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Os rins desempenham três funções básicas no organismo: ▪ Filtram e excretam produtos metabólicos e toxinas do sangue através da urina; ▪ Regulam o equilíbrio de fluidos e eletrólitos sanguíneo, além do mecanismo de equilíbrio ácido-base; ▪ Desempenham papel endócrino, produzindo hormônios relacionados à hematopoese, metabolismo de cálcio e regulação da pressão arterial. Anatomia Funcional Os rins são órgãos pares, em forma de feijão, com o peso aproximado de 200-300g cada, retroperitoneais, se estendendo da topografia da vértebra T12 à vértebra L3. São recobertos por uma cápsula fibrosa de tecido conjuntivo denso frouxamente ligada ao parênquima renal, e possuem um hilo, por onde entram a artéria renal e nervos, e de onde saem a veia renal, vasos linfáticos e os ureteres. Um corte do rim revela duas camadas: ▪ Córtex: mais exterior e de aspecto granular. Nesta camada funcional há grande presença de glomérulos e de estruturas epiteliais enoveladas em forma de túbulos; ▪ Medula: mais interna e de coloração mais escura. É subdividida em 8 a 18 pirâmides renais, cujos topos terminam na pelve renal. Apesar de representar apenas 0,5% do total do peso corpóreo, os rins recebem cerca de 20% do total do débito cardíaco. É exatamente esse fato que permite aos rins formar um ultrafiltrado nos glomérulos. Somente para se ter uma idéia inicial da sequência de elementos vasculares renais, temos: Arteríola aferente - Rede capilar glomerular - Arteríola eferente - Rede capilar peritubular Unidade Funcional do Rim: O Néfron Cada rim possui em média de 800.000 a 1.000.000 de néfrons, que consistem em: ▪ Um Glomérulo: conjunto de vasos sanguíneos a partir dos quais se forma o filtrado; ▪ Um Túbulo: estrutura epitelial com muitas subdivisões que convertem o filtrado sanguíneo em urina Essas duas estruturas encontram-se na cápsula de Bowmann, que envolve o glomérulo e contem o espaço de Bowmann, onde o filtrado passa do sistema vascular para o sistema tubular. Existem dois grupos de Néfrons: ▪ Superficiais: possuem curtas extremidades, situando-se no córtex, e indo até a fronteira medular; ▪ Justamedulares: desempenham importante papel na produção de urina concentrada. Anatomicamente, se estendem até o topo da medula. Componentes do Corpúsculo Renal O corpúsculo renal, outrora chamado “corpúsculo de Malpighi”, é a estrutura formada pelo glomérulo e pela cápsula de Bowmann, que reveste cada um dos glomérulos. Fisiologia do sistema renal Abordando o corpúsculo renal em sua estrutura celular/histológica tem-se: ▪ Membrana Basal Glomerular (MBG), que se compõe de três camadas (lâmina rara interna, lâmina densa e lâmina rara externa). Essa membrana está localizada entre células endoteliais e os processos dos podócitos e separa a camada endotelial da camada epitelial em todo o glomérulo. Entretanto, sua mais marcada função é desempenhada como uma barreira funcional de filtração, restringindo a passagem de grandes moléculas para o filtrado. Essa estrutura é bastante afetada em algumas doenças auto-imunes e infecciosas; ▪ Células Mesangiais, que secretam matriz extracelular (MEC) e dão suporte físico aos capilares glomerulares; ▪ Mácula Densa, que é uma região de células epiteliais especializadas da porção final da alça de Henle (parte espessa ascendente) que se conecta ao glomérulo. É bastante sensível às alterações de osmolaridade, principalmente à concentração de NaCl. Uma baixa no volume de água corporal é detectada pela Mácula Densa, que produz sinais moleculares que, por sua vez, promovem a secreção de renina por outras regiões do aparelho justaglomerular. ▪ Células Justaglomerulares, também conhecidas como células granulosas, estão presentes na parede da arteríola aferente e produzem, estocam e liberam renina. Componentes Tubulares do Néfron Túbulo Proximal Pode ser dividido em parte contorcida e parte reta. Suas células contem lisossomos, vacúolos endocíticos e retículo endoplasmático bem desenvolvidos, além de grande quantidade de aparelhos de Golgi. É onde 65% do NaCl e da água são reabsorvidos, e onde o cálcio também tem sua reabsorção de forma passiva. Aqui também ocorre a reabsorção de cerca de 90% do bicarbonato, de toda a glicose e aminoácidos, uréia, ácido úrico, potássio e magnésio. Secreta uratos e creatinina, além de excretar drogas ligadas a proteínas tóxicas; Alça de Henle Possui as partes descendente, ascendente delgada e ascendente espessa. Suas células são bem menos complexas estruturalmente que as do Túbulo Proximal. Desempenha um importante papel gerando um meio hiperosmótico no interstício renal. Responsável pela reabsorção de 25-35% do NaCl, e onde o Magnésio entra em contratransporte com o Potássio. O ramo espesso ascendente é impermeável à água. É o principal alvo dos diuréticos mais potentes, ditos diuréticos de alça (Duuh!); Túbulo Contorcido Distal Inicia-se na mácula densa e termina na transição com o túbulo conector. É permeável à água na presença e ADH. Regula de forma ativa a excreção de cálcio. Há grande hetero-geneidade de células; Túbulo Conector Termina na transição com o tubo coletor. Suas células produzem a calicreína renal; Túbulo Coletor Possui dois segmentos, um coletor inicial e um coletor medular. É uma zona responsável pelo equilíbrio, já que é aqui o local de ação do ADH e a Aldosterona. Na sua porção cortical há secreção de H+ e reabsorção de K+, podendo também secretar HCO3-. É na sua porção medular que ocorre a modificação final da urina, onde, dependendo da composição original desta, pode haver reabsorção de NaCl, água, uréia; secreção de H+ e NH3; e secreção ou reabsorção de K+. As células principais possuem um cílio central. Principais Elementos da Função Renal A principal função dos elementos tubulares do rim é recuperar a maior parte do fluido e dos solutos filtrados inicialmente nos glomérulos. A recuperação da maior parte do filtrado ocorre no túbulo proximal, que absorve NaCl e NaHCO3, assim como volume de água (ativamente). Também absorve glicose e aminoácidos, assim com Ca2+, HPO42- e SO42-. O túbulo proximal também regula o equilíbrio ácido-base, reabsorvendo HCO3- e secretando NH4+. A principal função da alça de Henle é a formação de urina concentrada ou diluída, dependendo das condições corpóreas sistêmicas, através da bomba de Na+/Cl-. A principal função do Túbulo Contorcido Distal e do Túbulo Coletor é o controle fino de excreção de sal e água. Como já dito, são os principais sítios de atuação da vasopressina e da aldosterona. Mecanismos Regulatórios do Aparelho Justaglomerular Existem dois mecanismos básicos de regulação exercidos pelo aparelho justaglomerular que se deve ter em mente. São eles: I. Um aumento na concentração de NaCl (observado pela Mácula Densa) leva a uma diminuição da taxa de filtração glomerular, através de uma vasocontrição da arteríola aferente. II. Uma diminuição da Pressão Arterial (observada em nível da artéria renal) leva à liberação de Renina, e toda a cascata do sistema Renina-Angiotensina- Aldosterona, que, por sua vez, desempenham diversos mecanismos para o aumento da Pressão Arterial Sistêmica, como vasoconstrição arterial, aumento da reab-sorção de Na+ e água. Controle Nervoso dos Rins O importante a se saber deste tópico é que toda a inervação autonômica do rim é exclusivamente simpática, originando-se no plexo celíaco. Principais efeitos da liberação das catecolaminas de origem simpática: ▪ Vasocontrição ▪ Aumento da Reabsorção de Na+ no TCP ▪ Aumento da secreção de Renina Rim como Órgão Endócrino Apesar de a principal função renal ser a produção de urina para o expurgo de substâncias nocivas ao corpo, outra importante função atribuída a estesimportantes órgãos é uma ação endócrina. Dentre as principais destacam-se: ▪ Produção de Renina pelo AJG ▪ Conversão de Vitamina D ativa ▪ Produção de Eritropoetina em resposta a baixos níveis de PO2 ▪ Produção de prostaglandinas, calicreína, cininas Curiosidade: É por esta razão que quando um novo rim é transplantado em um paciente nefropata, o antigo rim afetado, mesmo sem desempenhar sua função urinária normal é deixado no lugar, já que pode ainda desenvolver algumas dessas atividades endócrinas. “E bota onde o novo rim?” Põe em uma das duas fossas ilíacas, geralmente à esquerda! Clearance Renal Fala-se aqui em Clearance Renal, também chamado Depuração Renal, para que se compreenda alguns conceitos mais à frente. Entende-se Clearance de um soluto como o volume virtual de plasma sanguíneo, por unidade de tempo, que deve passar pelo sistema glomerular para que se obtenha uma determinada quantidade daquele soluto na urina final. Através do Clearance Renal podem-se avaliar as três funções básicas do rim: filtração glomerular, reabsorção tubular e secreção tubular. Os Ureteres e a Bexiga Ureteres Os ureteres servem como passagem de urina da pelve renal para a bexiga. Estão localizados retroperitonealmente, passando por cima das artérias ilíacas comuns bilateralmente, continuando-se na pelve. Entram na porção ínfero- posterior da bexiga, atravessando obliquamente a sua parede. Possuem musculatura lisa, cuja contração é peristáltica, originada de impulsos da porção proximal da pelve renal, com uma freqüência de 2 a 6 impulsos/minuto. Essa peristalse move a urina em direção caudal, rumo à bexiga, e pode ocorrer sem inervação. Nesta ocasião é modulada apenas pelo sistema nervoso autonômico parassimpático, que aumenta a contratilidade dos ureteres pela ação colinérgica nos receptores muscarínicos colinérgicos, enquanto o simpático modula a contratilidade ureteral através da norepinefrina (α- excitatório e β-inibitório). Bexiga Consiste em uma porção principal (corpo), que coleta a urina, e uma extensão (colo), que se conecta à uretra. Sua luz é de epitélio de transição. Possui três mal-definidas camadas musculares que constituem o chamado músculo detrussor da bexiga. Na sua parede posterior está o esfíncter interno(músculo liso). Adjacentemente está o esfíncter externo, com fibras musculares estriadas. A bexiga e seus esfíncteres recebem inervação parassimpática, simpática e somática: ▪ Inervação Simpática: Nervos de T10 a T12 (Nervo Hipogástri-co); ▪ Inervação Parassimpática: Nervos S2 a S4 (Nervo Esplâncnico Pélvico) ▪ Inervação Somática: Neurônios motores de S2 a S4, via nervo pudendo. A reabsorção da glicose exemplifica bem os mecanismos de reabsorção de determinadas substâncias dentro dos túbulos renais. Normalmente não existe glicose na urina ou no máximo, existem apenas ligeiros traços daquela substância, enquanto no plasma a sua concentração oscila entre 80 e 120mg%. Toda a glicose filtrada é ràpidamente reabsorvida nos túbulos. À medida que a concentração plasmática de glicose se aproxima dos 200mg%, o mecanismo reabsortivo é acelerado até atingir o ponto máximo, em que a reabsorção se torna constante, não podendo ser mais aumentada. Esse ponto é chamado limiar de reabsorção da glicose. Acima do valor plasmático de 340mg%, a glicose deixa de ser completamente absorvida no sistema tubular e passa para a urina, podendo ser facilmente detectada pelos testes de glicosúria. A reabsorção nos túbulos renais obedece à diferença de concentração das substâncias entre o espaço intersticial peri-tubular e os vasos retos peritubulares. A reabsorção de água é dependente da reabsorção de íon sódio, que é o soluto mais reabsorvido nos túbulos renais. Os mecanismos de transporte na reabsorção tubular podem ser ativos ou passivos, dependendo da necessidade de utilizar energia celular para a sua realização. O sódio, a glicose, os fosfatos e os aminoácidos estão entre as substâncias cujo transporte é feito com utilização de energia celular, transporte ativo. A reabsorção de sódio pelos túbulos renais é dirigida pela bomba Na+/K+ - ATPase presente na membrana basolateral (voltada para o sangue), que mantém uma baixa concentração de sódio junto à célula tubular. O sódio filtrado no lúmen tubular entra na célula conduzida por seu baixo gradiente de concentração via um transportador transmembrana (que também pode levar outro soluto, X) ou via um canal localizado na membrana luminal. Em cada segmento tubular, o sódio entra passivamente na célula, seguindo o gradiente eletroquímico favorável criado pela bomba Na+/K+- ATPase. A entrada do sódio luminal ocorre através de um mecanismo diferente que atua em cada um dos segmentos do néfron. O túbulo proximal reabsorve o bicarbonato filtrado e outros solutos, tais como glicose, fosfato, aminoácidos e citrato. Um transportador de Na+-K+-2Cl- medeia a entrada do Na+ no braço ascendente da alça de Henle. O túbulo distal apresenta um cotransportador de Na+/Cl-. O Na+ entra nas células principais do ducto coletor cortical através de canais de Na+ existentes na membrana luminal. Em condições normais, todo o bicarbonato filtrado é reabsorvido ao longo do néfron num processo que não ocorre saturação. A reabsorção de HCO3- é indireta, uma vez que é removido do fluido tubular na forma de CO2 e H2O. Depois o bicarbonato sai pela membrana basolateral de co-transporte Na+ (HCO3- ) e outros mecanismos como o tracador Cl- / HCO3- e Na+ (HCO3-). Alterações na pressão parcial de gás carbônico arterial associam-se a alterações paralelas na reabsorção de bicarbonato ou na secreção de íons de hidrogênio. A diminuição da pressão parcial de gás carbônico arterial inibe a secreção hidrogênio e a reabsorção bicarbonato, e o aumento da pressão parcial de gás carbônico arterial estimula este processo. A reabsorção de bicarbonato é afetada pela concentração plasmática de bicarbonato, na qual o HCO3- filtrado é quase totalmente absorvido até certo nível plasmático de bicarbonato acima do qual aumenta a excreção de HCO3-, enquanto que a excreção de hidrogênio está inibida. A aldosterona também estimula a secreção de H+ pelos ductos coletores. Na acidose metabólica, a resposta renal lógica é a reabsorção completa de HCO3-. A secreção renal de H+ é estimulada pelos níveis plasmáticos elevados de aldosterona que, deste modo, auxilia a reabsorção de todo o bicarbonato bem como a titulação de tampões que não o bicarbonato. Este mecanismo de secreção de aldosterona em resposta à acidose é, em parte, dependente da secreção de renina. A excreção de amônio e a sua taxa de produção são reguladas e sofrem alterações adaptativas em certos desequilíbrios ácido-base. Apesar de a urina ser um ultrafiltrado do plasma, pequenas moléculas de baixo peso molecular (albumina) participam do filtrado. A maior parte das proteínas filtradas é reabsorvida pelas células epiteliais tubulares. A proteinúria pode resultar da diminuição da capacidade de reabsorção tubular ou de lesão tubular, mas a maioria das proteinúrias é uma consequência da alteração da filtração glomerular. A importância dos rins na regulação do ph do organismo Muitas reações químicas que ocorrem dentro de uma célula, ou mesmo fora dela, dependem do pH. Pequenas variações no pH podem afetar a velocidade das reações químicas ou mesmo não permitir que elas ocorram, o que pode acarretar na morte celular. O organismo dispõe, para regular o pH e preservar as condições ótimas para as funções celulares, do mecanismo químico, do centro respiratório e também do mecanismo renal que pode excretar tanto urina ácida como alcalina, reajustando a concentração de H+ no liquido extracelularpara níveis normais durante a acidose ou alcalose. As duas primeiras linhas de defesa evitam que a concentração de H+ se altere muito até que a resposta mais lenta da terceira linha de defesa, os rins, consiga eliminar o excesso de acido ou base do corpo. Os rins regulam essa concentração através de três mecanismos fundamentais: secreção de H+, reabsorção de HCO3 filtrado e pela produção de novo HCO3 através do sistema tampão de fosfato e o sistema tampão de amônia. Para manter o equilíbrio acido-base é necessário que ocorra a proporção um para um, ou seja, para cada bicarbonato reabsorvido, um H+ precisa ser secretado. Quando há uma redução na concentração de H+ do liquido extracelular (alcalose) os rins não conseguem reabsorver todo o HCO-3 filtrado aumentando, assim, a excreção desse. Como o HCO-3 normalmente tampona o H+ no liquido extracelular, essa perda de HCO-3 significa o mesmo que acrescentar H+ ao liquido. Desta forma, na alcalose, a remoção de HCO3- eleva a concentração de H+ do liquido extracelular para os níveis normais. Na acidose, os rins não excretam HCO3- na urina, mas reabsorvem todo aquele que foi filtrado e produzem novo bicarbonato, que é acrescentado de volta ao liquido extracelular. Isto reduz a quantidade de H+ do liquido extracelular para os níveis normais. Além disso, como citado, no sistema renal existe a contribuição dos tampões de P-3 4 e NH3 para a geração de novos HCO3-, por exemplo quando todo bicarbonato tiver sido reabsorvido e não estiver mais disponível para combinar-se com o H+, qualquer excesso de H+ pode combinar-se com íons fosfato ou outros tampões. Depois que o H+ se combina com o HPO4- para formar H2PO4- pode ser secretado como um sal de sódio (NaH2PO4), carreando o H+ em excesso. Já a formação de novos HCO3- pela amônia, se dá através das reações da glutamina que resultam na formação de dois NH4+ que vão ser secretados no lúmen tubular e dois HCO3- que serão reabsorvidos, contribuindo para o equilíbrio acido-base do organismo Túbulo Proximal Alça de Henle Túbulo Contorcido Distal Túbulo Conector Túbulo Coletor Ureteres Bexiga
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