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Nas vésperas da copa do mundo o Brasil está de parabéns. É, de parabéns mesmo. Em plena crise social o país já tem motivos para comemorar que nada tem a ver com o futebol: a Co-missão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do senado federal realizou a primeira audiência pública e interativa para debater a sugestão de lei 8/2014 apresentada por André Kiepper sobre os diferentes usos da maconha. Se bem houve mais opiniões opostas à legali- zação esta foi uma só das seis audiências que vão ocorrer e o relator da Comissão, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) já foi claro: ¨Não estamos debatendo se vamos a regulamentar a maconha, estamos debatendo como vamos fazer isso. As mortes de Vitor Hugo Arcanjo e agora de Gustavo Guedes, crianças com epilepsia refratária, mostram como a burocracia da ANVISA dá mais valor às posturas conservadoras de certos setores da sociedade que à vida desses meninos. Parece que estão tentando apagar com gasolina um fogo que não vai parar de crescer até que a canábis seja legalizada. Por enquanto o Silvio Santos faz piadas sobre viagens ao Paraguai e a Pituconha ganha novo visual e é vendida na boa em Recife e Pernambuco á fora... Enquanto não legaliza pelo menos Normaliza... Já no final desta edição o país foi invadido por Marchas da Maconha em várias cidades incluindo quase todas as capitais e foi com esse impulso que mostramos novos cultivadores Brasileiros que bem poderiam ser você. É com essa mesma vontade de crescer que damos nossa opinião sobre a velha rivalidade entre plantas sativas e plantas índicas e explicamos um pouco como é que as variedades originais do Brasil estão se extinguindo, além de trazer muita mais informação e conteúdo para acompanhar você em sua viajem. Vamos lá Brasil. Vamos Legalizar. Vamos Plantar! 2 EDITORIAL https://www.paradise-seeds.com/ Diretor executivo: Alberto Huergo Coordenação geral Brasil: Francisco Ribeiro Pablo Serpa Editor fotográfico: Guillermo Andrés Romero Diretor de arte: Maxi Muñoz WebMaster: Andres Martinez Designers: Ezequiel Digrillo Akasha Haze Manuela Franganillo Editor: Eduardo Obeid Produção geral: Adela Kein Sol Mato Colunistas: Fabio Cerra, Mandacaru, Alberto Huergo, Camarón, Francesco Ribeiro, Albertinho, João Saveirinho, Kaneh Bosem, Demeter. Colaboração: Estefani Medeiros, Marcos Verdim e Cannabis Café Brasil - Boaconha Brasil - Jimmy, Tommy e Fórum Tricomaria - Smoke Buddies - Professor Fabio Geraldo Veloso e Comissão de Políticas sobre Drogas OAB Niterói - Programa Fume e Role - Daniel Vela - Allan e Jô (Curitiba) - Kiutiano e família - Luan, Alexandre e Ultra420 - Antonio Henrique Campello - André Barros - Kleber Franco - Rudi Moreno e Horta Urbana – Dubatak. Revisores: Frederico de Miranda e Maria dos Solos. Fotógrafos: Pablo Serpa, Kaneh Bosem, Eloisa Yanquelevich, Sol Mato, Maxdrumm, El Bosco. Tradução: Antonela Tropea, Alexis Haze. Agradecimentos: Haze agradece a todos os novos leitores por estar conosco e nos encorajar neste caminho que começa. Também somos eternamente gratos aos primeiros em trazer a semente de canábis ao Brasil. HB agradece o apoio e consideração de: Smoke Buddies - Mary Juana Blog - Hempadão - Verdim e CannabisCaféBrasil - Antonio Henrique Campello e MLM – Cristiano Vader - Ganja Filmes - GanjahTeamRevolucionário Team - Cultura Verde Niterói - Dr. João Menezes - Sérgio Vidal - Dr. André Barros - Dr. Adriano Andrade e ACP (Advogados Contra o Proibicionismo) - LEAP Brasil - Marcha da Maconha - Adriano e Planta na Mente - Pinheiro Junior e todos as pessoas e coletivos que compartilharam carinhosamente nossa edição de estreia fazendo da publicação um sucesso. Um abraço positivo e até a próxima! APRESENTA 02/ Editorial Por Camarón 07/ Fotos dos leitores CULTiVA 09/ Por dentro do Indoor! Por Fabio Cerra 13/ Eddy Grower Por Fabio Cerra FiCHA 25/ Atomical Haze Por Kaneh Bosem iNFORMA 33/indicas versus Sativas Por Demeter 47/A liga da fumaça Por Camarón COMiC 53/ Hero Seeds The comic serie Episódio 1: Alien Jack Motta ¨Kaya¨ Por Diego Motta SARA 57/ Psicomedicina Por João Saveirinho ViAJA 64/ Mamanha na aleconha Por Estefani Medeiros iNVESTiGA 73/ S.O.S. Landraces Brasileiras Por Camarón ATiVA 79/ Marcha da Maconha São Paulo 2014 Por Fabio Cerra Revista Haze Brasil é publicada cada 45 dias e é propriedade da Big Plant S.A. e seu objetivo é oferecer ao público adulto informação verdadeira e imparcial sobre a planta da espécie cannabis sativa, ou canábis e outras plantas medicinais. Os direitos ao acesso e à divulgação de informação são garantias fundamentais incluídas no artigo 5 da Constituição Federal, no artigo nr° 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos artigos nr° 13.1 e 13.2 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos. A publicação desta revista e seu conteúdo não representa violação de nenhuma lei da República Federativa do Brasil e está amparada pelas ADI 4274 e ADPF 187 do STF. Haze Brasil não é responsável pelo conteúdo dos websites citados nas matérias, artigos ou publicidades mesmo se tratando de páginas de acesso livre. O conteúdo das publicidades é responsabilidade dos anunciantes. A reprodução das matérias e dos artigos não será permitida sem autorização escrita da Haze Brasil. As matérias publicadas não refletem necessariamente a opinião desta revista e sim a de seus autores. Se escolher consumir é sua obrigação sempre se informar antes pois o consumo de qualquer substancia pode ser perigoso. 4 4 StAFF índICE ANO 1 JUNHO 2014 NúMERO3 http://www.heroseeds.com/ PrESEntA 5 http://www.dutch-passion.nl/en/ MANDE SUAS FOTOS PARA HA zEBRASiL@REViSTAHAzE.COM O PEqUENO JARDiM DE ANDR é OSCAR DO SUL http://popipe.com.br/ Programas de Youtube em formatos para TV, eventos por todo o país, cada vez mais músicas e livros além de uma infinidade de investidas comerciais ou semicomerciais em torno da cultura da maconha indicam, quase como um termômetro, que o Brasil foi seriamente contagiado pelo vírus da “febre ca- nábica”. Um efeito colateral deste fenômeno mundial é uma conscientização aguda dos entusiastas da erva que iniciam seu próprio cultivo como estratégia para fugir do tráfico. Este sintoma tem origem na disseminação do que poderíamos classificar como nossos “princípios cidadãos” que causam um impacto real direto no nú- mero de indivíduos que mesmo se sabendo sujeitos à criminalização por plantar sua própria erva assumem bravamente o risco de serem ‘tipificados’ como bandi- dos em alguma delegacia, colocando assim seu dever cí- vico em primeiro lugar: PLANTAR O QUE CONSOMEM! Os sintomas são claros e o diagnóstico é simples: estamos vivendo um growboom! Cada um dentro de suas aptidões naturais busca as al- ternativas mais adequadas ao seu próprio perfil pra se inserir nesta nova esfera comercial que se estabelece com as novas políticas de drogas que avançam pelo nos- so continente. Nas artes, através da música, quadrinhos ou estampas de camisas por exemplo ou no outro extre- mo, o mundo empresarial das lojas de equipamentos e fertilizantes dentro do mercado na legalidade, seja com um perfil mais ativista ou puramente mercantil, todos acabam colaborando para mais abertura no processo de esclarecimento fundamental para qualquer avanço social-econômico. Não sei se é uma regra totalmente váli- da, mas para algo terminar bem parece razoável “co- meçar bem”, na essência isso deve envolver um bom “projeto”. Pode ser extremamente desastroso e perigo- so cultivar erva na modalidade Indoor * para quem não tem aptidões desenvolvidas em áreas como instalações elétricas (disjuntores, transformadores, reatores etc), aquisição dos materiais mais adequados e de especi- ficação recomendada, além saber dar uma atenção es- pecial no posicionamento e acabamento visual da sua “estufa de cultivo”. Negligenciar estes aspectos pode transformarseu sonho de uma noite de verão em um pesadelo na forma de “disco voador” que não decola! Sempre que ocorre uma carência em algum mercado, automaticamente surgem profissionais oferecendo ser- viços que supram essa demanda e F. talvez seja o pri- meiro profissional a vislumbrar nesse ramo uma boa aplicação de suas aptidões naturais. F. literalmente dá uma luz pra quem quer plantar em casa “não só maco- nha” como ele é recorrente em afirmar: “O cultivo ca- seiro Indoor de hortaliças e diversos alimentos tem sido uma ótima alternativa pra quem não tem espaço com sol disponível e está sujeito aos altos preços impostos pelo mercado dos orgânicos por exemplo e as baixas estações quando alguns alimentos somem das prate- leiras. Com uma estufa simples é possível colher seus vegetais preferidos o ano todo. Seja por uma qualidade “SiStema de cultivo que Simula artificialmente atravéS de lâmpadaS ide- aiS, timerS aSSociadoS a elaS, ao SiStema de irrigação e de diSSipação do calor, aS condiçõeS ideaiS encontradaS no ambiente natural externo, principalmente de temperatura e humidade para deSenvolvimento daS plantaS deSde a Semente até o ponto de corte.” cultiva 109 de vida melhor ou também por uma questão de preço cultivar em casa é uma realidade iminente”. Garante. NãO VAMOS TAPAR A LâMPAdA COM A PE- NEIRA! Grande parte das pessoas que procuram os serviços de assessoria de F. está interessada mesmo é na cria- ção de camarões da Jamaica, e ele sabe! ”Muitas vezes eu tenho sim ciência de que o cara está interessado em plantar sua erva, mas meu trabalho se encerra defi- nitivamente com a entrega do projeto funcionando e quando dou algumas dicas de funcionamento. Não in- dico nem forneço contatos para aquisição de sementes e explico todos os riscos que ele assume ao praticar o cultivo doméstico de maconha. A partir daí é com ele já que eu não posso fiscalizar o fim que ele vai dar para a estufa após instalação. Eu vejo a questão dentro da esfera da redução de danos uma vez que ele vai ob- ter uma erva muito mais saudável que a oferecida pelo mercado negro e sem fortalecer instituições criminosas que não merecem investimentos. Além disso, uma boa instalação elétrica é fundamental pra reduzir também os riscos de torrar a estufa com a casa junto! Eletricida- de e desleixo não combinam!” incendeia o “personal grower” que ficou famoso após expor no Pot in Rio 1 em 2012 onde ele lançou ao mundo sua proposta pro- fissional de criação de projetos personalizados para o cultivo indoor que até então tinha apenas como hobby e terminou como o xodó daquela edição do evento: um aplicativo para smartfone que dá acesso remoto ao ambiente possibilitando controlar toda a estufa e manter assim rega, temperatura e iluminação ao seu alcance mesmo a distância! E você pode “viajar”: a parada tem câmera que permite ser alertado pelo sen- sor de movimento no caso de alguém importunar suas meninas! Meses depois uma edição da Hightimes apre- sentava “com exclusividade” o mesmo dispositivo. “Na realidade eu já comecei nessa atividade bem antes do PotinRio, ali foi mais uma consequência dos tempos que passei ajudando a galera nos fóruns de cultivo como o Cannabis Café dando dicas e fazendo projetos pra eles, mas sempre na camaradagem. Minha expe- riência mercantil começou mesmo foi lá!” ...a nave decolou bonito! UM “BARATO” QUE SAI CARO! Pode sair muito mais caro (geralmente sai) impulsiva- mente comprar produtos e equipamentos sem conhe- cer boas fontes no mercado e saber exatamente como cada um deve funcionar de modo independente bem como em situações mais extremas como por exemplo quando acionados em conjunto. deve-se pensar numa estufa de cultivo como algo onde existir uma sinergia. “Conheço pessoas que compram materiais para mon- tar quatro estufas quando ao final das contas só uma vai funcionar, o resto todo geralmente vira entulho” condena F. OTIMIzAçãO dE ESPAçOS E CAMUFLAGEM ESTILI- zAdA! “Transformar algo fixo que sempre serviu para abrigar roupas e não plantas sem fazer grandes modificações demanda inspiração” afirma F. que sob o lema de que “não há espaço que não possa ser aproveitado” tem sempre o capricho no acabamento uma identidade e o requinte nos detalhes enchem os olhos de quem vê...”sem ver”. OLHO BEM ABERTO NA REdUçãO dE dANOS! Passar bronzeador para olhar as a plantas pode pare- cer exagero mas manter um pequeno sol cheio de raios nocivos aos humanos no seu armário pode acarretar problemas de saúde caso não sejam respeitados de- terminados aspectos do funcionamento das lâmpadas. Entre as inúmeras funções da resina rica em THC se- cretada pelas plantas fêmeas estão algumas que são lógicas como captar o pólen das plantas machos para produzir sementes ou mesmo desencorajar animais de grande porte, através de seu sabor amargo, a se ali- mentar delas. Uma outra função da resina é trabalhar como protetor de raios UV uma vez que a maconha tem sua origem nas altas montanhas do Afeganistão, onde os níveis de radiação pelo ar rarefeito são muito altos logo, quanto mais radiação, mais resina! As lâmpadas de vapor de sódio, as famosas HPS para floração emi- tem inúmeras radiações no campo do visível, mas tam- bém no do invisível Algumas delas são as radiações chamadas” ionizantes” que energizam nossas células podendo causar em seu dNA mutações perigosas como câncer de pele. Além disso, “com o tempo, a exposição constante a níveis elevados de radiação ultravioleta e do infravermelho leva a danos irreparáveis nos olhos. A perda de percepção das cores, catarata, e a destrui- ção da visão noturna são algumas das consequências possíveis. Nosso globo ocular capta todos os compri- mentos de onda invisíveis nocivos (UVA, UVB, UVC e infravermelho) e suas plantas requerem estes compri- mentos de onda para florescer, seus olhos certamente não” esclarece F. que indica uma linha de óculos pró- prios pra quem trabalha com cultivo Indoor. “Algo que me incomoda no trabalho dentro de um am- biente de cultivo é a distorção de cores, isso dificulta a leitura dos medidores e na identificação de defici- ências, os óculos escuros comuns acabam acentuando isso ainda mais. Segundo o fabricante destes óculos específicos para cultivo, suas lentes filtram os princi- pais comprimentos de ondas nocivos à nossa visão e ainda compensam as distorções de cores. Recomendo para meus clientes o que encontro de melhor pra dar qualidade de vida. Estar atento às informações ao nos- so redor é sempre importante, todos nós somos alunos e professores de nós mesmos.” diagnostica. Legal F. Obrigado pelo papo e pela entrevista! Agora maconheiro só toma choque mesmo na marcha da ma- conha! A Haze Brasil entende que plantar sua própria erva consiste em uma atividade completamente bené- fica para o seu consumidor e para a sociedade em que ele está inserido. Na medida em que o uso individual da maconha não é mais considerado crime, cultivar sua erva não deveria nunca, em uma sociedade esclareci- da e justa, levar alguém para a cadeia. Nos resta crer e lutar firmemente em tempos melhores para todos e que nenhum plantador de maconha seja capturado por produzir seu próprio medicamento no Brasil. cultiva 1211 13 Eddy Grower A fruta nunc a cai longe do pé! Aquele dia começou bem cedo pra mim, afinal eu tinha uma boa distância para percorrer, até en- contrar meu anfitrião da vez: Eddy, que reside em uma cidade do interior do Rio, cerca de 150 quilôme- tros de distância de minha morada! Aquele que seria nosso entrevistado foi mais uma feliz indicação de um amigo cultivador em comum, que o recomendava tan- to pela sua positividade e energia vital contagiante, quanto pela qualidade superior de suas flores — São doces como mel! — insistia em afirmar esse o “olheiro” da Haze Brasil. E ele, mais umavez, não estava nem de longe enganado. Durante uma tarde tranquila e agradável pude ava- liar algumas das genéticas deliciosas cultivadas pelo Eddy, conhecer um pouco de sua história, o processo de construção do cultivador dessa espécie de “so- mellier” da maconha. Atrás de um ótimo papo sobre suas técnicas, polícia, livros e muito mais, lá fomos nós. Os elementos contidos nesta entrevista não só reforça- ram todos os meus conceitos sobre a falência da guer- ra as drogas e suas políticas de repressão bélica, mas também me ofereceram uma excelente oportunidade de edificação pessoal, pela paz interior que Eddy irra- dia para a gente. Espero que reverbere um pouco para cada um de vocês. 14 cultiva Por Fabio Cerra 15 “Prefiro o método mais simples de germinação. Furar um pequeno copo plástico no fundo e co- locar até a metade um pouco de terra ‘cansada’ dos últimos cultivos foi o que deu melhores resul- tados pra mim. Essa terra, obtida de vasos onde colhi a última safra, e por isso mesmo está com suas taxas de nutrientes esgotada, é ideal para semeadura, pois a plântula necessitará somente de água nas primeiras semanas de vida. Só ini- ciarei a fertilização após este período, quando já será a hora de fazer o primeiro transplante pois as raízes já ocuparam todo o volume disponível no pequeno copo.” “Embora as pessoas tenham bons resultados ger- minando no papel toalha, a radícula assim que eclode libera ‘micro pelos’ que aderem na superfí- cie irregular do papel. Assim, ao retirar a semente germinada do papel, você pode, dependendo do momento em que isso for feito, causar danos ir- reversíveis a estrutura. O que levará a um de- senvolvimento fraco ou mesmo a uma posterior “morte súbita”. Isso consta no livro do Soma, que foi um dos primeiros que tive oportunidade de ler e até hoje é um dos meus preferidos.” Afirma. “Sempre gostei muito de maconha” afirma Eddy, que completa: “A minha realidade é essa. Se eu faço uso medicinal ou não, não posso nem afir- mar com certeza. Pois hoje já se fala muito do uso recreativo ser uma espécie de caso particular de uso medicinal. Que a erva me faz bem, realmente faz. Se não fosse assim, dificilmente eu continu- aria fazendo uso por tanto tempo. Acho que nin- guém recorre a uma substância com efeitos psi- coativos se dela não obtiver benefícios, às vezes inconscientes. Acredito que devo boa parte da mi- nha reconhecida paciência e tranquilidade a essa medicação milenar poderosa” autodiagnostica. Sempre foi algo que me incomodava muito, ser obriga- do pelo estado a uma ou duas vezes por mês, me arris- car a mergulhar no mercado negro da erva. Pra dimi- nuir essa frequência, eu costumava ir cada vez menos vezes e trazer uma quantidade maior, o que de certa maneira aumentava o meu risco de forma diretamente proporcional. Isso era antes de 2006 quando, a lei do usuário, a 11343, foi promulgada. “Apesar de não ter nenhuma anotação policial, foram muitas as vezes em que ‘rodei’ nessa atividade, po- rém sempre fiz meu ”dever de casa” e nunca deixava de levar um bom dinheiro a mais, do que necessário para comprar a maconha, para o caso de qualquer “acerto” com os homens da lei. Sempre foi o do trafi- cante em um bolso e o da polícia no outro.” Condena. Eddy se diz maconheiro desde criancinha, “porque sempre gostei muito de maconha acho que já disse isso(risos)” brinca. “Desde quando peguei minhas pri- meiras paranguinhas, eu já catava as sementinhas para tentar plantar, porém nunca obtive muito êxito em produzir algo fumável. Somente quando lá pelos anos de 2000 me vi diante do computador que pes- quisei, aliás como bom maconheiro, minha primeira pesquisa no google foi “como plantar maconha” e daí a coisa começou a andar.” “Logo a seguir tomei meu primeiro susto. Como sempre plantei na modalidade outdoor, uma vez recebemos em nossa residência a indesejável visita da polícia, por conta de uma suposta denúncia. Graças a muita saga- cidade e agilidade minha, nada foi encontrado*. Depois disso fiquei uns bons anos sem plantar, até morar em um local mais propício para o cultivo doméstico.” *É importante lembrar que a maioria dos cultiva- dores presos com a “mão na horta” é composta por “outsiders”. Dificultar ao máximo a visibilidade e o Plantando com Eddy! Começando pela raiz… Capítulo 1: Não seja preso! cultiva 16 Os ditados populares constituem muitas vezes fontes confiáveis de sabedoria. Armazenada através dos tempos, através do empirismo, pa- rece existir em todos os segmentos profissionais e das vidas das pessoas em geral. No universo grower não é diferente! “O segredo é o segredo” (máxima de um autor desconhecido) certamente já salvou muita gente da derrota para a polícia e o “menos é mais” também protege as plantinhas das mãos de cultivadores mais ansiosos. ”Na re- alidade são poucos os ciclos em que necessito de fertilizantes químicos. Depois de anos testando várias formas de fertilização, orgânica, química ou “pegada”(combinada), eu tenho convicção de que se o solo for bem preparado e estabilizado, e você der boas borrifadas e algumas regas de chás orgânicos, os resultados são bem próximos aos resultados com químicos em relação ao rendimento (com alguma perda para o cultivo natural), mas muito mais compensador do ponto de vista do sabor. Dez dias antes da colheita, eu adiciono, por algumas vezes, um pouco de me- laço de cana dissolvido em água para “ativar” mais os organismos vivos presentes no solo, para que possam liberar mais alimento para as raízes absorverem. Acredito que deixar os nutrientes no solo disponíveis durante todo o ciclo é menos trabalhoso e permite um livre desenvolvimento da planta, mas o ideal é que todos possam com- parar os métodos de nutrição e praticar aquele que mais atende seu gosto, e seu bolso.” Regra #2 – Menos é mais! A gente joga muita coisa boa fora. Na cozinha por exemplo, as cascas de frutas carregam con- sigo uma infinidade de nutrientes que as plantas adoram. A receita do chá orgânico é muito co- nhecida já, então vou dar outra dica: a água de arroz. Ao lavar o arroz, aquela primeira água de cor branca que sai, carrega amido e outras vita- minas. Recolher essa água e diluir na proporção de 1:10 forma uma solução nutritiva bastante interessante e barata. Uso junto com Calcário Do- lomítico para buscar atingir uma absorção mais completa de nutrientes, uma vez que cada um é absorvido em uma certa faixa ideal de pH. Na cozinha com Eddy Maconha é como manga, banana ou abacaxi! Tem variedades com características diferentes, de acordo com seu estado de maturação e conserva- ção por exemplo. Essas características chamadas de características organolépticas (sabor, cheiro, aparência, tônus), podem nos servir para optar uma fruta mais verde a uma outra, semelhan- te, só que mais madura. Tem ainda aqueles que prefiram as frutas “de vez”. No mundo das frutas, elas invariavelmente convertem seus ami- noácidos em açúcar quando estão na fase mais madura do seu desenvolvimento. Assim, alguns preferem laranja de sabor doce mais pronun- ciado e outro com um mais ácido. Inclusive são os mesmos compostos presentes nas frutas que conferem às variedades de maconha as deno- minações “lemon” ,” grape” etc. Os “terpenos” são hidrocarbonetos, por isso combustíveis, que também desempenham inúmeras atividades fisiológicas no corpo humano, exercendo inclu- sive um efeito sinérgico bastante estudado pelos cientistas atuais. Maconha é como fruta!acesso de pessoas, e manter as plantas em vasos que possibilitem qualquer movimentação de emergência são algumas dicas vitais. Escolher variedades de flo- ra curta também podem diminuir os riscos de perdas por fatores climáticos ou denúncias! cultiva 1817 cultiva 2019 Na maconha, existem observações visuais que permitem uma ideia aproximada, de quão pró- ximo se apresenta o momento de corte. Porém existe um consenso entre os plantadores, de que o monitoramentodos tricomas, através de micros- cópio com 100X de capacidade de aumento, é o método mais eficiente para determinar o momen- to certo de serrar a pequena árvore. “Os tricomas são as projeções da camada mais externa da planta, onde está presente a mistura de aproxima- damente 66 canabinóides responsáveis pelos efeitos psi- coativos da maconha. Fico de olho nos tricomas que se apresentam inicialmente de aparência leitosa, para logo após tornarem-se cristalinos. Mas eles possuem concen- tração máxima dos efeitos que me interessam, ao torna- rem-se dourados ou âmbar . O meu ponto ideal de corte é quando a “cabeça” desse tricoma dourado cai.” professa Eddy, que completa: “Também existem outras formas de determinar o ponto de corte da maconha: Os camarões são inflorescências, ou seja, um aglomerado de cálix, cada cálix é um ovário com dois pistilos, quando esses pisti- los escurecem significa que aquela flor está madura. Existe um linha que preconiza o ponto de corte ideal como aquele em que o bud se encontra com cerca de 50% dos pistilos escuros e 50% claros. Em compara- ção as frutas, colher com 100% dos pistilos escurecidos seria como colher a fruta quando ela cai do pé. Cada fruta colhida em diferentes pontos de maturação tem um gosto mais peculiar, um aspecto especial e uma diferente potência. Esta observação macroscópica dos pistilos é muito usada pra determinar o ponto correto da colheita, porém existem discrepâncias nos dois re- sultados. O importante é cada um saber como prefere colher baseado em seu gosto particular.” “Prefiro a maconha, assim como as frutas, bem madu- ras. Normalmente, ainda deixo passar alguns dias, do que alguns considerariam ideal para eles. Só não faço isso quando os fatores climáticos colocam a saúde da planta em risco, pois nesta fase final, com alta umi- dade por exemplo, o risco de mofo nos buds mais den- sos aumenta muito. Vida de cultivador é assim: cheia de riscos!” alerta Eddy. Eddy e seus tricomas! cultiva 21 são só sorrisos, declara o estimulado Eddy. Minhas queridinhas do pomar atual- mente são as Bublegum e Lemom haze, porém tenho um feno de uma mazar, que é absurdamente frutado, fresco e doce, que impressiona a todos no pri- meiro toque. Esse é sempre um dos clo- nes mais requisitados pela galera nos nossos encontros. O aroma das meninas pela manhã é muito intenso e é quando costumo co- lher minhas plantas: junto aos primei- ros raios de sol! É justamente quando as concentrações da medicina atingem o seu ápice. A fase da colheita da erva pode não se iniciar exatamente no afiar das facas. Eddy dá exemplo disso. Ele interrom- pe o fornecimento de água para as plantas, dias antes do ponto ideal: “Essa ‘secura’ é importante, senão, ela ‘cristaliza’ menos”, sentencia a cerca de uma possível maior formação de tricomas por toda a planta. Neste momento uma pré manicure permite a entrada de luz nas partes mais íntimas da planta, além de garantir uma boa economia no trabalho pós-colheita. “Antes de colher, sempre dou 24h de fase escura ininterrupta nas meninas. A resina é fabricada na ausência de luz. Esta prática vem sendo utilizada com sucesso por vários cultivadores amigos meus.“ Recomendo também, que não se colo- que a erva nos potes antes de ouvir a “clicada” do galho central de dentro dos buds. Se você se orientar somen- te pelos galhos externos, que estão à mostra, como indicador de secagem, pode vir a iniciar o processo de cura ainda com muita água, mais água até do que perderá nos dias seguintes, abrindo os potes regularmente. Às ve- zes o galho da planta está seco, porém DENTRO DO BUD ainda tem muita umi- dade, assim o resultado não fica 100%. Garante Eddy. Olhando bem dentro do bud! Já tive muitas plantas boas nesses 10 anos de cultivo, em que meu primeiro pack de sementes gringas foi de skunk #1 Dutch Passion . Acho mais apropriado o cul- tivador começar por essas variedades mais ‘clássicas’, antes de se aventurar em multi híbridas mais comple- xas. Além de lhe dar uma boa bagagem através da ex- perimentação, acumulando uma experiência de forma progressiva, são plantas bem resistentes aos erros que podem rolar em todo início de carreira, e além disso uma” skunk” ou “afegã” bem cultivada, nunca deixa ninguém na mão. De três em três meses tenho um grupo de amigos, que se reúnem e trocam seus ‘cortes’ preferidos, é a “guer- ra dos clones”. Onde as pequenas plantas prontas para vegetar são dispostas em uma mesa e cada um leva o que mais lhe agradar, no final da sessão todos A guerra dos clones! 22 cultiva 2423 SENSi SEEDS FICHA 25 VARIEDADE: Atomical HAZE GENÉTICA: HAZE x afegã CRIADOR: PARADISE SEEDS CULTIVADOR: KANEH BOSEM IMPRESSÃO VISUAL 10 Quando uma planta tem um crescimento vigoroso com grande estrutura de ramifi- cações em vegetativo, o tempo de flora é esperado com muitas expectativas. Ato- mical Haze parece ao tempo de ser cortada uma deusa alaranjada. Estrutura de árvore de Natal, com enormes belotas nevadas. Os cachos de flores mudan de cores branco e creme para cores laranja e cenoura. O re- sultado é enormes laranjas embebidas em açúcar. Meu sentimento de cultivador ao ter cultivado três exemplares de semente é que aquela afegã doce mencionada no cruzamento podería ser uma Sensi Star. Nenhum dos fenos obtidos tem tanta in- fluência sativa como para dizer que é prin- cipalmente uma planta sativa, em geral encontro um equilíbrio bastante uniforme entre seus parentais sativa e índica. TRICOMAS VISÍVEIS: 9 A partir da terceira semana de flora. A planta começa a desenvolver suas flores e a resina aparece gradualmente, as folhas mais ligadas às flores são cobertas por um tapete branco, no final do seu ciclo de flo- ração aproximado a nove semanas, pode ser vista em toda a sua dimensão açucara- da. As três plantas resinaram fortemente, muito similares entre elas, sua curta flora que não excede os 63 dias, fala sobre a pa- ridade de dominância deste belo híbrido de Paradise. 2625 FICHA 2727 AROMAS: 9 Desde pequenos os caules destas plantas fediam a terpenos bem doces. Definitivamente floral e doce, enquanto esta viva. Lembra o aroma floral da nébula, só que muito mais doce. Realmente não percebi em nenhum dos três indivíduos a dominância Haze daquela lendária sativa, como também não o leve cheiro ácido de afegã. A com- binação entretanto criou esta variedade perfu- mada que produz nas narinas uma sensação de cheirar (quando está bem curada para fumar) um doce tipo bala ou tipo chiclete, típico cheiro de tutti frutti. Tutti fruti 70% Rosas doces 25% Peppermint 5% SABORES: 9, 5 O sabor desta doçura é incrível. Tem mais refi- namentos ao fuma-la dos esperados que quan- do é cheirada viva. O gosto a chiclete tutti frutti também continua a dominar no sabor, mas a este se adiciona o pinheiro, a menta, semelhante ao líquido para corrigir os dentes que os dentistas aplicam, e um retrogosto a thinner frutal, diria a morangos com creme chantilly com muita açucar. Não fumar durante todo o dia, porque que é um pouco enjoativa. Tutti fruti 50% Pinheiro mentolado 20% Pasta de dentista 15% Morangos doces com thinner 15% 28 FICHA 29 3029 POTÊNCIA: 9 A resina que se deixa ver em toda a investidura desta planta se torna um turbilhão de energia Atomical. Começa com um bom brilho no cérebro que faz ele- var, rir e querer amar, e em isso pode se explicar que se chama Haze. EFEITTO: 9.5 Para começar o dia fumando este chiclete deve-se ter coragem. Já que é muito forte sua elevação, e se você fuma todo um baseado inteiro, fica girando como as agulhas de um relógio quebrado. Muito boa para inspirar a escrita e atividades esportivas, ter sexo, ir trabalhar com energia. Talvez depois de todo o gene original Haze sim esteja presente, porque esta erva jamais puxa você para baixo. presentA 31 EXAME FÍSICO SUPRESSOR DE ANSIEDADE:8 SUPRESSORDA DOR: 8 PERCEPÇÃO AUDITIVA: 9 CONTROLE MOTRIZ: 7 CONTROLE VISUAL 8 AUMENTO DO BOM HUMOR: 10 AUMENTO DO APETITE: 9 AUMENTO DA LÍBIDO: 9 IMAGINAÇÃO / CRIATIVIDADE: 9 RELAX FÍSICO: 7 32 Por Demeter 34 INFORMA 33 Quando foi a última vez que você teve uma ideia interessante fumando uma índica?Exporemos aqui um olhar visionário, con- tra a moda de plantar índicas que se instaurou nos anos 80 e como esta tendência tem deixado às sativas puras bastante fora da cena do cultivo e criação. Hoje, 30 anos depois, a situação piorou: são con- tados com os dedos de uma mão os bancos de sementes que vendem variedades 100% sativas. Mesmo que nos façam acreditar que vendem gené- ticas “sativas”, na prática todos tem um toque de índica em seus genes, basicamente para fazê-las cultiváveis em indoors (diminuir tempos de flora, aumentar produção e tolerância à luz artificial). Frente a esta situação tentarei transmitir certas questões ao respeito de índicas e sativas, que com sorte ajudarão a reverter, embora seja um pouco, o panorama atual e futuro do que plantamos os atuais cultivadores. Para que exista originalidade na hora de degustar nas copas e não tanto mix da mesma coisa com outros nomes. A primeira classificação taxonómica moderna do género Cannabis foi realizada por Carolous Lin- naeus a meados do século XVIII, quem o consi- derou monotípico, contendo somente a espécie que ele denominou Cannabis Sativa L. (L. por Lin- naeus). Este se baseou para sua classificação no cânhamo cultivado na Europa para obter fibras. No ano 1785, outro famoso taxónomo, Jean-Baptiste de Lamarck, publica a descrição de uma segunda espécie de Cannabis a qual denominou Cannabis Indica Lam., baseando sua análise em espécimes obtidos na Índia. Segundo Lamarck a Cannabis índica possuía me- nos utilidade como fontes de fibras, contudo maiores qualidades embriagantes. Na década de 20, botânicos russos propõem uma terceira espé- cie, ou uma subespécie de sativa que denominam Ruderalis. Plantas auto-florescentes que crescem silvestres em grande parte da Ex União Soviética, de psicoatividade baixa ou nula. Esta denominação de três espécies dentro do gé- nero Cannabis, é a mais aceitada na atualidade pelos cultivadores, e foi confirmada logo depois pela equipe de Richard Evans Schultes na década de 70, quando esta classificação foi tema de deba- te nas cortes norte-americanas já que a lei proibia expressamente a Cannabis Sativa e alguns pensa- ram que plantar Cannabis Indica poderia ser legal, o que em parte ajudou à expansão desta espécie dentro dos jardins de muitos cultivadores quando ainda se sabia pouco sobre cultivar cannabis em casa. Como começou tudo A era moderna de auto-cultivo de cannabis tem a sua origem nos anos 60, com os (denominados pela mídia) “hippies” quem começaram plantan- do sementes das ervas comerciais importadas de México (Michoacana, Oaxaqueña, Acapulco Gold), Colombia (Santa Marta Gold, Punto Rojo ou Pun- ta Roja, Panamá Red), e da Tailândia, que con- seguiam por esses dias. Dessas sementes se obti- nham plantas sativas de longas florações e com efeitos claramente psicodélicos: era uma experi- ência iluminadora, excitante, sociável e muito di- vertida. Foram as sativas puras, as flowers que lhe deram o power a toda uma geração para se ati- var, entrar em conexão com a natureza e se opor a um sistema falso e bélico. O cultivo caseiro de Cannabis foi-se expandindo ao longo das déca- das seguintes, como também cresceu a repressão por parte do estado e a consequente paranoia dos cultivadores, que da mão da tecnologia foram aprendendo a cultivar escondidos, sem precisar do sol, nem da terra. Parece ficção científica. Caso Foram as sativas puras, as flowers que lhe deram o power a toda uma geração nos anos 60. INFORMA 3635 Genótipo Indica de grande produção e efeitos medicinais. contassem para um fazendeiro de princípios do século passado, ele dificilmente acreditaria. Porém, cultivar indoors traz certas limitações. As sativas selvagens não se adaptavam facilmen- te à luz artificial e ao espaço limitado. Esticam- -se demais, não respondem às mudanças de foto período e não produzem bem. Neste momento é quando se introduzem variedades índicas que os mesmos “hippies” tinham trazido de volta de suas viagens pelo mundo, maiormente de luga- res como Afganistão, Pakistão, ou Líbano, famo- sos por suas milenárias tradições de produção de hashish. Segundo o especialista Robert Connel Clarke, au- tor de Marijuana Botany: “Ainda que as varie- dades índicas parecessem bem adaptadas para o cultivo em ocidente, são nativas de uma área muito limitada do Oriente Médio, e consequente- mente contém só uma pequena percentagem de características possivelmente favoráveis encon- tradas no cannabis ao redor do mundo”. Com res- peito à produção/qualidade nos diz: “uma índica pura costuma ter uma produção decepcionante. A diferença das sativas, as índicas tem menos cá- lices nas inflorescências e folhas mais pequenas e largas. As folhas pesam mais do que os cálices e como resultado geralmente as plantas índicas produzem menos cálices sem semente. As índicas também produzem mais resina nas folhas interio- res que as sativas, porém as sativas tem uma con- A Ketama é uma indica pura que é cultivada no Marrocos. INFORMA 3837 centração de resina em seus mais numerosos cáli- ces. A maior robustez das índicas, junto com seu distinguido sabor, pequena estatura e maduração precoce, tem ajudado a aumentar a popularidade das índicas em ocidente”. A índica não se fuma Afirmar que a índica não se fuma, hoje em dia parece errado, porém foi um fato até antes dos anos 70, pois estas variedades de Cannabis foram cultivadas e selecionadas exclusivamente para a produção de Hashish ao longo de sua milenária história. Os paises originários destas raças têm cli- mas muito secos, onde as plantas produzem muita resina, mas logo que colhidas as flores não podem ser conservadas para ser utilizadas como maco- nha graças às condições climáticas que o tornam impossível. A transformação das colheitas em hash permitiu aos cultivadores poder armazena- -las por grandes períodos de tempo, não só sem perder a qualidade, mas aumentando-a com o passo do tempo. Não é até a década de 80 com o estabelecimento dos primeiros bancos de sementes, que a “ loucu- ra índica” aparece em ocidente para nunca voltar atrás. Inicialmente, as índicas causaram sensação entre os cultivadores e maconheiros. Não só eram flores sorprendentemente fortes e embrutecedoras, mas também muito sensuais e belas. Logo depois de alguns anos, as pessoas se esqueceram das sutis satisfações das antigas sativas. Esqueceram da sensualidade cerebral, da viagem, as atrações provocativas do efeito das sativas. Tudo o que se ouvia (e se ouve) entre os fumadores e cultivado- res era “ Essa Afgana chapa demais, te paralisa!”, “ Esse Skunk te mata!”, ou “A Moby te leva ao no- caute!”. E em um sentido é verdade, estão sendo paralisados, nocautedos, seus cérebros apagados pelas índicas. Neste sentido, o Cannabis pasou de algo que aclara a mente e o espírito, a algo que o escurece. A tendência então foi tratar de unir o melhor dos dois mundos em um híbrido índica/ sativa, e foi nisso que os seedbanks capricharam. Sativas mágicas como Acapulco e Colombian Gold foram cruzadas com índicas Afganas para resu- mir as melhores qualidades dos dois mundos no Skunk: efeito cerebral psicodélico e estrutura das sativas, com o cheiro impactante, belotas com- pactas e rápida maduraçao das índicas, o que o converteu em um híbrido muito completo, sendo o modelo que definiria o Cannabis moderno e no que está baseada grande parte da identidade ge- nética cannábica que se oferece comercialmente há décadas atrás. Mas citando novamente o experto Clarke que nosdiz: “ No entanto, o delicado aroma e efeito ce- rebral das sativas é continuamente coberto pelo aroma de gambá e o efeito físico da índica. Como resultado desta hibridização, muitas das melhores sativas se perderam para sempre em uma só tem- porada, quando talvez hajam levado anos para se desenvolver”. Parece haver uma relação entre os tempos de floração e o perfil químico de uma variedade estável ou chemovar. As sativas equa- toriais que praticamente carecem de CBD levam períodos que vão de um mínimo de três até seis meses de floração, enquanto que as índicas mais rápidas podem estar prontas incluso antes dos 45 dias. Mesmo que se tenha conseguido híbridos notáveis como Cinderella99 que expressam qui- miotipos sativa em períodos breves de floração, esta versão “fast-food” de sativa nunca alcançará igualar a vibração ancestral de uma landrace sel- vagem como por exemplo as mesmas Mexicanas que a C99 leva oculta no fundo do seu código ge- nético. THC vs. CBD A índica simplesmente não é maconha. É uma raça C99 quimiotipo sativa de floracão rápida. INFORMA 4039 diferente de Canábis, com efeitos diferentes gra- ças a seu perfil de cannabinoides, gerealmente ricos em cannabidiol(CBD), com diferença das sa- tivas em que algumas variedades puras chegam a níveis virtualmente nulos desta substância. Dos 60 compostos cannabinoides que produz a planta, somente três têm ação sobre o sistema nervoso central: o tetrahidrocannabinol (THC), o tetrahidrocannabivarin (THCV) y el cannabidiol (CBD). Da relação entre os níveis destas substâncias vai depender principalmente o efeito que tenha cada planta, além da influência de outros compostos como certos terpenos, responsáveis dos cheiros presentes na resina, que tem demonstrado ser psicoativos e modificam o efeito global de cada planta para determinar seu caráter único como indivíduo. THC e CBD tem efeitos em muitos sentidos opostos. O CBD é um ansiolítico natural, com propriedades antipsicóticas, enquanto que o THC (ao igual que o THCV), pelo contrário pode ser classificado como “psicomimetico”, isto é que seus efeitos podem imitar ou induzir temporariamente uma psicose além de causar ansiedade. Em um interessante estudo, comprovou-se que administrando CBD anteriormente a uma injeção de THC, prevêem-se os possíveis efeitos psicóticos provocados por este último. Esta simples conclu- são científica serve para explicar porque algumas sativas puras têm efeito “sem limite”, que per- mite continuar fumando e aumentando a viagem tornando-se cada vez mais psicodélica, enquan- to que as índicas chegam facilmente a um ponto O CBD presente em variedades Indicas modula os efeitos do THC. INFORMA 41 https://www.facebook.com/1422GrowShop www.jardimhidroponico.com.br www.greenpower.net.br www.potinrio.com de saturação onde o único resultado possível é adormecer. Poderia dizer- -se que quanto maior o nível de CBD, menor é o “limite” para o efeito da va- riedade, e mais físico o efeito, o que faz às variedades índicas ideais para o uso medicinal onde se destacam com muitíssimo potencial no alívio da dor, entre outras variadas aplicações. O CBD presente em variedades índicas puras ou híbridos índica-sativa, ocu- pa (embora com menos afinidade) os mesmos receptores CB1 e CB2 no cére- bro que o THC, desta maneira modula e em certa medida bloqueia seus efei- tos. Embora esta ação agobiante pode ser beneficiável para seus usuários medicinais que necessitam da ação terapêutica do Cannabis sem sofrer seus efeitos psíquicos, na prática do uso recreativo, ritual ou espiritual da planta, pode nos impedir de acessar esse privilégio que é a “loucura divi- na” proporcionada por algumas sa- tivas mágicas. É por isto que certas chemovars sativas cuja mística com- binação alquímica pode levar-nos às portas do céu, são guardadas ciosa- mente como tesouros tanto por autén- ticos rastafaris africanos como por al- guns criadores antigos que têm vivido a época dourada das sativas puras e têm reproduzido e conservado esas jóias para o deleite de quem se atreva a cultivar a mística em seus espíritos. Tomara que na próxima primavera, nós os leitores da Haze, continuemos com esta tradição às vezes oculta e em processo de extinção, de cultivar, conservar e disfrutar das sativas. Sativa "Punto Rojo" de longa floracão e efeitos psicodélicos. INFORMA 4443 4645 O que veio primeiro? Os quadrinhos ou o banco? - Foram duas coisas que cresceram ao mesmo tempo, mas o que veio primeiro foram os quadrinhos. Tinha na minha cabeça há muito tempo a ideia de contar uma história onde os super-he- róis eram verdadeiros defensores do povo e os seus interesses, não os guardiões do status quo que geralmente são. Um día perguntei a mim mesmo, o que aconteceria se os protagonis- tas fumassem erva e não fossem tão conservadores. E aí foi que comecei a trabalhar. E o seedbank? - O banco é o resultado de ter trabalhado testando e desen- volvolvendo plantas para outras empresas e para nós mesmos desde o ano 2000. Enquanto surgiam os primeiros personagens da história percebemos que já tínhamos uma coleção de va- riedades próprias e já eramos capazes de vender as sementes. Então não houve mais tempo de trabalhar para os outros. E como surgiu a ideia de combinar os dois conceitos? - Foi uma coisa natural, eu cultivo plantas e conto histórias. O cannabis está muito presente em todos os aspectos dos quadri- nhos. No começo havia apenas três ou quatro personagens, mas quiz ter tantos quanto variadedes havia no nosso catá- logo, por isso decidi por meio da sátira e/ou crítica reversionar super-heróis conhecidos, dando-lhes uma nova missão e personalidade. Por Camarón Se acham que o beque salvou vocês de muitos perigos e ameaças, espe-rem para conhecer o Diego Motta, responsável por HeroSeeds, quadrinhos cannábicos e banco de sementes que vai mudar a sua maneira de ver os super- -heróis. Imaginem fusionar em um só ser, um super-herói e uma variedade de canna- bis. Imaginem que cada genética de um catálogo corresponde com um persona- gem de uma aventura, onde lutar pela legalização e os direitos dos cultivadores e usuários parece ser a grande meta. Pronto, agora não imaginen mais por- que Diego Motta já fez isso e imaginou muito além. Sentado à frente da tela do meu com- putador, vejo através do Skype um jovem espanhol, de olhar calmo e atitude muito gentil, ele sabe que tenho muitas per- guntas anotadas, mas meu entrevistado dá sinais imediatos de que tem muita paciência e de que está a fim de un bom papo. A LigA dA FumAçA 48 INFORMA Com tom ideológico irrepreensível Diego tenta ao longo de vários capítulos, nos seduzir com as aventuras de seus personagens que só por ter superpo- deres não deixam de sofrer as mesmas dificuldades que afligem aos espa- nhóis e cidadãos de todo o mundo a cada dia. Assim, podemos ver esses campeões do cultivo e da legalização defender ¨desahuciados¨ (despeja- dos), combater skinheads e todos os tipos de criminosos e, especialmente, dinamitar as bases da ameaça reptiliana, a verdadeira razão da maldade do homem. Atravessando constantemente o fantástico mundo dos quadri- nhos com fatos da realidade cotidiana, o autor consegue fazer o leitor se identificar com o que acontece lá e sonhar com um mundo melhor, onde a maconha é legal e não há nem nações ou religiões ou corporações ou qual- quer coisa que divida as pessoas. Cada edição da Hero Seeds é ilustrada por vários artistas que se alternam o que lhe confere um apelo especial e ar de comic de culto aos dois capítu- los que inclui cada revista. Artistas como Jordi Pérez, Rafa Sandoval ou Alfonso Azpiri, entre muitos outros, se esforçam para dar forma às cria- turas loucas emergentes da mente do Sr. Motta, juntandose a experi- ência dos mais aclamados com os ares da nova geração dos cuadri- nhos ibéricos. Fica agora para cadaleitor a diver- tida tarefa de procurar no perfil de cada personagem, características da planta que lhe dá seu nome. FalanDO DE PlantaS Pequena, mas sedutora é a lista de plantas que compõem o catá- logo do HersoSeeds. Resultado de 12 anos de trabalho, polyhibridos que reversionam alguns dos clássi- cos da canabicultura compoem um desfile de combinações genéticas que convidam ao teste. Como está formada a coleção? - Basicamente o que fizemos foi es- colher as nossas plantas favoritas e melhorá-las. As fomos selecionando e cruzando por muitos anos e o que fizemos, foi aumentar a produção e a resistência aos fungos quase sem modificar os sabores e outras qualidades das plantas que deram origem às cruzas. E como fizeram isso? - Bom, começamos com alguns clássicos que caíram em nossas mãos e os cruzamos com uma planta especial (cruza de Northern Lights + Ortega + Afganhi S.A.+ Hash Plant), que tem a distinção de ter genes tipo dominante que transmitem estes caracteres desejados dos que já falamos, fazendo que todas as nossas plantas tenham buds grandes e saborosos, e que não tenham proble- mas com a umidade na fase final da floração. Pretendem acrescentar variedades autoflorescentes à sua coleção? - Em princípio não. Já temos trabalhado e desenvolvido variedades que não nos deixaram satisfeitos e no en- tanto, outros bancos decidiram comercializá-las. Nós não gostamos de trabalhar em algo que não podemos estabilizar em um 100%, isso é o que acontece com to- das as chamadas automáticas. Não existindo mães é impossível fazer um trabalho onde se consiga prever os resultados com sucesso e, assim, dar segurança aos INFORMA 50 cultivadores. Definitivamente não gostamos e achamos que de alguma forma contribui para a perda de gené- ticas mais interessantes, que perdem espaço para este novo tipo de plantas. ¿Que dicas você daría aos cultivadores brasileiros? - Principalmente para quem cultiva em exterior uma boa é começar a planta com iluminação artificial (há varias opções) completando as horas de luz que a planta precisa para continuar no crecimento vegeta- tivo e nao entrar em flora. Fazer isto por um ou dois meses fará que a planta cresça mais do que se fosse criada ao sol desde o começo. Para estes cultivadores recomendo plantas mais do tipo sativa como a Blue Monster Holk, que é uma planta que produz muito e tem níveis muito altos de THC ou a Alien Jack Motta que é planta de efeito mais cerebral do nosso catálo- go, além de ser uma boa amiga do outdoor também. ¿Outras variedades de exterior para nos recomen- dar? - A Amazing Spider Skunk é, sem dúvida, a planta mais resistente que temos desenvolvido até agora, muito recomendada para cultivo outdoor. Outra po- deria ser a Iron Flow porque é uma planta fácil de cul- tivar, que não tem muitas exigências e também resiste muito na intempérie. É uma planta que recomenda- mos para iniciantes. ¿algo que queiram dizer aos leitores de Haze? - Espero que vocês gostem de nosso comic e reco- mendo experimentar nossas variedades que com certeza vão ser do agrado de vocês. Goste ou não dos quadrinhos sem dúvida os perso- nagens de Motta, farão você se sentir identificado pelo menos por seu amor pela maconha e vão fa- zer você acreditar que um mundo melhor é possível (nem que seja num gibi). Mais uma vez temos a oportunidade de conhecer um breeder (profissão com a que sonham muitos leitores da Haze), mas desta vez, também conseguimos co- nhecer um sonhador que com suas histórias vem para contar como a maconha pode nos ajudar e muito. Esperamos que vocês gostem da primeira parte do episódio 1 da Hero Seeds The Comic Series: Alien Jack Motta ¨KAYA” e que nao duvidem em testar estas variedades com as quais com certeza ficarão supe- ramigos... INFORMA http://www.heroseeds.com/ 54 56 apelando a valores que nada têm a ver com um re- fresco, instalando-se em algum lugar de nosso pen- samento e criando uma necessidade; os laboratórios dissimulam os psicofármacos como uma solução má- gica e inócua. As estratégias de marketing utilizam o mesmo lineamento. O que não fica claro é por e para quê. São produtos de venda sob prescrição médica. Um profissional da saúde deve considerar que essa ferramenta é útil para tratar seu paciente, indicá-la e dessa maneira se vende o produto. Sob nenhum ponto de vista um medicamento deveria contar com campanhas publicitárias dirigidas à população. Outra perspectiva põe o foco na ideia de “medica- mentos para o estilo de vida” (lifestyle medicines) fazendo referência ao processo apresentado com res- peito a considerar os psicotrópicos como substâncias reguladoras do estilo de vida em vez de medicamen- tos para curar sujeitos doentes. Esse enfoque é fundamental para a compreensão do processo. A relação que se estabelece entre o con- sumo de psicotrópicos e a qualidade de vida supõe o traslado da ideia de enfermidade à ideia de mal- -estar, incomodidade, moléstia, insuficiência. Este traslado da enfermidade ao mal-estar leva a uma al- teração, uma mudança de perspectiva ao substituir a ideia de cura pela ideia de qualidade de vida. A ideia de moléstia e de mal-estar se impõe no campo da medicina. Isso, por um lado, gera efeitos positivos ao promover o surgimento de novas correntes centradas no atendimento primário, mas, por outro lado, corre- -se o risco de medicalizar qualquer transtorno vital que produza incomodidade, redefinindo-o como enfermidade, paradoxalmente ao mesmo tempo em que a patologia entra em crise frente ao avanço da ideia de mal-estar e qualidade de vida. PÍLULAS PARA O ESTILO DE VIDA Quando a natureza humana e suas necessidades fi- cam adiadas pelas exigências de moda, a vida se tor- na incômoda. Não fomos criados para trabalhar 9 horas por dia. Em muitos casos confinados no mesmo habitat a jorna- da inteira, com a possibilidade de sair para fumar um cigarro para melhorar nossa permanência no lu- gar. Cinco dias trabalhando, dois de descanso. 350 dias de trabalho, 14 de férias. A cultura desmedida de consumo e a voracidade do sistema econômico fizeram com que a sociedade adotasse esse tipo de INVE NÇÃO DE D OENÇ AS Por João Sav eirinho Estamos frente a um processo de redefinição da saúde humana que vem sendo levado a dian-te a partir dos interesses criados pela indústria farmacêutica. O que se encontra na origem dessa proposta é a construção social da normalidade; em outras palavras, o que é “o normal” e o que é “o pa- tológico”. Como construção histórica, as ideias de normalidade, doença e não doença foram variando. Quem são os que se constituem como atores desse processo? Para nos aproximarmos de uma resposta, devemos analisar o papel desenvolvido pelos labora- tórios, pela indústria farmacêutica e pelos profissio- nais da medicina. Observar como as falsas necessida- des são criadas, como o marketing exerce sua ação, como os conceitos de normalidade e de anormalida- de vão mudando e como a saúde humana constante- mente é redefinida ao “mudar” ininterrompidamente os parâmetros de diagnóstico (um exemplo disso são os flutuantes índices do normal e do patológico no colesterol e na hipertensão). Os psicofármacos são consumidos por sujeitos não doentes, porém, desconfortáveis, insuficientes. Ao não existir doença e sim mal-estar, o que se busca não é a cura, senão o bem-estar. Partindo desse en- foque, tudo aquilo que produz incomodidade e nos distancia do bem-estar é redefinido como anormal ou patológico, mesmo que essa incomodidade seja uma resposta tradicionalmente entendida como “normal” frente a um processo ou estímulo. Nesse contexto, a pílula responde a um “círculo perfeito” entre um sujeito impaciente com seu mal-estar e um sistema sanitário que não tem tempo para oferecer. A mídia permite o autodiagnóstico por intermédio da publicidade, da TV e da internet. O resultado desses relatos é o surgimento de um “paciente autodidata” que – através de uma rede de informação informal construídaa partir de diversas fontes (jornais, re- vistas, televisão, Internet, conhecidos) – elabora seu autodiagnóstico e seu tratamento. A visita ao médico então se produz em um âmbito de “luta de saberes” no qual o paciente espera do médico uma legitima- ção de seu autodiagnóstico e da pílula que busca. A banalização da medicação se completa com um ma- rketing dos laboratórios que, em muitos casos, cum- pre com os mesmos parâmetros de sedução ao cliente que o de qualquer produto de consumo massivo, sem levar em consideração a especificidade de um pro- duto médico. Do mesmo modo como a ¨Coca-louca¨ nos vende sua bebida de cor escura e sabor incerto mediante campanhas que enganam o inconsciente, SARA 5857 condutas como normais. O estilo de vida atual não atende questões fundamentais inerentes à natureza humana: respeitar as horas de descanso, alimentar- -se de maneira consciente, fazer exercícios físicos, explorar a sexualidade. Referimo-nos a necessidades básicas, próprias do corpo físico. Elas são tão ele- mentares que é incompreensível o distanciamento da raça humana de sua fonte. Talvez se o ser humano viesse com uma etiqueta – como uma camiseta de algodão – com instruções precisas para seu cuidado, cuidar-nos seria mais simples. Se consideramos essa forma de nos comportar dia a dia como natural, qualquer alarme que o corpo ou a mente dispare é interpretado como uma falha, um defeito. Aprendemos muito bem a silenciar es- ses alarmes indo a um centro de saúde em busca de ajuda. Hipotecamos a natureza humana para afiliar-nos a um sistema voraz. Um sistema de exigências crescen- tes e desproporcionadas. A chegada da era do “su- jeito proativo” requer explicitamente características individuais irreais. A época da cooperação é uma foto em branco e preto. As exigências sociais de perfor- mance e de crescimento pessoal desgastam as bases da personalidade. Não existe distinção entre mães de primeira viagem, estudantes, profissionais ou de- sempregados. Todos devem cumprir com determina- dos requisitos básicos para serem valiosos. As carac- terísticas requeridas deixam completamente de lado as necessidades de nosso veículo. Falamos do corpo físico. Nossa mente, com sua moeda desvalorizada, paga um preço muito alto para manter esse sistema em funcionamento: pressão, medo, incerteza, “não estar à altura”, permanente sensação de insuficiên- cia, tristeza, solidão. A lista é interminável. ção tem um plano para nós que é garantir a sobrevi- vência. Frente a ameaças modernas que pouco põem em risco nossa estada na terra, o corpo dispara uma série de respostas hormonais que confundem o cére- bro primitivo. Ele interpreta que a sobrevivência está em xeque e ativa um conjunto de ações que tentarão afastar o indivíduo dessa situação potencialmente lesiva. Se colocarmos a mão muito perto do fogo, a retira- remos rapidamente de maneira involuntária. Isso é conhecido como um reflexo medular. Nesse tipo de reflexos a consciência não participa, quer dizer, exis- te um circuito automático que ativa uma resposta efetiva contra a ameaça antes que possamos pen- sar se estamos por queimar um braço ou se estamos brincando de passá-lo pertinho de um queimador de fogão. A resposta hormonal é a mesma, tanto se somos per- seguidos por um leão na selva como se passamos por uma situação de grande tensão. Pode ser uma dis- cussão no trabalho, um engarrafamento ou um exa- me. Diante dessas circunstâncias, nosso corpo come- çará a falar, tentando nos proteger. Então, um belo dia, a natureza envia um sinal: co- meçamos a ter dificuldade para dormir ou sentimos medo em diferentes momentos, e como não percebe- mos o que está acontecendo pois é mais importante seguir andando rápido, de repente acabamos caindo no choro, um choro tão forte que faz com que experi- mentemos um momento muito escuro, de morte. Ao sentir o dano, o corpo utiliza sintomas e sinais para que nós modifiquemos nosso comportamento. Se continuarmos fazendo as mesmas coisas enquan- to distraímos a mente com psicofármacos, o corpo inevitavelmente ficará doente e teremos aliviado so- mente o que entendemos como sintomas, aqueles si- nais de nosso corpo físico que conta com a sabedoria ancestral da evolução. Há mais de 8000 anos que a raça humana vem fazendo réplicas exatas e perfeitas de si mesma. FARMACOLOGICAMENTE CORRETOS DE QUE ESTAMOS FALANDO QUANDO NOS REFERIMOS A PSICOFÁRMACOS? O SILÊNCIO PSÍQUICO Frente ao avanço da ideia de qualidade de vida e bem-estar, a patologia perde terreno no campo da medicina. Ao mesmo tempo, começam a ser “me- dicalizáveis” uma série de mal-estares que afligem o sujeito em sua vida cotidiana. Sentir-se nervoso perante uma entrevista de trabalho, ter decaimento ante uma perda afetiva ou sentir cansaço depois de longas jornadas de trabalho são situações que mere- cem ser medicadas? As crescentes pressões no âmbito do trabalho apre- sentaram um desafio à medicina. Como na Segunda Guerra Mundial, a Alemanha disponibiliza a seus sol- dados uma novidade; uma pílula que aliviava uma quantidade variada de afecções, a “psicomedicina” provê uma nova “aspirina” à população capaz de aliviar a incomodidade gerada pelo estilo de vida que desejam sustentar. Novas entidades clínicas substituem as velhas do- enças. Surgem conglomerados de sinais e sintomas próprios de uma forma de vida antinatural que são agrupados e tratados por profissionais do ramo ou por alguma tia cheia de pílulas que frente à insônia de um próximo não vacila em recomendar uma me- tade de uma das redondinhas para dormir melhor. Estamos silenciando psiquicamente o ser humano. Imaginemos com um animal. Pode ser qualquer um. Várias circunstâncias inerentes a sua forma de vida o incomodam bastante. Ao longo do tempo, esse ani- mal tem duas possibilidades: continuar nesse quadro de mal-estar, deprimir-se e morrer ou modificar sua situação e seguir adiante. A evolução nos ensina que a natureza escolhe o segundo caminho. Agora, ima- ginemos como outro animal, desta vez: um humano. A mesma situação, incomodidade e desprazer em sua vida, prolongados no tempo. O humano moderno conta com uma terceira opção: pode silenciar psi- quicamente sua incomodidade e não modificar esses hábitos que lhe produzem dano. Quando um bebê nasce, ele conta com uma série de reflexos que garantem sua sobrevivência. Um deles é o reflexo de sucção. Um recém-nascido não sabe que tem duas mãos, mas sabe alimentar-se. A evolu- TRATA-SE DE FÁRMACOS QUE ATUAM FUNDAMENTAL- MENTE SObRE AS FUNçõES NERVOSAS DO CéREbRO, MODIFICANDO DE MANEIRA MAIS OU MENOS TRANSI- TóRIA O ESTADO PSÍQUICO E O COMPORTAMENTO DO SUjEITO. OS EFEITOS TERAPÊUTICOS SãO UTILIzADOS PARA TRATAR AFECçõES TAIS COMO A ANSIEDADE, INSôNIA OU DEPRESSãO. OS bENzODIAzEPÍNICOS SãO UM GRUPO DE PSICO- FÁRMACOS CUjO MECANISMO DE AçãO é MEDIADO PELO AUMENTO NA FREQUÊNCIA DE AbERTURA DE CANAIS DE CLORO NOS NEURôNIOS. DESSA FORMA, OCORRE UMA hIPERPOLARIzAçãO DAS CéLULAS CE- REbRAIS QUE ACAbAM TORNANDO MAIS LENTA A CONDUTÂNCIA NERVOSA. Esses fármacos têm nome e sobrenome: Alprazolam (nome comercial: Apraz, Frontal, Tranquinal), Clo- nazepam (Rivotril), Diazepam (Valium), Lorazepam (Lorax, Lorium, Mesmerin), Flunitrazepam (Rohyp- nol), Bromazepam (Lexotam, Brozepax, Deptran, Nervium, Novazepam, Somalium, Sulpam). Os BZD são muito úteis para o tratamento agudo, de 2 a 4 semanas de duração, de certas afecções psíqui- cas. Apesar de não estarem indicados para períodos superiores a 6 meses, os BZD são consumidos em terapias indefinidas durante períodos amplamente maiores. Com essa frequência de uso, a lista de efei- tos adversos é realmente preocupante. O uso prolongado acomete significativamente a me- mória e a aquisição de novos conhecimentos, provo- cando alterações cognitivas. Os BZD geram tolerân- cia, provocando o aumento gradativo da dose para obter o mesmo efeito. Ao tentar descontinuar seu uso, os usuários habituais podem sofrer a síndrome de abstinência,visto que esses fármacos desenvol- vem dependência física. São fármacos cujo metabolismo hepático acontece em um, dois e três passos. Isso significa que o cor- po tem muito trabalho para eliminá-los. Além disso, eles circulam de forma ativa no sangue por mais de 24 horas. É por esse motivo que a descrição feita na SARA 6059 fragmentação do indivíduo. Especialistas e su- perespecialistas trabalhando sobre um órgão ou sistema isolado. é FUNDAMENTAL MUDAR O MODO DE PENSAR, VIVER E SENTIR PARA ENTãO MUDAR O ESTILO DE VIDA. ENQUANTO ISSO NãO FOR POSSÍVEL, é DE VITAL IMPORTÂNCIA ENCONTRAR UMA FER- RAMENTA MENOS POTENTE PARA SUbSTITUIR O ALÍVIO QUE OS PSICOFÁRMACOS PRODUzEM. FARMACOLOGICAMENTE INCORRETOS A medicina ocidental é articulada pelos cor- deis da indústria farmacêutica. Curiosamente, fármacos potentes de relativa eficácia e com muitos efeitos adversos são prescritos de olhos fechados. Outros, enquanto suas formulações sintéticas são autorizadas, seu extrato natural é proibido. Esse é o chamativo caso de Sativex, fármaco elaborado a base de TCH e CBD (prin- cípios ativos da cannabis) e comercializado le- galmente em forma de spray. Não obstante isso, a planta - cuja cultura e colheita poderiam ser feitas de maneira natural - é proibida. A sugestão de substituir um psicotrópico natu- ral por um equivalente químico é uma falta de respeito. A falsa ideia de que os produtos sinté- ticos supõem uma melhoria no cuidado da saúde e o inconsciente coletivo repleto de argumentos arquitetados levam a pensar que prescrever cannabis seja considerado um insulto. CANNAbIS: Indicada para o alívio da insônia Os cannabinoides são obtidos da re- sina encontrada nas folhas e flores da planta. Eles surgem como uma ferramenta natural com escassos efei- tos adversos. O CBD (canabidiol) é um cannabinoide com propriedades sedati- vas e analgésicas. As variedades INDICAS de maconha possuem uma porcentagem maior de CBD comparadas com as Sativas. Não só estamos falando de um fármaco de ori- gem vegetal, mas também de um que não possui os efeitos tóxicos mencionados para os benzo- diazepínicos. A concentração estável e prolongada que a in- gesta de maconha oferece é útil para a insônia de manutenção, pois permite diminuir o número de despertares noturnos. Por sua vez, a via inala- tória alcança um pico plasmático elevado (altas concentrações sanguíneas) e produz uma suave porém repentina sedação, sendo útil para favo- recer a conciliação sono. A administração em forma de óleo (extrato com alta concentração do princípio ativo) 3 a 4 horas antes da hora de dormir, combinada com medi- das gerais para favorecer a conciliação do sono (medidas higiênico-dietéticas), é uma alternati- va natural para aliviar a insônia. O efeito da can- nabis poderia ser potencializada administrando uma dose de carga via inalatória 45 minutos an- tes de se deitar para dormir. CONCLUSãO É claro que nenhuma ferramenta farmacológica poderá remediar o dano que uma forma de vida inconsciente e dissociada causa ao organismo. Também é verdade que mudar o paradigma no qual uma sociedade se estabelece leva tempo, além de um esforço conjunto. Até então, a ta- refa dos médicos é prescrever fármacos de baixa toxicidade que favoreçam a mudança de com- portamentos não saudáveis. A cannabis pode ser utilizada como uma ferramenta de primeira escolha para a insônia de conciliação e de ma- nutenção. Deixar de comprar verdades absolutas estabe- lecidas por interesses que não têm nada a ver conosco é elementar. Escutar o corpo em que moramos abrirá as portas para uma nova era. manhã posterior ao consumo é a do efeito ressaca (hangover), semelhante ao efeito de uma grande bebedeira. APESAR DE SEREM FÁRMACOS COM ELEVADA MAR- GEM TERAPÊUTICA, COMbINADOS COM OUTROS DEPRESSORES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL COMO O ÁLCOOL, O RISCO DE PARADA CARDIOR- RESPIRATóRIA é MUITO ELEVADO. ALTERAçãO DO SONO: Os benzodiazepínicos prolongam as fases I e II do sono NÃO REM (NREM) e diminuem a duração das fases III e IV, BLOQUEANDO O SONO PROFUNDO. A fase IV do sono de ondas lentas é importantíssima devido ao fato que é nesta fase do sono que se li- bera o hormônio do crescimento, o qual garante a imunidade celular e a reparação dos tecidos. É também nesta fase quando os núcleos da vigília descansam. Eles têm uma função importante na área cognitiva (reflexão, concentração, memória, atenção e intelecto). NAS FASES DE SONO PROFUNDO é ONDE O DESCAN- SO REALMENTE ACONTECE. ESTE TIPO DE FÁRMACO é INDICADO PARA ALIVIAR A INSôNIA, PORéM, ELE REALMENTE DETERIORA DE MANEIRA SIGNIFICATI- VA A QUALIDADE DO SONO E SUAS FUNçõES SObRE O ORGANISMO. PRObLEMA MAIS GRAVE Ao fazer referência ao consumo de psicofármacos, um reconhecido médico especialista em toxicolo- gia exemplificava a questão contando o caso da sua própria mãe, usuária vitalícia de clonazepam, quem enfrentava o mesmo problema todas as noi- tes: ela não lembrava se tinha tomado a pílula para dormir. Sua mãe morava sozinha, não tinha ninguém em casa que pudesse alertá-la sobre o fato de ter to- mado ou não a pílula. Nesse contexto, a dúvida fa- zia com que ela fosse buscar uma pílula ‒ ou talvez outra pílula ‒ para dormir na caixa de primeiros socorros. O problema não colocava sua vida imediatamente em risco; no entanto, prolongava e intensificava desnecessariamente os efeitos da droga. A mulher pagava juros muito altos por causa do perigoso esquecimento. Aumentava o risco de quedas e acidentes domésticos. Seu corpo devia metabo- lizar quantidades desnecessárias de um fármaco muito potente, e isso sim implicava um perigo para seu organismo no médio prazo. A sorte dela é ter filho o filho que tem. Ao ver a saia justa pela qual a mãe estava passando, aquele doutor pensou numa estratégia e lhe disse: “as- sim que tomar a pílula, a senhora vai colocar esta pulseira no pulso. Cada vez que tiver dúvida, é só olhar para seu pulso e decidir com sabedoria. Pode olhar todas as vezes que quiser. Ao acordar, a se- nhora tira a pulseira.” Fim da questão. Além de compartilhar uma ideia muito boa para regular a dosagem de fármacos em caso de pesso- as com problemas de memória, este simpático re- lato tenta colocar em evidência uma situação não menor em sua gravidade. É necessário estabelecer um controle estrito, regu- lado e rigoroso sobre o consumo de psicofárma- cos por parte de idosos. A eficácia de seu corpo para metabolizar e eliminar as drogas é menor. Por outro lado, o efeito das drogas em pessoas idosas se potencializa ainda mais, além de ser mais prolongado, do que em indivíduos mais jo- vens. O aumento desnecessário da dose é um problema realmente grave. ‒ Vó, como é que a senhora tem 6 cai- xas de “sonolex” no banheiro? ‒ É que andei fazendo uns exames médicos. Vi o cardiologista, o an- giologista, o gastrenterologista, o neurologista, minha ginecologista e um traumatologista. E comentei a to- dos eles que estava com um pouco de dificuldade para dormir. A medicina ocidental é embasada na SARA 6261 VIAJA 63 Mão pro alto! Os dezesseis estados da Alemanha têm regras bem diferen- tes para apreensão. Se você estiver passeando pelo Portão de Brandenburgo, em Berlim, com mais de nove gramas, vai tomar um bom sermão do policial, perder o bagulho e receber uma carta malcriada do governo. Se você é pego pela segunda vez, paga uma taxa fiança entre 200 e 600 euros. Para você ser preso por um ano, precisa estar com mais de 75 gramas de haxixe ou 78 de maconha. Por Estefani Medeiros PErEgrino do ativisMo canábico, stEffEn gEyEr trabalha há quatorzE dos sEus 34 anos a favor da Educação E da lEgalização da Maconha na alEMa- nha. rEsPonsávEl Por organizar a hanf ParadE, a Marcha dE bErliM, é o rE- PrEsEntantE do hanf MusEuM, a sEdE do MoviMEnto dE lEgalização alEMão, E ainda usa sua forMação EM dirEito Para aconsElhar usuários coM ProblE- Mas na Polícia. dividido EntrE a Paixão PEla naturEza E uM MalabarisMo daburocracia criada coM lEis E PoliticagEns, gEyEr é uMa Porta-voz intEirado sobrE tudo o quE tEM rolado coM a Erva na EuroPa. do Pé ao PriMEiro PEga. com seus marcantes dreads vermelhos e vestido de cânhamo da cabeça aos pés --ele diz não comprar mais roupas de cotton (algodão) --, o ativista recebeu a haze em seu qg em berlim para um papo sobre cultivo que passou por uma comparação com a situação na américa latina e uma reflexão sobre o formato de venda adotado em amsterdã. geyer conta que o número de alemães plantando em seus jardins e apartamentos começou a aumentar nos últimos quinze anos, mas um evento que todos nós conhecemos criou um boom de cultivadores há pouco tempo: a copa do Mundo de 2006. “os traficantes descobriram que precisariam produzir em larga escala para ganhar dinheiro dos fãs de futebol. antes disso, a maconha era limpa e verde, com algumas misturas, mas verde. desde 2006, muitos venenos e substâncias são colocados para aumentar o lucro. com isso, cresceu o número de cultivadores que buscam qualidade e querem continuar saudáveis. naquela época, a maconha consumida na alemanha vinha principalmente da holanda. Mas agora 75% da maconha fumada em berlim é criada em berlim. é mais barato ter equipamentos e acessórios para plantar.” 64 VIAJA 6665 assim como as punições para usuários, as penas para quem cultiva na alemanha variam de estado para estado. “não tem como plantar regularmen- te na alemanha. Mas em berlim é mais razoável, se você tiver menos de dois metros quadrados, ou 15 plantas, eles consideram que isso é uso pessoal. Mas na baviera (estado no sul da alemanha), seu mate- rial será apreendido se tiver qualquer equipamento considerado profissional, porque (para eles) você vai vender. se você usar uma luz artificial você já é considerado um profissional (risos). Mas em ber- lim eles são mais realistas, eles têm muito trabalho e não podem ficar atrás de cada pequeno cultiva- dor. E não existe paciente com permissão de cultivo, três pacientes atualmente estão na justiça contra o escritório que cuida de permissões medicinais, mas eles precisam de pelo menos três anos só para co- meçar o processo e tentar uma conversa. Eles são presos como qualquer um.” Entre as ervas mais plantadas pelos alemães, não existem variedades ou cruzamentos específicos. “há três anos existem alguns bons bancos de sementes espanhóis que trouxeram variedade, mas na práti- ca as favoritas aqui são da dinafem, dutch Passion ou Paradise seeds, que são as clássicas, da holan- da. conhecemos esses caras há 20, 40 anos, eles são praticamente parte da alemanha.” apesar de estar inteirado no assunto, geyer prefe- re ficar fora do cultivo. “se a polícia vem na minha casa e acha algo, seria um grande assunto para a mídia dizendo que eu só quero meu próprio benefí- cio. Eu não preciso ser uma árvore para salvar uma floresta, então porque eu preciso plantar para re- presentar quem planta? Eu fumo, eu gosto da plan- ta, eu sei muito sobre a planta. E tudo o que eu sei sobre ela me deixa mais fascinado com a canábis, a maconha e suas possibilidades. ninguém nunca me julgou menos ativista por não plantar.” Görlitzer Park e o projeto do pri- meiro coffeeshop de Berlim se você está em berlim e quer fumar um baseado, a primeira opção é o görlitzer Park, que fica na região do Kreuzberg, antigo lado oriental da cidade. ali, você é abordado por todos os tipos de traficantes enquanto desce as escadas do metrô, oferecendo pacotinhos de cinco gramas por 50 euros. a partir das 14h, os vendedores chegam no local e dividem tranquilamente o espaço com crianças e famílias de bicicleta, passeios de idosos e jovens aproveitando o fim de tarde. Em 2013, surgiu a especulação de que nasceria ali o primeiro coffeeshop de berlim, projeto da subprefeita Monika herrmann. acompanhando os projetos dos partidos de perto, steffen diz que esse tipo de manipulação midiática acontece com frequência, mas não traz resultado. “Na América do Sul, são muitas corrupções menores e na Alemanha são poucas corrupções em larga escala ” VIAJA VIAJA 6867 “foi um truque para conseguir mais votos. Eles cria- ram esse projeto de lei para atrair atenção e depois não tiveram como se livrar disso. nós temos um governo que nem fala sobre o assunto. Então não teremos coffeshops no Kreuzberg enquanto o go- verno não conseguir conversar. você pode imaginar que eles abririam dois ou três coffeshops no parque, mas existem pelo menos três milhões de usuários em berlim. se eles tentassem ir pelo menos uma ou duas vezes para ver se o preço vale o produto, não iria funcionar”, comenta geyer. “Em 98, teve um grande movimento de legalização durante a eleição, pensamos: ‘os sociais democra- tas e os liberais querem, dessa vez vai rolar’. Eles fizeram pôsteres pró-legalização e depois de usar os votos da eleição, eles nem tocam no tema. as pesso- as tentam fazer política uma vez em quarenta anos, mas uma vez eleitos, não ligam. Eles não querem que essa situação mude porque é fácil manipular ovelhas. Existe só uma diferença entre a corrupção da américa latina e da Europa, aqui é mais caro. na américa do sul, são muitas corrupções menores e na alemanha são poucas corrupções em larga escala”, opina. “Mas tá tudo bem, porque eles são velhos e eles vão morrer e vai surgir uma nova geração, mais liberal. a pressão está acontecendo de todos os lados, e isso deve resolver o problema em cinco ou sete anos”, complementa entre risos. “Queremos trazer a erva de volta ao mundo que ela já estava a centenas de anos atrás” VIAJA 69 70 “Se você consegue fazer crescer sua planta, faça algo pela legalização” o ativista acredita que a solução está na educação e politização dos usuários. “nosso trabalho é educar as pessoas sobre o que é maconha. se você perguntar aos alemães o que é canábis, eles responderão: dro- ga. Então focamos nas propriedades naturais e me- dicinais da canábis para mostrar para as pessoas, es- pecialmente aos mais jovens, o poder da planta. não queremos só a legalização de produtos da canábis, mas da maconha como um todo, queremos trazê-la de volta ao mundo que ela já estava a centenas de anos atrás”. com um time que realiza pesquisas diárias e acom- panha estudos científicos sobre a planta, steffen diz que o principal desafio é fazer as pessoas que conso- mem entenderem o que está acontecendo antes de ter um problema em escala pessoal. “geralmente se a polícia te causou algum problema, agora você co- meça a ser um ‘legalizer’. Mas isso é errado, quando a polícia te pega você tem outros problemas além da legalização. Eu gostaria que as pessoas entendessem que você precisa se engajar no movimento mesmo se você ainda não teve um problema. se você tem um traficante ou se você consegue fazer crescer sua planta, faça algo.” Barcelona é a nova Amsterdã quando se pensa em amsterdã, o que vem à cabeça são as imagens dos saborosos coffeeshops e as infi- nitas possibilidades das empresas de sementes. Mas ultimamente as coisas não andam tão otimistas. ste- ffen conta que “as coisas não estão sendo resolvidas em amsterdã. Está muito pior do que nos últimos 10 ou 20 anos, com muitas pressões de países próximos, como a própria alemanha, que pediu para o governo evitar a venda para turistas. os políticos estão ten- tando fechar os coffeeshops que já estão abertos”. Para ele, a solução está no sul do velho continente, no tempo agradável dos espanhóis. “agora pare- ce que a Espanha é a nova amsterdã. Eles têm esse formato de canábis social clubes em barcelona, sob responsabilidade dos donos de clubes, por exemplo. Mais e mais alemães desgostam do formato holan- dês de resolver e procuram possibilidades. Existe uma comunidade amigável na república tcheca e na áustria. os holandeses têm que lutar e eles es- tão lutando. Existe esse grande movimento do 4e20 smoke out, é uma demonstração, você tem pessoas políticas e de festa juntas. não é legalizado
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