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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Serviço Social Estado e Política Social Aula 1 Profa. Neiva Silvana Hack CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa Inicial Caro aluno, seja bem-vindo! Vamos iniciar nossos estudos procurando conceituar o Estado – o que é?; seu histórico; limites etc. Buscaremos compreender as características importantes desse conceito, principalmente no que fundamenta sua relação com as políticas sociais. Nossos objetivos nesta aula são: compreender o significado teórico e político do conceito Estado; ampliar o conhecimento das diferentes teorias explicativas do Estado; reconhecer e refletir sobre o papel do Estado na sociedade; avaliar as distinções dos modelos de Estado na história e na contemporaneidade; evidenciar os desafios do Estado frente a um contexto de globalização. Para isso, seguiremos uma rota de aprendizagem que contará com explicações, vídeos, indicações de leitura e atividades de fixação. Tudo isso para construirmos junto um conhecimento que é fundamental para a formação profissional na área do Serviço Social. Para a videoaula do Conversa Inicial, ver o material on-line. Contextualizando Para iniciarmos esta aula, lançamos a seguinte pergunta: o que é o Estado? Essa pergunta pode se desdobrar em várias outras, como: quando iniciou o Estado? Estado é sinônimo de governo? Estado é a mesma coisa que poder público? Qual o poder e os limites do Estado? No Brasil, precisamos distinguir o Estado com letra maiúscula, dos estados, com letra minúscula, que representam as unidades federativas, tais como Acre, Goiás, Bahia, Rio de Janeiro e Paraná. A ação profissional do Assistente Social está diretamente ligada às relações da sociedade, da população e mesmo de seu campo de trabalho com o Estado. Portanto, cabe ao Assistente Social saber responder às questões elencadas anteriormente. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Você já sabe algumas dessas respostas? Não se preocupe em responder tudo ou ter certezas neste momento. A aula de hoje nos conduzirá a construir e aprofundar nosso conhecimento e permitirá a elaboração destas e de muitas outras respostas. Para a videoaula do Contextualizando, ver o material on-line. Pesquise O que é Estado? Já ouvimos muito falar no Estado em diferentes contextos, não é mesmo? Cabe-nos agora questionar: afinal, o que é o Estado? A pergunta é simples. Porém a resposta nem tanto! O conceito de Estado é bastante complexo e já foi estudado e desenvolvido por diferentes autores. Antes de adotarmos um conceito que responda a essa questão, vale a pena compreender diferentes aspectos constitutivos do Estado. O Estado possui característica de organização da sociedade. Pode-se dizer que a existência do Estado é uma resposta à necessidade da própria sociedade. Adota-se aqui a compreensão de que os homens são seres sociais, portanto, precisam viver em sociedade e aspiram ao bem comum. Logo demandam uma estrutura que promova a vivência em sociedade de forma organizada, para que se estabeleça o bem de todos. Contudo, a demanda por tal estrutura não está somente ligada a uma característica altruísta e comunitária, mas envolve também a proteção ao indivíduo e mesmo às suas propriedades. Podemos criar um exemplo para ajudar na compreensão: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Em um condomínio residencial, cada pessoa é responsável por sua casa e tem liberdade diante de sua propriedade particular. Contudo, esta residência está situada dentro do mesmo espaço com várias outras. E alguns ambientes são comuns: a portaria, os corredores, as áreas de lazer. Surgem situações que precisam ser resolvidas e acordadas entre todos: horários e locais em que se deve respeitar o silêncio, a possibilidade ou não de se ter animais de estimação, a manutenção e a higiene dos ambientes comuns. Observamos, neste exemplo, que para se desfrutar com conforto e segurança da casa, que é de interesse e propriedade individual, é indispensável a relação com o coletivo e acordos em vistas do bem comum. Assim, são estabelecidas estruturas como eleição de um síndico, realização periódica de reuniões, regimento interno, dentre outras. Da mesma forma acontece na sociedade. O bem-estar de cada um está ligado às mais diferentes relações no espaço coletivo e à necessidade de promoção do bem-estar de todos. Assim podemos dizer que: “O Estado é uma sociedade, pois se constitui essencialmente de um grupo de indivíduos unidos e organizados permanentemente para realizar um objetivo comum” (AZAMBUJA, 1984, p.2). De forma semelhante, Queiroz (2013) aponta que a organização do Estado é uma opção humana diante de duas alternativas de relações sociais: a competição e a cooperação. E, assim, se escolhe a cooperação como via que permite maiores benefícios para o conjunto dos envolvidos. Sendo assim: “É possível que o Estado, que entendemos como o conjunto de instituições que controlam e administram uma nação, tenha surgido como o instrumento por meio do qual os homens exercitariam a força da cooperação entre eles e, assim, conseguiriam enfrentar com melhores resultados as adversidades do meio ambiente” (QUEIROZ, 2013, p.27). CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 A história da humanidade vai apresentando as diferentes formas pelas quais o homem percebeu a necessidade de organizar-se, tendo em vista o bem coletivo, o bem comum ou, como também é chamado, o bem público. Trata-se de uma intenção e necessidade natural, que se consolida pela vontade e atitude humana. Essa atitude é diferente em cada grupo de pessoas e ao longo da história, resultando em distintos modelos de Estado. Contudo, embora existam distinções, há também similaridades que permitiram a realização de análises e estudos sobre o Estado, ao longo do tempo. Ao se analisar os diferentes tipos de Estado, é possível identificar características semelhantes a todos. Vamos tratar daquelas que mais se destacam: Território: todo Estado se estabelece dentro de um limite territorial definido. Esse território estará demarcado por fronteiras com outros Estados. População: é o conjunto de pessoas que compõe um Estado e está sob seus limites de atuação. Governo e Governados A organização do Estado compreende a existência de lideranças que assumem a responsabilidade pela promoção do bem comum e tem seu poder legitimado para isso: os governantes. Aos demais, cabe a participação enquanto governados. As formas de exercício de poder pelos governantes e de participação dos governados são distintas de acordo com os diferentes modelos de Estado. Por exemplo: nos Estados autoritários, o poder é centralizado; nos Estados democráticos, o poder é compartilhado. Demo – cracia: do grego “demos” = povo e “kratos” = poder Logo: democracia = poder do povo. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 Normas/ Legislação O exercício do poder dos governantes e todas as ações do Estado são mediadas pela legislação que o regula. Nos Estados modernos, é comum a organização a partir das Constituições, que são a Lei máxima vigente no território e para a população de um Estado. Você conhece a Constituição Federal brasileira? Acesse o link a seguir e conheça a Carta Magna da República Federativa do Brasil, aprovada em 1988: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm (ver o material on-line) Diante dos elementosaté aqui estudados, é possível consolidar um conceito de Estado. Adotamos a definição de Darcy Azambuja (1984, p.06): “Estado é a organização político-jurídica de uma sociedade para realizar o bem público, com governo próprio e território determinado”. Curiosidades: Como se escreve? Estado ou estado? Acesse o link a seguir. http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/estado-ou-estadotracos-que-os- demarcam.htm (ver o material on-line) Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Teorias sobre o Estado O estudo sobre o Estado é desenvolvido sob diferentes perspectivas. Vamos conhecer os aspectos principais das contribuições científicas e filosóficas no estudo do Estado ao longo da história. Segundo Bobbio (1987), as duas principais fontes para o estudo do Estado são a história das instituições políticas e a história das doutrinas políticas. Ao analisar a história das instituições, passa-se pela interpretação do Estado e do Governo segundo importantes pensadores clássicos, tais como Aristóteles, Políbio, Hobbes e Rousseau. A história das instituições desenvolveu-se em conjunto com a história das legislações (doutrinas). As leis regulam ao longo da história, a relação entre governos e governados. Atualmente, o Estado é estudado não somente em sua história ou doutrinas, mas em suas estruturas, funções, elementos constitutivos, mecanismos, órgãos e outros (BOBBIO, 1987). Nessa compreensão, tem-se o Estado como um sistema complexo, composto por diferentes fatores e atores. A principal disciplina, nesse contexto, é conhecida como Teoria Geral do Estado, que compreende tanto análises históricas quanto dos aspectos legais constitutivos do Estado (MALUF, 2003). A Teoria Geral do Estado possui forte componente de análise política do Estado e pode ser caracterizada em triplo aspecto, como vemos no quadro a seguir, formulado a partir da conceituação de Sahid Maluf (2003, p.12): Teoria social do Estado: quando analisa a gênese e o desenvolvimento do fenômeno estatal, em função dos fatores históricos, sociais e econômicos. Teoria política do Estado: quando justifica as finalidades do governo em razão dos diversos sistemas de cultura. Teoria jurídica do Estado: quando estuda a estrutura, a personificação e o ordenamento legal do estado. MALUF (2003). Adaptado. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Outra forma de classificação dos estudos sobre o Estado está nas abordagens distintas e complementares entre “filosofia política” e “ciência política”. Essas disciplinas possuem como foco de estudo os aspectos elencados no quadro a seguir (BOBBIO, 1987): Filosofia Política Ciência Política estudo da melhor forma de governo ou da ótima república; aplicação do princípio da verificação ou de falsificação como critério da aceitabilidade dos seus resultados; estudo do fundamento do Estado, ou do poder público, com a consequente justificação da obrigação política; uso de técnicas da razão que permitam dar uma explicação causal em sentido forte ou mesmo em sentido fraco do fenômeno investigado; estudo da essência da categoria do político ou da politicidade. estudo a partir da abstenção ou abstinência de juízo de valor (avaloratividade). BOBBIO, 1987. Adaptado. Partindo de um olhar histórico, pode-se definir que tanto a filosofia como a ciência são complementares no estudo da política e do Estado. No pensamento moderno sobre o Estado, ainda se destacam dois pontos de vista, o jurídico e o sociológico. Segundo Bobbio (1987), essa distinção foi proposta por Georg Jellinek e adotada também por Max Webber – um dos precursores da área da sociologia. Sob essa óptica, distinguem-se os estudos voltados aos marcos regulatórios do Estado, daqueles que visam compreender suas relações e seu papel enquanto instituição social. No campo da sociologia, as duas teorias que se destacam no estudo do Estado são o funcionalismo e o marxismo. Saiba mais sobre o assunto e acesse o link a seguir. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAdJsAF/estado-poder-politica-segundo- os-pensamentos-hobbes-locke-rousseau-norberto-bobbio (ver no material on-line) Vimos, até aqui, importantes teorias de estudo do Estado, ao longo da história e no pensamento moderno. Considerando essas bases teóricas, seguiremos construindo o nosso estudo sobre esse importante conceito! Sugestão de leitura: Dois clássicos da literatura, no campo da política, são indicados para aprofundar esse conteúdo: “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel. “Leviatã”, de Thomas Hobbes. Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. Papéis do Estado Para aprofundar o conhecimento sobre o Estado, é importante compreender os principais aspectos que delimitam suas funções. Como ponto de partida para essa discussão, indicamos a leitura do artigo: “Política pública e a norma política”, de Cristiane Derani, disponível no link a seguir: https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&ved=0ahUKEwjRqP eXsZjMAhWEUJAKHZG8D3gQFggkMAE&url=http%3A%2F%2Fojs.c3sl.ufpr.br%2Fojs%2Finde x.php%2Fdireito%2Farticle%2Fdownload%2F38314%2F23372&usg=AFQjCNGycjCW45ny629 OgI2wdLyc-H_dSQ&sig2=7o_jUUFgUu1Qcdaibviunw&bvm=bv.119745492,d.Y2I (ver material on-line) Em primeiro lugar, devemos destacar que o Estado é constituído e tem como principal função promover e zelar pelo bem comum. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Conforme observado no artigo, ao longo da trajetória histórica de consolidação do Estado moderno, observa-se o conflito entre a proteção da liberdade e individualidade e a proteção ao bem-estar coletivo. Diferentes expressões de modelos e organização do Estado, têm-se destacado cronologicamente: os antigos Estados orientais; o Estado helênico; o Estado romano; o Estado da Idade Média; o Estado moderno e o Estado contemporâneo (OLIVEIRA, 2006). O período de consolidação do Estado moderno está marcado entre os séculos XV e XVIII, reconhecidos como Idade Moderna. E o Estado contemporâneo estabelece-se a partir do século XIX. Esses dois períodos apontam características fundamentais para a compreensão das relações de Estado atualmente observadas e vivenciadas. No início do Estado moderno, num período de queda do feudalismo e ascensão da burguesia, o papel do Estado estava mais voltado à proteção da liberdade individual, o que desdobrava em proteção das relações de mercado da classe burguesa. Inicialmente, esse papel era cumprido por Estados absolutistas, sob o modelo de monarquias. Posteriormente, tais modelos são substituídos pelos Estados liberais, fortalecendo ainda mais as proteções aos interesses da burguesia. Contudo, as liberdades almejadas e defendidas pela burguesia, ainda que protegidas pelo Estado, não foram capazes de promover o bem comum. Diante disso, novas exigências são impostas ao Estado, de forma que proteja não apenas o indivíduo, mas a sociedade como um todo. O Estado é solicitado a agir na proteção de sua população até mesmo frente às desigualdades resultantes do uso da liberdade burguesa. Trata-se de um papel de proteção social. A partir desse momento, iniciam características do que se chama de Estado Social, numa resposta do Estado às demandas de uma nova sociedade que se estabelecia à medida que evoluía o capitalismo. Logo, novos conflitos de forças vão se estabelecendo, de modo a exigir que as legislaçõesque regulam o Estado ultrapassem os interesses de pequenos grupos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Ponto importante aqui é reconhecer que o modo capitalista de produção implica em relações e condições de sobrevivência desiguais entre os donos dos meios de produção e aqueles que têm sua força de trabalho explorada. Tal panorama repercute em novas necessidades da população de um Estado, e novas exigências para a promoção do bem público. As mudanças na sociedade impactam sobre os papéis do Estado para cada momento histórico. No período pós-segunda guerra mundial, os Estados europeus acumularam ainda a necessidade de proteger e promover sua população na intenção de reconstruir suas nações. Destaca-se, nesse período, o chamado Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social. A partir da segunda metade do século XX, tem-se discutido a crise do Estado, ao se perceber sua ineficiência em cumprir com suas responsabilidades e mesmo em atender continuamente as demandas que foram incorporadas no modelo do Estado de Bem-Estar Social (QUEIROZ, 2013). Essa crise é discutida nos âmbitos políticos e científicos e interpretada sob diferentes ópticas. Surgem propostas de redução do papel do Estado, retomando ao perfil do período liberal, bem como persiste a defesa de um Estado responsável e que intervém nas relações econômicas e sociais, para assegurar proteção a todos. O exercício de seu papel, exige que o Estado disponha de poder e autoridade. Contudo, estes são conceitos distintos: “Autoridade é o direito de mandar e dirigir, de ser ouvido e obedecido. O poder é a força por meio da qual se obriga alguém a obedecer” (AZAMBUJA, 1984, p.05). O exercício da autoridade pelo Estado pode ser centralizado – como ocorreu no período monárquico – ou descentralizado – como ocorrem nas democracias. Com a evolução das democracias, é cada vez mais presente a participação da sociedade civil na formulação de políticas públicas que visam o bem comum, assim como no controle de sua implementação e funcionamento. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 No modelo democrático, fica marcada a responsabilidade da população com a participação política, frente ao cumprimento ou não do papel do Estado mediado pelos seus governantes. Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. Estado de Bem-Estar Social X Estado Mínimo Ao longo da história, o Estado teve variações dentre suas competências e o papel assumido diante da sociedade. No Estado moderno, destacaram-se os modelos: absolutista, liberal, de bem-estar social e, mais recentemente, o estado neoliberal. Destacaremos, neste momento, dois modelos distintos: o “Estado de Bem-Estar Social” e o “Estado Mínimo”, propostos na lógica do neoliberalismo. Pode-se dizer que a organização das políticas públicas da atualidade conta com interferências significativas dessas duas formas de concepção sobre a intervenção estatal. O Estado de Bem-Estar Social, originalmente conhecido como Welfare State, teve sua origem no período pós-segunda guerra mundial. Trata-se de um modelo de proteção do Estado para o seu povo. A definição de welfare state pode ser compreendida como um conjunto de serviços e benefícios sociais de alcance universal promovidos pelo Estado com a finalidade de garantir uma certa “harmonia” entre o avanço das forças de mercado e uma relativa estabilidade social, suprindo a sociedade de benefícios sociais que significam segurança aos indivíduos para manterem um mínimo de base material e níveis de padrão de vida, que possam enfrentar os efeitos deletérios de uma estrutura de produção capitalista desenvolvida e excludente. (GOMES, 2006) A organização do Estado no modelo Welfare State contou com grande influência das propostas de John Maynard Keynes. A teoria keynesiana foi desenvolvida na década de 1930, período de grande crise do capitalismo. Keynes questionava a proposta liberal de não intervenção estatal na economia e defendia a ideia de que o Estado deveria investir em setores estratégicos da CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 economia de forma a aquecer mercados e promover a geração de empregos e, em caráter ideal, o pleno emprego. O Estado Mínimo é uma proposta de caráter neoliberal. O neoliberalismo busca resgatar e atualizar a concepção do Estado Liberal, em que é reduzida a intervenção estatal sobre a economia, assegurando o livre comércio e a produção de bens e serviços pela iniciativa privada. Uma das principais características do Estado Mínimo é reduzir a estrutura e as competências do Estado aos itens entendidos como estritamente necessários, tais como a manutenção da paz, a segurança pública e as relações internacionais. No mais, se propõe a adoção de medidas de transferência de responsabilidades para o âmbito privado, que ocorre com a privatização e indústrias estatais e mesmo com a transferência dos serviços públicos, como educação e saúde, para a iniciativa privada. Nesse sentido, são reforçados setores privados da economia para a oferta de serviços básicos e estimuladas iniciativas voluntárias da sociedade civil para agir frente a demandas de caráter social. Para conhecer mais sobre o keynesianismo e o neoliberalismo, sugerimos a leitura do artigo: “Para além do neoliberalismo: a saga do capitalismo contemporâneo”, de Paul Singer, disponível no link a seguir. http://docplayer.com.br/11926584-Para-alem-do-neoliberalismo-a-saga- do-capitalismo-contemporaneo.html (ver no material on-line) A lógica do Bem-Estar Social, fundamentada inicialmente na política do pleno emprego, na Europa, influencia a consolidação de diversos direitos sociais nas sociedades contemporâneas, bem como a estruturação das políticas públicas de caráter social. A inviabilidade do pleno emprego que se apresentou para os países em desenvolvimento e mesmo para os países europeus, nas últimas décadas, incide na necessidade de reorganizar as estruturas públicas, principalmente aquelas relacionadas com a proteção ao trabalhador. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Atualmente, encontra-se uma dicotomia entre a luta e conquista da expansão de direitos sociais e a necessidade de reformas na estrutura estatal. Estabelece-se, assim, um conflito em que se tencionam forças que pretendem a manutenção (ou mesmo conquista) do Estado de Bem-Estar Social e as que defendem o Estado Mínimo como caminho possível para uma economia saudável e decorrente garantia do bem público. Esse conflito evidenciou-se no Brasil ao fim da década de 1980 e na década de 1990. Nesse período, ao mesmo tempo em que é aprovada a Constituição Federal de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, por assegurar distinta proteção social aos cidadãos pelo Estado, inicia-se um governo de lógica neoliberal, com a eleição de Fernando Collor de Mello, em 1989. Este foi o momento de maior dicotomia entre tendências de modelo de Estado e de Governo, cujas dualidades são presentes até o momento sociopolítico atual. Leitura complementar: O debate sobre o Estado mínimo implica também em conhecer o papel da sociedade civil dentro desse modelo, bem como dentro de um modelo democrático e participativo. Essa questão é discutida no texto: “Sociedade civil, participação e cidadania: de que estamos falando?”, de Evelina Dagnino, disponível no link a seguir: http://biblioteca.clacso.edu.ar/Venezuela/faces-ucv/20120723055520/Dagnino.pdf (ver o material on-line) Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico15 Estado de Bem-Estar Social X Globalização O Estado de Bem-Estar Social prevê a proteção da população com um conjunto de serviços e políticas sociais. Nesse modelo, o Estado assume a responsabilidade primeira por promover a qualidade de vida de seu povo. Para isso são consolidadas estruturas burocráticas e de serviços, que permitam assegurar à população: saúde, educação, proteção no trabalho, previdência social aos aposentados ou incapacitados para o trabalho, proteção à maternidade e à infância, dentre outros. Contudo, assegurar tais proteções exige do Estado condições econômicas, financeiras e de gestão, que nem sempre se encontram as mais favoráveis. A economia interna de um país repercute na sua capacidade de proteção social. Porém, esse quadro é agravado à medida que as economias nacionais se encontram dependentes de relações internacionais. Esse fenômeno é acentuado no contexto da globalização. A globalização representa “o fenômeno da disseminação de processos globais que extrapolam os limites das fronteiras nacionais e influenciam as culturas, as economias, as liberdades e até as organizações políticas dos países, em escala mundial” (MALUF, 2003, p.39). Na medida em que as relações internacionais são acirradas, há uma perda de soberania pelos Estados e governos, impactando na sua capacidade de sustentar benefícios sociais à sua população. Para melhor proveito do conteúdo, leia ao texto “O Futuro do Welfare State na Nova Ordem Mundial”, de Gosta Esping-Andersen”, disponível no link a seguir: http://www.scielo.br/pdf/ln/n35/a04n35.pdf (ver no material on-line) Como vimos no texto, a manutenção de políticas sociais de proteção, no modelo do Estado de Bem-Estar social, encontra-se diante de importantes CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 desafios, próprios desta época da história e do contexto de forte integração internacional. Dentre os elementos que desafiam as novas estruturas políticas sociais, temos os seguintes: mudanças na estrutura familiar; mudanças na estrutura ocupacional; mudança no ciclo de vida; novas condições econômicas: crescimento lento e desindustrialização; tendências demográficas: especialmente envelhecimento populacional. (ESPING-ANDERSEN, 1995) Assim, percebe-se que na contemporaneidade não existem respostas objetivas aos desafios que se impõe de implementação ou manutenção de estruturas de proteção social no modelo Welfare State, diante de um conjunto de fatores econômicos e políticos adversos. Novas formas de organização internacional exigem novas estruturas nacionais e impactam nos governos e sua forma de atuação na sociedade. Para a videoaula deste tema, ver o material on-line. Trocando ideias Vimos, ao longo da aula, que diferentes modelos de governo são propostos para que o Estado cumpra com seu papel de promover o bem comum. Alguns modelos defendem um Estado mais intervencionista, como ocorre no caso do Estado de Bem-Estar Social. Outros já propõem a redução da intervenção do Estado na economia e principalmente a redução de sua participação na produção de bens e serviços. Considerando a atual conjuntura nacional e mundial, qual a sua opinião sobre o papel do Estado frente à sociedade, à economia e à produção de bens e serviços? Aponte e justifique sua opinião. Participe no Fórum! CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Na Prática Agora que conhecemos mais sobre os conceitos e modelos de Estado e governo, vamos fazer uma apreciação sobre as características do Estado brasileiro. Para isso, siga as instruções e realize seu exercício: 01. Retome o conteúdo como um todo. Mas principalmente o tema 04 desta aula. 02. Analisando o perfil do Estado brasileiro – em sua história e na atualidade –, identifique as características mais relacionadas com o Estado de Bem-Estar Social e outras mais relacionadas com o Estado Mínimo. 03. Destaque pelo menos duas de cada uma dessas características para cada modelo, preenchendo o quadro a seguir: Característica 01 Característica 02 Característica 03 Características que se assemelham com o Estado de Bem-Estar Social Ex.: Direito universal à saúde. Características que se assemelham com o Estado Mínimo Ex.: Privatização de empresas estatais como a Vale do Rio Doce. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 04. Considerações sobre os resultados: estarão adequados todos os resultados sobre o modelo de Estado brasileiro quando apontarem características de dever do Estado em proteger seu povo e assegurar direitos sociais relacionadas ao Estado de Bem-Estar Social, bem como quando apontarem estratégias de redução da participação do Estado na economia, na produção de bens e na oferta de serviços públicos relacionadas ao Estado Mínimo. Síntese Estamos finalizando esta aula, hoje estudamos a temática do Estado. Nos aproximamos da discussão conceitual sobre este tema e descobrimos tratar-se de um conceito complexo e que vem sendo estudado por diferentes disciplinas e com diferentes abordagens teóricas ao longo da história. Também percebemos que, embora o Estado tenha sempre o mesmo objetivo de promoção do bem público, são diferentes as estratégias de sua organização e os modelos de governo para atingir este fim. Ainda conhecemos os modelos do Estado de Bem- Estar Social e Estado Mínimo, que possuem forte influência na organização política atual e global. A nossa problematização inicial envolveu as diversas perguntas que nos foram colocadas quando começamos uma discussão sobre o Estado. Certamente, finalizamos esta aula com maior segurança para responder a tais questões. Concluímos esta aula com conhecimentos que embasarão nossa discussão sobre as relações do Estado e da Política Social, que são a temática fundamental desta disciplina. Para as considerações finais da professora Neiva, assista ao vídeo que está disponível no material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Referências AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. Porto Alegre: Globo, 1984. BOBBIO, Norberto. Estado, Governo e Sociedade: por uma teoria geral e política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. GOMES, F. G. Conflito Social e Welfare State: Estado e desenvolvimento social no Brasil. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, mar./ abr. 2006. v. 40, n.2, p.201-234. MALUF, Sahid. Teoria Geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 2003 QUEIROZ, Roosevelt Brasil. Formação e Gestão de Políticas Públicas. Curitiba: Intersaberes, 2013. ESPING-ANDERSEN, Gosta. O Futuro do Welfare State na Nova Ordem Mundial. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ln/n35/a04n35.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2016.
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