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O BARROCO NA AMAZÔNIA

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1 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ 
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA LINGUAGEM 
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ABAETETUBA 
LINCENCIATURA PLENA EM LETRAS- LÍNGUA PORTUGUESA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O BARROCO NA AMAZÔNIA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Abaetetuba-PA 
2021 
2 
 
 
 
FRAN DE VASCONCELOS FERRREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O BARROCO NA AMAZÔNIA. 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho apresentada como requisito parcial 
para obtenção de nota da Disciplina Formação 
da Literatura Brasileira do Curso licenciatura 
Plena em Letras- Língua Portuguesa da 
Universidade Federal do Pará campus 
Universitário de Abaetetuba, orientado pelo 
Docente: Benilton Lobato Cruz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Abaetetuba-PA 
2021 
3 
 
 
 
Anjo Tocheiro – Detalhe de imagem esculpida em madeira, proveniente da 
Igreja de São Francisco Xavier do Colégio Jesuítico de Santo Alexandre em 
Belém, século XVIII. Acervo do Museu de Arte Sacra do Pará. Autor: 
Ricardo Hernán Medrano 
 
Frente a frente, abraçando o antigo Largo da Sé em Belém do Pará, cidade pertencente à 
região Amazônica (norte do Brasil), erguem-se com “fé maciça”, as “duas maravilhosas 
igrejas barrocas” do poema do pernambucano Manoel Bandeira (1886- 1968): a Catedral da 
Sé (1782) e a Igreja do Colégio Jesuítico de Santo Alexandre (1718 ou 1719)2. [Fig. 01] 
 
Figura 01: Largo da Sé (Praça Frei Caetano Brandão) na manhã do segundo domingo do mês de 
outubro, Círio de Nossa Senhora de Nazaré, procissão originária do século XVIII (1793). Observar 
“frente a frente”, a Igreja do Colégio dos jesuítas (MAS-PA) e a Catedral Metropolitana de Belém. 
Fonte: Luiz Braga, 2000. Imagem cedida para publicação sem ônus. 
1 “Nunca mais me esquecerei do teu Largo da Sé. Com a fé maciça das duas maravilhosas igrejas 
barrocas” [grifo nosso]. “Fé maciça”, expressão extraída do Poema “Belém do Pará” de Manuel 
Bandeira, que abre nossa Introdução. Ver BANDEIRA, Manuel. “Belém do Pará” In: VAN STEEN, 
Edla. Melhores Poemas de Manuel Bandeira. Seleção de Francisco de Assis Barbosa. São Paulo: 
Global, 2004, pp. 89- 91. 
2 A Igreja dos jesuítas de Belém, capital do estado do Pará, foi originalmente intitulada Igreja de São 
Francisco Xavier (1653), todavia seja bem mais conhecida pelo nome do patrono de seu Colégio, 
Santo Alexandre. A construção da atual edificação iniciou em 1668, e a igreja foi sagrada em torno 
de 1718 e 1719. LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil (1938). São Paulo: 
Edições Loyola, 2004, t. III, livro III, p.520. [1ª edição, Lisboa / Rio de Janeiro: Livraria Portugália / 
Instituto Nacional do Livro, 1938] 
4 
 
 
O poeta, que quase se tornou arquiteto, esteve em Belém, assim como o paulista Mário de 
Andrade (1893-1945)3, no final dos anos 19204, ou seja, no contexto de revalorização da 
arte e da arquitetura “nacionais” proposta pelos modernistas5, que desencadearia mais tarde, 
dentre outros episódios fundamentais para a história da arte brasileira, na criação do Serviço 
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) em 19376, e em estudos referenciais 
sobre a arquitetura religiosa no Brasil7, incluindo os edifícios jesuíticos8, tema de nosso 
principal interesse. 
Naquele ano de 1928, da Igreja do Colégio dos Jesuítas em Belém, a fachada era tudo o que 
se podia admirar, pois desde 1925, a Igreja estava fechada e abandonada. A Igreja do antigo 
Colégio foi reaberta ao culto em 19339 [Fig. 02], após um grande 
 
3 “... inicialmente ligado ao grupo paulista, Mário de Andrade serviu de elo entre vários intelectuais 
modernistas de todo o país através de seus contatos pessoais, viagens e correspondências”. FONSECA, Maria 
Cecília Londres. O Patrimônio em Processo: Trajetória da Política Federal da Preservação no Brasil. Rio de 
Janeiro: Editora UFRJ / MINC / IPHAN, 2005, pp. 81-82. 
4 O poeta pernambucano Manoel Bandeira visitou a cidade de Belém em 1927, um ano após Mário de 
Andrade. Ver MORAES, Marco Antônio. Correspondência Mário de Andrade & Manuel Bandeira. São 
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo / Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, 
2000. Ver também GUIMARÃES, Julio Castañon Guimarães (Org.). Crônicas da Província do Brasil (1937). 
São Paulo: Cosac & Naify, 2006. 
5 “... foram alguns intelectuais modernistas que elaboraram, a partir de suas concepções sobre arte, história, 
tradição e nação, essa idéia na forma do conceito de patrimônio que se tornou hegemônico no Brasil...”. 
FONSECA, Maria Cecília L. O Patrimônio em Processo..., Op. cit., 2005, p. 81. Há extensa bibliografia sobre 
a questão dos modernistas e o patrimônio artístico e arquitetônico brasileiros. Ver, entre outros autores, 
AMARAL, Aracy. Blaise Cendrars no Brasil e os modernistas. São Paulo: Editora 34 / FAPESP, 1997; e 
AMARAL, Aracy. Artes Plásticas na Semana de 22. São Paulo: Editora 34, 1998. 
6 Sobre a criação do antigo SPHAN, atual IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) ver 
ANDRADE, Mário. “Anteprojeto elaborado por Mário de Andrade a pedido do Ministro da Educação e Saúde 
Gustavo Capanema para a criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional”. In: CAVALCANTI, Lauro 
(Org.). Modernistas na repartição. Rio de Janeiro: UFRJ, 1993; ANDRADE, Rodrigo Melo Franco de (1898-
1969). Rodrigo e o SPHAN: Coletânea de Textos sobre Patrimônio Cultural. Rio de Janeiro: Secretaria do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional / Fundação Nacional Pró-Memória, 1987; e também ANDRADE, 
Rodrigo Melo Franco de. Rodrigo e seus tempos. Rio de Janeiro: Fundação Nacional Pró-Memória, 1986. 
7 Manoel Bandeira, por exemplo, publica em 1938, um guia sobre a cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Ver 
BANDEIRA, Manuel. Guia de Ouro Preto. Rio de Janeiro: MES, 1938. E Mário de Andrade publica na 
“Revista do Brasil” (1920) uma série de quatro artigos sobre arte religiosa no Brasil. Ver ANDRADE, Mário. 
“A Arte Religiosa no Brasil”. In: Revista do Brasil, Rio de Janeiro, 1920. 
8 Como veremos, tem grande importância para nossa temática a publicação do artigo de Lúcio Costa sobre a 
arquitetura jesuítica no Brasil, na Revista do SPHAN, em 1941. Ver COSTA, Lúcio. “A Arquitetura dos 
jesuítas no Brasil”. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, 1941, n. 5, pp. 09-
141. Sobre as concepções teóricas de Lúcio Costa sobre arte e arquitetura, pesquisa e preservação do 
patrimônio ver CARRILHO, Marcos José. “Lúcio Costa, Patrimônio Histórico e Arquitetura Moderna”. 
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2002. (Tese de Doutorado). 
9 A Igreja foi reaberta ao culto em 03 de dezembro de 1933, dia do patrono jesuíta São Francisco Xavier. Dom 
Antônio Lustosa também reabre em 15 de março de 1933, o Seminário Metropolitano de Nossa Senhora da 
Conceição (antigo Seminário de Nossa Senhora das Missões), fundado pelo jesuíta Gabriel Malagrida em 16 de 
junho de 1749, e confia sua administração aos padres Salesianos. BREVE MONOGRAFIA SOBRE O 
SEMINÁRIO ARQUIEPISCOPAL DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE BELÉM POR OCASIÃO 
DE SUA REABERTURA A 15 DE MARÇO DE 1933. 
5 
 
 
esforço do Arcebispo Dom Antônio de Almeida Lustosa (1886-1974) em reunir doações 
para a recuperação da Igreja [Fig. 03], e a partir daí o monumento jesuíta oscila entre 
períodos de descaso total e de intervenções parciais10, até o início do projeto de restauração 
atual concluído em setembro de 1998.11 
 
Belém: s/e, 1933. Ver também LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. São Paulo: 
Edições Loyola, 2004, t. III, Livro III, Cap. I, pp. 524-525, v. 1. 
10 Nos anos 50, a Igreja de São Francisco Xavier volta a ficar abandonada, e posteriormente, são iniciadas 
diversas obras de restauro (1969, 1977, 1979, 1981/1982, 1992, 1994/1996). Em relação à conservação dos 
bens integrados (altares, púlpitos, forros, etc...)importa destacar a restauração realizada ainda no século XIX 
(1863). Sobre as intervenções realizadas na Igreja e no Colégio de Santo Alexandre no período pós-jesuítico 
(1760-1998) ver MARTINS, Renata Maria de Almeida. Igreja de São Francisco Xavier e Colégio de Santo 
Alexandre: Histórico das Intervenções. Belém: Projeto Fundação Vitae / Museu de Arte Sacra do Pará, 2002 
(Monografia). 
11 Sobre a última intervenção na Igreja e no Colégio dos jesuítas em Belém (1998), ver FELIZ LUSITÂNIA: 
MUSEU DE ARTE SACRA DO PARÁ. Belém: SECULT, 2005. 
6 
 
 
 
 
Figura 03: Doações angariadas para a restauração da Igreja dos jesuítas em Belém. 
Fonte: Jornal A Palavra, Belém, 30 de abril de 1933. 
Durante as fases mais críticas, para que fossem preservadas da cruel ação do tempo que ano 
a ano destruía ferozmente o templo setecentista, algumas das belas imagens jesuíticas foram 
transportadas e abrigadas na vizinha Igreja da Sé. Outras importantes obras foram 
definitivamente perdidas. As conseqüências destes tristes anos, ainda hoje são visíveis, 
especialmente ao observarmos, com maior cuidado, as obras de talha da igreja.12 Importa 
destacar que a Igreja e o Colégio de Santo Alexandre foram tombados pelo então SPHAN 
em janeiro de 1941.13 
Hoje, na área rebatizada “Feliz Lusitânia” (1998)14, primeiro núcleo de formação da cidade 
de Belém (1616), a Igreja e o Colégio dos jesuítas funcionam como Museu de Arte Sacra do 
Pará15. A arquitetura religiosa tem ainda hoje por companhia, na área que 
12 Vejamos, por exemplo, o caso do Púlpito do lado Evangelho, parcialmente destruído pelo ataque de insetos 
xilófagos: “... Neste caso nós não optamos por refazer o púlpito, mas vamos conservá-lo nas condições em que 
se encontra...”. Nota publicada em jornal do então Secretário de Cultura do Estado do Pará, Paulo Chaves, 
principal responsável pelo projeto e conclusão das obras de restauração da Igreja dos jesuítas em Belém 
(1998). Jornal O Diário do Pará, Belém, 09 de agosto de 1994. 
13 Ministério da Cultura, IPHAN, Livro de Belas Artes, inscrição nº 146, data da inscrição: 03 de janeiro de 
1941. 
14 Feliz Lusitânia é o nome do projeto de intervenção iniciado nos anos 90, inspirado no nome dado ao local de 
fundação do primeiro núcleo urbano de Belém em 1616. Não vem ao caso, discutirmos aqui o dito projeto. 
Sobre o mesmo, ver FELIZ LUSITÂNIA: FORTE DO PRESÉPIO, CASA DAS ONZE JANELAS, CASARIO 
DA RUA CHAMPAGNAT. Belém: SECULT, 2006; e também FELIZ LUSITÂNIA: MUSEU DE ARTE 
SACRA DO PARÁ. Belém: SECULT, 2005. 
15 O Museu de Arte Sacra foi inaugurado em setembro de 1998. A Igreja do Colégio também funciona como 
auditório, onde são realizados eventos (congressos, consertos, casamentos, etc...). Algumas imagens do período 
jesuítico ainda estão expostas no espaço da Igreja (altar-mor, capelas do transepto, tribunas e coro), outras 
estão em exibição no Colégio. 
7 
 
 
circunda a Praça16, o antigo Hospital Real Militar17, obra do “desenhador” e arquiteto 
bolonhês Antônio Giuseppe Landi (1713-1791)18, algum casario colonial, as primeiras ruas 
do núcleo urbano seiscentista, e o Forte do Presépio19. Paisagem emoldurada e dominada 
pelo rio Guamá, Baía de Guajará. [Fig. 04] 
 
Figura 04: Vista desde o Rio Guamá (Baía de Guajará), da área de fundação da cidade de Belém do Pará (Feliz 
Lusitânia). No primeiro plano, o Forte do Presépio. Observar ao fundo, à esquerda, o Colégio de Santo 
Alexandre e as torres da antiga Igreja de São Francisco Xavier; e à direita do Colégio, as torres da Catedral da 
Sé. 
Fonte: Ricardo Hernán Medrano, agosto de 2007.16 Sobre o Largo da Sé (hoje Praça Frei Caetano Brandão) no 
período colonial, ver DERENJI, Jussara. “Sé, Carmo e Largo do Palácio. Espaços Públicos de Belém no 
Período Colonial”. In: TEIXEIRA, Manuel C. (Coord.). A Praça na Cidade Portuguesa. Lisboa: Livros 
Horizonte, 1999, pp.185-198. 
17 Hoje o Hospital Real é mais conhecido como “Casa das Onze Janelas”. Após a revitalização da área foi 
transformado em bar e restaurante. Sobre o Hospital Real, ver MENDONÇA, Isabel. Landi: um artista entre 
dois continentes, 2003, Op. cit., pp. 422-466. Sobre a sua restauração, ver FELIZ LUSITÂNIA: FORTE DO 
PRESÉPIO, CASA DAS ONZE JANELAS, CASARIO DA RUA CHAMPAGNAT, 2006, Op. cit. 
18 Sobre Antonio Giuseppe Landi, ver AMAZÓNIA FELSÍNIA: António José Landi: Itinerário Artístico e 
Científico de um Arquiteto Bolonhês na Amazónia do século XVIII. Lisboa: Comissão Nacional para as 
Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1999. 
19 O Forte do Presépio, é assim chamado, visto que os portugueses saíram de São Luís do Maranhão para 
fortificar a foz do Amazonas (fundar Belém) no dia de Natal do ano de 1615. Sobre o Forte de Belém ver 
ARAÚJO, Renata Malcher de. “O Presépio da Feliz Lusitânia” In: FELIZ LUSITÂNIA: FORTE DO 
PRESÉPIO, CASA DAS ONZE JANELAS, CASARIO DA RUA CHAMPAGNAT, 2006, Op. cit. 
8 
 
 
 
A “nortista” Belém, como veremos, foi fundada estrategicamente pelos portugueses na foz 
do Rio Amazonas em 12 de janeiro de 1616, no período de União das Coroas Ibéricas 
(1580-1640)20, com o intuito de defesa e demarcação do território.21 A jornada de fundação 
de Belém, e a tomada em 1615 de São Luís do Maranhão [Fig. 05], fundada pelos franceses 
em 1612, significou “uma espécie de dupla reconquista portuguesa: a do território do 
Maranhão em si que é liberto dos invasores e a do Marañon (o Amazonas) que é 
redescoberto”22. 
 
Figura 05: Imagem aérea de parte da área de fundação da cidade de São Luís do Maranhão. À extrema direita 
(canto inferior), a antiga Igreja e Colégio dos jesuítas (Nossa Senhora da Luz), atualmente Catedral de Nossa 
Senhora da Vitória. 
Fonte: Edgar Rocha, 2008. 
 
20 Sobre arquitetura e urbanização no período de União das Coroas, ver BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. 
“A Arquitetura Visual do Desenho Português. Nos Tempos dos Felipes (1580-1640)”. In: “Desenho e 
Desígnio: O Brasil dos Engenheiros Militares (1500-1822)”. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo 
da Universidade de São Paulo – FAUUSP, 2001, pp. 155-216 (Tese de Doutorado). 
21 ARAÚJO, Renata Malcher de. As Cidades da Amazónia do século XVIII: Belém, Macapá e Mazagão. 
Porto: FAUP Publicações, 1998, pp. 77-78 (Dissertação de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e 
Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1992). 
22 ARAÚJO, Renata. As Cidades da Amazónia do século XVIII...,1998, Op. cit., p. 78. Sobre a importância 
dada à expedição, no sentido de “redescoberta” do rio Amazonas, André Pereira, participante desta jornada que 
viria a fundar a cidade de Belém, escreveu um relato denominado “Relação do que ha no Grande Rio das 
Amazonas Novamente Descoberto” (1616). Cf. ARAÚJO, Renata. As Cidades da Amazónia do século 
XVIII..., 1998, Op. cit, p.78. 
 
9 
 
 
Compreendidas em conjunto, as fundações das cidades de Belém e São Luís foram, portanto, 
fundamentais para a consolidação do projeto de domínio e expansão do Império português 
na região norte do Brasil23, marcando o início da formação da rede urbana da Amazônia24, 
sendo que as ordens religiosas, em particular, os franciscanos, os carmelitas, os mercedários 
e, principalmente, os jesuítas, desempenharam um papel decisivo dentro deste processo.25 
Os primeiros missionários da Companhia de Jesus chegam ao Maranhão em 1615, retiram-
se no mesmo ano para Madri, e retornam em 162226 em uma expedição comandada pelo 
Padre Luís Figueira (1575-1643)27; para depois de algumas tentativas frustradas, 
estabelecerem-se também no Grão-Pará (Belém) em 165328, até a expulsão definitiva em 
1759.29 
No antigo Estado do Maranhão e Grão-Pará30, criado por uma Carta-Régia em 1621, com 
administração autônoma ligada diretamente à coroa portuguesa e independente do Estado do 
Brasil31, as duas principais fundações dos jesuítas foram a Igreja e o Colégio de Nossa 
Senhora da Luz (1699) em São Luís, capital do Maranhão; [Fig. 06 a Fig. 08]e os já citados, 
Igreja de São Francisco Xavier e Colégio de Santo Alexandre (1718 /1719) em Belém, 
capital do então Grão-Pará. [Fig. 09] Também merece destaque, no Grão-Pará, a Casa-
Colégio da Madre de Deus (1740) em Vigia (antiga Vila de Nossa Senhora de Nazaré da 
Vigia, 1693)32 [Fig. 10], edificação tombada pelo SPHAN no ano de 1954.33 
23 Sobre a política de colonização da coroa portuguesa na região Amazônica, ver entre outros títulos: REIS, 
Arthur Cezar Ferreira. A Política de Portugal no Valle Amazônico. Belém: SECULT, 1993; e 
CHAMBOULEYRON, Rafael Ivan. “Portuguese Colonization of the Amazon Region, 1640-1706”. University 
of Cambridge, Faculty of History, 2005. (Tese de Doutorado) 
24 ARAÚJO, Renata. As Cidades da Amazónia do século XVIII..., 1998, Op. cit, p. 78. 
25 Ver HOORNAERT, Eduardo et alii. História da Igreja na Amazônia. Petrópolis: Vozes, 1992. 
26 MORAES, José de. História da Companhia de Jesus na Extinta Província do Maranhão e Pará. Rio de 
Janeiro: Alhambra, 1987, pp. 79-80. 
27 O padre Luís Figueira S.J (“Memorial sobre as Terras e as Gentes do Maranhão, Grão-Pará e Rio 
Amazonas”, Lisboa, 1637) é considerado o fundador das Missões inacianas no Estado do Maranhão [ver 
Capítulo I da tese]. Figueira morre tragicamente em expedição com 14 missionários ao Grão-Pará em 1643, em 
um naufrágio próximo à Ilha do Marajó (Ilha Grande de Joanes). Crônicas e cartas relatam que os tripulantes 
teriam sido quase todos trucidados pela tribo dos Aruãs. Ver CARDOSO, Alírio Carvalho; 
CHAMBOULEYRON, Rafael. “Fronteiras da Cristandade: Relatos Jesuíticos no Maranhão e Grão-Pará 
(século XVIII)”. In: DEL PRIORE, Mary; GOMES, Flávio (Org.). Os Senhores dos Rios: Amazônia, Margens 
e Histórias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003, p. 34. 
28 LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil (1938), 2004, Op. cit., t. III, livro III, p. 517. 
10 
 
 
29 Sobre a Expulsão dos Jesuítas do Estado do Grão-Pará e Maranhão ver RODRIGUES, Luiz Fernando 
Medeiros. “Conquista Recuperada e Liberdade Restituída: A Expulsão dos Jesuítas do Grão-Pará e Maranhão 
(1759)”. Pontifícia Università Gregoriana, Facoltà di Storia Ecclesiastica, Roma, 2006, 2 v. (Tese de 
Doutorado) 
30 Segundo Chambouleyron, o antigo Estado do Maranhão e Grão-Pará corresponde, aproximadamente, à 
moderna região amazônica brasileira. CHAMBOULEYRON, Rafael. Portuguese Colonization..., 2005, Op. cit, 
p. 12. 
31 Efetivamente, o novo governo do Maranhão começa em 1626, quando o primeiro governador do Estado do 
Maranhão e Grão-Pará, Francisco Coelho de Carvalho, chega a São Luís. CHAMBOULEYRON, Rafael. 
Portuguese Colonization..., 2005, Op. cit, p. 13. 
 
 
 
Figura 06: Atual Catedral de Nossa Senhora da Vitória em São Luís do Maranhão, antiga Igreja Colégio 
jesuíticos de Nossa Senhora da Luz. 
Fonte: Edgar Rocha, 2008. 
 
11 
 
 
Figura 07 (à esquerda): Frontispício da Catedral de São Luís (antiga Igreja dos jesuítas) em 1908. Sobre o 
histórico das intervenções após o período jesuítico, ver Olavo Silva.34 
Figura 08 (à direita): Atual Frontispício da Catedral de Nossa Senhora da Vitória. Fonte: Renata Martins, julho 
de 2008. 
32 Localizada na desembocadura do Rio Pará, a vila servia como controle de entrada de embarcações, daí o 
nome Vigia. Ver ARAÚJO, Renata. As Cidades da Amazónia do século XVIII..., 1998, Op. cit, p. 331. 33 
Ministério da Cultura, IPHAN, Livro de Belas Artes, inscrição nº 424, data: 14 de dezembro de 1954. 
33 SILVA F., Olavo Pereira da. Arquitetura Luso-Brasileira no Maranhão. Belo Horizonte: UNESCO / 
Governo do Estado do Maranhão / Ministério da Cultura / Agência Brasileira de Cooperação, junho de 1998, p. 
[Projeto Monumenta 97]. 
 
 
Figura 09: Igreja e Colégio jesuítico de Santo Alexandre em Belém, atual Museu de Arte Sacra do Pará. 
Fonte: Ricardo Hernán Medrano, agosto de 2007. 
12 
 
 
 
Figura 10: Igreja da Madre de Deus da antiga Casa-Colégio dos jesuítas em Vigia no Pará. Fonte: Ricardo 
Hernán Medrano, julho de 2008. 
Dos aldeamentos missionários, sabemos que no início do século XVIII havia cerca de 30 
aldeias indígenas governadas pelos jesuítas ao longo do Rio Amazonas e seus afluentes; e 
que o número de “índios cristãos” das aldeias jesuíticas do Maranhão e Grão-Pará no ano de 
1696, era de aproximadamente 11.00035, das mais diversas etnias.36 Em 1726 a Companhia 
de Jesus ali possuía 99 religiosos, 2 Colégios, 27 residências e 12 Missões.37 Em 1727 a 
Missão do Maranhão e Grão-Pará é elevada a Vice-Província38. 
Quanto à criação do Bispado no Estado do Maranhão e Grão-Pará, marcando também a 
“independência” eclesiástica quanto ao Bispado de Salvador na Bahia, capital do Estado do 
Brasil, primeiramente foi instituída a Diocese do Maranhão (São Luís) em 30 de agosto de 
1677 pela bula Super Ecclesias Universas Orbis39, e somente no século XVIII, a do Grão-
Pará (Belém), pela bula Copiosus in Misericordia em 04 de março de 171940. 
Naturalmente, ao longo de nossa pesquisa pela História da Amazônia entre a segunda 
metade do século XVII e a primeira metade do século XVIII (1653-1759), as cidades de São 
Luís e Belém vão se mostrando indissociáveis, o que se reflete também no estudo da 
13 
 
 
arquitetura e da arte dos jesuítas, já que nos Colégios de Nossa Senhora da Luz e de Santo 
Alexandre funcionaram as maiores oficinas missioneiras de todo o grande Estado do 
Maranhão e Grão-Pará. A questão da irradiação de modelos e saberes técnicos das Oficinas 
do Colégio de Belém para as Igrejas das aldeias jesuíticas do interior do Grão-Pará, um dos 
pontos focais da tese, foi gradualmente sendo elucidada à medida que mergulhamos nos 
relatos e notícias acerca das Oficinas e do trabalho artístico realizado pelos missionários e 
indígenas anteriormente no Maranhão. 
 
Capítulo I “Historiografia” (Segunda Parte, nomeada “O Rococó Religioso em Portugal e no Brasil Litorâneo”) 
da obra “O Rococó Religioso no Brasil e seus Antecedentes Europeus”117, que embora trate especialmente da 
segunda metade do século XVIII, dá um bom panorama acerca da “permanência de diretrizes nacionalistas de 
tradição modernista na historiografia da arte brasileira do século XVIII”118 
Especificamente, quanto à historiografia da arquitetura e da arte nas missões dos jesuítas, nossa fonte de 
consulta primordial foi o excelente ensaio do historiador americano Gauvin Alexander Bailey, titulado Le style 
jésuit n’existe pas: Jesuit Corporate Culture and the Visual Arts119, e também a introdução da obra 
fundamental Art on the Jesuit Missions in Asia and Latin America (1542-1773)120 
 
 
 
A cultura barroca, concebida na visão dramatizante e moralizante do catolicismo reformador 
do século XVI, veiculou a difusão de tradições religiosas de cunho lúdico e festivo nas terras 
ultramarinas conquistadas pelas coroas ibéricas. Sobretudo, o culto aos santos com suas 
ladainhas, procissões e confrarias tornou-se o eixo principal de uma religiosidade popular 
divulgada nas cidades fundadas nas colônias hispânicas e lusas. Tais fenômenos 
contribuíram, de maneira significativa, à formação de uma identidade local nos núcleos 
urbanos do além-mar a partir do final do século XVI. Junto com as práticas religiosas 
migraram também conceitos artísticos e técnicas arquitetônicas Esta transferência marítima 
– protagonizada, sobretudo pela Companhia de Jesus – engendrou, nas palavras de Jean 
Meyer (2004, p. 194), uma verdadeira géographiemiroir ou “geografia-espelho” barroca no 
além-mar. 
Neste sentido, o Estado do Maranhão e Grão-Pará não foi uma exceção, sendo que as suas 
principais cidades, São Luís e Belém, ganharam, desde o início da colonização portuguesa 
em 1615-1616, feições ibero-barrocas mediante a construção de prédios militares 
(fortificações), eclesiásticos (igrejas, conventos) e administrativos (palacetes). Porém, as 
crises políticas e econômicas do século XVII, que afligiram de maneira aguda o ImpérioPortuguês, e a precariedade desta colônia tardia, cuja rentabilidade principal provinha de um 
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extrativismo florestal e uma agricultura extensiva pouco lucrativos, retardaram este processo 
(ALENCASTRO, 2006, p. 67-76; MAURO, 1972, p. 80). 
No que diz respeito à produção arquitetônico, ela seguiu também os moldes do barroco 
ibérico. De fato, no século XVII, na medida em os núcleos urbanos no além-mar se 
consolidaram e se hierarquizaram socialmente em razão da crescente diversidade de funções 
administrativas, econômicas e eclesiásticas, eles se dotaram de uma primeira infra-estrutura 
patrimonial. Conventos, igrejas, colégios, palacetes e hospitais ou asilos – as casas de 
misericórdia7 – marcaram cedo a silueta de muitas cidades lusas na Ásia (Goa, Macau), 
África (Luanda) e América (Salvador, Recife, Olinda, São Luís, Belém) (MAURO, 1972, p. 
167). No que se refere à Amazônia, Bettendorff (1990, p. 17-19 e 22-24) realça em 1698, 
isto é, bem no final do século XVII, a contribuição jesuítica para um primeiro 
aprimoramento urbanístico nesta colônia periférica e precária. 
Os escritos do padre luxemburguês apontam, sobretudo a partir do final dos anos 1660, para 
uma fase mais intensa de construção e/ou reforma dos colégios e igrejas nas duas cidades 
amazônicas. Foi justamente neste período que a presença inaciana começou a se consolidar 
novamente após dois graves golpes sofridos, a saber, o levante dos colonos de 1661, que 
levou Vieira e outros padres ao exílio, e a supressão do monopólio pastoral e jurídico da 
Companhia de Jesus sobre os índios, em 1663 (ARENZ, 2010, p. 168- 169). A cidade de 
São Luís, a sede da Missão, teve uma clara prioridade em vista de um patrimônio 
representativo, sobretudo durante a presença de Antônio Vieira nos anos 1650. Já na década 
seguinte, Belém começa a se destacar como novo lugar de referência da atividade – e da 
construção – jesuítica; sem dúvida, em razão de sua função de ponto de partida para o vasto 
vale do Amazonas com seu labirinto de afluentes (ARENZ, 2008, p. 85-86). A centralidade 
e a relativa suntuosidade das casas – elevadas à categoria de colégios em 16708 – e das 
igrejas adjacentes realçaram, de forma bem visível, a importância da Companhia de Jesus. É 
partir destes complexos que os missionários executaram suas múltiplas atividades pastorais, 
litúrgicas, educativas, administrativas, assistencialistas, artísticas, econômicas, jurídicas e até 
políticas (parcialmente CHAMBOULEYRON; NEVES NETO, 2010, p. 1-19). 
Quanto ao complexo do colégio em Belém, ele remonta à vinda dos padres João Souto 
Maior e Francisco Velloso à cidade em 1652. Estes dois jesuítas chegaram com a 
recomendação de D. João IV de “construir igrejas” nas capitanias do Grão-Pará. O primeiro 
estabelecimento em Belém, feito de taipa, encontrava-se na Campina, isto é, nos arredores 
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do núcleo habitacional de então, num sítio cedido pelos mercedários; mas logo os jesuítas 
mudaram-se para um terreno ao lado do forte. Sito num ponto central e estratégico, a nova 
residência inaciana tornou-se uma referência importante na ainda jovem cidade. 
O Colégio de Santo Alexandre – que abriga o Museu de Arte Sacra – ocupa o lugar até hoje. 
Segundo Leite, o primeiro prédio foi terminado entre 1656 e 1658, na época do visitador 
Francisco Gonçalves (LEITE, 1943, v. 3, p. 208-211; BETTENDORFF, 1990, p. 74-75). Em 
1667-1668, por ocasião da visitação do padre Manuel Juzarte, que coincidiu com o início do 
primeiro superiorato de Bettendorff, a casa e a igreja foram renovadas. Tratou-se, sobretudo, 
da substituição da primeira capela de taipa, erguida em 1653. Bettendorff a descreveu – 
junto com a sacristia – como “pequenas cabanas feitas com folhas de palmeira” 11. Como 
em São Luís, a reforma foi realizada no contexto de uma conjuntura política relativamente 
favorável, marcada pela ascensão de D. Pedro II como príncipe-regente em 1667 
(LABOURDETTE, 2000, p. 248-164). Também em decorrência disso, percebe-se, no final 
da década de 1660, uma consolidação geral do empreendimento jesuítico na região. A 
sagração da nova igreja de Belém ocorreu na festa de seu santo padroeiro, São Francisco 
Xavier, em 3 de dezembro de 1668. Bettendorff (ARSI, cód. Bras 9, fl. 261v, tradução 
nossa). 
Como já mencionado acima, parte da decoração interior da nova igreja foi realizada pelos 
irmãos João de Almeida e Baltasar de Campos. Finalmente, houve uma última remodelação 
dos prédios que iniciou em 1692, no término do terceiro superiorato de Bettendorff. Este 
novo canteiro resultou no conjunto, inaugurado em 1718, que conhecemos até hoje (LEITE, 
1943, v. 3, p.211-216; BETTENDORFF, 1990, p. 250 e 253-255; SANTOS, 1951, p. 108). 
Para construir este patrimônio artístico-arquitetônico na Amazônia, os jesuítas contaram 
com o saber de seus próprios membros e o de profissionais leigos, como Cristóvão 
Domingos. Quanto à mão-de-obra indígena e suas condições de trabalho, as fontes jesuíticas 
se calam. Em contraste com este silêncio, Leite realça que havia cinco arquitetos ou peritos 
em arquitetura que pertenceram à Missão do Maranhão, sendo que todos atuaram na segunda 
metade do século XVII (LEITE, 1953, p. 42). São eles: o francês João de Almeida, o 
luxemburguês João Felipe Bettendorff e os portugueses Manuel Rodrigues, Diogo da Costa 
e Manuel da Silva. Trata-se, portanto, de um grupo diversificado quanto às origens e aos 
conhecimentos. Entre um total de vinte e um arquitetos inacianos “de ofício” e de talento em 
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todo o Brasil entre 1549 e 1759, este número elevado para a Amazônia revela a importância 
dada à construção nesta Missão periférica. 
Para financiar as obras, houve – além de somas provindas da atividade econômica da Missão 
– sobretudo a contribuição de amigos leigos que, muitas vezes, ocuparam altos cargos na 
colônia e integraram, ao mesmo tempo, uma confraria sob a direção espiritual de um padre 
jesuíta. Um exemplo ilustre destes benfeitores de destaque é o capitão Paulo Martins Garro 
(BETTENDORFF, 1990, p. 247-248). 
Embora a Amazônia constituísse neste período uma colônia tardia e precária – a colonização 
lusa só iniciou em 1616 e a única fonte de exploração lucrativa foi o extrativismo florestal –, 
os jesuítas conseguiram expandir a rede de aldeamentos e assegurar um controle estrito 
sobre os índios. Neste processo, os efeitos impactantes de imagens coloridas ou prédios 
vistosos sobre uma população ameríndia tida como rude foram essenciais. De fato, estampas 
representando diversos santos – sobretudo a Virgem Maria e os padroeiros da Companhia – 
ou mostrando cenas tanto das chamas infernais como do gozo celestial “ilustraram” uma 
catequese repetitiva. De fato, os jesuítas que não procuraram “civilizar” no sentido moderno 
de uma adaptação total aos modos de vida europeus, se contentaram com uma evangelização 
superficial marcada por elementos lúdicos que emanaram da cultura barroca. Esta facilitou, 
ao menos aparentemente, a mediação cultural. Nos encontros e desencontros entre 
missionários inacianos e missionados indígenas do século XVII origina-se o imaginário 
neobarroco dos amazônidas de hoje. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
BETTENDORFF, João Felipe. Crônica dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do 
Maranhão. Belém: Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves/Secretaria de Estado da 
Cultura, 1990. 
LEITE, Serafim. Artes e ofícios dos jesuítas no Brasil: 1549-1760. Lisboa/Rio de Janeiro: 
Brotéria/Livros de Portugal, 1953. 
 _______. História da Companhia de Jesus no Brasil. V. 3. Rio de Janeiro/ Lisboa: 
Instituto Nacional do Livro/Livraria Portugalia, 1943. 
 _______. História da Companhia de Jesus no Brasil. V. 4. Rio de Janeiro/ Lisboa: 
Instituto Nacional do Livro/Livraria Portugalia, 1943. 
MARTINS, Renata Maria de Almeida. Tintas da terra – tintas do reino: arquitetura e 
arte nas Missões Jesuíticas do Grão-Pará(1653-1759). São Paulo: USP, 2009. 850 f. (2 
v.). Tese de doutorado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 
São Paulo, 2009.

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