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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS RELIGIÃO E 
FAMÍLIA 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
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SUMÁRIO 
1 ORIGEM DA SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO .......................................................... 4 
2 RELAÇÃO ENTRE SOCIOLOGIA E SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO ..................... 7 
3 PRINCIPAIS EXPOENTES DA SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO ............................. 8 
3.1 Augusto Comte .................................................................................................. 8 
3.2 Alexis de Tocqueville ......................................................................................... 9 
3.3 Henri Bergson ................................................................................................. 11 
4 O PAPEL DA RELIGIÃO NA SOCIEDADE A PARTIR DA PERSPECTIVA 
SOCIOLÓGICA ..................................................................................................... 13 
4.1 Religiões ao redor do planeta .......................................................................... 17 
5 PRINCIPAIS CONCEITOS DA SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO ............................ 19 
6 RELIGIÃO, ESTADO, MERCADO E CAPITALISMO ......................................... 21 
7 OS SÍMBOLOS E OS RITOS ............................................................................. 24 
8 DESVENDANDO O PROCESSO RITUAL ......................................................... 26 
9 PROCESSO RITUAL NA RELIGIÃO ................................................................. 28 
10 CONCEITOS DE RELIGIÃO ............................................................................ 30 
11 RELIGIÃO E SOCIEDADE ............................................................................... 33 
12 RELIGIÃO E IDEOLOGIA ................................................................................ 36 
13 A CONSTRUÇÃO FAMILIAR ........................................................................... 38 
14 FAMÍLIA NO PLURAL ...................................................................................... 40 
15 FORMAÇÃO DA FAMÍLIA E SOCIEDADE ...................................................... 43 
16 A CULTURA HUMANA E A CONSTRUÇÃO DO SER SOCIAL ....................... 45 
17 A SUBJETIVIDADE DO UNIVERSO PSÍQUICO E A RELATIVIZAÇÃO DOS PAPÉIS 
SOCIAIS..................................................................................................................47 
18 PROCESSOS CONSTITUINTES DO SER POR MEIO DO SOCIAL ............... 49 
 
2 
 
19 OS CONCEITOS DE ESTADO, MERCADO, PÚBLICO E PRIVADO .............. 50 
20 A RELAÇÃO PÚBLICO-PRIVADA ................................................................... 57 
21 CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA BUROCRACIA ESTATAL E SEUS 
REGULAMENTOS LEGAIS .................................................................................. 58 
22 AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS E O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO ............. 61 
23 IMPORTÂNCIA DA RELIGIÃO EM TEMPOS DE CETICISMO E 
IMEDIATISMO........................................................................................................65 
24 SISTEMAS POLÍTICOS E RELIGIÃO: MANIPULAÇÃO E POLITIZAÇÃO ...... 67 
25 CONSUMO DE BENS SIMBÓLICOS E PREGAÇÃO DA FÉ NOS TEMPOS DO 
ESPETÁCULO RELIGIOSO .................................................................................. 69 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
Prezado aluno! 
 
O grupo educacional Faveni, esclarece que o material virtual é semelhante ao da 
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se 
levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que 
seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a 
pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, 
é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao 
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância 
exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um 
horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A 
vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A 
organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos 
definidos para as atividades. 
 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1 ORIGEM DA SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO 
Aproximar ciência e religião sempre se mostrou um desafio, já que, durante a 
história, houve um distanciamento entre as descobertas científicas e as compreensões 
religiosas. Talvez, o caso de Galileu Galilei seja o mais famoso: condenado por afirmar 
que a Terra era redonda, reconheceu-se que, como cientista, estava certo e a Igreja 
equivocada, conforme relato do Papa João Paulo II publicado no jornal oficial da Santa 
Sé (CENTOFANTI, 2020). Desse modo, compreende-se que a sociologia da religião, 
como ciência, não surgiu de modo repentino, em razão da longa caminhada 
historicamente realizada, cercada por críticas e defesas, que deu origem a uma 
sociologia aplicada ao fenômeno religioso (CIPRIANI, 2007). 
No final do século XVIII e início do XIX, nomes como Hume, Feuerbach, 
Tocqueville, Marx e Berson contribuíram para o surgimento de uma atmosfera intelectual 
pautada em um plano científico mais rigoroso. Em um primeiro momento, observa-se que 
as perspectivas caracterizadas por paixões ideológicas e orientações filosóficas 
contingentes passaram a ter um discurso fundamentado nos cânones do conhecimento 
experimental. No fim do século XIX e no início do século XX, houve a contribuição 
fundamental do positivismo, uma corrente filosófica que tentou ordenar as ciências 
experimentais. Essas ordenações são vistas como modelo de excelência do 
conhecimento humano, observando questões metafísicas e teológicas. E, a partir desse 
momento, surgiu a sociologia (CIPRIANI, 2007). 
Já a origem da sociologia da religião é mais difícil de identificar, tornando- -se 
necessário buscar filósofos ativos entre os séculos XVIII e XIX, chegando até Durkheim 
e Weber. Contudo, é preciso individualizar com cuidado suas contribuições, atitudes 
culturais e propensões cognitivas, atentando-se ao papel da religião na sociedade 
(CIPRIANI, 2007). 
Como disciplina científica, a sociologia nasceu e se desenvolveu por meio de 
abordagens teóricas e estudos empíricos, privilegiando a análise do fenômeno religioso. 
Sabe-se que quase todos os expoentes da ciência sociológica ofereceram motivos 
originais e tratamentos sistemáticos a respeito de novas dinâmicas das religiões e da 
 
5 
 
religiosidade, contribuindo para os estudos dessa temática até os dias de hoje (SOUZA, 
2019). 
Atualmente, o campo da sociologia das religiões se situa nos seguintes 
contextos: 
 
 Secularização versus dessecularização; 
 Declínio, mercantilização e privatização da religião versus a “revanche de 
Deus”, fenômeno de explosão de novos movimentos religiosos. 
 
Sua discussão passa por autores como Weber, Durkheim, Tocqueville, Pierucci, 
Campbell, Woodhead e Heelas, embora seja preciso considerar outros pensadores 
contemporâneos, que situam a religião no tempo e no espaço da globalização. No 
contexto da modernidade, Deus morreu como instância organizadora da sociedade, 
instituidora da lei. Assim, a religião perde poder como fundamento social, porém os 
embates religiosos, bem como o fundamentalismo e o esoterismo, persistem no seio das 
sociedades, mesmo que com princípios laicos (CIPRIANI, 2007). 
A posição defendida por muitos estudiosos é a de que a religião ressurgiu como 
um novo tipo de moral, mas não como moral tradicional, e sim com novos valores, uma 
nova ética que se opõe criticamente aos caminhos da razão e da ciência (SOUZA, 2019). 
Autores como Ferry e Gauchet (2008) afirmam quese tem assistido a um 
processo duplo de saída da religião e da individualização das crenças. 
Por um lado, as Igrejas e os dogmas, enfraquecem em proveito de crenças mais 
pessoais, ‘à la carte’, dizem alguns. Por outro — é preciso constatar — os 
integralismos e outros fundamentalismos de todo gênero nunca se comportaram 
tão bem. Como se situar diante de tendências tão contraditórias? (FERRY; 
GAUCHET, 2008, p. 7). 
Para esses estudiosos, a visão de um mundo puramente estruturado pela religião 
é deixada de lado. A vida pública e privada não é mais influenciada somente por aquilo 
que é de cunho religioso. Agora, o religioso busca sentido e não é mais um pensamento 
absoluto, observando-se um enfraquecimento da religião e uma permanência fortalecida 
do religioso. A esse movimento, pode-se dar o nome de laicidade, que exclui ou não 
reconhece o poder da religião sobre a política (FERRY; GAUCHET, 2008). 
 
6 
 
Ferry observa que a época contemporânea se caracteriza por um cruzamento de 
dois processos: o primeiro seria a humanização do divino, o fato de que toda história e 
cultura moderna consistem na tradução dos conteúdos teóricos e práticos da religião na 
linguagem do humanismo; e o segundo corresponderia à divinização do humano, o fato 
de que, no âmago desse individualismo autônomo — condição do homem moderno —, 
reemerge a transcendência. Deixa-se de ver uma transcendência vertical, do ser humano 
para o ser divino, mas horizontal, entre os próprios homens; e tem-se, então, um 
humanismo do homem-Deus (SOUZA, 2019). 
Gauchet, por sua vez, crê que, atualmente, existem experiências profanas do 
religioso ou uma religiosidade que se ignora. 
Muitos jovens sonhadores, que se querem modernos até o último fio de cabelo e 
que se julgam libertos dessas velharias que mal se podem imaginar, são místicos 
sem sabê-lo, em busca de uma experiência espiritual. Festa, transe, vertigem, 
estados alterados de consciência obtidos pela música ou por substâncias 
adequadas: o que sempre está em casa é o acesso a uma outra ordem de 
realidade. O lugar tomado pelas drogas em nossas sociedades se explica em 
grande parte por isso. Diz respeito à aspiração a fugir da prisão do cotidiano 
(FERRY; GAUCHET, 2008, p. 12). 
A partir do pensamento desses autores, é possível afirmar que a sociologia da 
religião procura analisar a fenomenologia religiosa apoiando-se em instrumentos teóricos 
e empíricos comuns à própria sociologia e tratando dos aspectos sociológicos do 
fenômeno religioso, a partir da observação das mudanças causadas pelo campo religioso 
na sociedade. Por si só, a sociologia ocupa-se das observações daquilo que é recorrente 
nas relações sociais, formulando teorias e analisando eventos únicos, como o surgimento 
do capitalismo, tentando explicá-los (SOUZA, 2019). 
Como disciplina, a sociologia surgiu no século XVIII, como uma resposta 
acadêmica ao desafio de entender o que unia os grupos sociais, desenvolvendo uma 
solução para a desintegração da sociedade, em meio a uma humanidade dispersa e 
afastada (SOUZA, 2019). 
Hoje, os problemas pesquisados pelos sociólogos tendem a ser questões de raça 
ou etnicidade, classe, gênero e família, além de desarranjos sociais, como crimes ou 
divórcios (SOUZA, 2019). 
 
7 
 
A sociologia pesquisa as estruturas de força e de poder, do Estado e de seus 
membros, e a maneira como o poder se estrutura por meio de microrrelações de força. 
Um desses aspectos estudados, não só da sociologia, mas também da antropologia, é o 
modo como os indivíduos, que formam a sociedade, podem ser manipulados, visando à 
manutenção da ordem social e, principalmente, ao monopólio de algum tipo de força 
legitimada (SOUZA, 2019). 
2 RELAÇÃO ENTRE SOCIOLOGIA E SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO 
Em 1838, Augusto Comte criou o termo sociologie, em uma tentativa de unificar 
os estudos relativos ao homem, incluindo história, psicologia e economia, acreditando, a 
partir de sua visão positivista, que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas 
fases históricas, porém em momentos distintos. Assim, a pessoa conseguiria 
compreender o progresso entre os fatos e encontrar soluções para prováveis problemas 
de ordem social. Em meio às transformações econômicas, políticas e culturais resultadas 
das Revoluções Industrial, por volta de 1760, e Francesa, em 1789, ficaram evidentes 
mudanças significativas da vida em sociedade, principalmente em relação às suas formas 
anteriores de sociedade. A Revolução Industrial, em especial, foi mais importante do que 
apenas a criação e utilização de máquinas a vapor, tendo representado a racionalização 
da produção da materialidade da vida social (SOUZA, 2019). 
No século XIX, a sociologia apareceu como uma maneira de entender as 
mudanças decorridas no século anterior, tentando explicá-las, um processo que acabou 
falhando com o surgimento do capitalismo moderno, já que essa ciência é um estudo 
datado e ligado diretamente ao tempo em que ocorrem os fatos. Nesse momento, o 
pensamento sociológico sofreu mudanças quanto à maneira de observar e pensar a 
realidade social, desvinculando-se de preocupações especulativas e metafísicas, e 
apresentando um caráter mais racional e sistemático (SOUZA, 2019). 
Naquele momento, reinava o pensamento capitalista, operando por meio de 
máquinas e ferramentas que são propriedade de determinados grupos sociais, 
geralmente elitizados. As grandes massas camponesas se tornaram trabalhadores 
industriais e a divisão causada pelo dinheiro ficou mais evidente e gritante, com um 
 
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Estado que atendia à população de classes medianas e/ou altas. Com isso, a 
criminalidade se ampliou, bem como a busca por direitos e melhores condições para 
pessoas mais oprimidas e de classes sociais mais baixas. Assim, a sociologia ganhou 
maior espaço e fôlego ao observar a sociedade como um todo, tomando-a como um 
objeto a ser investigado, muito além de uma discussão apenas política, financeira, 
filosófica ou teológica (SOUZA, 2019). 
Depois de entender o que é e como se comporta a sociologia, fica mais fácil 
tentar compreender a sociologia da religião. Em suma, ela busca explicar empiricamente 
as relações mútuas entre religião e sociedade, tentando observar a dimensão social da 
religião e a dimensão religiosa da sociedade, tendo se originado de uma reflexão a 
respeito de transformações sociais, culturais e políticas (SOUZA, 2019). 
Portanto, a sociologia da religião tenta entender a sociedade junto da religião, a 
partir de suas ações, práticas, percepções e moral. No Brasil, esse estudo teve como 
marco a publicação da obra “Católicos, protestantes e espíritas”, de Cândido Procópio 
Ferreira de Camargo, no ano de 1973. Outros nomes ainda conhecidos na área no país 
são Edison Carneiro, Beatriz Muniz de Souza, Antônio Flávio Pierucci e Reginaldo Prandi 
(SOUZA, 2019). 
3 PRINCIPAIS EXPOENTES DA SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO 
Para abordarmos a sociologia da religião, precisamos compreender sobre o que 
alguns dos autores da área pensavam. Aqui, destacaremos três nomes se destacam a 
partir de sua origem — Augusto Comte, Alexis de Tocqueville e Henri Bergson —, cujo 
pensamento revolucionou o modo como entendemos os fenômenos religiosos na 
sociedade (SOUZA, 2019). 
3.1 Augusto Comte 
Nascido na França em 1798, ano anterior ao fim da Revolução Francesa, e 
falecido em Paris, em 1857. Envolto pelo sentimento revolucionário de uma sociedade 
francesa em mudança, foi o fundador do Positivismo, tratado nas obras como Curso de 
 
9 
 
filosofia positiva e Catecismo positivista, além de diversas outras que abordam esse 
sistema filosófico, empregado, por exemplo, na religião e na política. Ao encontrar o 
Positivismo como maneira de analisar a sociedade, abandonaria dois estágios da ciência: 
teológico (ligado aos deuses) e metafísico (baseado em abstrações), que, segundo o 
autor, não foram capazes de suprir mais as demandas sociais (LACERDA,2009). 
Para ele, a religião que deveria conquistar o ser humano seria a religião da 
humanidade, ou positivismo religioso, na qual tudo gira em torno da espiritualidade 
humana, levando o ser humano a se dedicar ao máximo para si e para os outros, em um 
ato altruísta. Inclusive, “altruísmo” foi um termo cunhado por Comte, que desejava que o 
amor humano fosse motivado pela excelência encontrada por alguns homens. Nesse 
sentido, o sociólogo “[...] persegue um ideal de humanidade organizada, regulada por um 
fator unificante de grande porte como a religião, também amamentadora de conotações 
sociopolíticas, à medida que facilita a melhora da convivência” (CIPRIANI, 2007, p. 43). 
Assim, Comte propõe uma análise dos fenômenos sociais de maneira ampla, 
elevando a importância do ser humano, naquilo que é conhecido, até então, por física 
social, e que, posteriormente, veio a ser chamado de sociologia. Sua religiosidade visa 
ao ser humano de maneira ampla, embora observe as religiões como algo distante e 
abstrato, motivo pelo qual deveriam se distanciar da humanidade, visto ser a ciência 
capaz de libertá-la, em prol de um racionalismo consciente — “[...] as próprias ciências 
[...] se tornam úteis para uma reconstrução de teorias sociais em grau de representar ‘a 
base espiritual permanente da ordem social’” (CIPRIANI, 2007, p. 43). Para Comte, a 
religião, como unidade, consegue convergir as dimensões sociais e individuais, tanto 
morais quanto físicas, em um único ponto, aperfeiçoando os planos físico, intelectual e 
moral do ser humano (CIPRIANI, 2007). 
3.2 Alexis de Tocqueville 
Também nascido na França, em 1805, morreu em Cannes, em 1859, na França. 
Pelo fato de ser um defensor da liberdade e da democracia, suas maiores e mais 
conhecidas obras foram Da democracia na América e O antigo regime e a revolução, nas 
 
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quais explana suas visões, posições e observações a respeito da democracia, em vista 
da Revolução Francesa, a partir de uma visão positivista (CASSIMIRO, 2018). 
Ao contrário de Comte, Tocqueville acredita que a religião tradicional é capaz de 
criar e manter uma sociedade estável, pautada na liberdade. Para isso, o sociólogo e 
historiador apresenta dois exemplos contraditórios: os Estados Unidos, cujo espírito 
religioso e liberal favoreceu a formação e a permanência da democracia; e a França, que 
promove um conflito entre a Igreja e os leigos e o enfraquece da política e da sociedade 
(CIPRIANI, 2007). 
No contexto estadunidense, em um primeiro momento, segundo o autor, o 
catolicismo buscava, tendenciosamente, tratar todos da mesma maneira. Havia uma 
predisposição à igualdade de condições. Para seus fiéis, a sociedade religiosa se dividia 
entre padre e povo: o primeiro estava acima do povo, pois tinha contato com e 
conhecimento de Deus, e o povo apresentava o mesmo nível, sem destaques, sem 
pessoas acima de outras. Mesmo com o contraditório de uma estrutura vertical, de cima 
para baixo, esta seria uma forma de, por meio da obediência, preparar todos para a 
igualdade, movimento que poderia ser chamado de estratificação social (CIPRIANI, 
2007). 
Contudo, com esses mesmos padres fora do âmbito político, por opção própria, 
diga-se de passagem, permitiu-se a autonomia política. 
A religião, que na América [leia-se Estados Unidos da América] jamais se mistura 
diretamente com o governo, de, portanto, ser considerada como a primeira das 
instituições políticas, uma vez que, se ela não dá aos americanos [leia-se 
estadunidenses] o gosto da liberdade, facilita grandemente seu uso 
(TOCQUEVILLE, 1996, p. 295 apud CIPRIANI, 2007, p. 51). 
Portanto, o sociólogo propõe um distanciamento entre política e religião, tornando 
ambos mais fortes, já que, para Tocqueville, a religião que se une às vias políticas se 
torna mais poderosa sobre alguns homens. Porém, perde a esperança de poder reinar 
sobre todos eles, criando-se um paradoxo: a distância que aproxima e o afastamento do 
poder que gera influência. O sociólogo afirma que a religião tem maior vantagem diante 
de qualquer outro tipo de poder, visto ser capaz de inspirar instintos contrários, seja no 
distanciamento que aproxima, seja nos bens terrenos que sucumbem aos desejos 
 
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humanos, seja nas prioridades humanas que perdem espaço para as propostas 
transcendentes (CIPRIANI, 2007). 
Nesse ponto, Tocqueville se diferencia de Comte, já que, enquanto o primeiro 
revela que, para si, o distanciamento religioso da política faz do homem um ser autônomo 
e menos conflituoso, o segundo observa que a aproximação de uma visão religiosa em 
vista do fenômeno social e, por consequência, do ser humano proporciona um 
crescimento da humanidade como sociedade (SOUZA, 2019). 
3.3 Henri Bergson 
Assim como Comte e Tocqueville, Henri Bergson nasceu na França, em 1859, 
tendo morrido em 1941. Algumas de suas obras mais conhecidas foram A evolução 
criadora, A energia espiritual e as duas fontes da moral e da religião, e seu pensamento 
expôs questões relacionadas aos sentidos e sentimentos do ser humano (COELHO, 
2010). 
Bergson observa a religião a partir de um prisma diferenciado, por meio de uma 
óptica mais filosófica. Por isso, seria necessário reduzir essa filosofia a questões de 
ciência, liberdade, progresso, moral e, propriamente, religião, dentro de um discurso com 
base em fatos, e não em ideias (SOUZA, 2019). 
Em parte, o sociólogo se aproximada de Comte, já que ambos atuam sob uma 
visão racional daquilo que ocorre no dia a dia, embora haja uma diferença crucial entre 
eles: Comte segue seus pensamentos de maneira indutiva, ou seja, daquilo que é mais 
específico para o generalista. Imagine que eu observei uma rua e vi muitos carros, todos 
com quatro rodas; então, todos os carros já criados têm quatro rodas. Em um movimento 
contrário, Bergson pensa de maneira dedutiva, de um pensamento generalizado para 
algo menor, específico — por exemplo, todo ser humano pensa, portanto se eu penso, 
sou um ser humano (CIPRIANI, 2007). 
Por consequência, o pensamento bergsoniano se apropria da realidade para 
entender o todo, sem que haja especulação. 
Bergson invoca, portanto, maior rigor científico, para entrar mais facilmente na 
dimensão interior do indivíduo humano e perscrutar [examinar, investigar] suas 
 
12 
 
motivações reais, as intenções implícitas, as modalidades individuais e sociais 
passíveis a serem referidas à experiência religiosa. Ele é filósofo, mas também 
matemático [...]; está, portanto, habituado não só à concretitude e à precisão do 
cálculo, à centralidade da experiência factual, mas também à diferença entre 
estática e dinâmica social, entre religião institucional e religião estática 
(CIPRIANI, 2007, p. 56). 
O sociólogo diferencia o comportamento humano nas formas: estática, que se 
refere ao conhecimento científico conhecido pelas pessoas, com um caráter dogmático e 
impondo regras de maneira conservadora, podendo aproximar esse conceito das 
religiões populares; e dinâmica, que diz respeito à ética das origens e à criatividade da 
mística, lembrando aquilo que é próprio dos fundadores de religiões. Por isso, tentando 
dar maior fôlego para a espiritualidade, Bergson se opõe às soluções racionalistas, 
estáticas, a fim de permitir um crescimento do conhecimento religioso (SOUZA, 2019). 
Para ele, “[...] as potencialidades intuitivas da consciência mostram-se superiores 
às esquematizantes da razão e devem ser pesquisadas para descobrir os dados 
essenciais da realidade, frequentemente fugazes [rápidas] para uma análise externa e 
superficial” (CIPRIANI, 2007, p. 57). Portanto, a análise seria o método ideal e principal 
da ciência, ou seja, compreender a situação de modo isolado se faz importante para 
entender o todo. 
Sob essa óptica de uma religião estática, há um regime fechado, com hábitos e 
proibições predefinidas, e o conservadorismo daqueles que a dominam impulsiona ações 
mecânicasque afastam a liberdade e a abertura moral. Ao contrário, a religião dinâmica 
traz a liberdade e a moral amplificada, rompendo com a passividade e explorando hábitos 
impulsionados pelo amor, aumentando, promovendo e testemunhando a criação de uma 
nova forma de viver e, por consequência, observando e atuando sobre si e sobre o 
próximo (CIPRIANI, 2007). 
A tudo isso, ele dá o nome de impulso vital (élan vital), que proporciona 
movimentos que beneficiam formas inovadoras. Porém, esse mesmo impulso tende a se 
esgotar, movimento a partir do qual surge um fechamento, um isolamento, do 
pensamento social e religioso, em uma defesa contra aquilo que fere ou agride o sistema 
e, em especial, o ser humano (SOUZA, 2019). 
Por meio de sua força, o impulso vital consegue se afastar daquilo que o prende, 
como ritos privados, para dar lugar ao dinamismo do misticismo. Segundo ele, o místico 
 
13 
 
“[...] uma energia, uma audácia, uma potência de concepção e de realização 
extraordinárias” (BERGSON, 1961, p. 241 apud CIPRIANI, 2007, p. 58). O dogma, 
estático por essência, dá lugar à espontaneidade e ao redescobrimento do contato do 
criador divino, o qual ainda opera e atua, não se encontrando em um passado remoto, 
mas no tempo em que se vive. 
Assim, Bergson, diferentemente de Comte e Tocqueville, crê numa fé livre de 
pontos fixos. Por isso, seu pensamento tenta se afastar de uma religião estática, a qual 
se fixa e, de modo tradicional, conserva ritos, cerimônias e dogmas, sem 
necessariamente tornar-se fluida e dinâmica. Assim, o ser humano deixa de ter sua 
autonomia espiritual para se ligar a uma religiosidade, que, por vezes, foi uma convenção 
moral e um comodismo nacional/social (SOUZA, 2019). 
Bergson e seus pensamentos foram contemporâneos de diversos outros 
sociólogos, como o francês Émile Durkheim (1858–1917), os alemães Georg Simmel 
(1858–1918) e Max Weber (1864–1920), o russo Pitirim Sorokin (1889–1968) e, já mais 
à frente, o estadunidense Talcott Parsons (1902–1979). 
4 O PAPEL DA RELIGIÃO NA SOCIEDADE A PARTIR DA PERSPECTIVA 
SOCIOLÓGICA 
A sociologia busca analisar as funções da religião nas situações cotidianas e 
também em situações extremas, como guerras e crises políticas e econômicas. Ela 
analisa o papel essencial que a religião exerce na sociedade, tentando abarcar a linha 
tênue que separa o sagrado do profano. Muitos pensadores focam o papel que as 
crenças religiosas possuem para o indivíduo, os grupos e as nações. Os sociólogos 
estudam as normas e valores das crenças buscando compreender os seus fundamentos 
e a sua importância, além da forma como as pessoas exercitam o seu credo (BARRETO, 
2019). 
As organizações religiosas tendem a moldar comportamentos de acordo com 
uma ética e uma moral próprias. A diversidade das religiões que há no mundo origina o 
pluralismo religioso. A liberdade religiosa — a liberdade de culto e de organização 
religiosa — é fundamental para a construção de uma sociedade justa, igualitária, com 
 
14 
 
respeito às diversas crenças e combate à intolerância religiosa. Torna-se complicado 
pensar sobre a religiosidade sem respeitar suas diferentes manifestações no mundo. O 
não respeito às diferentes manifestações gera a intolerância religiosa (BARRETO, 2019). 
 
 
Fonte: Pixabay.com 
A liberdade religiosa se relaciona com a noção de laicidade. A laicidade diz 
respeito à separação entre Estado e religião. Um Estado pode adotar uma religião oficial, 
mas precisa garantir a liberdade religiosa a todos os cidadãos. Também não deve 
interferir na fé religiosa de seus cidadãos, nem deixar que a fé professada por seus 
políticos influencie as políticas públicas. Porém, como toda liberdade, a liberdade 
religiosa tem limites. Por exemplo, o cidadão não pode cometer infração ou crime 
alegando que está exercendo a sua fé. Caso realize o crime por meio de sacrifícios que 
façam mal a outros seres humanos, ou incite a violência, estará sujeito às normas 
jurídicas e será julgado e punido, independentemente dos seus motivos (BARRETO, 
2019). 
Ao redor do planeta, muitos grupos têm utilizado a religião como justificativa para 
realizar atos considerados terroristas ou fundamentalistas extremamente violentos, 
matando pessoas inocentes em ataques com bombas em locais públicos, por exemplo. 
Esses grupos são tidos como extremistas e deturpam a prática religiosa da maioria dos 
fiéis que professam aquela religião. Após o atentado terrorista ao World Trade Center, 
 
15 
 
em setembro de 2001, a palavra “terrorista” aparece frequentemente na mídia impressa 
e falada. Dessa forma, muitas pessoas que exercem a sua fé em determinada religião 
podem sofrer os efeitos diretos e indiretos da ação de grupos terroristas, sendo 
discriminadas, xingadas e humilhadas (BARRETO, 2019). 
O fundamentalismo religioso é exposto na mídia de maneira pejorativa e limitada 
aos ataques terroristas de adeptos do islamismo. O senso comum compreende que os 
fundamentalistas são indivíduos extremamente violentos e que não realizam boas ações. 
Mas, afinal, você sabe o que é fundamentalismo? O que ele tem a ver com religião? 
O conceito de fundamentalismo surgiu em um contexto religioso, no início do 
século XX, nos Estados Unidos. Contudo, na história, sua gênese é cristã, ocidental e 
protestante, não islâmica. Um grupo religioso, protestante e conservador do sul dos 
Estados Unidos, oriundo do Seminário Presbiteriano de Princeton, se reuniu para debater 
e elaborar doutrinas que contrariavam os protestantes liberais do século XIX, também 
chamados de modernistas. Segundo eles, os modernistas eram deturpadores da fé cristã. 
O modernismo era uma corrente de pensamento mais flexível. Seus praticantes 
defendiam que a Bíblia não poderia ser seguida ao pé da letra e que as celebrações 
deveriam se adaptar aos costumes culturais de cada local. Além disso, eles introduziram 
elementos evolucionistas e a ideia de progresso na interpretação dos preceitos bíblicos 
(PIERUCCI, 2010). 
Os fundamentalistas rejeitam qualquer influência mundana na religião, pregam 
os princípios fundamentais, a doutrina rígida, a Bíblia ao pé da letra como verdade única, 
de interpretação literal. Também acreditam em um deus único, isto é, no monoteísmo. 
Dessa forma, um judeu, um protestante e um católico podem ser fundamentalistas, até 
mesmo um muçulmano. Contudo, fiéis do candomblé, que não seguem um livro sagrado, 
não podem ser considerados fundamentalistas (BARRETO, 2019). 
As religiões monoteístas se originaram no Oriente Médio e são: o judaísmo, o 
cristianismo e o islamismo. O fundamentalismo, portanto, tem como elemento crucial o 
monoteísmo pregado nas escrituras e livros sagrados. Os fundamentalistas acreditam 
em uma única verdade. As religiões com vários deuses (politeístas) e as religiões 
panteístas não são fundamentalistas. Enfim, os fundamentalistas defendem os seus 
dogmas religiosos, os fundamentos da sua religião. Isso não implica o uso da violência 
 
16 
 
para a defesa da religião. Ser fundamentalista não significa necessariamente ser violento 
(BARRETO, 2019). 
Atualmente, há um avanço da cultura ocidental sobre o mundo árabe. Muitos dos 
conflitos atuais entre religiões envolvem o desrespeito aos costumes, hábitos e valores 
de grupos não ocidentais por grupos ocidentais. Como exemplo, você pode considerar a 
proibição do uso da burca na França. Tal proibição ocorre também na Áustria, na 
Dinamarca, na Holanda e em alguns lugares da Suíça. Esses países alegam que são 
contra qualquer vestimenta que cubra o rosto, pois isso coloca em risco a segurança 
pública (BARRETO, 2019). 
Cada religião possui seu sistema de credos, rituais, cerimônias, rezas e orações, 
símbolos, tradições, bem como lugares que são tidos como sagrados, de adoração. 
Algumas religiões possuem locais sagrados físicos, como igrejas, templos, sinagogas, 
mesquitas, terreiros e congregações. Outraspraticam sua fé ao ar livre. Essas divindades 
tanto podem ser seres imaginários, como deuses e deusas, quanto, por exemplo, 
animais. É o caso da vaca na Índia, que é tida como sagrada até os dias atuais. Também 
há religiões que atribuem poderes aos elementos naturais, como o vento, a água e o 
fogo, acreditando que os deuses regem esses elementos (BARRETO, 2019). 
A maioria das instituições religiosas também usa livros considerados sagrados 
para guiar a conduta dos fiéis. O cristianismo utiliza a Bíblia, os muçulmanos, o Alcorão. 
A prática da religião envolve ritos, liturgias e rituais como cultos, missas, procissões, 
sermões, transes, sacrifícios. Muitas religiões utilizam músicas, danças e festas para a 
adoração dos seus deuses (BARRETO, 2019). 
A fé em uma religião é ao mesmo tempo uma experiência pessoal e coletiva. Na 
maioria das vezes, os fiéis se reúnem em um local para expressar a sua fé. Contudo, a 
prática da religiosidade não precisa necessariamente estar atrelada ao comparecimento 
e à participação em rituais realizados em um lugar físico (BARRETO, 2019). 
A maioria dos conflitos mundiais se originam de questões religiosas somadas a 
aspectos de ordem política, econômica e geográfica. O Brasil tem como religião 
predominante o catolicismo, mas convive com a diversidade de credos. Nos últimos anos, 
houve um aumento maciço dos evangélicos. O País também abriga cultos de origem 
africana, que convivem com diferentes grupos espíritas, além de comunidades judaicas 
 
17 
 
e de pessoas sem religião. Além disso, o sincretismo religioso, em que símbolos e 
ideologias de diferentes religiões se misturam, permanece presente no Brasil. Os santos 
do catolicismo, por exemplo, se mesclam com os santos do candomblé (BARRETO, 
2019). 
4.1 Religiões ao redor do planeta 
Você sabe quais são as religiões que possuem maior número de fiéis ao redor 
do planeta e em que local elas se concentram? Segundo um relatório do americano Pew 
Research Center, o cristianismo possui 2,18 bilhões de fiéis no mundo. Os fiéis 
denominados cristãos se dividem entre: católicos, com 51,4%; evangélicos, com 36% (a 
maior parte pentecostal); e ortodoxos, com 12,6%. Os cristãos creem em Jesus e em um 
deus único. Ao longo da história, o cristianismo foi dividido entre cristãos ortodoxos ou do 
Oriente, que em seguida se separaram entre católicos e protestantes. Os cristãos 
seguem a Bíblia, seu livro sagrado (SCHULTZ; PLAVENIECE, 2011). 
Os cristãos católicos seguem a Igreja Católica Apostólica Roma e sua autoridade 
máxima é o papa. Já os cristãos ortodoxos surgiram com a cisão que ocorreu na Igreja 
Católica Romana no século XI e que se espalhou no Oriente. A Igreja Católica Ortodoxa 
e a Igreja Ortodoxa Russa são as suas principais igrejas (BARRETO, 2019). 
O islamismo, de acordo com o mesmo relatório, é a religião que mais vem 
conquistando adeptos pelo mundo, sendo considerada a segunda religião mundial em 
número de seguidores. Cerca de 1,6 bilhão de pessoas se proclamam muçulmanas. Eles 
se dividem em sunitas e xiitas. A corrente sunita acredita na Suna, o livro sagrado que 
contém os ensinamentos do profeta Maomé. Por outro lado, a corrente xiita, que vigora 
no Irã e no Iraque, crê nos ensinos de Ali, primo de Maomé. Essa corrente envolve a 
política nos valores religiosos e defende o Estado teocrático (BARRETO, 2019). 
 
 
18 
 
 
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O hinduísmo é a terceira religião em número de adeptos no mundo. Teve como 
origem o vedismo, religião dos povos indo-europeus que viviam no norte da Índia no 
segundo milênio a.C. Essa religião não possui um fundador e não há hierarquia ou 
instituição estabelecida. Há um sistema de castas em que as pessoas são classificadas 
da ordem superior para a inferior, não sendo possível a ascensão social (BARRETO, 
2019). 
 
 
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19 
 
 
5 PRINCIPAIS CONCEITOS DA SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO 
Estudar a religião para entender as estruturas da sociedade: esse foi um desafio 
para a sociologia em seu surgimento como ciência. A sociologia surgiu juntamente com 
a sociologia da religião. Émile Durkheim foi um dos sociólogos percussores no estudo da 
religião nas sociedades. Ele buscou compreender a relação entre indivíduo e sociedade 
e o poder da religião nessa relação. Para ele, a religião é uma ação coletiva que abarca 
diferentes condutas do homem na interação com os seus pares e grupos. A religião seria 
um sistema uniformizado de crenças e práticas que diz respeito ao sagrado em 
contraposição ao profano (DURKHEIM, 1912 apud SCHAEFER, 2016). 
O sagrado compreende a reunião de práticas específicas que abrangem eventos 
que transcendem o cotidiano e geram o temor e o respeito religioso. O profano, por sua 
vez, se refere à vida mundana. A noção de sagrado e profano depende da interpretação 
das representações simbólicas que o homem atribui para os objetos e as suas ações 
(BARRETO, 2019). 
Para Durkheim (2000), a religião tem o poder de unir os laços de coesão social e 
realizar a solidariedade entre os membros da sociedade. Ela funciona como uma cola 
social e mantém a estrutura e a harmonia. Portanto, promove a estabilidade e a não 
ruptura. Não existe a ideia de contradição nos estudos de Durkheim. Para ele, ao 
promover a harmonia por meio de ritos, rituais e cerimônias, os povos fortalecem a sua 
crença. Dessa forma, a religião funciona como um poder integrador da sociedade 
humana. Para Durkheim (2000), os laços da religião ultrapassam as forças pessoais. 
Durkheim pesquisou os aborígenes da Austrália. Nesse local, ele descobriu o 
sistema do totemismo. O que seria um totem? Um totem é um objeto tido como sagrado 
pelos moradores locais, um símbolo cultuado nos rituais e cerimônias. A religião tem o 
 
20 
 
poder de impor significados a coisas e animais que são consideradas sagradas e 
possuem um caráter transcendental (BARRETO, 2019). 
Outro autor muito importante para a sociologia e para a sociologia da religião foi 
Max Weber. Em seu livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (WEBER, 2000), 
ele defende que existe uma relação de afinidade entre a crença religiosa protestante e o 
comportamento capitalista. A Reforma Protestante teve valor essencial para o 
desenvolvimento do sistema capitalista, porque a ideologia da ética da prosperidade 
promove a produção de riqueza. 
A ética protestante produz novos comportamentos. Ela tem como valor o trabalho 
como maneira de glorificar a Deus. Os protestantes acreditavam que o trabalho tornava 
o homem nobre e apreciável aos olhos de Deus. Assim, deveriam se envolver no trabalho, 
evitar os prazeres do mundo, ter disciplina e lutar para obter prosperidade. Por outro lado, 
os católicos condenavam a acumulação de riquezas, pois achavam que ela significava 
usura (BARRETO, 2019). 
Esses fatores transformaram radicalmente o mundo do trabalho e, com isso, a 
economia da Europa. O acúmulo de capitais realizado pelos protestantes e a produção 
de riqueza geraram lucro. Assim, a economia cresceu, possibilitando o desenvolvimento 
do capitalismo. Como você pode notar, a economia é fortemente influenciada pela 
religião. A ética protestante estimulou a poupança, modificando o cotidiano e as ações 
humanas e gerando novas formas de viver, novos hábitos (BARRETO, 2019). 
 
 
 
Karl Marx foi outro estudioso que procurou analisar a influência da religião na 
sociedade moderna. Ele, ao contrário dos autores citados, critica a religião. Marx era 
contrário ao sistema capitalista e a toda instituição que influenciasse esse sistema. Ele 
refletia sobre as condições concretas da vida dos seres humanos e sobre a estrutura da 
 
21 
 
sociedade. Ele afirmava que a religião era o ópio do povo, porque influencia o 
pensamento e o comportamento da sociedade (BARRETO, 2019). 
No seu texto A questão judaica (MARX, 1991), ele defende que a sociedade civil 
só alcançaria a liberdade e a emancipaçãohumana quando todos participassem do 
Estado e pudessem tomar decisões. Assim, por meio da ruptura do sistema, o ser 
humano poderia viver em uma sociedade com livre e igual distribuição dos bens. 
E o que a religião tem a ver com isso? Para Marx, ela é semelhante a um ópio 
pois deixa os indivíduos acomodados, resignados, acreditando em uma vida futura. 
Assim, não se envolvem em sua vida concreta e real nem promovem a mudança social. 
As pessoas ficam conformadas, submissas, veem as situações da sua vida como vontade 
divina, como destino, e não questionam nem lutam pela transformação (BARRETO, 
2019). 
No mundo contemporâneo, a religião passou por transformações, mas se 
configura como um importante fenômeno social tanto na vida privada quanto na esfera 
pública. Ao desnaturalizar as relações sociais, a sociologia da religião demonstra que as 
instituições religiosas possuem natureza social e histórica, sendo um produto dessas 
relações situadas no espaço e no tempo (BARRETO, 2019). 
6 RELIGIÃO, ESTADO, MERCADO E CAPITALISMO 
Se você deseja aprender sobre a religiosidade de um povo ou nação, além de 
observar as manifestações de fé, como os rituais, cerimônias, práticas e crenças, pode 
observar as leis que regem essa nação. É por meio de uma lei específica que a liberdade 
religiosa é assegurada em um país (BARRETO, 2019). 
A constituição ou carta magna de um país é um conjunto de leis que estabelecem 
direitos e deveres dos cidadãos em cada esfera da vida pública. Nela está regulamentado 
o que o governo deve garantir para o pleno exercício da cidadania e o que os cidadãos 
devem cumprir para a construção de uma sociedade justa e igualitária. A religião, como 
instituição social do dia a dia das pessoas, não pode ficar de fora (BARRETO, 2019). 
Em seu art. 19, a Constituição Federal do Brasil afirma que o Estado brasileiro 
não pode ter preferência religiosa ou impor privilégios para determinada religião, sendo 
 
22 
 
que o poder público e a religião devem ser separados. Já o art. 5º da Carta Magna prega 
a inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício 
dos cultos religiosos, garantindo na forma da lei a proteção aos locais de culto e suas 
liturgias (BARRETO, 2019). 
Além disso, defende a não privação de direitos devido às crenças que a pessoa 
professa. Logo, ninguém pode ser privado de liberdade por expressar sua fé religiosa. A 
Constituição ainda assegura a assistência religiosa a entidades civis e militares de 
internação coletiva e permite que os cidadãos que não possam realizar o serviço militar 
devido à sua crença realizem serviço alternativo. Além disso, a Constituição Brasileira 
permite o ensino religioso não obrigatório nas escolas públicas de ensino fundamental, 
de modo que as crianças possam ter acesso ao saber religioso. Contudo, esse ensino 
não é obrigatório, o que violaria a liberdade religiosa (BARRETO, 2019). 
 
 
 
Mas no Brasil nem sempre houve liberdade de crença religiosa. Em sua primeira 
Carta Magna, de 1824, a religião católica era declarada como a religião oficial do Império. 
Contudo, nas constituições seguintes não houve permanência dessa determinação. 
Enfim, atualmente, os brasileiros podem escolher suas crenças, professar sua expressão 
religiosa e ter a liberdade de ir aos espaços considerados sagrados. O Estado tem o 
dever de garantir essa liberdade (BARRETO, 2019). 
O Estado brasileiro é laico, diferente do Estado confessional, em que a religião 
influencia o poder estatal. Segundo a Constituição Federal, não há uma religião oficial no 
País, apesar de no início da Carta Magna haver referência a Deus. A Lei nº 9.459/1997 
afirma que é crime a prática de discriminação ou preconceito contra as religiões. Dessa 
forma, nenhum cidadão pode ser discriminado por motivo de crença religiosa. O crime de 
 
23 
 
intolerância religiosa é imprescritível, isto é, pode ser punido em qualquer tempo, e é 
inafiançável, ou seja, não pode ser pago com fiança (BARRETO, 2019). 
 
 
 
 
 
A religião também possui influência no mercado e na economia, como você viu 
no caso da ética protestante e do espírito do capitalismo. Para o sociólogo Peter Berger, 
existe uma religião de mercado. O que seria uma religião de mercado? Seria o processo 
em que a religião incorpora valores propagados pela mídia, pelos meios de comunicação 
(OLIVEIRA, 2012). E o que acontece? Os fiéis são vistos como público-alvo. A pregação 
se assemelha a campanhas de publicidade e a fé se transforma em produto. Há, portanto, 
a mistura do sagrado com o profano, do espírito com a matéria. Há também a valorização 
da prosperidade como busca de realização pessoal do ser humano. 
 
24 
 
Peter (1971 apud OLIVEIRA, 2012) enfatiza que há um processo de 
dessecularização da religião, pois, ao buscar intensamente a religião, o homem torna o 
mundo cada vez mais religioso. Logo, o mundo do século XXI tende a ser tão religioso 
quanto o mundo dos séculos anteriores. Esse novo processo fez com que as instituições 
religiosas agissem com a lógica mercadológica, adaptando os seus rituais, cerimônias e 
credos aos interesses individuais de cada ser humano. Assim, a religião é influenciada 
pelo pensamento atomizado dos indivíduos no mercado. 
7 OS SÍMBOLOS E OS RITOS 
Pode se dizer, conforme propõe Marconi e Presotto (2010, p. 28), que crença é 
“a aceitação como verdadeira de uma proposição comprovada ou não cientificamente. 
Consiste em uma atitude mental do indivíduo, que serve de base à ação voluntária. 
Embora intelectual, possui conotação emocional”. 
Então, a maneira como cada sociedade guia os seus rituais está permeada por 
crenças e valores construídos entre os seus membros ao longo dos tempos, podendo ser 
transmitidos de geração a geração ainda que possa ter sofrido pequenas alterações em 
sua forma original. Tendo em vista essa discussão, vamos nos aproximar de um estudo 
de rituais em que os indivíduos de uma sociedade manifestam seus sentimentos a partir 
de uma determinada ação (BARROSO, 2017). 
Para isso, vamos acompanhar os estudos antropológicos de Victor Turner (2008), 
que compreendia que os fenômenos culturais estão prenhes de símbolos e de crenças 
de tipo não estrutural, diante da estrutura do processo ritual. 
Nesse sentido, podemos dizer que Turner se contrapõe às ideias estruturalistas 
de Lévi-Strauss, pois a noção de levistraussiana enfatiza o cognitivo, a arbitrariedade do 
significado e a ideia de estrutura separada do sentido das ações e da intencionalidade 
dos atores. Enquanto que o pensamento turneriano ressalta a produção das construções 
simbólicas baseadas nos valores e nas crenças dos membros da sociedade (BARROSO, 
2017). 
A antropóloga Mariza Peirano se dedicou aos estudos dos rituais como estratégia 
analítica e abordagem etnográfica, evidenciando em seu livro, O dito e o feito, a 
 
25 
 
“perspectiva durkheimiana que vê nos cultos e rituais verdadeiros atos de sociedade nos 
quais são reveladas visões de mundo dominantes de determinados grupos” (PEIRANO, 
2002, p. 10). Ela acessou autores clássicos da Antropologia que discutiram o assunto, 
assim, retomou o interacionista simbólico Victor Turner que estudou os rituais entre 
Ndembus do noroeste da Zâmbia, no centro sul da África. 
Os interacionistas simbólicos entendiam que os símbolos servem para orientar 
as ações nas sociedades humanas. Assim, como afirma Turner (1974), esses símbolos 
são conscientes e atuam durante o processo ritual em que eles se apresentam em forma 
de objetos, gestos, cantos, para expor a mensagem que querem passar por meio do rito. 
Logo, o encadeamento de símbolos dentro do ritual, ordena e constrói a ideia de que está 
se passando de um ponto da estrutura social a outro. 
Assim, há certa estrutura social no processo ritual em que convive a ação social 
e os arranjos sociais no desenrolar desse rito. De modo que, nesses arranjos sociais,permeiam símbolos visuais e auditivos, operando culturalmente como combinações e 
associações de ideias que revelam cosmologias, valores, axiomas culturais dispostos na 
sociedade, e que são transmitidos de uma geração a outra também por meio do processo 
ritual (BARROSO, 2017). 
Os estudos de Turner visaram compreender a ligação entre as fases do ritual 
designando, para isso, aportes conceituais e teóricos na área da Antropologia. Como 
explica melhor Peirano (2002, p. 21): 
Victor Turner procurou resgatar a dimensão do viver, definindo os rituais como 
loci privilegiados para se observar os princípios estruturais entre os ndembu 
africanos, mas também apropriados para se detectar as dimensões processuais 
de ruptura, crise, separação e reintegração social, cujo estudo ele havia iniciado 
com sucesso mediante a ideia de “drama social” – ritos seriam dramas sociais 
fixos e rotinizados, e seus símbolos, no âmbito da razão durkheimiana, estariam 
aptos para uma análise microssociológica refinada. Fascinado pelos processos, 
conflitos, dramas – em suma, pelo vivido –, para Turner, símbolos instigam a 
ação. 
Nesse sentido, cabe utilizar o aporte teórico e conceitual turneriano para 
compreendermos as possibilidades de estudo da área e até termos condições de realizar 
análises de ritos e rituais relacionados às crenças e aos valores presentes na sociedade 
em que vivemos (BARROSO, 2017). 
 
26 
 
8 DESVENDANDO O PROCESSO RITUAL 
Para compreendermos o processo ritual, temos de resgatar o que diz Van 
Gennep (2011) sobre os estudos de ritos de passagem. Ele chamou assim todos os ritos 
de transição que acompanham a mudança de lugar, estado ou posição social de idade. 
E enfatizou três fases que esses ritos se desdobram: separação, margem (“limiar”) e 
agregação. De modo que todo ritual, de qual ordem fosse, estaria submetido a essa 
configuração. 
A primeira fase é quando o indivíduo ou grupo social inicia o afastamento da 
estrutura social em si. A segunda fase é o período limiar, no qual as características do 
sujeito ritual – que é quem está passando pelo ritual – são ambíguas, pois ele está fora 
da estrutura mais próxima a ela, em uma condição extrema. E a terceira fase é quando 
há a passagem e o indivíduo ou grupo social é reintegrado na estrutura, e volta a ter 
direitos e obrigações definidos e estruturados (BARROSO, 2017). 
Dessa maneira, como explica Gennep (2011), espera-se que o indivíduo ou 
grupo social se comporte de acordo com as normas e padrões éticos da sociedade em 
questão, conforme a nova posição social que ocupa ou ocupam após o ritual, conforme 
definido pela relativa estabilidade da estrutura. 
Por ritual, Turner (2005, p. 57) entende: 
[...] o comportamento formal prescrito para ocasiões não devotadas à rotina 
tecnológica, tendo como referência a crença em seres ou poderes místicos. O 
símbolo é a menor unidade do ritual que ainda mantém as propriedades 
específicas do comportamento ritual; é a unidade última de estrutura específica 
em um contexto ritual. 
Assim, devemos entender o ritual como um sistema de significados. 
Logo, esse autor se apropria das ideias de Gennep e realiza os estudos de ritos 
de passagens buscando as concepções interestruturais – que ele chama de communitas 
– em meio a passagem de um estado a outro na estrutural social (TURNER, 1974). No 
entanto, ele não trata esses dois momentos – communitas e estrutura social – como 
oposição, e sim de forma análoga, de modo que há uma relação dialética entre esses 
dois momentos que sustentam o caráter de humanidade para além de posição social. Ele 
 
27 
 
entende que muitas vezes é preciso passar pelo processo ritual, mas para que se 
restabeleça a estrutura social. 
A communitas é o momento de suspensão das relações cotidianas, é 
espontânea, autógena e reduz as diferenças sociais, enquanto a estrutura social reforça 
essas diferenças e marcações das relações cotidianas. Como a estrutura social é a arena 
na qual eles perseguem seus interesses materiais, a communitas é recalcada para o 
inconsciente. Os ritos, os símbolos e os mitos são complexos, e suas formas culturais na 
communitas pressupõe que esses elementos possam ser vivenciados com maior 
profundidade do que em qualquer outro contexto. Logo, na communitas cabe mais a 
transmissão das relações entre símbolos, ideias e valores do que a própria marcação das 
posições sociais (BARROSO, 2017). 
Vamos aprofundar o que diz Turner sobre essas fases! Em relação a segunda 
fase, que considera os períodos liminares, Turner (1974) entende que é um estar fora e 
dentro da estrutura social ao mesmo tempo, já que se suspende os relacionamentos 
sociais normais para ser reintegrado novamente. E o indivíduo ou grupo social que passa 
por esse ritual fica em uma espécie de invisibilidade estrutural, como se estivessem sido 
colocados à uma condição uniforme que é o communitas, para ser formatado de novo e 
em uma outra situação venha a ser realocado em outra posição social. Durante esse 
período de communitas, as manifestações que ali ocorrem devem parecer perigosas e 
sem organização, de modo que há algumas restrições nessa fase. 
Nesse sentido, a condição limiar do indivíduo ou grupo social, durante o processo 
ritual, tem algumas especificidades, como explica Turner (2008, p. 241): 
[...] numa situação temporariamente liminar e especialmente marginal, os neófitos 
passageiros são despidos de status e autoridade num rito de passagem 
prolongado – em outras palavras, removidos de uma estrutura social que é em 
última estancia mantida e sancionada pelo poder e pela força – e posteriormente 
nivelados até um estado social homogêneo pela disciplina e pelo ordálio [...] muito 
do que vinha sendo cerceado pela estrutura social é liberado, notadamente o 
senso de camaradagem e comunhão, em suma, de communitas [...]. 
Nesse sentido, o Turner (2008) ainda vai citar três situações da cultura onde a 
communitas, que é esse momento de suspensão das relações cotidianas, pode estar 
presente, são elas: liminaridade, outsiderhood e inferioridade estrutural. 
 
28 
 
Na liminaridade, é quando em um processo ritual se passa de um ponto de 
classificação a outro, o que está entre betwix e between, de modo que o neófito fica em 
um ponto inclassificável na estrutura social. Para Turner (2008), a liminaridade considera 
uma fase da vida social em que as atividades realizadas pelo sujeito ritual não estão 
demarcadas na estrutura social, de modo que essa fase se mantém como um estado e 
não mais uma passagem. 
O outsiderhood corresponde a quem tem uma posição diferenciada na 
sociedade, como líderes messiânicos, médiuns, xamãs, pais de santo, etc., pois eles não 
se encaixam na estrutura, já que analisam a estrutura social para analisar criticamente 
aos seus seguidores. Diferente dos liminares, eles não têm garantias de resolução final 
para sua ambiguidade, de modo que não têm um status social reconhecido (BARROSO, 
2017). 
E o último é a inferioridade estrutural, que se trata da condição de certas 
classes sociais ou da sociedade de castas, em que se considera uns inferiores em 
relação a outros superiores. A função simbólica dos que são rejeitados seria a de 
representar a humanidade sem qualificações, de modo que há recompensas desiguais 
para essas que são concedidas por suas posições diferenciadas (BARROSO, 2017). 
 
 
9 PROCESSO RITUAL NA RELIGIÃO 
Podemos nos valer dessa discussão mais teórica para pensar sobre o processo 
ritual no contexto religioso. De modo geral, crenças e rituais são elementos constitutivos 
 
29 
 
das práticas religiosas, uma vez que é por meio delas que o indivíduo ou o grupo social 
manifesta seus sentimentos (MARCONI; PRESOTTO, 2010). 
 
 
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De modo que reconhece e aceita a superioridade do sobrenatural e se coloca em 
devoção a ele, o ritual religioso cultuará o sobrenatural por meio de uma atividade 
acordada socialmente,podendo contar com elementos que compõe as práticas 
específicas envolvendo crenças e valores daquela sociedade (BARROSO, 2017). 
O estudo sobre o candomblé é amplo e complexo. Alguns pesquisadores se 
dedicaram a pesquisar os elementos que compõe sua concepção e suas práticas. Dias 
(2014) estava interessado na discussão do ori, que é um sentido peculiar dado à cabeça, 
a partir do contexto religioso, e explica a relevância de fazer essa análise: 
A análise da concepção e ritualidade em torno do orí nos permitiu alcançar todo 
um vasto quadro interpretativo e utilitário, fornecendo novos dados a um campo 
de análise tradicionalmente unívoco e unidimensionalmente formatado. Tal ideia 
equivale a dizer que com este trabalho, de algum modo, se abre um novo campo 
de possibilidades de leituras, interpretações, significações e configurações sobre 
os padrões de pensamento religioso yorùbá e afro-brasileiro, e suas expressões 
rituais (DIAS, 2014, p. 38). 
Nesse sentido, as análises etnográficas dos contextos rituais no âmbito religioso 
contribuem com a própria problematização do campo de atuação das religiões, mas 
também com a produção de registro dessas práticas por meio da escrita. O antropólogo 
 
30 
 
Vagner Gonçalves da Silva (1991, p. 57), que estudou longamente religiões afro-
brasileiras, entende que esses estudos também são contribuições para quem permitiu 
ser estudado, pois, segundo ele, “as etnografias vão constituindo assim o “corpus 
inscriptionum” da religião. 
De modo geral, o estudo dos rituais religiosos envolve a compreensão de seres, 
entidades, forças, almas, elementos rituais, cânticos entoados, entre outros. Há o culto 
dos objetos sagrados e até mesmo forma de ritos que são realizados. Marconi e Presotto 
(2010, p. 159), resumem que: 
A religião, de modo geral, reforça e mantem os valores culturais, estando muito 
deles ligados à ética e à moral, pelo menos implicitamente. Sustenta e inculte 
normas particulares de comportamento culturalmente aprovadas, exercendo, até 
certo ponto, poder coercitivo. Ajuda na conservação de conhecimentos ao 
transmitir, através de rituais e cerimônias dramatizadas, os procedimentos ou 
normas de conduta importantes em determinada cultura. 
Portanto, enfatizamos a relevância da análise do processo ritual no âmbito 
religioso, uma vez que o grupo praticante se encontra, cultua suas crenças e dá 
continuidade às práticas que fazem sentido para eles (BARROSO, 2017). 
10 CONCEITOS DE RELIGIÃO 
Para compreender o significado da religião, é interessante que você conheça a 
etimologia da palavra. Segundo Silva e Siqueira (2009), a palavra “religião” é derivada do 
latim e significa religar, reler ou ainda reeleger. A ideia, então, é de ligação entre a 
humanidade e a divindade. Ou seja, há o pressuposto de que entre o mundo dos homens 
e o mundo dos deuses existe uma forma de comunicação possibilitada pela religião. 
Durkheim (2000, p. 32) entende que a religião é “[...] um sistema solidário de 
crenças e de práticas relativas a coisas sagradas, isto é, separadas, proibidas, crenças 
e práticas que reúnem numa mesma comunidade moral, chamada igreja, todos aqueles 
que a elas aderem [...]”. Então, é por meio desse sistema que os membros de um grupo 
partilham e realizam a devoção aos seus deuses. Pode-se dizer ainda que os 
simbolismos e os significados que circulam em cada religião também definem como são 
as práticas de devoção. 
 
31 
 
Assim, para conceituar religião, é preciso abarcar a complexidade do termo, pois 
a devoção envolve uma série de crenças e práticas que são aprendidas no cotidiano de 
participação junto aos membros dos grupos religiosos. Dessa maneira, Giddens (2005) 
explica que as religiões reúnem símbolos relacionados à reverência ou ao temor. Tais 
símbolos estão ligados a rituais ou cerimônias realizadas por fiéis. Além disso, ainda que 
uma religião implique a crença em um deus, geralmente existem objetos ou seres que 
levam ao temor ou à admiração. 
Esses símbolos podem ser relativos a imagens religiosas — como santos, 
divindades, deuses — ou mesmo a tipos de comida e vestimentas com objetivos diversos, 
utilizados durante o ritual religioso ou ainda fora dele. Mas você também deve considerar 
pertinente os cantos, as falas, o soar dos instrumentos, a imposição de mãos, as danças 
coletivas, a questão energética, as visões e tudo aquilo que é relativo ao mundo imaterial. 
Nesse sentido, cada religião vai definindo o que é sagrado para ser cultuado e o 
que não é. Com isso, constitui uma gama de práticas e rituais fundamentais para os 
praticantes do grupo. Veja como Durkheim (2000, p. 226) explica a concepção de 
sagrado: 
O que define o sagrado é o fato de ser acrescentado ao real [...] Neste espaço as 
energias vitais estão superexcitadas, as paixões mais vivas, as sensações mais 
fortes; existem mesmo algumas que só se produzem senão neste momento. O 
homem não se reconhece: sente-se como que transformado e, por conseguinte, 
transforma o meio que o rodeia. Para explicar-se as impressões muito 
particulares que experimenta, ele atribui às coisas com as quais estão em relação 
poderes excepcionais, virtudes que não possuem os objetos da experiência 
vulgar. 
Dessa forma, a religião se apresenta como mais uma das chaves explicativas 
que propõem saídas para as dúvidas mundanas e as questões filosóficas que 
atormentam os homens. Afinal, as explicações dadas por esses sistemas de simbolismos 
fazem sentido para os membros do grupo e também acalmam suas angústias em relação 
às vivências cotidianas. Assim, a transformação de que fala Durkheim (2000) remete à 
ideia de que as experiências religiosas vividas são levadas para fora do âmbito religioso 
e exercidas no dia a dia, junto a outras pessoas, que têm outras crenças e outras práticas. 
Logo, esse “fazer sentido” que é entendido pelos praticantes das diferentes 
religiões diante do culto que frequentam se dá porque as explicações trazidas pelas 
 
32 
 
religiões também consideram os sistemas sociais em que estas estão inseridas. Ou seja, 
as explicações sobre o que parece não ter explicação se acomodam em outros sistemas 
de simbolismos presentes na vida social. Elas passam a ser compreensíveis para os 
praticantes de cada religião. Nesse sentido, Nola (1987) reforça que o universo da 
religião, do sagrado, não é autônomo e sem sentido de uma perspectiva laica. Além disso, 
não é estranho ao mundo racional. Ele se expressa e se mostra na realidade mesma, na 
relação contínua que a justifica e a explica. 
É na convivência coletiva que as explicações religiosas surgem e também se 
solidificam, fazendo com que o espaço da prática religiosa se constitua como mais um 
espaço de organização e ordem social. Essa observação é evidenciada por Coutinho 
(2012, p. 181), que afirma que “As religiões compreendem coletividades no seio das quais 
se desenvolvem práticas, se elaboram, defendem e discutem crenças. Faz parte da 
essência da religião a sua componente organizativa [...]”. 
Desse modo, o conceito de religião considera a ordem social promovida pela 
participação dos membros da sociedade no âmbito da questão religiosa. A participação 
no universo sagrado (por meio de rituais, por exemplo) oferece prestígio social, o que 
pode ser compreendido como uma das funções sociais da religião. Ela mesma é um 
sistema de crenças e práticas relacionadas ao sagrado. As coisas sagradas, assim, 
reúnem o povo em uma comunidade moral. Ele compartilha crenças que são essenciais 
à constituição e à manutenção da religião (TIMASHEFF, 1971). 
Como você pode notar a partir dessa discussão, há complexidade no estudo da 
religião. Além disso, é necessário ter cuidado e respeito ao considerar religiões que 
tenham crenças ou práticas que, em um primeiro momento, não façam sentido para você. 
Cada religião deve ter liberdade de cultuar suas práticas devocionais e ser respeitada por 
isso. 
 
 
3311 RELIGIÃO E SOCIEDADE 
A relação entre sociedade e religião perpassa inúmeras questões. O que é 
aprendido na religião pode atravessar outras áreas da vida social e se constituir como 
uma forma de vida dedicada à causa religiosa. Considere, por exemplo, o uso do hijad, 
que é o conjunto de vestimentas preconizadas pela doutrina islâmica. De acordo com o 
pensamento guineense, pesquisado por Abranches (2007, p. 168–169): 
As mulheres muçulmanas, normalmente, não devem deixar o cabelo solto, só 
que hoje em dia, como se vê, cada um faz como quer. Mesmo na Guiné também 
é assim, andamos assim. Há os que não deixam mesmo o cabelo solto, tapam 
tudo até aqui, mas há menos na Guiné isso do que nos países árabes. Fazem o 
possível por tapar o cabelo, as partes que atraem mais os homens, é isso. Mas 
isso, na Guiné, há pouca coisa. Quando as pessoas têm certas idades é que 
fazem mais isso. 
Então, até mesmo na forma de viver há elementos que são englobados pela 
doutrina religiosa. Contudo, nos dias de hoje, algumas igrejas têm exigido menos 
transformações no modo de vida dos fiéis, ainda que propaguem preceitos religiosos 
cristãos. É o que afirma Dantas (2010, p. 56) ao analisar a Igreja Evangélica Bola de 
Neve: 
O sucesso da igreja se deve à identificação do jovem com sua imagem, à 
proximidade dos pastores, à informalidade dos cultos e à linguagem 
descontraída. Sua identidade, constituída pela negação de certos 
tradicionalismos, pela ruptura com rituais religiosos convencionais, pelo culto ao 
corpo perfeito, pela preocupação com a saúde e pela preconização da juventude, 
atrai o público jovem, que se recusa a frequentar igrejas que lhe impõem como 
regra abandonar sua vida para dedicar-se à devoção religiosa. Com o intuito de 
recrutar novos clientes, os pastores à primeira vista procuram "vender" a imagem 
de liberalidade e divulgar a ideia de que se opõem aos dogmas religiosos, o que 
na prática não se confirma. De fato, a igreja não oferece restrição às vestimentas, 
 
34 
 
às tatuagens, aos piercings, aos esportes radicais, em suma, à aparência do 
crente. Contudo, empenha-se em coibir o consumo de bebidas alcoólicas, o uso 
de cigarros e a frequência a bares e boates, além de repudiar o 
homossexualismo, o sexo pré- -nupcial e as relações extraconjugais, 
preconizando a virgindade e o casamento monogâmico e heterossexual. Embora 
a congregação pareça liberal e flexível, no cotidiano das relações institucionais 
ela utiliza vários mecanismos de censura e resgata códigos tradicionais de 
controle da sexualidade. 
Aquelas práticas mais tradicionais que abarcam o molde da sociedade patriarcal 
também se renovam e atualizam em novas práticas, que são ressignificadas e incluídas 
no cotidiano de crenças e costumes de determinada religião. Segundo Steil (2001), na 
contemporaneidade, a crença religiosa vive um “processo de recuperação de sentidos 
como linguagem significativa”. Assim, a dualidade entre a razão e a emoção, vinculada à 
modernidade ocidental, abre espaço para uma relação diversa, que põe coração e 
racionalidade lado a lado. Nesse sentido, a ideia não é optar pela experiência ou pelo 
dogma religioso. A proposta é encontrar vivências espirituais afetivas para cada trajetória 
pessoal. 
Você deve considerar que não só as religiões influenciam outros âmbitos da 
sociedade, mas esses outros âmbitos também influenciam a vida religiosa. Coutinho 
(2012, p. 176) apresenta esse panorama comparando sociedades ocidentais e orientais: 
O contexto cultural influencia sobremaneira a definição de religião. Nas 
sociedades ocidentais, onde se associa a religião à relação com algo 
transcendente, ela é sistema mediador entre o homem e entidades superiores. O 
Ocidente, altamente marcado pela cultura judaico-cristã, releva o Deus único e 
transcendente. Nas sociedades orientais, budistas e hinduístas, a transcendência 
não está presente, mas antes o panteísmo, um deus em tudo. Assim, a religião 
não é ligação a algo superior e transcendente, mas à própria natureza, a todos 
os seres vivos. 
Ainda assim, cada sociedade se organiza para definir a relação entre a religião e 
o Estado. Essa relação pode ser de mais proximidade ou mesmo de ruptura. O meio pelo 
qual se estabelece essa definição pode ser tanto a publicação da constituição quanto 
acordos sociais. 
 
 
35 
 
 
 
No Brasil, ocorre a separação entre Estado e religião por meio do conceito de 
laicidade. Isso significa que o Estado não favorece nem segue nenhuma religião. 
Portanto, ele se opõe ao Estado confessional, ou seja, àquele que tem posição religiosa. 
O Estado confessional inclui até mesmo o Estado ateu, dado que este assume uma 
posição religiosa em sentido negativo. De acordo com a laicidade, o Estado não segue 
nenhuma doutrina oficial. Portanto, os cidadãos não têm de se associar a igrejas ou 
seitas. Além disso, não existe a noção de heresia (interpretação, doutrina ou sistema 
teológico rejeitado como falso pela igreja) (LACERDA, 2014). 
Como destaca Negrão (2008), foi a partir da proclamação da República no Brasil, 
em 1889, que ficou definida na constituição a ruptura mais clara entre Estado e religião, 
possibilitando uma sociedade mais pluralista e laica ao longo do século XX. Entretanto, 
o mesmo autor apresenta os desafios da influência das igrejas nos dias atuais: 
A proclamação republicana, contudo, não significou a perda da hegemonia 
católica e de sua influência na vida cultural e política brasileira. A Igreja Católica 
continuou a cooperar eventualmente com o Estado Republicano, como no 
combate às heresias messiânicas, e a impor seus princípios religiosos às 
constituições, como a proibição do divórcio e do aborto legal. A Igreja Católica 
aproveita sua recente liberdade para reaproximar-se da ortodoxia vaticana. Os 
padres passam a ter uma formação seminarística mais cuidadosa, são nomeados 
bispos apenas os mais dedicados e ultramontanos, trazem-se ordens religiosas 
europeias para administrar os santuários e demais serviços religiosos, busca-se 
incutir um catolicismo menos mágico e devocional e mais cristocêntrico nas 
camadas populares (NEGRÃO, 2008, p. 265–266). 
Assim, você pode perceber o quanto é importante compreender a relação entre 
religião e sociedade. Afinal, há transformações ao longo dos anos que são possibilitadas 
justamente por essa relação. 
 
36 
 
12 RELIGIÃO E IDEOLOGIA 
Já que as religiões se estabelecem como sistemas de simbolismos pelos quais 
perpassam as crenças e práticas rituais, você pode pensar em como a questão da 
ideologia interfere nisso. Para compreender qual é a relação entre a religião e a ideologia, 
você precisa conhecer o conceito de ideologia. Segundo Carone (1991), a ideologia é 
definida em sociedade. Contudo, as configurações da ideologia pessoal de cada pessoa 
(suas opiniões, seus comportamentos e seus valores) se orientam de acordo com motivos 
irracionais, relacionados a estruturas psíquicas mais ou menos estáveis. Nesse sentido, 
é preciso diferenciar a ideologia como fenômeno social da ideologia que é internalizada 
pelo sujeito e que passa a integrar a sua personalidade. 
Ou seja, apesar de a origem de inculcação de certas ideias variar, o indivíduo as 
internaliza e, de certa maneira, as reproduz também na sociedade em que está. Essa 
internalização se dá de forma inconsciente e não acontece rapidamente. Cohn (1986, p. 
17) explica mais sobre esse processo: 
[...] a ideologia, além de ser um processo formador de consciência e não apenas 
instalada nela, opera no nível do inconsciente, no sentido forte do termo: ela não 
apenas oculta dados da realidade, mas os reprime, deixando-os sempre prontos 
a retomar à consciência ainda que de novo sob formas ideológicas. Nessas 
condições, o desenvolvimento da consciência pelo contato reflexivo com a 
realidade é um processo doloroso, como é a própria civilização na concepção 
freudiana. 
Ao mesmo tempo, é importante você notar que não háideias que sejam neutras 
ou que não estejam carregadas de intenções. Assim, cada qual que defende suas ideias 
afirma que as elas são mais verdadeiras e neutras do que as de outras pessoas. Como 
enfoca Boff (2002), os sistemas culturais, científicos, políticos, econômicos e até 
artísticos que se dizem detentores únicos da verdade e de uma resolução para os 
problemas são fundamentalistas. Hoje, de acordo com o autor, o mundo está sob 
influência de diversos fundamentalismos. 
 
 
37 
 
 
 
Chauí (2000, p. 76) reforça esse apontamento: 
A noção de ideologia veio mostrar que as teorias e os sistemas filosóficos ou 
científicos, aparentemente rigorosos e verdadeiros, escondiam a realidade social, 
econômica e política, e que a razão, em lugar de ser a busca e o conhecimento 
da verdade, poderia ser um poderoso instrumento de dissimulação da realidade, 
a serviço da exploração e da dominação dos homens sobre seus semelhantes. 
A razão seria um instrumento da falsificação da realidade e de produção de 
ilusões pelas quais uma parte do gênero humano se deixa oprimir pela outra. […] 
A noção de inconsciente, por sua vez, revelou que a razão é muito menos 
poderosa do que a Filosofia imaginava, pois, nossa consciência é, em grande 
parte, dirigida e controlada por forças profundas e desconhecidas que 
permanecem inconscientes e jamais se tornarão plenamente conscientes e 
racionais. A razão e a loucura fazem parte de nossa estrutura mental e de nossas 
vidas e, muitas vezes, como por exemplo no fenômeno do nazismo, a razão é 
louca e destrutiva. 
Por isso é importante você compreender os meandros articulados junto ao 
conceito de ideologia e relacioná-los com outros âmbitos da sociedade. Para Chauí 
(2000), a ideologia tem uma função bem clara. Tal função é esconder e disfarçar as 
distinções sociais e políticas. A ideia é emprestar a elas a aparência de indivisão, como 
se fossem diferenças naturais entre os homens. Assim, embora haja a divisão das 
classes sociais, as pessoas são induzidas a acreditar que são iguais porque 
compartilham a humanidade, ou a pátria, a raça, etc. Com relação às diferenças naturais, 
elas são levadas a acreditar que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não 
se originam na divisão social das classes, mas se relacionam a talentos e capacidades 
individuais, bem como à inteligência, à força de vontade, etc. 
Assim, você pode considerar que as religiões abarcam questões ideológicas e 
defendem seus pontos de vista a qualquer custo. Martín-Baró (1998) afirma ainda que as 
religiões podem servir de suporte para ideologias políticas, sendo elas conservadoras ou 
progressistas. Nesse sentido, para compreender o poder da religião no meio político, é 
imprescindível analisar a dimensão ideológica da experiência religiosa. 
 
38 
 
Por meio das crenças, práticas e rituais, é possível aprender mais sobre as 
possibilidades de relação entre ideologia e religião. Segundo (1997, p. 23) reforça essa 
ideia ao dizer que “[...] a análise da existência humana mostra que fé e ideologia são 
dimensões humanas [...] universais e complementares [...]”. Logo, não é possível 
imaginar a religião dissociada da ideologia. 
13 A CONSTRUÇÃO FAMILIAR 
O que se pode dizer sobre a família contemporânea? E sobre as famílias mais 
antigas? A ideia de construção familiar pode variar de acordo com as gerações? A partir 
de que noções é possível compreender a família? Essas são perguntas que precisam ser 
destrinchadas aos poucos. Ao longo deste capítulo, você vai perceber que algo que 
parece natural pode ser, na verdade, construído socialmente, podendo variar de acordo 
com cada sociedade (BARROSO, 2018). 
Segundo Saraceno (1997, p. 14): 
[...] a família é como o espaço histórico e simbólico no qual e a partir do qual se 
desenvolve a divisão do trabalho, dos espaços, das competências, dos valores, 
dos destinos pessoais de homens e mulheres, ainda que isso assuma formas 
diversas nas várias sociedades. 
Assim, essas formas diversas também se adaptam aos costumes culturais, 
ganhando arranjos e significações específicas, que podem fazer sentido numa 
sociedade, mas não em outra. A partir dessas ideias, Saraceno (1997) reforça que a 
família é, na verdade, uma construção social. É a partir dela que os atores sociais 
definem formas e sentidos da mudança da sociedade que habitam. Logo, é por meio do 
convívio social que a família vai se definindo e estabelecendo suas fronteiras. 
Sabendo disso, você já pode deixar de lado a ideia naturalizada de família, que 
evidencia o atributo biológico em detrimento do atributo social. Ou seja, uma família não 
é constituída apenas por quem tem o mesmo sangue, mas também por aqueles que se 
reconhecem como membros de um círculo familiar. Acompanhe o raciocínio de Dias 
(2011, p. 141): 
 
39 
 
Seja qual for o modelo de família, ela é sempre um conjunto de pessoas 
consideradas como unidade social, como um todo sistémico onde se 
estabelecem relações entre os seus membros e o meio exterior. Compreende-se 
que a família constitui um sistema dinâmico, contém outros subsistemas em 
relação, desempenhando funções importantes na sociedade, como sejam, por 
exemplo, o afeto, a educação, a socialização e a função reprodutora. Ora, a 
família como sistema comunicacional contribui para a construção de soluções 
integradoras dos seus membros no sistema como um todo. 
Desde o nascimento, a família é a primeira instituição de socialização. É com os 
membros familiares que a criança aprende, de maneira inicial, a falar, a se comportar, a 
reconhecer quais valores deve ter e a perceber como deve agir com os outros membros 
da sociedade. A família também define quem são heróis naquela cultura, entre outros 
atributos culturais que são introjetados por aqueles que cuidam da criança. Assim, a 
criança não precisa necessariamente ser criada pelo pai e pela mãe para se desenvolver. 
Ela pode ser criada por tio, tia, avó, avô, ou mesmo ser adotada por alguém que 
reconheça como seus pais. Segundo Szymanski (2002, p. 10): 
[...] o ponto de partida é o olhar para esse agrupamento humano como um núcleo 
em torno do qual as pessoas se unem, primordialmente, por razões afetivas 
dentro de um projeto de vida em comum, em que compartilham um quotidiano, e, 
no decorrer das trocas intersubjetivas, transmitem tradições, planejam seu futuro, 
acolhem-se, atendem aos idosos, formam crianças e adolescentes. 
Ao mesmo tempo, isso não significa que esse agrupamento humano tem de ser 
homogêneo, como diz Sarti (2000), com os mesmos gostos e valores, com todos os seus 
membros pensando as mesmas coisas sobre o mundo em quem vivem. Pelo contrário, 
existem filhos que torcem para o time rival do dos pais, há filhas gêmeas que detestam 
se vestir de modo igual, há primos que pensam em projetos políticos diferentes para o 
país em que vivem, bem como existem parentes que discordam sobre qual presente dar 
para o membro mais antigo da família, etc. 
O que é importante destacar na relação familiar é justamente a possibilidade de 
se lidar com as diferenças num agrupamento humano menor, visando à tolerância e ao 
diálogo junto aos membros da sociedade como um todo. Logo, a heterogeneidade já vai 
sendo evidenciada no âmbito familiar e também marca as diferenças entre seus 
membros. Essa ideia é reforçada por Ribeiro (1999, p. 45): 
 
40 
 
[...] viver em família significa a possibilidade de lidar com o permanente dissenso 
entre os projetos de homens e mulheres, como também de pais e filhos. Isto 
explicita a convivência entre visões de mundo conflitantes sobre a realidade, de 
onde vai emergir a heterogeneidade, a pluralidade dos estilos de vida, das formas 
de organização, das relações de gênero que se estruturam e se mantêm, em 
meio às rupturas e às continuidades com os valores herdados do passado e os 
valores apropriados no percurso da vida pessoal. 
Não importa o número de componentes numa família; o queimporta é a 
possibilidade de troca de opinião, de aprendizagens e de vivências que enriqueçam o 
repertório dos membros. Essa heterogeneidade presente no seio familiar também vai se 
modificando ao longo do tempo, fazendo com que o modelo de família se altere. Assim, 
a família também é reflexo do que acontece com a sociedade, como enfatizam Faco e 
Melchiori (2009, p. 122): 
O sistema familiar muda à medida que a sociedade muda, e todos os seus 
membros podem ser afetados por pressões internas e externas, fazendo com que 
ela se modifique com a finalidade de assegurar a continuidade e o crescimento 
psicossocial de seus membros. 
14 FAMÍLIA NO PLURAL 
A partir do que você viu até aqui, pode considerar que as concepções de família 
mudam com o tempo e o lugar. Por isso é importante conhecer e refletir sobre as 
diferentes formas de composição da família. Mas por que é importante conhecer a família 
enquanto conceito? 
[...] a dinâmica que fundamenta as organizações familiares pode funcionar como 
fonte de “coesão, cooperação e comprometimento, mas também como fonte de 
conflito, rivalidade, discriminação e exclusão” (Davel & Colbari, 2003, p. 5). Em 
vista disso, observa-se que o universo das organizações familiares é plural, 
diversificado, multifacetado, em que coexistem relações de toda a ordem, tanto 
positivas quanto negativas. Portanto, ressalta-se a necessidade de compreender 
as organizações familiares por meio de nova óptica, que valorize e forneça maior 
respaldo para compreender as suas especificidades simbólicas (LESCURA et al. 
2012, p. 102). 
Dessa maneira, cabe compreender o conceito de família não a partir de uma 
definição pronta, fechada e única, e sim levando em consideração as diferentes 
experiências que compõem o modelo familiar. Assim, o conceito de família se amplia. A 
 
41 
 
família se torna plural, e não mais aquela família nuclear que está restrita ao espaço de 
uma só casa (Figura 1) (BARROSO, 2018). 
 
 
 
Essa abertura de sentido do conceito permite incluir vivências diversas na 
compreensão da família, ainda que se possa estranhá-las num primeiro momento. 
Considere estes outros pontos relevantes: 
A família pode ser definida como um núcleo de pessoas que convivem em 
determinado lugar, durante um lapso de tempo mais ou menos longo e que se 
acham unidas (ou não) por laços consanguíneos. Ela tem como tarefa primordial 
o cuidado e a proteção de seus membros, e se encontra dialeticamente articulada 
com a estrutura social na qual está inserida (MIOTO, 1997, p. 120). 
Ou seja, o que define o vínculo familiar é muito mais a relação de cuidado e a 
proteção que os membros estabelecem entre si do que, de fato, os laços sanguíneos. 
Essa diferença sobre o cuidado que se tem no âmbito familiar é algo crucial. 
Nesse contexto, aquilo que se define como “parente” se relaciona também a essa 
noção de cuidado, ainda que se possa dizer que: 
[...] a família é um grupo social concreto e o parentesco uma abstração, uma 
estrutura formal, que resulta da combinação de três tipos de relações básicas: a 
relação de descendência (entre pais e filhos), a de consanguinidade (entre 
irmãos) e a de afinidade, que se dá pela aliança, através do casamento 
(BRUSCHINI, 1997, p. 60). 
Entretanto, a ideia de parentesco tem se ampliado para além das relações 
descritas. Hoje, se configuram como parentes aqueles que também oferecem cuidado e 
 
42 
 
proteção aos indivíduos. Atualmente, estão incluídas nessa categoria de afinidade as 
alianças advindas de amizade, de vizinhança e mesmo de valores (BARROSO, 2018). 
Dessa maneira, você também pode considerar que “O parentesco é uma rede de 
conexões de proximidade irradiada do indivíduo. Já a família, na concepção ocidental, é 
uma instituição baseada na parceria conjugal e na criação dos filhos” (LUNA, 2007, p. 
180). Mas aqueles que cuidam e protegem, mesmo que não tenham relações sanguíneas 
diretas com a criança, como no caso da adoção, podem ser considerados família, se 
assim desejarem. Portanto, é preciso pensar numa concepção de família que seja plural, 
como garantem as regras constitucionais: 
Importante pontuar que a família brasileira é plural, especialmente porque 
decorrente das relações interpessoais e sem quaisquer discriminações ou 
hierarquias, devendo ser afastada, o quanto possível, a ingerência do Estado na 
vida privada, no tocante ao projeto de vida da pessoa humana e da construção 
de sua dignidade no âmbito fraterno e solidário das entidades familiares, 
permitindo-se tal intervenção apenas para a promoção da igualdade e pluralidade 
das relações com o fim de construir uma sociedade livre, justa e solidária 
(ANGELUCI, 2017, p. 63). 
Você deve ter em mente que a sociedade contemporânea engloba novos 
aspectos ao conceito de família. É o que afirma Vaitsman (1994, p. 19): “[...] o que 
caracteriza a família e o casamento numa situação pós-moderna é justamente a 
inexistência de um modelo dominante, seja no que diz respeito às práticas, seja enquanto 
um discurso normatizador das práticas”. 
A seguir, você pode ver os novos padrões familiares — com base na divisão feita 
por Hintz (2001): 
 
a) Família monoparental — o casal se divorcia ou se separa e um dos pais 
assume o cuidado dos filhos; 
b) Família reconstituída — o casal une os filhos de casamentos anteriores 
com os filhos do atual casamento; 
c) União consensual — primeira forma de união entre os casais; 
d) Casal sem filhos por opção — o casal foca em outras áreas da sua vida e 
não na questão da vinda de um filho; 
e) Família unipessoal — a pessoa opta por ficar sozinha; 
 
43 
 
f) Associação — a família é formada por amigos sem grau de parentesco, 
que não têm necessariamente um contato sexual, mas vivem juntos; 
g) Casal de homossexuais — duas pessoas do mesmo sexo decidem 
assumir uma relação estável. 
 
Como você pode perceber, há diferentes formas de se reconhecer uma família. 
Essa definição não implica determinado número de pessoas ou mesmo o sexo desses 
componentes. Se uma pessoa opta por viver sozinha, ou se um casal opta por juntar seus 
filhos no mesmo espaço, a ideia que está colocada é de que os membros da família se 
sentem confortáveis com as relações familiares que definiram para si (BARROSO, 2018). 
Agora, que tal avançar para compreender as possibilidades de constituição de 
uma família em termos legais? Considere, por exemplo, a adoção. Há muitas crianças 
que aguardam para serem adotadas nos abrigos e para quem o dia de encontrar seus 
novos pais é o melhor dia de suas vidas. Desse modo, é relevante que você compreenda 
esses novos padrões familiares que se estabelecem na sociedade contemporânea e 
também que conheça a pertinência desses modelos, respeitando suas formas de 
expressão (BARROSO, 2018). 
15 FORMAÇÃO DA FAMÍLIA E SOCIEDADE 
Na sociedade contemporânea, ocorrem cada vez mais adoções de crianças por 
casais com diferentes orientações sexuais. Essa adoção pode se dar apenas por uma 
pessoa, por um casal ou por um conjunto de pessoas que vivem juntas. Como você já 
viu, para o conceito de família, é crucial é a noção de cuidado e proteção dos membros 
envolvidos. A questão da adoção evidencia outros termos utilizados atualmente para se 
definirem as novas formas familiares. Entre a gama de termos existentes, considere a 
coparentalidade: 
Trata-se de arranjos familiares criados por gays e lésbicas que se associam com 
um parceiro do outro sexo para procriar, com ou sem relações sexuais, e criar a 
criança assim gerada em sistemas variados de residência alternada. A 
coparentalidade pode assumir múltiplas formas de acordo com o status conjugal 
dos parceiros e com o papel reservado a cada um dos atores envolvidos na 
 
44 
 
elaboração do projeto. Assim, podemos ter situações onde um casal de homens 
decide ter uma criança com um casal de mulheres, um casal de mulheres com 
um homem solteiro (que pode ser homossexual ou heterossexual)ou ainda um 
casal de homens com uma mulher solteira (que também pode ser homossexual 
ou heterossexual) (TARNOVSKI, 2010, p. 2). 
Com os novos padrões familiares, cabe à sociedade se adaptar e compreender 
que as novas formas de se estar junto são tão legítimas como a família nucleada e 
estabelecida por relações sanguíneas. Assim, mesmo que se tenha garantida a noção 
de liberdade na Constituição Federal de 1988, é preciso readaptar as formas jurídicas 
para que as novas famílias tenham seus direitos garantidos e possam viver com mais 
tranquilidade e segurança jurídica. Nesse sentido, ainda há uma longa luta a ser 
realizada, como explicita Scott (2004, p. 70): 
Espaços novos e antigos abrem e alargam-se em torno da discussão de papéis 
individuais, psicológicos e ideológicos na família, e questões sobre políticas 
públicas, reprodução, gênero e sexualidade se tornam temas importantes, 
forjados agora num linguajar de direitos internacionais e cooperação para a 
criação de uma diversidade legítima sob a vigilância da ordem global. Procuram-
se direitos, definidos e (controlados) por meio de movimentos capazes de colocar 
holofotes sobre as demandas dos seus participantes, e a família, devido à sua 
própria diversidade, se torna uma arena para a negociação e realização desses 
direitos, muito mais do que um sujeito de movimentos ou de investigação 
próprios. 
As pessoas que compõem esses novos padrões familiares ainda passam por 
situações constrangedoras na sociedade em que vivem, como apontam Grosman e 
Martínez Alcorta (2000, p. 132): 
[...] atualmente estas famílias vivem seu acontecer cotidiano essencialmente no 
marco privado, à margem da lei, com pautas institucionais adstritas só a alguns 
integrantes do grupo. Se constituíram fora dos referenciais da família clássica e 
sua situação pode ser qualificada como paradigmática, pois por uma parte sofrem 
a desconfiança que nasce de “transgredir” o modelo “normal”, mas por outra são 
aceitas, cada vez de maneira mais crescente, devido a sua força e magnitude. 
Nesse sentido, cabe compreender que um dos grandes desafios 
contemporâneos consiste em: “[...] respeitar a pluralidade de institutos e, por 
consequência, a pluralidade de efeitos que, por certo, podem (e devem) ser diversos, sob 
pena do aniquilamento da liberdade da pessoa e da sua própria dignidade humana” 
(ANGELUCI, 2017, p. 73). Assim, com o acesso aos direitos, as famílias podem garantir 
 
45 
 
que sua geração tenha continuidade. Por último, como evidencia Scott (2010, p. 277), há 
uma diferença que precisa ser destacada: 
Famílias são compostas de gênero, geração, conjugalidade, sentimentos de 
pertencimento, ideias de corresidência, cooperação solidária, autoridade, afeto e 
subjetividade, entre outras coisas. Gerações são compostas de pessoas 
entrelaçadas hierarquicamente por redes de parentesco e família, por pessoas 
ligadas por pertencerem a categorias etárias e por pessoas cuja referência 
temporal é algum evento ou ambiente histórico que unifica muitas pessoas 
geralmente em referência a algum evento exterior à idade e ao parentesco. De 
certa maneira, os usos, em horas diferentes, de ideias, de ciclos, de cursos e de 
trajetórias, ao discutir gerações, reflete uma ascensão atual de subjetividades, 
configurações fragmentadas e de noções diversas de tempo numa articulação 
longa e variada de ideias forjadas de acordo com a polissemia e a mobilidade 
dos objetos em investigação. 
Portanto, como você viu, a sociedade está em transformação, e o conceito de 
família acompanha as mudanças. É por isso que você também tem de se atualizar e 
compreender os novos padrões familiares (BARROSO, 2018). 
 
 
16 A CULTURA HUMANA E A CONSTRUÇÃO DO SER SOCIAL 
Ainda antes de nascermos somos seres em relação com o mundo. Primeiro 
somos gerados pelo imaginário materno, cultivados por meio da noção de mundo desse 
imaginário. Logo ao nascermos, iniciamos nossa jornada social. Somos atravessados 
pelas demandas familiares, somos frustrados por tais demandas ou temos sanado 
nossos desejos. Ou seja, nos constituímos na relação com o mundo influenciado pelas 
relações anteriores a nossa constituição (AZEVEDO, 2005). 
O sujeito enquanto ser social reflete seu universo psíquico por meio do seu 
comportamento, expressando sua subjetividade conforme seu modo de agir. Atravessado 
 
46 
 
por suas escolhas e implicações ao mesmo tempo em que se relaciona com o mundo 
(AZEVEDO, 2005). 
Genuíno, efetivo, autêntico, assim o ser social é captado e dialeticamente 
integrado ao viver. Possui capacidade inerente de transmutar a própria natureza e a si 
mesmo sincronicamente. Dessa forma, o ser social se constitui como ser criador, não 
somente por sua capacidade de pensar, mas também por sua capacidade de agir de 
forma consciente e racional (BARUS-MICHEL, 2004). 
O ser social se constitui de acordo com sua natureza relacional, assim sendo, a 
partir das relações com outros sujeitos, tomando para si a realidade vivenciada por 
culturas anteriores ao seu existir. Desfruta da oportunidade de experimentar o manuseio 
dos instrumentos e dos aprendizados cultivados pelas gerações anteriores, com o 
objetivo de adaptar, aprimorar ou mesmo perpetuar os conhecimentos (AZEVEDO, 
2005). 
As relações sociais também são prévias e inerentes a todo sujeito. Por exemplo, 
seu histórico familiar, a história do local em que vive os acontecimentos sociais, entre 
outros, colocam o sujeito em constante movimento e transformação na construção do ser 
social. O universo interior de todos os sujeitos se forma de acordo com questões 
provindas da cultura humana, ou seja, muitas das formas de agir e pensar de todo sujeito 
surgem de acordo com movimentos vindos de sua relação com o mundo e são 
importadas para a estruturação do ser social (AZEVEDO, 2005). 
Assim, o ser social está em constante formação por meio das relações sociais 
provindas do tempo presente ou do passado. E se disponibiliza por meio da conexão com 
sua própria subjetividade e com a subjetividade inerente às vivências sociais. Passa 
adiante sua herança social em progressiva vinculação com o mundo exterior e com a 
continuidade da movimentação da cultura humana (BARUS-MICHEL, 2004). 
 
 
47 
 
 
17 A SUBJETIVIDADE DO UNIVERSO PSÍQUICO E A RELATIVIZAÇÃO DOS 
PAPÉIS SOCIAIS 
Como vimos, o sujeito não está alheio aos preceitos sociais. Por estar em 
constante movimento constitutivo, se disponibiliza subjetiva e intrinsecamente. Articula, 
combina e se reinventa enquanto ser social, na busca por novas aprendizagens e modos 
de viver. 
Portanto, se aproximam reciprocamente os processos de constituição do 
psiquismo e do ser social, por meio da subjetivação das experiências relacionais. Logo, 
a dimensão afetiva está ativamente implicada na construção de ambos aspectos do 
desenvolvimento do sujeito (AZEVEDO, 2005). 
A personalidade é característica própria e singular de cada sujeito, constituindo 
uma forma de sentir, pensar e atuar que o torna único e incomparável. Possui três fatores 
que se entrecruzam em sua constituição: a estruturação genética básica, as influências 
do meio e o modo como o sujeito interpreta os acontecimentos (AZEVEDO, 2005). 
A estruturação genética básica se refere às características hereditárias herdadas 
da família, como os aspectos físicos, a cor da pele, olhos e cabelos, e aspectos 
emocionais, como tendência a oscilações de humor, fantasias e também transtornos 
graves, como a esquizofrenia. As influências do meio se referem às contribuições das 
relações sociais para o desenvolvimento do ser e o modo como o sujeito interpreta os 
acontecimentos, utilizando suas ferramentas potenciais, reunindo as características 
genéticas e o seu desenvolvimento social, relacionando de uma forma ao instrumentalizar 
para uma melhor fluência do seu modo de viver (AZEVEDO, 2005). 
 
48 
 
A personalidade tem seu início estrutural ainda no útero materno.A maneira 
como a mãe sente e reage sobre a gestação começa a contribuir para a formação da 
personalidade. Ainda nos primeiros anos de vida, a criança se constitui enquanto sujeito, 
atribuindo sentido e relacionando seu existir no mundo. O modo como o mundo se 
apresenta para a criança, no início com a representação da família, seguida da escola e 
das demais relações sociais, vai definir o desenvolvimento da personalidade da criança 
(AZEVEDO, 2005). 
Vygotsky e Alexander (1996) referem sobre uma personalidade social construída 
conforme as relações ao longo da existência do sujeito. Dessa forma, podemos 
compreender que a constituição e formação da personalidade é atemporal, pois se 
desenvolve de acordo com o viver de cada ser. 
Todas as relações, vivências e percepções do mundo que nos rodeia atribuem 
significado, influenciando significativamente na formação da personalidade. E esta se 
coloca na seleção e atuação dos papéis sociais, conforme afinidade e preferências únicas 
a cada ser social (AZEVEDO, 2005). 
Sendo os papéis sociais criativos, estão implicados a vivenciar fenômenos 
transicionais, e dessa forma criam uma flexibilidade de atuação. Tanto a história 
individual, como os afetos, os valores e a posição que o sujeito ocupa colaboram para a 
constante formação e desenvolvimento das subjetividades do universo psíquico, assim 
como refletem a relativização dos papéis sociais (LEONTIEV, 1998). 
 
 
 
49 
 
18 PROCESSOS CONSTITUINTES DO SER POR MEIO DO SOCIAL 
Em um processo lento e atravessado por múltiplos fatores, o sujeito se constitui 
progressivamente e de maneira não linear, desde sua formação biológica até seu 
posicionamento enquanto ser social. Influenciado por sua hereditariedade histórica, 
compreende formas diversas de ser, pensar, se comunicar e agir (AZEVEDO, 2005). 
Desde a necessidade de manutenção da sua existência, em meio a luta para se 
manter vivo e protegido, assim como a sua família, o sujeito se adapta ao meio em que 
vive e ainda promove transformações propagando adaptações. É em meio a esse 
movimento que os sujeitos adquirem um “corpo social”, implicado no desenvolvimento de 
capacidades especificas para a sobrevivência social (MORIN, 1999). 
 
 
 
Até mesmo o desenvolvimento de aptidões motoras, a complexidade da 
linguagem, a afinação dos sentidos como visão, audição, olfato, gustação, tato e 
principalmente a propriocepção, que é a capacidade de perceber, interpretar e reagir a 
acontecimentos de acordo com as sensações percebidas em seu corpo orgânico, são 
processos desenvolvidos a partir do viver social. É possível afirmar que nossas 
habilidades são melhores, ou menos estruturadas, de acordo com nossa participação e 
implicação como seres sociais (AZEVEDO, 2005). 
Da mesma forma, pensamentos, sentimentos, emoções e desejos são 
compostos diante das relações sociais. Apropriando-se da realidade, por meio das 
relações com os demais seres sociais, os sujeitos se apropriam da oportunidade do 
 
50 
 
encontro para afinar seu modo de ser e acabam, muitas vezes, constituindo novos modos 
(AZEVEDO, 2005). 
Podemos dizer que o desenvolvimento orgânico, moral e emocional são 
instrumentos, ferramentas para a constituição e articulação do ser social. Cada sujeito 
escolhe a forma como manuseará cada instrumento e quais passará adiante, dando 
continuidade, dessa maneira, ao fluxo constante de construção de si e de outros seres 
sociais (AZEVEDO, 2005). 
Assim se dá a constituição do ser por meio do social, em um movimento 
constante de apropriação, trocas e afinações. Algumas conexões promovem mudanças 
mais profundas e podem tocar com profundidade a constituição do ser, como grandes 
tragédias e perdas, que podem ser distantes, próximas, coletivas, individuais, reais, 
eminentes, por exemplo, em questões relacionadas à segurança, com o aumento da 
criminalidade, devido a furtos, assaltos, latrocínios e assassinatos, ou só existentes no 
imaginário de cada sujeito. Outras mudanças podem acontecer sutilmente, sem que 
exista uma reflexão sobre algum ocorrido, mudança de hábitos ou preferências, como 
ocorre, por exemplo, com a diminuição da necessidade de sono ao longo dos anos 
(AZEVEDO, 2005). 
19 OS CONCEITOS DE ESTADO, MERCADO, PÚBLICO E PRIVADO 
A partir do momento em que os seres humanos passaram a viver em grupos e a 
conviver coletivamente, surgiram diversas formas de se organizar socialmente. Uma 
delas perdura até hoje em diferentes sociedades ao longo do tempo e do espaço: o 
Estado. Mas qual é a causa disso? 
Segundo diversos estudiosos, o homem vive em sociedade pois sente a 
necessidade de estar sob a responsabilidade e a ordem de um poder superior e 
direcionador das decisões na vida em geral. A noção de Estado pode ser vista sob 
diversas doutrinas. Assim, é impossível abarcar todo o entendimento de uma instituição 
tão rica e complexa (BARRETO, 2019). 
Diversos autores pensaram a formação do Estado. Entre os pensadores 
clássicos da teoria do Estado, você pode considerar: Hobbes (1983), Locke (1999) e 
 
51 
 
Rousseau (1999). Para eles, valores como a igualdade e a liberdade, característicos da 
burguesia nascente no século XVI, eram essenciais para regular a vida em sociedade. O 
Estado nacional, para eles, deveria reger a vida do cidadão, que teria deveres e direitos 
perante a sociedade (BARRETO, 2019). 
Maquiavel (1469–1527) defendia que os seres humanos buscavam um tipo de 
organização que fosse capaz de controlar os impulsos dos homens e seus maus 
sentimentos. Em sua obra O príncipe, ele defende que só o príncipe teria capacidade de 
impor a ordem na sociedade, para que o equilíbrio fosse mantido. Quando o estado de 
equilíbrio fosse ideal, os homens poderiam passar pelo processo de transição para a 
República (MAQUIAVEL, 1990). 
Já Thomas Hobbes (1588–1679) defendia que o ser humano vivia em “estado de 
natureza”, lutando pela sua sobrevivência e em constante conflito. A instituição Estado 
surge como forma de evitar esse permanente estado de guerra. Os homens fizeram um 
contrato para garantir a paz. Nesse contrato, eles aceitam que haja um poder soberano 
na figura de um só homem e que os subordinados se submetam à vontade desse 
poderoso, que tem o papel de garantir o respeito às leis, para a sobrevivência de todos. 
Nesse caso, Hobbes (1983) se referia ao poder do rei no Estado absolutista. 
Por sua vez, John Locke (1632–1704) acreditava que os homens decidiram de 
livre escolha ter um poder que os governasse, com a finalidade de preservação da 
espécie, defendendo os interesses e direitos que detinham no “estado de natureza”. 
Contudo, não há desordem no estado de natureza, sendo que o contrato é realizado para 
garantir os direitos dos homens. Esses direitos dizem respeito ao direito à vida, à 
propriedade privada e à liberdade, que são garantidos pelo conjunto de leis. O modo de 
governo é escolhido pela decisão da maioria. Se os direitos não forem preservados, o 
povo pode se rebelar contra o governante. O poder, segundo Locke (1999), tem de ser 
legitimado pelo povo. 
Jean-Jacques Rousseau (1712–1778), em seu livro O Contrato Social, afirma 
que os homens escolheram ser livres para controlar seus impulsos, saindo do “estado 
natural” e crendo na garantia de liberdade e propriedade imposta pela lei. O homem é 
livre por meio do contrato, das leis. Isso pode parecer contraditório, no início, mas os 
seres humanos são atores responsáveis pela criação e pela obediência às leis que criam, 
 
52 
 
sendo seus agentes e receptores. Eles criam as leis e as obedecem, havendo uma 
relação recíproca entre a liberdade e a obediência. 
O homem era bom no estado de natureza, mas o desenvolvimento da civilização 
o corrompeu, por meio da divisão desigual da propriedade e do trabalho. Dessa forma, o 
Estado surge para manter o equilíbrio e a ordem e para evitar a desigualdade. O ser 
humano cedeu parte de seus direitosnaturais para um poder superior, realizando uma 
vontade geral. Há uma transferência de poder da sua liberdade para essa instituição. É 
por meio da razão que a sociedade realiza o contrato social. Esse contrato legitima a 
ordem política em que todos são iguais perante a lei. Os indivíduos estão sob a égide do 
Estado. Para esse contrato, qualquer forma de governo se faz secundária, desde que se 
submeta à soberania popular. O governo é funcionário do povo (BARRETO, 2019). 
 
 
 
O Estado está sempre em evolução. Ao longo da história, ele vem adquirindo 
diferentes formas e tipos, com características e elementos singulares. Assim, passa do 
poder centralizado em única pessoa até o poder que representa uma coletividade 
(BARRETO, 2019). 
O Estado moderno surge na Europa, com a queda do feudalismo (séculos V a 
XV). Nesse período, o poder estava no domínio dos senhores feudais, que tinham o 
controle das terras e de toda a sociedade europeia. A revolta dos camponeses, a recusa 
ao pagamento das obrigações feudais, a expansão das cidades medievais e do comércio 
aceleraram a extinção dos feudos. Também houve, a partir do século XIV, a crescente 
concentração do poder na mão do monarca. Ele passou a concentrar a cobrança de 
impostos e o comando do exército, exercendo monopólio da violência. Além disso, houve 
 
53 
 
o desenvolvimento de uma burocracia administrativa do patrimônio público (portos, 
estradas, saúde, educação, transportes) (BARRETO, 2019). 
O processo de centralização e concentração desses poderes formou o Estado 
moderno, entidade que se apresenta de diferentes modos até a atualidade. Com o 
desenvolvimento do capitalismo, houve a formação dos Estados nacionais modernos, 
com instrumentos políticos que auxiliam no governo dos indivíduos e grupos dentro do 
território. Surgem então instrumentos baseados em sistemas de leis, códigos e normas 
sociais e no uso da força, com o objetivo de pôr em prática as políticas estatais. Mas, 
para além do uso da força, para ser legítimo, um Estado precisa exercer seu poder por 
meio de uma ideologia, de uma visão de mundo que abarque toda a sociedade 
(BARRETO, 2019). 
O Estado, como organização política e econômica, vem se apresentando de 
diferentes formas na história da humanidade ao redor do planeta. A seguir, você vai 
conhecer as principais. 
O Estado liberal ou liberalismo surgiu como teoria econômica e foi se firmando 
como política econômica a partir do século XVIII, em contraposição ao Estado absolutista 
na Europa, que detinha o poder na figura do rei, principalmente o poder econômico. O 
crescimento do capital industrial e a implantação do trabalho assalariado foram 
essenciais para o desenvolvimento industrial (BARRETO, 2019). 
O Estado liberal se apresentou como um representante da sociedade, como 
garantidor da ordem. Para essa política econômica, o Estado não deve interferir nos 
interesses privados dos indivíduos e somente garantir a segurança para que os membros 
possam exercer livremente suas funções e atividades na estrutura social. Deve tratar da 
coisa pública de interesse comum, como estradas, portos e, nos dias atuais, saúde e 
educação. Como o surgimento do Estado liberal, firmou-se a separação entre a esfera 
pública e a esfera privada (BARRETO, 2019). 
Do ponto de vista político, o Estado defende a soberania popular, que tem como 
principal expressão as eleições. Por meio da democracia representativa defendida pelos 
liberais, os indivíduos podem escolher seus representantes. 
O liberalismo tem como valores o individualismo, a propriedade privada e a 
liberdade. A seguir, você vai conhecer cada um desses princípios (BARRETO, 2019). 
 
54 
 
 Individualismo: põe no esforço individual a responsabilidade pelo 
sucesso, por meio de méritos e independentemente das condições 
econômicas e sociais nas quais os indivíduos estejam inseridos. 
 Propriedade privada: todos os membros da sociedade têm direito à 
propriedade a partir do momento em que se esforçam e trabalham para 
tal. A igualdade se configura como forma jurídica e não como igualdade 
social, pois todos são iguais perante a lei. Portanto, é “natural” que existam 
pobres e ricos, pois cada um tem posses adquiridas de acordo com seu 
méritos, talentos e esforços individuais. 
 Liberdade: segundo a teoria do liberalismo, o Estado não deve interferir 
na economia. Um dos pensadores fundadores dessa teoria foi o 
economista Adam Smith (1723–1790), que defendia a ideia de laissez-
faire (deixar fazer, deixar passar). Está em jogo a visão de que a economia 
não deve ser regulada pelo Estado, mas por si própria, pela mão invisível 
do mercado. O mercado é autorregulável e precisa ter liberdade para 
produzir e circular os seus produtos, a fim de garantir o progresso e o 
desenvolvimento das empresas e das nações. 
 
No decorrer do século XX, o Estado liberal foi caindo em declínio em decorrência 
das condições sociais e econômicas da época. Surgiram conflitos de interesses de 
diversos grupos e classes sociais. Essa forma de Estado também não conseguiu 
promover a estabilidade e a ordem econômica que tanto pregava por meio da mão 
invisível do mercado. Surgiram novas linhas de pensamento econômico que começaram 
a ter poder de influência sobre os Estados (BARRETO, 2019). 
Na segunda metade do século XX, depois do final da Segunda Guerra Mundial 
(1941–1945), uma nova forma de Estado se consolidou, denominada Estado de bem-
estar social. Essa forma de Estado é fundamentada na teoria do inglês John M. Keynes, 
mais especificamente em seu livro Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. Tal 
teoria foi chamada de keynesianismo. 
Para Keynes (1985), o Estado deveria regular a economia, intervindo nas 
atividades produtivas para garantir a produção de riquezas materiais e reduzir as 
 
55 
 
desigualdades sociais. Também deveria promover a vida social, política e econômica do 
país, garantindo serviços públicos por meio de políticas de promoção social. Nesse tipo 
de Estado, os cidadãos têm direitos adquiridos de acessar bens e serviços que promovam 
uma boa qualidade de vida, como educação, assistência médica gratuita, auxílio 
desemprego, renda mínima, habitação, seguridade social. Os Estados de bem-estar 
social cresceram na Europa em países como Grã-Bretanha, Suíça, Noruega e 
Dinamarca. 
Houve, porém, uma crise do Estado de bem-estar social no final dos anos 1960, 
relacionada à economia capitalista. A crise foi gerada pela dificuldade de se conciliarem 
os gastos públicos com o crescimento do capitalismo. As despesas dos governos 
aumentaram significativamente em relação às despesas, gerando uma crise fiscal. 
Surgiram conflitos entre as classes trabalhadoras e os donos dos meios de produção. Na 
Inglaterra, a primeira ministra Margaret Thatcher iniciou o processo de desmonte do 
Estado de bem-estar social adotando políticas neoliberais, como a privatização de 
empresas públicas, o que foi reproduzido em outros países ao longo dos séculos XX e 
XXI (BARRETO, 2019). 
O neoliberalismo é fruto da união de duas visões de escolas da economia no 
final dos anos 1940. A escola austríaca aparece no fim do século XIX, liderada por 
Leopold von Wiese, tendo como seguidor Friedrich Von Hayek. Este último era contrário 
à política intervencionista e assistencialista do Estado, que se apresentava na época 
como a política keynesiana e o Estado de bem-estar social. A outra escola foi a escola 
de Chicago, capitaneada por Milton Friedman, que criticava a política do New Deal nos 
Estados Unidos (1933–1945), apoiadora dos sindicatos e interventora na economia. 
Em 1947, na Suíça, houve o encontro de um grupo de intelectuais que se 
opunham ao Estado de bem-estar social. Um dos seus principais idealizadores foi 
Fredrich Hayek. Nos Estados Unidos, a concepção neoliberal foi defendida por Milton 
Friedman. Segundo ele, o mercado deve servir como estrutura para que a sociedadese 
organize. Essa ideologia prega a diminuição do papel do Estado na economia. Para 
Friedman, o Estado deve ter um papel restrito e minimizar a sua responsabilidade social, 
deixando para o mercado algumas das suas funções (BARRETO, 2019). 
 
56 
 
A visão neoliberal prega a desregulamentação da economia e a privatização das 
empresas estatais, como indústrias de base, administração de estradas e portos, setores 
energéticos e até setores como saúde e educação. O Estado deveria enxugar a máquina 
pública e diminuir os gastos com políticas sociais. Essas medidas estimulariam a 
diminuição dos impostos e a produção econômica (BARRETO, 2019). 
O mercado, segundo o neoliberalismo, tem de ser livre, sem interferência do 
Estado. Essa política econômica teria como consequência o aumento da produção e, 
com isso, a geração de emprego e de renda, com efeitos positivos para a sociedade. A 
partir da década de 1980, a política do neoliberalismo foi aplicada no Reino Unido, no 
governo de Margaret Thatcher, e nos Estados Unidos, no governo de Ronald Reagan 
(BARRETO, 2019). 
 
SAIBA MAIS 
A seguir, você pode conhecer melhor os fundamentos do neoliberalismo (PINTO, 
2019): 
 
 Papel do Estado: o Estado não deve interferir na economia, devendo ser 
enxuto. Ao aplicar políticas fiscais e tributárias para resolver problemas 
sociais, ele gera inflação e desajustes econômicos. O neoliberalismo tenta 
anular o poder dos sindicatos, como ocorreu no Reino Unido a partir dos 
anos 1980, assim como diminuir os tributos fiscais sobre as fortunas e 
lucros. O Estado, ao aplicar políticas sociais, realiza práticas 
assistencialistas em uma espiral sem fim, onerando investimentos e 
fortunas, pois as necessidades de qualidade de vida e bem-estar nunca 
acabam. 
 Função do Estado: o Estado deve se limitar a promover a segurança 
interna e externa. Deve diminuir os gastos com pessoal, limitando o 
número de funcionários públicos. 
 Mercado: o mercado deve ser, por si só, o regulador da economia, pois 
tem suas leis próprias, controlando a subida e a descida dos preços, a 
demanda e a oferta, estimulando as atividades produtivas. O 
 
57 
 
empreendedor, por meio dos seus méritos, é premiado, e quem não se 
adapta ao mercado é eliminado. Qualquer forma de controlar o mercado é 
um erro, pois ele tem suas próprias leis e seu próprio ritmo. 
 Regime político: o neoliberalismo se coaduna com regimes que 
defendem a propriedade privada, independentemente de estar em jogo 
uma democracia ou uma ditadura. Ele foi aplicado tanto no regime 
democrático parlamentar inglês do governo de Margaret Thatcher quanto 
na ditadura de Pinochet no Chile. 
20 A RELAÇÃO PÚBLICO-PRIVADA 
As políticas públicas podem ser definidas como a soma das ações 
governamentais do Estado, de forma direta ou indireta, realizadas por meio dos seus 
agentes. Elas têm poder de influência significativo na vida dos cidadãos. Platão e 
Aristóteles, pensadores clássicos gregos, já se questionavam sobre o que era um bom 
governo e qual seria o melhor Estado para garantir um bom governo para o povo. As 
políticas públicas regulamentam as atividades do governo direcionadas ao interesse 
público. Como exemplos, você pode considerar as políticas de saúde, educação, 
saneamento básico, etc. (BARRETO, 2019). 
A noção de política pública só ganhou importância ao longo do século XX, depois 
das duas guerras mundiais, com o declínio da visão do Estado liberal. Para o liberalismo, 
o Estado deveria se limitar a promover a segurança dos indivíduos e do território, não 
interferindo na economia, etc. Houve também um movimento pela defesa dos direitos 
humanos, políticos e sociais a partir dos anos 1930. Assim, o Estado passou a ser um 
provedor de bens e serviços direcionados ao público (BARRETO, 2019). 
Contudo, na década de 1980 e ao longo dos anos 1990, ocorreu uma crise fiscal 
do Estado a nível internacional. Defensores do neoliberalismo acusaram a intervenção 
do Estado como causa da crise de produtividade e do lucro dos capitais, defendendo o 
Estado mínimo e a privatização de empresas em diversos países. Foi o que aconteceu 
no Brasil nos anos 1990 com o setor de telecomunicações. Ocorreu a reforma do 
aparelho estatal, aproximando o setor público do setor privado. Surgiram parcerias 
 
58 
 
público-privadas e entre organizações públicas não estatais. Segundo os defensores do 
neoliberalismo, os gastos com as políticas públicas, sobretudo as sociais, tenderiam a 
desequilibrar o mercado com altos gastos e tributos (BARRETO, 2019). 
O setor público adotou critérios de avaliação do setor privado, como eficácia, 
eficiência, metas a cumprir e prazos, controle de custos e produção. Também ocorre a 
participação dos cidadãos por meio de conselhos, a descentralização progressiva do 
poder estatal por meio da influência de organizações não governamentais (ONGs) e 
organizações da sociedade civil de interesse público (Oscips), bem como a introdução 
de mecanismos de regulação (BARRETO, 2019). 
A participação de grupos e indivíduos, como associações, instituições, enfim, 
cidadãos com o objetivo de monitorar e avaliar as políticas públicas, tem como finalidade 
modificar e direcionar o destino dos gastos públicos. A ampliação da participação popular, 
com novos atores sociais, promove a escolha de novas possibilidades no processo de 
decisões governamentais (BARRETO, 2019). 
 
 
21 CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA BUROCRACIA ESTATAL E SEUS 
REGULAMENTOS LEGAIS 
Quando se fala em burocracia no Brasil, fala-se logo em lentidão dos processos, 
morosidade, uma papelada gigantesca de documentos a serem preenchidos. O 
significado do termo “burocracia” é deturpado e visto de forma pejorativa. Contudo, essa 
é uma maneira distorcida da burocracia, um problema no sistema, pois a burocracia vai 
muito além disso (BARRETO, 2019). 
A burocracia se configura como um mecanismo de poder administrativo que está 
presente em várias instituições: escola, empresa, Estado, etc. Ela está intrinsecamente 
 
59 
 
envolvida em um processo de racionalização da modernidade. No processo de 
racionalização, as pessoas têm uma ação instrumental em relação a si mesmas, aos seus 
semelhantes, enfim, ao mundo ao redor, com o objetivo de defender seus valores ou 
interesses (BARRETO, 2019). 
Na sociologia, Max Weber foi o autor que primeiro tratou desse tema. Seus 
estudos serviram de base para outros estudiosos de diversas escolas acadêmicas. Ele 
desenvolveu os princípios da burocracia. A burocracia, segundo ele, se baseia na 
racionalidade. Weber faz uma análise da racionalização na transição da Idade Média para 
a Idade Moderna. Para ele, há um desencantamento do mundo estruturado no 
utilitarismo, substituindo as interações sociais que eram fundamentadas na tradição. 
Surge a racionalidade instrumental-legal, que transforma as relações na sociedade, 
solidificando a burocracia no processo histórico-social do sistema capitalista moderno 
(WEBER, 1982). 
Weber (1982) afirma que existe uma superioridade técnica da burocracia no 
capitalismo sobre qualquer outro modo de organização. O sistema burocrático possui 
formas específicas de funcionamento, regidas sob jurisdições fixas e oficiais, leis e 
normas da administração. Ele impõe relações de autoridade, definidas por normas que 
geram coerção e consenso. 
Houve uma expansão do capitalismo a partir do século XVI e, 
consequentemente, as organizações foram se tornando mais complexas. Novas funções 
surgiram dentro das empresas, com o aumento do quadro do pessoal. Nas relações 
burocráticas, há uma hierarquia entre a autoridade dominante e os subordinados. As 
ordens estão fundamentadas em preceitos legais, e os subordinados aceitam essas 
ordens por reconhecerem a sua legitimidade (BARRETO, 2019). 
A burocracia envolve diversas organizações na sociedade contemporânea: o 
Estado, a empresa, os hospitais, as escolas, etc., perpassandoa maioria dos setores 
sociais. O governo de um Estado baseia-se em preceitos burocráticos. As leis são tidas 
como legítimas pelo povo, que crê que são criadas para defender os interesses gerais e 
o bem comum. No caso do Estado, estão em jogo as normas e leis escritas pela classe 
política (BARRETO, 2019). 
 
60 
 
Os funcionários devem, portanto, seguir as normas e regulamentos escritos. Os 
documentos conduzem o comportamento e as tarefas das pessoas. Ocorrem 
treinamentos para os diferentes cargos devido à especialização das ocupações que estão 
englobadas na profissão. As tarefas de um trabalho são transformadas em profissão, que 
pode ser realizada pelo trabalhador formado e especializado. As atividades são 
delimitadas pela formação de cargos estáveis. Os cargos são impessoais e podem ser 
transitórios (BARRETO, 2019). 
A posição do funcionário é relacional, isto é, é comparada com as dos outros 
membros na sociedade. Estes recebem salários que são regulares em troca do trabalho 
exercido; salários definidos de acordo com as atividades realizadas, pela posição na 
hierarquia da empresa e por sua especificidade. Há a criação de carreiras dentro das 
instituições (BARRETO, 2019). 
Com a racionalização do processo administrativo, a burocracia busca a 
eficiência, o perfeito funcionamento das organizações. Para que isso aconteça, faz-se 
necessário o detalhamento das atividades e metas a serem alcançadas, evitando a 
impessoalidade. A forma de comunicação é predominantemente escrita e as regras estão 
geralmente estabelecidas e escritas em um documento com caráter formal (BARRETO, 
2019). 
Ocorre também uma divisão do trabalho. Cada pessoa tem sua função na 
instituição, exercendo seu cargo e tendo suas atribuições, por meio de suas 
competências e habilidades. Cada funcionário tem suas responsabilidades e posição 
hierárquica a fim de realizar seu trabalho de forma racional e produtiva. Há uma 
especialização de cargos e uma divisão de tarefas a fim de cumprir metas (BARRETO, 
2019). 
Enfim, você pode considerar como elementos essenciais do sistema burocrático: 
a hierarquia e a divisão do trabalho; o poder de uma autoridade; a especialização do 
trabalho; a impessoalidade das relações na organização; as comunicações 
documentadas por escrito e formalizadas. O sistema burocrático tem um aspecto de 
racionalidade por intermédio de normas, instrumentos, finalidades e objetivos (WEBER, 
1982). 
 
 
61 
 
 
 
Ao analisar os estudos de Weber, Tragtenberg (1974) afirma que ele vê a 
burocracia como uma forma de poder, em que a burocracia se iguala à organização. O 
sistema burocrático é estruturado na racionalidade, formado na divisão do trabalho, tendo 
como princípio os fins. Com o aumento da especialização, há o fortalecimento da 
burocracia. Cada profissão delimita as capacidades dos trabalhadores; estes precisam 
de um saber especializado, que deve servir à organização. 
O funcionário pode, a qualquer momento, ser substituído por outro mais 
especializado e que atenda às finalidades da organização. A cultura e a ideologia da 
empresa, as técnicas e tecnologias, os métodos e sistemas de controle, os protocolos e 
regras hierarquias direcionam e envolvem todo o sistema administrativo e de produção 
nas instituições, da base até a hierarquia superior (BARRETO, 2019). 
Tragtenberg procura ir além, fazendo uma crítica mordaz a qualquer forma de 
poder, de autoridade, de burocracia e de modos de dominação. Segundo ele, o Estado é 
o representante legal e legítimo da burocracia. Assim, o Estado possui papel 
prepoderante e promove uma estrutura social que se organiza baseada em um processo 
de racionalidade legal, defendendo os interesses capitalistas (TRAGTENBERG, 1989). 
Ele funciona como um aparelho de repressão e coerção. 
22 AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS E O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO 
Quando você nasceu, encontrou um mundo pronto. Sua família o acolheu e você 
conheceu pessoas com quem se relacionou. Com o tempo, você foi aprendendo sobre o 
ambiente ao seu redor, aprendeu a falar e a andar. A cada etapa de desenvolvimento, 
seguiu aprendendo mais coisas sobre a vida (BARRETO, 2019). 
 
62 
 
Anos depois, você foi para a escola e conheceu novos amigos e seus 
professores. Um mundo novo se descortinou. Sua família talvez tenha o levado à Igreja 
e lá você também aprendeu sobre crenças, valores e normas que você deve seguir para 
se relacionar no mundo. Logo, à medida que você cresce, descobre que há em todos os 
grupos códigos de conduta que a sociedade vê como essenciais para as práticas 
cotidianas (BARRETO, 2019). 
Esse processo de conhecimento e interação com o mundo se denomina 
socialização. Ao se socializar, você vai interiorizando normas, papéis, padrões de 
comportamento, hábitos e valores que serão fundamentais para a sua atuação no mundo. 
Esse conjunto de regras e padrões de comportamentos é elaborado pela sociedade, 
aprovado e tem muita importância social (BARRETO, 2019). 
A época histórica influencia muito processo de socialização. A socialização dos 
indivíduos no século XV era diferente daquela das pessoas do século XXI, que são 
intensamente envolvidas pelo desenvolvimento tecnológico em seu cotidiano. Também o 
processo de socialização é diferente em épocas de guerra em relação a épocas de paz. 
Esse processo tanto pode ocorrer formalmente, por meio de instituições sociais, como a 
igreja e a escola, como pode ocorrer de maneira informal, por meio da família, da 
interação com as pessoas do bairro, da cidade, etc. (BARRETO, 2019). 
As principais instituições sociais são: a família (sendo a primeira instituição em 
que o indivíduo se relaciona), a igreja, o Estado, entre outras. Elas têm como objetivo 
satisfazer as necessidades do ser humano, dos grupos nos quais ele se insere e é 
inserido. Elas têm o poder de promover a coesão social dos grupos por meio dos valores 
e padrões de comportamento. Contudo, cada instituição cumpre uma função ou papel 
social e tem sua missão baseada em seus próprios valores; está intrinsecamente 
envolvida na manutenção e em processos de mudança na estrutura. Além disso, é 
duradoura, direciona a conduta dos seres humanos (BARRETO, 2019). 
A escola moderna surgiu no final do século XVI e foi se estabelecendo ao longo 
do século XVII. Anteriormente, nas sociedades antigas e da Idade Média, os jovens 
estudavam sob a tutela de um mestre, ou estudavam em grupos pequenos, sem 
diferenciação de idade ou série. A instituição escolar moderna se diferencia pela 
separação dos alunos em classe seriada, conforme a idade, com a divisão dos programas 
 
63 
 
de ensino conforme as séries: básico, médio, superior; escolas profissionalizantes, 
técnicas e superiores. O ritmo de aprendizado é instituído pela escola; há o registro de 
aulas, a frequência é controlada, surgem livros didáticos. O controle se dá por meio da 
disciplina, de um conjunto de regras de comportamentos. A ideia é garantir a perfeita 
organização e a disciplina das mentes e corpos dos estudantes (BARRETO, 2019). 
Com o surgimento de um novo sistema de produção, a partir do século XVI (o 
capitalismo), a burguesia, classe social detentora do capital, concebeu uma nova 
ideologia para o capitalismo, o liberalismo. A partir do século XVI, emerge outro 
movimento social na Europa, que modifica consideravelmente o pensamento científico: a 
revolução científica. Ocorre um potencial crescimento da ciência, da filosofia, da física, 
da química e da matemática, havendo a valorização do pensamento racional e científico, 
que se separa da teologia e passa a ser mais prático. René Descartes (1596–1650) foi o 
fundador dessa teoria. 
Há uma relação de afinidade entre o pensamento liberal, a racionalidade e o 
aparecimento da escola moderna. A escola foi criada para formar “um novo homem”, que 
se adeque às regras e fundamentos da sociedade racional e capitalista. Ela surge em um 
momentode ascensão da ciência, de desenvolvimento do capitalismo e do liberalismo. 
Tem como papel regular e disciplinar a nova classe trabalhadora que surge com o 
capitalismo (BARRETO, 2019). 
Para Foucault (1983), as instituições sociais servem como mecanismo de 
controle das ações humanas. A escola, segundo ele, teria uma função de disciplinar os 
indivíduos para a vida em sociedade. Ele comparou diversas instituições — como escola, 
prisões, quartéis e conventos — com o objetivo de identificar as semelhanças e 
diferenças entre elas no que diz respeito à sua organização e a como ocorre o controle 
social. Segundo ele, além do poder central, há micropoderes, que são pequenas formas 
de poder que envolvem o âmbito social e se espalham nos grupos dos quais as pessoas 
fazem parte. Por isso elas não se dão conta desses poderes. E, por meio de objetos, de 
normas, de formas de comportamento de vigília, de locais físicos, de modos de punições, 
esses poderes conseguem controlar e disciplinar os corpos e as mentes, tornando os 
seres humanos disciplinados, docilizados e obedientes. 
 
64 
 
As instituições, portanto, têm poder de coesão, mas também de coerção de 
disciplina. Considere o sistema penal, por exemplo. Caso o indivíduo cometa um crime, 
é julgado pela instituição que tem essa competência — o sistema judiciário, que lhe impõe 
a pena a ser cumprida. O indivíduo é separado do convívio social e preso, devendo 
cumprir pena para depois se reintegrar à sociedade (BARRETO, 2019). 
O desenvolvimento científico e tecnológico, que se acelerou a partir da 
Revolução Industrial, trouxe inúmeras mudanças na vivência social da humanidade nos 
últimos séculos. Com o progresso da ciência, diversas enfermidades foram 
diagnosticadas e tratadas; novos maquinários e instrumentos eletroeletrônicos e 
eletrodomésticos modificaram significativamente o cotidiano dos indivíduos (BARRETO, 
2019). 
O surgimento de novas máquinas, como o computador, a televisão, o celular, o 
smartphone, e o desenvolvimento dos meios de comunicação, como o fax, o telégrafo e 
posteriormente a internet, transformaram profundamente as relações sociais em nível 
mundial. Isso gerou um processo de globalização de costumes, encurtamento de 
fronteiras e aumento da velocidade das informações, que hoje correm em tempo real. 
Como você sabe, um novo mundo surge a cada instante por meio do desenvolvimento 
científico e tecnológico (BARRETO, 2019). 
A igreja também tem papel fundamental na vida do indivíduo, na construção de 
normas e valores de conduta para a formação do seu caráter. A família geralmente possui 
papel influenciador na escolha da religião (BARRETO, 2019). 
Goffman (1987), ao estudar a interação social em manicômios, prisões e 
conventos, classificou essas instituições como: instituições com a finalidade de cuidado 
de pessoas consideradas incapazes e inofensivas; instituições que cuidam de pessoas 
incapazes de cuidado próprio, mas que também são uma ameaça à sociedade, como os 
sanatórios, hospitais para doentes mentais; instituições que protegem a comunidade 
contra as intenções de indivíduos de má índole, como as prisões, cadeias, penitenciárias 
e instituições que têm o fim de realizar alguma atividade de trabalho, como quartéis, 
escolas internas, campos de trabalho; e instituições que são tidas como refúgio e local 
de instrução religiosa, como os conventos, mosteiros, etc. 
 
65 
 
Essas instituições têm em comum o fato de possuírem uma autoridade central. 
Nelas, as tarefas são realizadas na presença de outras pessoas, tratadas igualmente e 
com a mesma exigência. Também há horários rígidos a serem respeitados na realização 
das tarefas. Além disso, as tarefas são planejadas com o intuito de atender aos fins 
oficiais das instituições (BARRETO, 2019). 
 
 
23 IMPORTÂNCIA DA RELIGIÃO EM TEMPOS DE CETICISMO E IMEDIATISMO 
Diante das alterações que temos sofrido nas diversas áreas sociais, tendemos à 
abertura ou à resistência. Durante muito tempo, o jornalismo, a psicologia, a educação e 
outras áreas tentaram, e ainda tentam resistir às transformações da sociedade com o 
crescimento e a evolução das tecnologias, das mídias e do capitalismo (SILVA, 2021). 
Alvin Toffler (2005), ao discutir sobre os impactos das tecnologias na sociedade, 
retoma a historicidade dos sistemas de produção ao longo do tempo, subdividindo-a em 
três ondas: 
 
1. Agrícola, 
2. Industrial; 
3. Tecnológica digital. 
 
Para o autor, vale ressaltar, são os modos de produção de riqueza que 
estruturam a sociedade, e não o contrário (SILVA, 2021). 
Nesse sentido, podemos constatar que as alterações sofridas pela sociedade 
contemporânea advêm das mudanças proporcionadas pelo capitalismo, que, ao criar as 
 
66 
 
tecnologias, oferece o lastro fecundo para o crescimento da era tecnológica, e, ao mesmo 
tempo, constrói um cenário propício para que essas criações se tornem estruturadoras 
de novas subjetividades, relações e identidades institucionais (SILVA, 2021). 
A produção capitalista tem criado produtos e serviço maneira tão frenética que 
essa lógica da novidade constante passou a estruturar as relações sociais e econômicas, 
construindo desejos e necessidades nos indivíduos, imbuídos pelas lógicas do 
individualismo e hedonismo, para os quais buscam resoluções imediatas. Soares Neto 
(2012) aponta que os indivíduos estão rodeados por coisas que provocam grandes 
encantos e fascínios, estando “[...] sempre em busca por novos produtos, novas 
experiências, por um consumo imediatista diante do atual panorama da sociedade e 
alimentados por uma economia pronta para saciá-los” (SOARES NETO, 2012, p. 113). 
Essa retroalimentação entre a dinâmica de produção e constituição subjetiva dos 
consumidores contorna o cenário da mercantilização e da sociedade do consumo, no 
qual tudo se torna mercadoria e tudo que é consumido torna-se imediato e fluido. Os 
consumidores são marcados por uma necessidade de satisfazer aos seus desejos de 
maneira imediata (SOARES NETO, 2012). 
Nesse cenário, consta-se o que Lipovetsky e Serroy (2011) chamaram de 
mercantilização da cultura e cultura da mercantilização, conjuntura que tem transformado 
tanto os modos de existência quanto a vida sociopolítica. Ademais, nesse processo, 
novas questões individuais e coletivas são postas, já que há uma cultura-mundo que 
globaliza não apenas as evoluções, mas também os medos e os desnorteamentos. 
Assim, a contemporaneidade vem sendo marcada por lógicas que colocam ainda 
mais em xeque os grandes sistemas institucionais e as noções normativas gerais. Para 
Lipovetsky e Serroy (2011, p. 17): 
Com a cultura-mundo, aumentam a tomada de consciência da globalidade dos 
perigos, um sentimento de viver em um mundo único feito de interdependências 
crescentes. Na era hipermoderna, afirma-se a cosmopolitização dos medos e das 
imaginações, das emoções e dos modos de vida. 
As relações sociais são atravessadas pelos medos próprios desse cenário de 
globalização e incertezas, falta de referenciais que interfere em todas as esferas 
humanas, de trabalho, familiar e identitária. Aumentam-se as epistemologias para lidar 
 
67 
 
com as análises sociais e, também, as ferramentas de comunicação. No entanto, somado 
a isso, elevam-se as incertezas e os medos, causando uma instabilidade psíquica 
(LIPOVETSKY; SERROY, 2011). 
Ao falar sobre a modernidade e suas consequências para as constituições 
subjetivas e sociais, Libâneo (2002, p. 70) aponta: 
Fruto lídimo da modernidade é o individualismo. Repetidamente chamado de 
“ideologia da modernidade”. Esse individualismo provocou enjoo, desgosto, 
náusea de tanto ficar-se preso a si mesmo. E como ele girava em torno, 
sobretudo, de bens materiais, a falta de sentido foi ainda maior com o 
consequente vazio existencial. Fragmenta-se a identidade das pessoas que 
sofrem o colapso do significado das coisas, a banalização, o estreitamento ouperda total do sentido da vida. Veem-se tentadas ao narcisismo, hedonismo, 
relativismo moral subjetivista, permissividade. 
Em meio a essa desorientação e às perdas de referenciais, surge um interesse 
pelo fenômeno religioso. Para Peter Berger (1985), a religião aparece mais uma vez como 
organizadora do caos e da anomia vivida frente às perplexidades contemporâneas, 
reaparecendo, portanto, com a função simbólica de integrar e sustentar as referências 
dos indivíduos (CRESPI, 1999). No entanto, busca-se uma religião ou experiências 
religiosas que também correspondam aos anseios desse tempo, cujas ofertas precisam 
satisfazer às necessidades imediatas dos fiéis, como uma resposta ao seu individualismo 
e hedonismo (LIBANIO, 2002). 
24 SISTEMAS POLÍTICOS E RELIGIÃO: MANIPULAÇÃO E POLITIZAÇÃO 
Em um horizonte judaico-cristão, do Gênesis ao Apocalipse, o fenômeno religioso 
sempre esteve entrelaçado com a história política: em alguns momentos, como 
resistência e denúncia contra os sistemas políticos, e, em outros, a partir de uma 
vinculação nítida de apoio (SILVA, 2021). 
Se olharmos para o próprio reconhecimento do cristianismo como religião de 
estado, há uma relação política com o poder Romano representado por Constantino, no 
ano de 312. 
E essas relações tensionadas não ficam apenas na Idade Antiga, fortalecendo-
se, inclusive, na Idade Média e ganhando novos contornos na Idade Moderna e 
 
68 
 
Contemporânea. A Idade Média foi marcada por uma influência grandiosa da Igreja 
Católica em todos os setores, sociais, políticos e até mesmo econômicos. Ademais, 
mesmo com a ruptura ocorrida na virada moderna, a Igreja não deixou de influenciar os 
Estados e Nações (SILVA, 2021). 
A história da Igreja católica e as Igrejas da Reforma indicam que o cristianismo 
estabeleceu vínculos diretos com a política, embora não tenham sido somente eles — o 
judaísmo, o islamismo e até mesmo as religiões orientais travaram guerras sangrentas 
justificadas pelo viés religioso (AMES, 2014). 
No Brasil, a Igreja Católica se instaurou desde o processo da colonização, 
cenário em que a religião sempre esteve associada ao poder político. No país, a liberdade 
religiosa “[...] foi estabelecida pelo Decreto nº. 119-A, de 7 de janeiro de 1890, sendo 
confirmada pela Constituição de 1891 e pela Emenda Constitucional de 03 de setembro 
de 1926” (COSTA, 2020, p. 99). Entretanto, mesmo após a cisão entre Igreja e Estado, a 
Igreja Católica busca modos alternativos de manter-se em relação com o governo e com 
a população, situação em que alguns representantes religiosos se vinculam ao poder 
vigente e outros à oposição: os mais conservadores agrupam-se nas alas políticas mais 
conservadoras, enquanto os progressistas aliam-se às alas políticas que lutam por 
causas sociais, econômicas e dos grupos minoritários. 
Essas alianças são realizadas a partir da perspectiva teológica dos 
representantes religiosos. Atualmente, o representante da Igreja Católica tem uma visão 
política um pouco mais sensível às causas populares, isso pelo fato, segundo Costa 
(2020), de o pontífice, por ser latino-americano, também ser propenso às questões da 
colonização, exploração e realidade sociocultural vividas pelo povo da América Latina e 
do Brasil. No entanto, no seio da própria Igreja Católica, há grupos mais conservadores 
que, no lugar de se preocuparem com as pautas progressistas, defendem e se vinculam 
a poderes políticos conservadores. 
Além de se estabelecer na Igreja Católica, essa dinâmica está presente nas 
igrejas evangélicas. Segundo Costa (2020), após a redemocratização, os pentecostais 
passaram a participar do campo político, oficialmente e, desde então, procuram fortalecer 
as relações com os poderes estabelecidos, ampliando suas influências e tornando-se os 
 
69 
 
mais fortes aliados do governo federal, o que, em um jogo de espelhos, reflete suas 
aspirações em uma disposição de extrema direita, sob o manto da moralização política. 
E os neopentecostais não são diferentes, pois, baseados em uma teologia que 
prega a prosperidade, se contrapõem aos ideais dos progressistas — para eles, as 
pautas dos direitos humanos, de igualdade de gênero, desigualdades sociais, etc. são 
demoníacas e devem ser veementemente combatidas (COSTA, 2020). 
Um exemplo desse movimento conservador, aliado à relação política- -religião, 
marcada por uma manipulação mútua, se deu nas eleições de 2018 no Brasil, quando as 
alianças religiosas compostas, em sua maioria, por evangélicos conservadores, mas 
apoiadas por muitos católicos conservadores, reforçaram e legitimaram o discurso do 
presidente eleito, que apresentou, desde sempre, pautas de suposta manutenção da 
ordem social, com um forte discurso moralista “[...] contra a esquerda, os comunistas, o 
casamento homossexual, o aborto, a corrupção”, etc. (COSTA, 2020, p. 107). 
Apesar da laicização do estado, o que vemos em solo brasileiro é o crescimento 
da ala evangélica “politizada”, com amplos desejos de poder político, crescendo a cada 
pleito das esferas municipais, estaduais e federais, defendendo pautas 
hiperconservadoras e colocando em xeque a democracia brasileira, além de deixar de 
lado as políticas para os mais pobres e marginalizados. E, no último pleito federal, 
observamos muitos católicos conservadores defendendo esses mesmos ideais, sendo, 
inclusive, contrários às diretrizes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) 
e às próprias indicações do Sumo Pontífice, o Papa Francisco, que se colocou diversas 
vezes contra governos apoiadores de torturas e contra as causas sociais e ambientais 
(SILVA, 2021). 
25 CONSUMO DE BENS SIMBÓLICOS E PREGAÇÃO DA FÉ NOS TEMPOS DO 
ESPETÁCULO RELIGIOSO 
O mundo vem sofrendo grandes alterações, moldado pela lógica de mercado 
capitalista, que dita os modos de relações nas esferas sociais e públicas. Tudo se tornou 
mercadoria, sejam os bens materiais, sejam os imateriais, cenário em que consumir é a 
ordem e no qual até mesmo as lógicas de um consumo consciente têm como pano de 
 
70 
 
fundo um modo de consumir, estando em alta o mercado dos orgânicos e dos recicláveis. 
Em outras palavras, com um maior ou menor grau de destruição planetária, tudo constitui 
uma forma de consumo. E a religião não ficou à margem dessa dinâmica, passando a 
ser consumida ao bel-prazer e à necessidade do adepto: é necessário satisfazer às 
necessidades pessoais e existenciais, e que o fiel, assim como o consumidor, consiga ter 
acesso à mercadoria oferecida, a partir de um clique, um toque (SILVA, 2021). 
Para isso, criam-se instrumentos, que intermediam as compras, as relações 
simbólicas com o consumidor, conectando as ofertas às demandas, a partir de dois 
caminhos: o da criação das necessidades de consumo e as respostas aos desejos 
criados, enveredado pelo capitalismo, capaz de criar o desejo, a demanda e, 
automaticamente, uma correspondência a eles. Nesse cenário, os instrumentos criados 
são totalmente eficazes, pois selecionam o conteúdo de acesso, entregam o que o cliente 
deseja na tela do celular e facilitam as relações, sobretudo pelo marketing, produzindo 
discursos que fazem os consumidores comprar (SILVA, 2021). 
 
 
Fonte: Pixabay.com 
Esses aspectos promovem e consolidam a sociedade do espetáculo, conforme 
nomeada por Guy Debord (1997): “[...] o espetáculo é ao mesmo tempo o resultado e o 
projeto do modo de produção existente”, e “[...] constitui o modelo atual da vida dominante 
na sociedade. É a afirmação onipresente da escolha já feita na produção, e o consumo 
que decorre dessa escolha” (DEBORD, 1997, p. 14-15). O espetáculo é um modo de 
 
71 
 
relação entre as pessoas, fundamentado em uma imagem não real, mas construída por 
um discurso e mediada por instrumentos que a facilitam. 
Nessa conjuntura, as religiões, ao mesmo tempo, podem denunciar a irrealidade, 
o consumo desenfreado, as lógicas capitalistas,modernas, imediatistas e efêmeras, e 
aderir a essas lógicas, agora encobertas pelo discurso sacralizado. Conforme Ramos 
(2008, p. 148), “[...] à medida que o mercado religioso se incorpora ao espírito religioso, 
aquele fica legitimado pela religião”, continuando a afirmar que a “[...] religião-mercadoria 
é sustentada e promovida por uma homilética articulada segundo os princípios e valores 
da sociedade espetacular” (RAMOS, 2008, p. 148). 
Nos valores espetaculares, o novo é algo que necessita estar eminentemente 
presente, com uma produção desenfreada de novidade de bens de consumo, visto a 
necessidade de sempre oferecer experiências novas aos consumidores, inclusive os da 
religião. Esta passa a ser a la carte, ou seja, servida a partir da necessidade do fiel 
(VELIQ, 2017), estando no cardápio a cura, a prosperidade, o consolo espiritual ou outras 
necessidades. Com isso, constatamos que os âmbitos religiosos têm sido influenciados 
pelas lógicas mercadológicas e entregado cada um ao seu modo bens simbólicos e de 
consumo aos fiéis, a partir de suas necessidades específicas. 
Os produtos da fé já estão definidos nas funções sociais da religião na 
contemporaneidade: organizar o caos existencial, dar sentido, etc. Mas quais 
instrumentos vêm sendo usados para fazer com que esses produtos cheguem aos 
consumidores, ou melhor, aos fiéis? 
Com o avanço tecnológico, as religiões, com o intuito de comunicar a Palavra de 
Deus e oferecer o que os consumidores necessitam, têm adentrado diversos meios, 
como: 
 
 TV; 
 Sites; 
 Redes sociais; 
 Aplicativos de mensagens; 
 Construção de aplicativos próprios. 
 
 
72 
 
Soares e Cândido (2015), ao analisarem as igrejas eletrônicas, afirmam que as 
vertentes evangélicas despertaram para a evangelização mediada pelas tecnologias 
muito antes da Igreja Católica, visto que, “[…] desde meados dos anos de 1950, as igrejas 
evangélicas já fazem uso dos mass media e, atualmente, a comunidade evangélica tem 
a TV como uma das suas maiores aliadas na estratégia de propagação das crenças” 
(SOARES; CÂNDIDO, 2015, p. 147). 
Do rádio à TV, foram se consolidando programas de propagação da fé e das 
crenças evangélicas, como: 
 
 “A voz do Brasil para Cristo” (1955); 
 “A voz da nova vida” (1962); 
 Os programas de TV de Edir Macedo e Valdomiro Santiago; 
 “Show da fé”, com Romildo Soares. 
 
Trata-se de exemplos dos formatos que a religião tem encontrado para alcançar 
e conquistar fiéis, cuja narrativa apresenta como núcleo pregações com curas, 
libertações, exaltação da prosperidade e aquisição de bens materiais, além de uma 
pregação baseada no que as pessoas gostam e querem ouvir. É um Deus que serve às 
necessidades das pessoas e é visto como “[...] um amuleto que está sempre pronto para 
resolver os problemas” (SOARES; CÂNDIDO, 2015, p. 151). 
E a Igreja Católica não ficou de fora desse meio eletrônico, mesmo chegando um 
pouco depois. A rede de TV Canção Nova, fundada pelo Monsenhor Jonas Abib, a TV 
Aparecida, a Rede Vida, e os padres Fábio de Melo, Reginaldo Manzotti e Marcelo Rossi 
assumiram esse diálogo com o mundo moderno e representam a face da 
espetacularização do fenômeno religioso católico, destacando-se por seu lastro de 
alcance. Nesse contexto, shows, encontros e celebrações televisionadas são “[...] 
espetáculos religiosos e renovadas formas de adoração e culto devoção, êxtase, dança, 
choro, alegria, fé e idolatria, comungam do mesmo espaço e momento” (PESSOA, 2016, 
documento on-line). 
 
 
 
73 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
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