%20contexto%20do%20estudo%20de%20um%20determinado%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%20Nesse%20caso%2C%20a%20express%C3%A3o%20ganha%20um%20significado%20distinto%2C%20referindo-se%20ao%20conjunto%20de%20normas%20vigentes%20dentro%20de%20um%20determinado%20pa%C3%ADs%3B%20aqui%2C%20a%20express%C3%A3o%20sistema%20jur%C3%ADdico%20pode%20ser%20tomada%20como%20sin%C3%B4nimo%20de%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%0D%0A%0D%0AJ%C3%A1%20no%20direito%20comparado%2C%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20s%C3%A3o%20modelos%20ideais%2C%20baseados%20nas%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20que%20se%20apresentam%20em%20ordenamentos%20jur%C3%ADdicos%20distintos.%20Assim%2C%20dizer%20que%20determinado%20pa%C3%ADs%20adota%20um%20sistema%20de%20civil%20law%20n%C3%A3o%20significa%20dizer%20que%20ele%20seja%20exatamente%20igual%20aos%20outros%20que%20comp%C3%B5em%20o%20mesmo%20sistema.%20Falar%20e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recedentes%20%E2%80%93%20%E2%80%9Co%20common%20law%20facilmente%20vislumbrou%20que%20a%20certeza%20jur%C3%ADdica%20apenas%20poderia%20ser%20obtida%20mediante%20o%20stare%20decisis%E2%80%9D.%20Enfim%3A%20o%20common%20law%20tem%20peculiaridades%20que%20v%C3%A3o%20muito%20al%C3%A9m%20de%20um%20enfoque%20maior%20da%20lei%20criada%20pelo%20magistrado.%0D%0A%0D%0AAli%C3%A1s%2C%20mesmo%20sob%20esse%20ponto%20de%20vista%2C%20a%20rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20common%20law%20e%20o%20stare%20decisis%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20imune%20a%20cr%C3%ADticas.%20Primeiro%20porque%2C%20apesar%20das%20centenas%20de%20anos%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%2C%20ainda%20n%C3%A3o%20existe%20uma%20obra%20definitiva%20sobre%20a%20natureza%20do%20precedente%20judicial%2C%20nem%20sobre%20a%20origem%20da%20autoridade%20vinculante%2C%20que%20ainda%20s%C3%A3o%20frequentemente%20investigadas%20%28resgatando%2C%20assim%2C%20a%20cl%C3%A1ssica%20cr%C3%ADtica%20de%20Bentham%2C%20equiparando%20o%20direito%20jurisprudencial%20a%20regras%20de%20comportamento%20canino%20%E2%80%93%20dog%20law%29.%0D%0A%0D%0ANo%20nosso%20contexto%20atual%2C%20que%20v%C3%AA%20nos%20precedentes%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20v%C3%A1lvula%20de%20escape%20necess%C3%A1ria%20e%20inevit%C3%A1vel%20para%20o%20problema%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%2C%20parece%20estranho%20saber%20que%20o%20precedente%20judicial%20%C3%A9%20um%20fen%C3%B4meno%20ainda%20incompreendido%20dentro%20do%20pr%C3%B3prio%20common%20law.%20Igualmente%20peculiar%20%C3%A9%20descobrir%20que%20h%C3%A1%20correntes%20s%C3%A9rias%20de%20pesquisa%20nos%20pa%C3%ADses%20anglo-sax%C3%B5es%20defendendo%20uma%20mitiga%C3%A7%C3%A3o%20do%20stare%20decisis%20em%20favor%20do%20fortalecimento%20de%20uma%20codifica%C3%A7%C3%A3o%20nos%20moldes%20do%20civil%20law%20%E2%80%93%20n%C3%A3o%20seria%20esse%2C%20exatamente%2C%20o%20nosso%20problema%3F%20Isso%20deve%20ser%20interpretado%20como%20sinal%20claro%20de%20que%20o%20common%20law%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20sistema%20fechado%2C%20que%20j%C3%A1%20resolveu%20todos%20os%20seus%20problemas.%20A%20doutrina%20do%20precedente%20%E2%80%93%20que%20cogitamos%20importar%20e%20instaurar%20por%20meio%20de%20lei%20no%20nosso%20sistema%20%E2%80%93%20ainda%20vem%20sendo%20constantemente%20trabalhada%20e%20aprimorada%20na%20pr%C3%A1tica.%20Ela%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20%E2%80%9Cponto%20final%E2%80%9D%20no%20sistema%20do%20common%20law%2C%20e%20nem%20poder%C3%A1%20ser%20vista%20como%20tal%20dentro%20do%20ordenamento%20brasileiro.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AIV%20-%20A%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20brasileira%20e%20o%20impacto%20das%20decis%C3%B5es%20vinculantes%3B%0D%0A%0D%0ADemonstrou-se%20o%20que%20%C3%A9%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20na%20%C3%B3tica%20do%20direito%20comparado%2C%20e%20expuseram-se%20as%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20dos%20sistemas%20de%20common%20law%2C%20enquanto%20arqu%C3%A9tipos%20ideais.%20Falta%20analisar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20realmente%20nisso%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20%E2%80%93%20se%20%C3%A9%20que%20est%C3%A1%20se%20transformando%20mesmo%20em%20alguma%20coisa.%0D%0A%0D%0AEstudar%20para%20onde%20vai%20o%20Brasil%20exige%20que%20se%20entenda%20de%20onde%20ele%20parte.%20Zaneti%20Jr.%20aponta%20um%20%E2%80%9Cparadoxo%20metodol%C3%B3gico%E2%80%9D%20desde%20a%20origem%20do%20nosso%20sistema%3A%20a%20nossa%20ordem%20pol%C3%ADtico-constitucional%20%C3%A9%20de%20veia%20republicana%20e%20federativa%2C%20inspirada%20no%20modelo%20norte-americano%2C%20enquanto%20os%20demais%20ramos%20do%20direito%20infraconstitucional%2C%20privado%20e%20p%C3%BAblico%20%28inclusive%20o%20direito%20processual%29%2C%20s%C3%A3o%20tipicamente%20romano-germ%C3%A2nicos.%20Apesar%20dessa%20constru%C3%A7%C3%A3o%20mista%2C%20que%20poderia%20levar%20%C3%A0%20compreens%C3%A3o%20de%20que%20j%C3%A1%20ser%C3%ADamos%20um%20pouco%20common%20law%2C%20%C3%A9%20essa%20veia%20romano-germ%C3%A2nica%20que%20inspira%20o%20funcionamento%20e%20o%20m%C3%A9todo%20do%20nosso%20Judici%C3%A1rio.%20Por%20isso%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20classificar%20o%20direito%20brasileiro%2C%20assim%20como%20os%20demais%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20latino-americanos%2C%20como%20um%20sistema%20de%20civil%20law.%0D%0A%0D%0ADe%20fato%2C%20o%20sistema%20brasileiro%20%C3%A9%20influenciado%20pela%20vis%C3%A3o%20positivista%20focada%20no%20Poder%20Legislativo%20como%20foco%20produtor%20de%20normas%20jur%C3%ADdicas%2C%20decorrente%20da%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Francesa%2C%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20neutra%20e%20imparcial%20do%20direito%20pelo%20juiz%2C%20que%20se%20limitava%20a%20simplesmente%20ditar%20a%20vontade%20concreta%20da%20lei%20%E2%80%93%20que%2C%20por%20sua%20pr%C3%B3pria%20natureza%2C%20era%20um%20texto%20geral%20e%20abstrato%29.%0D%0A%0D%0AA%20base%20filos%C3%B3fica%20brasileira%2C%20assim%2C%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20a%20de%20cria%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20pelos%20tribunais%2C%20mas%20a%20da%20cren%C3%A7a%20na%20univocidade%20da%20lei%20e%20do%20juiz%20como%20mero%20aplicador%20neutro%20do%20direito.%20Nosso%20sistema%20%C3%A9%20constru%C3%ADdo%20tendo%20por%20base%20a%20legitimidade%20democr%C3%A1tica%20do%20direito%20produzido%20pelos%20representantes%20do%20povo%2C%20e%20no%20juiz%20enquanto%20aplicador.%20Por%20outro%20lado%2C%20o%20avan%C3%A7o%20da%20teoria%20do%20direito%20dos%20pa%C3%ADses%20de%20civil%20law%2C%20apoiado%20nas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20interpretativas%20p%C3%B3s-positivistas%2C%20reconheceu%20a%20impossibilidade%20de%20aplicar%20o%20texto%20normativo%20como%20tendo%20sentido%20em%20si%20pr%C3%B3prio.%20A%20renovada%20for%C3%A7a%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20que%20levou%20alguns%20te%C3%B3ricos%20a%20falarem%20em%20legisprudence%2C%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20nem%20s%C3%B3%20legisla%C3%A7%C3%A3o%2C%20nem%20s%C3%B3%20jurisprud%C3%AAncia%20%E2%80%93%20%C3%A9%20decorr%C3%AAncia%20desse%20fen%C3%B4meno.%0D%0A%0D%0AAl%C3%A9m%20de%20uma%20necessidade%20te%C3%B3rica%2C%20decorrente%20da%20necessidade%20de%20tratar%20o%20jurisdicionado%20com%20isonomia%20e%20diminuir%20o%20efeito%20nocivo%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20fragmentadas%2C%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20for%C3%A7a%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20no%20civil%20law%20brasileiro%20tamb%C3%A9m%20%C3%A9%20uma%20forma%20de%20lidar%20com%20a%20litigiosidade%20repetitiva%20que%20prejudica%20o%20bom%20funcionamento%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio.%0D%0A%0D%0ADesde%201963%2C%20quando%20foi%20criado%20o%20instituto%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20j%C3%A1%20se%20fala%20na%20recep%C3%A7%C3%A3o%20da%20f%C3%B3rmula%20do%20stare%20decisis%20pelo%20ordenamento%20brasileiro%3B%20os%20principais%20coment%C3%A1rios%20e%20justificativas%20doutrin%C3%A1rias%20para%20os%20institutos%20da%20repercuss%C3%A3o%20geral%20e%20da%20s%C3%BAmula%20vinculante%2C%20tidos%20a%20partir%20da%20Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%2C%20tamb%C3%A9m%20afirmavam%20serem%20ambos%20institutos%20de%20veia%20tipicamente%20anglo-sax%C3%A3.%20E%20o%20CPC%20de%202015%2C%20especialmente%20em%20seus%20arts.%20926%20e%20927%2C%20instituiu%20um%20rol%20de%20provimentos%20judiciais%20que%20s%C3%A3o%20vinculantes%20para%20o%20%C3%B3rg%C3%A3o%20que%20os%20proferiu%20e%20aqueles%20hierarquicamente%20subordinados.%20Trata-se%2C%20assim%2C%20da%20coroa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tend%C3%AAncia%20decorrente%20da%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20hist%C3%B3rica%20natural%20do%20sistema%20brasileiro.%0D%0A%0D%0AEsse%20conjunto%20de%20decis%C3%B5es%20vinculantes%2C%20estruturados%20como%20normas%20jur%C3%ADdicas%20emitidas%20pelo%20Judici%C3%A1rio%2C%20p%C3%B5e%20em%20conflito%20duas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20de%20precedente%3A%20de%20um%20lado%2C%20garantidor%20da%20isonomia%20formal%2C%20e%2C%20de%20outro%2C%20um%20modo%20de%20resolver%20rapidamente%20causas%20repetitivas%20que%20afogam%20o%20Judici%C3%A1rio%2C%20%E2%80%93%20conflito%20que%20pode%20tamb%C3%A9m%20ser%20posto%20como%20uma%20contraposi%C3%A7%C3%A3o%20entre%20racionalidade%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20e%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica%20do%20precedente.%20O%20precedente%20com%20for%C3%A7a%20vinculante%20ope%20legis%2C%20estruturado%20por%20meio%20de%20provimentos%20judiciais%20obrigat%C3%B3rios%20%28sem%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20raz%C3%B5es%20fundamentais%20de%20decidir%29%2C%20%C3%A9%20emblem%C3%A1tico%20dessa%20segunda%20concep%C3%A7%C3%A3o.%20Em%20linhas%20gerais%2C%20%C3%A9%20esse%20o%20estado%20da%20arte%20do%20precedente%20judicial%20no%20Brasil%3B%20resta%20investigar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20esse%20%E2%80%9Cdesvirtuamento%E2%80%9D%20do%20civil%20law%20padr%C3%A3o%20%C3%A9%20raz%C3%A3o%20suficiente%20para%20se%20dizer%20que%20o%20Brasil%20estaria%20passando%20por%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20sist%C3%AAmica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AV%20-%20O%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20se%20transformando%20em%20common%20law%3B%0D%0A%0D%0AA%20pretens%C3%A3o%20de%20diferenciar%20common%20law%20e%20civil%20law%20simplesmente%20pela%20origem%20da%20norma%20jur%C3%ADdica%20%E2%80%93%20constru%C3%ADda%20judicialmente%20no%20primeiro%20caso%20e%20pela%20lei%20escrita%20no%20segundo%20%E2%80%93%20%C3%A9%20tentadora%20pela%20simplicidade%20e%20pela%20did%C3%A1tica.%20Essa%20diferen%C3%A7a%20b%C3%A1sica%20de%20fato%20existe%2C%20mas%20%C3%A9%20uma%20quest%C3%A3o%20cultural%2C%20muito%20mais%20do%20que%20um%20problema%20simples%20de%20fonte%20do%20direito.%20Definir%20o%20common%20law%20pela%20falta%20de%20um%20c%C3%B3digo%20legislativo%20organizado%20%C3%A9%20aderir%20a%20um%20modelo%20ideal%20de%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20corresponde%20%C3%A0%20realidade%20daqueles%20pa%C3%ADses.%20Trata-se%2C%20em%20suma%2C%20de%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20elegantemente%20errada%20para%20um%20problema%20complexo.%20A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20no%20common%20law%20nos%20%C3%BAltimos%20anos%20tem%20sido%20significativa%2C%20a%20ponto%20de%20a%20lei%20feita%20unicamente%20pelos%20ju%C3%ADzes%20hoje%20constituir%20a%20exce%C3%A7%C3%A3o%2C%20n%C3%A3o%20a%20regra%20%E2%80%93%20v%C3%AAm%20aumentando%20a%20confian%C3%A7a%20que%20depositam%20nas%20decis%C3%B5es%20passadas%20dos%20tribunais%20como%20fonte%20de%20direito.%0D%0A%0D%0A%C3%80%20primeira%20vista%2C%20ent%C3%A3o%2C%20a%20divis%C3%A3o%20pelo%20ponto%20de%20vista%20lei%20vs.%20precedente%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20suficiente%20para%20dar%20conta%20da%20diferen%C3%A7a%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20Segundo%20Taruffo%2C%20o%20mesmo%20se%20pode%20dizer%20de%20outro%20crit%C3%A9rios%20tradicionais%20de%20separa%C3%A7%C3%A3o%2C%20que%20contrap%C3%B5e%20os%20sistemas%20de%20civil%20law%20e%20common%20law%20como%20predominantemente%20orais%20ou%20escritos%2C%20respectivamente%3B%20ou%2C%20ainda%2C%20com%20olhos%20ao%20tipo%20de%20processo%2C%20se%20adversarial%20ou%20inquisitorial.%0D%0A%0D%0AAssim%20como%20a%20dicotomia%20de%20fontes%2C%20essas%20oposi%C3%A7%C3%B5es%20simples%20n%C3%A3o%20d%C3%A3o%20conta%20de%20toda%20a%20complexidade%20que%20separa%20os%20dois%20sistemas.%20As%20diferen%C3%A7as%20entre%20os%20dois%20s%C3%A3o%20hist%C3%B3ricas%20e%20comportamentais%2C%20vinculadas%20ao%20modo%20como%20cada%20um%20deles%20foi%20constru%C3%ADdo%2C%20e%20a%20como%20se%20enxerga%20e%20se%20aplica%20o%20direito%20e%20os%20precedentes.%20Talvez%20a%20principal%20caracter%C3%ADstica%20que%20realmente%20diferencie%20os%20dois%20sistemas%2C%20pelo%20menos%20do%20ponto%20de%20vista%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%2C%20seja%20a%20cultura%20argumentativa%20constru%C3%ADda%20nos%20pa%C3%ADses%20de%20common%20law%20como%20requisito%20para%20a%20adequada%20operacionaliza%C3%A7%C3%A3o%20da%20cultura%20de%20precedentes.%0D%0A%0D%0AH%C3%A1%20diferen%C3%A7as%20fundamentais%20entre%20as%20ferramentas%20de%20objetiva%C3%A7%C3%A3o%20processual%20adotadas%20pelo%20legislador%20brasileiro%20e%20um%20real%20sistema%20argumentativo%20de%20precedentes%20que%20se%20preocupe%20com%20a%20constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20com%20integridade.%20Enquanto%20isso%2C%20o%20juiz%20brasileiro%20que%20se%20deparar%20com%20algum%20pronunciamento%20vinculante%2C%20dever%C3%A1%20acompanhar%20aquele%20entendimento%2C%20por%20for%C3%A7a%20da%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa.%20Essa%20%C3%A9%20a%20primeira%20e%20mais%20elementar%20das%20diferen%C3%A7as%20%E2%80%93%20mas%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20significa.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20dif%C3%ADcil%20imaginar%20um%20efetivo%20sistema%20de%20precedentes%20que%20tenha%20sua%20g%C3%AAnese%20numa%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa%2C%20desde%20que%20seja%20aplicado%20racional%20e%20argumentativamente.%0D%0A%0D%0AA%20real%20diferen%C3%A7a%20reside%20no%20m%C3%A9todo.%20Os%20provimentos%20vinculantes%20no%20direito%20brasileiro%20se%20estruturam%20como%20enunciados%20normativos.%20N%C3%A3o%20h%C3%A1%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20com%20as%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20o%20juiz%20a%20tomar%20determinada%20decis%C3%A3o%2C%20nem%20com%20os%20princ%C3%ADpios%20jur%C3%ADdicos%20que%20o%20orientaram%2C%20mas%20apenas%20com%20o%20resultado%20final%20do%20julgamento%2C%20traduzido%20%E2%80%93%20pelo%20pr%C3%B3prio%20julgador%20%E2%80%93%20num%20enunciado%20geral%20e%20abstrato%2C%20nos%20moldes%20de%20uma%20norma.%20Como%20se%20esse%20enunciado%20judicial%20fosse%20resultado%20de%20um%20processo%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o%20da%20lei%20e%20n%C3%A3o%20dependesse%2C%20ele%20pr%C3%B3prio%2C%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o.%20Trabalhamos%20com%20precedentes%20da%20mesma%20forma%20que%20trabalhamos%20com%20a%20lei%2C%20esperando%2C%20no%20fundo%2C%20que%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%20se%20d%C3%AA%20por%20mera%20subsun%C3%A7%C3%A3o.%20Evolu%C3%ADmos%2C%20assim%2C%20do%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-lei%E2%80%9D%20ao%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-s%C3%BAmula%E2%80%9D.%20Por%20isso%2C%20a%20figura%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20assim%20como%20das%20s%C3%BAmulas%20vinculantes%2C%20acoplou-se%20com%20facilidade%20ao%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20criando%20como%20que%20um%20%E2%80%9Cstare%20decisis%20%C3%A0%20brasileira%E2%80%9D.%0D%0A%0D%0AEnquanto%20isso%2C%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20precedentes%20no%20common%20law%20%C3%A9%20argumentativa%3A%20o%20que%20vincula%20os%20casos%20subsequentes%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20uma%20regra%20geral%20anunciada%20pelo%20juiz%20do%20precedente%2C%20mas%20a%20raz%C3%A3o%20fundamental%20de%20decidir%20%28ratio%20decidendi%29%2C%20que%20cabe%20ao%20julgador%20do%20caso%20futuro%20extrair.%20Assim%2C%20tal%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20necessariamente%20pr%C3%A1tica%20e%20argumentativa%3A%20ao%20juiz%20n%C3%A3o%20basta%20aplicar%20uma%20resposta%20pr%C3%A9-moldada%2C%20mas%20sim%20estudar%20os%20princ%C3%ADpios%20que%20orientaram%20a%20decis%C3%A3o%20anterior%20e%20aplic%C3%A1-los%2C%20de%20forma%20coerente%2C%20ao%20caso%20atual%2C%20e%20n%C3%A3o%20apenas%20numa%20lista%20de%20decis%C3%B5es%20que%20s%C3%A3o%20isoladamente%20vinculantes.%0D%0A%0D%0AIsso%20n%C3%A3o%20pressup%C3%B5e%20que%20estejamos%20nos%20tornando%2C%20muito%20menos%20que%20precisemos%20nos%20tornar%2C%20um%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law.%20Precisamos%20%E2%80%93%20isso%20sim%20%E2%80%93%20desenvolver%20uma%20cultura%20argumentativa%20de%20precedentes%20coerente%20com%20o%20nosso%20civil%20law.%20De%20outro%20lado%2C%20nos%20contentaremos%20com%20um%20%E2%80%9Csistema%20de%20precedentes%E2%80%9D%20voltado%20n%C3%A3o%20%C3%A0%20constru%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20com%20integridade%20e%20coer%C3%AAncia%20interna%2C%20mas%20como%20mera%20t%C3%A9cnica%20de%20julgamento%20de%20casos%20repetitivos%2C%20que%20afoga%20as%20peculiaridades%20de%20cada%20caso%20concreto%20e%2C%20junto%20com%20elas%2C%20o%20pr%C3%B3prio%20direito.%0D%0A%0D%0ADecidir%20com%20racionalidade%20sist%C3%AAmica%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20requisito%20operacional%20de%20uma%20ou%20de%20outra%20fam%C3%ADlia%20jur%C3%ADdica%20espec%C3%ADfica%2C%20mas%20pressuposto%20l%C3%B3gico%20universal.%20O%20direito%20n%C3%A3o%20pode%20servir%20apenas%20para%20resolver%20os%20problemas%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio%3B%20a%20administra%C3%A7%C3%A3o%20da%20justi%C3%A7a%20n%C3%A3o%20pode%20se%20transformar%20num%20fim%20em%20si%20pr%C3%B3pria.%20Por%20isso%2C%20afirmar%20que%20o%20Brasil%20se%20tornou%20common%20law%20%C3%A9%20uma%20grave%20indu%C3%A7%C3%A3o%20a%20erro%2C%20porque%20se%20faz%20crer%20que%20essa%20cultura%20argumentativa%20j%C3%A1%20teria%20sido%20alcan%C3%A7ada.%20%C3%89%20como%20dizer%20que%20a%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20decis%C3%B3ria%20de%20origem%20normativa%20teria%20o%20cond%C3%A3o%20de%20fazer%20com%20que%20as%20coisas%20aqui%20se%20tornassem%20iguais%20%C3%A0s%20coisas%20l%C3%A1%2C%20desonerando%20o%20operador%20jur%C3%ADdico%20do%20compromisso%20intelectual%20necess%C3%A1rio%20para%20resolver%20os%20nossos%20problemas%2C%20que%20s%C3%A3o%20peculiares%20e%20exclusivamente%20nossos.%0D%0A%0D%0AIsso%20porque%20a%20tal%20%E2%80%9Cjurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%E2%80%9D%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20problema%20isolado.%20Est%C3%A1%20inserida%20num%20contexto%20muito%20maior%2C%20de%20crise%20do%20pr%C3%B3prio%20direito.%20O%20que%20se%20p%C3%B5e%20em%20jogo%20%C3%A9%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%2C%20que%20decorre%20da%20falta%20de%20fundamenta%C3%A7%C3%A3o%20racional%2C%20e%20transforma%20a%20decis%C3%A3o%20num%20ato%20n%C3%A3o%20de%20direito%2C%20mas%20de%20poder.%20O%20jurisdicionado%20se%20v%C3%AA%20na%20angustiante%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20n%C3%A3o%20saber%20o%20que%20diz%20o%20direito%2C%20porque%20a%20lei%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20vale%20%E2%80%93%20o%20que%2C%20em%20ampla%20medida%2C%20se%20relaciona%20com%20o%20fen%C3%B4meno%20da%20infla%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%2C%20t%C3%ADpico%20do%20final%20do%20s%C3%A9c.%20XX%20e%20do%20come%C3%A7o%20do%20s%C3%A9c.%20XXI%3A%20%C3%A9%20muito%20dif%C3%ADcil%20extrair%20sentido%20de%20uma%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20extensa%2C%20fracionada%20e%20contradit%C3%B3ria.%0D%0A%0D%0AE%20a%20solu%C3%A7%C3%A3o%20que%20o%20sistema%20prop%C3%B5e%20para%20esse%20problema%20%C3%A9%20tornar%20vinculantes%20e%20indiscut%C3%ADveis%20esses%20mesmos%20provimentos%20judiciais.%20Tudo%20sob%20o%20manto%20legitimador%20da%20ideia%20de%20que%20funciona%20assim%20no%20common%20law%2C%20e%20funciona%20bem%2C%20ent%C3%A3o%20funcionar%C3%A1%20bem%20aqui.%20%C3%89%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20confort%C3%A1vel%20a%20curto%20prazo%2C%20admite-se.%20Num%20cen%C3%A1rio%20onde%20o%20mosaico%20de%20entendimentos%20jurisprudenciais%20n%C3%A3o%20permite%20que%20se%20conhe%C3%A7a%20adequadamente%20o%20que%20%C3%A9%20a%20lei%20vigente%20no%20pa%C3%ADs%2C%20a%20fixa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tese%2C%20qualquer%20que%20seja%2C%20traz%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica.%20Mesmo%20que%20n%C3%A3o%20represente%20a%20melhor%20resposta%2C%20nem%20tenha%20legitimidade%20racional%2C%20ela%20resolve%20a%20diverg%C3%AAncia%2C%20por%20ter%20for%C3%A7a%20vinculante%20legal.%20Pode%20n%C3%A3o%20ser%20a%20melhor%20resposta%2C%20mas%20%C3%A9%20alguma%20resposta%2C%20situa%C3%A7%C3%A3o%20mais%20vantajosa%20do%20que%20o%20cen%C3%A1rio%20fracionado%20e%20imprevis%C3%ADvel%20que%20temos%20hoje.%0D%0A%0D%0AEm%20meio%20%C3%A0%20crise%20na%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20respostas%20judiciais%20adequadas%2C%20que%20p%C3%B5e%20em%20xeque%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20da%20jurisdi%C3%A7%C3%A3o%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais.%0D%0A%0D%0APor%20isso%2C%20%C3%A9%20preciso%20defender%20com%20veem%C3%AAncia%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20trocando%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica.%20Evitamos%2C%20assim%2C%20o%20erro%20de%20estudar%20os%20precedentes%20vinculantes%20daqui%20com%20uma%20simples%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20de%20como%20eles%20funcionam%20l%C3%A1%20%E2%80%93%20como%20se%20apreender%20os%20conceitos%20de%20ratio%20decidendi%20e%20distinguishing%20e%20overruling%20a%20partir%20de%20autores%20americanos%20e%20ingleses%20fosse%20suficiente%20para%20compreender%20a%20nossa%20jurisprud%C3%AAncia%20vinculante%2C%20esquecendo%20a%20enorme%20diferen%C3%A7a%20metodol%C3%B3gica%20e%20cultural%20que%20existe%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20O%20rol%20de%20provimentos%20vinculantes%20do%20art.%20927%20do%20CPC%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20instituto%20derivado%20do%20common%20law%2C%20mesmo%20que%20a%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20da%20entidade%20abstrata%20que%20chamamos%20de%20%E2%80%9Co%20legislador%E2%80%9D%20tenha%20sido%20o%20modelo%20anglo-sax%C3%A3o%20de%20stare%20decisis.%20H%C3%A1%20uma%20enorme%20diferen%C3%A7a%20entre%20importar%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20e%20construir%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20novo%20com%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20em%20alguma%20experi%C3%AAncia%20estrangeira.%20Disso%20se%20retira%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20redobrada%20que%20o%20jurista%20brasileiro%20deve%20ter%20com%20os%20conceitos%20operacionais%20de%20supera%C3%A7%C3%A3o%20e%2C%20especialmente%2C%20de%20distin%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%2C%20alinhando-os%20a%20uma%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20estudos%20interpretativos%20da%20pr%C3%B3pria%20lei.%0D%0A%0D%0AA%20solu%C3%A7%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20que%20h%C3%A1%2C%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20muito%20longe.%20%C3%89%20preciso%20aplicar%20o%20c%C3%B3digo%20como%20um%20todo%2C%20n%C3%A3o%20em%20tiras.%20N%C3%A3o%20existe%20art.%20927%20%28rol%20de%20provimentos%20vinculantes%29%20sem%20art.%20926%20%28dever%20de%20estabilidade%2C%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20da%20jurisprud%C3%AAncia%29.%20N%C3%A3o%20existe%20sistema%20de%20precedentes%20sem%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20em%20construir%2C%20argumentativamente%2C%20respostas%20judiciais%20que%20guardem%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20principiol%C3%B3gica%2C%20extraindo%20motivos%20determinantes%20e%20realizando%20distin%C3%A7%C3%B5es%20e%20supera%C3%A7%C3%B5es%20quando%20for%20adequado%20%28art.%20489%2C%20%C2%A7%201%C2%BA%29.%20Obriga%C3%A7%C3%A3o%20do%20juiz%2C%20das%20partes%2C%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblico%20%E2%80%93%20de%20todos%20os%20atores%20processuais.%20Dever%20de%20coopera%C3%A7%C3%A3o%2C%20enfim%20%28art.%206%C2%BA%29.%0D%0A%0D%0ANada%20disso%20nos%20obriga%20a%20importar%20qualquer%20coisa%20do%20common%20law.%20Est%C3%A1%20tudo%20l%C3%A1%2C%20no%20pr%C3%B3prio%20CPC.%20Basta%20aplic%C3%A1-lo.%0D%0A%0D%0AEm%20suma%3A%20existe%20um%20abismo%20de%20diferen%C3%A7a%20entre%20afirmar%2C%20como%20fazem%20Marinoni%2C%20que%20existe%20uma%20converg%C3%AAncia%20te%C3%B3rica%20e%20metodol%C3%B3gica%20entre%20os%20dois%20sistemas%2C%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20a%20alguns%20de%20seus%20institutos%20fundamentais%2C%20e%20dizer%20que%20est%C3%A1%20havendo%20uma%20efetiva%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20e%20que%2C%20a%20partir%20do%20CPC%20de%202015%2C%20podemos%20passar%20a%20estudar%20o%20Direito%20no%20Brasil%20como%20se%20estiv%C3%A9ssemos%20na%20Inglaterra%20ou%20nos%20Estados%20Unidos.%20Colocando%20da%20primeira%20forma%2C%20convidamos%20um%20estudo%20dos%20institutos%20argumentativos%20muito%20bem%20desenvolvidos%20no%20common%20law%20e%20observamos%20os%20cuidados%20constantes%20daquele%20sistema%20com%20a%20legitima%C3%A7%C3%A3o%20racional%20do%20processo%20decis%C3%B3rio%2C%20que%20contrastam%20violentamente%20com%20a%20pretens%C3%A3o%20padronizadora%20do%20processo%20civil%20objetivo%20brasileiro.%20Se%2C%20por%20outro%20lado%2C%20entendermos%20que%20houve%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20corremos%20o%20risco%20de%20nos%20satisfazermos%20com%20o%20estado%20atual%20de%20coisas%2C%20privando%20o%20sistema%20do%20necess%C3%A1rio%20choque%20paradigm%C3%A1tico%20que%20for%C3%A7a%20a%20adapta%C3%A7%C3%A3o%20intelectual.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AVI%20-%20Conclus%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AEste%20breve%20ensaio%20n%C3%A3o%20deve%20ser%20tomado%20como%20um%20ataque%20a%20qualquer%20associa%C3%A7%C3%A3o%20did%C3%A1tica%20entre%20o%20sistema%20brasileiro%20e%20o%20common%20law%2C%20nem%2C%20muito%20menos%2C%20como%20uma%20cruzada%20contra%20autores%20e%20autoras%20defensores%20dessa%20guinada%20metodol%C3%B3gica.%20Pretendi%20fazer%2C%20na%20verdade%2C%20uma%20ressalva%20metodol%C3%B3gica%3A%20n%C3%A3o%20estamos%20importando%20nenhum%20instituto%20do%20common%20law.%20Os%20precedentes%20constru%C3%ADdos%20no%20Brasil%20a%20partir%20do%20nosso%20sistema%2C%20e%20para%20o%20nosso%20sistema%2C%20n%C3%A3o%20podem%20ser%20justificados%20pelas%20mesmas%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20os%20ju%C3%ADzes%20da%20Inglaterra%20do%20s%C3%A9c.%20XII%20a%20respeitar%20as%20decis%C3%B5es%20anteriores%2C%20nem%20podem%20ser%20explicados%20a%20partir%20de%20teorias%20pensadas%20internamente%20para%20o%20modelo%20americano.%0D%0A%0D%0ANecess%C3%A1ria%20ressalva%3A%20isso%20n%C3%A3o%20quer%20dizer%20que%20n%C3%A3o%20possamos%20estudar%20obras%20de%20hermen%C3%AAutica%2C%20argumenta%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20e%20teoria%20do%20direito%20escritas%20por%20autores%20anglo-sax%C3%B4nicos.%20Obras%20que%20estudam%20o%20fen%C3%B4meno%20jur%C3%ADdico%20com%20um%20ponto%20de%20vista%20externo%20s%C3%A3o%20leitura%20essencial%20para%20se%20construir%20adequadamente%20o%20processo%20argumen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19/12/2020 Por que o Brasil não está caminhando para o common law, e por que isso importa – Mello e Souza & Associados
melloesouza.adv.br/2018/05/03/por-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa/ 8/20
dos fatos do caso concreto à prescrição normativa. Essa visão foi também defendida por
Jeremy Bentham, filosófo inglês, que era irretratável crítico do sistema de precedentes e
defensor de uma codificação completa, nos moldes do que a França pós-revolucionária
pretendia com seu Code Napoleon (a posição de Bentham acabou superada pela prática do
common law, embora suas críticas ao sistema de precedentes tenham, curiosamente,
ajudado a moldá-lo[20]).
A base filosófica brasileira, assim, não é a de criação do direito pelos tribunais, mas a da
crença na univocidade da lei e do juiz como mero aplicador neutro do direito. Nosso
sistema é construído tendo por base a legitimidade democrática do direito produzido
pelos representantes do povo, e no juiz enquanto aplicador. Por outro lado, o avanço da
teoria do direito dos países de civil law, apoiado nas concepções interpretativas pós-
positivistas, reconheceu a impossibilidade de aplicar o texto normativo como tendo
sentido em si próprio.[21] A renovada força das decisões judiciais – que levou alguns
teóricos a falarem em legisprudence, que não é nem só legislação, nem só jurisprudência –
é decorrência desse fenômeno.
Além de uma necessidade teórica, decorrente da necessidade de tratar o jurisdicionado
com isonomia e diminuir o efeito nocivo das decisões judiciais fragmentadas, a atenção à
força da jurisprudência no civil law brasileiro também é uma forma de lidar com a
litigiosidade repetitiva que prejudica o bom funcionamento do Poder Judiciário.
Desde 1963, quando foi criado o instituto das súmulas, já se fala na recepção da fórmula do
stare decisis pelo ordenamento brasileiro[22]; os principais comentários e justificativas
doutrinárias para os institutos da repercussão geral e da súmula vinculante, tidos a
partir da Emenda Constitucional n. 45/2004, também afirmavam serem ambos institutos de
veia tipicamente anglo-saxã. E o CPC de 2015, especialmente em seus arts. 926 e 927, instituiu
um rol de provimentos judiciais que são vinculantes para o órgão que os proferiu e aqueles
hierarquicamente subordinados. Trata-se, assim, da coroação de uma tendência
decorrente da evolução histórica natural do sistema brasileiro.
Esse conjunto de decisões vinculantes, estruturados como normas jurídicas emitidas pelo
Judiciário, põe em conflito duas concepções de precedente: de um lado, garantidor da
isonomia formal, e, de outro, um modo de resolver rapidamente causas repetitivas que
afogam o Judiciário, – conflito que pode também ser posto como uma contraposição entre
racionalidade da decisão judicial e segurança jurídica do precedente. O precedente com
força vinculante ope legis, estruturado por meio de provimentos judiciais obrigatórios
(sem atenção às razões fundamentais de decidir), é emblemático dessa segunda concepção.
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mailto:?subject=Por%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa&body=http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F%0A%0APor%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa%0A%0APor%20Pedro%20Henrique%20Reschke%2C%20Advogado%20e%20Professor%20do%20CESUSC%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0AWhat%20seems%20most%20special%20about%20Common%20Law%20jurisdictions%20is%20that%20they%20have%20a%20great%20deal%20of%20case%20law%20that%20is%20not%20about%20the%20interpretation%20of%20legislation.%20It%20is%20only%20about%20the%20interpretation%20of%20other%20case%20law.%E2%80%9D%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%C2%A0I%20-%C2%A0Introdu%C3%A7%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AO%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20num%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law%20%E2%80%93%20ou%2C%20pelo%20menos%2C%20essa%20%C3%A9%20a%20conclus%C3%A3o%20atingida%20por%20muitos%20dos%20estudos%20recentes%20de%20direito%20processual%20civil.%20Ao%20interpretar%20o%20significado%20do%20reconhecimento%20da%20import%C3%A2ncia%20dos%20precedentes%2C%20em%20n%C3%ADvel%20constitucional%20%28Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%29%20e%20infraconstitucional%20%28CPC%20de%202015%29%2C%20parcela%20significativa%20da%20doutrina%20afirma%20estarmos%20diante%20de%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20da%20natureza%20do%20sistema%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20que%20estaria%20abandonando%20suas%20origens%20de%20civil%20law%20rumo%20a%20uma%20vers%C3%A3o%20tupiniquim%20do%20common%20law%20anglo-sax%C3%A3o.%0D%0A%0D%0ASegundo%20Fredie%20Didier%20Jr.%2C%20por%20exemplo%2C%20o%20Brasil%20teria%20sofrido%20tamanha%20influ%C3%AAncia%20do%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20mais%20poss%C3%ADvel%20consider%C3%A1-lo%20um%20sistema%20exclusivamente%20civil%20law%2C%20mas%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20sistema%20h%C3%ADbrido%2C%20um%20brazilian%20lawe%20julgamento%20de%20demandas%20repetitivas.%0D%0A%0D%0AClaro%2C%20essas%20vozes%20n%C3%A3o%20s%C3%A3o%20un%C3%A2nimes%3B%20h%C3%A1%20tamb%C3%A9m%20quem%20defenda%20opini%C3%A3o%20diversa%3A%20instituir%20o%20respeito%20a%20alguns%20precedentes%20e%20provimentos%20vinculantes%20n%C3%A3o%20significa%20modificar%20a%20natureza%20de%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico.%20Mas%2C%20de%20forma%20geral%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20identificar%20no%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%20uma%20associa%C3%A7%C3%A3o%20forte%20entre%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20de%20qualquer%20natureza%20%E2%80%93%20como%20algo%20que%20n%C3%A3o%20nos%20pertence.%20Qualquer%20coisa%20al%C3%A9m%20da%20perspectiva%20decisionista%20do%20livre%20convencimento%20%C3%A9%20tida%20como%20incompat%C3%ADvel%20com%20nosso%20sistema%2C%20pelo%20que%20seria%20veemente%20a%20necessidade%20dessa%20reforma%20%E2%80%9Cimportada%E2%80%9D%20do%20common%20law.%20A%20salva%C3%A7%C3%A3o%20est%C3%A1%20l%C3%A1%20fora.%0D%0A%0D%0AEste%20trabalho%20defende%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20caminha%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20que%20isso%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20apenas%20um%20problema%20sem%C3%A2ntico.%20Dizer%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20tornando%20common%20law%20%C3%A9%20cometer%2C%20pelo%20menos%2C%20dois%20erros%20fundamentais.%20Em%20primeiro%20lugar%2C%20significa%20adotar%20uma%20concep%C3%A7%C3%A3o%20excessivamente%20reducionista%20de%20civil%20law%20e%20de%20common%20law.%20Segundo%2C%20e%20mais%20grave%2C%20significa%20emprestar%20ao%20%E2%80%9Csistema%20brasileiro%20de%20precedentes%E2%80%9D%20uma%20legitimidade%20material%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20autom%C3%A1tica%2C%20mas%20precisa%20ser%20conquistada%20na%20pr%C3%A1tica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AII%20-%20Os%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20do%20mundo%20ocidental%3B%0D%0A%0D%0AO%20conceito%20de%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20no%20direito%20comparado%2C%20tem%20um%20prop%C3%B3sito%20eminentemente%20classificat%C3%B3rio.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20mesmo%20que%20falar%20em%20sistema%20jur%C3%ADdico%20no%20contexto%20do%20estudo%20de%20um%20determinado%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%20Nesse%20caso%2C%20a%20express%C3%A3o%20ganha%20um%20significado%20distinto%2C%20referindo-se%20ao%20conjunto%20de%20normas%20vigentes%20dentro%20de%20um%20determinado%20pa%C3%ADs%3B%20aqui%2C%20a%20express%C3%A3o%20sistema%20jur%C3%ADdico%20pode%20ser%20tomada%20como%20sin%C3%B4nimo%20de%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%0D%0A%0D%0AJ%C3%A1%20no%20direito%20comparado%2C%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20s%C3%A3o%20modelos%20ideais%2C%20baseados%20nas%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20que%20se%20apresentam%20em%20ordenamentos%20jur%C3%ADdicos%20distintos.%20Assim%2C%20dizer%20que%20determinado%20pa%C3%ADs%20adota%20um%20sistema%20de%20civil%20law%20n%C3%A3o%20significa%20dizer%20que%20ele%20seja%20exatamente%20igual%20aos%20outros%20que%20comp%C3%B5em%20o%20mesmo%20sistema.%20Falar%20e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recedentes%20%E2%80%93%20%E2%80%9Co%20common%20law%20facilmente%20vislumbrou%20que%20a%20certeza%20jur%C3%ADdica%20apenas%20poderia%20ser%20obtida%20mediante%20o%20stare%20decisis%E2%80%9D.%20Enfim%3A%20o%20common%20law%20tem%20peculiaridades%20que%20v%C3%A3o%20muito%20al%C3%A9m%20de%20um%20enfoque%20maior%20da%20lei%20criada%20pelo%20magistrado.%0D%0A%0D%0AAli%C3%A1s%2C%20mesmo%20sob%20esse%20ponto%20de%20vista%2C%20a%20rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20common%20law%20e%20o%20stare%20decisis%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20imune%20a%20cr%C3%ADticas.%20Primeiro%20porque%2C%20apesar%20das%20centenas%20de%20anos%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%2C%20ainda%20n%C3%A3o%20existe%20uma%20obra%20definitiva%20sobre%20a%20natureza%20do%20precedente%20judicial%2C%20nem%20sobre%20a%20origem%20da%20autoridade%20vinculante%2C%20que%20ainda%20s%C3%A3o%20frequentemente%20investigadas%20%28resgatando%2C%20assim%2C%20a%20cl%C3%A1ssica%20cr%C3%ADtica%20de%20Bentham%2C%20equiparando%20o%20direito%20jurisprudencial%20a%20regras%20de%20comportamento%20canino%20%E2%80%93%20dog%20law%29.%0D%0A%0D%0ANo%20nosso%20contexto%20atual%2C%20que%20v%C3%AA%20nos%20precedentes%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20v%C3%A1lvula%20de%20escape%20necess%C3%A1ria%20e%20inevit%C3%A1vel%20para%20o%20problema%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%2C%20parece%20estranho%20saber%20que%20o%20precedente%20judicial%20%C3%A9%20um%20fen%C3%B4meno%20ainda%20incompreendido%20dentro%20do%20pr%C3%B3prio%20common%20law.%20Igualmente%20peculiar%20%C3%A9%20descobrir%20que%20h%C3%A1%20correntes%20s%C3%A9rias%20de%20pesquisa%20nos%20pa%C3%ADses%20anglo-sax%C3%B5es%20defendendo%20uma%20mitiga%C3%A7%C3%A3o%20do%20stare%20decisis%20em%20favor%20do%20fortalecimento%20de%20uma%20codifica%C3%A7%C3%A3o%20nos%20moldes%20do%20civil%20law%20%E2%80%93%20n%C3%A3o%20seria%20esse%2C%20exatamente%2C%20o%20nosso%20problema%3F%20Isso%20deve%20ser%20interpretado%20como%20sinal%20claro%20de%20que%20o%20common%20law%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20sistema%20fechado%2C%20que%20j%C3%A1%20resolveu%20todos%20os%20seus%20problemas.%20A%20doutrina%20do%20precedente%20%E2%80%93%20que%20cogitamos%20importar%20e%20instaurar%20por%20meio%20de%20lei%20no%20nosso%20sistema%20%E2%80%93%20ainda%20vem%20sendo%20constantemente%20trabalhada%20e%20aprimorada%20na%20pr%C3%A1tica.%20Ela%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20%E2%80%9Cponto%20final%E2%80%9D%20no%20sistema%20do%20common%20law%2C%20e%20nem%20poder%C3%A1%20ser%20vista%20como%20tal%20dentro%20do%20ordenamento%20brasileiro.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AIV%20-%20A%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20brasileira%20e%20o%20impacto%20das%20decis%C3%B5es%20vinculantes%3B%0D%0A%0D%0ADemonstrou-se%20o%20que%20%C3%A9%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20na%20%C3%B3tica%20do%20direito%20comparado%2C%20e%20expuseram-se%20as%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20dos%20sistemas%20de%20common%20law%2C%20enquanto%20arqu%C3%A9tipos%20ideais.%20Falta%20analisar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20realmente%20nisso%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20%E2%80%93%20se%20%C3%A9%20que%20est%C3%A1%20se%20transformando%20mesmo%20em%20alguma%20coisa.%0D%0A%0D%0AEstudar%20para%20onde%20vai%20o%20Brasil%20exige%20que%20se%20entenda%20de%20onde%20ele%20parte.%20Zaneti%20Jr.%20aponta%20um%20%E2%80%9Cparadoxo%20metodol%C3%B3gico%E2%80%9D%20desde%20a%20origem%20do%20nosso%20sistema%3A%20a%20nossa%20ordem%20pol%C3%ADtico-constitucional%20%C3%A9%20de%20veia%20republicana%20e%20federativa%2C%20inspirada%20no%20modelo%20norte-americano%2C%20enquanto%20os%20demais%20ramos%20do%20direito%20infraconstitucional%2C%20privado%20e%20p%C3%BAblico%20%28inclusive%20o%20direito%20processual%29%2C%20s%C3%A3o%20tipicamente%20romano-germ%C3%A2nicos.%20Apesar%20dessa%20constru%C3%A7%C3%A3o%20mista%2C%20que%20poderia%20levar%20%C3%A0%20compreens%C3%A3o%20de%20que%20j%C3%A1%20ser%C3%ADamos%20um%20pouco%20common%20law%2C%20%C3%A9%20essa%20veia%20romano-germ%C3%A2nica%20que%20inspira%20o%20funcionamento%20e%20o%20m%C3%A9todo%20do%20nosso%20Judici%C3%A1rio.%20Por%20isso%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20classificar%20o%20direito%20brasileiro%2C%20assim%20como%20os%20demais%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20latino-americanos%2C%20como%20um%20sistema%20de%20civil%20law.%0D%0A%0D%0ADe%20fato%2C%20o%20sistema%20brasileiro%20%C3%A9%20influenciado%20pela%20vis%C3%A3o%20positivista%20focada%20no%20Poder%20Legislativo%20como%20foco%20produtor%20de%20normas%20jur%C3%ADdicas%2C%20decorrente%20da%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Francesa%2C%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20neutra%20e%20imparcial%20do%20direito%20pelo%20juiz%2C%20que%20se%20limitava%20a%20simplesmente%20ditar%20a%20vontade%20concreta%20da%20lei%20%E2%80%93%20que%2C%20por%20sua%20pr%C3%B3pria%20natureza%2C%20era%20um%20texto%20geral%20e%20abstrato%29.%0D%0A%0D%0AA%20base%20filos%C3%B3fica%20brasileira%2C%20assim%2C%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20a%20de%20cria%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20pelos%20tribunais%2C%20mas%20a%20da%20cren%C3%A7a%20na%20univocidade%20da%20lei%20e%20do%20juiz%20como%20mero%20aplicador%20neutro%20do%20direito.%20Nosso%20sistema%20%C3%A9%20constru%C3%ADdo%20tendo%20por%20base%20a%20legitimidade%20democr%C3%A1tica%20do%20direito%20produzido%20pelos%20representantes%20do%20povo%2C%20e%20no%20juiz%20enquanto%20aplicador.%20Por%20outro%20lado%2C%20o%20avan%C3%A7o%20da%20teoria%20do%20direito%20dos%20pa%C3%ADses%20de%20civil%20law%2C%20apoiado%20nas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20interpretativas%20p%C3%B3s-positivistas%2C%20reconheceu%20a%20impossibilidade%20de%20aplicar%20o%20texto%20normativo%20como%20tendo%20sentido%20em%20si%20pr%C3%B3prio.%20A%20renovada%20for%C3%A7a%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20que%20levou%20alguns%20te%C3%B3ricos%20a%20falarem%20em%20legisprudence%2C%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20nem%20s%C3%B3%20legisla%C3%A7%C3%A3o%2C%20nem%20s%C3%B3%20jurisprud%C3%AAncia%20%E2%80%93%20%C3%A9%20decorr%C3%AAncia%20desse%20fen%C3%B4meno.%0D%0A%0D%0AAl%C3%A9m%20de%20uma%20necessidade%20te%C3%B3rica%2C%20decorrente%20da%20necessidade%20de%20tratar%20o%20jurisdicionado%20com%20isonomia%20e%20diminuir%20o%20efeito%20nocivo%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20fragmentadas%2C%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20for%C3%A7a%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20no%20civil%20law%20brasileiro%20tamb%C3%A9m%20%C3%A9%20uma%20forma%20de%20lidar%20com%20a%20litigiosidade%20repetitiva%20que%20prejudica%20o%20bom%20funcionamento%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio.%0D%0A%0D%0ADesde%201963%2C%20quando%20foi%20criado%20o%20instituto%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20j%C3%A1%20se%20fala%20na%20recep%C3%A7%C3%A3o%20da%20f%C3%B3rmula%20do%20stare%20decisis%20pelo%20ordenamento%20brasileiro%3B%20os%20principais%20coment%C3%A1rios%20e%20justificativas%20doutrin%C3%A1rias%20para%20os%20institutos%20da%20repercuss%C3%A3o%20geral%20e%20da%20s%C3%BAmula%20vinculante%2C%20tidos%20a%20partir%20da%20Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%2C%20tamb%C3%A9m%20afirmavam%20serem%20ambos%20institutos%20de%20veia%20tipicamente%20anglo-sax%C3%A3.%20E%20o%20CPC%20de%202015%2C%20especialmente%20em%20seus%20arts.%20926%20e%20927%2C%20instituiu%20um%20rol%20de%20provimentos%20judiciais%20que%20s%C3%A3o%20vinculantes%20para%20o%20%C3%B3rg%C3%A3o%20que%20os%20proferiu%20e%20aqueles%20hierarquicamente%20subordinados.%20Trata-se%2C%20assim%2C%20da%20coroa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tend%C3%AAncia%20decorrente%20da%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20hist%C3%B3rica%20natural%20do%20sistema%20brasileiro.%0D%0A%0D%0AEsse%20conjunto%20de%20decis%C3%B5es%20vinculantes%2C%20estruturados%20como%20normas%20jur%C3%ADdicas%20emitidas%20pelo%20Judici%C3%A1rio%2C%20p%C3%B5e%20em%20conflito%20duas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20de%20precedente%3A%20de%20um%20lado%2C%20garantidor%20da%20isonomia%20formal%2C%20e%2C%20de%20outro%2C%20um%20modo%20de%20resolver%20rapidamente%20causas%20repetitivas%20que%20afogam%20o%20Judici%C3%A1rio%2C%20%E2%80%93%20conflito%20que%20pode%20tamb%C3%A9m%20ser%20posto%20como%20uma%20contraposi%C3%A7%C3%A3o%20entre%20racionalidade%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20e%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica%20do%20precedente.%20O%20precedente%20com%20for%C3%A7a%20vinculante%20ope%20legis%2C%20estruturado%20por%20meio%20de%20provimentos%20judiciais%20obrigat%C3%B3rios%20%28sem%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20raz%C3%B5es%20fundamentais%20de%20decidir%29%2C%20%C3%A9%20emblem%C3%A1tico%20dessa%20segunda%20concep%C3%A7%C3%A3o.%20Em%20linhas%20gerais%2C%20%C3%A9%20esse%20o%20estado%20da%20arte%20do%20precedente%20judicial%20no%20Brasil%3B%20resta%20investigar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20esse%20%E2%80%9Cdesvirtuamento%E2%80%9D%20do%20civil%20law%20padr%C3%A3o%20%C3%A9%20raz%C3%A3o%20suficiente%20para%20se%20dizer%20que%20o%20Brasil%20estaria%20passando%20por%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20sist%C3%AAmica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AV%20-%20O%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20se%20transformando%20em%20common%20law%3B%0D%0A%0D%0AA%20pretens%C3%A3o%20de%20diferenciar%20common%20law%20e%20civil%20law%20simplesmente%20pela%20origem%20da%20norma%20jur%C3%ADdica%20%E2%80%93%20constru%C3%ADda%20judicialmente%20no%20primeiro%20caso%20e%20pela%20lei%20escrita%20no%20segundo%20%E2%80%93%20%C3%A9%20tentadora%20pela%20simplicidade%20e%20pela%20did%C3%A1tica.%20Essa%20diferen%C3%A7a%20b%C3%A1sica%20de%20fato%20existe%2C%20mas%20%C3%A9%20uma%20quest%C3%A3o%20cultural%2C%20muito%20mais%20do%20que%20um%20problema%20simples%20de%20fonte%20do%20direito.%20Definir%20o%20common%20law%20pela%20falta%20de%20um%20c%C3%B3digo%20legislativo%20organizado%20%C3%A9%20aderir%20a%20um%20modelo%20ideal%20de%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20corresponde%20%C3%A0%20realidade%20daqueles%20pa%C3%ADses.%20Trata-se%2C%20em%20suma%2C%20de%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20elegantemente%20errada%20para%20um%20problema%20complexo.%20A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20no%20common%20law%20nos%20%C3%BAltimos%20anos%20tem%20sido%20significativa%2C%20a%20ponto%20de%20a%20lei%20feita%20unicamente%20pelos%20ju%C3%ADzes%20hoje%20constituir%20a%20exce%C3%A7%C3%A3o%2C%20n%C3%A3o%20a%20regra%20%E2%80%93%20v%C3%AAm%20aumentando%20a%20confian%C3%A7a%20que%20depositam%20nas%20decis%C3%B5es%20passadas%20dos%20tribunais%20como%20fonte%20de%20direito.%0D%0A%0D%0A%C3%80%20primeira%20vista%2C%20ent%C3%A3o%2C%20a%20divis%C3%A3o%20pelo%20ponto%20de%20vista%20lei%20vs.%20precedente%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20suficiente%20para%20dar%20conta%20da%20diferen%C3%A7a%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20Segundo%20Taruffo%2C%20o%20mesmo%20se%20pode%20dizer%20de%20outro%20crit%C3%A9rios%20tradicionais%20de%20separa%C3%A7%C3%A3o%2C%20que%20contrap%C3%B5e%20os%20sistemas%20de%20civil%20law%20e%20common%20law%20como%20predominantemente%20orais%20ou%20escritos%2C%20respectivamente%3B%20ou%2C%20ainda%2C%20com%20olhos%20ao%20tipo%20de%20processo%2C%20se%20adversarial%20ou%20inquisitorial.%0D%0A%0D%0AAssim%20como%20a%20dicotomia%20de%20fontes%2C%20essas%20oposi%C3%A7%C3%B5es%20simples%20n%C3%A3o%20d%C3%A3o%20conta%20de%20toda%20a%20complexidade%20que%20separa%20os%20dois%20sistemas.%20As%20diferen%C3%A7as%20entre%20os%20dois%20s%C3%A3o%20hist%C3%B3ricas%20e%20comportamentais%2C%20vinculadas%20ao%20modo%20como%20cada%20um%20deles%20foi%20constru%C3%ADdo%2C%20e%20a%20como%20se%20enxerga%20e%20se%20aplica%20o%20direito%20e%20os%20precedentes.%20Talvez%20a%20principal%20caracter%C3%ADstica%20que%20realmente%20diferencie%20os%20dois%20sistemas%2C%20pelo%20menos%20do%20ponto%20de%20vista%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%2C%20seja%20a%20cultura%20argumentativa%20constru%C3%ADda%20nos%20pa%C3%ADses%20de%20common%20law%20como%20requisito%20para%20a%20adequada%20operacionaliza%C3%A7%C3%A3o%20da%20cultura%20de%20precedentes.%0D%0A%0D%0AH%C3%A1%20diferen%C3%A7as%20fundamentais%20entre%20as%20ferramentas%20de%20objetiva%C3%A7%C3%A3o%20processual%20adotadas%20pelo%20legislador%20brasileiro%20e%20um%20real%20sistema%20argumentativo%20de%20precedentes%20que%20se%20preocupe%20com%20a%20constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20com%20integridade.%20Enquanto%20isso%2C%20o%20juiz%20brasileiro%20que%20se%20deparar%20com%20algum%20pronunciamento%20vinculante%2C%20dever%C3%A1%20acompanhar%20aquele%20entendimento%2C%20por%20for%C3%A7a%20da%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa.%20Essa%20%C3%A9%20a%20primeira%20e%20mais%20elementar%20das%20diferen%C3%A7as%20%E2%80%93%20mas%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20significa.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20dif%C3%ADcil%20imaginar%20um%20efetivo%20sistema%20de%20precedentes%20que%20tenha%20sua%20g%C3%AAnese%20numa%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa%2C%20desde%20que%20seja%20aplicado%20racional%20e%20argumentativamente.%0D%0A%0D%0AA%20real%20diferen%C3%A7a%20reside%20no%20m%C3%A9todo.%20Os%20provimentos%20vinculantes%20no%20direito%20brasileiro%20se%20estruturam%20como%20enunciados%20normativos.%20N%C3%A3o%20h%C3%A1%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20com%20as%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20o%20juiz%20a%20tomar%20determinada%20decis%C3%A3o%2C%20nem%20com%20os%20princ%C3%ADpios%20jur%C3%ADdicos%20que%20o%20orientaram%2C%20mas%20apenas%20com%20o%20resultado%20final%20do%20julgamento%2C%20traduzido%20%E2%80%93%20pelo%20pr%C3%B3prio%20julgador%20%E2%80%93%20num%20enunciado%20geral%20e%20abstrato%2C%20nos%20moldes%20de%20uma%20norma.%20Como%20se%20esse%20enunciado%20judicial%20fosse%20resultado%20de%20um%20processo%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o%20da%20lei%20e%20n%C3%A3o%20dependesse%2C%20ele%20pr%C3%B3prio%2C%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o.%20Trabalhamos%20com%20precedentes%20da%20mesma%20forma%20que%20trabalhamos%20com%20a%20lei%2C%20esperando%2C%20no%20fundo%2C%20que%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%20se%20d%C3%AA%20por%20mera%20subsun%C3%A7%C3%A3o.%20Evolu%C3%ADmos%2C%20assim%2C%20do%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-lei%E2%80%9D%20ao%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-s%C3%BAmula%E2%80%9D.%20Por%20isso%2C%20a%20figura%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20assim%20como%20das%20s%C3%BAmulas%20vinculantes%2C%20acoplou-se%20com%20facilidade%20ao%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20criando%20como%20que%20um%20%E2%80%9Cstare%20decisis%20%C3%A0%20brasileira%E2%80%9D.%0D%0A%0D%0AEnquanto%20isso%2C%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20precedentes%20no%20common%20law%20%C3%A9%20argumentativa%3A%20o%20que%20vincula%20os%20casos%20subsequentes%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20uma%20regra%20geral%20anunciada%20pelo%20juiz%20do%20precedente%2C%20mas%20a%20raz%C3%A3o%20fundamental%20de%20decidir%20%28ratio%20decidendi%29%2C%20que%20cabe%20ao%20julgador%20do%20caso%20futuro%20extrair.%20Assim%2C%20tal%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20necessariamente%20pr%C3%A1tica%20e%20argumentativa%3A%20ao%20juiz%20n%C3%A3o%20basta%20aplicar%20uma%20resposta%20pr%C3%A9-moldada%2C%20mas%20sim%20estudar%20os%20princ%C3%ADpios%20que%20orientaram%20a%20decis%C3%A3o%20anterior%20e%20aplic%C3%A1-los%2C%20de%20forma%20coerente%2C%20ao%20caso%20atual%2C%20e%20n%C3%A3o%20apenas%20numa%20lista%20de%20decis%C3%B5es%20que%20s%C3%A3o%20isoladamente%20vinculantes.%0D%0A%0D%0AIsso%20n%C3%A3o%20pressup%C3%B5e%20que%20estejamos%20nos%20tornando%2C%20muito%20menos%20que%20precisemos%20nos%20tornar%2C%20um%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law.%20Precisamos%20%E2%80%93%20isso%20sim%20%E2%80%93%20desenvolver%20uma%20cultura%20argumentativa%20de%20precedentes%20coerente%20com%20o%20nosso%20civil%20law.%20De%20outro%20lado%2C%20nos%20contentaremos%20com%20um%20%E2%80%9Csistema%20de%20precedentes%E2%80%9D%20voltado%20n%C3%A3o%20%C3%A0%20constru%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20com%20integridade%20e%20coer%C3%AAncia%20interna%2C%20mas%20como%20mera%20t%C3%A9cnica%20de%20julgamento%20de%20casos%20repetitivos%2C%20que%20afoga%20as%20peculiaridades%20de%20cada%20caso%20concreto%20e%2C%20junto%20com%20elas%2C%20o%20pr%C3%B3prio%20direito.%0D%0A%0D%0ADecidir%20com%20racionalidade%20sist%C3%AAmica%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20requisito%20operacional%20de%20uma%20ou%20de%20outra%20fam%C3%ADlia%20jur%C3%ADdica%20espec%C3%ADfica%2C%20mas%20pressuposto%20l%C3%B3gico%20universal.%20O%20direito%20n%C3%A3o%20pode%20servir%20apenas%20para%20resolver%20os%20problemas%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio%3B%20a%20administra%C3%A7%C3%A3o%20da%20justi%C3%A7a%20n%C3%A3o%20pode%20se%20transformar%20num%20fim%20em%20si%20pr%C3%B3pria.%20Por%20isso%2C%20afirmar%20que%20o%20Brasil%20se%20tornou%20common%20law%20%C3%A9%20uma%20grave%20indu%C3%A7%C3%A3o%20a%20erro%2C%20porque%20se%20faz%20crer%20que%20essa%20cultura%20argumentativa%20j%C3%A1%20teria%20sido%20alcan%C3%A7ada.%20%C3%89%20como%20dizer%20que%20a%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20decis%C3%B3ria%20de%20origem%20normativa%20teria%20o%20cond%C3%A3o%20de%20fazer%20com%20que%20as%20coisas%20aqui%20se%20tornassem%20iguais%20%C3%A0s%20coisas%20l%C3%A1%2C%20desonerando%20o%20operador%20jur%C3%ADdico%20do%20compromisso%20intelectual%20necess%C3%A1rio%20para%20resolver%20os%20nossos%20problemas%2C%20que%20s%C3%A3o%20peculiares%20e%20exclusivamente%20nossos.%0D%0A%0D%0AIsso%20porque%20a%20tal%20%E2%80%9Cjurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%E2%80%9D%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20problema%20isolado.%20Est%C3%A1%20inserida%20num%20contexto%20muito%20maior%2C%20de%20crise%20do%20pr%C3%B3prio%20direito.%20O%20que%20se%20p%C3%B5e%20em%20jogo%20%C3%A9%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%2C%20que%20decorre%20da%20falta%20de%20fundamenta%C3%A7%C3%A3o%20racional%2C%20e%20transforma%20a%20decis%C3%A3o%20num%20ato%20n%C3%A3o%20de%20direito%2C%20mas%20de%20poder.%20O%20jurisdicionado%20se%20v%C3%AA%20na%20angustiante%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20n%C3%A3o%20saber%20o%20que%20diz%20o%20direito%2C%20porque%20a%20lei%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20vale%20%E2%80%93%20o%20que%2C%20em%20ampla%20medida%2C%20se%20relaciona%20com%20o%20fen%C3%B4meno%20da%20infla%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%2C%20t%C3%ADpico%20do%20final%20do%20s%C3%A9c.%20XX%20e%20do%20come%C3%A7o%20do%20s%C3%A9c.%20XXI%3A%20%C3%A9%20muito%20dif%C3%ADcil%20extrair%20sentido%20de%20uma%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20extensa%2C%20fracionada%20e%20contradit%C3%B3ria.%0D%0A%0D%0AE%20a%20solu%C3%A7%C3%A3o%20que%20o%20sistema%20prop%C3%B5e%20para%20esse%20problema%20%C3%A9%20tornar%20vinculantes%20e%20indiscut%C3%ADveis%20esses%20mesmos%20provimentos%20judiciais.%20Tudo%20sob%20o%20manto%20legitimador%20da%20ideia%20de%20que%20funciona%20assim%20no%20common%20law%2C%20e%20funciona%20bem%2C%20ent%C3%A3o%20funcionar%C3%A1%20bem%20aqui.%20%C3%89%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20confort%C3%A1vel%20a%20curto%20prazo%2C%20admite-se.%20Num%20cen%C3%A1rio%20onde%20o%20mosaico%20de%20entendimentos%20jurisprudenciais%20n%C3%A3o%20permite%20que%20se%20conhe%C3%A7a%20adequadamente%20o%20que%20%C3%A9%20a%20lei%20vigente%20no%20pa%C3%ADs%2C%20a%20fixa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tese%2C%20qualquer%20que%20seja%2C%20traz%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica.%20Mesmo%20que%20n%C3%A3o%20represente%20a%20melhor%20resposta%2C%20nem%20tenha%20legitimidade%20racional%2C%20ela%20resolve%20a%20diverg%C3%AAncia%2C%20por%20ter%20for%C3%A7a%20vinculante%20legal.%20Pode%20n%C3%A3o%20ser%20a%20melhor%20resposta%2C%20mas%20%C3%A9%20alguma%20resposta%2C%20situa%C3%A7%C3%A3o%20mais%20vantajosa%20do%20que%20o%20cen%C3%A1rio%20fracionado%20e%20imprevis%C3%ADvel%20que%20temos%20hoje.%0D%0A%0D%0AEm%20meio%20%C3%A0%20crise%20na%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20respostas%20judiciais%20adequadas%2C%20que%20p%C3%B5e%20em%20xeque%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20da%20jurisdi%C3%A7%C3%A3o%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais.%0D%0A%0D%0APor%20isso%2C%20%C3%A9%20preciso%20defender%20com%20veem%C3%AAncia%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20trocando%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica.%20Evitamos%2C%20assim%2C%20o%20erro%20de%20estudar%20os%20precedentes%20vinculantes%20daqui%20com%20uma%20simples%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20de%20como%20eles%20funcionam%20l%C3%A1%20%E2%80%93%20como%20se%20apreender%20os%20conceitos%20de%20ratio%20decidendi%20e%20distinguishing%20e%20overruling%20a%20partir%20de%20autores%20americanos%20e%20ingleses%20fosse%20suficiente%20para%20compreender%20a%20nossa%20jurisprud%C3%AAncia%20vinculante%2C%20esquecendo%20a%20enorme%20diferen%C3%A7a%20metodol%C3%B3gica%20e%20cultural%20que%20existe%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20O%20rol%20de%20provimentos%20vinculantes%20do%20art.%20927%20do%20CPC%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20instituto%20derivado%20do%20common%20law%2C%20mesmo%20que%20a%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20da%20entidade%20abstrata%20que%20chamamos%20de%20%E2%80%9Co%20legislador%E2%80%9D%20tenha%20sido%20o%20modelo%20anglo-sax%C3%A3o%20de%20stare%20decisis.%20H%C3%A1%20uma%20enorme%20diferen%C3%A7a%20entre%20importar%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20e%20construir%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20novo%20com%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20em%20alguma%20experi%C3%AAncia%20estrangeira.%20Disso%20se%20retira%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20redobrada%20que%20o%20jurista%20brasileiro%20deve%20ter%20com%20os%20conceitos%20operacionais%20de%20supera%C3%A7%C3%A3o%20e%2C%20especialmente%2C%20de%20distin%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%2C%20alinhando-os%20a%20uma%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20estudos%20interpretativos%20da%20pr%C3%B3pria%20lei.%0D%0A%0D%0AA%20solu%C3%A7%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20que%20h%C3%A1%2C%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20muito%20longe.%20%C3%89%20preciso%20aplicar%20o%20c%C3%B3digo%20como%20um%20todo%2C%20n%C3%A3o%20em%20tiras.%20N%C3%A3o%20existe%20art.%20927%20%28rol%20de%20provimentos%20vinculantes%29%20sem%20art.%20926%20%28dever%20de%20estabilidade%2C%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20da%20jurisprud%C3%AAncia%29.%20N%C3%A3o%20existe%20sistema%20de%20precedentes%20sem%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20em%20construir%2C%20argumentativamente%2C%20respostas%20judiciais%20que%20guardem%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20principiol%C3%B3gica%2C%20extraindo%20motivos%20determinantes%20e%20realizando%20distin%C3%A7%C3%B5es%20e%20supera%C3%A7%C3%B5es%20quando%20for%20adequado%20%28art.%20489%2C%20%C2%A7%201%C2%BA%29.%20Obriga%C3%A7%C3%A3o%20do%20juiz%2C%20das%20partes%2C%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblico%20%E2%80%93%20de%20todos%20os%20atores%20processuais.%20Dever%20de%20coopera%C3%A7%C3%A3o%2C%20enfim%20%28art.%206%C2%BA%29.%0D%0A%0D%0ANada%20disso%20nos%20obriga%20a%20importar%20qualquer%20coisa%20do%20common%20law.%20Est%C3%A1%20tudo%20l%C3%A1%2C%20no%20pr%C3%B3prio%20CPC.%20Basta%20aplic%C3%A1-lo.%0D%0A%0D%0AEm%20suma%3A%20existe%20um%20abismo%20de%20diferen%C3%A7a%20entre%20afirmar%2C%20como%20fazem%20Marinoni%2C%20que%20existe%20uma%20converg%C3%AAncia%20te%C3%B3rica%20e%20metodol%C3%B3gica%20entre%20os%20dois%20sistemas%2C%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20a%20alguns%20de%20seus%20institutos%20fundamentais%2C%20e%20dizer%20que%20est%C3%A1%20havendo%20uma%20efetiva%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20e%20que%2C%20a%20partir%20do%20CPC%20de%202015%2C%20podemos%20passar%20a%20estudar%20o%20Direito%20no%20Brasil%20como%20se%20estiv%C3%A9ssemos%20na%20Inglaterra%20ou%20nos%20Estados%20Unidos.%20Colocando%20da%20primeira%20forma%2C%20convidamos%20um%20estudo%20dos%20institutos%20argumentativos%20muito%20bem%20desenvolvidos%20no%20common%20law%20e%20observamos%20os%20cuidados%20constantes%20daquele%20sistema%20com%20a%20legitima%C3%A7%C3%A3o%20racional%20do%20processo%20decis%C3%B3rio%2C%20que%20contrastam%20violentamente%20com%20a%20pretens%C3%A3o%20padronizadora%20do%20processo%20civil%20objetivo%20brasileiro.%20Se%2C%20por%20outro%20lado%2C%20entendermos%20que%20houve%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20corremos%20o%20risco%20de%20nos%20satisfazermos%20com%20o%20estado%20atual%20de%20coisas%2C%20privando%20o%20sistema%20do%20necess%C3%A1rio%20choque%20paradigm%C3%A1tico%20que%20for%C3%A7a%20a%20adapta%C3%A7%C3%A3o%20intelectual.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AVI%20-%20Conclus%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AEste%20breve%20ensaio%20n%C3%A3o%20deve%20ser%20tomado%20como%20um%20ataque%20a%20qualquer%20associa%C3%A7%C3%A3o%20did%C3%A1tica%20entre%20o%20sistema%20brasileiro%20e%20o%20common%20law%2C%20nem%2C%20muito%20menos%2C%20como%20uma%20cruzada%20contra%20autores%20e%20autoras%20defensores%20dessa%20guinada%20metodol%C3%B3gica.%20Pretendi%20fazer%2C%20na%20verdade%2C%20uma%20ressalva%20metodol%C3%B3gica%3A%20n%C3%A3o%20estamos%20importando%20nenhum%20instituto%20do%20common%20law.%20Os%20precedentes%20constru%C3%ADdos%20no%20Brasil%20a%20partir%20do%20nosso%20sistema%2C%20e%20para%20o%20nosso%20sistema%2C%20n%C3%A3o%20podem%20ser%20justificados%20pelas%20mesmas%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20os%20ju%C3%ADzes%20da%20Inglaterra%20do%20s%C3%A9c.%20XII%20a%20respeitar%20as%20decis%C3%B5es%20anteriores%2C%20nem%20podem%20ser%20explicados%20a%20partir%20de%20teorias%20pensadas%20internamente%20para%20o%20modelo%20americano.%0D%0A%0D%0ANecess%C3%A1ria%20ressalva%3A%20isso%20n%C3%A3o%20quer%20dizer%20que%20n%C3%A3o%20possamos%20estudar%20obras%20de%20hermen%C3%AAutica%2C%20argumenta%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20e%20teoria%20do%20direito%20escritas%20por%20autores%20anglo-sax%C3%B4nicos.%20Obras%20que%20estudam%20o%20fen%C3%B4meno%20jur%C3%ADdico%20com%20um%20ponto%20de%20vista%20externo%20s%C3%A3o%20leitura%20essencial%20para%20se%20construir%20adequadamente%20o%20processo%20argumen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19/12/2020 Por que o Brasil não está caminhando para o common law, e por que isso importa – Mello e Souza & Associados
melloesouza.adv.br/2018/05/03/por-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa/ 9/20
Em linhas gerais, é esse o estado da arte do precedente judicial no Brasil; resta investigar,
então, se esse “desvirtuamento” do civil law padrão é razão suficiente para se dizer que o
Brasil estaria passando por uma transformação sistêmica.
 
V – O Brasil não está se transformando em common law;
A pretensão de diferenciar common law e civil law simplesmente pela origem da norma
jurídica – construída judicialmente no primeiro caso e pela lei escrita no segundo – é
tentadora pela simplicidade e pela didática. Essa diferença básica de fato existe, mas é uma
questão cultural, muito mais do que um problema simples de fonte do direito. Definir o
common law pela falta de um código legislativo organizado é aderir a um modelo ideal de
common law que não corresponde à realidade daqueles países. Trata-se, em suma, de uma
solução elegantemente errada para um problema complexo. A produção legislativa no
common law nos últimos anos tem sido significativa, a ponto de a lei feita unicamente
pelos juízes hoje constituir a exceção, não a regra[23]. Paralelamente, sistemas de civil law
– como o Brasil[24] e outros países da Europa continental[25] – vêm aumentando a
confiança que depositam nas decisões passadas dos tribunais como fonte de direito.
À primeira vista, então, a divisão pelo ponto de vista lei vs. precedente não é suficiente para
dar conta da diferença entre os dois sistemas. Segundo Taruffo, o mesmo se pode dizer de
outro critérios tradicionais de separação, que contrapõe os sistemas de civil law e
common law como predominantemente orais ou escritos, respectivamente; ou, ainda, com
olhos ao tipo de processo, se adversarial ou inquisitorial[26].
Assim como a dicotomia de fontes, essas oposições simples não dão conta de toda a
complexidade que separa os dois sistemas. As diferenças entre os dois são históricas e
comportamentais, vinculadas ao modo como cada um deles foi construído, e a como se
enxerga e se aplica o direito e os precedentes. Talvez a principal característica que
realmente diferencie os dois sistemas, pelo menos do ponto de vista da aplicação do
direito, seja a cultura argumentativa construída nos países de common law como requisito
para a adequada operacionalização da cultura de precedentes[27], desenvolvida em torno
do centenário corpo de decisões que formam a “lei comum” da Inglaterra. Reconhecem-se
os precedentes não como uma fonte de vinculação formal (como se pretende fazer no
Brasil), mas como forma de construir, dentro do ordenamento jurídico, coerência e
coesão, evitando que  a jurisprudência se torne, nas palavras de Neil MacCormick, uma
“selva de exemplos isolados”[28]. O advogado do common law aprendeu a se apegar não à
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mailto:?subject=Por%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa&body=http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F%0A%0APor%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa%0A%0APor%20Pedro%20Henrique%20Reschke%2C%20Advogado%20e%20Professor%20do%20CESUSC%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0AWhat%20seems%20most%20special%20about%20Common%20Law%20jurisdictions%20is%20that%20they%20have%20a%20great%20deal%20of%20case%20law%20that%20is%20not%20about%20the%20interpretation%20of%20legislation.%20It%20is%20only%20about%20the%20interpretation%20of%20other%20case%20law.%E2%80%9D%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%C2%A0I%20-%C2%A0Introdu%C3%A7%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AO%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20num%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law%20%E2%80%93%20ou%2C%20pelo%20menos%2C%20essa%20%C3%A9%20a%20conclus%C3%A3o%20atingida%20por%20muitos%20dos%20estudos%20recentes%20de%20direito%20processual%20civil.%20Ao%20interpretar%20o%20significado%20do%20reconhecimento%20da%20import%C3%A2ncia%20dos%20precedentes%2C%20em%20n%C3%ADvel%20constitucional%20%28Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%29%20e%20infraconstitucional%20%28CPC%20de%202015%29%2C%20parcela%20significativa%20da%20doutrina%20afirma%20estarmos%20diante%20de%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20da%20natureza%20do%20sistema%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20que%20estaria%20abandonando%20suas%20origens%20de%20civil%20law%20rumo%20a%20uma%20vers%C3%A3o%20tupiniquim%20do%20common%20law%20anglo-sax%C3%A3o.%0D%0A%0D%0ASegundo%20Fredie%20Didier%20Jr.%2C%20por%20exemplo%2C%20o%20Brasil%20teria%20sofrido%20tamanha%20influ%C3%AAncia%20do%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20mais%20poss%C3%ADvel%20consider%C3%A1-lo%20um%20sistema%20exclusivamente%20civil%20law%2C%20mas%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20sistema%20h%C3%ADbrido%2C%20um%20brazilian%20lawe%20julgamento%20de%20demandas%20repetitivas.%0D%0A%0D%0AClaro%2C%20essas%20vozes%20n%C3%A3o%20s%C3%A3o%20un%C3%A2nimes%3B%20h%C3%A1%20tamb%C3%A9m%20quem%20defenda%20opini%C3%A3o%20diversa%3A%20instituir%20o%20respeito%20a%20alguns%20precedentes%20e%20provimentos%20vinculantes%20n%C3%A3o%20significa%20modificar%20a%20natureza%20de%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico.%20Mas%2C%20de%20forma%20geral%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20identificar%20no%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%20uma%20associa%C3%A7%C3%A3o%20forte%20entre%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20de%20qualquer%20natureza%20%E2%80%93%20como%20algo%20que%20n%C3%A3o%20nos%20pertence.%20Qualquer%20coisa%20al%C3%A9m%20da%20perspectiva%20decisionista%20do%20livre%20convencimento%20%C3%A9%20tida%20como%20incompat%C3%ADvel%20com%20nosso%20sistema%2C%20pelo%20que%20seria%20veemente%20a%20necessidade%20dessa%20reforma%20%E2%80%9Cimportada%E2%80%9D%20do%20common%20law.%20A%20salva%C3%A7%C3%A3o%20est%C3%A1%20l%C3%A1%20fora.%0D%0A%0D%0AEste%20trabalho%20defende%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20caminha%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20que%20isso%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20apenas%20um%20problema%20sem%C3%A2ntico.%20Dizer%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20tornando%20common%20law%20%C3%A9%20cometer%2C%20pelo%20menos%2C%20dois%20erros%20fundamentais.%20Em%20primeiro%20lugar%2C%20significa%20adotar%20uma%20concep%C3%A7%C3%A3o%20excessivamente%20reducionista%20de%20civil%20law%20e%20de%20common%20law.%20Segundo%2C%20e%20mais%20grave%2C%20significa%20emprestar%20ao%20%E2%80%9Csistema%20brasileiro%20de%20precedentes%E2%80%9D%20uma%20legitimidade%20material%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20autom%C3%A1tica%2C%20mas%20precisa%20ser%20conquistada%20na%20pr%C3%A1tica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AII%20-%20Os%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20do%20mundo%20ocidental%3B%0D%0A%0D%0AO%20conceito%20de%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20no%20direito%20comparado%2C%20tem%20um%20prop%C3%B3sito%20eminentemente%20classificat%C3%B3rio.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20mesmo%20que%20falar%20em%20sistema%20jur%C3%ADdico%20no%20contexto%20do%20estudo%20de%20um%20determinado%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%20Nesse%20caso%2C%20a%20express%C3%A3o%20ganha%20um%20significado%20distinto%2C%20referindo-se%20ao%20conjunto%20de%20normas%20vigentes%20dentro%20de%20um%20determinado%20pa%C3%ADs%3B%20aqui%2C%20a%20express%C3%A3o%20sistema%20jur%C3%ADdico%20pode%20ser%20tomada%20como%20sin%C3%B4nimo%20de%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%0D%0A%0D%0AJ%C3%A1%20no%20direito%20comparado%2C%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20s%C3%A3o%20modelos%20ideais%2C%20baseados%20nas%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20que%20se%20apresentam%20em%20ordenamentos%20jur%C3%ADdicos%20distintos.%20Assim%2C%20dizer%20que%20determinado%20pa%C3%ADs%20adota%20um%20sistema%20de%20civil%20law%20n%C3%A3o%20significa%20dizer%20que%20ele%20seja%20exatamente%20igual%20aos%20outros%20que%20comp%C3%B5em%20o%20mesmo%20sistema.%20Falar%20e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recedentes%20%E2%80%93%20%E2%80%9Co%20common%20law%20facilmente%20vislumbrou%20que%20a%20certeza%20jur%C3%ADdica%20apenas%20poderia%20ser%20obtida%20mediante%20o%20stare%20decisis%E2%80%9D.%20Enfim%3A%20o%20common%20law%20tem%20peculiaridades%20que%20v%C3%A3o%20muito%20al%C3%A9m%20de%20um%20enfoque%20maior%20da%20lei%20criada%20pelo%20magistrado.%0D%0A%0D%0AAli%C3%A1s%2C%20mesmo%20sob%20esse%20ponto%20de%20vista%2C%20a%20rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20common%20law%20e%20o%20stare%20decisis%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20imune%20a%20cr%C3%ADticas.%20Primeiro%20porque%2C%20apesar%20das%20centenas%20de%20anos%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%2C%20ainda%20n%C3%A3o%20existe%20uma%20obra%20definitiva%20sobre%20a%20natureza%20do%20precedente%20judicial%2C%20nem%20sobre%20a%20origem%20da%20autoridade%20vinculante%2C%20que%20ainda%20s%C3%A3o%20frequentemente%20investigadas%20%28resgatando%2C%20assim%2C%20a%20cl%C3%A1ssica%20cr%C3%ADtica%20de%20Bentham%2C%20equiparando%20o%20direito%20jurisprudencial%20a%20regras%20de%20comportamento%20canino%20%E2%80%93%20dog%20law%29.%0D%0A%0D%0ANo%20nosso%20contexto%20atual%2C%20que%20v%C3%AA%20nos%20precedentes%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20v%C3%A1lvula%20de%20escape%20necess%C3%A1ria%20e%20inevit%C3%A1vel%20para%20o%20problema%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%2C%20parece%20estranho%20saber%20que%20o%20precedente%20judicial%20%C3%A9%20um%20fen%C3%B4meno%20ainda%20incompreendido%20dentro%20do%20pr%C3%B3prio%20common%20law.%20Igualmente%20peculiar%20%C3%A9%20descobrir%20que%20h%C3%A1%20correntes%20s%C3%A9rias%20de%20pesquisa%20nos%20pa%C3%ADses%20anglo-sax%C3%B5es%20defendendo%20uma%20mitiga%C3%A7%C3%A3o%20do%20stare%20decisis%20em%20favor%20do%20fortalecimento%20de%20uma%20codifica%C3%A7%C3%A3o%20nos%20moldes%20do%20civil%20law%20%E2%80%93%20n%C3%A3o%20seria%20esse%2C%20exatamente%2C%20o%20nosso%20problema%3F%20Isso%20deve%20ser%20interpretado%20como%20sinal%20claro%20de%20que%20o%20common%20law%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20sistema%20fechado%2C%20que%20j%C3%A1%20resolveu%20todos%20os%20seus%20problemas.%20A%20doutrina%20do%20precedente%20%E2%80%93%20que%20cogitamos%20importar%20e%20instaurar%20por%20meio%20de%20lei%20no%20nosso%20sistema%20%E2%80%93%20ainda%20vem%20sendo%20constantemente%20trabalhada%20e%20aprimorada%20na%20pr%C3%A1tica.%20Ela%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20%E2%80%9Cponto%20final%E2%80%9D%20no%20sistema%20do%20common%20law%2C%20e%20nem%20poder%C3%A1%20ser%20vista%20como%20tal%20dentro%20do%20ordenamento%20brasileiro.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AIV%20-%20A%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20brasileira%20e%20o%20impacto%20das%20decis%C3%B5es%20vinculantes%3B%0D%0A%0D%0ADemonstrou-se%20o%20que%20%C3%A9%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20na%20%C3%B3tica%20do%20direito%20comparado%2C%20e%20expuseram-se%20as%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20dos%20sistemas%20de%20common%20law%2C%20enquanto%20arqu%C3%A9tipos%20ideais.%20Falta%20analisar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20realmente%20nisso%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20%E2%80%93%20se%20%C3%A9%20que%20est%C3%A1%20se%20transformando%20mesmo%20em%20alguma%20coisa.%0D%0A%0D%0AEstudar%20para%20onde%20vai%20o%20Brasil%20exige%20que%20se%20entenda%20de%20onde%20ele%20parte.%20Zaneti%20Jr.%20aponta%20um%20%E2%80%9Cparadoxo%20metodol%C3%B3gico%E2%80%9D%20desde%20a%20origem%20do%20nosso%20sistema%3A%20a%20nossa%20ordem%20pol%C3%ADtico-constitucional%20%C3%A9%20de%20veia%20republicana%20e%20federativa%2C%20inspirada%20no%20modelo%20norte-americano%2C%20enquanto%20os%20demais%20ramos%20do%20direito%20infraconstitucional%2C%20privado%20e%20p%C3%BAblico%20%28inclusive%20o%20direito%20processual%29%2C%20s%C3%A3o%20tipicamente%20romano-germ%C3%A2nicos.%20Apesar%20dessa%20constru%C3%A7%C3%A3o%20mista%2C%20que%20poderia%20levar%20%C3%A0%20compreens%C3%A3o%20de%20que%20j%C3%A1%20ser%C3%ADamos%20um%20pouco%20common%20law%2C%20%C3%A9%20essa%20veia%20romano-germ%C3%A2nica%20que%20inspira%20o%20funcionamento%20e%20o%20m%C3%A9todo%20do%20nosso%20Judici%C3%A1rio.%20Por%20isso%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20classificar%20o%20direito%20brasileiro%2C%20assim%20como%20os%20demais%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20latino-americanos%2C%20como%20um%20sistema%20de%20civil%20law.%0D%0A%0D%0ADe%20fato%2C%20o%20sistema%20brasileiro%20%C3%A9%20influenciado%20pela%20vis%C3%A3o%20positivista%20focada%20no%20Poder%20Legislativo%20como%20foco%20produtor%20de%20normas%20jur%C3%ADdicas%2C%20decorrente%20da%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Francesa%2C%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20neutra%20e%20imparcial%20do%20direito%20pelo%20juiz%2C%20que%20se%20limitava%20a%20simplesmente%20ditar%20a%20vontade%20concreta%20da%20lei%20%E2%80%93%20que%2C%20por%20sua%20pr%C3%B3pria%20natureza%2C%20era%20um%20texto%20geral%20e%20abstrato%29.%0D%0A%0D%0AA%20base%20filos%C3%B3fica%20brasileira%2C%20assim%2C%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20a%20de%20cria%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20pelos%20tribunais%2C%20mas%20a%20da%20cren%C3%A7a%20na%20univocidade%20da%20lei%20e%20do%20juiz%20como%20mero%20aplicador%20neutro%20do%20direito.%20Nosso%20sistema%20%C3%A9%20constru%C3%ADdo%20tendo%20por%20base%20a%20legitimidade%20democr%C3%A1tica%20do%20direito%20produzido%20pelos%20representantes%20do%20povo%2C%20e%20no%20juiz%20enquanto%20aplicador.%20Por%20outro%20lado%2C%20o%20avan%C3%A7o%20da%20teoria%20do%20direito%20dos%20pa%C3%ADses%20de%20civil%20law%2C%20apoiado%20nas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20interpretativas%20p%C3%B3s-positivistas%2C%20reconheceu%20a%20impossibilidade%20de%20aplicar%20o%20texto%20normativo%20como%20tendo%20sentido%20em%20si%20pr%C3%B3prio.%20A%20renovada%20for%C3%A7a%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20que%20levou%20alguns%20te%C3%B3ricos%20a%20falarem%20em%20legisprudence%2C%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20nem%20s%C3%B3%20legisla%C3%A7%C3%A3o%2C%20nem%20s%C3%B3%20jurisprud%C3%AAncia%20%E2%80%93%20%C3%A9%20decorr%C3%AAncia%20desse%20fen%C3%B4meno.%0D%0A%0D%0AAl%C3%A9m%20de%20uma%20necessidade%20te%C3%B3rica%2C%20decorrente%20da%20necessidade%20de%20tratar%20o%20jurisdicionado%20com%20isonomia%20e%20diminuir%20o%20efeito%20nocivo%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20fragmentadas%2C%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20for%C3%A7a%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20no%20civil%20law%20brasileiro%20tamb%C3%A9m%20%C3%A9%20uma%20forma%20de%20lidar%20com%20a%20litigiosidade%20repetitiva%20que%20prejudica%20o%20bom%20funcionamento%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio.%0D%0A%0D%0ADesde%201963%2C%20quando%20foi%20criado%20o%20instituto%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20j%C3%A1%20se%20fala%20na%20recep%C3%A7%C3%A3o%20da%20f%C3%B3rmula%20do%20stare%20decisis%20pelo%20ordenamento%20brasileiro%3B%20os%20principais%20coment%C3%A1rios%20e%20justificativas%20doutrin%C3%A1rias%20para%20os%20institutos%20da%20repercuss%C3%A3o%20geral%20e%20da%20s%C3%BAmula%20vinculante%2C%20tidos%20a%20partir%20da%20Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%2C%20tamb%C3%A9m%20afirmavam%20serem%20ambos%20institutos%20de%20veia%20tipicamente%20anglo-sax%C3%A3.%20E%20o%20CPC%20de%202015%2C%20especialmente%20em%20seus%20arts.%20926%20e%20927%2C%20instituiu%20um%20rol%20de%20provimentos%20judiciais%20que%20s%C3%A3o%20vinculantes%20para%20o%20%C3%B3rg%C3%A3o%20que%20os%20proferiu%20e%20aqueles%20hierarquicamente%20subordinados.%20Trata-se%2C%20assim%2C%20da%20coroa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tend%C3%AAncia%20decorrente%20da%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20hist%C3%B3rica%20natural%20do%20sistema%20brasileiro.%0D%0A%0D%0AEsse%20conjunto%20de%20decis%C3%B5es%20vinculantes%2C%20estruturados%20como%20normas%20jur%C3%ADdicas%20emitidas%20pelo%20Judici%C3%A1rio%2C%20p%C3%B5e%20em%20conflito%20duas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20de%20precedente%3A%20de%20um%20lado%2C%20garantidor%20da%20isonomia%20formal%2C%20e%2C%20de%20outro%2C%20um%20modo%20de%20resolver%20rapidamente%20causas%20repetitivas%20que%20afogam%20o%20Judici%C3%A1rio%2C%20%E2%80%93%20conflito%20que%20pode%20tamb%C3%A9m%20ser%20posto%20como%20uma%20contraposi%C3%A7%C3%A3o%20entre%20racionalidade%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20e%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica%20do%20precedente.%20O%20precedente%20com%20for%C3%A7a%20vinculante%20ope%20legis%2C%20estruturado%20por%20meio%20de%20provimentos%20judiciais%20obrigat%C3%B3rios%20%28sem%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20raz%C3%B5es%20fundamentais%20de%20decidir%29%2C%20%C3%A9%20emblem%C3%A1tico%20dessa%20segunda%20concep%C3%A7%C3%A3o.%20Em%20linhas%20gerais%2C%20%C3%A9%20esse%20o%20estado%20da%20arte%20do%20precedente%20judicial%20no%20Brasil%3B%20resta%20investigar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20esse%20%E2%80%9Cdesvirtuamento%E2%80%9D%20do%20civil%20law%20padr%C3%A3o%20%C3%A9%20raz%C3%A3o%20suficiente%20para%20se%20dizer%20que%20o%20Brasil%20estaria%20passando%20por%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20sist%C3%AAmica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AV%20-%20O%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20se%20transformando%20em%20common%20law%3B%0D%0A%0D%0AA%20pretens%C3%A3o%20de%20diferenciar%20common%20law%20e%20civil%20law%20simplesmente%20pela%20origem%20da%20norma%20jur%C3%ADdica%20%E2%80%93%20constru%C3%ADda%20judicialmente%20no%20primeiro%20caso%20e%20pela%20lei%20escrita%20no%20segundo%20%E2%80%93%20%C3%A9%20tentadora%20pela%20simplicidade%20e%20pela%20did%C3%A1tica.%20Essa%20diferen%C3%A7a%20b%C3%A1sica%20de%20fato%20existe%2C%20mas%20%C3%A9%20uma%20quest%C3%A3o%20cultural%2C%20muito%20mais%20do%20que%20um%20problema%20simples%20de%20fonte%20do%20direito.%20Definir%20o%20common%20law%20pela%20falta%20de%20um%20c%C3%B3digo%20legislativo%20organizado%20%C3%A9%20aderir%20a%20um%20modelo%20ideal%20de%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20corresponde%20%C3%A0%20realidade%20daqueles%20pa%C3%ADses.%20Trata-se%2C%20em%20suma%2C%20de%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20elegantemente%20errada%20para%20um%20problema%20complexo.%20A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20no%20common%20law%20nos%20%C3%BAltimos%20anos%20tem%20sido%20significativa%2C%20a%20ponto%20de%20a%20lei%20feita%20unicamente%20pelos%20ju%C3%ADzes%20hoje%20constituir%20a%20exce%C3%A7%C3%A3o%2C%20n%C3%A3o%20a%20regra%20%E2%80%93%20v%C3%AAm%20aumentando%20a%20confian%C3%A7a%20que%20depositam%20nas%20decis%C3%B5es%20passadas%20dos%20tribunais%20como%20fonte%20de%20direito.%0D%0A%0D%0A%C3%80%20primeira%20vista%2C%20ent%C3%A3o%2C%20a%20divis%C3%A3o%20pelo%20ponto%20de%20vista%20lei%20vs.%20precedente%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20suficiente%20para%20dar%20conta%20da%20diferen%C3%A7a%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20Segundo%20Taruffo%2C%20o%20mesmo%20se%20pode%20dizer%20de%20outro%20crit%C3%A9rios%20tradicionais%20de%20separa%C3%A7%C3%A3o%2C%20que%20contrap%C3%B5e%20os%20sistemas%20de%20civil%20law%20e%20common%20law%20como%20predominantemente%20orais%20ou%20escritos%2C%20respectivamente%3B%20ou%2C%20ainda%2C%20com%20olhos%20ao%20tipo%20de%20processo%2C%20se%20adversarial%20ou%20inquisitorial.%0D%0A%0D%0AAssim%20como%20a%20dicotomia%20de%20fontes%2C%20essas%20oposi%C3%A7%C3%B5es%20simples%20n%C3%A3o%20d%C3%A3o%20conta%20de%20toda%20a%20complexidade%20que%20separa%20os%20dois%20sistemas.%20As%20diferen%C3%A7as%20entre%20os%20dois%20s%C3%A3o%20hist%C3%B3ricas%20e%20comportamentais%2C%20vinculadas%20ao%20modo%20como%20cada%20um%20deles%20foi%20constru%C3%ADdo%2C%20e%20a%20como%20se%20enxerga%20e%20se%20aplica%20o%20direito%20e%20os%20precedentes.%20Talvez%20a%20principal%20caracter%C3%ADstica%20que%20realmente%20diferencie%20os%20dois%20sistemas%2C%20pelo%20menos%20do%20ponto%20de%20vista%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%2C%20seja%20a%20cultura%20argumentativa%20constru%C3%ADda%20nos%20pa%C3%ADses%20de%20common%20law%20como%20requisito%20para%20a%20adequada%20operacionaliza%C3%A7%C3%A3o%20da%20cultura%20de%20precedentes.%0D%0A%0D%0AH%C3%A1%20diferen%C3%A7as%20fundamentais%20entre%20as%20ferramentas%20de%20objetiva%C3%A7%C3%A3o%20processual%20adotadas%20pelo%20legislador%20brasileiro%20e%20um%20real%20sistema%20argumentativo%20de%20precedentes%20que%20se%20preocupe%20com%20a%20constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20com%20integridade.%20Enquanto%20isso%2C%20o%20juiz%20brasileiro%20que%20se%20deparar%20com%20algum%20pronunciamento%20vinculante%2C%20dever%C3%A1%20acompanhar%20aquele%20entendimento%2C%20por%20for%C3%A7a%20da%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa.%20Essa%20%C3%A9%20a%20primeira%20e%20mais%20elementar%20das%20diferen%C3%A7as%20%E2%80%93%20mas%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20significa.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20dif%C3%ADcil%20imaginar%20um%20efetivo%20sistema%20de%20precedentes%20que%20tenha%20sua%20g%C3%AAnese%20numa%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa%2C%20desde%20que%20seja%20aplicado%20racional%20e%20argumentativamente.%0D%0A%0D%0AA%20real%20diferen%C3%A7a%20reside%20no%20m%C3%A9todo.%20Os%20provimentos%20vinculantes%20no%20direito%20brasileiro%20se%20estruturam%20como%20enunciados%20normativos.%20N%C3%A3o%20h%C3%A1%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20com%20as%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20o%20juiz%20a%20tomar%20determinada%20decis%C3%A3o%2C%20nem%20com%20os%20princ%C3%ADpios%20jur%C3%ADdicos%20que%20o%20orientaram%2C%20mas%20apenas%20com%20o%20resultado%20final%20do%20julgamento%2C%20traduzido%20%E2%80%93%20pelo%20pr%C3%B3prio%20julgador%20%E2%80%93%20num%20enunciado%20geral%20e%20abstrato%2C%20nos%20moldes%20de%20uma%20norma.%20Como%20se%20esse%20enunciado%20judicial%20fosse%20resultado%20de%20um%20processo%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o%20da%20lei%20e%20n%C3%A3o%20dependesse%2C%20ele%20pr%C3%B3prio%2C%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o.%20Trabalhamos%20com%20precedentes%20da%20mesma%20forma%20que%20trabalhamos%20com%20a%20lei%2C%20esperando%2C%20no%20fundo%2C%20que%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%20se%20d%C3%AA%20por%20mera%20subsun%C3%A7%C3%A3o.%20Evolu%C3%ADmos%2C%20assim%2C%20do%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-lei%E2%80%9D%20ao%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-s%C3%BAmula%E2%80%9D.%20Por%20isso%2C%20a%20figura%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20assim%20como%20das%20s%C3%BAmulas%20vinculantes%2C%20acoplou-se%20com%20facilidade%20ao%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20criando%20como%20que%20um%20%E2%80%9Cstare%20decisis%20%C3%A0%20brasileira%E2%80%9D.%0D%0A%0D%0AEnquanto%20isso%2C%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20precedentes%20no%20common%20law%20%C3%A9%20argumentativa%3A%20o%20que%20vincula%20os%20casos%20subsequentes%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20uma%20regra%20geral%20anunciada%20pelo%20juiz%20do%20precedente%2C%20mas%20a%20raz%C3%A3o%20fundamental%20de%20decidir%20%28ratio%20decidendi%29%2C%20que%20cabe%20ao%20julgador%20do%20caso%20futuro%20extrair.%20Assim%2C%20tal%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20necessariamente%20pr%C3%A1tica%20e%20argumentativa%3A%20ao%20juiz%20n%C3%A3o%20basta%20aplicar%20uma%20resposta%20pr%C3%A9-moldada%2C%20mas%20sim%20estudar%20os%20princ%C3%ADpios%20que%20orientaram%20a%20decis%C3%A3o%20anterior%20e%20aplic%C3%A1-los%2C%20de%20forma%20coerente%2C%20ao%20caso%20atual%2C%20e%20n%C3%A3o%20apenas%20numa%20lista%20de%20decis%C3%B5es%20que%20s%C3%A3o%20isoladamente%20vinculantes.%0D%0A%0D%0AIsso%20n%C3%A3o%20pressup%C3%B5e%20que%20estejamos%20nos%20tornando%2C%20muito%20menos%20que%20precisemos%20nos%20tornar%2C%20um%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law.%20Precisamos%20%E2%80%93%20isso%20sim%20%E2%80%93%20desenvolver%20uma%20cultura%20argumentativa%20de%20precedentes%20coerente%20com%20o%20nosso%20civil%20law.%20De%20outro%20lado%2C%20nos%20contentaremos%20com%20um%20%E2%80%9Csistema%20de%20precedentes%E2%80%9D%20voltado%20n%C3%A3o%20%C3%A0%20constru%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20com%20integridade%20e%20coer%C3%AAncia%20interna%2C%20mas%20como%20mera%20t%C3%A9cnica%20de%20julgamento%20de%20casos%20repetitivos%2C%20que%20afoga%20as%20peculiaridades%20de%20cada%20caso%20concreto%20e%2C%20junto%20com%20elas%2C%20o%20pr%C3%B3prio%20direito.%0D%0A%0D%0ADecidir%20com%20racionalidade%20sist%C3%AAmica%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20requisito%20operacional%20de%20uma%20ou%20de%20outra%20fam%C3%ADlia%20jur%C3%ADdica%20espec%C3%ADfica%2C%20mas%20pressuposto%20l%C3%B3gico%20universal.%20O%20direito%20n%C3%A3o%20pode%20servir%20apenas%20para%20resolver%20os%20problemas%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio%3B%20a%20administra%C3%A7%C3%A3o%20da%20justi%C3%A7a%20n%C3%A3o%20pode%20se%20transformar%20num%20fim%20em%20si%20pr%C3%B3pria.%20Por%20isso%2C%20afirmar%20que%20o%20Brasil%20se%20tornou%20common%20law%20%C3%A9%20uma%20grave%20indu%C3%A7%C3%A3o%20a%20erro%2C%20porque%20se%20faz%20crer%20que%20essa%20cultura%20argumentativa%20j%C3%A1%20teria%20sido%20alcan%C3%A7ada.%20%C3%89%20como%20dizer%20que%20a%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20decis%C3%B3ria%20de%20origem%20normativa%20teria%20o%20cond%C3%A3o%20de%20fazer%20com%20que%20as%20coisas%20aqui%20se%20tornassem%20iguais%20%C3%A0s%20coisas%20l%C3%A1%2C%20desonerando%20o%20operador%20jur%C3%ADdico%20do%20compromisso%20intelectual%20necess%C3%A1rio%20para%20resolver%20os%20nossos%20problemas%2C%20que%20s%C3%A3o%20peculiares%20e%20exclusivamente%20nossos.%0D%0A%0D%0AIsso%20porque%20a%20tal%20%E2%80%9Cjurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%E2%80%9D%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20problema%20isolado.%20Est%C3%A1%20inserida%20num%20contexto%20muito%20maior%2C%20de%20crise%20do%20pr%C3%B3prio%20direito.%20O%20que%20se%20p%C3%B5e%20em%20jogo%20%C3%A9%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%2C%20que%20decorre%20da%20falta%20de%20fundamenta%C3%A7%C3%A3o%20racional%2C%20e%20transforma%20a%20decis%C3%A3o%20num%20ato%20n%C3%A3o%20de%20direito%2C%20mas%20de%20poder.%20O%20jurisdicionado%20se%20v%C3%AA%20na%20angustiante%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20n%C3%A3o%20saber%20o%20que%20diz%20o%20direito%2C%20porque%20a%20lei%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20vale%20%E2%80%93%20o%20que%2C%20em%20ampla%20medida%2C%20se%20relaciona%20com%20o%20fen%C3%B4meno%20da%20infla%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%2C%20t%C3%ADpico%20do%20final%20do%20s%C3%A9c.%20XX%20e%20do%20come%C3%A7o%20do%20s%C3%A9c.%20XXI%3A%20%C3%A9%20muito%20dif%C3%ADcil%20extrair%20sentido%20de%20uma%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20extensa%2C%20fracionada%20e%20contradit%C3%B3ria.%0D%0A%0D%0AE%20a%20solu%C3%A7%C3%A3o%20que%20o%20sistema%20prop%C3%B5e%20para%20esse%20problema%20%C3%A9%20tornar%20vinculantes%20e%20indiscut%C3%ADveis%20esses%20mesmos%20provimentos%20judiciais.%20Tudo%20sob%20o%20manto%20legitimador%20da%20ideia%20de%20que%20funciona%20assim%20no%20common%20law%2C%20e%20funciona%20bem%2C%20ent%C3%A3o%20funcionar%C3%A1%20bem%20aqui.%20%C3%89%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20confort%C3%A1vel%20a%20curto%20prazo%2C%20admite-se.%20Num%20cen%C3%A1rio%20onde%20o%20mosaico%20de%20entendimentos%20jurisprudenciais%20n%C3%A3o%20permite%20que%20se%20conhe%C3%A7a%20adequadamente%20o%20que%20%C3%A9%20a%20lei%20vigente%20no%20pa%C3%ADs%2C%20a%20fixa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tese%2C%20qualquer%20que%20seja%2C%20traz%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica.%20Mesmo%20que%20n%C3%A3o%20represente%20a%20melhor%20resposta%2C%20nem%20tenha%20legitimidade%20racional%2C%20ela%20resolve%20a%20diverg%C3%AAncia%2C%20por%20ter%20for%C3%A7a%20vinculante%20legal.%20Pode%20n%C3%A3o%20ser%20a%20melhor%20resposta%2C%20mas%20%C3%A9%20alguma%20resposta%2C%20situa%C3%A7%C3%A3o%20mais%20vantajosa%20do%20que%20o%20cen%C3%A1rio%20fracionado%20e%20imprevis%C3%ADvel%20que%20temos%20hoje.%0D%0A%0D%0AEm%20meio%20%C3%A0%20crise%20na%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20respostas%20judiciais%20adequadas%2C%20que%20p%C3%B5e%20em%20xeque%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20da%20jurisdi%C3%A7%C3%A3o%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais.%0D%0A%0D%0APor%20isso%2C%20%C3%A9%20preciso%20defender%20com%20veem%C3%AAncia%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20trocando%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica.%20Evitamos%2C%20assim%2C%20o%20erro%20de%20estudar%20os%20precedentes%20vinculantes%20daqui%20com%20uma%20simples%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20de%20como%20eles%20funcionam%20l%C3%A1%20%E2%80%93%20como%20se%20apreender%20os%20conceitos%20de%20ratio%20decidendi%20e%20distinguishing%20e%20overruling%20a%20partir%20de%20autores%20americanos%20e%20ingleses%20fosse%20suficiente%20para%20compreender%20a%20nossa%20jurisprud%C3%AAncia%20vinculante%2C%20esquecendo%20a%20enorme%20diferen%C3%A7a%20metodol%C3%B3gica%20e%20cultural%20que%20existe%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20O%20rol%20de%20provimentos%20vinculantes%20do%20art.%20927%20do%20CPC%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20instituto%20derivado%20do%20common%20law%2C%20mesmo%20que%20a%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20da%20entidade%20abstrata%20que%20chamamos%20de%20%E2%80%9Co%20legislador%E2%80%9D%20tenha%20sido%20o%20modelo%20anglo-sax%C3%A3o%20de%20stare%20decisis.%20H%C3%A1%20uma%20enorme%20diferen%C3%A7a%20entre%20importar%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20e%20construir%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20novo%20com%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20em%20alguma%20experi%C3%AAncia%20estrangeira.%20Disso%20se%20retira%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20redobrada%20que%20o%20jurista%20brasileiro%20deve%20ter%20com%20os%20conceitos%20operacionais%20de%20supera%C3%A7%C3%A3o%20e%2C%20especialmente%2C%20de%20distin%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%2C%20alinhando-os%20a%20uma%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20estudos%20interpretativos%20da%20pr%C3%B3pria%20lei.%0D%0A%0D%0AA%20solu%C3%A7%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20que%20h%C3%A1%2C%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20muito%20longe.%20%C3%89%20preciso%20aplicar%20o%20c%C3%B3digo%20como%20um%20todo%2C%20n%C3%A3o%20em%20tiras.%20N%C3%A3o%20existe%20art.%20927%20%28rol%20de%20provimentos%20vinculantes%29%20sem%20art.%20926%20%28dever%20de%20estabilidade%2C%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20da%20jurisprud%C3%AAncia%29.%20N%C3%A3o%20existe%20sistema%20de%20precedentes%20sem%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20em%20construir%2C%20argumentativamente%2C%20respostas%20judiciais%20que%20guardem%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20principiol%C3%B3gica%2C%20extraindo%20motivos%20determinantes%20e%20realizando%20distin%C3%A7%C3%B5es%20e%20supera%C3%A7%C3%B5es%20quando%20for%20adequado%20%28art.%20489%2C%20%C2%A7%201%C2%BA%29.%20Obriga%C3%A7%C3%A3o%20do%20juiz%2C%20das%20partes%2C%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblico%20%E2%80%93%20de%20todos%20os%20atores%20processuais.%20Dever%20de%20coopera%C3%A7%C3%A3o%2C%20enfim%20%28art.%206%C2%BA%29.%0D%0A%0D%0ANada%20disso%20nos%20obriga%20a%20importar%20qualquer%20coisa%20do%20common%20law.%20Est%C3%A1%20tudo%20l%C3%A1%2C%20no%20pr%C3%B3prio%20CPC.%20Basta%20aplic%C3%A1-lo.%0D%0A%0D%0AEm%20suma%3A%20existe%20um%20abismo%20de%20diferen%C3%A7a%20entre%20afirmar%2C%20como%20fazem%20Marinoni%2C%20que%20existe%20uma%20converg%C3%AAncia%20te%C3%B3rica%20e%20metodol%C3%B3gica%20entre%20os%20dois%20sistemas%2C%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20a%20alguns%20de%20seus%20institutos%20fundamentais%2C%20e%20dizer%20que%20est%C3%A1%20havendo%20uma%20efetiva%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20e%20que%2C%20a%20partir%20do%20CPC%20de%202015%2C%20podemos%20passar%20a%20estudar%20o%20Direito%20no%20Brasil%20como%20se%20estiv%C3%A9ssemos%20na%20Inglaterra%20ou%20nos%20Estados%20Unidos.%20Colocando%20da%20primeira%20forma%2C%20convidamos%20um%20estudo%20dos%20institutos%20argumentativos%20muito%20bem%20desenvolvidos%20no%20common%20law%20e%20observamos%20os%20cuidados%20constantes%20daquele%20sistema%20com%20a%20legitima%C3%A7%C3%A3o%20racional%20do%20processo%20decis%C3%B3rio%2C%20que%20contrastam%20violentamente%20com%20a%20pretens%C3%A3o%20padronizadora%20do%20processo%20civil%20objetivo%20brasileiro.%20Se%2C%20por%20outro%20lado%2C%20entendermos%20que%20houve%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20corremos%20o%20risco%20de%20nos%20satisfazermos%20com%20o%20estado%20atual%20de%20coisas%2C%20privando%20o%20sistema%20do%20necess%C3%A1rio%20choque%20paradigm%C3%A1tico%20que%20for%C3%A7a%20a%20adapta%C3%A7%C3%A3o%20intelectual.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AVI%20-%20Conclus%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AEste%20breve%20ensaio%20n%C3%A3o%20deve%20ser%20tomado%20como%20um%20ataque%20a%20qualquer%20associa%C3%A7%C3%A3o%20did%C3%A1tica%20entre%20o%20sistema%20brasileiro%20e%20o%20common%20law%2C%20nem%2C%20muito%20menos%2C%20como%20uma%20cruzada%20contra%20autores%20e%20autoras%20defensores%20dessa%20guinada%20metodol%C3%B3gica.%20Pretendi%20fazer%2C%20na%20verdade%2C%20uma%20ressalva%20metodol%C3%B3gica%3A%20n%C3%A3o%20estamos%20importando%20nenhum%20instituto%20do%20common%20law.%20Os%20precedentes%20constru%C3%ADdos%20no%20Brasil%20a%20partir%20do%20nosso%20sistema%2C%20e%20para%20o%20nosso%20sistema%2C%20n%C3%A3o%20podem%20ser%20justificados%20pelas%20mesmas%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20os%20ju%C3%ADzes%20da%20Inglaterra%20do%20s%C3%A9c.%20XII%20a%20respeitar%20as%20decis%C3%B5es%20anteriores%2C%20nem%20podem%20ser%20explicados%20a%20partir%20de%20teorias%20pensadas%20internamente%20para%20o%20modelo%20americano.%0D%0A%0D%0ANecess%C3%A1ria%20ressalva%3A%20isso%20n%C3%A3o%20quer%20dizer%20que%20n%C3%A3o%20possamos%20estudar%20obras%20de%20hermen%C3%AAutica%2C%20argumenta%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20e%20teoria%20do%20direito%20escritas%20por%20autores%20anglo-sax%C3%B4nicos.%20Obras%20que%20estudam%20o%20fen%C3%B4meno%20jur%C3%ADdico%20com%20um%20ponto%20de%20vista%20externo%20s%C3%A3o%20leitura%20essencial%20para%20se%20construir%20adequadamente%20o%20processo%20argumen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19/12/2020 Por que o Brasil não está caminhando para o common law, e por que isso importa – Mello e Souza & Associados
melloesouza.adv.br/2018/05/03/por-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa/ 10/20
literalidade do texto dos precedentes ou à norma geral e abstrata enunciada pelo juiz que
resolveu aquele caso, mas às razões fundamentais de decidir. O que vincula é aquilo que
foi efetivamente decidido, não o que foi dito[29].
Há diferenças fundamentais entre as ferramentas de objetivação processual adotadas pelo
legislador brasileiro e um real sistema argumentativo de precedentes que se preocupe com
a construção da decisão judicial com integridade[30]. Na verdade, a própria ideia de
precedente dos países de common law não é compatível com o modelo brasileiro trazido
pelo CPC de 2015. Um juiz inglês jamais encontrará um dispositivo legal que expressamente
o obrigue a seguir determinado entendimento esposado pela House of Lords, mas
provavelmente não se afastará do precedente, por entender o valor principiológico do
tratamento uniforme dos jurisdicionados. A regra do precedente, por ser racional e
argumentativa, é sempre falseável[31]. Enquanto isso, o juiz brasileiro que se deparar com
algum pronunciamento vinculante, deverá acompanhar aquele entendimento, por força da
disposição normativa. Essa é a primeira e mais elementar das diferenças – mas, por si só,
nada significa. Não é difícil imaginar um efetivo sistema de precedentes que tenha sua
gênese numa disposição normativa, desde que seja aplicado racional e
argumentativamente.
A real diferença reside no método. Os provimentos vinculantes no direito brasileiro se
estruturam como enunciados normativos. Não há preocupação com as razões que levaram o
juiz a tomar determinada decisão, nem com os princípios jurídicos que o orientaram, mas
apenas com o resultado final do julgamento, traduzido – pelo próprio julgador – num
enunciado geral e abstrato, nos moldes de uma norma. Como se esse enunciado judicial
fosse resultado de um processo de interpretação da lei e não dependesse, ele próprio, de
interpretação[32]. Trabalhamos com precedentes da mesma forma que trabalhamos com a
lei, esperando, no fundo, que a aplicação do precedente se dê por mera subsunção.
Evoluímos, assim, do “juiz boca-da-lei” ao “juiz boca-da-súmula”. Por isso, a figura das
súmulas, assim como das súmulas vinculantes, acoplou-se com facilidade ao imaginário
jurídico brasileiro, criando como que um “stare decisis à brasileira”.
Enquanto isso, a aplicação dos precedentes no common law é argumentativa: o que vincula
os casos subsequentes não é uma regra geral anunciada pelo juiz do precedente, mas a
razão fundamental de decidir (ratio decidendi), que cabe ao julgador do caso futuro
extrair. Assim, tal aplicação é necessariamente prática e argumentativa: ao juiz não basta
aplicar uma resposta pré-moldada, mas sim estudar os princípios que orientaram a decisão
anterior e aplicá-los, de forma coerente, ao caso atual[33]. Essa cultura argumentativa,
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mailto:?subject=Por%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa&body=http%3A%2F%2Fmelloesouza.adv.br%2F2018%2F05%2F03%2Fpor-que-o-brasil-nao-esta-caminhando-para-o-common-law-e-por-que-isso-importa%2F%0A%0APor%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20caminhando%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20por%20que%20isso%20importa%0A%0APor%20Pedro%20Henrique%20Reschke%2C%20Advogado%20e%20Professor%20do%20CESUSC%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0AWhat%20seems%20most%20special%20about%20Common%20Law%20jurisdictions%20is%20that%20they%20have%20a%20great%20deal%20of%20case%20law%20that%20is%20not%20about%20the%20interpretation%20of%20legislation.%20It%20is%20only%20about%20the%20interpretation%20of%20other%20case%20law.%E2%80%9D%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%C2%A0I%20-%C2%A0Introdu%C3%A7%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AO%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20num%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law%20%E2%80%93%20ou%2C%20pelo%20menos%2C%20essa%20%C3%A9%20a%20conclus%C3%A3o%20atingida%20por%20muitos%20dos%20estudos%20recentes%20de%20direito%20processual%20civil.%20Ao%20interpretar%20o%20significado%20do%20reconhecimento%20da%20import%C3%A2ncia%20dos%20precedentes%2C%20em%20n%C3%ADvel%20constitucional%20%28Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%29%20e%20infraconstitucional%20%28CPC%20de%202015%29%2C%20parcela%20significativa%20da%20doutrina%20afirma%20estarmos%20diante%20de%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20da%20natureza%20do%20sistema%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20que%20estaria%20abandonando%20suas%20origens%20de%20civil%20law%20rumo%20a%20uma%20vers%C3%A3o%20tupiniquim%20do%20common%20law%20anglo-sax%C3%A3o.%0D%0A%0D%0ASegundo%20Fredie%20Didier%20Jr.%2C%20por%20exemplo%2C%20o%20Brasil%20teria%20sofrido%20tamanha%20influ%C3%AAncia%20do%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20mais%20poss%C3%ADvel%20consider%C3%A1-lo%20um%20sistema%20exclusivamente%20civil%20law%2C%20mas%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20sistema%20h%C3%ADbrido%2C%20um%20brazilian%20lawe%20julgamento%20de%20demandas%20repetitivas.%0D%0A%0D%0AClaro%2C%20essas%20vozes%20n%C3%A3o%20s%C3%A3o%20un%C3%A2nimes%3B%20h%C3%A1%20tamb%C3%A9m%20quem%20defenda%20opini%C3%A3o%20diversa%3A%20instituir%20o%20respeito%20a%20alguns%20precedentes%20e%20provimentos%20vinculantes%20n%C3%A3o%20significa%20modificar%20a%20natureza%20de%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico.%20Mas%2C%20de%20forma%20geral%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20identificar%20no%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%20uma%20associa%C3%A7%C3%A3o%20forte%20entre%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20de%20qualquer%20natureza%20%E2%80%93%20como%20algo%20que%20n%C3%A3o%20nos%20pertence.%20Qualquer%20coisa%20al%C3%A9m%20da%20perspectiva%20decisionista%20do%20livre%20convencimento%20%C3%A9%20tida%20como%20incompat%C3%ADvel%20com%20nosso%20sistema%2C%20pelo%20que%20seria%20veemente%20a%20necessidade%20dessa%20reforma%20%E2%80%9Cimportada%E2%80%9D%20do%20common%20law.%20A%20salva%C3%A7%C3%A3o%20est%C3%A1%20l%C3%A1%20fora.%0D%0A%0D%0AEste%20trabalho%20defende%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20caminha%20para%20o%20common%20law%2C%20e%20que%20isso%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20apenas%20um%20problema%20sem%C3%A2ntico.%20Dizer%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20tornando%20common%20law%20%C3%A9%20cometer%2C%20pelo%20menos%2C%20dois%20erros%20fundamentais.%20Em%20primeiro%20lugar%2C%20significa%20adotar%20uma%20concep%C3%A7%C3%A3o%20excessivamente%20reducionista%20de%20civil%20law%20e%20de%20common%20law.%20Segundo%2C%20e%20mais%20grave%2C%20significa%20emprestar%20ao%20%E2%80%9Csistema%20brasileiro%20de%20precedentes%E2%80%9D%20uma%20legitimidade%20material%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20autom%C3%A1tica%2C%20mas%20precisa%20ser%20conquistada%20na%20pr%C3%A1tica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AII%20-%20Os%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20do%20mundo%20ocidental%3B%0D%0A%0D%0AO%20conceito%20de%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20no%20direito%20comparado%2C%20tem%20um%20prop%C3%B3sito%20eminentemente%20classificat%C3%B3rio.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20mesmo%20que%20falar%20em%20sistema%20jur%C3%ADdico%20no%20contexto%20do%20estudo%20de%20um%20determinado%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%20Nesse%20caso%2C%20a%20express%C3%A3o%20ganha%20um%20significado%20distinto%2C%20referindo-se%20ao%20conjunto%20de%20normas%20vigentes%20dentro%20de%20um%20determinado%20pa%C3%ADs%3B%20aqui%2C%20a%20express%C3%A3o%20sistema%20jur%C3%ADdico%20pode%20ser%20tomada%20como%20sin%C3%B4nimo%20de%20ordenamento%20jur%C3%ADdico.%0D%0A%0D%0AJ%C3%A1%20no%20direito%20comparado%2C%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20s%C3%A3o%20modelos%20ideais%2C%20baseados%20nas%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20que%20se%20apresentam%20em%20ordenamentos%20jur%C3%ADdicos%20distintos.%20Assim%2C%20dizer%20que%20determinado%20pa%C3%ADs%20adota%20um%20sistema%20de%20civil%20law%20n%C3%A3o%20significa%20dizer%20que%20ele%20seja%20exatamente%20igual%20aos%20outros%20que%20comp%C3%B5em%20o%20mesmo%20sistema.%20Falar%20e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recedentes%20%E2%80%93%20%E2%80%9Co%20common%20law%20facilmente%20vislumbrou%20que%20a%20certeza%20jur%C3%ADdica%20apenas%20poderia%20ser%20obtida%20mediante%20o%20stare%20decisis%E2%80%9D.%20Enfim%3A%20o%20common%20law%20tem%20peculiaridades%20que%20v%C3%A3o%20muito%20al%C3%A9m%20de%20um%20enfoque%20maior%20da%20lei%20criada%20pelo%20magistrado.%0D%0A%0D%0AAli%C3%A1s%2C%20mesmo%20sob%20esse%20ponto%20de%20vista%2C%20a%20rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20common%20law%20e%20o%20stare%20decisis%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20imune%20a%20cr%C3%ADticas.%20Primeiro%20porque%2C%20apesar%20das%20centenas%20de%20anos%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%2C%20ainda%20n%C3%A3o%20existe%20uma%20obra%20definitiva%20sobre%20a%20natureza%20do%20precedente%20judicial%2C%20nem%20sobre%20a%20origem%20da%20autoridade%20vinculante%2C%20que%20ainda%20s%C3%A3o%20frequentemente%20investigadas%20%28resgatando%2C%20assim%2C%20a%20cl%C3%A1ssica%20cr%C3%ADtica%20de%20Bentham%2C%20equiparando%20o%20direito%20jurisprudencial%20a%20regras%20de%20comportamento%20canino%20%E2%80%93%20dog%20law%29.%0D%0A%0D%0ANo%20nosso%20contexto%20atual%2C%20que%20v%C3%AA%20nos%20precedentes%20uma%20esp%C3%A9cie%20de%20v%C3%A1lvula%20de%20escape%20necess%C3%A1ria%20e%20inevit%C3%A1vel%20para%20o%20problema%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%2C%20parece%20estranho%20saber%20que%20o%20precedente%20judicial%20%C3%A9%20um%20fen%C3%B4meno%20ainda%20incompreendido%20dentro%20do%20pr%C3%B3prio%20common%20law.%20Igualmente%20peculiar%20%C3%A9%20descobrir%20que%20h%C3%A1%20correntes%20s%C3%A9rias%20de%20pesquisa%20nos%20pa%C3%ADses%20anglo-sax%C3%B5es%20defendendo%20uma%20mitiga%C3%A7%C3%A3o%20do%20stare%20decisis%20em%20favor%20do%20fortalecimento%20de%20uma%20codifica%C3%A7%C3%A3o%20nos%20moldes%20do%20civil%20law%20%E2%80%93%20n%C3%A3o%20seria%20esse%2C%20exatamente%2C%20o%20nosso%20problema%3F%20Isso%20deve%20ser%20interpretado%20como%20sinal%20claro%20de%20que%20o%20common%20law%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20sistema%20fechado%2C%20que%20j%C3%A1%20resolveu%20todos%20os%20seus%20problemas.%20A%20doutrina%20do%20precedente%20%E2%80%93%20que%20cogitamos%20importar%20e%20instaurar%20por%20meio%20de%20lei%20no%20nosso%20sistema%20%E2%80%93%20ainda%20vem%20sendo%20constantemente%20trabalhada%20e%20aprimorada%20na%20pr%C3%A1tica.%20Ela%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20%E2%80%9Cponto%20final%E2%80%9D%20no%20sistema%20do%20common%20law%2C%20e%20nem%20poder%C3%A1%20ser%20vista%20como%20tal%20dentro%20do%20ordenamento%20brasileiro.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AIV%20-%20A%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20brasileira%20e%20o%20impacto%20das%20decis%C3%B5es%20vinculantes%3B%0D%0A%0D%0ADemonstrou-se%20o%20que%20%C3%A9%20um%20sistema%20jur%C3%ADdico%2C%20na%20%C3%B3tica%20do%20direito%20comparado%2C%20e%20expuseram-se%20as%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20dos%20sistemas%20de%20common%20law%2C%20enquanto%20arqu%C3%A9tipos%20ideais.%20Falta%20analisar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20realmente%20nisso%20que%20o%20Brasil%20est%C3%A1%20se%20transformando%20%E2%80%93%20se%20%C3%A9%20que%20est%C3%A1%20se%20transformando%20mesmo%20em%20alguma%20coisa.%0D%0A%0D%0AEstudar%20para%20onde%20vai%20o%20Brasil%20exige%20que%20se%20entenda%20de%20onde%20ele%20parte.%20Zaneti%20Jr.%20aponta%20um%20%E2%80%9Cparadoxo%20metodol%C3%B3gico%E2%80%9D%20desde%20a%20origem%20do%20nosso%20sistema%3A%20a%20nossa%20ordem%20pol%C3%ADtico-constitucional%20%C3%A9%20de%20veia%20republicana%20e%20federativa%2C%20inspirada%20no%20modelo%20norte-americano%2C%20enquanto%20os%20demais%20ramos%20do%20direito%20infraconstitucional%2C%20privado%20e%20p%C3%BAblico%20%28inclusive%20o%20direito%20processual%29%2C%20s%C3%A3o%20tipicamente%20romano-germ%C3%A2nicos.%20Apesar%20dessa%20constru%C3%A7%C3%A3o%20mista%2C%20que%20poderia%20levar%20%C3%A0%20compreens%C3%A3o%20de%20que%20j%C3%A1%20ser%C3%ADamos%20um%20pouco%20common%20law%2C%20%C3%A9%20essa%20veia%20romano-germ%C3%A2nica%20que%20inspira%20o%20funcionamento%20e%20o%20m%C3%A9todo%20do%20nosso%20Judici%C3%A1rio.%20Por%20isso%2C%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel%20classificar%20o%20direito%20brasileiro%2C%20assim%20como%20os%20demais%20sistemas%20jur%C3%ADdicos%20latino-americanos%2C%20como%20um%20sistema%20de%20civil%20law.%0D%0A%0D%0ADe%20fato%2C%20o%20sistema%20brasileiro%20%C3%A9%20influenciado%20pela%20vis%C3%A3o%20positivista%20focada%20no%20Poder%20Legislativo%20como%20foco%20produtor%20de%20normas%20jur%C3%ADdicas%2C%20decorrente%20da%20Revolu%C3%A7%C3%A3o%20Francesa%2C%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20neutra%20e%20imparcial%20do%20direito%20pelo%20juiz%2C%20que%20se%20limitava%20a%20simplesmente%20ditar%20a%20vontade%20concreta%20da%20lei%20%E2%80%93%20que%2C%20por%20sua%20pr%C3%B3pria%20natureza%2C%20era%20um%20texto%20geral%20e%20abstrato%29.%0D%0A%0D%0AA%20base%20filos%C3%B3fica%20brasileira%2C%20assim%2C%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20a%20de%20cria%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20pelos%20tribunais%2C%20mas%20a%20da%20cren%C3%A7a%20na%20univocidade%20da%20lei%20e%20do%20juiz%20como%20mero%20aplicador%20neutro%20do%20direito.%20Nosso%20sistema%20%C3%A9%20constru%C3%ADdo%20tendo%20por%20base%20a%20legitimidade%20democr%C3%A1tica%20do%20direito%20produzido%20pelos%20representantes%20do%20povo%2C%20e%20no%20juiz%20enquanto%20aplicador.%20Por%20outro%20lado%2C%20o%20avan%C3%A7o%20da%20teoria%20do%20direito%20dos%20pa%C3%ADses%20de%20civil%20law%2C%20apoiado%20nas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20interpretativas%20p%C3%B3s-positivistas%2C%20reconheceu%20a%20impossibilidade%20de%20aplicar%20o%20texto%20normativo%20como%20tendo%20sentido%20em%20si%20pr%C3%B3prio.%20A%20renovada%20for%C3%A7a%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20%E2%80%93%20que%20levou%20alguns%20te%C3%B3ricos%20a%20falarem%20em%20legisprudence%2C%20que%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20nem%20s%C3%B3%20legisla%C3%A7%C3%A3o%2C%20nem%20s%C3%B3%20jurisprud%C3%AAncia%20%E2%80%93%20%C3%A9%20decorr%C3%AAncia%20desse%20fen%C3%B4meno.%0D%0A%0D%0AAl%C3%A9m%20de%20uma%20necessidade%20te%C3%B3rica%2C%20decorrente%20da%20necessidade%20de%20tratar%20o%20jurisdicionado%20com%20isonomia%20e%20diminuir%20o%20efeito%20nocivo%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%20fragmentadas%2C%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20for%C3%A7a%20da%20jurisprud%C3%AAncia%20no%20civil%20law%20brasileiro%20tamb%C3%A9m%20%C3%A9%20uma%20forma%20de%20lidar%20com%20a%20litigiosidade%20repetitiva%20que%20prejudica%20o%20bom%20funcionamento%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio.%0D%0A%0D%0ADesde%201963%2C%20quando%20foi%20criado%20o%20instituto%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20j%C3%A1%20se%20fala%20na%20recep%C3%A7%C3%A3o%20da%20f%C3%B3rmula%20do%20stare%20decisis%20pelo%20ordenamento%20brasileiro%3B%20os%20principais%20coment%C3%A1rios%20e%20justificativas%20doutrin%C3%A1rias%20para%20os%20institutos%20da%20repercuss%C3%A3o%20geral%20e%20da%20s%C3%BAmula%20vinculante%2C%20tidos%20a%20partir%20da%20Emenda%20Constitucional%20n.%2045%2F2004%2C%20tamb%C3%A9m%20afirmavam%20serem%20ambos%20institutos%20de%20veia%20tipicamente%20anglo-sax%C3%A3.%20E%20o%20CPC%20de%202015%2C%20especialmente%20em%20seus%20arts.%20926%20e%20927%2C%20instituiu%20um%20rol%20de%20provimentos%20judiciais%20que%20s%C3%A3o%20vinculantes%20para%20o%20%C3%B3rg%C3%A3o%20que%20os%20proferiu%20e%20aqueles%20hierarquicamente%20subordinados.%20Trata-se%2C%20assim%2C%20da%20coroa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tend%C3%AAncia%20decorrente%20da%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20hist%C3%B3rica%20natural%20do%20sistema%20brasileiro.%0D%0A%0D%0AEsse%20conjunto%20de%20decis%C3%B5es%20vinculantes%2C%20estruturados%20como%20normas%20jur%C3%ADdicas%20emitidas%20pelo%20Judici%C3%A1rio%2C%20p%C3%B5e%20em%20conflito%20duas%20concep%C3%A7%C3%B5es%20de%20precedente%3A%20de%20um%20lado%2C%20garantidor%20da%20isonomia%20formal%2C%20e%2C%20de%20outro%2C%20um%20modo%20de%20resolver%20rapidamente%20causas%20repetitivas%20que%20afogam%20o%20Judici%C3%A1rio%2C%20%E2%80%93%20conflito%20que%20pode%20tamb%C3%A9m%20ser%20posto%20como%20uma%20contraposi%C3%A7%C3%A3o%20entre%20racionalidade%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20e%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica%20do%20precedente.%20O%20precedente%20com%20for%C3%A7a%20vinculante%20ope%20legis%2C%20estruturado%20por%20meio%20de%20provimentos%20judiciais%20obrigat%C3%B3rios%20%28sem%20aten%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0s%20raz%C3%B5es%20fundamentais%20de%20decidir%29%2C%20%C3%A9%20emblem%C3%A1tico%20dessa%20segunda%20concep%C3%A7%C3%A3o.%20Em%20linhas%20gerais%2C%20%C3%A9%20esse%20o%20estado%20da%20arte%20do%20precedente%20judicial%20no%20Brasil%3B%20resta%20investigar%2C%20ent%C3%A3o%2C%20se%20esse%20%E2%80%9Cdesvirtuamento%E2%80%9D%20do%20civil%20law%20padr%C3%A3o%20%C3%A9%20raz%C3%A3o%20suficiente%20para%20se%20dizer%20que%20o%20Brasil%20estaria%20passando%20por%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%20sist%C3%AAmica.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AV%20-%20O%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20se%20transformando%20em%20common%20law%3B%0D%0A%0D%0AA%20pretens%C3%A3o%20de%20diferenciar%20common%20law%20e%20civil%20law%20simplesmente%20pela%20origem%20da%20norma%20jur%C3%ADdica%20%E2%80%93%20constru%C3%ADda%20judicialmente%20no%20primeiro%20caso%20e%20pela%20lei%20escrita%20no%20segundo%20%E2%80%93%20%C3%A9%20tentadora%20pela%20simplicidade%20e%20pela%20did%C3%A1tica.%20Essa%20diferen%C3%A7a%20b%C3%A1sica%20de%20fato%20existe%2C%20mas%20%C3%A9%20uma%20quest%C3%A3o%20cultural%2C%20muito%20mais%20do%20que%20um%20problema%20simples%20de%20fonte%20do%20direito.%20Definir%20o%20common%20law%20pela%20falta%20de%20um%20c%C3%B3digo%20legislativo%20organizado%20%C3%A9%20aderir%20a%20um%20modelo%20ideal%20de%20common%20law%20que%20n%C3%A3o%20corresponde%20%C3%A0%20realidade%20daqueles%20pa%C3%ADses.%20Trata-se%2C%20em%20suma%2C%20de%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20elegantemente%20errada%20para%20um%20problema%20complexo.%20A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20no%20common%20law%20nos%20%C3%BAltimos%20anos%20tem%20sido%20significativa%2C%20a%20ponto%20de%20a%20lei%20feita%20unicamente%20pelos%20ju%C3%ADzes%20hoje%20constituir%20a%20exce%C3%A7%C3%A3o%2C%20n%C3%A3o%20a%20regra%20%E2%80%93%20v%C3%AAm%20aumentando%20a%20confian%C3%A7a%20que%20depositam%20nas%20decis%C3%B5es%20passadas%20dos%20tribunais%20como%20fonte%20de%20direito.%0D%0A%0D%0A%C3%80%20primeira%20vista%2C%20ent%C3%A3o%2C%20a%20divis%C3%A3o%20pelo%20ponto%20de%20vista%20lei%20vs.%20precedente%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20suficiente%20para%20dar%20conta%20da%20diferen%C3%A7a%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20Segundo%20Taruffo%2C%20o%20mesmo%20se%20pode%20dizer%20de%20outro%20crit%C3%A9rios%20tradicionais%20de%20separa%C3%A7%C3%A3o%2C%20que%20contrap%C3%B5e%20os%20sistemas%20de%20civil%20law%20e%20common%20law%20como%20predominantemente%20orais%20ou%20escritos%2C%20respectivamente%3B%20ou%2C%20ainda%2C%20com%20olhos%20ao%20tipo%20de%20processo%2C%20se%20adversarial%20ou%20inquisitorial.%0D%0A%0D%0AAssim%20como%20a%20dicotomia%20de%20fontes%2C%20essas%20oposi%C3%A7%C3%B5es%20simples%20n%C3%A3o%20d%C3%A3o%20conta%20de%20toda%20a%20complexidade%20que%20separa%20os%20dois%20sistemas.%20As%20diferen%C3%A7as%20entre%20os%20dois%20s%C3%A3o%20hist%C3%B3ricas%20e%20comportamentais%2C%20vinculadas%20ao%20modo%20como%20cada%20um%20deles%20foi%20constru%C3%ADdo%2C%20e%20a%20como%20se%20enxerga%20e%20se%20aplica%20o%20direito%20e%20os%20precedentes.%20Talvez%20a%20principal%20caracter%C3%ADstica%20que%20realmente%20diferencie%20os%20dois%20sistemas%2C%20pelo%20menos%20do%20ponto%20de%20vista%20da%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%2C%20seja%20a%20cultura%20argumentativa%20constru%C3%ADda%20nos%20pa%C3%ADses%20de%20common%20law%20como%20requisito%20para%20a%20adequada%20operacionaliza%C3%A7%C3%A3o%20da%20cultura%20de%20precedentes.%0D%0A%0D%0AH%C3%A1%20diferen%C3%A7as%20fundamentais%20entre%20as%20ferramentas%20de%20objetiva%C3%A7%C3%A3o%20processual%20adotadas%20pelo%20legislador%20brasileiro%20e%20um%20real%20sistema%20argumentativo%20de%20precedentes%20que%20se%20preocupe%20com%20a%20constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20decis%C3%A3o%20judicial%20com%20integridade.%20Enquanto%20isso%2C%20o%20juiz%20brasileiro%20que%20se%20deparar%20com%20algum%20pronunciamento%20vinculante%2C%20dever%C3%A1%20acompanhar%20aquele%20entendimento%2C%20por%20for%C3%A7a%20da%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa.%20Essa%20%C3%A9%20a%20primeira%20e%20mais%20elementar%20das%20diferen%C3%A7as%20%E2%80%93%20mas%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20significa.%20N%C3%A3o%20%C3%A9%20dif%C3%ADcil%20imaginar%20um%20efetivo%20sistema%20de%20precedentes%20que%20tenha%20sua%20g%C3%AAnese%20numa%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20normativa%2C%20desde%20que%20seja%20aplicado%20racional%20e%20argumentativamente.%0D%0A%0D%0AA%20real%20diferen%C3%A7a%20reside%20no%20m%C3%A9todo.%20Os%20provimentos%20vinculantes%20no%20direito%20brasileiro%20se%20estruturam%20como%20enunciados%20normativos.%20N%C3%A3o%20h%C3%A1%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20com%20as%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20o%20juiz%20a%20tomar%20determinada%20decis%C3%A3o%2C%20nem%20com%20os%20princ%C3%ADpios%20jur%C3%ADdicos%20que%20o%20orientaram%2C%20mas%20apenas%20com%20o%20resultado%20final%20do%20julgamento%2C%20traduzido%20%E2%80%93%20pelo%20pr%C3%B3prio%20julgador%20%E2%80%93%20num%20enunciado%20geral%20e%20abstrato%2C%20nos%20moldes%20de%20uma%20norma.%20Como%20se%20esse%20enunciado%20judicial%20fosse%20resultado%20de%20um%20processo%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o%20da%20lei%20e%20n%C3%A3o%20dependesse%2C%20ele%20pr%C3%B3prio%2C%20de%20interpreta%C3%A7%C3%A3o.%20Trabalhamos%20com%20precedentes%20da%20mesma%20forma%20que%20trabalhamos%20com%20a%20lei%2C%20esperando%2C%20no%20fundo%2C%20que%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%20se%20d%C3%AA%20por%20mera%20subsun%C3%A7%C3%A3o.%20Evolu%C3%ADmos%2C%20assim%2C%20do%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-lei%E2%80%9D%20ao%20%E2%80%9Cjuiz%20boca-da-s%C3%BAmula%E2%80%9D.%20Por%20isso%2C%20a%20figura%20das%20s%C3%BAmulas%2C%20assim%20como%20das%20s%C3%BAmulas%20vinculantes%2C%20acoplou-se%20com%20facilidade%20ao%20imagin%C3%A1rio%20jur%C3%ADdico%20brasileiro%2C%20criando%20como%20que%20um%20%E2%80%9Cstare%20decisis%20%C3%A0%20brasileira%E2%80%9D.%0D%0A%0D%0AEnquanto%20isso%2C%20a%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20precedentes%20no%20common%20law%20%C3%A9%20argumentativa%3A%20o%20que%20vincula%20os%20casos%20subsequentes%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20uma%20regra%20geral%20anunciada%20pelo%20juiz%20do%20precedente%2C%20mas%20a%20raz%C3%A3o%20fundamental%20de%20decidir%20%28ratio%20decidendi%29%2C%20que%20cabe%20ao%20julgador%20do%20caso%20futuro%20extrair.%20Assim%2C%20tal%20aplica%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20necessariamente%20pr%C3%A1tica%20e%20argumentativa%3A%20ao%20juiz%20n%C3%A3o%20basta%20aplicar%20uma%20resposta%20pr%C3%A9-moldada%2C%20mas%20sim%20estudar%20os%20princ%C3%ADpios%20que%20orientaram%20a%20decis%C3%A3o%20anterior%20e%20aplic%C3%A1-los%2C%20de%20forma%20coerente%2C%20ao%20caso%20atual%2C%20e%20n%C3%A3o%20apenas%20numa%20lista%20de%20decis%C3%B5es%20que%20s%C3%A3o%20isoladamente%20vinculantes.%0D%0A%0D%0AIsso%20n%C3%A3o%20pressup%C3%B5e%20que%20estejamos%20nos%20tornando%2C%20muito%20menos%20que%20precisemos%20nos%20tornar%2C%20um%20pa%C3%ADs%20de%20common%20law.%20Precisamos%20%E2%80%93%20isso%20sim%20%E2%80%93%20desenvolver%20uma%20cultura%20argumentativa%20de%20precedentes%20coerente%20com%20o%20nosso%20civil%20law.%20De%20outro%20lado%2C%20nos%20contentaremos%20com%20um%20%E2%80%9Csistema%20de%20precedentes%E2%80%9D%20voltado%20n%C3%A3o%20%C3%A0%20constru%C3%A7%C3%A3o%20do%20direito%20com%20integridade%20e%20coer%C3%AAncia%20interna%2C%20mas%20como%20mera%20t%C3%A9cnica%20de%20julgamento%20de%20casos%20repetitivos%2C%20que%20afoga%20as%20peculiaridades%20de%20cada%20caso%20concreto%20e%2C%20junto%20com%20elas%2C%20o%20pr%C3%B3prio%20direito.%0D%0A%0D%0ADecidir%20com%20racionalidade%20sist%C3%AAmica%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20requisito%20operacional%20de%20uma%20ou%20de%20outra%20fam%C3%ADlia%20jur%C3%ADdica%20espec%C3%ADfica%2C%20mas%20pressuposto%20l%C3%B3gico%20universal.%20O%20direito%20n%C3%A3o%20pode%20servir%20apenas%20para%20resolver%20os%20problemas%20do%20Poder%20Judici%C3%A1rio%3B%20a%20administra%C3%A7%C3%A3o%20da%20justi%C3%A7a%20n%C3%A3o%20pode%20se%20transformar%20num%20fim%20em%20si%20pr%C3%B3pria.%20Por%20isso%2C%20afirmar%20que%20o%20Brasil%20se%20tornou%20common%20law%20%C3%A9%20uma%20grave%20indu%C3%A7%C3%A3o%20a%20erro%2C%20porque%20se%20faz%20crer%20que%20essa%20cultura%20argumentativa%20j%C3%A1%20teria%20sido%20alcan%C3%A7ada.%20%C3%89%20como%20dizer%20que%20a%20vincula%C3%A7%C3%A3o%20decis%C3%B3ria%20de%20origem%20normativa%20teria%20o%20cond%C3%A3o%20de%20fazer%20com%20que%20as%20coisas%20aqui%20se%20tornassem%20iguais%20%C3%A0s%20coisas%20l%C3%A1%2C%20desonerando%20o%20operador%20jur%C3%ADdico%20do%20compromisso%20intelectual%20necess%C3%A1rio%20para%20resolver%20os%20nossos%20problemas%2C%20que%20s%C3%A3o%20peculiares%20e%20exclusivamente%20nossos.%0D%0A%0D%0AIsso%20porque%20a%20tal%20%E2%80%9Cjurisprud%C3%AAncia%20lot%C3%A9rica%E2%80%9D%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20problema%20isolado.%20Est%C3%A1%20inserida%20num%20contexto%20muito%20maior%2C%20de%20crise%20do%20pr%C3%B3prio%20direito.%20O%20que%20se%20p%C3%B5e%20em%20jogo%20%C3%A9%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais%2C%20que%20decorre%20da%20falta%20de%20fundamenta%C3%A7%C3%A3o%20racional%2C%20e%20transforma%20a%20decis%C3%A3o%20num%20ato%20n%C3%A3o%20de%20direito%2C%20mas%20de%20poder.%20O%20jurisdicionado%20se%20v%C3%AA%20na%20angustiante%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20n%C3%A3o%20saber%20o%20que%20diz%20o%20direito%2C%20porque%20a%20lei%2C%20por%20si%20s%C3%B3%2C%20nada%20vale%20%E2%80%93%20o%20que%2C%20em%20ampla%20medida%2C%20se%20relaciona%20com%20o%20fen%C3%B4meno%20da%20infla%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%2C%20t%C3%ADpico%20do%20final%20do%20s%C3%A9c.%20XX%20e%20do%20come%C3%A7o%20do%20s%C3%A9c.%20XXI%3A%20%C3%A9%20muito%20dif%C3%ADcil%20extrair%20sentido%20de%20uma%20produ%C3%A7%C3%A3o%20legislativa%20extensa%2C%20fracionada%20e%20contradit%C3%B3ria.%0D%0A%0D%0AE%20a%20solu%C3%A7%C3%A3o%20que%20o%20sistema%20prop%C3%B5e%20para%20esse%20problema%20%C3%A9%20tornar%20vinculantes%20e%20indiscut%C3%ADveis%20esses%20mesmos%20provimentos%20judiciais.%20Tudo%20sob%20o%20manto%20legitimador%20da%20ideia%20de%20que%20funciona%20assim%20no%20common%20law%2C%20e%20funciona%20bem%2C%20ent%C3%A3o%20funcionar%C3%A1%20bem%20aqui.%20%C3%89%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20confort%C3%A1vel%20a%20curto%20prazo%2C%20admite-se.%20Num%20cen%C3%A1rio%20onde%20o%20mosaico%20de%20entendimentos%20jurisprudenciais%20n%C3%A3o%20permite%20que%20se%20conhe%C3%A7a%20adequadamente%20o%20que%20%C3%A9%20a%20lei%20vigente%20no%20pa%C3%ADs%2C%20a%20fixa%C3%A7%C3%A3o%20de%20uma%20tese%2C%20qualquer%20que%20seja%2C%20traz%20seguran%C3%A7a%20jur%C3%ADdica.%20Mesmo%20que%20n%C3%A3o%20represente%20a%20melhor%20resposta%2C%20nem%20tenha%20legitimidade%20racional%2C%20ela%20resolve%20a%20diverg%C3%AAncia%2C%20por%20ter%20for%C3%A7a%20vinculante%20legal.%20Pode%20n%C3%A3o%20ser%20a%20melhor%20resposta%2C%20mas%20%C3%A9%20alguma%20resposta%2C%20situa%C3%A7%C3%A3o%20mais%20vantajosa%20do%20que%20o%20cen%C3%A1rio%20fracionado%20e%20imprevis%C3%ADvel%20que%20temos%20hoje.%0D%0A%0D%0AEm%20meio%20%C3%A0%20crise%20na%20constru%C3%A7%C3%A3o%20de%20respostas%20judiciais%20adequadas%2C%20que%20p%C3%B5e%20em%20xeque%20a%20pr%C3%B3pria%20legitimidade%20da%20jurisdi%C3%A7%C3%A3o%20das%20decis%C3%B5es%20judiciais.%0D%0A%0D%0APor%20isso%2C%20%C3%A9%20preciso%20defender%20com%20veem%C3%AAncia%20que%20o%20Brasil%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20trocando%20de%20tradi%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica.%20Evitamos%2C%20assim%2C%20o%20erro%20de%20estudar%20os%20precedentes%20vinculantes%20daqui%20com%20uma%20simples%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20de%20como%20eles%20funcionam%20l%C3%A1%20%E2%80%93%20como%20se%20apreender%20os%20conceitos%20de%20ratio%20decidendi%20e%20distinguishing%20e%20overruling%20a%20partir%20de%20autores%20americanos%20e%20ingleses%20fosse%20suficiente%20para%20compreender%20a%20nossa%20jurisprud%C3%AAncia%20vinculante%2C%20esquecendo%20a%20enorme%20diferen%C3%A7a%20metodol%C3%B3gica%20e%20cultural%20que%20existe%20entre%20os%20dois%20sistemas.%20O%20rol%20de%20provimentos%20vinculantes%20do%20art.%20927%20do%20CPC%20n%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20instituto%20derivado%20do%20common%20law%2C%20mesmo%20que%20a%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20da%20entidade%20abstrata%20que%20chamamos%20de%20%E2%80%9Co%20legislador%E2%80%9D%20tenha%20sido%20o%20modelo%20anglo-sax%C3%A3o%20de%20stare%20decisis.%20H%C3%A1%20uma%20enorme%20diferen%C3%A7a%20entre%20importar%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20e%20construir%20um%20conceito%20jur%C3%ADdico%20novo%20com%20inspira%C3%A7%C3%A3o%20em%20alguma%20experi%C3%AAncia%20estrangeira.%20Disso%20se%20retira%20a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20redobrada%20que%20o%20jurista%20brasileiro%20deve%20ter%20com%20os%20conceitos%20operacionais%20de%20supera%C3%A7%C3%A3o%20e%2C%20especialmente%2C%20de%20distin%C3%A7%C3%A3o%20do%20precedente%2C%20alinhando-os%20a%20uma%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20estudos%20interpretativos%20da%20pr%C3%B3pria%20lei.%0D%0A%0D%0AA%20solu%C3%A7%C3%A3o%2C%20se%20%C3%A9%20que%20h%C3%A1%2C%20n%C3%A3o%20est%C3%A1%20muito%20longe.%20%C3%89%20preciso%20aplicar%20o%20c%C3%B3digo%20como%20um%20todo%2C%20n%C3%A3o%20em%20tiras.%20N%C3%A3o%20existe%20art.%20927%20%28rol%20de%20provimentos%20vinculantes%29%20sem%20art.%20926%20%28dever%20de%20estabilidade%2C%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20da%20jurisprud%C3%AAncia%29.%20N%C3%A3o%20existe%20sistema%20de%20precedentes%20sem%20preocupa%C3%A7%C3%A3o%20em%20construir%2C%20argumentativamente%2C%20respostas%20judiciais%20que%20guardem%20coer%C3%AAncia%20e%20integridade%20principiol%C3%B3gica%2C%20extraindo%20motivos%20determinantes%20e%20realizando%20distin%C3%A7%C3%B5es%20e%20supera%C3%A7%C3%B5es%20quando%20for%20adequado%20%28art.%20489%2C%20%C2%A7%201%C2%BA%29.%20Obriga%C3%A7%C3%A3o%20do%20juiz%2C%20das%20partes%2C%20do%20Minist%C3%A9rio%20P%C3%BAblico%20%E2%80%93%20de%20todos%20os%20atores%20processuais.%20Dever%20de%20coopera%C3%A7%C3%A3o%2C%20enfim%20%28art.%206%C2%BA%29.%0D%0A%0D%0ANada%20disso%20nos%20obriga%20a%20importar%20qualquer%20coisa%20do%20common%20law.%20Est%C3%A1%20tudo%20l%C3%A1%2C%20no%20pr%C3%B3prio%20CPC.%20Basta%20aplic%C3%A1-lo.%0D%0A%0D%0AEm%20suma%3A%20existe%20um%20abismo%20de%20diferen%C3%A7a%20entre%20afirmar%2C%20como%20fazem%20Marinoni%2C%20que%20existe%20uma%20converg%C3%AAncia%20te%C3%B3rica%20e%20metodol%C3%B3gica%20entre%20os%20dois%20sistemas%2C%20em%20rela%C3%A7%C3%A3o%20a%20alguns%20de%20seus%20institutos%20fundamentais%2C%20e%20dizer%20que%20est%C3%A1%20havendo%20uma%20efetiva%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20e%20que%2C%20a%20partir%20do%20CPC%20de%202015%2C%20podemos%20passar%20a%20estudar%20o%20Direito%20no%20Brasil%20como%20se%20estiv%C3%A9ssemos%20na%20Inglaterra%20ou%20nos%20Estados%20Unidos.%20Colocando%20da%20primeira%20forma%2C%20convidamos%20um%20estudo%20dos%20institutos%20argumentativos%20muito%20bem%20desenvolvidos%20no%20common%20law%20e%20observamos%20os%20cuidados%20constantes%20daquele%20sistema%20com%20a%20legitima%C3%A7%C3%A3o%20racional%20do%20processo%20decis%C3%B3rio%2C%20que%20contrastam%20violentamente%20com%20a%20pretens%C3%A3o%20padronizadora%20do%20processo%20civil%20objetivo%20brasileiro.%20Se%2C%20por%20outro%20lado%2C%20entendermos%20que%20houve%20uma%20transforma%C3%A7%C3%A3o%2C%20corremos%20o%20risco%20de%20nos%20satisfazermos%20com%20o%20estado%20atual%20de%20coisas%2C%20privando%20o%20sistema%20do%20necess%C3%A1rio%20choque%20paradigm%C3%A1tico%20que%20for%C3%A7a%20a%20adapta%C3%A7%C3%A3o%20intelectual.%0D%0A%0D%0A%26nbsp%3B%0D%0A%0D%0AVI%20-%20Conclus%C3%A3o%3B%0D%0A%0D%0AEste%20breve%20ensaio%20n%C3%A3o%20deve%20ser%20tomado%20como%20um%20ataque%20a%20qualquer%20associa%C3%A7%C3%A3o%20did%C3%A1tica%20entre%20o%20sistema%20brasileiro%20e%20o%20common%20law%2C%20nem%2C%20muito%20menos%2C%20como%20uma%20cruzada%20contra%20autores%20e%20autoras%20defensores%20dessa%20guinada%20metodol%C3%B3gica.%20Pretendi%20fazer%2C%20na%20verdade%2C%20uma%20ressalva%20metodol%C3%B3gica%3A%20n%C3%A3o%20estamos%20importando%20nenhum%20instituto%20do%20common%20law.%20Os%20precedentes%20constru%C3%ADdos%20no%20Brasil%20a%20partir%20do%20nosso%20sistema%2C%20e%20para%20o%20nosso%20sistema%2C%20n%C3%A3o%20podem%20ser%20justificados%20pelas%20mesmas%20raz%C3%B5es%20que%20levaram%20os%20ju%C3%ADzes%20da%20Inglaterra%20do%20s%C3%A9c.%20XII%20a%20respeitar%20as%20decis%C3%B5es%20anteriores%2C%20nem%20podem%20ser%20explicados%20a%20partir%20de%20teorias%20pensadas%20internamente%20para%20o%20modelo%20americano.%0D%0A%0D%0ANecess%C3%A1ria%20ressalva%3A%20isso%20n%C3%A3o%20quer%20dizer%20que%20n%C3%A3o%20possamos%20estudar%20obras%20de%20hermen%C3%AAutica%2C%20argumenta%C3%A7%C3%A3o%20jur%C3%ADdica%20e%20teoria%20do%20direito%20escritas%20por%20autores%20anglo-sax%C3%B4nicos.%20Obras%20que%20estudam%20o%20fen%C3%B4meno%20jur%C3%ADdico%20com%20um%20ponto%20de%20vista%20externo%20s%C3%A3o%20leitura%20essencial%20para%20se%20construir%20adequadamente%20o%20processo%20argumen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