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43 TARDE OLAVO BILAC Temas principais: O envelhecimento, a passagem do tempo, a resignação frente à certeza do fim da vida; a defesa de valores cristãos; a vida associada às fases do ano; o amor à pátria e à língua; a valorização da tradição clássica e dos grandes artistas; a compreensão da pequenez do homem diante do universo. Os poemas de Tarde (1919), de Olavo Bilac (1865-1918), reúnem-se sob um título que logo anuncia o tom crepuscular predominante nas composições. Com redação concluída no ano da morte de Bilac e publicação póstuma, o livro confirma o domínio desse parnasiano sobre o verso, e revela um sujeito às voltas com a “antevelhice”, nostálgico e mais reflexivo do que em sua produção anterior. Na trilha dos ideais parnasianos de contenção emotiva por meio da técnica, e da descrição objetiva de cenas e objetos em contraponto à expressão desenfreada do eu lírico, o poeta desenvolve os temas de sua predileção: o amor e a beleza física da mulher; a pátria e os grandiosos eventos da história nacional; a exaltação do trabalho e do progresso. E, na esteira do conjunto da obra, então reunida em Poesias (1902) há a impressão de uma emoção singela e espontânea, mesmo que conformada aos limites da forma poética fixa. COMENTÁRIO CRÍTICO Trata-se de uma sequência de 99 sonetos petrarquianos – todos os poemas que compõem a Tarde apresentam dois quartetos e dois tercetos, somando 14 versos, decassílabos ou dodecassílabos (alexandrinos), e rigorosamente rimados. Essa configuração tem, é claro, consequências no sentido – por ser breve, a forma impõe a concisão, de modo que o soneto normalmente assuma tendência descritiva ou argumentativa. Pode-se dizer que a inclinação para a argumentação predomina em Tarde, pois nesse título o poeta se abre, embora discretamente, para interesses mais metafísicos, que problematizam a existência humana. É o que enuncia o segundo poema, Ciclo: “Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo; / A árvore maternal levanta o fruto, / A hóstia da ideia em perfeição… Pensar!”. No que diz respeito ao tema amoroso, ao lado de sonetos que cantam o sentimento em termos genéricos, como Oração a Cibele (“Que eu morra assim feliz, tudo de ti querendo: / Mal e bem, desespero e ideal, veneno e pomo, / Pecados e perdões, beijos puros e impuros!”), há outros como Salutaris Porta, que reflete sobre uma frustrada experiência do passado (“Feliz o idílio que não teve história! / Salvando-nos do tédio, o nosso medo / Foi uma porta de ouro para a glória!”). E a descrição da beleza feminina, se foi um meio privilegiado para os parnasianos cantarem amores de modo objetivo, aparece aqui também obscurecida: “Vê-se no espelho; e vê, pela janela, / A dolorosa angústia vespertina: / Pálido, morre o sol… Mas, ai! termina / Outra tarde mais triste, dentro dela”. Algo semelhante ocorre com relação à pátria, simplesmente exaltada (“Vivo, choro em teu pranto; e, em teus dias felizes, / No alto, como uma flor, em ti, pompeio e exulto!” – “Pátria”), louvada em aspectos particulares, caso de Música Brasileira e Anchieta, ou cantada em sua decadência: no conhecido soneto Vila Rica, dedicado a Ouro Preto, o poeta lamenta o abandono da cidade que antes crescera sob a exploração do ouro (“O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre”). Também famoso é o soneto em que Bilac louva a “língua portuguesa”, a que chama a “última flor do Lácio”, por ter derivado do latim, originário dessa região europeia: “Amo o teu viço agreste e o teu aroma / De virgens selvas e de oceano largo / Amo-te, ó rude e doloroso idioma”. A dimensão metalinguística, que esteve sempre presente na obra do poeta, inclusive em aproximações entre a composição do verso e o trabalho do ourives, assume em Tarde o caráter de um balanço poético. Talvez questionando o posicionamento essencialmente antirromântico que marca a obra parnasiana, o sujeito lastima, em Remorso: “Versos e amores sufoquei calando, / Sem os gozar numa explosão sincera” – para enfim arrematar a sensação de desperdício com chave de ouro: “E por pudor os versos que não disse!”. A conclusão dos sonetos em verso final com tom elevado e de efeito é outra constante. Embora se trate de recurso caro aos parnasianos de modo geral, o emprego intenso da chave de ouro constitui, para alguns críticos, sinal de que em Tarde Bilac já esgotava seus procedimentos. Mário de Andrade (1893-1945), para quem “outro nenhum existe que se lhe compare na língua”, dada a “perfeição técnica no manejo dos metros conhecidos”, mostra como esses poemas baseiam-se em procedimentos repetidos à exaustão. Para além da insistência no fecho grandiloquente, há o uso repetido das enumerações. Ainda que a enumeração paratática seja um procedimento poético comum, a recorrência na obra pode ser observada como artifício a fim de facilmente sustentar o ritmo do verso. Muitas vezes, há também pares de versos paralelos, que podem servir de encerramento em lugar da chave de ouro: “[…] Orfeu humanizando as feras, / São Francisco de Assis pregando às aves” (Anchieta). Assim, ao lado dos que consideram Tarde o coroamento da obra de Bilac e da poesia parnasiana no Brasil, no dizer de Wilson Martins (1921-2010), estão aqueles que apontam o declínio na produção do poeta. Em todo caso, a crítica é unânime em apontar que “em toda a história da nossa literatura”, Bilac, conforme afirma Alexei Bueno (1963), “alcançou o maior prestígio e a mais alta identificação popular jamais registrada, em plena vida e por um período duradouro”. Nem mesmo o movimento modernista, essencialmente antibilaquiano, pela liberdade formal e expressiva que buscava, deixou de reconhecer a sua importância. ESTUDO DOS TEXTOS 44 A femme fatale em “Tarde”, de Olavo Bilac O Decadentismo idealizará um erotismo cerebral, que teria existência somente no plano mental. O erotismo transviado porque não consumado será tema recorrente dos decadentes. Dentre os diversos traços desta estética – o gosto pela artificialidade, o desprezo pela natureza, a linguagem rebuscada, “a curiosidade mórbida pelas coisas misteriosas e o prazer das sensações raras” (FARIA,1988:56), por exemplo – o erotismo se destaca. Na vertente do mencionado estilo literário, o erotismo se revela como forma de perversão, isto é, devido à negação ao natural, a concepção erótica decadentista se voltará para o sexo como ato transgressor, postura que provém do próprio ideal decadente de contrariedade aos valores sociais estabelecidos e da influência de Charles Baudelaire e Théophile Gautier, dentre outros autores que serviram de matrizes ao Decadentismo. Em Baudelaire e em Gautier encontra-se o ideal decadentista da femme fatale, figura que representa a alegoria da ruína da tradição artística ocidental, encarnada pelo próprio decadentismo. Neste movimento, a mulher deixará seu lugar de parceira passiva para assumir a posição de dominadora, o que já demonstraria uma modificação na concepção dos papéis eróticos. Bela, porém cruel, esta mulher se desprenderá de qualquer relação com ideais femininos de veneração e amor para revestir-se de maldade e frieza. Ela se tornará má na 148 Cadernos do CNLF, Vol. XIV, No 2, t. 1 medida em que seduz o homem para levá-lo à ruína. A femme fatale decadentista geralmente é descrita como uma mulher de belos e exuberantes atributos físicos, mas, contudo, também um ser de alma monstruosa, marca que lhe cobre de paradoxos. .......................................................................................................... No seu derradeiro livro, Tarde, Olavo Bilac dará vida a mulheres fatais identificadas com arquétipos mitológicos grecoromanos, egípcios e judaico-cristãos. Diferentemente dos outros livros, neste o poeta fará uma relação direta entre a femme fatale e as antigas concepções do feminino, melhor dizendo, os ancestrais arquétipos mitológicos. Aliás, sobre as mulheres fatais e sua relação com o mito e a literatura. No poema “Oração à Cibele”, Bilacfará referência à deusa romana que intitula a composição. Esta divindade trazida da Frígia para Roma é denominada como Grande Mãe, identificada com a natureza como um todo e classificada como deusa da fecundidade. Aparentemente, não possuiria nenhum atributo que lhe concedesse aspectos fatais. No entanto, segundo Chevalier & Gheerbrant (1996, p. 237), “de uma forma quase delirante, ela simboliza os ritmos da morte e da fecundidade, da fecundidade pela morte”. Visto que esta fecundidade presente na referida deusa dá-se pela ação mortífera, sua 150 Cadernos do CNLF, Vol. XIV, Nº 2, t. 1 postura já poderia se aproximar de uma concepção de erotismo fatal Oração à Cibele Deitado sobre a terra, em cruz, levanto o rosto Ao céu e às tuas mãos ferozes e esmoleres. Mata-me! Abençoarei teu coração, composto, Ó mãe, dos corações de todas as mulheres! Tu, que me dás amor e dor, gosto e desgosto, Glória e vergonha, tu, que me afagas e feres, Aniquila-me! E doura e embala o meu sol posto, Fonte! berço! mistério! Ísis! Pandora! Ceres! Que eu morra assim feliz, tudo de ti querendo: Mal e bem, desespero e ideal, veneno e pomo, Pecados e perdões, beijos puros e impuros! E os astros sobre mim caiam de ti, chovendo, Como os teus crimes, como as tuas bênçãos, como A doçura e o travor de teus cachos maduros! Abaixo o transcrevemos e neste ponto o sumariamos: há no sorriso da Mona Lisa um quê de fatal, irônico, plasmado em sua “dobrez ancestral”, comparável à de figuras fabulosas, como a da Quimera. Bilac metaforiza ainda a “beleza fatal” da senhora à da divina Ísis ou à da esfinge de Gizé, ambas da terra 45 dos faraós, ou ainda à da sereia, entidade mitológica clássica, e à de Eva, o protótipo judaico-cristão da primeira mulher. Gioconda Deu-te o grande Leonardo ao sorriso a ironia, Insídia, e eterno ardil, na luminosa teia: Tal, a Belerofonte a Quimera sorria, E a Esfinge de Gizé sorri na adusta areia... A cilada do amor, o embuste da utopia, O desejo, que abrasa, e a esperança, que enleia, Chispam na tua boca impenetrável, fria... Seduzes, através dos séculos, sereia! Esse leve clarão no teu lábio, indeciso, É a dobrez ancestral, a malícia primeva Da Ísis, da pecadora altriz do Paraíso: Porque, para extrair as gerações da treva, À serpe, e a Adão, e a Deus, com o teu mesmo sorriso, Sorria, astuta e forte, a mãe das raças, Eva. HINO, À TARDE Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas, Alva! Natal da luz, primavera do dia, Não te amo! Nem a ti, canícula bravia, Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas! Amo-te, hora hesitante em que se preludia O adágio vesperal, – tumba que te recamas De luto e de esplendor, de crepes e auriflamas, Moribunda que ris sobre a própria agonia! Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre Os primeiros clarões das estrelas, no ventre, Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada, Trazes a palpitar, como um fruto do outono, A noite, alma nutriz da volúpia e do sono, Perpetuação da vida e iniciação do nada... Análise técnica Os versos possuem rimas: Chamas/derramas e dia/bravia. Pela disposição, são denominadas intercaladas (abba). Os versos possuem sempre a mesma quantidade de sílabas poéticas (lembre que sílaba poética não é igual a sílaba gramatical, pois na poesia é possível juntar duas sílabas e deve-se contar até a última tônica do verso. Verifique isso no 12o verso: Tra/zes/a/pal/pi/tar,/co/moum/fru/to/doou/to Percebeu que houve duas elisões (junções de sílabas de palavras diferentes)? Além disso, a última sílaba NO, da palavra outono, não pode ser considerada pois não é tônica. Em termos de percurso poético, o livro começa retratando os períodos de um dia: manhã, dia, tarde e noite. Como a poesia é polissêmica, leia-a pensando na seguinte possibilidade: cada estrofe é um período do dia, mas também pode ser um período da vida. Dessa forma, manhã seria a pré-adolescência; dia, seria a juventude; tarde, a maturidade e noite, a velhice. O que dá respaldo a essa análise são os verbos Sonhar, Amar, Pensar e Lembrar, respectivamente. Note, por meio do poema Cic 46 CICLO Manhã. Sangue em delírio, verde gomo, Promessa ardente, berço e liminar: A árvore pulsa, no primeiro assomo Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar! Dia. A flor, – o noivado e o beijo, como Em perfumes um tálamo e um altar: A árvore abre-se em riso, espera o pomo, E canta à voz dos pássaros... Amar! Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo; A árvore maternal levanta o fruto, A hóstia da ideia em perfeição... Pensar! Noite. Oh! saudade!... A dolorosa rama Da árvore aflita pelo chão derrama As folhas, como lágrimas... Lembrar! A UM POETA Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, no silêncio e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica, mas sóbria, como um templo grego. Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade. (Tarde, 1919.) O soneto funda-se no conceito paradoxal da arte como artifício que deve parecer espontâneo. Essa é a dinâmica inerente ao princípio retórico de que a beleza, sendo o objeto da arte, não passa de efeito produzido por elocução eficiente. No primeiro terceto, o poeta desnuda o princípio, afirmando que a função do artista consiste em provocar efeitos agradáveis, isto é, em produzir a sensação de beleza, que só se realiza quando o artifício é percebido como natural. Logo, o esforço técnico da enunciação não pode deixar marcas no enunciado. Em outros termos, a elocução eficiente (“Arte pura”) seria aquela que arrebata o leitor do plano técnico para o domínio da natureza, em que beleza e verdade se relacionam em harmoniosa hierarquia. 47 MÚSICA BRASILEIRA Tens, às vezes, o fogo soberano Do amor: encerras na cadência, acesa Em requebros e encantos de impureza, Todo o feitiço do pecado humano. Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza Dos desertos, das matas e do oceano: Bárbara poracé, banzo africano, E soluços de trova portuguesa. És samba e jongo, xiba e fado, cujos Acordes são desejos e orfandades De selvagens, cativos e marujos: E em nostalgias e paixões consistes, Lasciva dor, beijo de três saudades, Flor amorosa de três raças tristes. O CREPÚSCULO DOS DEUSES Fulge em nuvens, no poente, o Olimpo. O céu delira. Os deuses rugem. Entre incêndios de ouro e gemas, Há torrentes de sangue, hecatombes supremas, Heróis rojando ao chão, troféus ardendo em pira, Ilíadas, bulcões de gládios e díademas, Ossa e Pélio tombando, e Zeus em raios de ira, E Acrópoles em fogo, e Homero erguendo a lira Em reverberações de batalhas e poemas... Mas o vento, embocando as bramidoras trompas, Clangora. Rolam no ar, de roldão, num tumulto, Os numes e os titãs, varridos à rajada: E ódio, furor, tropel, fastígio, glória, pompas, Chamas, o Olimpo, – tudo esbate-se, sepulto Em cinza, em crepe, em fumo, em sonho, em noite, em nada. DUALISMO Não és bom, nem és mau: és triste e humano... Vives ansiando, em maldições e preces, Como se, a arder, no coração tivesses O tumulto e o clamor de um largo oceano. Pobre, no bem como no mal, padeces; E, rolando num vórtice vesano, Oscilas entre a crença e o desengano, Entre esperanças e desinteresses. Capaz de horrores e de ações sublimes, Não ficas das virtudes satisfeito, Nem te arrependes, infeliz, dos crimes: E, no perpétuo ideal que te devora, Residem juntamente no teupeito Um demônio que ruge e um deus que chora. 48 UM BEIJO Foste o beijo melhor da minha vida, Ou talvez o pior... Glória e tormento, Contigo à luz subi do firmamento, Contigo fui pela infernal descida! Morreste, e o meu desejo não te olvida: Queimas-me o sangue, enches-me o pensamento, E do teu gosto amargo me alimento, E rolo-te na boca malferida. Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo, Batismo e extrema-unção, naquele instante Por que, feliz, eu não morri contigo? Sinto-te o ardor, e o crepitar te escuto, Beijo divino! e anseio, delirante, Na perpétua saudade de um minuto... LÍNGUA PORTUGUESA Última flor do Lácio, inculta e bela, Éas, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura, Tuba de alto clangor, lira singela Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”, E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! 49 EXERCÍCIOS Língua portuguesa Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura, Tuba de alto clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: "meu filho!" E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! (Olavo Bilac, http://www.releituras.com) Questão 01. Considerando o Texto “Língua Portuguesa”, bem como os conteúdos a ele relacionados, assinale a alternativa CORRETA. a) O poema de Olavo Bilac tem uma estrutura condizente com a chamada “estética parnasiana”, que, embasada em textos em versos, adota os mesmos princípios nos quais estão fundamentadas as poesias românticas de Castro Alves. b) A declaração de amor que Bilac faz à língua portuguesa na terceira estrofe do poema em análise aponta que, embora o eu lírico expresse seu amor, ao mesmo tempo demonstra reconhecer e entender a fragilidade da língua. c) Há, como se percebe, na última estrofe do poema em análise, traços de intertextualidade, o que, talvez – ou de maneira categórica – ponha Bilac para fora do seleto grupo dos parnasianos brasileiros. d) A expressão “Última flor do Lácio, inculta e bela” escrita por Bilac traz à tona uma das características do parnasianismo: o uso de vocabulário comum e prosaico, simples e ordinário. e) O poema de Bilac possui, de um ponto de vista formal, quatro estrofes, dois quartetos e dois tercetos. Essa estrutura aponta características bem delineadas da chamada estética parnasiana. Questão 02. Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade. Olavo Bilac Os versos de Olavo Bilac pertencem ao período conhecido como Parnasianismo e denunciam a) vocabulário simples e pouca preocupação com as qualidades técnicas do poema, já que as sugestões sonoras não estão neles presentes. b) emoção expressa racionalmente, embora seja bastante evidente o caráter subjetivo na construção das imagens. c) a busca da perfeição na expressão, visando ao universalismo, como exemplificam os termos Beleza e Verdade, grafados com maiúsculas. d) o afastamento da realidade social, decorrente de uma visão idealizada do mundo, descrito por metáforas pouco objetivas. e) a forma de expressão pouco idealizada, resultante de uma concepção de mundo marcada pela complexidade que, nos versos, se manifesta em vocabulário seleto. Vila Rica O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre; Sangram, em laivos de ouro, as minas, que ambição Na torturada entranha abriu da terra nobre: E cada cicatriz brilha como um brasão. O ângelus plange ao longe em doloroso dobre, O último ouro do sol morre na cerração. E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, O crepúsculo cai como uma extrema-unção. Agora, para além do cerro, o céu parece Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu... A neblina, roçando o chão, cicia, em prece, Como uma procissão espectral que se move... Dobra o sino... Soluça um verso de Dirceu... Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove. Questão 03. Predominam no texto: a) imagens acústicas e visuais. b) imagens visuais e tácteis. c) imagens acústicas e olfativas. d) imagens gustativas e auditivas. e) imagens acústicas e tácteis. Questão 04. Sobressai no poema a) um retrato valorizador da fé humana. b) um aprofundamento do mistério humano. c) a descrição de um ambiente fictício. d) O aspecto descritivo e a lembrança de um passado histórico. e) a visão do homem infeliz. 50 Questão 05. Assinale o par que melhor se aplica ao poema a) mistério / solução b) dor / felicidade c) religião / ateísmo d) amor / felicidade e) opulência / decadência Questão 06. Assinale a alternativa que tenha apenas características do Parnasianismo independentemente do texto a) predomínio do sentimentalismo; vocabulário precioso; descrições de objetos. b) culto da forma; objetivismo; predomínio dos elementos da natureza. c) teoria da arte pela arte; métrica perfeita; busca do nacionalismo. d) sexualidade; hereditariedade; meio ambiente. e) preocupação com a forma, com a técnica e com a métrica; presença de rimas ricas, raras, preciosas. LÍNGUA PORTUGUESA Última flor do Lácio, inculta e bela És, a um tempo, esplendor e sepultura; Ouro nativo, que, na ganga impura, A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura, Tuba de alto clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceanos largos! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: "meu filho!" E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
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