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FORMAS DE SE PENSAR O TEMPO NO ENSINO DE HISTÓRIA

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FORMAS DE SE PENSAR O TEMPO NO ENSINO DE HISTÓRIA 
Autor: Emerson Marcelino Alves Silva 
Coautor: Maykon Douglas Souza Gouveia 
Graduandos do curso de Licenciatura Plena em 
História, da Universidade Estadual da Paraíba. 
emersonmas@outlook.com 
maikonsousa012543@gmail.com 
 
Simpósio Temático 03: CAMINHOS PARA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO: 
FORMAÇÃO DOCENTE E METODOLOGIAS DO ENSINO DE HISTÓRIA 
 
RESUMO 
 
O Presente artigo que será apresentado na I SEMANA NACIONAL DE HISTÓRIA DA UEPB: História, 
Interdisciplinaridades e Cultura, tem como pretensão refletir maneiras possíveis de aprimorar o uso da 
temporalidade no ensino de história, visto que a metodologia positivista de linha do tempo é cronológica 
e aos moldes eurocêntricos, que permeia a didática dos professores e está longe da realidade do aluno. 
Conectando o aluno e sua realidade a grade curricular é compreender que das poucas informações que 
tem, situa-lo em um tempo distante da sua noção ao invés de ensina-lo, promoveremos uma confusão e 
com ela muito preconceito para com a disciplina de História. Aproximar o aluno passo a passo, ano 
letivo a ano letivo, para que entenda fatos do seu cotidiano, e depois, afastá-lo repentinamente a uma 
temporalidade distante na tentativa de entender os porquês do seu presente é um movimento difícil e 
gera resultados que podem na verdade instigar o desinteresse pelo próprio futuro. Assimilar o passado 
é também interpretar o presente e conceber o futuro, esse é o movimento natural da vida. Porque não 
inverter essa lógica de linha temporal cronológica e linear. Se nossa compreensão de tempo é geralmente 
crescente, nascemos, passamos pela infância, adolescência, juventude fase adulta, envelhecemos e ao 
fim falecemos, mas antes do nosso igualitário destino, destinamos muito do nosso tempo revisitando o 
passado a partir da memória para que essa influa no presente ou até no futuro. Afinal o mundo moderno 
trouxe o anseio pela preservação das memórias, a necessidade de narrar o passado está presente ao redor 
dos alunos em filmes, séries e novelas com teor histórico, sendo importante expor aos alunos como a 
história os cercam e está sempre sendo reapresentada no presente, não somente no passado “obsoleto” 
e fatigante dos livros didáticos como também sua própria história. É com ela que damos continuidade 
ao oficio do professor, que para além de uma mera reprodução de conteúdo é lecionar em prol de uma 
nova história, que não seja meramente decorativa no que diz respeito a ornamentação, mas também no 
sentido de fixar na memória e que seja proveitoso e usual na rotina do aluno. É a partir dessa visão que 
pretendemos discutir como essa inversão da linha temporal comumente usada nos livros didáticos pode 
ser mais inteligível ao aluno, tornando-o crítico e também construtivo, mantando os valores que são 
aprendidos, mas, na medida do possível, levantando questionamentos e o próprio aluno buscando a 
solução. 
 
Palavras-chave: Ensino. Metodologia. Tempo. Linhas Temporais. Lecionar. 
 
 
 
mailto:emersonmas@outlook.com
mailto:maikonsousa012543@gmail.com
 
 1 
 
INTRODUÇÃO 
 
Lecionar é uma atividade que, desde os tempos mais remotos, vem possibilitando e 
desenvolvendo a evolução humana, notabilizando conhecimentos, até então, não descobertos 
ou produzidos. A curiosidade pelo desconhecido, o fato de querer explorar o inexplorado, é um 
movimento que está intrínseco ao ser humano no que implica, na maioria dos casos, uma 
reflexão sobre si, do tempo vivido e aonde está inserido, gerando uma busca por melhorar sua 
vida cotidiana. No filme “Os Croods” (2013), numa representação da vida pré-histórica, onde 
uma família “menos evoluída” interage com outro indivíduo mais versado no conhecimento e 
experiências, na trama esse sujeito começa a ensinar como poderiam melhorar suas vidas a 
partir de outras perspectivas práticas do cotidiano. A essa família é proporcionado um 
descortinar dos seus olhos, introduzindo o “novo” em suas rotinas que lhes renderiam uma 
melhor compreensão do que antes não conseguiam enxergar. Não seria exagero reproduzir este 
cenário na educação básica, o professor como o sujeito que instrui a família pré-histórica 
representada na animação e a família os alunos. Principalmente, quando se trata do ensino de 
história o aluno ainda não percebe que a história tem implicação direta em sua vida. E como 
trazer à tona um fato que parece tão distante da sua realidade? Como atrai-lo para perto dessa 
compreensão fazendo-o participante? Esses são questionamentos vitais onde o discente tem por 
obrigação refletir sobre as formas de pedagogizar o conteúdo de história. 
A proposta do artigo é a de esclarecer sobre a temporalidade como instrumento viável 
ao ensino de História dentro do âmbito escolar, utilizando recursos e métodos para não só 
cativar o aluno, mas também envolvendo-o e fazendo-o interagir, tornando-o parte da história 
afastando os preconceitos e o anacronismo. 
 
O TEMPO E SUAS INTERAÇÕES NO ENSINO DE HISTÓRIA. 
Empreender nas futuras gerações a noção do quão necessário é refletir sobre seu tempo, 
é uma responsabilidade incumbida ao historiador. Perante esse ofício, em específico, estar 
intrínseco a tarefa do educador. E a está função, respeito e admiração sempre fora atribuída. 
Exemplo do próprio D. Pedro II que em José Murilo de Carvalho manifesta seu desejo pela 
profissão, “Alegou que se os brasileiros não o quisessem como imperador iria ser professor” 1 
reforçando o quão notável é o valor dado ao profissional do ensino. Os Griots mesmo na figura 
 
1 CARVALHO. 2012, p. 110. 
 
 2 
 
de um ancião que estava responsável por manter viva a história da tribo nas sociedades 
africanas, também exerciam o papel de educadores, levando em consideração que as 
experiências vividas por eles eram de grande valia, tanto para os jovens, como para a 
comunidade. Contudo, as dificuldades encontradas no passado, até mesmo hoje no nosso tempo 
presente, são questões para além do plano físico das quatro paredes da sala de aula, na verdade 
perpassa, alcançando o lado emocional desses profissionais que por muitas vezes adentram 
madrugada horas a fio na tentativa de conciliar sua vida individual e os desafios no decorrer do 
ano letivo escolar. 
 Importante salientar que essas dificuldades possuem braços, e se estendem até o aluno, 
esse que é receptor tanto do conhecimento passado pelo professor quanto é filtro das 
adversidades passadas por eles, observam a realidade enfrentada pelos profissionais em 
momentos tendem a ajudar, outros não demonstram interesse algum. Quanto a rede pública, a 
má infraestrutura oferecida é um dos fatores que os profissionais sondam meios para contornar, 
pois é um limitador cruel no emprego de novas perspectivas e métodos para o ensino. O aluno 
inicia o processo de aprendizagem na infância e se estende até a vida adulta (em menor 
proporção), e a percepção do tempo e do espaço advém das experiências vividas durante este 
período, sejam elas experiências de outros sujeitos ou convividas dentro do próprio âmbito 
familiar. A memória passa a ser construída por intermédio da oralidade ou da observação visual. 
E essas memórias exercem um papel fundamental de inclusão social, a partir dela revisitamos 
fatos passados rememorando e perspectivando-o de modo a estabelecer interação com o tempo 
vivido, que o tempo presente. Afinal, ao lecionar história o professor precisa sondar entraves 
que estão além das dificuldades físicas do seu ofício, prevendo o comportamento do aluno ao 
se deparar com o conteúdo abordado, questionando a si mesmo se será de fácil absorção o 
conteúdo? O aluno tem algum conhecimento prévio? Se sim, como foi construído esse assunto? 
Se não, como é possível abordá-lo de maneira prática? É com o emprego da memória que 
aproximamos o aluno da sua própria realidade e existência, respondendomuito dos 
questionamentos que são construídos pela observação cotidiana do seu próprio meio social. O 
ensino de História é norteado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que durante o 
período da redemocratização é discutido a participação do aluno no processo educacional, como 
também a necessidade de objetivar alunos que possuam senso críticos, construindo um cidadão 
ativo e consciente sobre sua realidade, como também a do outro. 
Todavia, conectar o passado ao presente é uma missão árdua e tempestuosa, tendo em 
vista a pré-conceituação da disciplina de História como sendo uma disciplina essencialmente 
 
 3 
 
informativa, levando uma leitura meramente decorativa, que “só fala de pessoas mortas”, sobre 
“o que já passou” e isso nada tem a ver com o presente ou a realidade. 
Levando em consideração, a variedade cultural existente em uma sala de aula onde cada 
indivíduo presente pensa de um modo e convive em múltiplos meios sociais, o ensino de história 
tem um grande desafio que é a de estabelecer conexão entre a história e as realidades que cada 
indivíduo vivencia dentro e fora da sala de aula, principalmente fora, prospectando um ensino 
que amarre e cative o aluno a compreender questões que tenham aplicabilidade direta ao seu 
cotidiano, construindo uma noção do tempo dos fatos. 
Nesta dualidade temporal o aluno apega-se ao tempo cronológico, onde em alguns 
casos, acabam projetando uma barreira mental que dificulta a interação com o tempo histórico 
em sua noção de tempo. Imagine uma aula onde o professor aborda temas sobre cultura 
(material ou imaterial), seria mais interessante ensinar ao aluno que, a cultura é tudo aquilo que 
o ser humano cria, enfatizando festividades locais, como por exemplo, e após abrir o 
discernimento do aluno sobre o tema, analisar as grandes festas que estão longe da sua 
perspectiva habitual, mas que podem ter traços que coincidem com ela. 
Nesse sentindo, ao aproximar o aluno da noção de um tempo fatídico, propiciara sua 
inclusão na história narrada, tornando-se participante em sua construção e compreensão. 
Contudo, é importante ter ciência dos perigos anacrônicos que podem surgir, pois o passado 
tem suas particularidades que só pertencem a ele e projetar o fato e suas consequências no 
presente pode se causar uma confluência temporal não existente. 
O tempo cronológico é demarcado pela contagem linear e progressiva do tempo, cada 
sociedade lança seu olhar sobre o tempo de forma distinta sendo vital destacar que, por mais 
que o tempo seja contado ele não é contado da mesma maneira como hoje usamos, dentro de 
um sistema métrico universal de unidade de medida que por décadas foram sendo aprimoradas. 
Um exemplo dessa noção temporal é o caso das tribos indígenas que demarcavam sua 
temporalidade com eventos naturais, cheias e secas do rio, migração das aves, fases da lua, etc. 
Por mais que o tempo cronológico seja o mais habitual entre o aluno (o tempo do relógio), ele 
não é o único a ser abordado, assim, no ensino de história as noções de tempo devem unir a 
cronologia com o tempo histórico que é o marcador das atividades do homem no tempo e 
espaço. 
O meio social como bem discute os sociólogos é primordial para a construção do 
homem, a exemplo dos moldes do Jean-Jacques Rousseau onde afirma que “o homem é bom 
por natureza. É a sociedade que o corrompe” (ROUSSEAU. 1762.), já que o meio social 
 
 4 
 
influencia diretamente na construção da noção de certo e errado, condicionando a tomar 
decisões com base em valores e crenças construídas pelo seu próprio meio social. 
A base educacional aplicada no meio escolar, hoje, tem por ênfase no ensino de história 
a construção de um aluno cidadão, construtor do seu próprio tempo diferenciando-se das 
diretrizes educacionais pregadas até meados do século XX. Essa realidade distancia-se do ideal 
de que o ensino de história é a porta de entrada para o questionamento do presente vivido, 
projetando uma reflexão sobre os erros e acertos do passado. Sob essa análise, o tempo 
cronológico e o tempo histórico andariam de mãos dadas, levando em consideração que o 
ensino de história não pode ser meramente factual, e sim explicativa, sintetizando um senso 
crítico. 
 
QUEM SÃO OS OUVINTES? APLICAÇÕES DIDÁTICAS A VIDA COTIDIANA 
 
[...] Permita ao indivíduo a indagação sobre o passado de forma que a resposta lhe 
faça algum sentido no presente e que de alguma maneira esse sujeito encontre uma 
orientação histórica para a sua vida cotidiana 2. 
 
O ambiente escolar inclui livros, sala de aula, diretores, coordenadores, pedagogos, 
educadores, e o aluno claro, afinal qual seria a função do professor sem o seu educando para 
fazer sentido ao esforço diário da produção do conhecimento. Mas para além da escola existe 
todo um universo paralelo ao aluno que o faz pensar e construir sua visão de mundo associada 
principalmente às noções familiares, ela é essencial para as primeiras impressões de mundo que 
estão se organizando na mente da criança. Contudo, algumas situações no cotidiano do próprio 
aluno dificultam sua motivação pela aprendizagem. Quantas vezes a célebre frase: “Estude 
para ser alguém na vida” já foi dita por um adulto a uma criança na tentativa de incentivá-las 
a compreender a necessidade de se ter conhecimento para posteriormente alcançar os seus 
objetivos. Uma frase que por tantas vezes ser dita, em alguns casos, começa a perder seu efeito. 
Neste contexto a escola tem a função de submergir o aluno no mundo que nos rodea e retirá-lo 
da inércia e introduzindo-o no caminho do conhecimento. 
Outro fator que é motivo de reclamação pelos alunos são as aulas desmotivantes 
principalmente da área de humanas. No caso da disciplina de história, parece irrelevante a um 
aluno da periferia estudar o período das expedições marítimas sendo que esse nada a ver com a 
sua realidade, então como é possível alinhar o ensino de história conciliar passado, presente e 
 
2 RÜSEN, 2007. p.133. 
 
 5 
 
realidade social? Essa tarefa torna-se complicada, afinal nem tudo na história pode ser 
relacionado com o presente, daí surge a necessidade de não somente aglutinar passado e 
presente, como também problematizar questões do passado projetando no aluno um senso 
crítico e investigativo na busca de solucionar os porquês presentes na história. 
A história problema tão enfatizada na metodologia de ensino, ao mesmo tempo em que 
serve de questionamentos a termo ou situações do passado, também pode ser uma reflexão do 
presente. Um exemplo sobre a história problema pode ser tratado em relação às diferenças 
raciais vivenciadas em nossa sociedade. Ao salientar essas desigualdades, buscamos entender 
esse pensamento ao revisitando recortes de tempo, como o tráfico negreiro, atividade essa 
assegurada pelo pensamento dominado pelo eurocentrismo onde colocava o branco, hétero, 
cristão e europeu como uma referência e pondo em um local de marginalidade o negro. Visto 
como um produto que poderia ser trocado ou vendido afinal não se dava nenhum tipo de valor. 
Essa reflexão faz-se necessária para compreender que muito dos estigmas do passado 
perpassaram o tempo, sendo presentes até os dias de hoje ao se julgar um livro pela capa, ou 
seja, ao julgar um ser humano pela sua tonalidade/pigmentação de pele. 
 
RELAÇÃO PASSADO-PRESENTE COMO RECURSO DIDÁTICO 
 
De acordo com Thompson (1998), as organizações sociais têm diferentes tipos 
de percepções do passado. Sob essa ótica, as sociedades tradicionais (ou 
sociedades camponesas) percebem o passado e, também o tempo, de maneira 
cíclica. Portanto o passado se reconfigura, e “reacontece” em ciclos. Já as 
sociedades modernas (ou sociedades urbano-industriais) adquiriram uma 
compreensão linear do tempo. Nesse sentido, nas sociedades modernas, o 
passado é percebido como algo imutável, perdido no tempo. 3 
 
A visão de que o tempo passado é retrógrado se configuranuma tentativa de desvínculo 
de noções conservadoras e um convite ao “novo”, mas se analisarmos, para que se haja um 
“novo”, isto é, uma mudança da mentalidade, é estritamente necessário um intercâmbio de 
experiências, aprimoramentos feitos com base no passado do outro, contribuindo para um 
melhor modelo de saber que conflua na interação entre indivíduos e sociedades que pensem de 
diferente forma, tornando útil e aplicável o conhecimento já aprimorado, e esse movimento é 
de singular importância para a evolução da sobrevivência humana. Essa percepção de que o 
 
3 FORNECK, Mara Betina. ENSINO DE HISTÓRIA, TEMPO E TEMPORALIDADES: UMA EXPERIÊNCIA 
DE FORMAÇÃO CONTINUADA COM PROFESSORES DE HISTÓRIA DE ARROIO DO MEIO/RS. 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ensino de História da Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul (UFRGS). 2017. 
 
 6 
 
tempo é cíclico já vem sendo posta à prova, pelo fato de não comtemplar as singularidades da 
temporalidade, os estratos como Reinhart Koselleck afirma; "Tais estratos permitem, 
condicionam e limitam as possibilidades das ações humanas e, ao mesmo tempo, as geram." 4. 
O estudo sobre as singularidades do tempo, esses mesmos estratos auxiliam na análise sobre os 
fatos, evitando equívocos que podem vir a surgir, atuando como um agente limitante lançando 
os olhares para os contextos e consequências, aprimorando a visão crítica do aluno. 
Até meados do século XX, a História tinha o papel de reafirmar a ideia do passado 
imutável, como se o tempo fosse progressivo e homogêneo, pois essa era as noções habituais 
sobre o tempo e as utilizavam como ferramenta de ensino, perpetuando durante muito tempo 
no imaginário social. A afirmação de um tempo imutável, homogêneo e cíclico, nos remete a 
antigas civilizações, como a egípcia onde o tempo era marcado por um retorno aos mesmos 
eventos antepassados, e esses eventos eram descritos como se ocorressem pela intervenção dos 
deuses. 
Mas de onde será que veio essa compreensão cíclica? A resposta não seria tão simples 
se não nos remetêssemos a nossa própria experiência de vida, muitos dos nossos familiares 
ainda preservam noções de tempo que são reações de suas rotinas diárias. Se adentrarmos a 
cultura tradicional camponesa, nos depararíamos com certo lado místico de antecipar eventos 
naturais, e que tinha ligação direta quanto ao tratamento com o campo. Para o camponês, o 
tempo é ressignificado pelos eventos naturais e esses são cíclicos, mesmo no advento do relógio, 
essa cultura permanece forte até nossos dias e este também faz parte do tempo dos fatos, isto é 
o tempo histórico, mas não possuem a mesma compreensão. Como nos referenciais teóricos 
usados por Koselleck, ele afirma: 
 
[...] os tempos históricos podem ser distinguidos claramente dos tempos naturais, 
embora ambos se influenciem reciprocamente. O percurso regular e repetitivo do Sol, 
dos planetas, da Lua e das estrelas, assim como a rotação da Terra, remetem a medidas 
temporais constantes - anos, meses, dias e “constelações” -, bem com o à sucessão das 
estações do ano. Todos esses decursos de tempo foram impostos ao ser humano, 
mesmo que ele tenha aprendido a interpretá-los e, sobretudo, a calculá-los graças a 
realizações culturais e intelectuais. 5 
 
Consequentemente, o ato de lecionar, seja ele pelo professor ou até mesmo pela família, 
está intimamente ligado às experiências vividas, notavelmente a noção de tempo será cíclica, e 
a partir dessa ideia que pode vir a surgir o anacronismo. O ser humano tende a dar ênfase aquilo 
 
4 KOSELLECK, 2014, p.13. 
5 KOSELLECK, 2014, p. 9. 
 
 7 
 
que é de prioridade, naturalmente quando ocorrem mudanças climáticas, como na passagem 
das estações do ano e nos preparamos para aquele evento, nos preparamos porque temos um 
conhecimento prévio do que a de acontecer, mesmo assim cada inverno, por exemplo, tem suas 
particularidades e nem sempre são notadas. O historiador precisa recorrer ao uso da metáfora, 
sendo ela uma ferramenta interessante que proporciona um passeio temporal sem desconstruir 
a representação por meio do movimento em unidades espaciais 6 que já vivemos. 
 
O historiador precisa servir-se dessas metáforas retiradas da noção espacial se quiser 
tratar adequadamente as perguntas sobre diferentes tempos. A história sempre tem a 
ver com o tempo, com tempos que permanecem vinculados a uma condição espacial, 
não só metafórica, mas também empiricamente. 7 
 
Nesse sentido, Immanuel Kant em 1755, ano de publicação da sua obra “Allgemeine 
Naturgeschichte und Theorie des Himmels” (História Natural Genérica e Teoria dos Céus), fez 
uma analogia interessante sobre a exuberância das montanhas na transcrição de um fato 
temporal. 
Para que se alcance a perfeição, decorrerão milhões e montanhas de milhões de 
séculos, durante os quais sempre surgirão novos mundos e novas ordens cósmicas nos 
âmbitos naturais mais distantes. 8 
 
Perceba que ele utiliza um misto de cronologia (séculos), unidades (milhões), metáfora 
(montanhas de milhões), para intensificar e cativar o leitor a observação dessa perfeição quase 
“inalcançável” tanto quanto o pico de uma montanha que, às vezes, nem é possível alcançá-lo 
fitando o horizonte de tão alta que é. Com todo esse esboço teórico, é importante aproximar a 
leitura temporal do aluno, na perspectiva que ele tem de tempo. Pode não ser uma “montanha”, 
mas pode ser algo ainda mais próximo do aluno, como o uso de termos regionais em sua fala, 
a descrição de objetos antigos, cultura familiar e tantos outros meios que podem fazer esse 
movimento, atraindo o aluno a compreensão histórica. 
Cainelli e Schmidt (2009) nos traz uma classificação da relação entre passado-presente 
em duas dimensões. A primeira com a ideia de que o passado ajuda a explicar o presente. 
Explicar os fatos históricos é um meio eficaz porque torna acessível à compreensão do aluno, 
mas, que deve ser utilizado com atenção. Alertam sobre a utilização dessa primeira dimensão 
Cainelli e Schmidt (2009)9, onde “à proporção que o ensino factual predomine sobre o 
 
6 KOSELLECK, 2014, p. 9. 
7 KOSELLECK, 2014, p. 9. 
8 KANT. 1755. p. 335. 
9 CAINELLI. SCHIMIDT. 2009. p. 99. 
 
 8 
 
explicativo, há o perigo de se utilizar a inteligibilidade do presente para explicar ou ilustrar o 
passado e deslizar para o senso comum”. A segunda é a de respeitar a peculiaridade do próprio 
passado, não significando que os fatos passados devam ser remetidos ao presente. Uma forma 
de evitar essa confusão na cabeça do aluno, como as autoras apontam, é fazendo-o se interessar 
por outras civilizações, entendendo suas diferenças e evitando o anacronismo e analogias 
duvidosas, ensinando-o a contextualizar as informações e incluir-se nela. Ressaltando essa ideia 
afirmam que “na verdade é importante entender a originalidade de civilizações em que as 
representações coletivas e a mentalidade não podem ser comparadas as nossas. (CAINELLI. 
SCHIMIDT. 2009. p. 99). É importante frisar quanto ao uso dessa segunda ideia o seguinte, o 
aluno precisa entender sua própria realidade, de onde veio e onde está inserido e os porquês 
disso, e só após essa compreensão de si, partir para conhecimentos externos a sua realidade. 
Esse movimento acaba fomentando no aluno a alteridade, o respeito, empatia e interesse pelo 
outro, construindo um discurso que desprivilegie a figura do vencedor e do correto. Essa 
perspectiva promove um movimento facilitador a compreensão do aluno, principalmente 
quanto as noções de sucessão, durações, simultaneidade, mudanças e permanências. Tendo em 
vista que a construção de imagens representativas e os eventos, que dentro de um tempo 
cronológico são de número limitado, acabam ganhando um reforço no discurso histórico. 
Imaginemos que fatores biológicos, genéticos e comportamentais já são um grande “fio 
da meada” para discutir sobre o local social do aluno.Questões como sobrenomes, sotaque e 
cultura são também elementos que interessam, inserem e cativam a atenção. A compreensão do 
termo “justiça”, como por exemplo, sempre foi usada por diversos povos, essa como uma das 
instituições humanas mais antigas, no entanto, a diferença situava-se no senso de justiça, pelas 
experiencias vividas e observações de si próprios, influenciados pelos modos operantes divinos, 
essas civilizações criavam um código de conduta a ser seguido, tanto por eles quanto pelas 
futuras gerações. A essência do termo permanecia, no entanto, as noções do que seria submetido 
a justiça mudavam de civilização para civilização. Outra questão, são as apropriações, como no 
exemplo do termo “burguês”, uma classe que surgiu na transição entre a Idade Medieval para 
a Idade Moderna. O termo é usado para julgar a ação de qualquer indivíduo que esteja 
ostentando, ou não, um bem recém-adquirido. 
 
 
 
 
 
 9 
 
UTILIZAÇÃO DAS LINHAS TEMPORAIS NO ENSINO DE HISTÓRIA 
 
O exercício de construção das noções de temporalidade, em Cainelli e Schmidt (2009) 10 é 
indicado a partir dos primeiros anos, afirmando que “com alunos dos anos iniciais, por exemplo, 
atividades de observação de dois objetos iguais, de épocas diferentes, podem ser úteis para 
desenvolver essas noções.”. Fotos, figuras, ilustrações, filmes, o fato narrado, propriamente 
dito, palavras-chaves como por exemplo: durante, enquanto isso, por enquanto, são todos 
instrumentos que podem ser usados em sala de aula. Em Huerta (1999) 11, “a linha do tempo 
estabelece a relação entre o tempo e seus conteúdos.”. É pela linha temporal que é possível 
compreender a medida e as mudanças do tempo e fazer relação com as informações. 
Geralmente, utilizando apenas como suporte pedagógico, os gráficos das linhas temporais têm 
maior eficácia, salientando que o aluno assimila as imagens e as proporções com maior 
facilidade. Promovendo a capacidade de identificação histórica, uma visão mais sensível e o 
aprimoramento da compreensão de fatos que já foram compreendidos no passado. 
Os calendários, um instrumento a ser utilizado na construção da noção temporal, 
ajudam-nos a entender a necessidade de relativizar e discutir os períodos, é importante 
mobilizar o tempo para que haja a compreensão das durações. Como em Braudel (1990), onde 
as durações são estabelecidas numa divisão tripartite da noção temporal, o primeiro como um 
tempo estrutural, longo, imóvel e duradouro relacionando com a história das mentalidades; 
conjunturais e médias, a exemplo da história da vida social, constituído pelas ciclicidade da 
história e por último episódicas e curtas, como na história das biografias e acontecimentos 
cotidianos. 
Muitas vezes, o aluno está limitado as descrições perceptíveis do passado como se esse 
passado e o próprio presente fossem estáticos e sem interação alguma com o presente, 
consequentemente não conseguem estabelecer qualquer diálogo. Nos anos iniciais, como 
aponta Cainelli e Schmidt, o aluno tem a percepção de um passado fixo, a medida que vai sendo 
trabalhado essa percepção o passado passa a ser melhor interpretado e mais à frente nos últimos 
anos, esse passado deve tomar um caráter reconstruído e interagido com o presente, ao menos 
essa é a proposta. Mas essa percepção precisa ser aguçada de modo que primeiramente ele 
compreenda a sí e seu próprio passado. Como entender a sí e seu próprio passado, a História 
Local pode ser um ponto de partida, pois já é exercitada no âmbito social e familiar. Depois 
 
10 CAINELLI. SCHIMIDT. 2009. p. 100. 
11 HUERTA. 1999. p. 57-59. 
 
 10 
 
para entender os contextos da sua localidade a História Nacional pode trazer respostas as 
peculiaridades do tempo. Adentrando a História Moderna, o aluno passa a entender de onde 
vieram seus antepassados e quais costumes e cultura trouxeram consigo, já na História Medieval 
ele entende como questões pertinentes a ele foram construídos e fixados. Por último, o aluno 
compreende como essa jornada que está intrinsecamente ligada a ele, começou com a Pré-
História, como a evolução trouxe peculiaridades importantes a sobrevivência, e que se 
mantiveram até hoje, no cotidiano desse aluno. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Compreender a temporalidade e suas particularidades implica na construção da relação 
entre passado, presente e futuro, isto é, entender a importância do ensinar História promovendo 
no aluno um reconhecer de tempos distintos, personagens singulares, experiências coletivas, 
práticas socioculturais, cotidiano e valores que perpassaram milênios e ainda mantem traços 
preservados (mesmo que fora da vida cotidiana contemporânea). Esses são revisitados pelos 
alunos de forma imprecisa, sendo necessário a inclusão desse aluno para que perspectivem a 
temporalidade de modo a evitar equívocos quanto a leitura do tempo. 
Ao discente é função essencial intermediar essa conexão do tempo vivenciado e tempo 
contemporâneo com o passado, tendo em vista a unicidade do passado e suas características 
socio-individualizantes que por si já o distingue do presente, todavia fatos ocorridos nesse 
contexto adquirem formas enraizadas na sociedade e algumas delas sobressaem ao tempo e 
configuram ativamente no presente, a exemplo disso, as grandes invenções do período 
renascentistas que marca um novo olhar para o homem sobre si mesmo e o que se passa ao seu 
redor. Nesse sentido, a conceituação e compreensão do tempo no ensino prioriza que o alunado 
situe-se nele e atente as particularidades de cada momento sem deixar de reparar naquilo que 
respinga sobre o mundo ao qual ele vivencia cotidianamente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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CAINELLI, Marlene; SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar História. Editora Scipione: São 
Paulo, 2009. 
CAINELLI, Marlene; SCHMIDT, Maria Auxiliadora, Educação histórica, Teoria e pesquisa, 
Ijuí: Ed.Unijuí, 2011. 
CARVALHO, José Murilo de. A vida política. História do Brasil Nação (1808-2010), v. 2, p. 
83-130, 2012. 
FORNECK, Mara Betina. ENSINO DE HISTÓRIA, TEMPO E TEMPORALIDADES: UMA 
EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO CONTINUADA COM PROFESSORES DE HISTÓRIA 
DE ARROIO DO MEIO/RS. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em 
Ensino de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 2017. 
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