Buscar

Resenha crítica Filme O nome da Rosa

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO EXTREMO SUL DA BAHIA 
DIREITO 
 
 
 
DISCENTES: 
ELCIENE SANTOS SILVA 
FELIPE 
LAYRA 
MARIA ISABEL 
VITÓRIA FÉLIX 
 
 
 
 
RESENHA CRÍTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Itamaraju Ba 
2021 
Resenha crítica 
 
“Cuidado com o homem de um livro só”. Essa é uma citação de São Tomás 
de Aquino, filósofo cristão, que sustenta a inspiração das investigações feitas pelo 
personagem central do filme O nome da Rosa, William de Baskerville, e o 
entusiasmo de Umberto Eco, o autor da obra, em ter os textos de Tomás de Aquino 
como base de muitas das suas publicações, uma vez que essa frase revela o perigo 
que há na restrição de ideias devido à exaltação de apenas uma fonte literária. 
O filme O Nome da Rosa foi o mais assistido em 1986, na Itália, lançado seis 
anos após o livro, e é uma adaptação da obra de Umberto Eco, um escritor que era 
apaixonado por livros, prova disso era que sua biblioteca pessoal contava com mais 
de 20 mil volumes, talvez essa paixão pessoal justifique o fato de Eco querer colocar 
a biblioteca escondida como uma das maiores surpresas das cenas. A história se 
baseia num mosteiro no continente europeu, em 1327, repleto de líderes religiosos 
que ilustravam bem o cenário intelectual e religioso do período medieval: uma época 
marcada pelo difícil acesso à formação do senso crítico, pois os indivíduos eram 
dominados pelo controle que a Igreja Católica possuía sobre a divulgação do 
conhecimento. 
O filme possui dois personagens em evidência: William de Baskerville, um 
monge franciscano, e Adso Melk, seu aprendiz. Eles possuem uma missão de 
investigar uma série de mortes incomuns que estavam existindo no mosteiro, sete 
mortes em sete dias para ser mais específico. Perceberam o que foi falado? 
INVESTIGAR, essa é a grande inovação da época, colocar em evidência a 
inteligência lógica e o uso da razão moderna de forma mais inesperada, por meio de 
um monge. William era um franciscano e, ao mesmo tempo, um detetive, um 
exemplo de um Sherlock Homes da era medieval, também um filósofo, porque 
apurava os fatos, questionava, duvidava e ainda refletia, tendo seus óculos como 
objeto material que simbolizava esse racionalismo influenciado pelos princípios 
lógicos de Aristóteles. 
Adso segue os mesmos passos do mestre, mas de forma também inovadora, 
ele deixa seus instintos influenciarem suas decisões, para a igreja isso era tido como 
errado, e para um investigador também era perigoso, pois o faria sair do foco da 
missão. Mas o que se analisa foi que o jovem coloca as pessoas acima da lógica, isso 
fica evidente quando ele questiona o mestre sobre o amor, quando ele reza em favor 
da moça que se apaixonara, ou seja, ele pode ser considerado um pré- moderno mais 
romântico, e essa sensibilização influencia também o seu mestre, então Adso é o 
equilíbrio entre a fé, a carne e a razão. Foi o personagem perfeito escolhido para 
narrar a obra. 
Outro ponto muito importante no filme foi o jogo de luzes e sombras, talvez 
passe despercebido, mas a maior parte das cenas é assistida nas sombras, num 
ambiente com pouca luz, e essa escolha não foi por um acaso, mas justamente 
pensado para representar a falta de luz, de conhecimento, pois o período medieval 
era tido como obscuro. A luz era mais evidenciada nas cenas religiosas, deixando 
claro o clivo da Santa Igreja. 
O filme é uma mistura de análises bíblicas, filosóficas (pois coloca em 
evidência um dos livros de Aristóteles, que é a II Poética de Aristóteles) e ainda uma 
grande aula de história, pois ensina o estilo de vida dos mosteiros, a pobreza da 
população e o status quo (estado das coisas) do período medieval, isto é, suas 
condições. 
Aqui surge uma boa análise: de um lado, os monges e inquisidores que 
queriam manter o estado das coisas (status quo), de outro, a dupla que queria mudar 
o status quo da época. Sabemos que o Renascentismo foi peça principal para essa 
mudança e seu empirismo é visto no filme. 
Hoje, dizemos que não vivemos mais presos pelo domínio da igreja, a qual 
mantinha os fiéis presos pelo temor e ignorância. Mas, será mesmo que somos 
livres de toda manipulação? Talvez os alemães também acreditassem nessa 
liberdade mediante a alienação, ou melhor, segundo a “segurança” que os discursos 
de Hitler proporcionavam, mas na verdade, estavam cegos pelo poder, assim como a 
cegueira religiosa e intelectual era retratada no filme. 
Vale a pena analisar os panoramas do filme e da atualidade sob o contexto do 
renascentismo, da política, da religião e da educação. 
O renascimento surgiu na Europa e foi um movimento cultural conhecido pela 
oposição à tradição medieval, a qual era regida pelo teocentrismo, doutrina da 
época, em que tinha Deus como o centro do universo e o desejo divino acima de toda 
lógica e vontade humana. Esse movimento de renovação representou grandes 
mudanças em diversas áreas do conhecimento, como cultura, filosofia, política, 
economia, entre outras. Tem como principais aspectos o antropocentrismo, 
humanismo e o racionalismo, os quais foram retratados no filme pelo Sherlock 
Homes da era medieval (monge franciscano William), que representou de forma 
brilhante o intelectual renascentista, o qual obteve uma postura racional, e, em vez 
de acreditar que aquelas mortes estranhas ocorriam devido aos fatos ligados ao 
demônio, conseguiu desvendar a verdade por trás dos crimes praticados no 
mosteiro. 
“Cadê o seu cérebro, Adso?...”Fique atento aos detalhes”... essas falas 
demonstram o espírito do renascimento cultural num contexto altamente 
teocêntrico. 
Vive-se a nova era renascentista, a qual o homem é posto no centro do 
universo e livre para viver para si próprio, podendo usar a razão e obter 
conhecimento sem a ordenança da religião. 
Quanto à política, desde o ensino médio, aprende-se nas aulas de história que 
a Igreja Católica, além de deter o saber religioso ao longo dos tempos, sempre 
deteve também outro importante poder, o político. E é exatamente isso que o filme 
“O Nome da Rosa” retrata ao longo de duas horas de uma trama que se passa em 
um mosteiro benedito, no norte da Itália. 
Dirigido por Jean Jacques Arnaud, a obra, inspirada no romance de Umberto 
Eco, é do ano de 1986, porém atual como nunca; um retrato fidedigno destes 
tempos, ou de um bem recente. 
Contextualizando o filme, cabe-se o questionamento de como Getúlio Vargas 
reagiria ao assistir a parte do filme em que os monges eram instruídos a não 
sorrirem, sob pretexto de uma ação “demoníaca” que deformava as linhas de 
expressão do rosto? Já que para Vargas a alegria, o sorriso e o bom humor da 
população estavam intrinsecamente ligados ao seu método de manipulação da 
grande massa, como era conhecido a política “pão e circo”. 
Já para a igreja, o grande vilão era o conhecimento, tanto é que os livros eram 
aprisionados em uma biblioteca secreta, mortal, para que o estudo não fosse 
disseminado, aprisionando o povo assim em uma verdade única e absoluta; forma 
de governo conhecida como ditadura, ou à época como ‘inquisição”. 
A contemporaneidade do filme é surreal. Atualmente, não são os livros que 
são escondidos, pelo contrário, eles estão à mostra como antídoto contra a 
manipulação exercida através do poder político, mas, sim, a deturpação ou a 
adaptação do que se vê e se ouve, chamada de ‘fakenews”. 
Quanto aos aspectos religiosos vistos no filme, sendo esses os mais fortes ali 
descritos, impossível não perceber os quão cruéis, injustos e desonestos eram a 
maioria dos devotos daquela época, os quais pensavam apenas em seu próprio 
bem-estar. Egoísmo de conhecimento e preocupação penduravam na igreja por 
séculos, tudo isso para manter a população cativa e ignorante, impedindo o estudo 
até mesmo para os monges que ali se formavam. Apesar de o filme ser uma 
investigação sobre as sete mortes,o foco mesmo é a biblioteca escondida, 
representada por um gigantesco labirinto, talvez como metáfora do perder-se no 
conhecimento. Ao evitar a existência dos livros, os monges validavam suas torturas 
e a maldade do homem. 
A hipocrisia pairava no mosteiro, puniam severamente relações sexuais dos 
pobres que se vendiam por comida, mas viviam cometendo os mesmos pecados 
sexuais às escondidas. Existe hipocrisia em muitos lugares, nas igrejas não seria 
diferente. 
Contudo, dentre tantas podridões, o comportamento cristão do noviço 
aprendiz deve ser ressaltado, tomado de compaixão e de justiça, orou pela mulher 
que se apaixonara. Teve ainda o comprometimento com o serviço sacerdotal, 
quando poderia ter largado tudo para juntar-se à moça, mas preferiu seguir os passos 
do mestre e não se arrepender da escolha que tomara. 
O pensamento da liderança religiosa do filme era muito divergente de alguns 
grandes homens da história, Louis Pasteur, cientista renomado, por exemplo, 
afirmava que um pouco de ciência nos afasta de Deus, muito, nos aproxima. Mais 
tarde, Agostinho, filósofo cristão, ainda estabelece que os cristãos podem e devem 
tomar da filosofia grega pagã tudo aquilo que for importante e útil para o cristianismo. 
Quanto à educação, o filme mostra um modelo em que a igreja era o filtro de 
conhecimento da antiguidade. Prova disso era que se uma pessoa desenvolvesse 
algum livro, teoria ou até um posicionamento diferente da lógica religiosa dominante, 
seria excomungada ou perseguida, como o próprio William tinha sido. Dessa forma, 
com o ocultamento dessas obras pagãs, a igreja estaria no poder central. 
Outra prática usada pelos religiosos na tentativa de controle, era o uso de 
certas substâncias tóxicas nas partes onde se folheavam os livros, com o objetivo 
de levar o leitor à óbito por envenenamento. Bom salientar que os livros 
envenenados eram os livros considerados “perigosos” demais para a fé, em outras 
palavras, apenas livros com ensinos diferentes dos que eram doutrinados pela igreja. 
Já no século XVII, o filósofo John Locke começou o trabalho de 
conscientização para a separação entre o Estado e a Igreja. Para ele, se o Estado 
tem uma religião oficial, isso implica na liberdade do indivíduo. Em relação à 
educação nos tempos atuais, podem ser notadas mudanças nas formas de governo, 
como a separação entre Estado e Igreja, e, com isso, a liberdade crítica para os 
cidadãos buscarem o próprio conhecimento e desenvolverem teorias baseadas nas 
observâncias das evidências filosóficas. Essa contribuição permitiu um vasto avanço 
no campo das ciências sociais e em modo geral. 
Apesar do filme trazer apenas a visão de uma igreja que contribuiu com o 
obscurantismo e não mencionar as inúmeras contribuições dessa mesma igreja no 
campo da razão e cientificismo durante a era medieval, a mensagem central sobre 
o alerta à alienação foi excelentemente abordada. 
Mais excepcional ainda foi deixar claro a mensagem de que não vale a pena 
levar algo ou alguém à ignorância ou à manipulação, pois a prisão oriunda desse 
comportamento é maior para o alienador do que para o alienado, afinal, mostra o 
abismo de inseguranças dentro do indivíduo ou da instituição dominante. Isso é 
apontado no terrível fim que os inquisidores e religiosos tiveram: uns 
experimentaram do próprio veneno, outros morreram queimados e ainda outros 
tombados por um acidente. 
Essa incrível obra permite ainda que o telespectador abuse da sua criatividade 
e opinião para decidir se a “rosa” é a biblioteca escondida, o livro perdido de 
Aristóteles (A Poética) ou a menina por quem Adso se apaixonara. Há espaço para 
várias interpretações. 
Também deixa a reflexão de que “a dúvida, Adso, NÃO é inimiga da fé”. Afinal, 
a dupla que foi a peça fundamental para montar todo o quebra cabeça da 
investigação, William e Adso, também eram os religiosos mais coerentes e firmes em 
suas crenças, confirmando o que Pasteur afirmou, que muito da ciência aproxima 
os indivíduos de Deus.

Continue navegando