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A TARDE - OLAVO BILAC - POEMA

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43 
TARDE 
OLAVO BILAC 
 
Temas principais: O envelhecimento, a passagem do tempo, a resignação frente à certeza do fim da vida; a 
defesa de valores cristãos; a vida associada às fases do ano; o amor à pátria e à língua; a valorização da tradição 
clássica e dos grandes artistas; a compreensão da pequenez do homem diante do universo. 
 
Os poemas de Tarde (1919), de Olavo Bilac (1865-1918), reúnem-se sob um título que logo anuncia o tom 
crepuscular predominante nas composições. Com redação concluída no ano da morte de Bilac e publicação 
póstuma, o livro confirma o domínio desse parnasiano sobre o verso, e revela um sujeito às voltas com a 
“antevelhice”, nostálgico e mais reflexivo do que em sua produção anterior. Na trilha dos ideais parnasianos de 
contenção emotiva por meio da técnica, e da descrição objetiva de cenas e objetos em contraponto à expressão 
desenfreada do eu lírico, o poeta desenvolve os temas de sua predileção: o amor e a beleza física da mulher; a 
pátria e os grandiosos eventos da história nacional; a exaltação do trabalho e do progresso. E, na esteira do 
conjunto da obra, então reunida em Poesias (1902) há a impressão de uma emoção singela e espontânea, mesmo 
que conformada aos limites da forma poética fixa. 
COMENTÁRIO CRÍTICO 
Trata-se de uma sequência de 99 sonetos petrarquianos – todos os poemas que compõem 
a Tarde apresentam dois quartetos e dois tercetos, somando 14 versos, decassílabos ou dodecassílabos 
(alexandrinos), e rigorosamente rimados. Essa configuração tem, é claro, consequências no sentido – por ser 
breve, a forma impõe a concisão, de modo que o soneto normalmente assuma tendência descritiva ou 
argumentativa. Pode-se dizer que a inclinação para a argumentação predomina em Tarde, pois nesse título o 
poeta se abre, embora discretamente, para interesses mais metafísicos, que problematizam a existência humana. 
É o que enuncia o segundo poema, Ciclo: “Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo; / A árvore maternal levanta 
o fruto, / A hóstia da ideia em perfeição… Pensar!”. 
No que diz respeito ao tema amoroso, ao lado de sonetos que cantam o sentimento em termos genéricos, 
como Oração a Cibele (“Que eu morra assim feliz, tudo de ti querendo: / Mal e bem, desespero e ideal, veneno e 
pomo, / Pecados e perdões, beijos puros e impuros!”), há outros como Salutaris Porta, que reflete sobre uma 
frustrada experiência do passado (“Feliz o idílio que não teve história! / Salvando-nos do tédio, o nosso medo / Foi 
uma porta de ouro para a glória!”). E a descrição da beleza feminina, se foi um meio privilegiado para os 
parnasianos cantarem amores de modo objetivo, aparece aqui também obscurecida: “Vê-se no espelho; e vê, pela 
janela, / A dolorosa angústia vespertina: / Pálido, morre o sol… Mas, ai! termina / Outra tarde mais triste, dentro 
dela”. Algo semelhante ocorre com relação à pátria, simplesmente exaltada (“Vivo, choro em teu pranto; e, em 
teus dias felizes, / No alto, como uma flor, em ti, pompeio e exulto!” – “Pátria”), louvada em aspectos particulares, 
caso de Música Brasileira e Anchieta, ou cantada em sua decadência: no conhecido soneto Vila Rica, dedicado a 
Ouro Preto, o poeta lamenta o abandono da cidade que antes crescera sob a exploração do ouro (“O ouro fulvo do 
ocaso as velhas casas cobre”). 
Também famoso é o soneto em que Bilac louva a “língua portuguesa”, a que chama a “última flor do Lácio”, 
por ter derivado do latim, originário dessa região europeia: “Amo o teu viço agreste e o teu aroma / De virgens 
selvas e de oceano largo / Amo-te, ó rude e doloroso idioma”. A dimensão metalinguística, que esteve sempre 
presente na obra do poeta, inclusive em aproximações entre a composição do verso e o trabalho do ourives, 
assume em Tarde o caráter de um balanço poético. Talvez questionando o posicionamento essencialmente 
antirromântico que marca a obra parnasiana, o sujeito lastima, em Remorso: “Versos e amores sufoquei calando, / 
Sem os gozar numa explosão sincera” – para enfim arrematar a sensação de desperdício com chave de ouro: “E 
por pudor os versos que não disse!”. 
A conclusão dos sonetos em verso final com tom elevado e de efeito é outra constante. Embora se trate de 
recurso caro aos parnasianos de modo geral, o emprego intenso da chave de ouro constitui, para alguns críticos, 
sinal de que em Tarde Bilac já esgotava seus procedimentos. Mário de Andrade (1893-1945), para quem “outro 
nenhum existe que se lhe compare na língua”, dada a “perfeição técnica no manejo dos metros conhecidos”, 
mostra como esses poemas baseiam-se em procedimentos repetidos à exaustão. Para além da insistência no 
fecho grandiloquente, há o uso repetido das enumerações. Ainda que a enumeração paratática seja um 
procedimento poético comum, a recorrência na obra pode ser observada como artifício a fim de facilmente 
sustentar o ritmo do verso. Muitas vezes, há também pares de versos paralelos, que podem servir de 
encerramento em lugar da chave de ouro: “[…] Orfeu humanizando as feras, / São Francisco de Assis pregando 
às aves” (Anchieta). 
Assim, ao lado dos que consideram Tarde o coroamento da obra de Bilac e da poesia parnasiana no Brasil, 
no dizer de Wilson Martins (1921-2010), estão aqueles que apontam o declínio na produção do poeta. Em todo 
caso, a crítica é unânime em apontar que “em toda a história da nossa literatura”, Bilac, conforme afirma Alexei 
Bueno (1963), “alcançou o maior prestígio e a mais alta identificação popular jamais registrada, em plena vida e 
por um período duradouro”. Nem mesmo o movimento modernista, essencialmente antibilaquiano, pela liberdade 
formal e expressiva que buscava, deixou de reconhecer a sua importância. 
 
ESTUDO DOS TEXTOS 
 
 
 
 44 
A femme fatale em “Tarde”, de Olavo Bilac 
 
O Decadentismo idealizará um erotismo cerebral, que teria existência somente no plano mental. O erotismo 
transviado porque não consumado será tema recorrente dos decadentes. Dentre os diversos traços desta estética 
– o gosto pela artificialidade, o desprezo pela natureza, a linguagem rebuscada, “a curiosidade mórbida pelas 
coisas misteriosas e o prazer das sensações raras” (FARIA,1988:56), por exemplo – o erotismo se destaca. Na 
vertente do mencionado estilo literário, o erotismo se revela como forma de perversão, isto é, devido à negação ao 
natural, a concepção erótica decadentista se voltará para o sexo como ato transgressor, postura que provém do 
próprio ideal decadente de contrariedade aos valores sociais estabelecidos e da influência de Charles Baudelaire 
e Théophile Gautier, dentre outros autores que serviram de matrizes ao Decadentismo. Em Baudelaire e em 
Gautier encontra-se o ideal decadentista da femme fatale, figura que representa a alegoria da ruína da tradição 
artística ocidental, encarnada pelo próprio decadentismo. Neste movimento, a mulher deixará seu lugar de 
parceira passiva para assumir a posição de dominadora, o que já demonstraria uma modificação na concepção 
dos papéis eróticos. Bela, porém cruel, esta mulher se desprenderá de qualquer relação com ideais femininos de 
veneração e amor para revestir-se de maldade e frieza. Ela se tornará má na 148 Cadernos do CNLF, Vol. XIV, 
No 2, t. 1 medida em que seduz o homem para levá-lo à ruína. A femme fatale decadentista geralmente é descrita 
como uma mulher de belos e exuberantes atributos físicos, mas, contudo, também um ser de alma monstruosa, 
marca que lhe cobre de paradoxos. 
.......................................................................................................... 
No seu derradeiro livro, Tarde, Olavo Bilac dará vida a mulheres fatais identificadas com arquétipos 
mitológicos grecoromanos, egípcios e judaico-cristãos. Diferentemente dos outros livros, neste o poeta 
fará uma relação direta entre a femme fatale e as antigas concepções do feminino, melhor dizendo, os 
ancestrais arquétipos mitológicos. Aliás, sobre as mulheres fatais e sua relação com o mito e a literatura. 
 
No poema “Oração à Cibele”, Bilacfará referência à deusa romana que intitula a composição. Esta 
divindade trazida da Frígia para Roma é denominada como Grande Mãe, identificada com a natureza como um 
todo e classificada como deusa da fecundidade. Aparentemente, não possuiria nenhum atributo que lhe 
concedesse aspectos fatais. No entanto, segundo Chevalier & Gheerbrant (1996, p. 237), “de uma forma quase 
delirante, ela simboliza os ritmos da morte e da fecundidade, da fecundidade pela morte”. Visto que esta 
fecundidade presente na referida deusa dá-se pela ação mortífera, sua 150 Cadernos do CNLF, Vol. XIV, Nº 2, t. 1 
postura já poderia se aproximar de uma concepção de erotismo fatal 
 
 
 
Oração à Cibele 
 
Deitado sobre a terra, em cruz, levanto o rosto 
Ao céu e às tuas mãos ferozes e esmoleres. 
Mata-me! Abençoarei teu coração, composto, 
Ó mãe, dos corações de todas as mulheres! 
 
Tu, que me dás amor e dor, gosto e desgosto, 
Glória e vergonha, tu, que me afagas e feres, 
Aniquila-me! E doura e embala o meu sol posto, 
Fonte! berço! mistério! Ísis! Pandora! Ceres! 
 
Que eu morra assim feliz, tudo de ti querendo: 
Mal e bem, desespero e ideal, veneno e pomo, 
Pecados e perdões, beijos puros e impuros! 
 
E os astros sobre mim caiam de ti, chovendo, 
Como os teus crimes, como as tuas bênçãos, como 
A doçura e o travor de teus cachos maduros! 
 
 
 
Abaixo o transcrevemos e neste ponto o sumariamos: há no sorriso da Mona Lisa um quê de fatal, 
irônico, plasmado em sua “dobrez ancestral”, comparável à de figuras fabulosas, como a da Quimera. 
Bilac metaforiza ainda a “beleza fatal” da senhora à da divina Ísis ou à da esfinge de Gizé, ambas da terra 
 
 
 
 45 
dos faraós, ou ainda à da sereia, entidade mitológica clássica, e à de Eva, o protótipo judaico-cristão da 
primeira mulher. 
 
 
 
Gioconda 
 
Deu-te o grande Leonardo ao sorriso a ironia, 
Insídia, e eterno ardil, na luminosa teia: 
Tal, a Belerofonte a Quimera sorria, 
E a Esfinge de Gizé sorri na adusta areia... 
 
A cilada do amor, o embuste da utopia, 
O desejo, que abrasa, e a esperança, que enleia, 
Chispam na tua boca impenetrável, fria... 
Seduzes, através dos séculos, sereia! 
 
Esse leve clarão no teu lábio, indeciso, 
É a dobrez ancestral, a malícia primeva 
Da Ísis, da pecadora altriz do Paraíso: 
 
Porque, para extrair as gerações da treva, 
À serpe, e a Adão, e a Deus, com o teu mesmo sorriso, 
Sorria, astuta e forte, a mãe das raças, Eva. 
 
 
 
 
 
 
 
HINO, À TARDE 
 
Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas, 
Alva! Natal da luz, primavera do dia, 
Não te amo! Nem a ti, canícula bravia, 
Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas! 
 
Amo-te, hora hesitante em que se preludia 
O adágio vesperal, – tumba que te recamas 
De luto e de esplendor, de crepes e auriflamas, 
Moribunda que ris sobre a própria agonia! 
 
Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre 
Os primeiros clarões das estrelas, no ventre, 
Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada, 
 
Trazes a palpitar, como um fruto do outono, 
A noite, alma nutriz da volúpia e do sono, 
Perpetuação da vida e iniciação do nada... 
 
 
Análise técnica 
 
Os versos possuem rimas: Chamas/derramas e 
dia/bravia. Pela disposição, são denominadas 
intercaladas (abba). 
 
Os versos possuem sempre a mesma quantidade de 
sílabas poéticas (lembre que sílaba poética não é igual a 
sílaba gramatical, pois na poesia é possível juntar duas 
sílabas e deve-se contar até a última tônica do verso. 
Verifique isso no 12o verso: 
 
Tra/zes/a/pal/pi/tar,/co/moum/fru/to/doou/to 
 
Percebeu que houve duas elisões (junções de sílabas 
de palavras diferentes)? Além disso, a última sílaba NO, 
da palavra outono, não pode ser considerada pois não é 
tônica. 
 
 
 
 
Em termos de percurso poético, o livro começa retratando os períodos de um dia: manhã, dia, tarde 
e noite. Como a poesia é polissêmica, leia-a pensando na seguinte possibilidade: cada estrofe é um 
período do dia, mas também pode ser um período da vida. Dessa forma, manhã seria a pré-adolescência; 
dia, seria a juventude; tarde, a maturidade e noite, a velhice. O que dá respaldo a essa análise são os 
verbos Sonhar, Amar, Pensar e Lembrar, respectivamente. Note, por meio do poema Cic 
 
 
 
 46 
CICLO 
 
Manhã. Sangue em delírio, verde gomo, 
Promessa ardente, berço e liminar: 
A árvore pulsa, no primeiro assomo 
Da vida, inchando a seiva ao sol... 
 
 Sonhar! Dia. A flor, – o noivado e o beijo, como 
Em perfumes um tálamo e um altar: 
A árvore abre-se em riso, espera o pomo, 
 E canta à voz dos pássaros... Amar! 
 
Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo; 
A árvore maternal levanta o fruto, 
A hóstia da ideia em perfeição... Pensar! 
 
Noite. Oh! saudade!... A dolorosa rama 
 Da árvore aflita pelo chão derrama 
As folhas, como lágrimas... Lembrar! 
 
 
 
 
A UM POETA 
 
Longe do estéril turbilhão da rua, 
Beneditino, escreve! No aconchego 
Do claustro, no silêncio e no sossego, 
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! 
 
Mas que na forma se disfarce o emprego 
Do esforço; e a trama viva se construa 
De tal modo, que a imagem fique nua, 
Rica, mas sóbria, como um templo grego. 
 
Não se mostre na fábrica o suplício 
Do mestre. E, natural, o efeito agrade, 
Sem lembrar os andaimes do edifício: 
 
Porque a Beleza, gêmea da Verdade, 
Arte pura, inimiga do artifício, 
É a força e a graça na simplicidade. 
 
(Tarde, 1919.) 
 
 
 
O soneto funda-se no conceito paradoxal da arte como artifício que deve parecer espontâneo. Essa é a 
dinâmica inerente ao princípio retórico de que a beleza, sendo o objeto da arte, não passa de efeito produzido por 
elocução eficiente. No primeiro terceto, o poeta desnuda o princípio, afirmando que a função do artista consiste 
em provocar efeitos agradáveis, isto é, em produzir a sensação de beleza, que só se realiza quando o artifício é 
percebido como natural. Logo, o esforço técnico da enunciação não pode deixar marcas no enunciado. Em outros 
termos, a elocução eficiente (“Arte pura”) seria aquela que arrebata o leitor do plano técnico para o domínio da 
natureza, em que beleza e verdade se relacionam em harmoniosa hierarquia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 47 
MÚSICA BRASILEIRA 
 
Tens, às vezes, o fogo soberano 
Do amor: encerras na cadência, acesa 
Em requebros e encantos de impureza, 
Todo o feitiço do pecado humano. 
 
Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza 
Dos desertos, das matas e do oceano: 
Bárbara poracé, banzo africano, 
E soluços de trova portuguesa. 
 
És samba e jongo, xiba e fado, cujos 
Acordes são desejos e orfandades 
De selvagens, cativos e marujos: 
 
E em nostalgias e paixões consistes, 
Lasciva dor, beijo de três saudades, 
Flor amorosa de três raças tristes. 
 
 
 
O CREPÚSCULO DOS DEUSES 
 
Fulge em nuvens, no poente, o Olimpo. O céu delira. 
Os deuses rugem. Entre incêndios de ouro e gemas, 
Há torrentes de sangue, hecatombes supremas, 
Heróis rojando ao chão, troféus ardendo em pira, 
 
Ilíadas, bulcões de gládios e díademas, 
Ossa e Pélio tombando, e Zeus em raios de ira, 
E Acrópoles em fogo, e Homero erguendo a lira 
Em reverberações de batalhas e poemas... 
 
Mas o vento, embocando as bramidoras trompas, 
Clangora. Rolam no ar, de roldão, num tumulto, 
Os numes e os titãs, varridos à rajada: 
 
E ódio, furor, tropel, fastígio, glória, pompas, 
Chamas, o Olimpo, – tudo esbate-se, sepulto 
Em cinza, em crepe, em fumo, em sonho, em noite, em nada. 
 
 
 
DUALISMO 
 
Não és bom, nem és mau: és triste e humano... 
Vives ansiando, em maldições e preces, 
Como se, a arder, no coração tivesses 
O tumulto e o clamor de um largo oceano. 
 
Pobre, no bem como no mal, padeces; 
E, rolando num vórtice vesano, 
Oscilas entre a crença e o desengano, 
Entre esperanças e desinteresses. 
 
Capaz de horrores e de ações sublimes, 
Não ficas das virtudes satisfeito, 
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes: 
 
E, no perpétuo ideal que te devora, 
Residem juntamente no teupeito 
Um demônio que ruge e um deus que chora. 
 
 
 
 
 
 48 
UM BEIJO 
 
Foste o beijo melhor da minha vida, 
Ou talvez o pior... Glória e tormento, 
Contigo à luz subi do firmamento, 
Contigo fui pela infernal descida! 
 
Morreste, e o meu desejo não te olvida: 
Queimas-me o sangue, enches-me o pensamento, 
E do teu gosto amargo me alimento, 
E rolo-te na boca malferida. 
 
Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo, 
Batismo e extrema-unção, naquele instante 
Por que, feliz, eu não morri contigo? 
 
Sinto-te o ardor, e o crepitar te escuto, 
Beijo divino! e anseio, delirante, 
Na perpétua saudade de um minuto... 
 
LÍNGUA PORTUGUESA 
 
Última flor do Lácio, inculta e bela, 
Éas, a um tempo, esplendor e sepultura: 
Ouro nativo, que na ganga impura 
A bruta mina entre os cascalhos vela... 
 
Amo-te assim, desconhecida e obscura, 
Tuba de alto clangor, lira singela 
Que tens o trom e o silvo da procela, 
E o arrolo da saudade e da ternura! 
 
Amo o teu viço agreste e o teu aroma 
De virgens selvas e de oceano largo! 
Amo-te, ó rude e doloroso idioma, 
 
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”, 
E em que Camões chorou, no exílio amargo, 
O gênio sem ventura e o amor sem brilho! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 49 
EXERCÍCIOS 
 
Língua portuguesa 
Última flor do Lácio, inculta e bela, 
És, a um tempo, esplendor e sepultura: 
Ouro nativo, que na ganga impura 
A bruta mina entre os cascalhos vela... 
 
Amo-te assim, desconhecida e obscura, 
Tuba de alto clangor, lira singela, 
Que tens o trom e o silvo da procela 
E o arrolo da saudade e da ternura! 
 
Amo o teu viço agreste e o teu aroma 
De virgens selvas e de oceano largo! 
Amo-te, ó rude e doloroso idioma, 
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!" 
 
E em que Camões chorou, no exílio amargo, 
O gênio sem ventura e o amor sem brilho! 
 
(Olavo Bilac, http://www.releituras.com) 
 
 
Questão 01. 
Considerando o Texto “Língua Portuguesa”, bem como 
os conteúdos a ele relacionados, assinale a alternativa 
CORRETA. 
 
a) O poema de Olavo Bilac tem uma estrutura condizente 
com a chamada “estética parnasiana”, que, embasada 
em textos em versos, adota os mesmos princípios nos 
quais estão fundamentadas as poesias românticas de 
Castro Alves. 
b) A declaração de amor que Bilac faz à língua portuguesa 
na terceira estrofe do poema em análise aponta que, 
embora o eu lírico expresse seu amor, ao mesmo tempo 
demonstra reconhecer e entender a fragilidade da 
língua. 
c) Há, como se percebe, na última estrofe do poema em 
análise, traços de intertextualidade, o que, talvez – ou 
de maneira categórica – ponha Bilac para fora do seleto 
grupo dos parnasianos brasileiros. 
d) A expressão “Última flor do Lácio, inculta e bela” escrita 
por Bilac traz à tona uma das características do 
parnasianismo: o uso de vocabulário comum e prosaico, 
simples e ordinário. 
e) O poema de Bilac possui, de um ponto de vista formal, 
quatro estrofes, dois quartetos e dois tercetos. Essa 
estrutura aponta características bem delineadas da 
chamada estética parnasiana. 
 
 Questão 02. 
Não se mostre na fábrica o suplício 
Do mestre. E, natural, o efeito agrade, 
Sem lembrar os andaimes do edifício: 
 
Porque a Beleza, gêmea da Verdade, 
Arte pura, inimiga do artifício, 
É a força e a graça na simplicidade. 
 
Olavo Bilac 
 
 
 
Os versos de Olavo Bilac pertencem ao período 
conhecido como Parnasianismo e denunciam 
 
a) vocabulário simples e pouca preocupação com as 
qualidades técnicas do poema, já que as sugestões 
sonoras não estão neles presentes. 
b) emoção expressa racionalmente, embora seja bastante 
evidente o caráter subjetivo na construção das 
imagens. 
c) a busca da perfeição na expressão, visando ao 
universalismo, como exemplificam os termos Beleza e 
Verdade, grafados com maiúsculas. 
d) o afastamento da realidade social, decorrente de uma 
visão idealizada do mundo, descrito por metáforas 
pouco objetivas. 
e) a forma de expressão pouco idealizada, resultante de 
uma concepção de mundo marcada pela complexidade 
que, nos versos, se manifesta em vocabulário seleto. 
 
 
Vila Rica 
 
O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre; 
Sangram, em laivos de ouro, as minas, que ambição 
Na torturada entranha abriu da terra nobre: 
E cada cicatriz brilha como um brasão. 
 
O ângelus plange ao longe em doloroso dobre, 
O último ouro do sol morre na cerração. 
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, 
O crepúsculo cai como uma extrema-unção. 
 
Agora, para além do cerro, o céu parece 
Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu... 
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece, 
 
Como uma procissão espectral que se move... 
Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu... 
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove. 
 
Questão 03. 
Predominam no texto: 
a) imagens acústicas e visuais. 
b) imagens visuais e tácteis. 
c) imagens acústicas e olfativas. 
d) imagens gustativas e auditivas. 
e) imagens acústicas e tácteis. 
 
Questão 04. 
Sobressai no poema 
a) um retrato valorizador da fé humana. 
b) um aprofundamento do mistério humano. 
c) a descrição de um ambiente fictício. 
d) O aspecto descritivo e a lembrança de um passado 
histórico. 
e) a visão do homem infeliz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 50 
Questão 05. 
Assinale o par que melhor se aplica ao poema 
a) mistério / solução 
b) dor / felicidade 
c) religião / ateísmo 
d) amor / felicidade 
e) opulência / decadência 
 
 
Questão 06. 
Assinale a alternativa que tenha apenas características 
do Parnasianismo independentemente do texto 
 
a) predomínio do sentimentalismo; vocabulário precioso; 
descrições de objetos. 
b) culto da forma; objetivismo; predomínio dos elementos 
da natureza. 
c) teoria da arte pela arte; métrica perfeita; busca do 
nacionalismo. 
d) sexualidade; hereditariedade; meio ambiente. 
e) preocupação com a forma, com a técnica e com a 
métrica; presença de rimas ricas, raras, preciosas. 
 
 
 
LÍNGUA PORTUGUESA 
Última flor do Lácio, inculta e bela 
És, a um tempo, esplendor e sepultura; 
Ouro nativo, que, na ganga impura, 
A bruta mina entre os cascalhos vela... 
 
Amo-te assim, desconhecida e obscura, 
Tuba de alto clangor, lira singela, 
Que tens o trom e o silvo da procela, 
E o arrolo da saudade e da ternura! 
 
Amo o teu viço agreste e o teu aroma 
De virgens selvas e de oceanos largos! 
Amo-te, ó rude e doloroso idioma, 
 
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!" 
E em que Camões chorou, no exílio amargo, 
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

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