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TA_Políticas macro e agricultura[1]_2020

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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
FACULDADE DE VETERINÁRIA
DISCIPLINA: ECONOMIA E GESTÃO
TEXTO DE APOIO DE MACROECONOMIA 
1.	INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS MACRO SOBRE O SECTOR AGRÁRIO
A sector agrário tem ligações e interrelações importantes com o resto da economia, sendo, por isso, vulnerável a alterações nos outros sectores, incluindo as políticas macroeconómicas. Embora estas políticas sejam desenhadas para melhorar a economia nacional, elas têm muitas vezes efeitos inde-sejáveis e perniciosos na economia agrária. 
As políticas fiscal, monetaria, cambial e comercial e, em particular, os principais ‘preços macro-económicos’ (taxas de juro, taxa de salários e taxa de câmbio), incidem de modo tão significativo nos preços relativos dos produtos agropecuários, nos termos de troca rural e urbana e no poder de com-pra dos consumidores, que em muitas situações a política agrária tem de dedicar-se a corrigir os efeitos indesejados daquelas políticas. Em Moçambique, por exemplo, as políticas macroeconómicas têm um efeito maior na agricultura do que a própria política agrária. 
Através das políticas macroeconómicas, o governo afecta os preços relativos da economia (Fig. 1). Estes preços representam os incentivos (ou sinais) que servem para que os agentes do sector agrário tomem as suas decisões sobre o que produzir, quanto produzir, como produzir e para quem pro-duzir. Directa ou indirectamente, as políticas afectam a formação dos custos de produção e, com eles, as decisões de investir, as opções tecnológicas e o ritmo de crescimento da economia. 
Figura 1. Ligações das políticas macroeconómicas à agricultura
As políticas macroeconómicas são essenciais na criação de um ambiente favorável para o desen-volvimento do sector agrário. Fazem parte desse ambiente a existência de:
· uma taxa de câmbio próxima do equilíbrio (taxa de câmbio livremente determinada pelas forças de oferta e procura de moeda), 
· taxas de juros reais próximas do custo de oportunidade do capital (o valor associado à me-lhor alternativa não escolhida),
· uma política fiscal prudente, de modo que o governo tenha condições de manter ou ampliar a estrutura produtiva da agricultura.
1.1	INFLUÊNCIA DA POLÍTICA FISCAL
Como vimos antes, a política fiscal reflecte o balanço entre as receitas e as despesas do governo. Com a política fiscal, o governo:
· obtém receitas de diversas actividades da agricultura (impostos, licenças, taxas e outros), e
· afecta recursos para diferentes programas do sector agrário (infraestruturas, equipamentos, subsídios e outros apoios aos produtores agrários, investigação, formação, transferência de tecnologia, subsídios a consumidores, etc). 
Havendo restrições orçamentais, geram-se conflitos entre os objectivos do governo, pois maior apli-cação (despesa) no sector agrário significa menor aplicação nos outros sectores da economia (saúde, educação, etc). Se houver défice orçamental, o financiamento do défice também tem implicações na agricultura, não só porque lhe retira recursos que são canalizados para o governo, mas também porque provoca altas taxas de juro que afectam o investimento no sector. 
A política fiscal pode ter uma diferenciação para estimular a agricultura, através de benefícios ou incentivos fiscais. O incentivo fiscal corresponde à redução ou à eliminação, directa ou indirecta, dos impostos a pagar. A isenção fiscal é a situação em que certas actividades ou sectores são isentados, temporariamente, do pagamento da totalidade ou de parte de certos impostos, respeitando a legis-lação tributária vigente. 
Importa salientar que os estímulos fiscais ao sector agrário significam um custo que nem sempre é possível assumir sem sacrificar outros objectivos de desenvolvimento económico, pois menos impos-tos pagos na agricultura significa menos receita para o Estado aplicar, não só na agricultura como em outros sectores. 
· Efeitos da política fiscal expansionista
A política fiscal expansionista gera um efeito de riqueza na sociedade, aumenta o poder de compra dos consumidores e a sua procura de produtos agropecuários. Isto leva a que os produtores aumen-tem a sua capacidade de produção e procurem mais moeda para a financiar. O aumento da procura de moeda induz o aumento das taxas de juro (situação que também se verifica na política mo-netária restritiva). Por sua vez, o aumento das taxas de juro tem efeito negativo nos custos de pro-dução dos produtos agrários, na procura de investimento e nas exportações, limitando o cresci-mento do sector agrário. 
Como vimos antes, um outro efeito da política fiscal expansionista é a redução dos impostos. Se a redução for sobre as importações de produtos agroalimentares (redução dos impostos aduaneiros), haverá aumento da quantidade importada, perturbando o mercado local. Se a redução for sobre as exportações (redução das taxas de exportação), estimulará a produção de produtos para exportar.
· Efeitos da política fiscal restritiva
Os efeitos da política fiscal restritiva na agricultura são inversos aos da política expansionista.
1.2	INFLUÊNCIA DA POLÍTICA MONETÁRIA 
A política monetária, através da actuação do governo sobre a quantidade de moeda, de crédito e das taxas de juros, exerce influência no desenvolvimento da produção agropecuária. 
· Disponibilidade e custo de crédito
A estabilidade monetária e a disponibilidade de moeda têm um impacto directo na oferta de crédito para o sector agrário. Uma grande liquidez da economia permite a expansão do crédito; ao contrá-rio, uma situação de elevada dívida externa, défice orçamental ou balança de pagamentos negativa, reduzem a disponibilidade de crédito para a agricultura. 
As taxas de juros influenciam grandemente a agricultura, da seguinte forma:
1. Taxas de juro baixas 
Verificam-se no caso de política monetária expansionista. Levam as famílias a optarem mais pelo consumo e menos pela poupança, fazendo aumentar a procura de produtos agropecuários. Este aumento da procura pode pressionar os preços, se a oferta não conseguir corresponder ao maior consumo. Com juros mais baixos, os produtores têm maior acesso ao crédito e reduzem o custo de usar dinheiro alheio, tanto para as despesas operativas (ex, fertilizantes, rações) como para investi-mento (ex, construções, equipamento). 
2. Taxas de juro altas 
Verificam-se no caso de política monetária restritiva. Têm um efeito inverso, inibindo tanto o consu-mo das famílias como o investimento das empresas. O aumento das taxas de juro induz a valorização da moeda (taxa de câmbio), que prejudica as exportações dos produtos agrários. 
1.3	INFLUÊNCIA DA POLÍTICA CAMBIAL 
A política cambial afecta o preço em moeda nacional das importações e das exportações. Porque a taxa de câmbio torna possível a comparação entre os preços dos bens e serviços produzidos em vá-rios países, ela joga um papel central no comércio externo. 
Na agricultura, as taxas de câmbio têm um efeito importante na determinação da competitividade dos produtos agropecuários no mercado internacional, desta forma:
1. Taxa de câmbio real depreciada
Causa uma diminuição das importações de produtos agropecuários, porque eleva o seu preço rela-tivo, tornando-as mais caras. Estimula as exportações, porque diminui o seu preço relativo, tornan-do-as mais baratas no mercado internacional.
2. Taxa de câmbio real apreciada 
Tem o efeito oposto, estimula as importações por reduzir o seu preço relativo, tornando-as mais baratas. Encarece a produção agropecuária nacional passível de ser exportada, ao elevar o seu preço relativo no mercado internacional. 
Por exemplo, suponhamos que são necessários 384,62 USD para comprar 1 ton de milho moçam-bicano, valorizado a 10 mil MT; neste caso, a taxa de câmbio é 26 MT para cada 1 USD. Agora ima-ginemos que o MT se desvaloriza (diminui o seu valor) caindo para uma taxa de câmbio de 28 MT:1USD. Neste caso, para um país estrangeiro comprar 1 ton de milho precisa de gastar apenas 357,14 USD por ton. O menor gasto significa que o nosso milho aumentou a sua competitividadeno mercado internacional.
Nestes termos, uma valorização cambial é prejudicial ao sector agrário por duas razões: diminui a receita obtida pelas empresas exportadoras, reduz o preço dos produtos agropecuários estrangeiros importáveis, o que força, por via da concorrência, a diminuição do preço dos produtos agropecuários nacionais no mercado interno.
A política cambial acaba por produzir um efeito equivalente ao de um imposto sobre o sector pro-dutivo nacional. A apreciação ou a depreciação exagerada e durante períodos longos da taxa de câmbio acabam por distorcer a afectação de recursos e evitam que os investimentos se destinem à produção de bens transacionáveis (aqueles que podem ser exportados ou que substituem os impor-tados) para os quais o país está melhor dotado de recursos.
1.4	INFLUÊNCIA DA POLÍTICA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL
Como vimos anteriormente, a política comercial pode ser proteccionista ou liberal. 
O livre comércio pressupõe a existência de uma série de políticas, medidas e instrumentos para faci-litar a compra e venda de bens e serviços entre países. São exemplo dessas medidas, a redução ou a eliminação dos direitos alfandegários para produtos importados ou a promoção de um produto que aproveite as vantagens do local de origem e tenha maiores probabilidades de exportação para ou-tros mercados (vantagem comparativa). 
Estas medidas são negociadas entre os governos e, em teoria, tendem a favorecer o crescimento económico de todas as partes. No entanto, este objectivo pode ser distorcido de várias maneiras, pois os governos podem criar deliberadamente vantagens comparativas dinâmicas e podem usar o comércio internacional para servir outros propósitos (ex, política de negócios estrangeiros). 
Um factor que distorce o livre comércio é a diferença de poder entre os negociadores, tendendo os países mais ricos a impor os seus interesses aos mais pobres. Outro elemento ainda que distorce a teoria são os subsídios que as economias mais fortes dão aos seus produtores, permitindo‐lhes bai-xar os preços de exportação e fazer uma competição desleal.
Os países desenvolvidos têm sofrido grandes pressões por parte dos países em desenvolvimento para a liberalização do comércio. Os países em desenvolvimento, que têm na agricultura a sua maior vantagem competitiva, estão a lutar por uma mudança nas regras do jogo, de modo a que o trata-mento dado aos produtos industriais e de alta tecnologia seja semelhante ao dado aos produtos gerados pela agricultura (ex, nesses países, a média ponderada das tarifas alfandegárias para os bens industriais é de 8% e para os produtos agropecuários é 25%). 
Os subsídios agrícolas, nos países desenvolvidos, são praticados via pagamentos por quantidades produzidas e preços artificialmente garantidos acima do equilíbrio de oferta e procura. Na agri-cultura, quando se difunde uma nova tecnologia de produção, o resultante aumento de produção tende a produzir reduções desproporcionais nos preços, reduzindo a receita dos produtores e a margem de lucro por unidade produzida. Essa característica da lei da oferta e da procura tem levado os governos dos países ricos a fixar preços mínimos aos produtos agrícolas muito acima dos de equi-líbrio do mercado aberto.
Os excedentes agrícolas produzidos a custos altos e exportados a baixos preços pelos países ricos são uma consequência do mecanismo de subsídios utilizado pelos mesmos. Os subsídios directos e os outros mecanismos de incentivo à exportação de produtos agrícolas pelos países ricos são de-vidos a políticas internas que produzem grandes excedentes.
· Argumentos a favor e contra o proteccionismo
Existem argumentos a favor e contra o proteccionismo comercial na agricultura. 
Entre as razões a favor incluem-se:
· Protecção da segurança alimentar nacional (produção de produtos estratégicos).
· Protecção de programas nacionais específicos.
· Protecção de ordem sanitária.
· Protecção contra comércio internacional desleal: alguns países eliminam os seus excedentes agropecuários oferecendo os produtos a preços mais baixos internacionalmente que os pre-ços internos – ‘dumping’; quando isto se verifica, os países importadores podem adoptar medidas anti-dumping, através de taxas aduaneiras, quotas de importação e outras medidas restritivas.
· Protecção da balança de pagamentos: quando os pagamentos a fazer no estrangeiro supe-ram os recebimentos de forma continuada, fazem-se pressões para baixar as divisas do país em relação a outras divisas; para impedir a desvalorização da moeda, os governos reduzem as importações. 
· Fonte de receita: os direitos aduaneiros e as taxas de exportação são uma fonte atractiva de receitas, pela facilidade da sua cobrança (esta justificação verifica-se mais nos países em desenvolvimento do que nos países exportadores, os quais aplicam medidas sobretudo para proteger as suas indústrias e não tanto como fonte importante de rendimento).
Os argumentos contra baseiam-se no princípio da eficiência e vantagem comparativa e da economia de escala. Em muitos países, a agricultura tem sofrido um forte impacto das políticas de liberalização comercial, tendo estes adoptado um modelo de produção agropecuário orientado para a exportação (ex, Tailândia, Brasil) e obtido crescimentos económicos consideráveis. A sua produção familiar em pequenas explorações tem sido gradualmente substituída por grandes empresas, que produzem em grande escala e decidem o que, como, quando e onde produzir e comercializar. 
A agricultura familiar africana, que produz bens importáveis com um nível de produtividade inferior à média internacional, pode ser afectada pela liberalização do comércio, se esta significar um estí-mulo positivo à importação de produtos que competem com os seus. 
Caixa 1
A OMC (Organização Mundial de Comércio) é uma organização que tem por funções principais facilitar a aplicação das normas do comércio internacional já acordadas internacionalmente e serve também como foro para negociações de novas regras, dotada também de um sistema de controvérsias em comércio inter-nacional.
O acordo sobre Agricultura da OMC marcou o início de um processo de reforma de longo prazo que tinha em vista maior liberalização no comércio de produtos agrários. Ao longo dos anos da sua aplicação, obser-varam-se certos desiquilíbrios, em particular no modo como os compromissos tomados foram imple-mentados. Porque os EUA e a UE foram os principais negociadores, o Acordo reflectiu primariamente os interesses da agricultura dos países desenvolvidos e, em menor escala, os intereses de um número relati-vamente pequeno de países que participou nas negociações. Desde 1995, muitos países em desen-volvimento tornaram-se membros da OMC, constituindo actualmente 2/3 do número total, o que pos-sibilitou a alteração do foco principal das negocições a favor destes países. 
Em 1996, os EUA comprometeram-se a reduzir os subsídios a partir de 2003. No entanto, não o fizeram, de-monstrando assim que, sem o apoio governamental, os agricultores americanos perdem seriamente em termos de competitividade. A UE, que tem uma Política Agrária Comum (PAC), traçada originalmente para fomentar a produção dos pequenos agricultores, possibilitar o desenvolvimento de uma agricultura não-nociva e, a longo prazo, garantir a segurança alimentar, verificou recentemente que, ao contrário da inten-ção inicial, o forte subsídio aos produtores agropecuários beneficiou somente as grandes explorações, cujos métodos de cultivo estão baseados em fertilizantes químicos e pesticidas.
Fonte: Várias
· Protecção contra importações de produtos agropecuários
Como vimos antes, quando o governo determina a política comercial externa e controla as expor-tações e importações, utiliza dois tipos de barreiras: barreiras alfandegárias ou tarifárias e barreiras não-tarifárias (quotas, proibição de importações, especificações sanitárias, técnicas, religiosas). Recordemos que:
· A taxa aduaneira (tarifas ou direitos alfandegários) é um imposto sobre um bem importado, que o governoarrecada como receita, e que é estabelecido para diminuir a competitividade do pro-duto estrangeiro, aumentando o seu preço. 
· Uma quota de importação é um limite físico na quantidade de um bem estrangeiro que pode ser importada dentro de um certo período de tempo. 
Qualquer das medidas penaliza os consumidores de produtos agropecuários: os direitos alfande-gários actuam elevando os preços internos, as quotas reduzem as importações e a oferta, fazendo com que os preços se elevem acima dos valores que existiriam se houvesse livre comércio.
Em teoria, as perdas dos consumidores são parcialmente compensadas com os ganhos dos pro-dutores. Se se limita a disponibilidade de produtos importados, permite-se aos produtores locais, graças aos preços mais altos e protegidos, expandir a sua produção, tendo como limite unicamente a elasticidade-preço da procura dos seus produtos. 
Salvo algumas excepções, as tarifas e quotas já não constituem barreiras significativas nos países industrializados, mas ainda são altas nos países em desenvolvimento.
Caixa 2
A Europa acrescentou um critério de sustentabilidade ambiental como restrição à importação de bio-combustível (etanol) brasileiro, proibindo a importação do produto obtido de matérias-primas produzidas em áreas húmidas ou de florestas, exigindo provas de eficiência energética na produção, defesa da biodi-versidade e certificação, além de outras medidas. A definição de floresta a ser adoptada - área com mais de 20% de cobertura por árvores de 5 metros de altura - é suficientemente ampla para barrar o biocombustível da Amazónia, por exemplo.
Fonte: Jornal Valor, (n.d). 
· Substituição das importações e protecção das exportações
Cada país deve analisar qual é o modelo de comércio mais adequado, se orientado para a substi-tuição das importações ou orientado para a exportação. Se o mercado interno é muito grande, o país deve orientar-se primeiramente pela substituição das importações evoluindo gradualmentre para a exportação.
Os países não desenvolvidos devem agregar valor às suas exportações agropecuárias, visando me-lhorar os seus termos de troca. Um país que exporta uma matéria-prima confere àquele a quem vende a possibilidade de a transformar e adicionar valor e de vender o bem transformado a outros países, incluindo muitas vezes ao próprio país produtor. Este processo enfraquece os termos de troca e cria dependência.
Se um país adopta o modelo exportador, pode tomar algumas medidas para proteger as expor-tações, ou seja, para incentivar a exportação de produtos em que o país seja mais compe-titivo,nomeadamente:
· Não-tributação ou tributação reduzida (impostos sobre as exportações) 
· Disponibilização de crédito aos exportadores 
· Benefícios fiscais aos exportadores
· Melhoria da taxa de câmbio
· Atribuição de subsídios. 
Os subsídios à exportação são aplicados quando, devido aos elevados preços internos, os excedentes da produção são dificilmente exportáveis. Os produtores recebem um pagamento compensatório igual à diferença entre o preço internacional (de fronteira) ao qual devem exportar e o preço inter-no. 
2.	SITUAÇÃO DE MOÇAMBIQUE
2.1	Política fiscal
A tributação fiscal não é um grande impedimento ao desempenho da agricultura. Moçambique dispõe de uma série de benefícios fiscais que, directa ou indirectamente, se relacionam com o sector agrário. A actividade agrícola e pecuária beneficia de um taxa reduzida de imposto sobre o rendi-mento de 10% até 2010 (a taxa genérica é 35%). As empresas agrícolas que usam equipamento me-canizado têm uma redução de 50% na taxa incidente sobre o gasóleo. 
A Lei de Investimentos (Lei 3/93) prevê uma série de benefícios fiscais (ex, isenção de direitos adua-neiros sobre os equipamentos e sobre o rendimento, dedução da matéria colectável pela introdução de novas tecnologias e pela formação profissional de trabalhadores moçambicanos). No entanto, este regime serve sobretudo o investimento de média e grande escala e as grandes empresas, não as pequenas. Mesmo as grandes empresas consideram que o processo de negociar o acesso aos bene-fícios fiscais é, muitas vezes, complicado e dispendioso e que os beneficios não valem o esforço dis-pendido. 
 
2.2	Política monetária e de crédito
Até 1997, o Banco de Moçambique prosseguiu uma política monetária extremamente restritiva, reduzindo a expansão da moeda, mas também restringindo os limites de crédito para os bancos comerciais. A partir dessa data, a política de crédito tornou-se mais expansionista por terem sido adoptados instrumentos mais flexíveis de controlo da liquidez. 
No entanto, a disponibilidade de crédito ainda é limitada, sendo o acesso ao crédito o constran-gimento principal para o desenvolvimento do sector privado em Moçambique. A concessão de empréstimos requer garantias colaterais e o financiamento para investimento está grandemente baseado na retenção de lucros. O sector que menos solicita financiamento é o agrário (Fig. 2).
Figura 2. Composição do crédito por sector de actividade (2007)
Caixa 3
A análise do Banco Central sobre endividamento do sector privado relativa ao 1º trimestre de 2009 revela ter havido um aumento de solicitação de crédito para o comércio, indústria e actividades privadas, e um decréscimo nos pedidos de crédito para agricultura (-3,6% que período homólogo) e turismo (-6%). 
José Guilherme Reis, autor principal da ‘Análise do Clima de Investimento em Moçambique’, produzido pelo Banco Mundial, disse que, não obstante estar a registar-se um aumento do crédito, o acesso ao finan-ciamento continua a ser um obstáculo fundamental para as empresas privadas e para o desenvolvimento da actividade económica.
Fonte: Notícias, 06.07.2009
O sistema financeiro moçambicano é caracterizado por uma série de falhas e é não-dinâmico, existindo poucos bancos comerciais que dominam o sector. Devido à competição limitada, o sistema tem elevadas margens de lucro, também ajudado pelas taxas excessivamente elevadas nos serviços de operação bancária. Para além dos principais bancos comerciais, existem diversas instituições de microfinanças que fornecem produtos financeiros de pequena escala a agregados familiares e às empresas privadas. 
As taxas de juro praticadas pelos bancos foram liberalizadas em Junho de 1994, o que significa que cada banco fixa as suas taxas de acordo com as suas pretensões empresariais e comportamento do mercado. Nos últimos anos, a taxa de juro nominal tem estado entre 22 e 24% (considerando a inflação, corresponde a uma taxa de juro real de 11 a 14%). 
Caixa 4
O aumento da produção e da produtividade, bem como a disponibilidade de maiores oportunidades de crédito para as Pequenas e Médias Empresas (PME’s) nacionais, depende, em grande medida, da captação da poupança ociosa e a sua colocação no circuito económico. Em Moçambique, devido a ausência de insti-tuições de crédito nas zonas rurais, as populações encontram formas, muitas vezes precárias, de conservar as suas poupanças financeiras. Uns conservam o seu dinheiro no colchão, outros enterram, directamente na terra ou dentro de latas, garrafas ou outros recipientes. Esta forma de conservação torna os recursos não rentáveis, uma vez que não entram no circuito produtivo. A poupança deve entrar no circuito eco-nómico, através de um reinvestimento em sectores de produção, multiplicando assim os recursos dis-poníveis e acelerando o investimento. Em 2008, foi criado o Banco Terra, uma instituição bancária comer-cial virada para as zonas rurais, que prevê abrir 20 balcões em todas as províncias do País até 2010.
Fonte: AIM, 11/09/2008
2.3	Política de comércio internacional 
Moçambique efectuou reformas orientadas para uma maior liberalização do comércio, tendo hoje um dos regimes comerciais mais abertos de África. Cerca de 10% dos produtos importados não pagam direitos aduaneiros e a tarifa máxima dos restantes é 20% do seu valor de fronteira. 
O país tem protocolos comerciais e acordos de parceria económica com diversos países, sendo de destacar a SADC, a UE eos EUA. Contudo, as nossas exportações enfrentam ainda muitas barreiras. Nos últimos anos, as exportações cresceram e a sua composição alterou-se dramaticamente devido ao investimento na refinaria do alumínio e ao pipeline de gás para a África do Sul (Fig. 3). 
Figura 3. Composição das exportações de Moçambique (2007)
Fontes biblográficas e leitura sugerida
Bejarano, J.A.A. (1998 ). Economia de la Agricultura. Universidad Nacional de Colombia. TM Editores, pp 368.
Bila, S. e Rand, J. (n.d.). Será que as Taxas de Juro das Instituições de Microfinanças, em Moçambi-que, são muito elevadas? Acedido em Julho de 2009 de www.dnpo.gov.mz/gest/documents.
Bottos, J.C. (2008). Políticas macroeconómicas e órgãos de regulação. Acedido em Junho 2009 de:
www.hangess.com.br
Brugg, F.A., Rosário, J.G. e Martendal, L.F. (2007). A influência da política monetária no agronegócio. Acedido em Junho 2009 de:
 http://felipebrugg.blogspot.com/2007/03/influncia-da-poltica-monetria-no.html
Delgado, N.G. (1995). Política ativa para a agricultura e Mercosul: observações a partir do caso brasi-leiro. Estudos Sociedade e Agricultura, 5: 103-113. 
Gutiérrez, A. (2005). Políticas macroeconómicas que impactan la seguridad alimentaria. Anales Venezo-lanos de Nutrición, 18, versão on-line. 
FIAS – Sociedade Financeira Internacional (2006). Estudo sobre os efeitos dos impostos, direitos alfandegários, licenças e outras taxas sobre a conjuntura dos investimentos. Moçambique. 
Schejtman, A. (1994). Economía política de los sistemas alimentarios en América Latina. FAO Ofi-cina Regional para América Latina. Santiago de Chile. 
Townsend, R.F. (1999). Agricultural incentives in sub-Saharan Africa. World Bank Technical Paper Nr 444.
Preparado por Alice Garcês, Junho de 2009
Favetctanimal2018@gmail.com
 Políticas macro e sector agrário 1
Lingotes alumínio
62.9%
Electricidade10.1%Outros10.5%Gás natural5.1%Camarão2.7%Açúcar2.7%Tabaco2.2%Algodão1.7%Madeiras1.3%Cajú 0.8%
POLÍTICA COMERCIALPOLÍTICA FISCALPOLÍTICA MONETÁRIAReceitas (impostos) Gastos públicosOferta de moedaTaxas de juroInflaçãoPreços produtosPreços insumosValor da moedaDESEMPENHO DO SECTOR AGRÁRIOTaxas aduaneirasAcordos comerciaisImportaçõesExportações
Agricultura9.4%Indústria16.2%Comércio24.4%Outros50.0%

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