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OBJETIVOS GERAIS 1. Descrever pré-natal de alto risco e seus principais fatores. 2. Explicar a epidemiologia, fisiopatologia, quadro clínico das síndromes hipertensivas na gravidez (Hipertensão crônica, pré-eclâmpsia /eclâmpsia, pré eclâmpsia sobreposta a hipertensão crônica e hipertensão gestacional sem proteinúria). 3. Relatar a conduta nas síndromes hipertensivas da gravidez. (Todas citadas obj anterior). 4. Compreender a importância do diagnostico precoce em gestantes de alto risco e as orientações que devem ser empregadas durante a gestação. 5. Comentar aspectos sociais, econômicos e psicológicos que levam a inserção da mulher no mercado de trabalho (fazer analogia com o problema). OBJETIVO UM Um pré-natal de alto risco se refere ao acompanhamento que será feito com uma gestante que tem uma doença prévia ou durante a sua gravidez, que sugere que essa seja uma gravidez de risco. Assim, basicamente se enquadram em pré-natal de risco três condições: as mulheres com doenças crônicas prévias à gestação, aquelas que tiveram uma gestação anterior de alto risco e aquelas que identificam, no curso da gravidez, uma condição ou doença que vai oferecer risco para ela e a para o bebê. No primeiro caso, se enquadram mulheres que sofrem de hipertensão arterial, diabetes, lúpus, doenças psiquiátricas, neurológicas ou cardíacas ou infecções crônicas, como Hepatite e HIV. As pacientes com essas condições devem compartilhar com seu especialista o desejo de engravidar, antes de interromper o método anticoncepcional. Dessa forma, o médico que a acompanha, como cardiologista, neurologista, infectologista ou outro especialista, já deve alinhar com o obstetra as medicações e condutas que devem ser tomadas antes da concepção e durante a gestação. Para o segundo grupo, é recomendado o acompanhamento de alto risco quando houve uma gravidez anterior com histórico de hipertensão, abortos de repetição, descolamento prévio da placenta, por exemplo. Tudo isso deve ser observado pelo obstetra para colocar essa futura mamãe sob um olhar mais criterioso. E ainda, se no decorrer da gestação acontecer um quadro de diabetes que não existia antes, ou a descoberta da pré-eclâmpsia, bem como ter uma infecção viral ou bacteriana, o obstetra mudará o olhar para essa grávida e ela se torna uma gestante de alto-risco. A depender dessas três classificações – e outras que possam ser diagnosticadas pelo médico no início ou no decorrer da gravidez – a avaliação pré-natal será diferente de uma avaliação normal. Por exemplo, uma diabética pode ter que fazer mais consultas do que uma mulher sem essa condição. Um pré-natal normal tem uma consulta por mês, começando o mais cedo possível, até a 32a semana. A partir daí e até a 36a semana, uma consulta a cada 15 dias e depois, até o parto, uma consulta semanal. São mais do que as seis consultas mínimas preconizadas pelo SUS – que trata mesmo do mínimo necessário para qualquer pré-natal. Condições prévias pedem consultas mais frequentes ao obstetra e, a depender da doença, o acompanhamento também do especialista. Avaliações laboratoriais e de imagem também podem ser solicitadas em maior número para se saber se o bebê está sofrendo com a condição da mãe. Lembrando sempre que o pré-natal bem feito garante a saúde e a segurança da mãe, o bom desenvolvimento do bebê e um encontro tranquilo dos dois durante o parto. OBJETIVO DOIS Entre os distúrbios hipertensivos, a síndrome de pré-eclâmpsia, seja isoladamente ou sobreposta à hipertensão crônica, é a mais perigosa. Conforme discutido mais adiante, a hipertensão de início recente durante a gravidez, denominada hipertensão gestacional, é seguida por sinais e sintomas de pré-eclâmpsia em quase metade das vezes, sendo a pré-eclâmpsia identificada em 4 a 5% de todas as gestações. 1.Síndrome de pré-eclâmpsia e eclâmpsia 2.Hipertensão crônica de qualquer etiologia 3.Pré-eclâmpsia sobreposta à hipertensão crônica 4.Hipertensão gestacional – a evidência definitiva de síndrome de pré-eclâmpsia não se desenvolve, e a hipertensão melhora em torno de 12 semanas após o parto. DIAGNÓSTICO A hipertensão é empiricamente diagnosticada quando a pressão arterial aferida corretamente excede 140 mmHg na sistólica ou 90 mmHg na diastólica. No passado, aumentos adicionais de 30 mmHg da sistólica ou de 15 mmHg da diastólica acima dos valores obtidos no meio da gestação também eram usados como critérios diagnósticos, mesmo quando os valores absolutos eram < 140/90 mmHg. Esses aumentos não são mais usados para definir hipertensão, mas recomenda-se que essas mulheres sejam observadas com mais cuidado, pois as convulsões eclâmpticas ocorrem em alguns casos em que as pressões arteriais permanecem abaixo de 140/90 mmHg. Elas começam a aumentar na paciente B, que no termo tem pressão arterial significativamente aumentada. Contudo, sua pressão ainda é < 140/90 mmHg e, portanto, ela é considerada “normotensa”. Usamos o termo hipertensão delta para descrever essa elevação rápida da pressão arterial. Algumas dessas mulheres irão apresentar pré- eclâmpsia evidente, e algumas chegam a desenvolver convulsões eclâmpticas ou síndrome HELLP (hemólise, elevação de enzimas hepáticas [elevated liver enzymes], plaquetas baixas [low platelet count]), embora ainda sejam normotensas. HIPERTENSÃO GESTACIONAL O diagnóstico de hipertensão gestacional é feito em mulheres cuja pressão arterial alcança 140/90 mmHg ou mais pela primeira vez depois da metade da gestação, porém nas quais a proteinúria não é identificada. Quase a metade dessas mulheres subsequentemente desenvolve síndrome de pré- eclâmpsia. Ainda assim, quando a pressão arterial aumenta de maneira considerável, é perigoso para a mãe e o feto ignorar essa elevação porque a proteinúria ainda não se desenvolveu. PRÉ-ECLÂMPSIA A pré-eclâmpsia é mais bem descrita como uma síndrome específica da gestação que pode afetar praticamente qualquer sistema de órgãos. Além disso, ela antecipa uma maior incidência de doença cardiovascular após a gestação. Embora a pré-eclâmpsia seja muito mais que apenas a hipertensão gestacional com proteinúria, o aparecimento de proteinúria ainda é um importante critério diagnóstico. A proteinúria é o marcador objetivo substituto que define o amplo extravasamento endotelial sistêmico, o qual caracteriza a síndrome de pré- eclâmpsia. A diferenciação entre pré- eclâmpsia e hipertensão gestacional grave e não grave pode ser enganosa porque o que pode ser uma doença aparentemente leve pode progredir com rapidez para doença grave. FISIOPATOLOGIA Qualquer teoria satisfatória relacionada à origem da pré- eclâmpsia deve considerar a observação de que os distúrbios hipertensivos gestacionais são mais prováveis de se desenvolver nas mulheres: •Expostas às vilosidades coriônicas pela primeira vez •Expostas a uma superabundância de vilosidades coriônicas, como com gêmeos ou mola hidatidiforme •Com condições preexistentes associadas a inflamação ou ativação de células endoteliais, como diabetes, obesidade, doença cardiovascular ou renal, distúrbios imunológicos ou influências hereditárias •Geneticamente predispostas ao desenvolvimento de hipertensão durante a gravidez 1.Implantação da placenta com invasão trofoblástica anormal dos vasos uterinos 2.Má adaptação da tolerância imunológica entre os tecidos materno, paterno (placentário) e fetal 3.Má adaptação materna às alterações cardiovasculares ou inflamatórias da gravidez normal 4.Fatores genéticos, como genes predisponentes herdados, além de influênciasepigenéticas Em alguns casos de pré-eclâmpsia, porém, a invasão trofoblástica pode ser incompleta. Com isso, os vasos deciduais, mas não os vasos miometriais, tornam-se revestidos com trofoblastos endovasculares. As arteríolas miometriais mais profundas, então, não perdem seu revestimento endotelial e tecido musculoelástico, sendo o seu diâmetro externo médio apenas metade daquele dos vasos nas placentas normais (Fisher, 2015). Em geral, a magnitude da invasão trofoblástica defeituosa correlaciona-se à gravidade do distúrbio hipertensivo. FATORES IMUNOLÓGICOS Também existem dados por inferência que sugerem que a pré- eclâmpsia é um distúrbio imunomediado. Por exemplo, o risco de pré-eclâmpsia é muito aumentado nas circunstâncias em que a formação de anticorpos de bloqueio para os locais antigênicos placentários pode estar comprometida. Nesse cenário, a primeira gravidez pode comportar um risco mais elevado. A desregulação da tolerância também pode explicar um maior risco quando a carga antigênica paterna se mostra aumentada, isto é, com dois conjuntos de cromossomos paternos – uma “dose dupla”. Por exemplo, as mulheres com gravidez molar apresentam alta incidência de pré-eclâmpsia de início precoce. ATIVAÇÃO DAS CÉLULAS ENDOTELIAIS Acredita-se que as alterações inflamatórias sejam uma continuação das alterações do estágio 1. Em resposta à isquemia ou a outras causas incitantes, são liberados fatores placentários que começam uma cascata benigna de eventos (Davidge, 2015). Assim, acredita-se que fatores antiangiogênicos e metabólicos, além de outros mediadores de leucócitos inflamatórios provoquem lesão de células endoteliais sistêmicas, o que é usado aqui como sinônimo de disfunção ou ativação das células endoteliais. A disfunção da célula endotelial pode resultar de um estado ativado extremo de leucócitos na circulação materna (Faas, 2000; Gervasi, 2001). Brevemente, as citocinas, como o fator α de necrose tumoral (TNF-α) e as interleucinas, podem contribuir para o estresse oxidativo associado à pré- eclâmpsia. Isso é caracterizado por espécies reativas de oxigênio e radicais livres que levam à formação de peróxidos de lipídeo autopropagados (Manten, 2005). Esses peróxidos, por sua vez, geram radicais altamente tóxicos que lesionam as células endoteliais vasculares sistêmicas, modificam sua produção de óxido nítrico e interferem no equilíbrio de prostaglandinas. As outras consequências do estresse oxidativo são a produção dos macrófagos espumosos repletos de lipídeos observados na aterose placentária, a ativação da coagulação microvascular sistêmica manifestada por trombocitopenia e a maior permeabilidade capilar sistêmica manifestada por edema e proteinúria. VASOESPASMO A ativação endotelial sistêmica causa vasospasmo que eleva a resistência até produzir hipertensão subsequente. Nesse momento, a lesão celular endotelial sistêmica causa extravasamento intersticial, por meio do qual os constituintes sanguíneos, como as plaquetas e o fibrinogênio, são depositados em nível subendotelial. As proteínas da junção endotelial também são alteradas, e a região subendotelial das artérias de resistência sofrem alterações ultraestruturais. O endotélio intacto tem propriedades anticoagulantes. Além disso, as células endoteliais sistêmicas, por meio da liberação de óxido nítrico, atenuam a resposta da musculatura lisa vascular aos agonistas. As células endoteliais lesionadas ou ativadas podem produzir menos óxido nítrico e secretar substâncias que promovem a coagulação, bem como aumentam a sensibilidade aos vasopressores. Evidências adicionais da ativação endotelial incluem as características alterações na morfologia endotelial do capilar glomerular, aumento da permeabilidade capilar e concentrações sanguíneas elevadas das substâncias associadas à ativação endotelial. A hemoconcentração é um marco da eclâmpsia. Eles demonstraram em mulheres eclâmpticas que a expansão do volume sanguíneo gestacional esperada é gravemente reduzida (Fig. 40-6). As mulheres de tamanho médio têm um volume sanguíneo de 3.000 mL, e, durante as últimas semanas de uma gravidez normal, ele alcança uma média de 4.500 mL. No entanto, com a eclâmpsia, perde-se grande parte ou a totalidade do excesso normal previsto de 1.500 mL. Essa hemoconcentração resulta de vasospasmo generalizado que sucede à ativação endotelial e ao extravasamento do plasma para dentro do espaço intersticial. Nas mulheres com pré-eclâmpsia, e dependendo de sua gravidade, a hemoconcentração geralmente não é tão acentuada. PROTEINÚRIA A detecção de proteinúria ajuda a estabelecer o diagnóstico de pré- eclâmpsia. A excreção anormal de proteína é empiricamente definida por excreção na urina de 24 horas que excede 300 mg, relação proteína:creatinina urinária de 0,3 ou mais ou persistência de 30 mg/dL (1+ na fita) de proteína em amostras aleatórias de urina. CEREBRO De fato, a maioria das mortes aconteceram por edema pulmonar, e as lesões cerebrais foram coincidentes. Assim, embora a hemorragia intracerebral macroscópica tenha sido notada em até 60% das mulheres eclâmpticas, ela foi fatal em apenas metade delas. As lesões vasculares microscópicas clássicas consistem em necrose fibrinoide da parede arterial, bem como microinfartos e hemorragias perivasculares. Outras lesões importantes frequentemente descritas incluem edema subcortical, múltiplas áreas não hemorrágicas de “amolecimento” por todo o cérebro e áreas hemorrágicas na substância branca. Os achados clínicos, patológicos e de neuroimagem levaram a duas teorias gerais para explicar as anormalidades cerebrais associadas à eclâmpsia. A disfunção da célula endotelial que caracteriza a pré- eclâmpsia provavelmente desempenha um papel primordial em ambas. A primeira teoria sugere que, em resposta à hipertensão grave e aguda, a super-regulação vascular cerebral leva ao vasospasmo. Nesse esquema, formula-se a hipótese de que o menor fluxo sanguíneo cerebral resulte em isquemia, edema citotóxico e, mais adiante, infarto tecidual. Há poucas evidências objetivas sustentando este mecanismo. A segunda teoria é que as súbitas elevações na pressão arterial sistêmica excedem a capacidade autorreguladora cerebrovascular normal (Hauser, 1988; Schwartz, 2000). Desenvolvem-se regiões de vasodilatação e vasoconstrição forçada, principalmente nas zonas limítrofes arteriais. No nível capilar, o distúrbio da pressão capilar final provoca aumento da pressão hidrostática, hiperperfusão, bem como extravasamento de plasma e eritrócitos por meio de aberturas nas junções compactas endoteliais. Isso leva a edema vasogênico. O mecanismo mais provável é uma combinação das duas teorias. Assim, um vazamento celular interendotelial associado à pré- eclâmpsia se desenvolve em níveis da pressão arterial (hidráulico) muito mais baixos do que aqueles que geralmente causam edema vasogênico e está combinado a uma perda de autorregulação do limite superior (Fugate, 2015; Zeeman, 2009). Nos exames de imagem, isso se manifesta como síndrome da encefalopatia reversível posterior (Fig. 40-12) (Fugate, 2015; Hinchey, 1996). As lesões dessa síndrome envolvem principalmente a parte posterior do encéfalo – córtex occipital e parietal. Porém, em pelo menos um terço dos casos, outras áreas são envolvidas (Edlow, 2013; Zeeman, 2004a). A cefaleia pode ser leve a grave e intermitente a constante. Em nossas experiências, elas são singulares pelo fato de que, em geral, não respondem à analgesia tradicional, mas frequentemente melhoram após a infusão de sulfato demagnésio. As convulsões são diagnósticas de eclâmpsia. Elas são causadas pela excessiva liberação de neurotransmissores excitatórios, principalmente glutamato, despolarização massiva dos neurônios em rede e surtos de potenciais de ação (Meldrum, 2002). As evidências clínicas e experimentais sugerem que as convulsões estendidas podem provocar lesão cerebral significativa e, posteriormente, disfunção cerebral. ECLÂMPSIA MANEJO O sulfato de magnésio é altamente efetivo na prevenção de convulsões em mulheres com pré-eclâmpsia e na sua interrupção naquelas com eclâmpsia. Em sua revisão, Chesley (1978) citou dados observacionais de Pritchard e colaboradores (1955, 1975) no Parkland Hospital e de sua própria instituição. Naquele momento, a maioria dos tratamentos para pré-eclâmpsia nos Estados Unidos aderiam a uma mesma filosofia, a qual ainda está em uso: 1.Controle das convulsões utilizando uma dose de ataque intravenosa de sulfato de magnésio, seguindo-se por uma dose de manutenção geralmente intravenosa de sulfato de magnésio 2.Administração intermitente de medicamento anti-hipertensivo para diminuir a pressão arterial sempre que for considerada perigosamente alta 3.Evitar os diuréticos a menos que haja edema pulmonar evidente, limitação da administração de líquidos intravenosos a não ser que a perda de líquido seja excessiva, e evitar os agentes hiperosmóticos 4.Parto do feto para resolver a pré- eclâmpsia OBJETIVO TRÊS Os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) estão associados a anomalias fetais graves, em particular, malformações cardiovasculares e do sistema nervoso central (SNC), assim como prognóstico fetal adverso – CIR, oligoidrâmnio, morte fetal e neonatal. Igualmente, os bloqueadores do receptor de angiotensina (BRA) têm sido associados a anomalias renais, dismorfismo e mortalidade perinatal. Os IECA e os BRA são formalmente contraindicados na gravidez. Na verdade, a fetopatia determinada pelos IECA é, de acordo com investigação recente, privativa do 2o e do 3o trimestre da gravidez, de tal sorte que 10 a 20% das grávidas eventualmente expostas no 1o trimestre estariam aparentemente isentas da complicação. Concluindo, os IECA podem ser seguramente utilizados em mulheres na idade reprodutiva, cerca de 40% das hipertensas, muito embora seja importante descontinuar a medicação após o 1o trimestre. O objetivo do tratamento anti- hipertensivo é manter a pressão sistólica < 150/100 mmHg, de modo a assegurar o fluxo sanguíneo uteroplacentário. Fica a mãe protegida contra acidentes vasculares e cerebrais, embora pareça não haver nenhuma melhora no prognóstico fetal. Em mulheres com lesão em órgãos-alvo, como hipertrofia ventricular esquerda ou insuficiência renal, o objetivo é estabilizar a pressão sanguínea em níveis normais, assim reduzindo o risco de comprometimento de outros órgãos-alvo. Mulheres com hipertensão leve, mas com lesão em órgãos-alvo (portanto de alto risco), terão também terapia anti- hipertensiva, pois há benefícios imediatos em baixar a pressão arterial nesse grupo de pacientes. Ocorrendo edema de pulmão, o tratamento será furosemida IV, sulfato de morfina IV e ventilação assistida. A manutenção do tratamento hipertensivo será feita com metildopa (250 mg, 2 vezes/dia via oral [VO]) ou nifedipino (10 mg, 2 vezes/dia) (ver Tabela 36.2). O mecanismo de ação pelo qual a metildopa exerce seu efeito anti- hipertensivo é a estimulação dos receptores alfa-adrenérgicos centrais, mediante seu metabólito, a α-metil-norepinefrina; dessa forma, inibe a transmissão simpática em direção ao coração, rins e sistema vascular periférico. Metildopa é um pró-fármaco anti- hipertensivo. Promove estimulação alfa- adrenérgica do sistema nervoso central, e assim diminui a resistência vascular, não influindo muito no débito cardíaco e nem na frequência. PRÉ-ECLÂMPSIA LEVE Na pré-eclâmpsia leve (e na hipertensão gestacional), deve-se realizar tratamento conservador até o feto atingir 37 semanas (ACOG, 2013). Qualquer forma clínica de toxemia com o feto a termo obriga a interrupção da gravidez. O processo toxêmico só se cura com o parto. Mesmo normalizada a PA, após o desaparecimento da proteinúria e do edema, o feto está em risco, pois a depuração placentária é 50% inferior à normal. Nesse caso, devem ser adotadas as seguintes medidas: •Tratamento ambulatorial com consultas semanais (day care) •Avaliação da sintomatologia materna, para surpreender o agravamento da doença, e dos movimentos fetais (diariamente pela paciente); mensuração da pressão sanguínea (2 vezes/semana) e contagem de plaquetas e enzimas hepáticas (semanalmente) (ACOG, 2013). Na hipertensão gestacional, deve-se realizar também a pesquisa de proteinúria (semanal). Uma vez presente a proteinúria, é indispensável o seu seguimento, pois ela nada acrescenta ao prognóstico da pré-eclâmpsia. A ultrassonografia seriada visa diagnosticar o CIR, e o Doppler da artéria umbilical, o sofrimento fetal. As medidas proscritas que não interferem no curso clínico da doença e podem até ser nocivas são as seguintes: •Repouso prolongado no leito (predispõe à trombose) •Diuréticos e dieta hipossódica. A grávida toxêmica é hemoconcentrada, e os diuréticos podem precipitar a doença tromboembólica venosa (DTV) •Hipotensores orais também não devem ser utilizados, pois reduzem a perfusão uteroplacentária. PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE/ECLÂMPSIA Nos casos de pré-eclâmpsia grave/eclâmpsia, qualquer que seja a idade da gravidez, está indicada a sua interrupção. As medidas pertinentes podem ser vistas na Figura 18.12 e são descritas a seguir: •Em caso de pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia, a paciente deve ser imediatamente transferida para centro de unidade intensiva. Durante ou logo após a convulsão, deve-se evitar a lesão materna (protetor de língua e contenção física) e a aspiração de vômitos (decúbito lateral), assegurar vias respiratórias livres e suprir a oxigenação (8 a 10 ℓ de oxigênio sob máscara). Após a convulsão, a paciente passa a respirar, e a oxigenação raramente constitui problema. Todavia, hipoxemia e acidose materna podem se desenvolver em mulheres com convulsões repetidas, assim como pneumonia aspirativa ou edema de pulmão. Recomenda-se evitar o monitoramento compulsivo (ACOG, 2013) •Antes de interromper a gravidez, é fundamental estabilizar o quadro clínico por 4 a 6 h com o sulfato de magnésio. O sulfato de magnésio, para prevenir ou tratar a convulsão, só deve ser utilizado se houver decisão para o parto, sendo o tratamento de eleição em todo o mundo. A dose é de 4 a 6 g IV, diluída em 100 mℓ de soro glicosado a 5%, em bolus de 20 min; depois, 1 a 2 g/h, para a manutenção. É fundamental observar alguns parâmetros clínicos que, uma vez ausentes, indicam a suspensão do medicamento: reflexo tendinoso presente (embora hipoativo); diurese > 25 a 30 mℓ/h; frequência respiratória ≥ 16 movimentos/min. Em doses tóxicas, o sulfato de magnésio é um medicamento perigoso para a mãe, pois deprime a respiração e causa parada cardíaca. Em casos de depressão respiratória, deve-se administrar 1 a 2 g de gliconato de cálcio IV (10 mℓ de solução a 10%), em cerca de 3 min para combater os efeitos tóxicos do sulfato de magnésio.
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