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@danie�eferreira._ Comportamento Reprodutivo Seleção Sexual Características sexuais primárias: tem ligação direta com o aparelho reprodutor Características sexuais secundárias: não está ligado diretamente ao aparelho reprodutor (morfológicas, comportamentais, etc) Seleção sexual: vantagem que alguns indivíduos têm sobre outros indivíduos do mesmo sexo e espécie, relacionada unicamente à reprodução. Exemplo: pássaros da família Ptilonorhynchidae (Bowerbirds), em que os machos constroem caramanchões para conquistar a fêmea. Um caramanchão é uma estrutura construída exclusivamente para a cópula. No caso do pássaro-cetim (Ptilonorhynchus violaceus), além de construir o caramanchão, ele coleta objetos azuis na natureza para conquistar a fêmea. Já o “Vogelkop Bowerbird” (Amblyornis inornata) coleta partes de besouros adultos, fungos, flores, frutos, etc e monta um caramanchão extremamente grande para poder conquistar a fêmea. Exemplo: aves-do-paraíso, membros da família Paradisaeidae Nessa família, os machos são extravagantes, tanto na aparência quanto no comportamento. As fêmeas reparam em cada mínimo detalhe para escolher os parceiros. https://pt.wikipedia.org/wiki/Fam%C3%ADlia_(biologia) Em várias espécies, seja de aves ou não, a escolha da fêmea às vezes chega a ser tão drástica que um macho pode não conseguir copular com nenhuma fêmea e outro pode chegar a copular com quase todas. Exemplo: Macaco-narigudo (Nasalis larvatus) Nessa espécie, as fêmeas escolhem seus parceiros com base no tamanho do nariz (quanto maior, melhor). Exemplo: Besouro-Hércules (Dynastes sp.) Os machos possuem cores mais chamativas e a mandíbula é bem maior que a da fêmea, além do tamanho corporal que também é consideravelmente maior. Há casos em que a extravagância do macho atrapalha na sobrevivência. No caso desse besouro, por exemplo, ele mal consegue voar, então, se um predador se aproximar, apenas a fêmea consegue se salvar. O mesmo ocorre nas aves mostradas anteriormente. Nas espécies em que a seleção sexual é drástica e a população é pequena, a variabilidade genética fica muito baixa. Para o indivíduo, essa seleção sexual compensa, mas para a espécie em si nem sempre é vantajoso. Pode haver casos em que não há dimorfismo sexual (diferença na aparência entre o macho e a fêmea), havendo então apenas a diferença comportamental. A principal consequência da seleção sexual é a diminuição da sobrevivência (diferentemente da seleção natural, que é vantajosa para a sobrevivência). Os principais mecanismo são: - investimento parental diferencial - competição por parceiros - competição espermática - escolha de parceiro Exemplo: voltando ao caso dos Bowerbirds Na foto: “Flame Bowerbird” (Sericulus aureus) Já tem muitas evidências de que realmente as fêmeas escolhem os machos que são construtores melhores. Há diferenças explícitas entre os caramanchões construídos pelos machos. A capacidade construtiva demonstra a “qualidade” do macho. Em tese, o caramanchão não tem utilidade nenhuma para a fêmea, mas os machos que constroem melhor têm menos endoparasitos e ectoparasitos. A capacidade construtiva também demonstra a maturidade do macho. Foi feito um estudo com várias espécies dessa família de “Bowerbirds” que mostrou correlação entre o tamanho do cerebelo/capacidade cognitiva e a capacidade de construção. Essa relação também pode ser observada entre os indivíduos de uma mesma espécie. Um outro estudo foi feito com o pássaro-cetim e também foi encontrado uma correlação muito forte entre a habilidade cognitiva e o sucesso copulatório. Investimento Parental Diferenças sexuais Por que são os machos e não as fêmeas que investem em características extravagantes? Porque são as fêmeas que avaliam os machos e não o contrário? As fêmeas de pássaro-cetim realmente copulam bem menos que os machos. A razão principal para isso é a diferença entre os gametas dos dois sexos: os machos produzem muitos espermatozóides pequenos e as fêmeas produzem poucos óvulos grandes. Há forte competição por óvulos, por estarem em menor número ➞ então os machos tentam copular o máximo possível e as fêmeas selecionam o máximo que podem. Para as fêmeas de Kiwi, a reprodução exige um investimento enorme, pois seus ovos são muito grandes. Nessa fase de desenvolvimento mostrada na foto, o ovo é tão grande que a fêmea praticamente não se locomove. Têm espécies de baratas e ratos que começaram a atacar essas fêmeas, porque elas são incapazes de fugir quando estão assim. Portanto, é totalmente justificável que as fêmeas escolham criteriosamente o macho para copular, pois a reprodução é extremamente custosa para elas. Então: os machos investem no jogo da cópula e as fêmeas investem no jogo do cuidado parental. Geralmente, há menos fêmeas sexualmente ativas do que machos (proporção sexual operacional). Os machos são capazes de reproduzir durante todo o ano, mas as fêmeas ficam disponíveis para cópulas apenas algumas vezes no ano. Exemplo de investimento do macho em cuidado parental Na foto, um anfíbio macho com os girinos nas costas. Há muitos casos na natureza de machos que investem em cuidado parental. Também há casos em que o macho tem um investimento inicial alto. No caso do exemplo ao lado e abaixo, o espermatóforo é dado para a fêmea apenas com o intuito de nutrí-la e pode ser que a fêmea escolha o macho que a presenteou para copular. O cuidado parental é importante para os machos e para as fêmeas, pois garante maior sobrevivência da prole. Mas quem investe em cuidado parental tem menos tempo para investimento em cópula. Normalmente o investimento com cuidado parental da fêmea é maior pois, na natureza, não há certeza sobre a paternidade, mas há certeza sobre a maternidade. Investimento parental é cuidar da prole e arcar com a redução de oportunidades futuras de reprodução. Competição por Parceiros É muito comum na natureza ter indivíduos do mesmo sexo competindo por prioridade ou monopólio de cópula. Geralmente são os machos que brigam pelas fêmeas, mas o contrário também existe. No cenário em que os machos brigam pelas fêmeas, o sucesso reprodutivo está relacionado ao acesso às fêmeas. A competição de machos por fêmeas pode levar a seleção de características sexuais secundárias, pois quem ganha a briga terá acesso à fêmea, então deixará mais descendentes. Além disso, também pode haver seleção de comportamento pré e pós copulatórios (guarda da fêmea, por exemplo). Note que o pescoço da girafa pode ser fruto tanto da seleção natural quanto da seleção sexual. Inclusive, o pescoço dos machos é maior que o das fêmeas. Na figura, representadas em preto, estão estruturas sexuais secundárias de machos de algumas espécies. Competição por parceiros: táticas alternativas Exemplo de tática alternativa: Babuínos Existem espécies em que os machos monopolizam as fêmeas. Às vezes o monopólio pode ser restrito ao período fértil das fêmeas. Os babuínos são um exemplo disso. O macho alfa gasta energia vigiando a fêmea o dia inteiro durante o período reprodutivo. Em um grande número de grupos, realmente há uma correlação muito forte entre a dominância dos machos e o sucesso copulatório. Porém, em muitos grupos os machos dominantes não têm tanto sucesso copulatório assim. Através desses estudos, foi percebido que existem outros comportamentos além da monopolização envolvidos na reprodução. Os machos de menor hierarquia usam outras estratégias: - dão mais atenção às fêmeas - levam comida para as fêmeas - ficam mais presentes - ficam dispostos a cuidar da prole Esses machos não dominam, então eles tentam fazer o melhor que podem em uma situação ruim. Quando essas estratégias dão errado, eles formam gangues para combater o alfa. E é por isso que nem sempre os machos alfas têm tanto sucesso reprodutivo. Outro exemplo de tática alternativa: Besouro rola-bosta (Onthophagus nigriventris) Em tese, era para apenas os machos de corno grande terem sucesso copulatório. As fêmeas dão preferência para os machos de corno grande, mas a cópulanão ocorre no primeiro momento, eles formam um casal e o macho forma um ninho. Enquanto isso, o macho pequeno nem tenta brigar com nenhum outro macho, pois nem tamanho tem. Quando o macho grande acaba de construir o ninho, ele copula uma vez com a fêmea e vai fazer a defesa do ninho durante todo o dia. Então, o macho de corno pequeno fura uma galeria direto para direto para o “quarto nupcial", que é onde a fêmea se encontra, e copula com ela. O macho de corno pequeno é o pai de aproximadamente 80% da prole. Obs: se a diferença corporal é definida geneticamente, são essas táticas alternativas que mantêm os dois tamanhos corporais presentes na natureza. Exemplo de tática alternativa: Lagartos Os machos que ficam ao redor durante a cópula são chamados de machos satélites. Eles não foram escolhidos pela fêmea, mas ficam tentando atrapalhar a cópula e tentando conseguir uma oportunidade de copular. Como estratégia alternativa, os machos menores se estimulam e ejaculam antes da cópula, porém o esperma fica acumulado na ponta da genitália. Quando ele consegue subir na fêmea, ele insemina a fêmea rapidamente. Normalmente, as fêmeas têm +/- 30% de filhotes do macho grande e o restante da prole é de vários machos pequenos. Exemplo de tática alternativa: Sapos O coaxar dos sapos maiores atrai mais fêmeas. Então, o macho satélite opta por não cantar e fica quieto próximo ao macho maior, se aproveitando da capacidade dele em atrair mais fêmeas. Exemplo de tática alternativa: Carneiros-selvagens Normalmente, o macho não consegue copular várias vezes em sequência. Então, os machos-satélites ficam ao redor apenas aguardando uma oportunidade de cópula. Na espécie Limulus polyphemus ocorre o mesmo, os machos-satélites ficam ao redor aguardando uma oportunidade para copular também. Competição Espermática Competição espermática é a competição entre machos que impera o sucesso do esperma em fecundações. Pode ser considerada como uma forma especializada de competição por parceiros. Inclui desde comportamento de machos que garantem o maior sucesso do esperma até sistemas internos da fêmea para seleção de esperma. Portanto, contar número de cópulas ou fecundações externas não são boas estimativas de sucesso reprodutivo. Exemplo: Bluegill Sunfish (Lepomis macrochirus) O macho fica guardando um ninho que pode atrair fêmeas grávidas (a fecundação dos ovos é externa). O macho-satélite pequeno é semelhante à fêmea e fica próximo aguardando uma oportunidade. O macho-alfa não expulsa ele do território pois ele é parecido com a fêmea. Quando chega uma fêmea, o macho grande libera o esperma para fecundar os ovos e então o macho pequeno se intercala entre a fêmea e o macho-alfa, e libera seus espermatozóides. Como o macho pequeno libera um número maior de espermatozóides, a maioria dos ovos são fecundados pelo macho pequenos. Exemplo: Donzelinha-de-asas-pretas (Calopteryx maculata) O pênis do macho tem uma estrutura que permite que ele retire da fêmea os espermatozóides do macho que copulou antes. O macho limpa o aparelho reprodutor da fêmea em quase 100%. No fim das contas, ganha quem copula por último. Isso também é vantajoso para a fêmea pois ela consegue usar a cópula como moeda de troca para ganhar comida. Exemplo: Ferreirinha-comum (Prunella modularis) Às vezes a fêmea copula com um macho e outro macho vê que ela já copulou, então, quando essa fêmea tenta copular com ele, ele recusa. Então, para mostrar que está receptiva à cópula, a fêmea expele o esperma do macho da cópula anterior. Porém, o útero das aves possui uma estrutura capaz de reter alguns espermatozóides viáveis, então, mesmo que a fêmea tenha expelido o esperma para copular com um novo macho, ela pode ter filhotes do primeiro macho. A respeito de como ocorre o armazenamento dentro do útero tem poucos estudos. Não se sabe se ela consegue escolher qual espermatozóide usar. Exemplo: Libélulas O macho segura a fêmea em posição de “tandem” (posição da cópula), mesmo depois da cópula, para impedir que ela copule com outro macho. Ele só larga a fêmea quando decorre o tempo necessário para fecundação. Nessa espécie de peixes, após a cópula, o macho fica vigiando a fêmea para atrapalhar o comportamento pré-cópula com outros machos. Escolha de Parceiro Geralmente, são as fêmeas que escolhem os machos, com base nos critérios que elas julgam melhores (atributos físicos ou comportamentais). Escolha de parceiro: presente nupcial Os machos de Besouro rola-bosta oferecem bola de fezes para a fêmea, a fêmea escolhe qual bola está melhor e aceita o “presente nupcial”, se mostrando receptiva para a cópula. O macho de inseto mecóptero captura uma mariposa, que ele utiliza como presente nupcial para a fêmea. Enquanto a fêmea come a mariposa, o macho aproveita para copular com ela. Através de estudos, perceberam que o tamanho do presente está diretamente relacionado com a duração da cópula. A cópula tem maior duração quando o presente é maior, até um certo ponto. Às vezes, o presente nupcial é o próprio macho, como no caso da aranha Latrodectus hasseltii. Após a cópula, o macho se oferece como comida à fêmea, mas antes ele quebra o órgão copulador dentro da fêmea, atrapalhando a fêmea de copular com outros. O macho faz isso com o intuito de deixar a fêmea distraída com outro comportamento (alimentação) e mais tempo ocupada, para que ela não saia para copular com outro. Escolha de parceiro: performance Na foto, piolho-de-cobra com o gonopódio (órgão sexual) exposto. O macho dessa espécie investe muito em estimular a fêmea durante a cópula. A fêmea, por sua vez, escolhe o macho de acordo com o tamanho do gonopódio, que é o órgão estimulador. Quando a fêmea não é estimulada o suficiente, ela abandona o macho e procura outro. Escolha de parceiro: medida de qualidade Tem-se também a escolha da fêmea como uma medida de qualidade do macho. A aparência, chifres, tamanho, etc são sinais honestos da qualidade do parceiro. Estudos com pavões já mostraram que há correlação das marcas oculares das penas dos machos com a sobrevivência dos filhotes após dois anos. Ou seja, as penas são um sinal honesto para a fêmea da qualidade do macho. Isso se dá pois, para que as penas cresçam e se desenvolvam bem, o pavão precisa estar bem alimentado. Escolha de parceiro: conflito sexual Em muitos momentos, podem ocorrer conflitos sexuais, pois a fêmea pode recusar a cópula, mesmo após todos os sinais, presentes, etc. Na foto ao lado, podemos ver duas borboletas. O macho está tentando finalizar a cópula, mas a fêmea desloca o abdômen para impedir que a cópula seja concluída. Na foto ao lado podemos ver a fêmea com o abdômen inflado, uma estratégia para derrubar o macho, impedindo que ele fertilize seus ovos. Também há conflitos, pois a fêmea quer a cópula e o macho já atingiu seu limite cópula. Na foto, podemos ver uma fêmea atacando o macho porque ele não tinha mais espermas disponíveis. No caso dessa espécie de percevejo hematófago, o macho usa o pênis para perfurar o abdômen da fêmea e forçar a fertilização dos ovos (inseminação traumática). As fêmeas são muito seletivas, fazendo com que vários machos não sejam escolhidos, então os machos possuem essa estrutura que permite a cópula forçada.
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