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1 Literatura Quinhentismo Objetivo Você aprenderá sobre a definição de quinhentismo, além das principais obras e representantes. Se liga Para esse conteúdo é importante que tenha em mente o conceito de arte e gêneros literários. Curiosidade A maior representação do quinhentismo é a carta de Pero Vaz de Caminha, destinada à corte de Portugal. Aqui está o material na íntegra. Teoria Introdução As escolas literárias no Brasil possuem características diversas ao longo dos séculos, a partir de seu contexto histórico, momentos políticos e valores sociais. Assim, para essa aula, veremos alguns pontos importantes sobre a primeira manifestação “literária” do país. Mais para a frente, compreenderemos o porquê de literária estar entre aspas. No século XVI, momento histórico marcado pelas grandes navegações, os portugueses buscavam novas terras e acordos comerciais. Em 1500, com o intuito de encontrar o caminho das Índias, os navegantes acabaram avistando as terras brasileiras e, desde então, iniciou-se um grande processo colonizador ao território encontrado e aos índios que ali habitavam. Sendo assim, a partir do momento que os portugueses chegam nesta nova terra, eles passam a escrever relatos com a finalidade inicial de informar ao reino de Portugal sobre o novo território encontrado. No Brasil, tais registros escritos marcaram o período intitulado como Quinhentismo. O Quinhentismo O período quinhentista é marcado pelo início do processo de colonização no Brasil. Não se trata exatamente de uma corrente literária (por isso as aspas anteriormente), pois sua contribuição é muito mais histórica e informativa sobre aquele momento, uma vez que é caracterizada pelo choque cultural entre índios e europeus: os primeiros contatos, as relações de troca, a linguagem, a diferença entre os valores e hábitos e, também, a exploração das pessoas indígenas. Além disso, devido às cartas de Pero Vaz de Caminha, escrivão português presente na armada de Pedro Álvares Cabral, e aos textos de outros cronistas como Pero Magalhães de Gândavo e Gabriel Soares de Sousa, tivemos acesso às informações e relatos daquele período, tais como a descrição climática e geográfica. Contudo, essas manifestações propiciaram condições para as futuras produções literárias do Brasil colonial http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp 2 Literatura e fomentaram a criação de uma escrita artística voltada ao ambiente, ao homem e à formação cultural do país. Dado o caráter de registro neste período, vale frisar que não há lirismo, subjetividade, elementos comuns a outros momentos literários. Na literatura de informação (que você verá a seguir), por exemplo, os textos são descritivos (logo, a função denotativa da linguagem prevalece, e não a emotiva). O objetivo era o de relatar e descrever o território novo. A literatura informativa Também chamada de literatura da informação, é conhecida pelas descrições da terra brasileira durante os primeiros anos no processo de colonização. Os textos tinham o intuito de informar aos governantes de Portugal sobre o território explorado e os interesses comerciais. Assim, pode-se dizer que os assuntos recorrentes de tais documentos eram: ● exploração de matéria-prima ● área favorável para a implementação de colônias ● a abundância de minérios ● a grandiosidade da fauna ● o contato com os indígenas, entre outros. Leia, abaixo, dois trechos da carta do escrivão Pero Vaz de Caminha, enviada à corte portuguesa, pouco tempo após a chegada dos europeus em solo brasileiro.Tal carta também é conhecida como a “certidão de nascimento” do Brasil, tido que não havia registro escrito antes da chegada dos portugueses. “O capitão quando eles vieram estava assentado em uma cadeira e uma alcatifa aos pés por estrado e bem vestido com um colar d’ouro mui grande ao pescoço.” "Andam nus sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa de cobrir nem mostrar suas vergonhas e estão acerca disso com tanta inocência como têm de mostrar no rosto. (...) Eles porém contudo andam muito bem curados e muito limpos e naquilo me parece ainda mais que são como as aves ou alimárias monteses que lhes faz o ar melhor pena e melhor cabelo que as mansas, porque os corpos seus são tão limpos e tão gordos e tão fremosos que não pode mais ser." ● Consegue distinguir? O primeiro trecho se refere ao capitão, Pedro Álvares Cabral, representado com solenidade, bem vestido, elegante (“com um colar d’ouro”). Por outro lado, ao ilustrar o povo nativo, Caminha traz quase uma descrição selvagem, considerados “como aves ou alimárias” (sendo alimárias, segundo o dicionário, definidas como qualquer animal quadrúpede). Perceba o contraste entre a visão do europeu sobre o seu semelhante, e a visão do europeu sobre o “outro”. Essa percepção quase animalizada do diferente, aos olhos europeus, contribui para o processo de aculturação, que veremos à frente. Veja, a seguir, um diferente trecho extraído da mesma carta, porém, agora descrevendo o ambiente. “De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito fremosa. (...) Nela até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... porém a terra em si é de muito bons ares assim frios e temperados como os de Entre-Doiro- 3 Literatura e-Minho. Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem (...)”. Repare que, aqui, há a descrição geográfica do local que, futuramente, virou o Brasil: fala-se sobre a praia, trazendo adjetivos positivos à paisagem. Relata-se sobre os ares e o volume das águas. Assim, cumprindo a função de detalhar ao reino português sobre o novo local. A seguir, você lerá sobre a literatura Jesuítica que, diferente da Informativa, apresentava outro objetivo durante o Quinhentismo. Vamos ver! A literatura Jesuítica A literatura jesuítica, ou também intitulada como literatura de catequese, surgiu com a chegada dos jesuítas ao Brasil-Colônia. Os jesuítas vieram à terra tupiniquim para catequizar os índios e, segundo a ideologia cristã, era uma maneira de livrá-los de seus “pecados” e conhecer a Deus, além de conquistar novos fiéis e, assim, expandir o catolicismo. Os principais nomes da literatura informativa são José de Anchieta, Manuel da Nóbrega e Fernão Cardim. É importante dizer, ainda, que os colonizadores ficaram insatisfeitos com a atuação dos jesuítas, visto que os índios eram usados como mão de obra escrava para a extração da árvore Pau Brasil e, sendo influenciados pelo catolicismo, muitos acabavam sendo protegidos pelos jesuítas para outros fins. No entanto, é importante compreender que, apesar de os jesuítas, a princípio, protegerem os nativos para que não fossem utilizados como mão de obra escrava, cabe frisar que, estes europeus foram os responsáveis pelo processo de aculturação indígena. Apesar de alguns relatos jesuítas denunciarem os maus-tratos sofridos pelos índios, o caráter didático-religioso, ou seja, a imposição do cristianismo como única manifestação correta de religião, por parte destes catequistas, levou à proibição dos ritos, religiões e vivências indígenas. Confira, a seguir, um trecho de um dos poemas de José de Anchieta, intitulado A Santa Inês. Cordeirinha linda, Como folga o povo, Porque vossa vinda Lhe dá lume novo! Cordeirinha santa, De Jesus querida, Vossa santa vida O Diabo espanta. Por isso vos canta Com prazer o povo, Porque vossa vinda Lhe dá lume novo. (...) 4 Literatura Observe o quadro a seguir, intitulado Primeira Missa no Brasil (1860), que representa a ação jesuítica no território brasileiro. Perceba que o foco de luz, na pintura, está localizado na região da cruz e do Frei Henrique em frente a ela. À periferia, estão dispostos os indígenas. Primeira Missa noBrasil, 1860. Victor Meirelles 5 Literatura Exercícios de fixação 1. Entende-se por literatura informativa no Brasil: a) o conjunto de relatos de viajantes e missionários europeus, sobre a natureza e o homem brasileiros. b) a história dos jesuítas que aqui estiveram no século XVI. c) as obras escritas com a finalidade de catequese do indígena. d) os poemas do Padre José de Anchieta. 2. Como é a descrição dos primeiros índios feita por Pero Vaz de Caminha no litoral brasileiro? Apresente sua resposta. 3. Analise a tira cômica abaixo: (Disponível em: http://www.custodio.net/tiras-did-ticas.html) Por que não se teve uma literatura propriamente dita nos primeiros cem anos do Brasil? Justifique sua resposta. 4. É correto dizer que a literatura brasileira nasceu marcada: a) pela cultura clássica greco-romana. b) pelas luzes do racionalismo francês. c) pelo renascimento italiano, filtrado através da experiência nativa. d) pela cultura padres jesuítas e literatura de informação. 5. Assinale a incorreta: a) A literatura de viagens constitui valioso documento do Brasil-Colônia. b) Na literatura de viagens encontramos informações sobre a natureza e o homem brasileiro. c) Os primeiros escritos sobre o Brasil pertencem à categoria de literatura, uma vez que notamos neles preocupações estéticas. d) O mito ufanista é representado pelo louvor à terra fértil e a natureza como algo exuberante. 6 Literatura Exercícios de vestibulares 1. Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida colonial brasileira, é correto afirmar que: a) É formada principalmente de poemas narrativos e textos dramáticos que visavam à catequese. b) Inicia com Prosopopeia, de Bento Teixeira. c) É constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e pela literatura jesuítica. d) Os textos que a constituem apresentam evidente preocupação artística e pedagógica. e) Descreve com fidelidade e sem idealizações a terra e o homem, ao relatar as condições encontradas no Novo Mundo. 2. Leia a estrofe abaixo e faça o que se pede: Dos vícios já desligados nos pajés não crendo mais, nem suas danças rituais, nem seus mágicos cuidados. (ANCHIETA, José de. O auto de São Lourenço [tradução e adaptação de Walmir Ayala]. Rio de Janeiro: Ediouro[s.d.]p. 110.) Assinale a afirmativa verdadeira, considerando a estrofe acima, pronunciada pelos meninos índios em procissão: a) Os meninos índios representam o processo de aculturação em sua concretude mais visível, como produto final de todo um empreendimento do qual participaram com igual empenho a Coroa Portuguesa e a Companhia de Jesus. b) A presença dos meninos índios representa uma síntese perfeita e acabada daquilo que se convencionou chamar de literatura informativa. c) Os meninos índios estão afirmando os valores de sua própria cultura, ao mencionar as danças rituais e as magias praticadas pelos pajés. d) Os meninos índios são figuras alegóricas cuja construção como personagens atende a todos os requintes da dramaturgia renascentista. e) Os meninos índios representam a revolta dos nativos contra a catequese trazida pelos jesuítas, de quem querem libertar-se tão logo seja possível. 7 Literatura 3. O movimento literário que retrata as manifestações literárias produzidas no Brasil à época de seu descobrimento, e durante o século XVI, é conhecido como Quinhentismo ou Literatura de Informação. Analise as proposições em relação a este período. I. A produção literária no Brasil, no século XVI, era restrita às literaturas de viagens e jesuíticas de caráter religioso. II. A obra literária jesuítica, relacionada às atividades catequéticas e pedagógicas, raramente assume um caráter apenas artístico. O nome mais destacado é o do padre José de Anchieta. III. O nome Quinhentismo está ligado a um referencial cronológico — as manifestações literárias no Brasil tiveram início em 1500, época da colonização portuguesa — e não a um referencial estético. IV. As produções literárias neste período prendem-se à literatura portuguesa, integrando o conjunto das chamadas literaturas de viagens ultramarinas, e aos valores da cultura greco-latina. V. As produções literárias deste período constituem um painel da vida dos anos iniciais do Brasil colônia, retratando os primeiros contatos entre os europeus e a realidade da nova terra. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras. b) Somente a afirmativa II é verdadeira. c) Somente as afirmativas I, II, III e V são verdadeiras. d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras. e) Todas as afirmativas são verdadeiras. 4. José de Anchieta faz parte de um período da história cultural brasileira (século XVI) em que se destacaram manifestações específicas: a chamada “literatura informativa” e a “literatura jesuítica”. Assinale a alternativa que apresenta um excerto característico desse período. a) Fazer pouco fruto a palavra de Deus no mundo pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. (Pe. Antônio Vieira) b) Triste Bahia! ó quão dessemelhante / Estás e estou do nosso antigo estado, / Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado, / Rica te vi eu já, tu a mim abundante. (Gregório de Matos) c) Uma planta se dá também nesta Província, que foi da ilha de São Tomé, com a fruita da qual se ajudam muitas pessoas a sustentar a terra. […] A fruita dela se chama banana. (Pero de Magalhães Gândavo) d) Vós haveis de fugir ao som de padre-nossos, / Frutos da carne infel, seios, pernas e braços, / E vós, múmias de cal, dança macabra de ossos! (Alphonsus de Guimaraens) 8 Literatura 5. "Esta virtude estrangeira me irrita sobremaneira. Quem a teria trazido com seus hábitos polidos estragando a terra inteira? Quem é forte como eu? Como eu, conceituado? Sou diabo bem assado, Boa medida é beber cauim até vomitar. Que bom costume é bailar! Adornar-se, andar pintado, tingir penas, empenado fumar e curandeirar andar de negro pintado". (Auto de São Lourenço, José de Anchieta.) Nestes versos aparecem características da produção poética de José de Anchieta, exceto: a) versos curtos de tradição popular; b) preocupação catequética; c) linguagem direta; d) tensão e elaboração artística renascentista; e) conflito entre o bem e o mal. 9 Literatura 6. TEXTO I Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. […] Andavam todos tão bem-dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam. (CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).) TEXTO II (O descobrimento do Brasil, Cândido Portinari. Óleo sobre tela, 1956. Disponível em: http://www.portinari.org.br/#/acervo/obra/2551.) Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que: a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária. b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a afirmação da arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna. c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietaçãodos nativos. d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes – verbal e não verbal –, cumprem a mesma função social e artística. e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um mesmo momento histórico, retratando a colonização. 10 Literatura 7. “Quando morre algum dos seus põem-lhe sobre a sepultura pratos, cheios de viandas, e uma rede (...) mui bem lavada. Isto, porque creem, segundo dizem, que depois que morrem tornam a comer e descansar sobre a sepultura. Deitam-nos em covas redondas, e, se são principais, fazem-lhes uma choça de palma. Não têm conhecimento de glória nem inferno, somente dizem que depois de morrer vão descansar a um bom lugar. (...) Qualquer cristão, que entre em suas casas, dão-lhe a comer do que têm, e uma rede lavada em que durma. São castas as mulheres a seus maridos.” (Padre Manuel da Nóbrega.) O texto, escrito no Brasil colonial: a) Pertence a um conjunto de documentos da tradição histórico literária brasileira, cujo objetivo principal era apresentar à metrópole as características da colônia recém descoberta. b) Já antecipa, pelo tom grandiloquente de sua linguagem, a concepção idealizadora que os românticos brasileiros tiveram do indígena. c) É exemplo de produção tipicamente literária, em que o imaginário renascentista transfigura os dados de uma realidade objetiva. d) É exemplo característico do estilo árcade, na medida em que valoriza poeticamente o “bom selvagem”, motivo recorrente na literatura brasileira do século XVIII. e) Insere-se num gênero literário específico, introduzido nas terras americanas por padres jesuítas com o objetivo de catequizar os indígenas brasileiros. 8. Leia, abaixo, o fragmento da História da Província de Santa Cruz, de Pero de Magalhães Gândavo, para responder à questão. Finalmente que como Deus tenha de muito longe esta terra dedicada à cristandade, e o interesse seja o que mais leva os homens trás si que nenhuma outra coisa haja na vida, parece manifesto querer entretê-los na terra com esta riqueza do mar até chegarem a descobrir aquelas grandes minas que a mesma terra promete, para que assim desta maneira tragam ainda toda aquela bárbara gente que habita nestas partes ao lume e ao conhecimento da nossa santa fé católica, que será descobrir-lhe outras minas maiores no céu, o qual nosso Senhor permita que assim seja, para glória sua, e salvação de tantas almas. (GÂNDAVO, Pero de Magalhães. História da Província de Santa Cruz. Org. Ricardo Martins Valle. Introd. e notas Ricardo Martins Valle e Clara Carolina Souza Santos. São Paulo: Hedra, 2008. p. 115.) a) nos textos de informação estavam consorciados o projeto de exploração das novas terras descobertas e o de difusão da fé cristã. b) O autor julga desinteressante a perspectiva de exploração mercantil do Brasil, preferindo a ela o projeto de difusão da fé cristã. c) o autor condena os homens ambiciosos e interesseiros, que preferem a exploração mercantil ao projeto abnegado de difusão da fé cristã. d) o autor condena a hipocrisia dos que afirmam empreender em nome da fé cristã, mas que apenas se interessam pelas “grandes minas” a descobrir. e) havia discrepância e dissenso entre o projeto de exploração das novas terras descobertas e o de difusão da fé cristã. 11 Literatura 9. TEXTO I José de Anchieta fazia parte da Companhia de Jesus, veio ao Brasil aos 19 anos para catequizar a população das primeiras cidades brasileiras e, como instrumento de trabalho, escreveu manuais, poemas e peças teatrais. TEXTO II Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque e não se vê em todo ano árvore nem erva seca. Os arvoredos se vão às nuvens de admirável altura e grossura e variedade de espécies. Muitos dão bons frutos e o que lhes dá graça é que há neles muitos passarinhos de grande formosura e variedades e em seu canto não dão vantagem aos rouxinóis, pintassilgos, colorinos e canários de Portugal e fazem uma harmonia quando um homem vai por este caminho, que é para louvar o Senhor, e os bosques são tão frescos que os lindos e artificiais de Portugal ficam muito abaixo. (ANCHIETA, José de. Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões do Padre Joseph de Anchieta. Rio de Janeiro: S.J., 1933, 430-31 p.) A leitura dos textos revela a preocupação de Anchieta com a exaltação da religiosidade. No texto 2, o autor exalta ainda, a beleza natural do Brasil por meio: a) Do emprego de primeira pessoa para narrar a história de pássaros e bosques brasileiros, comparando-os aos de Portugal. b) Da adoção de procedimentos típicos do discurso argumentativo para defender a beleza dos pássaros e bosques de Portugal. c) Da descrição de elementos que valorizam o aspecto natural dos bosques brasileiros, a diversidade e a beleza dos pássaros do Brasil. d) Do uso de indicações cênicas do gênero dramático para colocar em evidência a frescura dos bosques brasileiros e a beleza dos rouxinóis. e) Do uso tanto de características da narração quanto do discurso argumentativo para convencer o leitor da superioridade de Portugal em relação ao Brasil. 12 Literatura 10. (ECKHOUT, A. “Índio Tapuia” (1610-1666).) “A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto.” (CAMINHA, P. V. A carta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br.) Ao se estabelecer uma relação entre a obra de Eckhout e o trecho do texto de Caminha, conclui-se que: a) ambos se identificam pelas características estéticas marcantes, como tristeza e melancolia, do movimento romântico das artes plásticas. b) o artista, na pintura, foi fiel ao seu objeto, representando-o de maneira realista, ao passo que o texto é apenas fantasioso. c) a pintura e o texto têm uma característica em comum, que é representar o habitante das terras que sofreriam processo colonizador. d) o texto e a pintura são baseados no contraste entre a cultura europeia e a cultura indígena. e) há forte direcionamento religioso no texto e na pintura, uma vez que o índio representado é objeto da catequização jesuítica. Sua específica é linguagens e quer continuar estudando esse assunto? Clique aqui para fazer uma lista de exercícios extras. http://www.dominiopublico.gov.br/ https://dex.descomplica.com.br/enem/literatura/exercicios-quinhentismo 13 Literatura Gabaritos Exercícios de fixação 1. A A literatura de informação, diferentemente da literatura jesuítica, apresenta os relatos dos portugueses a partir da chegada no Brasil. Assim, é descrita a fauna, assim como a flora, dentre outras características locais. 2. A primeira menção aos índios inicia no trecho "E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro." A partir de então, Caminha procede com a descrição dos nativos e se mostra impressionado com a beleza e com o aspecto diferente dos índios principalmente no que concerne ao vestuário, ao cabelo, à cor da pele e aos adereços do corpo. Caminha também se mostra impressionado com o fato de que os índios não pareciam incomodados ao mostrar suas partes íntimas o que, segundo Caminha, era um sinal de inocência. 3. A razão de não se ter uma literatura propriamente dita nos primeiros anos do Brasil se deve, primordialmente, à representação de colônia de exploração por parte de Portugal. No início do processo de colonização, a nação lusitana retirava as riquezas do país, de modo a levar diretamente ao cenário europeu. Assim, somente no início do século XIX, foi possível ver mudanças nessecenário, a partir da chegada da corte portuguesa. 4. D A literatura do quinhentismo buscou apenas mapear as novas terras, bem como utilizar as melodias jesuíticas para construir o processo de aculturação. 5. C Os primeiros escritos não buscavam preocupação estética, visto que era de cunho informativo ou religioso, com o intuito de catequisar e descrever as terras recém descobertas. Exercícios de vestibulares 1. C Os relatos de viagem e a literatura jesuítica dominaram a produção literária colonial, já que o Brasil ainda não tinha uma identidade cultural estruturada. 2. A É possível analisar que o objetivo da Coroa Portuguesa e da Companhia de Jesus em relação ao povo nativo do Brasil estava dando certo, pois os versos “Dos vícios já desligados,/nos pajés não crendo mais,/nem suas danças rituais,/nem seus mágicos cuidados” mostram o processo de aculturamento a que estavam submetidos os índios. 14 Literatura 3. C I. A produção literária no Brasil, no século XVI, era restrita às literaturas de viagens e jesuíticas de caráter religioso. – CORRETA II. A obra literária jesuítica, relacionada às atividades catequéticas e pedagógicas, raramente assume um caráter apenas artístico. O nome mais destacado é o do padre José de Anchieta. - CORRETA III. O nome Quinhentismo está ligado a um referencial cronológico — as manifestações literárias no Brasil tiveram início em 1500, época da colonização portuguesa — e não a um referencial estético. - CORRETA IV. As produções literárias neste período prendem-se à literatura portuguesa, integrando o conjunto das chamadas literaturas de viagens ultramarinas, e aos valores da cultura greco-latina. – ERRADA. As produções literárias neste período prendem-se à literatura de catequese e informação, traços dos primeiros contatos dos portugueses com nativos brasileiros. V. As produções literárias deste período constituem um painel da vida dos anos iniciais do Brasil colônia, retratando os primeiros contatos entre os europeus e a realidade da nova terra. - CORRETA 4. C Além de Gândavo ser um dos nomes da literatura informativa, dentre as opções o trecho “Uma planta se dá também nesta Província, que foi da ilha de São Tomé, com a fruita da qual se ajudam muitas pessoas a sustentar a terra. […] A fruita dela se chama banana” é o único que apresenta uma descrição objetiva do território brasileiro, um traço do Quinhentismo. As outras opções eram de autores de outros períodos literários. 5. D “Tensão e elaboração artística renascentista” não eram características da literatura colonial, que visava, principalmente, a relatar informações sobre a terra explorada e catequizar os nativos. 6. C A carta é um documento que mostra, a partir da perspectiva do colonizador, como foi a recepção pelos nativos. Por sua vez, a pintura coloca em primeiro plano a perspectiva dos nativos ao se depararem com as embarcações portuguesas chegando. 7. A A principal função da literatura quinhentista era reportar à metrópole informações sobre a exploração da nova terra. Dessa forma, os relatos são classificados como históricos. 8. A A literatura de informação apresenta relatos da época de descobrimento dos territórios nacionais por meio de portugueses, o que lhes trazia imensa alegria e ambição por terem se deparado com um ambiente fértil e promissor para a exploração. 9. C José de Anchieta descreve, subjetivamente, a natureza do Brasil, de maneira idealizada. Para isso, compara elementos do Brasil aos de Portugal, enaltecendo-os em relação aos europeus. 10. C Ambos os textos abordam a questão do índio, que eram os nativos encontrados na América. A pintura dialoga com o que está escrito na carta de Caminha, representando o índio sem vestimentas, com seus apetrechos.
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