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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DAS ÁGUAS BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DAS ÁGUAS JANAINA DOS SANTOS MENDES EMMILAYNNE DOS SANTOS PIMENTEL ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA GESTÃO DE RISCOS DE EVENTOS HIDROLÓGICOS ASSOCIADOS COM IGARAPÉS URBANOS EM SANTARÉM, PARÁ SANTARÉM-PA 2021 JANAINA DOS SANTOS MENDES EMMILAYNNE DOS SANTOS PIMENTEL ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA GESTÃO DE RISCOS DE EVENTOS HIDROLÓGICOS ASSOCIADOS COM IGARAPÉS URBANOS EM SANTARÉM, PARÁ Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Bacharelado Interdisciplinar em Ciências e Tecnologia das Águas, para obtenção de grau de Bacharela em Ciências e Tecnologia das Águas: Universidade Federal do Oeste do Pará, Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas. Orientador: João Paulo Soares de Cortes SANTARÉM – PA 2021 JANAINA DOS SANTOS MENDES EMMILAYNNE DOS SANTOS PIMENTEL ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA GESTÃO RISCOS DE EVENTOS HIDROLÓGICOS ASSOCIADOS COM IGARAPÉS URBANOS EM SANTARÉM, PARÁ Trabalho apresentado ao curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciências e Tecnologia das Águas, para a obtenção do grau de Bacharela em Interdisciplinar em Ciências e Tecnologia das Águas: Universidade Federal do Oeste do Pará, Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas. Conceito: Aprovadas Data de aprovação: 26/08/2021 __________________________ Dr. João Paulo Soares de Cortes – Orientador Universidade Federal do Oeste do Pará _________________________ Dra. Leidiane Leão de Oliveira Universidade Federal do Oeste do Pará _________________________ Dr. Bruno Zucherato Universidade Federal de Mato Grosso À minha família e ao meu noivo. Dedico. (Janaina dos Santos Mendes) AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, que me deu forças para me manter e continuar, mesmo quando tudo parecia muito difícil e distante. À minha família, especialmente minha mãe, pelo incentivo aos estudos nas horas difíceis e por não deixar que eu desistisse de tudo. Aos meus amigos que não me deixaram ser vencida pelo cansaço. À Emmilaynne, pela parceria e paciência durante toda a elaboração do trabalho. Ao meu noivo Lucas Rodrigues, meu grande incentivador e que sempre esteve por perto para me ajudar durante a elaboração do trabalho. Obrigada pelos chocolates antiestresse e por ouvir minhas várias lamentações quase que diárias. Ao meu orientador, Dr. João Paulo, por todos os ensinamentos repassados e pela sua paciência, confiança e incansável dedicação. Ao Coordenador Municipal da Defesa Civil Darlison Rêgo Maia, por coordenar e executar ações relacionadas a riscos e desastres em Santarém. Aos discentes Gilvana Barbosa Soares, Jorge Williams Sousa dos Santos, Mábia Barros dos Santos e Rayssa Amorim as Silva (Gestão Ambiental – UFOPA) por nos disponibilizarem os relatórios de atendimentos da Defesa Civil. Á FAPESPA (Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará) pela concessão da bolsa de iniciação científica que é uma das sementes deste trabalho. À UFOPA, por me proporcionar um ambiente agradável e motivador para os estudos, e aos professores que contribuíram com minha trajetória acadêmica. A todos, meu muito obrigada. Janaina dos Santos Mendes Dedico este importante trabalho à minhas avós Maria José Campos Santos e Raimunda Teresinha Santos Pimentel, mulheres honradas e guerreiras que sempre me apoiaram em todos os meus objetivos. (Emmilaynne dos Santos Pimentel) AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus que com sua graça nos permitiu chegar até aqui e por nunca ter me permitido desistir diante de inúmeras dificuldades, me proporcionando conhecer pessoas maravilhosas durante essa jornada acadêmica. Sou imensamente grata a minha mãe Conceição Pimentel dos Santos Pimentel por ter se dedicado tanto para que nunca me faltasse nada, saiba que seu esforço valeu a pena. Ao meu padrasto, que na minha jornada acadêmica se fez presente como pai e sempre me ajudou com o maior carinho do mundo. Á minha tia Anunciação Campos Santos e Minha avó materna Maria José Campos dos Santos que foram as maiores incentivadoras nessa caminhada. Agradeço também ao meu esposo Bruno dos Santos Saraiva, por sempre me apoiar, me incentivar e nunca me deixa desistir. Meu eterno e infinito amor, meu filho Rafael Pimentel Saraiva, todo esse esforço é para você, minha companhia nas aulas meu motivo maior de nunca desistir, você foi é e minha base e minha ancora para conseguir me manter de pé todos os dias, tudo isso filho é por você. Á Andressa por ter disponibilizado tempo e atenção, além de apoio e incentivo para meu processo criativo neste trabalho. Sou grata a todas as pessoas da minha turma (BICTA2018N1), em especial ao meu amigo Iago Russuel, e minha parceira deste trabalho, Janaina Mendes, que com sua incansável dedicação colaborou para que o trabalho saísse com perfeição. Ao meu orientador, Prof°. João Paulo pelas horas dedicadas a nos orientar neste trabalho. Ao Coordenador da Defesa Civil Darlison Rêgo Maia, por manter abertas as portas da COOMDEC a área de estudos de riscos em Santarém. Aos discentes Gilvana Barbosa Soares, Jorge Williams Sousa dos Santos, Mábia Barros dos Santos e Rayssa Amorim as Silva (Gestão Ambiental – UFOPA) por nos disponibilizarem os relatórios de atendimentos da Defesa Civil. De modo geral, meus sinceros agradecimentos a todos os amigos e companheiros, que participaram de forma direta ou indireta nessa importante fase de minha vida e carreira acadêmica. Emmilaynne dos Santos Pimentel “O difícil não é a escolha, e sim o convívio. Tudo depende do seu nível de vulnerabilidade, tudo depende do seu estágio de acomodação... ou de ‘acostumação’?” (Giovana Savieto) https://www.pensador.com/autor/giovana_savieto/ RESUMO Os riscos ambientais ocorrem em áreas suscetíveis a danos iminentes à população urbana, fazendo com que o meio ambiente sofra grandes modificações por ações antrópicas, que decorre da geração de riscos e desastres naturais próximos a rios urbanos. A partir da segunda metade do século XX, o Município de Santarém - PA sofre com problemas de riscos e desastres hidrológicos no período do inverno amazônico, que causam incidentes, danos materiais e algumas vezes vítimas. Desse modo, o objetivo do estudo foi identificar e analisar ocorrências de alagamento e enxurrada associados a eventos de precipitação próximos a igarapés urbanos, no Município de Santarém/Pará. Para isto, o presente estudo identificou áreas prioritárias para gestão de risco hidrológico, através de ferramenta de geoprocessamento e utilizando dados pluviométricos. Foram elaborados mapas contendo informações de aglomerados subnormais, Buffer e os pontos de localização de ocorrências registrados pela Defesa Civil. Em relação aos eventos de alagamento e enxurradas, foram identificadas áreas críticas, principalmente as dentro de aglomerados subnormais. Palavras-chaves: Pluviosidade. Alagamento. Enxurrada. Áreas de risco. ABSTRACT Environmental risks occur in areas susceptible to imminent damage to the urban population causing the environment to change due to anthropic actions from the generation of hazardsand natural disasters close to urban rivers. By the second half of the 20th Century, the city of Santarém suffers from problems of risks and hydrological disasters in the winter period, which cause accidents, material damage, and sometimes victims. This study identified and analyzed the frequency of flooding and runoff associated with precipitation events near urban streams. Additionally, presenting hydrological risk management areas using geoprocessing tools with rainfall data. This paper presents maps containing subnormal clusters, buffers, and the location points of occurrences registered by the Civil Defense. Critical areas in flooding events were detected, mainly those within subnormal agglomerates. Keywords: Rainfall. Flooding. Flash flood. Risk areas. LISTA DE ILUSTRAÇÃO Mapa 1 - Localização da área de estudo. ................................................................. 16 Mapa 2 - Localização das áreas e dos aglomerados subnormais, com os respectivos eventos de alagamento e enxurrada. Áreas: (1) Baixo Urumari; (2) Santo André; (3) Nova República; (4) Floresta; (5) Baixo Irurá; (6) Igarapé do Juá. ............................ 19 Mapa 3 - Localização e caracterização da Área 1. .................................................... 20 Mapa 4 – Localização e caracterização da Área 2. ................................................... 21 Figura 1 - Cratera na Rua São João (Bairro Diamantino) em Santarém-PA no ano de 2015............................................................................................................................22 Mapa 5 - Localização e caracterização da Área 3. .................................................... 23 Mapa 6 - Localização e caracterização da Área 4. .................................................... 25 Mapa 7 - Localização e caracterização da Área 5. .................................................... 26 Figura 2 - Enxurrada na Avenida Tomé de Sousa (bairro Santarenzinho) em Santarém/PA no ano de 2018. .................................................................................. 28 Mapa 8 – Localização e caracterização da Área 6. ................................................... 29 Figura 3 - Alagamento de ruas (Residencial Salvação) em Santarém/PA no ano de 2017. ......................................................................................................................... 30 Quadro 1 - Ocorrências de alagamento registradas pela Defesa Civil. AC - Acúmulo de chuvas; Áreas: (1) Baixo Urumari; (2) Santo André; (3) Nova República; (4) Floresta; (5) Baixo Irurá; (6) Igarapé do Juá.............................................................. 31 Quadro 2 - Ocorrências de enxurradas registradas pela Defesa Civil. AC - Acúmulo de chuvas; Áreas: (1) Baixo Urumari; (2) Santo André; (3) Nova República; (4) Floresta; (5) Baixo Irurá; (6) Igarapé do Juá. ........................................................................... 33 LISTA DE SIGLAS APA Área de Proteção Ambiental CEMADEN Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais COMDEC Coordenadoria Municipal de Defesa Civil IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INMET Instituto Nacional de Meteorologia ITU Índice Topográfico de Umidade NOAA National Oceanic and Atmospheric Administration UC Unidade de Conservação SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 14 2.1 Geral ................................................................................................................... 14 2.2 Específicos ........................................................................................................ 14 3 METODOLOGIA .................................................................................................... 15 3.1 Caracterização da Área de Estudo .................................................................. 15 3.2 Caracterização Pluvial ...................................................................................... 17 3.3 Delimitação das áreas e registro de ocorrências ........................................... 17 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 18 4.1 Áreas prioritárias para gestão de riscos hidrológicos associados aos igarapés urbanos .................................................................................................... 18 4.1.1 Área 1 – Baixo Urumari .................................................................................... 20 4.1.2 Área 2 – Santo André ....................................................................................... 21 4.1.3 Área 3 – Nova República.................................................................................. 23 4.1.4 Área 4 – Floresta .............................................................................................. 24 4.1.5 Área 5 – Baixo Irurá ......................................................................................... 26 4.1.6 Área 6 – Igarapé do Juá ................................................................................... 28 4.2 Registro de ocorrência de eventos .................................................................. 31 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 35 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 37 ANEXOS .......................................................................... Erro! Indicador não definido. 13 1 INTRODUÇÃO A partir da segunda metade do século XX, o processo de urbanização ocorre de forma intensa e acentuada em cidades brasileiras, que promovem aglomerados urbanos e incentivam a especulação imobiliária e ocupações em áreas inadequadas (MENDES; OLIVEIRA, 2010). Esse processo de expansão pode ser analisado por diversas perspectivas, como por exemplo, a demográfica e a ambiental. Os aglomerados subnormais são constituídos de unidades habitacionais carentes, em sua maioria, de serviços públicos essenciais, como coleta de lixo e esgoto, abastecimento de água, e fornecimento de energia elétrica (SILVA, 2014). Essas áreas, são carentes de infraestrutura e muitas vezes impróprias, mas uma parcela da população, devido à necessidade de moradia, habita esses espaços menos valorizados (IBGE, 2010). O crescimento destes aglomerados constitui-se em uma dinâmica complexa, pois, a população que vive nessas áreas está exposta a riscos de desastres naturais, pelo fato de o território não possuir infraestrutura adequada (NASCIMENTO, 2009). A população localizada nesses aglomerados enfrenta problemas e dificuldades, considerando o contexto de desigualdade social dos ambientes, em que as áreas de margens de rios são alternativas de acesso à moradia (ALMEIDA, 2012). A população que reside em áreas de risco, está exposta a eventos hidrológicos críticos como enxurradas e alagamentos, intensificados por atividades antrópicas (MENDONÇA; LEITÃO, 2008; CAMELLO et al. 2009; COUTINHO et al. 2017). De acordo com o glossário da Defesa Civil (1998), enxurrada é o “volume de água que escoa na superfície do terreno, com grande velocidade, resultante de fortes chuvas”, e o alagamento é a “água acumulada no leito das ruas e no perímetro urbano por fortes precipitações pluviométricas, em cidades com sistemas de drenagem deficientes”. A urbanização desordenada amplia as consequências dos desastres naturais, uma vez que aumenta a exposição da população. Esses desastres podem se tornar mais frequentes em virtude das formasde ocupação de território. A problemática ligada às áreas de risco se insere no processo de transformação urbana (SILVA; BRAGA, 2016). De acordo com Carvalho (2006), no Brasil os riscos mais recorrentes aos desastres naturais ocorrem próximos a cursos d’água devido à relação com a dinâmica pluvial e fluvial. Tendo em consideração as proporções dos riscos a 14 desastres, os eventos de riscos possuem características similares no que diz respeito à previsibilidade dos índices de precipitação que os ocasionam (OLIVEIRA, 2017). A ocorrência de eventos hidrológicos extremos na região Amazônica tem se tornado mais recorrente e intensa tanto em áreas urbanas como em rurais, com variabilidade sazonal com duas estações distintas e definidas, com período de maior e outro de menor precipitação (TOMASELLA et al. 2013; SATYAMURTY et al. 2013; SZLAFSZTEIN, 2012). O Município de Santarém-PA, é um exemplo de como o processo de expansão urbana pode estar associado ao aumento dos riscos e desastres socioambientais. Segundo a estimativa do IBGE (2010) no Município existiam naquele ano 233 domicílios em risco e uma população exposta de 986 habitantes (IBGE, 2010). Trabalhos associados com a temática de riscos no Município, no entanto, (DOURADO et al. 2017; GONÇALVES et al. 2012; SILVA; BRAGA, 2016; ANDRADE; SZLAFSZTEIN, 2015) deixam claro que esta estimativa é bastante subdimensionada. O mapeamento de áreas de risco é uma ferramenta essencial para a gestão dos desastres naturais, que objetivam a prevenção e o planejamento de ações para minimizar ameaças futuras (OLIVEIRA, 2017). Os estudos sobre áreas de risco ainda são um desafio, tendo em vista que a manifestação do risco e a distribuição da vulnerabilidade são o resultado da combinação de diferentes condições ambientais, sociais e econômicas (ZUCHERATO, 2018). 2 OBJETIVOS 2.1 Geral O objetivo do estudo foi identificar e analisar ocorrências de alagamentos e enxurradas associadas a eventos de precipitação pluvial no entorno dos igarapés urbanos, no Município de Santarém - Pará. 2.2 Específicos 15 • Mapear as ocorrências de eventos hidrológicos na malha urbana de Santarém; • Avaliar áreas a partir das suas características físicas e socioespaciais inerentes ao processo de urbanização; • Conhecer a dinâmica pluviométrica local, com foco na variabilidade da precipitação associada às ocorrências dos eventos hidrológicos. 3 METODOLOGIA 3.1 Caracterização da Área de Estudo O estudo foi realizado na cidade de Santarém, localizada na região Oeste do Estado do Pará, com área de 22.887.080 km². Santarém é o Município mais populoso da mesorregião do Baixo Amazonas e o terceiro mais populoso do estado (PEREIRA, 2004). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2018), a população do Município foi estimada em 302.667 habitantes. De acordo com o Mapa 1, Santarém além de estar caracterizada por duas estações automáticas, também apresenta três igarapés urbanos (Irurá, Juá e Urumari). Igarapés corpos d’água estreitos e pequenos que podem ser encontrados de águas brancas, águas claras e águas pretas que provêm de áreas com solos arenosos (SIOLI, 1991). 16 Mapa 1 - Localização da área de estudo. Fonte: Autoras (2021) A ocupação da cidade está associada à foz do rio Tapajós, um dos mais importantes afluentes da margem direita do rio Amazonas, e é uma região de rápido crescimento em função da importância da convergência entre as hidrovias Amazonas e Tapajós e do desenvolvimento de atividades extrativistas diversas (AGUIAR, 2017). O clima da região é classificado como Ami no sistema Köppen, ou seja, tropical úmido com variação térmica anual inferior a 5 °C (ALVARES et al. 2013). Apresenta o inverno amazônico com uma estação chuvosa entre os meses de dezembro a maio caracterizada por precipitação média mensal acima de 200 mm e uma seca (menos chuvosa) nos meses de julho a novembro, com precipitação média mensal inferior à 100 mm (IBGE, 2019). Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia – INMET (2015), a região apresenta regime pluviométrico médio de aproximadamente 1.920 mm por ano com temperatura média anual de 25 °C, e a umidade relativa média do ar variando em torno de 85%. 17 O Município está situado na Bacia Sedimentar do Amazonas, nos domínios da Formação Alter-do-Chão, que ocupa cerca de 70% da área municipal. Essa Formação é constituída por clásticos continentais, representados por arenitos caulínicos, finos a grossos, às vezes com níveis conglomeráticos. Intercaladas na sequência arenosa, ocorrem camadas argilosas, geralmente pouco consolidadas, às vezes com lentes de arenito friável (OLIVEIRA et al. 2000). Uma das características deste substrato geológico mais importantes para este trabalho, é justamente sua alta friabilidade, uma vez que se trata de um material recente e pouco consolidado. 3.2 Caracterização Pluvial Foram selecionadas duas estações automáticas localizadas nos bairros Matinha (-2°28'6.86"S e -54°44'13.60"O) e Mapiri (-2°25'41.18"S e -54°44'22.60"O) (Figura 1), obtendo-se os dados diários, mensais e anuais de precipitação pluvial do período de estudo de 2018 a 2020, coletados do banco de dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – CEMADEN. As estações hidrológicas são instaladas e monitoradas em Municípios situados em bacias que possuem rápido tempo de resposta e com alta densidade populacional (CEMADEN, 2014). As informações foram fornecidas de forma diária com registros a cada 10 minutos e estão disponíveis através do endereço eletrônico (http://www2.cemaden.gov.br/mapainterativo/#). Os totais anuais, mensais e diários para estas estações foram calculados a partir dos dados originais disponibilizados pelo CEMADEN. 3.3 Delimitação das áreas e registro de ocorrências Para identificaras áreas de risco, foram analisados os relatórios de atendimentos de riscos e desastres da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil - COMDEC, referentes aos anos de 2018, 2019 e 2020. Os relatórios contêm informações sobre eventos de risco de desastres naturais que acontecem no Município, com suas respectivas localidades de ocorrência. Estes relatórios são preenchidos pelos agentes da COMDEC após cada atendimento e contêm informações sobre eventos e riscos de desastres, naturais ou não, com indicação da 18 data, local e especificidades de cada ocorrência (Anexo 1). Os relatórios foram disponibilizados para consulta pela coordenação da COMDEC para uso didático dentro da disciplina Avaliação de Riscos Ambientais, do curso de Bacharelado em Gestão Ambiental da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA. Os dados contidos nos relatórios físicos foram tabelados, e foram selecionados os eventos relacionados a alagamentos e enxurradas. Os endereços dos atendimentos foram localizados a partir da ferramenta Google Earth e gerada uma camada vetorial de ocorrências para os anos selecionados. Para delimitação da área de influência dos igarapés urbanos, foi gerado um arquivo com buffer de 500 metros a partir do shapefile de hidrografia do IBGE, de modo a representar a calha principal dos igarapés do Urumari, Irurá e Juá. O conjunto de dados final foi composto pelos eventos hidrológicos (enxurrada e alagamento) registrados dentro da área de buffer de 250 metros a partir da calha dos trechos urbanizados dos referidos igarapés (Anexo 2). Adicionalmente, foram consideradas as áreas de aglomerados subnormais a partir do shapefile disponibilizado pelo IBGE referente ao ano de 2010. Após a identificação do local de cada evento, cada caso foi relacionado com a precipitação pluvial, tornando possível observar a quantidade de precipitação acumulada nas últimas 48 horas do ocorrido, contadas a partir do dia registrado pela COMDEC. Os dados de precipitaçãopluvial foram tabelados e realizada estatística descritiva, calculado o acúmulo de chuvas diários, mensais e anuais do período de estudo. Para a análise dos dados e elaboração dos mapas, foi utilizado o software Qgis 2.18. 4 RESULTADOS 4.1 Áreas prioritárias para gestão de riscos hidrológicos associados aos igarapés urbanos As áreas identificadas por possuírem o maior número de eventos registrados pela COMDEC nas proximidades de igarapés na cidade de Santarém foram; Baixo Urumari; Santo André; Nova República; Floresta; Baixo Irurá e Igarapé do Juá (Mapa 2). 19 Mapa 2 - Localização das áreas e dos aglomerados subnormais, com os respectivos eventos de alagamento e enxurrada. Áreas: (1) Baixo Urumari; (2) Santo André; (3) Nova República; (4) Floresta; (5) Baixo Irurá; (6) Igarapé do Juá. Fonte: Autoras (2021). A área do Baixo Urumari, da Nova República e do Igarapé do Juá estão localizadas próximas a aglomerados subnormais. A área do Santo André e da Floresta estão situadas dentro de um aglomerado, enquanto o Baixo Irurá engloba uma área de aglomerado em sua totalidade. O crescimento urbano em áreas mais suscetíveis à inundação, como as margens de igarapés, aumenta as superfícies impermeáveis que reduzem a infiltração da água da chuva e aumenta as vazões superficiais para além da capacidade dos sistemas naturais de drenagem (PEREIRA, 2019). Ademais, incluem-se nesses impactos a possibilidade de ocorrências posteriores ao período chuvoso, que deixam sequelas nas regiões afetadas, tornando- se mais suscetíveis às intempéries menos intensas. Fatores associados são a degradação natural e antrópica dos solos, os baixos índices de conservação ambiental, construções em terrenos inaptos e poucas iniciativas pelos órgãos públicos como forma de mitigar os riscos das áreas mais impactadas e vulneráveis. 20 4.1.1 Área 1 – Baixo Urumari A área abrange os bairros São José Operário, Uruará e Área Verde, entre as ruas São Vicente e a Alameda Transmaicá, com eventos predominantes é de alagamentos com 10 ocorrências registradas na área (Mapa 3). Um fator que agrava o potencial de danos nesta área é a existência de moradias construídas abaixo do nível da rua (SILVA, 2014). Mapa 3 - Localização e caracterização da Área 1. Fonte: Autoras (2021) No ano de 2018, a água encobriu uma estrutura de madeira que passava sobre o Igarapé do Urumari durante uma forte chuva (G1 SANTARÉM, 2018). Em 2019 houve duas ocorrências, em 2020 quatro ocorrências, três das quais caracterizadas pela presença de danos materiais. Os danos ocasionados por eventos hidrológicos muitas vezes são incalculáveis, pois a os desastres causam danos intensivos e extensivos, ou seja, no momento e após a ocorrência do mesmo (CANHOLI, 2005). 21 O relevo tendendo a plano nas mediações deste igarapé facilita a ocupação das imediações do curso d’água (SANTIAGO, 2019), o que aumenta a exposição da população a eventos hidrológicos. Por ter a área de sua bacia altamente urbanizada, especialmente no baixo trecho, este corpo hídrico se torna suscetível a variações pluviométricas, pois em precipitações intensas toda a água proveniente dos bairros nas redondezas segue este caminho do igarapé, que gera transtornos para a população próxima (SANTIAGO, 2019). 4.1.2 Área 2 – Santo André A área abrange os bairros Santo André, Urumari e Diamantino, entre Travessa Soares Dutra e Avenida Curuá-Una, e apresenta como eventos predominantes as enxurradas, com registro de sete eventos dentro do período de estudo (Mapa 4). Mapa 4 – Localização e caracterização da Área 2. Fonte: Autoras (2021) Em 2018 as fortes chuvas, propiciaram grandes enxurradas nas ruas do bairro Diamantino, que carregaram grandes quantidades de areia para a Avenida Curuá- Una, o que ocasionou o entupimento dos bueiros. Este processo causou 22 transbordamento devido à ineficiência do sistema de drenagem o que gerou intrafegabilidade em diversos pontos. Os eventos de precipitação nessa área geraram casos de alagamentos em 2019 e 2020, com registro de duas ocorrências deste evento em cada ano. O processo de expansão urbana em Santarém não é acompanhado do avanço proporcional do serviço público de infraestrutura básica, o que gera problemas como alagamentos, inundações e enxurradas (RODRIGUES; BLANCO, 2018). Nesta área, a vegetação se encontra fortemente degradada devido a ações antrópicas (PIMENTEL, et. al., 2014). As condições precárias dos equipamentos públicos nesta área podem ser ilustradas pela entrevista concedida ao jornal local (G1 SANTARÉM, 2015), na qual um morador do bairro Diamantino relata a abertura de crateras nas ruas do bairro ocasionadas por enxurradas após fortes chuvas (Figura 1). Essa cratera se caracteriza como uma subsistência do solo, se configurando como uma consequência decorrente de alagamentos e enxurradas. Figura 1 - Cratera na Rua São João (Bairro Diamantino) em Santarém-PA no ano de 2015. Fonte: G1 Santarém, 2015. Foto: Ivilásio Lima. 23 Pela proximidade com o igarapé do Urumari, esta área fica bastante suscetível e exposta a riscos de desastres devido à falta de planejamento adequado. Este fator, quando associado a eventos pluviométricos extremos/intensos resulta em ocorrências de eventos e desastres evidenciados em muitos pontos da Área do Santo André (2). 4.1.3 Área 3 – Nova República A área abrange os bairros Nova República, Vitória Régia, Ipanema, Bela Vista e Cambuquira, entre as ruas Travessa 23, Rua Iguaçu e Travessa 06. Assim como na área do Baixo Urumari (1) foram as segundas áreas mais afetadas pelas enxurradas e alagamentos e apresentaram o mesmo número de ocorrências durante os anos estudados (11 ocorrências). Mapa 5 - Localização e caracterização da Área 3. Fonte: Autoras (2021) O igarapé do Irurá é fortemente impactado pelo grande volume de sedimentos transportados pelas enxurradas, fazendo com que ele fique assoreado (SILVA et. al., 2019). Apesar de ser um processo natural, o assoreamento é intensificado pelas 24 ações antrópicas (MARCONDES, 2011), fato comprovado pela intensificação da urbanização na parte alta da bacia (Mapa 5). O tipo de evento predominante na área é o alagamento, que apresenta oito ocorrências, durante período. Em 2019, um alagamento provocou intrafegabilidade no bairro da Nova República. Os casos de enxurradas foram quatro, uma em 2018, duas em 2019 e uma em 2020. Segundo o site G1 Santarém (2014), um evento deixou diversas ruas alagadas e com intrafegabilidade no bairro da Nova República. Essa situação se repetiu em 2019, quando ruas, casas e comércios acabaram atingidos por alagamentos que, de acordo com relato de moradores, são muito recorrentes (O LIBERAL, 2019). Em 2019, houve quatro ocorrências com danos materiais associados, uma por enxurrada e três por alagamentos. De acordo com o site G1 Santarém, no ano de 2018 houve uma ação de entrega de kits de sobrevivência no bairro Vitória Régia. Essa ação ocorreu, pois no mesmo ano a localidade teve várias perdas materiais devido às chuvas fortes que desencadeiam alagamentos. Os kits foram entregues para famílias específicas, de acordo com levantamento prévio feito pela COMDEC. 4.1.4 Área 4 – Floresta A área compreende os bairros da Matinha e Floresta, localizada entre as ruas Travessa Paraná, Rua Iracema e Travessa Tapoã, e tem como principal acesso a Br- 163 Assim como a do Santo André (2) esta área está localizada dentro de dois aglomerados subnormais, entretanto apresentaram número de ocorrência menores, quando comparada às demais áreas (Mapa 6). 25 Mapa 6 - Localização e caracterização da Área 4. Fonte: Autoras (2021) O evento na área predominantemente é a enxurrada. O bairro da Matinha se destaca com quatro ocorrências desse fenômenoe um evento é de alagamento. Em seguida, tem se os registros do bairro da Floresta, que são dois casos de enxurradas e um de alagamento. O total de eventos da área são 10 e todos estão dentro de aglomerados subnormais. Além da proximidade entre os eventos, é notável também a frequência destes nos anos de 2018 e 2020, com cinco e quatro ocorrências, respectivamente. De acordo com o site O Estado Net (2014), apesar de vários alertas realizados pela COMDEC, muitas famílias ainda continuam morando em áreas determinadas de risco no bairro da Matinha. Por serem áreas monitoradas pela COMDEC, são comuns as chamadas de emergências por alagamentos e enxurradas nestes locais. Segundo dados da COMDEC, entre os bairros mais afetados por desastres na cidade no ano de 2018, encontra-se o bairro da Matinha com alta vulnerabilidade de riscos hidrológicos (ANDRADE; SZLAFSZTEIN, 2015) além de eventos de movimentos de massa associados. 26 4.1.5 Área 5 – Baixo Irurá Os eventos da área ocorrem nos bairros do Santarenzinho, Maracanã, Mapiri e Caranazal. Área está localizada entre as ruas Silvério Sirotheau Corrêa, Travessa A e Tomé de Souza, que tem por principal via de acesso à Avenida Fernando Guilhon. Os eventos registrados na área são divididos entre 22 ocorrências, 11 para cada tipo de evento (Mapa 7). Mapa 7 - Localização e caracterização da Área 5. Fonte: Autoras (2021) Em 2018 houve 12 ocorrências, seis para alagamento e seis para enxurrada. Em 2019, cinco ocorrências para enxurradas e quatro ocorrências de alagamento. Em 2020, apenas uma ocorrência que corresponde a eventos de enxurrada. Destaca-se que está área engloba um aglomerado subnormal e todos os casos registrados ocorreram nele. Este pode ser um fator que faz a área do Baixo Irurá ser mais vulnerável a enchentes e enxurradas, mesmo com eventos pluviométricos de menor intensidade. 27 Ao se avaliar os resultados, também deve se considerar outros fatores de influenciam na ocorrência dos eventos, como o relevo (declividade). Almeida (2020), em estudo para investigar a influência da drenagem superficial de águas pluviais na infraestrutura das vias do Município de Santarém, relata que os maiores números de registros de alagamentos ocorrem em áreas mais planas, com maior Índice Topográfico de Umidade (ITU). Estas áreas correspondem a áreas localizadas nos bairros Maracanã e Santarenzinho (área 5), resultados de corroboram com esse estudo. De maneira geral, as ocorrências registradas neste estudo estão associadas a níveis de precipitação variados, com eventos iniciados mesmo após baixos acumulados em 48h, até grandes eventos pluviométricos, e as condições de infraestrutura das áreas, que inclui a presença de aglomerados subnormais e áreas com urbanização intensa e deficiência nos sistemas de drenagem. No bairro Santarenzinho, o aterramento de uma das ruas gerou transtornos para os moradores próximo à via enquanto durou uma chuva forte, que ocasionou alagamento de residências associado com a ausência de drenagem urbana adequada (G1 SANTARÉM, 2019) No ano de 2021, os condutores tiveram muita dificuldade para trafegar pelas ruas do mesmo bairro (Santarenzinho) devido a força da enxurrada e a água acabou encobrindo a rua (G1 SANTARÉM, 2021) (Figura 2). 28 Figura 2 - Enxurrada na Avenida Tomé de Sousa (bairro Santarenzinho) em Santarém/PA no ano de 2018. Fonte: G1 Santarém. Foto: Reprodução/Redes Sociais. 4.1.6 Área 6 – Igarapé do Juá A área do Igarapé do Juá (6) foi o local teve menor registro de casos. Esta é uma área recém ocupada, que está em processo de crescimento, possui pouca pavimentação e áreas vegetadas, que faz com que o local possua áreas mais permeáveis sujeitas ao melhor escoamento. A urbanização favorece a impermeabilização do solo e as práticas de engenharia não tendem a reduzir a vazão do escoamento que desagua nos corpos hídricos (NAVES; ALMEIDA, 2021). Desta forma, a área do Juá por não ser uma área muito urbanizada, pode possuir áreas mais permeáveis (Mapa 8). 29 Mapa 8 – Localização e caracterização da Área 6. Fonte: Autoras (2021) O estudo de Cardoso et al. (2017) compara imagens da área entre os anos de 2002, 2009, 2014 e 2017, de forma a perceber as mudanças no uso do solo associadas com a construção de residências, comércios e loteamentos. Rocha et al. (2020) relata que as obras de empreendimentos imobiliários implantados próximos a este local são os principais responsáveis pelos impactos gerados na área, através da retirada da cobertura vegetal próxima ao igarapé do Juá, de modo a enfatizar a falta e/ou ineficiência de planejamento ambiental. Por se tratar de uma expansão urbana espontânea, a Ocupação Vista Alegre do Juá não apresenta serviços públicos de infraestrutura e de saneamento básico (CARDOSO et al. 2017). Associado ao igarapé, temos o lago do Juá, que quando está no período de cheia fica caracterizado como ambiente de várzea (ALVES, 2018), e segundo Coutinho e Pires (1997), isso ocorre devido sofrer inundação todos os anos durante o período chuvoso da região (COUTINHO; PIRES, 1997). Ao longo da Rodovia encontra-se a Área de Proteção Ambiental (APA) do Juá. APA é uma categoria de Unidade de Conservação (UC) implementada na década de 1980, com base na Lei Federal nº 6.902, de 27 de abril de 1981. A Prefeitura Municipal 30 de Santarém criou em 28 de dezembro de 2012, a Lei nº 19.206, que estabelece a APA do Juá (ALVES, 2018). A Ocupação Vista Alegre do Juá tem um histórico de eventos semelhantes desde 2017, ano em que uma chuva forte causou imenso transtorno entre os moradores e motoristas que tentavam trafegar no local. Outro tipo de problema constante é o alagamento do Residencial Salvação, projeto do Governo Federal do programa Minha Casa Minha Vida. Os alagamentos no residencial (Figura 3) são provocados porque o conjunto foi construído em uma área baixa da cidade. Segundo o Secretário de Infraestrutura, quando o projeto de tal conjunto foi elaborado não foram levadas em consideração enxurradas que descendem de bairros vizinhos e alagam as áreas mais baixas (G1 SANTARÉM, 2017). Figura 3 - Alagamento de ruas (Residencial Salvação) em Santarém/PA no ano de 2017. Fonte: G1 Santarém, 2017. Foto: Reprodução/ TV Tapajós. Devido a posição topográfica inferior, a Ocupação Vista Alegre do Juá sofre as consequências de um sistema deficitário de drenagem dos bairros à montante, e o material sedimentar proveniente do Residencial Salvação atinge a Ocupação Vista 31 Alegre do Juá e compromete tanto os moradores quanto o igarapé e o lago do Juá. Como consequência, ocorre o processo de assoreamento em ambos os corpos d’água. Iniciada em 2009, esta ocupação deixa evidentes elementos muito comuns à expansão urbana na Amazônia brasileira, como a dificuldade de regularização fundiária e a diminuição da qualidade ambiental da área após o processo de ocupação (MENDES; DE CORTES, 2021, no prelo). Com base em um levantamento bibliográfico sobre estudos dos rios urbanos na cidade verificou que apesar da área possuir uma recente expansão urbana, o número de pesquisas no local é maior comparativamente a estudos nos demais igarapés urbanos da cidade. Os temas de Impactos ambientais, qualidade da água e expansão urbana foram identificados como os mais recorrentes em termos de publicações relacionadas com igarapés urbanos na cidade de Santarém (MENDES; DE CORTES, 2021, no prelo). 4.2 Registro de ocorrência de eventos No Quadro 2 estão apresentadas as ocorrências de alagamento registradas pela COMDEC, com o volume acumulado de chuvas registrados em 48h do ocorrido evento. Os dados pluviométricos das áreas 1, 2, 3 e 4 foram coletados da estação da Matinha, enquanto os das áreas 5 e 6 da estação do Mapiri, devido a maior proximidade destas com asáreas de risco. Quadro 1 - Ocorrências de alagamento registradas pela Defesa Civil. AC - Acúmulo de chuvas; Áreas: (1) Baixo Urumari; (2) Santo André; (3) Nova República; (4) Floresta; (5) Baixo Irurá; (6) Igarapé do Juá. Eventos de Alagamento Ano Data de ocorrência Área Matinha Mapiri AC (mm) AC (mm) 2018 04/01 3 0 0 28/01 5 49.0 33.0 19/02 3, 5 33.6 53.0 22/02 1, 5 119.2 135.4 23/02 4 18.6 18.4 01/03 1, 2, 3, 4 96.4 97.4 32 12/07 5 9.6 25.4 13/07 5 49.8 26.6 12/09 1, 6 29.8 56.6 04/12 1, 2 30.4 20.2 2019 07/02 5 129.4 138.2 09/03 3 41.8 39.6 20/03 1, 5 38.6 99.4 28/03 5 29.2 15.6 29/05 4 39.8 51.6 30/05 2, 3 46.4 53.0 17/04 3 12.2 4.8 26/04 3 20.0 41.8 06/06 3 1.2 0 10/06 3 15.2 1.2 25/06 5 16.4 9.8 26/06 2 0 0 02/08 3 2.0 2.8 04/11 1 104 61.0 2020 02/03 4 108.2 97.6 06/03 6 0 0 27/03 2 0.8 0 30/03 1 22.6 64.4 14/04 1 119.2 181.8 24/04 1, 5 71.0 43.2 07/05 3 17.4 10.2 12/08 2 37.0 21.0 Fonte: Autoras (2021) De acordo com o Anexo 2, no ano de 2018 os alagamentos ocorreram com maior frequência nas áreas do Baixo Urumari (1) e Baixo Irurá (5), com quatro e cinco eventos, respectivamente, entre as 14 ocorrências. Neste ano o maior volume de chuva acumulado foi no mês de fevereiro com 119.2 mm na estação da Matinha e 135.4 mm na estação do Mapiri. A área do Igarapé do Juá apresentou uma ocorrência. 33 Em 2019, registrou-se 13 ocorrências de alagamento, sem nenhum registro na área do Igarapé do Juá (6). Nesta área, o maior volume de chuva acumulado foi no mês de maio com 46.4 mm, com maior frequência de alagamentos na área do Nova República (3), com cinco eventos. A menor quantidade foi de 9 ocorrências de alagamento que ocorreram no ano de 2020. Os alagamentos ocorreram com maior frequência na área do Baixo Urumari (1), seis das nove ocorrências foram registradas nesta área. Neste ano o maior volume de chuva acumulado foi no mês de abril, que acumula 119.2 mm. A área do Igarapé do Juá apresentou apenas uma ocorrência. O menor índice foi de 0.0 mm nos meses de janeiro no ano de 2018, junho em 2019 e março em 2020 em ambas as estações de estudo. No Quadro 3 estão apresentadas as ocorrências de enxurrada registradas pela COMDEC, com os respectivos volumes de chuva acumulados registrado nas 48h do ocorrido evento. Quadro 2 - Ocorrências de enxurradas registradas pela Defesa Civil. AC - Acúmulo de chuvas; Áreas: (1) Baixo Urumari; (2) Santo André; (3) Nova República; (4) Floresta; (5) Baixo Irurá; (6) Igarapé do Juá. Eventos de Enxurrada Ano Data de ocorrência Área Matinha Mapiri AC (mm) AC (mm) 2018 28/01 1, 5 49.0 33.0 19/02 3, 5 33.6 53.0 01/03 1, 2, 3, 4 96.4 97.4 28/03 2 4.6 22.8 22/05 5 41.0 70.4 10/09 5 40.0 21.0 13/09 4 30.4 56.8 27/11 4, 5 42.2 82.4 03/12 2 99.6 63.6 04/12 1, 2 30.4 20.2 2019 08/01 2 4.2 3.2 26/03 5 49.6 46.8 29/03 2 32.8 30.6 34 30/03 5 81.0 83.4 02/04 1 12.2 37.8 07/05 2 1.4 7.6 09/05 5 14.6 24.6 30/05 2, 3 46.4 53.0 10/06 3 15.2 1.2 17/06 5 0 1.8 27/07 5 0 0 2020 07/01 4 8,2 7.4 12/02 4 52.0 68.6 29/02 3 6.6 40.4 24/03 4, 5 37.2 69.6 24/04 5 71.0 43.2 12/06 3 14.6 48.4 Fonte: Autoras (2021) No ano de 2018, o maior volume de chuva acumulada ocorreu no mês de dezembro, com 99.6 mm na estação do Mapiri, fazendo com que na área do Baixo irurá (5) ocorresse a maior frequência (cinco) de ocorrências. Em 2019, registrou-se 12 ocorrências de enxurrada, sem nenhum registro na área do Igarapé do Juá. As enxurradas incidiram com maior frequência na área do Baixo Irurá (5), cinco das ocorrências registradas ocorreram neste local, caracterizado pelo alto volume de chuva acumulada no mês de março, com 83.4 mm. O menor índice foi de 0.0 mm nos meses de junho e julho no ano de 2019 em ambas as estações de estudo. A menor ocorrência de enxurrada foi no ano de 2020, com 7 casos. As enxurradas ocorreram com maior frequência na área da Floresta (4), com três ocorrências registradas. O maior volume de chuva acumulada ocorreu no mês de fevereiro, com 52.0 mm na estação da Matinha. As áreas do Baixo Urumari (1), Santo André (2) e do Igarapé do Juá (6) não apresentaram ocorrências. De forma geral, a área do Baixo Irurá apresentou o maior número de ocorrências (22) durante o período avaliado, Baixo Urumari (11), Nova República (13), Santo André (11), Floresta (10) e Igarapé do Juá (2). Dessa forma, entende-se que os 35 alagamentos estão associados com trechos baixos e as enxurradas com os trechos médios e altos dos igarapés. Os eventos estão associados ao período chuvoso, com concentração nos meses de fevereiro, março e abril, meses de maior precipitação, registrando os maiores números de ocorrências. Os dados indicam uma correlação com os alagamentos devido à similaridade entre as suas origens, provenientes da oscilação pluviométrica e que podem ocorrer em paralelo. Esses dois tipos de eventos se tornam bem mais comuns quando são associados a episódios climatológicos, que acomete cerca de 80% das cidades brasileiras (SILVA et al. 2018). Entretanto, este não é um fator determinante para que uma cause a ocorrência da outra. De modo geral, Andrade e Szlafsztein (2015), listaram alguns bairros de alta vulnerabilidade de inundação, dentre eles o Área Verde (área 1) e Santo André (área 2) em sua totalidade, parte dos bairros Maracanã, Maracanã I e Caranazal localizados na área 5, Matinha (área 4), Nova República (área 3) e Santarenzinho (área 5). O bairro do Mapiri (área 5) e Floresta (área 4) foram considerados de vulnerabilidade moderada. Estes resultados são similares aos encontrados neste estudo, que destaca que a todos os bairros da área do Baixo Irurá (5) foram considerados vulneráveis, no trabalho destes autores. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A frequência dos eventos alagamento e enxurrada, assim como a sua distribuição ao longo do ano, estão relacionados as variações sazonais de precipitação, com maior número ocorrências nos meses de picos de precipitação. A área com maior frequência aos eventos citados é a localizada no Baixo Irurá, com base nos registros de casos da COMDEC. Um agravante destes eventos é o fato de a área ser considerada com um aglomerado subnormal. Por fim, as características topográficas, sociais e ambientais devem ser avaliadas e consideradas para a melhor avaliação dos resultados e para a gestão do risco, sugerindo-se outras ferramentas de estudo como caracterização geomorfológica, levantamento dos solos, da vegetação, levantamentos socioeconômicos, dentre outros para delimitar melhor os fatores de risco. Tais informações são fundamentais para o planejamento de estratégias na gestão dos riscos e na adoção de políticas. É essencial fortalecer as estratégias e atividades a 36 serem realizadas para alerta e preparação para as ocorrências de riscos a desastres na Amazônia. O reconhecimento da importância dos processos de prevenção e preparação para a gestão de riscos deve ser convertido em ações práticas do poder público, no sentido tanto de disciplinar o processo de expansão urbana, quanto de fornecer infraestrutura básica para que ele não aumente a exposição da população a riscos ambientais. Neste sentido os resultados deste estudo podem vir a ajudar na elaboração de planejamentos estratégicos futuros para a melhoria de infraestruturas e do sistema de drenagem. As áreas delimitadas podem servir de base para definição de ações de planejamento urbano e de ações da COMDEC que visem diminuir o número de eventos e mitigar o impacto dos mesmos sobre a população. 37 REFERÊNCIAS AGUIAR, R. S. Análise do regime hidrológico e da disponibilidade hídrica da bacia do Rio Amazonas. Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais), Universidade Federal do Pará - UFOPA, Belém/PA,2017. ALMEIDA, L. Q. 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