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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL GUARULHOS – SP 1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 2 2 MOVIMENTOS SOCIAIS ........................................................................................ 3 2.1 Teorias sobre movimentos sociais ...................................................................... 6 2.2 Principais movimentos sociais no Brasil ............................................................. 13 2.3 Objetivos dos movimentos sociais ...................................................................... 16 2.4 Conscientização para os movimentos sociais ..................................................... 21 2.5 Relação entre movimentos sociais, leis e políticas públicas ............................... 25 3 OS MOVIMENTOS SOCIAIS NA CONTEMPORANEIDADE................................ 28 3.1 Movimentos sociais e sua formação e desenvolvimento no Brasil ..................... 30 3.2 Evolução e importância dos movimentos sociais na contemporaneidade .......... 34 4 ESTADO E CLASSES SOCIAIS ........................................................................... 37 4.1 O Estado e os seus papéis ................................................................................. 38 4.2 O Serviço Social e a divisão de classes ............................................................. 41 5 AS RELAÇÕES ENTRE POLÍTICA SOCIAL E CIDADANIA NO BRASIL ............ 44 5.1 O que é cidadania? ............................................................................................. 44 5.2 O desenvolvimento das políticas sociais a partir da concepção de cidadania .... 46 5.3 Efetivação das políticas sociais: garantia de cidadania ...................................... 48 6 LUTA E MOBILIZAÇÃO SOCIAL .......................................................................... 50 6.1 Democracia e cidadania...................................................................................... 51 6.2 Luta e mobilização social .................................................................................... 54 6.3 Papel e funções da comunicação nos processos de mobilização ...................... 59 7 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 63 2 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 2 MOVIMENTOS SOCIAIS Os movimentos sociais apresentam as demandas da sociedade, enfrentadas por determinada classe social, que na ação concreta adotam diferentes estratégias que variam de simples denúncia, passando mobilizações, marchas, concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, até atos de desobediência civil, negociações etc. Essas ações são capazes de sensibilizar os participantes, pois, “ao realizar essas ações, projetam em seus participantes sentimentos de pertencimento social. Aqueles que eram excluídos passam a se sentir incluídos em algum tipo de ação de um grupo ativo” (GOHN, 2011, p. 336). Para Frank e Fuentes (1989, p. 19), os movimentos sociais se apoiam “num sentimento de moralidade e (in) justiça e num poder social baseado na mobilização social contra as privações (exclusões) e pela sobrevivência e identidade”. Fonte: www.abrasco.org.br Os movimentos sociais podem ser motivados por diversas razões, como a insatisfação da sociedade diante dos problemas de gestão dos governos, nas áreas de saúde, educação, meio ambiente, entre outras, que causam indignação na população fazendo emergir os movimentos e as manifestações populares. Cabe destacar que não existe uma definição única na literatura para o termo movimento social, mas você verá algumas definições sob o olhar de alguns autores. Ferreira (2003) considera os movimentos sociais uma ação coletiva de grupos que se organizam com a finalidade de realizar mudanças sociais por meio da luta política, compartilhando valores ideológicos e questionando determinada realidade. Para Gohn (1995, p. 44) os movimentos sociais são: 4 Ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo. O movimento social é caracterizado pela união de pessoas em torno de um objetivo comum, que compartilham valores políticos e culturais, criando, assim, uma identidade comum ao movimento. Cabe destacar que dependendo do que se pretende, o movimento pode ser composto por diferentes classes e estratos sociais, não se baseando apenas na relação contraditória entre capital e trabalho como percussores de tais movimentos (GOHN, 1995). Para Scherer-Warren (1984), o movimento social deixou de se fundamentar apenas no conflito, incorporando uma visão de mundo divergente, na busca pela liberdade social e individual. Para a autora, o movimento social é a reunião de pessoas que buscam superar os modos de opressão, de forma ativa ou passiva. Já Silva (2001) considera o movimento social como um agir por meio de vários procedimentos e um pensar por meio de ideias que motivam ou embasam a ação individual e coletiva. Dessa forma, você pode entender movimento social como um instrumento que possibilita o alcance de objetivos individuais e coletivos, permitindo a superação de condições de opressão, possibilitando mudanças sociais e construindo uma nova forma de sociedade (MIRANDA; CASTILHO; CARDOSO, 2009). Avritzer (1994) afirma que os movimentos sociais não são apenas um simples objeto social, mas sim um meio de abordar problemas mais gerais. Na realidade, os movimentos sociais sempre existiram e, no Brasil, se intensificaram na década de 1970, em oposição ao regime militar, travando uma luta social e uma forte resistência à ditadura e ao autoritarismo estatal. Esse período da ditadura militar fez os movimentos sociais surgirem com maior efervescência por meio de movimentos estudantis, sindicatos, comunidades e pastorais que eram impactadas por essa forma de governo, etc. Gohn (2011, p. 23) afirma “que os movimentos sociais dos anos 1970/1980, no Brasil, contribuíram decisivamente, via demandas e pressões organizadas, para a conquista de vários direitos sociais, que foram inscritos em leis na nova ConstituiçãoFederal de 1988”. Assim, os movimentos sociais vêm 5 acompanhando os passos da democracia não só do Brasil, mas de diversas nações nas últimas décadas, com presença constante nos acontecimentos históricos relevantes, principalmente no que diz respeito às conquistas sociais. Na verdade, esses movimentos são uma forma de os cidadãos reivindicarem e terem seus interesses e anseios coletivos reconhecidos (GOHN, 2004). Nos anos de 1980 é notável a relevância dos movimentos sociais nos avanços importantes referentes aos direitos dos cidadãos. Movimentos com foco em questões éticas e valorização da vida também surgiram, motivados pela violência, pelos escândalos políticos, pelo clientelismo e pela corrupção, levando a população a reagir. Nos anos 1990, as intensas mobilizações da sociedade civil culminam no impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, com destaque para os “cara-pintadas”, cujo objetivo era o de estabelecer a ética na política. Nos anos 2000, os movimentos sociais e a participação popular assumem nova configuração em função da globalização, inclusive por meio de organizações não governamentais (ONGs), que surgem como uma nova forma de resistência, em substituição aos movimentos sociais (MIRANDA; CASTILHO; CARDOSO, 2009). Nos dias de hoje, a situação sociopolítica, econômica, cultural e tecnológica é diferente da década de 1990, o que faz os movimentos sociais serem diferentes. Atualmente, vemos os movimentos sociais acontecerem sob a forma de manifestações, marchas e ocupações com o intuito de reagir contra a política e o comportamento antiético de muitos políticos. Em geral, são promovidos por grupos organizados que se estruturam, convocam/convidam e se organizam por meio das redes sociais. O perfil dos participantes também se modificou, passando da condição de militante para a de ativista; as “marchas” se transformaram em protestos; a participação nos eventos acontece eventualmente, conforme a necessidade; e os simpatizantes de determinada causa podem se tornar participantes ativos de um novo movimento social. Dessa forma, crê-se que os movimentos sociais sempre existirão, uma vez que representam forças sociais organizadas que unem as pessoas não como força tarefa, de ordem numérica, mas como campo de atividades e de experimentação social, gerando criatividade e inovações socioculturais (GOHN, 2004). 6 2.1 Teorias sobre movimentos sociais As transformações que vem acontecendo no mundo, nas últimas décadas, têm influenciado a motivação dos movimentos sociais, evidenciando que eles não se limitam mais à política, à religião ou às demandas socioeconômicas e trabalhistas, mas também acontecem por motivos de reconhecimento, de identidade e culturais, se destacando ao lado de movimentos sociais globais. Portanto, os movimentos sociais no novo milênio deparam-se com novas demandas, novos conflitos e novas formas de organização, gerados pelos efeitos da globalização, em suas múltiplas faces (GOHN, 2008). Fonte: www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br O tema movimento social é motivo de vários estudos e, por isso, existem muitas e amplas abordagens teóricas com eixos analíticos, como as que você verá a seguir (GOHN, 2008). - Culturais: relacionados à construção de identidades atribuídas ou adquiridas, em que os diferentes tipos de pertencimentos são fundamentais em um determinado contexto. As ações nascem de processos reflexivos entre os participantes que criam vínculos e constroem sentidos e significados para suas ações coletivas. - Da justiça social: com foco em questões relacionadas ao reconhecimento de diferenças e desigualdades e de redistribuição de bens ou direitos, como recompensas às injustiças acumuladas ao longo da história. Abordagens sustentadas pelas teorias críticas. 7 - Capacidade de resistência dos movimentos sociais: com foco em questões como autonomia, formas de lutas a favor da construção de um novo mundo, de novas relações sociais e da luta contra o neoliberalismo. Essa abordagem critica a luta pela emancipação e cidadania por meio de políticas públicas que visam à integração social, ao consenso e à participação. - Institucionalização das ações coletivas: preocupa-se com a criação de vínculos e redes de sociabilidade entre as pessoas e seu desempenho em instituições, organizações, espaços segregados, associações, entre outros. É uma abordagem baseada nas teorias da privação social. São muitas as teorias que tentam explicar o fenômeno dos movimentos sociais. Você verá a seguir a TMR, a TPP e a TNMS. A TMR surgiu motivada pelas transformações políticas que ocorreram na sociedade norte-americana nos anos de 1960. Movimentos como os dos direitos civis, contra a guerra do Vietnã e os do feminismo levaram à elaboração da TMR. Essa teoria enfatiza que os movimentos sociais resultam da união de grupos que compartilham os mesmos interesses e, em ação coletiva, buscam estratégias para alcançar seus objetivos. Os autores mais importantes da primeira fase dessa teoria foram Olson, McCarthy e Zald (1965, 1973 e 1977). McCarthy e Zald eram contra o funcionalismo e defendiam movimentos, como os dos direitos civis nos Estados Unidos, por terem sentido e organização. Opunham-se também às versões economicistas do marxismo, argumentando que insatisfações e motivos para a mobilização, de qualquer natureza, sempre existirão, sendo insuficientes para explicar a formação de mobilizações coletivas. Dessa forma, mais importante que identificar as razões seria explicar o processo de mobilização. A decisão de agir seria por vontade individual, resultando da reflexão racional entre custos e benefícios e, a ação coletiva só seria viável se houvessem recursos financeiros e infraestrutura; ativistas e apoiadores e organização, ou seja, coordenação entre indivíduos, em forma de associações ou estruturas comunitárias, que seriam a base organizacional para os movimentos sociais (GOHN, 1997; ALONSO, 2009). A TMR aplicou a sociologia das organizações no estudo dos movimentos sociais fazendo analogia com uma organização. Os movimentos sociais vão se burocratizando conforme a racionalização da atividade política, criando normas, 8 hierarquia interna e divisão do trabalho, especializando seus participantes como gerentes, administradores de recursos e coordenadores das ações (McCARTHY; ZALD, 1977). Dessa forma, quanto mais longos, mais burocratizados eles vão se tornando. Além disso, essa longevidade estaria condicionada à capacidade de os movimentos sociais vencerem a concorrência, pois vários movimentos podem ser constituídos em torno de um mesmo tema, formando uma “indústria de movimento social”, na qual, além da cooperação, há também competição em torno de recursos materiais e de participantes a serem atraídos para um mercado de consumidores de bens políticos. Assim, surgiriam os conflitos internos, resultando em formação de facções, rompimento de movimentos grandes e formação de subunidades acerca de uma mesma causa, ou seja, apenas sucesso os movimentos que possuíssem características de uma organização formal hierárquica (GOHN, 1997; ALONSO, 2009). Olson (1965) tem sua teoria focada nos indivíduos, estudando os grupos de interesse em vez dos movimentos sociais. Para ele, é muito mais fácil organizar interesses coletivos em grupos compostos por muitos membros do que em grupos pequenos, destacando a importância do papel dos líderes organizadores desses interesses. Na TMR, as ações coletivas são analisadas sob a “perspectiva da relação custo/benefício, excluindo valores, normas, ideologias, culturas dos movimentos sociais estudados” (SILVA, 2001, p. 20). É uma teoria que compara os movimentos sociais a um fenômeno social com características de uma organização formal. Por esses e outros motivos, foi uma teoria que recebeu críticas devários autores, entre elas o fato que excluía valores, normas, ideologias, projetos, cultura e identidade dos grupos sociais estudados (COHEN, 1985) e que possuía uma visão burocrática dos movimentos sociais (FERREE, 1992). Com o evento da globalização, a TMR entrou em uma nova etapa, ampliando seu campo explicativo, com ênfase no desenvolvimento do processo político no campo da cultura e na interpretação das ações coletivas. Nessa nova fase, podemos destacar os trabalhos teóricos de autores como Klandermas; Friedman; Tarrow; Taylor e Whitter; Traugott; entre outros (GOHN, 1997). A TPP nasceu de debates marxistas sobre as possibilidades da revolução, e protestava contra explicações deterministas e economicistas da ação coletiva e contra 9 a ideia de um sujeito histórico universal. É uma teoria que rejeita a economia como explicação chave e combina política e cultura para explicar os movimentos sociais, considerando a coordenação dos ativistas como fundamental na construção de atores coletivos que se formam durante o processo de contestação. Essa coordenação é condicionada à solidariedade, que resulta da combinação do sentimento de pertencimento a uma categoria e da densidade das redes interpessoais que vinculam os membros do grupo entre si (TILLY, 1978 apud ALONSO, 2009). No entanto, a solidariedade só gera ação se puder contar com estruturas de mobilização como recursos formais (organizações civis) e informais (redes sociais, que favorecem a organização). Dessa forma, a solidariedade entre um grupo e o controle coletivo sobre os recursos necessários para sua ação são criados pelo processo de mobilização. Fonte: www.engenheiropassos.com Nessa teoria a mobilização tem por base o conflito entre Estado e sociedade, em que é possível que as posições variem e os atores migrem entre elas. Por isso, é preciso superar as barreiras estabelecidas sobre a definição de “Estado” e “sociedade” como duas entidades coesas e monolíticas. ATPP considera o Estado como detentor do poder, membros da política possuem, portanto, controle ou acesso ao governo que rege uma população; e a sociedade civil como desafiante, que busca ter influência sobre o governo e acesso aos recursos controlados pela política. Dessa forma, na TPP, o movimento social é definido como uma interação contenciosa, envolvendo 10 necessidades recíprocas entre sociedade (desafiantes) e Estado (detentores do poder), em nome de uma população sob litígio (TILLY, 1993 apud ALONSO, 2009). A ênfase na teoria da mobilização política e o esforço para inserir aspectos culturais e ideológicos, mesmo que limitadamente, são características fundamentais da TPP, e as oportunidades políticas e os frames são suas categorias mais relevantes (CORRÊA; ALMEIDA, 2012). As oportunidades políticas referem-se a fatores externos à sociedade civil que influenciam a capacidade de mobilização e recrutamento de grupos sociais, ou seja, são dimensões do contexto político capazes de estimular ou desestimular as pessoas a participarem de ações coletivas. A ideia central é muito simples: quando as estruturas de oportunidade política reduzem os custos da participação, há mobilização social (TARROW, 1994 apud RENNÓ, 2003). Para Goffman (1974), os frames dizem respeito à forma como os indivíduos dão significado a suas experiências e ações, ou seja, como eles percebem a realidade e, enquanto atores dos movimentos sociais, elaboram seu entendimento sobre justiça/injustiça, moral/imoral, tolerável/intolerável, que influenciam em sua motivação para se mobilizar (CORRÊA; ALMEIDA, 2012). Essa teoria foi amplamente criticada por Goodwin (1996), que considera a tese das oportunidades políticas confusa e imprecisa, com resultados repetitivos e sem nada novo, ambíguos e insuficientes. O autor criticou ainda os conceitos de frame e estruturas de mobilização destacando que aspectos culturais são excluídos, reduzindo a compreensão da cultura a uma perspectiva instrumental e trabalhando apenas com movimentos que a auxiliam na área da contracultura (GOHN, 1997). Em relação à cultura, a TPP abriu espaço para ela por meio do conceito de repertório. Para Tilly (1995, p. 26), repertório é um “conjunto limitado de rotinas que são aprendidas, compartilhadas e postas em ação por meio de um processo relativamente deliberado de escolha”. Assim, os atores escolhem quais as formas de interação mais adequadas aos seus propósitos, isto é, eles atribuem o sentido às formas, que podem ser tanto de contestação como de reiteração da ordem. A TNMS possui foco nas mudanças de ordem cultural e diz respeito a movimentos sociais dos ambientalistas, das mulheres, pela paz e outros. Os novos movimentos se opõem às práticas e aos objetivos dos velhos movimentos sociais organizados a partir do mundo do trabalho, ou seja, se opõem ao movimento operário- sindical (GOHN, 1995). Os novos movimentos sociais possuem foco em questões que 11 vão além do conflito de classes, envolvendo questões culturais. Esses movimentos surgiram em meados do século XX e têm como objetivo atuar como complemento às lutas de classes dos movimentos clássicos, como alternativa aos movimentos de classes tradicionais e como alternativa aos partidos políticos de esquerda. Assim, os novos movimentos sociais poderão surgir como complemento ou como oposição aos partidos políticos de esquerda e aos movimentos de classes tradicionais. Os novos movimentos sociais ganharam força na década de 1970 com as lutas sindicais contra a divisão hierárquica do trabalho (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010). É nesse mesmo período que os novos movimentos sociais surgem, como o movimento mundial de protesto contra a guerra dos Estados Unidos no Vietnã, pelos direitos civis dos negros nos no mesmo país, movimentos feministas e urbanos, entre outros (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p.265). São características fundamentais dos novos movimentos sociais, as mobilizações situadas fora do contexto do trabalho e da reprodução da força de trabalho, destacando o não envolvimento de seus protagonistas nas formas de organização e com a ideologia do movimento operário, de forma direta, e sua postura contra Estado e partidos políticos revolucionários. Assim, os novos movimentos sociais surgem de novas demandas da sociedade contemporânea que requerem respostas diferenciadas. Outras características dos novos movimentos sociais são seus valores antimodernistas; suas formas de ação não convencionais; sua formação, por grupos marginalizados pelo status quo vigente ou sensíveis aos resultados do capitalismo; as novas aspirações e a satisfação de necessidades que se colocam em risco frente às exigências da burocratização e o aumento da industrialização, rompendo laços tradicionais e estruturas de lealdade existentes. Como resultado tem-se maior receptividade às novas visões sobre novas utopias sociais (ALONSO, 2009). Os novos movimentos sociais se preocupam em garantir direitos sociais que já existem ou que ainda deverão ser conquistados, por meio da mídia e de atividades de protestos visando à mobilização da opinião pública a seu favor, para pressionar os órgãos e as políticas estatais. Dessa forma, se valendo de ações diretas, buscam mudar os valores dominantes e as situações de discriminação, principalmente dentro de instituições da própria sociedade civil (PONTES, 2015). 12 Uma crítica a essa teoria é que ela apresenta novidades na prática histórica dos movimentos, no entanto, utiliza categorias que não permitem explicar de forma clara as novas formas de processo social, uma vez que partem dos resultados nos quais a identidade coletiva é sua maior expressão, é a categoria mais relevante na análise da TNMS. Assim, essa teoria fez uso do binômio causa e efeito, sem se aprofundar no conjunto de processos que formam os movimentos sociais. Extraiu da política a questãoda ideologia, mas não abordou o caráter dessas representações coletivas, como parte de projetos políticos mais abrangentes. Dessa forma, as análises possuem lacunas em certos aspectos da realidade que podem não se relacionar com as formas empíricas em um dado momento histórico. Tanto os códigos culturais como a identidade coletiva são produtos do movimento social, que é um processo de articulação de ações coletivas (PONTES, 2015). Fonte: www.correiodobrasil.com.br Alguns dos autores dessa teoria não fazem distinção entre velhos e novos movimentos, portanto, essa distinção é criada com base em análises sobre questões culturais, ideológicas, de consciência, crença, micromobilização e solidariedade, com foco principalmente no papel que os processos de construção de identidades coletivas desempenham na formação dos movimentos (LARAÑA, 1999). São autores dessa teoria Alain Touraine, Jurgen Habermas, Alberto Melucci e Claus Offe. Podemos dizer que as três teorias sobre movimentos sociais aqui apresentadas possuem formas bastante particulares. A TMR focou na dimensão micro organizacional e na estratégica da ação coletiva; a TPP focou o ambiente macropolítico, incorporando a cultura na análise e utilizando o conceito de repertório, 13 mesmo que de forma limitada; e a TNMS focou em aspectos simbólicos e cognitivos e nas emoções coletivas incluindo-os na própria definição de movimentos sociais, dando menor importância ao ambiente político em que ocorrem as mobilizações e aos interesses e recursos materiais envolvidos nela. Na dimensão histórica, o desenvolvimento da TPP reduziu o espaço da TMR e logo a derrubou; a TNMS continuou a existir e desenvolveu-se para além da Europa. Ainda assim, o debate entre a TPP e a TNMS, foi essencial para estabelecer consensos (ALONSO, 2009). 2.2 Principais movimentos sociais no Brasil No Brasil, os movimentos sociais ganharam força e destaque a partir da década de 1960 contra o regime militar. No entanto, a sociedade brasileira é marcada por lutas e movimentos sociais desde os tempos do Brasil colônia, por movimentos contra a dominação, a exploração econômica e a exclusão social, como as lutas de índios, negros, brancos, mestiços pobres e brancos da camada média, influenciados pelas ideologias de libertação, contra a opressão dos colonizadores europeus. Veja os movimentos com maior destaque no Brasil colônia e na fase do Império até o século XX (GOHN, 2000): Zumbi dos Palmares (1630-1695); Inconfidência Mineira (1789); Conspiração dos Alfaiates (1798); Revolução Pernambucana (1817); Balaiada (Maranhão, 1830-1841); Revolta dos Malés (1835); Cabanagem (1835); Revolução Praieira (1847-1849); Revolta de lbicaba (1851); Revolta de Vassouras (1858); Quebra-Quilos (1873); Revolta Muckers (1874); Revolta do Vintém (1880); Canudos (1874-1897). 14 Com a chegada da República, o cenário social se modifica, substituindo a mão de obra escrava pela mão de obra assalariada. O modo de produção também se altera com o início, ainda incipiente, da industrialização e com o proletariado urbano. Surgem, então, as organizações de luta e resistência dos trabalhadores por meio de ligas, uniões, associações de auxílio mútuo etc. Veja alguns movimentos ocorridos nas duas primeiras décadas do século que reivindicavam serviços urbanos ou protestavam contra políticas locais (GOHN, 2000): Revolta da Vacina (1905); Revolta da Chibata (1910); Revolta do Contestado (1912); Ligas contra o analfabetismo (1915). Entre os movimentos ocorridos na década de 1930 estão (GOHN, 2000): Movimento dos Pioneiros da Educação (1931); Marcha Contra a Fome (1931); Revolução Constitucionalista de São Paulo (1932); Revolta do Caldeirão no Ceará (1935); Criação da Aliança Libertadora Nacional (1935); Movimento Pau de Colher (1935). No período entre 1945 e 1964 muitas lutas e movimentos sociais aconteceram no cenário de redemocratização do país, aliados a um cenário internacional de desenvolvimento da sociedade de consumo e à política da Guerra Fria entre Estados Unidos e ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, as potências mundiais na época. Entre os anos de 1961 a 1964 os seguintes movimentos podem ser destacados (GOHN, 2000): Ligas Camponesas do Nordeste; Movimento dos Agricultores Sem-Terra (MASTER), no Sul do país; Movimento de Educação de Base (MEB); Círculos Populares de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE). 15 A partir de 1974 o país entra em crise e os movimentos sociais ressurgem. Entre 1978-1979 tivemos os seguintes (GOHN, 2000): Associação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais (ANAMPOs); Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT); Central Única dos Trabalhadores (CUT); Confederação Nacional das Associações de Moradores (CONAM). Em 1984, o movimento “Diretas Já” marca a história sociopolítica do Brasil. Entre os anos de 1984 e 1988, o país se mobiliza em prol de uma nova Constituição. Os anos de 1990 foram marcados pelo capitalismo globalizado que se espalhou pelo mundo, foram tempos marcados pelo desemprego, reestruturações no mercado de trabalho, flexibilização dos contratos, reformas, etc., com destaque para o movimento dos “cara-pintadas”. Fonte: www.marcelocoruja.blogspot.com Nos anos 2000 os movimentos sociais retornam ao cenário da política nacional com força total. De lá para cá, podemos citar os seguintes movimentos (GOHN, 2000): Movimentos dos índios; Via Campesina; Movimento Passe Livre; Movimentos Brasil Livre. 16 Em um sistema democrático, a sociedade está em constante construção, por meio da participação cidadã. Dessa forma, os movimentos sociais, no Brasil e no mundo, expressam esse esforço de construção social a partir da atuação coletiva dos indivíduos. Nesse contexto, os movimentos sociais possuem relevância para a sociedade civil, enquanto instrumento de manifestação e reivindicação. Movimentos como dos negros, feminista, ambientalistas, da causa operária, estudantis, LGBT e outros, centralizam-se em algumas regiões específicas, no entanto, outros movimentos, estimulados pelo processo de globalização e pela disseminação da informação e meios de comunicação, rompem fronteiras geográficas, em razão da natureza de suas causas, ganhando adeptos por todo o mundo, como é o caso do Greenpeace. A necessidade de os movimentos sociais contarem com uma organização bem desenvolvida e planejada, demanda a mobilização de recursos e pessoas realmente comprometidas. Assim, você pode concluir que os movimentos sociais não se limitam a manifestações públicas, contando também com organizações que atuam com a finalidade de alcançar seus objetivos políticos, o que significa que há uma luta constante e em longo prazo, de acordo com cada causa que se quer defender. 2.3 Objetivos dos movimentos sociais Os movimentos sociais envolvem grande complexidade em decorrência de suas características próprias e específicas, além de seu vínculo com todo um conjunto de relações sociais e sua formação social em uma sociedade também complexa. Nesse contexto, as teorias sobre os movimentos sociais necessitam de amplo desenvolvimento e, cada novidade teórica que ajude a compreender esse fenômeno, traz consigo novas questões a serem analisadas e novos problemas que devem ser abordados e resolvidos. Dessa forma, o estudo sobre movimentos sociais ainda necessita de desenvolvimento em diversas questões, sendo um processo sem fim (VIANA, 2016). Uma dessas questões se refere aos objetivos dos movimentos sociais. Pesquisadores dos movimentos sociais já realizaram alguns estudos sobre o tema, mas, de forma superficial ou descritiva, com abordagens ingênuas e com pouca criticidade, ou seja, de maneira oposta ao que deve ser,pois, para que os movimentos 17 sociais sejam compreendidos, bem como qualquer outro fenômeno que se queira estudar, é necessário um estudo realizado a partir de uma abordagem crítica e geral. Essa questão sobre objetivos dos movimentos sociais, talvez uma das mais importantes nesse contexto, ainda é pouco discutida, o que causa certo estranhamento, uma vez que sem objetivo não existe movimento. Grande parte dos estudos sobre movimentos sociais apresenta o objetivo sem análise ou problematização e, outras vezes, apenas o colocam de modo superficial ao lado de outras questões. O mais comum é a apresentação do objetivo como sendo a “mudança social”, de forma generalizada. Essa é uma visão hegemônica, que, apesar de superficial, é muito utilizada no contexto dos movimentos sociais. A ideia de mudança social equivale à ideia de transformação social, que na verdade significa substituir uma forma de sociedade por outra, dando um caráter revolucionário para os movimentos, o que não corresponde à realidade (BOTTOMORE, 1981; TOURAINE, 1997). Alguns sociólogos enxergam a mudança social como uma simples alteração de algum aspecto da realidade social, reproduzindo uma ideologia em vez de produzi- la. Você já se perguntou qual é ou quais são os objetivos dos movimentos sociais? A importância do objetivo dos movimentos sociais fica evidente no conceito desse fenômeno, considerado por Viana (2016) como ações coletivas compartilhadas por grupos sociais que se originam de situações que causam insatisfação, sentimento de pertencimento e possuem um objetivo a ser perseguido, sendo este um dos elementos que definem um movimento e que não pode ser deixado em segundo plano. Portanto, um movimento social surge motivado pela insatisfação gerada por determinada situação, que é sentida pelo grupo atingido, gerando um sentimento de pertença e o objetivo que provoca a mobilização. Dessa forma, o objetivo é a meta a ser alcançada e a razão de ser do movimento social, justificando a mobilização. O objetivo então existe para que ações sejam implementadas, visando transformar uma situação problemática. Nesse contexto, o objetivo visa a uma transformação situacional. Viana (2016) considera que a transformação situacional pode assumir um estado defensivo, que busca manter a situação impedindo que ocorram mudanças prejudiciais, ou a volta da situação social anterior, sem que as mudanças tenham ocorrido; já o estado ofensivo, busca modificar determinada situação social que causa insatisfação em seu grupo social de base. Você pode entender o primeiro caso como 18 uma conservação e não uma transformação da situação. No entanto, o autor considera que, ainda assim, existe um elemento de transformação que é a ação contra tendências, atos, posições, etc., de outros grupos, do Estado, etc., que pode gerar a mudança que se quer evitar e que se considera prejudicial. Dessa forma, a transformação situacional defensiva só terá sentido se houver alguma mobilização na sociedade que ameace a continuidade daquilo que se quer manter. Transformação situacional e transformação social são ações distintas. A transformação situacional diz respeito à situação do grupo social ou situação relacionada a outros grupos. No entanto, se o grupo social que gera o movimento considerar que sua transformação situacional só é possível com uma transformação social, o que na maioria dos casos é verdadeiro, então se tem um objetivo de transformação situacional e social. A transformação situacional pode ser conservadora, o que significa retomar uma situação existente anteriormente ou impedir que as reivindicações do grupo social oposto se mantenham. É reformista e visa à mudança da situação do grupo social e revolucionária, pois acontece simultaneamente a uma transformação social, uma vez que somente com uma mudança radical da situação é que pode surgir uma nova sociedade em substituição da atual, sendo um processo que efetiva a resolução do problema do grupo social. A transformação social, por sua vez, significa uma revolução que atinge a toda a sociedade, caracterizando-se como uma mudança radical, por exemplo, a passagem do feudalismo para o capitalismo (VIANA, 2016). Observe um exemplo dos tipos de transformações na Figura 1. 19 Agora que você já viu alguns elementos que podem ajudá-lo a compreender os objetivos dos movimentos sociais, reflita: como os objetivos são formados? De que forma eles podem ser identificados? Como se materializam? Os objetivos se formam motivados pela insatisfação em relação a alguma situação indesejada, que gera um objetivo individual em determinados indivíduos de um grupo que, tomados pelo sentimento de pertencimento, compartilham com seu grupo social, por considerar que se trata de um problema coletivo, do grupo todo. Sendo um problema de todos, gera um objetivo coletivo que irá gerar uma mobilização. Dessa forma, temos um movimento social (VIANA, 2016). Um aspecto fundamental para que os objetivos se concretizem é que todos possuam interesses comuns. Nos movimentos sociais estão presentes interesses pessoais e grupais, sendo estes últimos os que movem o grupo na mesma direção. Cabe destacar que interesses divergentes dentro do grupo social ou a predominância de interesses pessoais sobre os interesses coletivos podem causar situações constrangedoras dentro dos movimentos sociais, como a formação de um subgrupo com a finalidade de lutar por benefícios pessoais em vez de lutar pela solução do problema do grupo social. O interesse pessoal pode fazer com que o indivíduo resolva seu problema de forma individual, usando o movimento para essa finalidade ou abandonando a luta do grupo, entre outros. 20 Viana (2016) alerta que nos movimentos sociais conservadores o interesse pessoal coincide com o interesse do grupo, não havendo contradição. No caso das tendências conservadoras e reformistas dos movimentos sociais reformistas, existem contradições, mas são encobertas por ideologias, doutrinas, etc. No caso de movimentos sociais com tendências revolucionárias, os interesses pessoais podem ser incompatíveis com o interesse grupal, motivando o abandono da luta ou sua substituição por formas oportunistas. Há de se ter cuidado, pois muitos indivíduos focados em interesses pessoais tendem a gerar o oportunismo nos movimentos sociais. No entanto, indivíduos voltados aos interesses fundamentais tendem a reforçar os interesses do grupo. Para identificar o objetivo de um movimento social é importante distinguir objetivos reais e objetivos declarados, que possibilitam verificar se há diferença entre os objetivos que constam nos discursos e os que são efetivos, chamando a atenção para uma possível dicotomia entre eles. Se uma organização mobilizadora tem como objetivo a defesa do meio ambiente e busca garantir sua preservação, temos o seu objetivo declarado. No entanto, é preciso verificar se esse objetivo é real, ou seja, é o objetivo verdadeiro e efetivo de tal organização. Etzioni (1976) recomenda que os gastos sejam analisados, bem como as despesas com recursos e energia da organização, pois se há um gasto maior para sua manutenção do que com a mobilização em defesa do meio ambiente, então há uma dicotomia entre objetivo real e declarado. Caso a situação seja inversa, ou seja, se os gastos forem inferiores e as energias e recursos forem voltados para a preservação ambiental, então objetivos reais e declarados estão em equilíbrio. Claro que existem outros aspectos a serem considerados, mas a partir dessa comparação já é possível verificar se há ou não compatibilidade entre discurso e ação efetiva (ETZIONE, 1976). Outra forma de identificar os objetivos é por meio da análise do desenvolvimento histórico do movimento social e suas ramificações. Entender as ramificações é fundamental para compreender qualé o objetivo que predomina no interior do movimento, lembrando que uma organização mobilizadora pode inicialmente apresentar um objetivo e, posteriormente, alterá-lo devido a mudanças de hegemonia na sociedade civil, nos integrantes da organização, etc. Esta ação a chamada substituição de objetivos que para Etzioni (1976) é mais comum ocorrer 21 entre meios e fins. A organização para ação é o meio para se atingir o fim, que é o objetivo do movimento social do qual se faz parte. Outra forma de identificar os objetivos de um movimento social é por meio das reivindicações, que são a forma concreta de explicitação dos objetivos dos movimentos sociais. Sem as reivindicações, qualquer objetivo declarado em documentos, manifestos, e outras formas, não possuem valor e estarão em oposição aos objetivos reais. Nesse contexto se encontram as reivindicações específicas, ligadas aos interesses imediatos e específicos; e as reinvindicações gerais, ligadas aos interesses gerais ou universais/fundamentais. Dessa forma, as reivindicações dos movimentos sociais ou de suas ramificações são as fontes de revelação dos seus reais objetivos, ou seja, os objetivos dos movimentos sociais são a verdadeira expressão dos interesses de seus grupos sociais de base, que estão ligados ao contexto social e histórico mais amplo (ETZIONI, 1976; VIANA, 2016). Portanto, você pode entender que os objetivos dos movimentos sociais são formados a partir da consciência e geração de valores, concepções, sentimentos, etc. e com uma gama de opções. No entanto, isso não é suficiente para explicar o motivo de escolha de um objetivo, pois, como é possível notar nos exemplos apresentados, os movimentos podem ter objetivos distintos, dependendo da causa que se quer defender ou da situação a ser transformada, etc. 2.4 Conscientização para os movimentos sociais Vamos iniciar este tema fazendo uma reflexão sobre o que é um problema no contexto dos movimentos sociais. Você já parou para pensar que um problema é o elemento principal dos movimentos sociais? Assim, é fundamental compreendê-lo 22 para fornecer aos integrantes dos movimentos, uma base sólida de conhecimento e uma capacidade consistente de análise, que permitam a elaboração do/dos objetivos que devem ser alcançados por meio dos movimentos sociais. Podemos pensar em problema social como uma situação que causa mal-estar, insatisfação e consequências negativas a alguém, uma comunidade, sociedade, instituições, etc. Entender o problema/a situação que se deseja mudar é fundamental para que as pessoas se comprometam com a causa. Um passo importante é diagnosticar a situação que causa insatisfação, listando suas consequências e avaliando-as sob a ótica dos integrantes dos movimentos, situando os problemas no tempo e no espaço, verificando a relação ou contradição entre esses problemas, identificando os fatores que evidenciam sua existência, realizando um levantamento de suas causas e consequências e destacando entre elas as mais críticas e que podem sofrer intervenção. São três os tipos de problemas existentes (DAGNINO, 2009): Os que representam uma ameaça, ou seja, o perigo de agravar uma situação ou a possibilidade de perda de algo conquistado; Os que representam uma oportunidade, ou seja, podem ser aproveitados ou descartados pelos atores sociais; Os que representam um obstáculo, dificultando uma conquista ou benefício. É importante compreender corretamente o problema porque será ele o motivo da ação com o intuito de reduzi-lo ou soluciona-lo. Do contrário, há risco de se chegar a uma visão distorcida da situação e, consequentemente, tomada de decisões equivocadas. Perceba que um problema pode ser, por exemplo, uma situação ou um estado negativo que influencia a vida de várias pessoas, a utilização de recursos de forma indevida que impacta na qualidade de vida dessas pessoas, uma ameaça ou uma intenção de provocar algo que já foi conquistado, etc. Daí a importância de identificar problemas atuais ou realmente potenciais, evitando “achismos” e imaginação, pois um problema não significa ausência de uma solução. Os problemas devem ser detalhados em sua reivindicação e não de forma generalista como saúde, meio ambiente, direitos humanos, etc., pois, dessa forma, indicam um sentido amplo sem necessariamente indicar qual é a situação que se busca resolver/transformar. Portanto, você pode concluir que compreender a origem 23 do problema é fundamental para a formulação dos objetivos dos movimentos sociais, ou seja, conhecer as causas do problema permite identificar quais opções têm chance de funcionar (DAGNINO, 2009). Nesse contexto, outro elemento fundamental para o movimento social é a conscientização. Para Freire (1980), a conscientização é um processo que se constrói quando o indivíduo se aproxima da realidade. A conscientização não pode existir fora da “práxis”, ou melhor, sem o ato ação-reflexão. [...] Por isso mesmo, a conscientização é um compromisso histórico. É também consciência histórica: é inserção crítica na história, implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. [...] A conscientização não está baseada sobre a consciência, de um lado, e o mundo, de outro; por outra parte, não pretende uma separação. Ao contrário, está baseada na relação consciência-mundo. [...] (FREIRE, 1980, p. 26 e 90). Para Sandoval (1994) a consciência está ligada aos significados que os indivíduos dão às interações e aos acontecimentos em sua vida. Para o autor, consciência, antes de tudo, refere-se à atribuição dada pelos indivíduos ao ambiente social em que estão inseridos, significados esses que guiam sua conduta e que apenas são compreendidos dentro do contexto no qual se inserem. Tal afirmação corrobora com o pensamento de Marx (1845) de que o ser social é que determina a consciência do homem. Existem dois momentos em um processo de mobilização: o momento do despertar do desejo e da consciência sobre a necessidade de mudanças e de atitudes; e o momento da transformação desse desejo e dessa consciência em disposição para agir e na própria ação (TORO; WERNECK, 2004). 24 Fonte: www.uipi.com.br No contexto dos movimentos sociais, a conscientização é fundamental para o surgimento do sentimento de pertencimento social, pois, aqueles que se sentem excluídos passam a se sentir incluídos em um grupo de ação ativo, acolhidos e iguais (GOHN, 2011). A compreensão do problema motiva o processo de conscientização, principalmente quando é entendido como um problema coletivo e não somente individual. Despertar a consciência sobre os problemas vividos estimula a participação e o comprometimento das pessoas nos movimentos sociais que, para consolidação e ampliação dos direitos sociais e a manutenção dos direitos já conquistados, deve ser um processo constante e contínuo. Para que as mudanças sociais ou políticas ocorram, as pessoas devem ter consciência de sua capacidade de desempenhar papéis importantes para a construção dessas mudanças; ter conhecimento sobre a realidade, descobrir a si próprio e refletir sobre as relações com os outros e com o meio em que estão inseridas. Isso faz com que valores como respeito, solidariedade, empatia e outros sejam repensados e orientem a nova forma de agir. Apenas quando o valor individual é despertado que se pode acreditar no potencial transformador. Assim, a conscientização é capaz de promover a interiorização e apreensão da realidade, levando à reflexão sobre o papel do indivíduo enquanto cidadão, sua relação com os outros e suas atitudes em relação à realidade (TORO; WERNECK, 2004). 25 2.5 Relação entre movimentos sociais, leis e políticas públicas A política pública refere-se à ação cuja finalidade é atender às necessidades sociais que não conseguem ser resolvidas na esferaprivada, individual ou espontânea, necessitando ser resolvida por decisão coletiva sob os princípios de justiça social, protegidos por leis que efetivam direitos. É denominada política pública porque contempla todas as forças e sujeitos sociais. Nesse contexto, a palavra política refere-se às medidas que são formuladas e executadas para o atendimento de demandas e necessidades sociais, caracterizando-se como uma estratégia de ação planejada e avaliada, na qual o Estado e a sociedade civil desempenham papéis específicos, em uma relação recíproca e antagônica. Desse modo, a política pública envolve a intervenção do Estado com a participação de diferentes atores sociais, públicos e privados, contemplando demandas da sociedade e resultados da ação política dos governos. Portanto, a política pública assume o significado de ação e não de ação intencional de autoridade pública diante de um problema ou necessidade. Sob essa ótica, a função da política pública é efetivar os direitos conquistados pela sociedade, incluindo-os nas leis, o que caracteriza o caráter universal dos bens públicos (PEREIRA, 2008). As políticas públicas são classificadas por tipo em decorrência de sua complexidade e, também, para facilitar sua análise. Cabe ressaltar que elas podem variar dependendo do contexto histórico e geográfico, sendo formuladas em uma arena de conflito associada à forma de regulação. Entre os vários tipos de arena, você verá a seguir os quatro principais (PEREIRA, 2008). Arena regulamentadora: na qual normas e regras são estabelecidas pelo Estado de forma coercitiva. Arena redistributiva: refere-se ao acesso de vantagens a determinados sujeitos em detrimento de outros, estabelecidas pelo poder público, utilizando recursos obtidos em outros grupos específicos. Arena distributiva: quando as necessidades sociais de determinado grupo são atendidas com recursos obtidos por meio da arrecadação de impostos, contribuições sociais e econômicas e taxas (tributos), mantendo um caráter compensatório. 26 Arena constitutiva: em que decorrem ações públicas cuja coerção afeta indiretamente o cidadão, ou seja, define regras e procedimentos sobre a formulação e implementação de políticas públicas nas demais arenas. A interação entre Estado e sociedade civil, no contexto das políticas públicas, está inserida em um processo histórico complexo, no qual os dois possuem particularidades e interesses próprios, apesar de sua interdependência e autonomia, ou seja, ambos se influenciam mutuamente. Montaño e Duriguetto (2010) contam que os movimentos sociais são representações do processo de organização da classe trabalhadora, da luta de classes e das lutas sociais existentes no Brasil desde o início do século XX. No entanto, foi na década de 1970 que eles se intensificaram, quando se opunham ao regime militar, por meio de uma luta social que resistia à ditadura e ao autoritarismo estatal. Esse foi um período que propiciou o surgimento de vários movimentos sociais, como os movimentos estudantis, os da classe operária e os das comunidades que sofriam os impactos causados por essa forma de governo. Os movimentos sociais dos anos de 1970 e 1980 foram decisivos para a conquista de vários direitos sociais, instituídos por lei na Constituição Federal de 1988 (CF/88) (GOHN, 2011). Esses movimentos contribuíram para a redemocratização do Brasil, que teve como característica a inclusão de novos atores sociais na esfera política, fazendo surgir, ao longo dos anos de 1980 e 1990, os espaços públicos destinados à participação da sociedade civil, por exemplo, os conselhos, os fóruns e os comitês. Nesse período houve também uma mudança no perfil dos movimentos sociais, que passaram da atuação por meio de manifestações e reivindicações para uma atuação mais focada em ações propositivas, por meio de ONGs. Para Gohn (2007), com uma atuação mais participativa e de parceria com o Estado, os movimentos sociais ajudaram a construir os vários canais de participação e a institucionalização de espaços públicos relevantes, como os fóruns e os conselhos, nas esferas municipais, estaduais e federais. Também assumiram posturas menos reivindicatórias e mais construtivistas e produtivas, tendo como principais características a participação cidadã e a dimensão estratégica. Dessa maneira, os novos associativismos, sob a ótica da participação cidadã, atuam na prestação de 27 serviços à comunidade e à população, distanciando-se do campo das reivindicações e atuando em parceria com o Estado. Fonte: www.brainly.com.br Apesar de ainda existir certa dificuldade de esses movimentos se inserirem na sociedade civil, em razão de valores tradicionais da política brasileira, eles vêm ao longo do tempo contribuindo para levar ao espaço público, a discussão e a construção coletiva e pública sobre temas e questões que antes eram considerados problemas privados e individuais, constituindo-os como objetos de políticas públicas. Nesse sentido, para efetivar a democracia em nosso país, é preciso fortalecer as esferas públicas não estatais como espaço de condução das ações coletivas organizadas, em que as prioridades para a formulação e a implementação de políticas públicas possam ser definidas, bem como sua fiscalização e execução, efetivadas. Dessa forma, os movimentos sociais enquanto expressões dos movimentos de luta de classes e lutas sociais atuam como atores políticos do processo de formação das políticas sociais, em que as necessidades dos indivíduos se transformam em demandas a serem reivindicadas por meio de mobilizações, pressões e lutas sociais, levando-as a uma instância de negociação, consentimento e, dentro do possível, devido às diversas condições necessárias e escassas, chegando ao patamar de políticas públicas (GOHN, 2007). 28 3 OS MOVIMENTOS SOCIAIS NA CONTEMPORANEIDADE Atualmente, os movimentos sociais protagonizados pela sociedade civil somam um conjunto variado de demandas por meio de múltiplas bandeiras de lutas sociais. A partir dos anos 1970 e 1980, houve uma intensificação importante da sua organização/instituição, bem como na amplitude das demandas que passaram a fazer parte de suas lutas. Lüchmann e Sousa (2005) analisam os movimentos sociais em dois importantes polos: os novos instituintes/instituídos e os novos contrainstituintes. Os primeiros fazem parte de um grupo geracional que lutou pela redemocratização e pela ampliação dos espaços de participação democrática do país. Trata-se de um coletivo que surge das lutas contra a ditadura e as barbáries das perseguições políticas. (...) novos, porque num movimento de afirmação geracional de luta contra a falta de liberdade política visam ampliar os espaços de participação social junto às instituições políticas, interferindo diretamente nas definições das políticas públicas, tendo em vista não apenas a efetivação dos direitos instituídos, mas também a criação de novos direitos (LÜCHMANN; SOUSA, 2005, p. 97). Após as conquistas de direitos prometidas pela promulgação da Constituição de 1988 e pelas vitórias de significativas demandas dos trabalhadores tanto no âmbito das leis quanto na conquista de espaços políticos, inclusive partidários, novas transformações se sucedem durante os anos 1990. Na época, o Brasil viveu um período de desmontes de direitos já conquistados. O contexto de globalização e governo de ideologia neoliberal, na qual o Estado deve ser mínimo e os direitos sociais são vistos enquanto gastos que travam o desenvolvimento econômico, os movimentos sociais passaram a enfrentar novos desafios. A sociedade civil organizada vive um dilema entre a luta institucional versus a mobilização social, pois é chamada pelo Estado para “[...] administrar a crise que se aprofunda frente ao esfacelamento dos serviços públicos e sociais [...]” (LÜCHMANN;SOUSA, 2005, p. 99). A partir disso, as Organizações da Sociedade Civil (ONGs) passam a ter reconhecimento público e assumem papel ativo e propositivo acerca das questões sociais no país. Assim, os movimentos sociais que possuíam caráter reivindicativo, em sua maior expressão, passam a atuar direta e administrativamente nas questões sociais. 29 Ocorre, então, um aumento expressivo de ONGs no Brasil durante a década de 1990, remetendo-nos a outro estudo significativamente importante sobre a terceirização dos serviços públicos, o qual não poderemos incluir neste capítulo pela sua complexidade e abrangência. Com relação aos novos contrainstituintes, as autoras os relacionam às novas gerações de brasileiros que vivem a partir da consolidação democrática uma nova estruturação social, na qual as demandas sociais possuem vazão através de diversas formas de manifestações. Com a globalização e com o desenvolvimento das comunicações, os novos movimentos sociais juvenis “[...] convidam à revolução do cotidiano, realizando a arte nas ruas com ações contrainstituintes e de caráter anticapitalista, revelando a ressignificação que fazem de um passado recente [...]” (LÜCHMANN; SOUSA, 2005, p. 105). As formas de articulação via internet são comuns para os novos movimentos sociais juvenis. Através da dinâmica realidade tecnológica, ações sociais diversas são eficazmente organizadas, possuindo grande alcance entre os participantes. São organizados movimentos sociais que podem se materializarem em denúncias, abaixo- assinados, mobilizações, marchas, concentrações, passeatas, distúrbios, negociações, expressões culturais temáticas, entre outros. Gohn (2011) afirma que as negociações, diálogos ou confrontos nos atos participativos não são processos isolados, mas de caráter político-social. São ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam formas distintas de a população se organizar e expressar suas demandas. Fonte: www.politize.com.br 30 Atualmente, temos movimentos sociais diversos do âmbito rural e urbano, dos direitos sociais, direitos trabalhistas, direitos humanos, contra formas de violências a segmentos da sociedade e gêneros, movimentos sociais de valorização da cultura étnica racial, religiosa, entre tantos outros movimentos instituídos em Associações, ONGs, Fundações e Sindicatos. São expressões da participação da sociedade civil, mais diretamente relacionados às gerações mais antigas ligadas aos chamados novos-instituintes, nas questões sociais, conquistadas pela luta de movimentos sociais e políticos que atuaram insistentemente e corajosamente na história da constituição do processo democrático brasileiro. Além desses, temos ainda, os jovens contrainstituintes, que transformam realidades através de suas manifestações independentes. 3.1 Movimentos sociais e sua formação e desenvolvimento no Brasil Para entender a sociedade brasileira tal como ela é hoje, faz-se necessário estudar a respeito da história e do processo evolutivo da sociedade no Brasil. Sendo assim, é preciso conhecer os movimentos sociais basilares que estão intrínsecos às atividades em prol da luta pela democracia brasileira, igualdade e justiça social. O primeiro movimento social expressivo foi formado quando o Brasil passou a ser colônia de Portugal, que trouxe para o País pessoas oriundas do continente Africano para serem escravizadas. Nesse período, houve um movimento social organizado em prol da abolição da escravidão (OLIVEIRA, 2017). Passados alguns séculos, outros movimentos ocorreram já no primeiro governo da República, como: a Guerra de Canudos (1893–1897), no estado da Bahia, em que as pessoas lutavam por cidadania e melhores condições de vida no sertão nordestino, tendo como líder Antônio Conselheiro; e a Guerra do Contestado (1912–1916), formada por pessoas que foram expulsas de suas terras, em virtude de estas terem sido concedidas a um grupo norte-americano para a construção de uma estrada de ferro, na região entre os estados do Paraná e Santa Catarina. Esses dois movimentos sociais marcaram o início do Brasil republicano, e ambos foram intensamente perseguidos por parte do Estado (TOMAZI, 2000). Outro importante movimento que ficou marcado na história da recém-República é a Greve Geral de 1917, promovida pelos operários no Brasil. Essa greve ocorreu 31 devido ao processo tardio de industrialização no País, pois, ao contrário dos países da Europa, que já haviam passado pela Revolução Industrial, aqui ainda não se tinha indústrias, apenas a forma artesanal e as atividades rurais, que predominavam até então. Com a entrada do século XX, inicia-se o procedimento de industrialização no Brasil, isto é, o País passa por várias mudanças na sua economia e no seu modo de produção. Com isso, há um intenso êxodo dos lugares mais remotos do País, bem como a chegada de imigrantes, advindos sobretudo da Europa, para os centros urbanos da época, que eram Rio de Janeiro e, principalmente, São Paulo. No entanto, as cidades não comportavam todo esse acréscimo populacional, visto que ainda não tinham saneamento básico, entre outras necessidades elementares da vida humana. Além disso, essas recém-indústrias necessitavam de mão de obra, de modo que se apropriaram desse movimento de êxodo rural para fazer essa população atuar como mão de obra nos polos industriais. As formas de contratação eram semelhantes às da época da Revolução Industrial na Europa. Entretanto, é preciso ressaltar que a Revolução Industrial da Europa ocorreu entre os séculos XVIII e XIX, ao passo que o Brasil iniciou a sua industrialização no século XX, de modo que poderia ter buscado conhecer os erros da Europa no passado para não os repetir — o que não aconteceu. Em pleno século XX, os capitalistas industriais contratavam os trabalhadores para extensas jornadas de trabalho, sem qualquer tipo de garantias trabalhistas, locais com péssimas condições de higiene, além de contratarem crianças e mulheres para fazer o mesmo trabalho e com a mesma jornada que os homens. Segundo Iamamoto e Carvalho (2012, p. 126): A exploração abusiva a que é submetido – afetando sua capacidade vital – e a luta defensiva que o operariado desenvolve, aparecerão, em determinado momento, para o restante da sociedade burguesa, como uma ameaça a seus mais sagrados valores, “a moral, a religião e a ordem pública”. Diante desse cenário, em meados do ano de 1917, em São Paulo, o País passou por intensas ondas de protestos por parte desses trabalhadores, que buscavam, além de melhores condições de trabalho, condições de direitos sociais e trabalhistas que regulassem as jornadas de trabalho, com licença maternidade, salários adequados, entre outros (OLIVEIRA, 2017). Cabe ressaltar que as pessoas recém-chegadas ao País enquanto imigrantes da Europa e que já tinham experiências 32 com movimentos sociais deram uma importante contribuição para a sistematização dos movimentos sociais brasileiros nesse período. Assim, grandes movimentos foram organizados para exigir que o Estado regulamentasse políticas que dessem amparo às questões do trabalho e leis que pudessem garantir e respaldar seus direitos de trabalhadores e cidadãos. Nesse contexto, o Estado passou a sistematizar legislações para regulamentar tudo o que os movimentos sociais dos operários estavam reivindicando. Conforme Iamamoto e Carvalho (2012, p. 126): As leis sociais, que representam a parte mais importante dessa regulamentação, se colocam na ordem do dia a partir do momento em que as terríveis condições de existência do proletariado ficam definitivamente retratadas para a sociedade brasileira por meio dos grandes movimentos sociais desencadeados para a conquista de uma cidadania social. As leis sociais foram sistematizadas a partir da Constituição de 1934, que regulaa carga horária diária de trabalho para 8 horas, além de um salário mínimo que pudesse garantir as condições mínimas de sobrevivência da família e dos operários. Em 1943, no governo Varguista, é promulgada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) (OLIVEIRA, 2017). Cabe ressaltar que outras importantes manifestações populares foram se organizando não apenas no meio urbano brasileiro, mas também no campo. De acordo com Tomazi (2000), alguns movimentos sociais no meio rural conseguiram garantir a conquista da promulgação de um Estatuto que preservava os direitos dos trabalhadores rurais. Entretanto, com a destituição da democracia, em 1964, por meio do regime ditatorial militar, os movimentos sociais, que estavam em plena expansão e fortalecimento no Brasil, foram considerados movimentos subversivos e clandestinos pelo governo, que proibiu qualquer tipo de manifestação popular com o intuito de criticá-lo. 33 Fonte: www.querobolsa.com.br Desse modo, as necessidades da população por melhores condições de vida, tanto na cidade quanto no campo, dificilmente eram atendidas, e muitos tiveram suas vidas aniquiladas. Todavia, ao longo de todo o regime militar, muitos foram os confrontos, sobretudo para voltar à democracia, à escolha livre e direta de seus governantes. Além disso, a Igreja Católica, por meio da teologia da libertação, e o movimento estudantil tiveram uma intensa participação de resistência ao governo ditatorial brasileiro. Outro movimento social de base operária ocorreu no Brasil no final da década de 70: a greve geral dos metalúrgicos da região do ABC paulista. Esse movimento foi muito significativo para a classe trabalhadora, pois reivindicava melhores salários e condições de vida para essa população. Com a chegada nos anos de 1980, teve origem o movimento pelas Diretas Já, que reuniu pessoas das mais diversas e diferentes concepções políticas e de classes, como artistas, intelectuais, estudantes, camponeses, trabalhadores, entre outros. Esse importante movimento social conclamava pela abertura do Congresso e o voto direto para a escolha dos representantes nos Poderes. Com o fim do regime militar, em 1985, outro movimento se sistematizou em prol de uma Constituição que fosse democrática e que se baseasse nos direitos humanos e na justiça social: o movimento da Constituinte. 34 De acordo com Gohn (1995b, p. 61): É o caso das organizações anarco-sindicalistas introduzidas pelos trabalhadores italianos. Estas formas politizadas de organização conviveram com as associações de auxílio mútuo, de caráter marcadamente pré-político; [...] combinadas com as reivindicações salariais e com as demandas pela modernização das relações de trabalho. Portanto, a Constituição Federal promulgada em 1988 foi resultado dessas inúmeras manifestações de vários segmentos da sociedade brasileira, que buscavam ter uma Constituição que atendesse aos anseios da população em relação à liberdade e ao acesso a políticas públicas sociais de forma universal, respeitando o princípio da equidade e da justiça social. Por fim, outro importante destaque da Constituição Federal, que lhe confere o reconhecimento de Constituição cidadã e democrática, é a participação ativa da população nos centros de decisão, não cabendo mais ao Estado decidir todas as questões relacionadas às políticas públicas sociais de forma centralizada e verticalizada. Assim, a Constituição Federal apresentou, em seu texto, que o Estado deve discutir e decidir em conjunto com a população, por meio da formulação de conselhos de direitos, as diversas políticas públicas, de forma a tomar as decisões de modo descentralizado e considerando os pontos de vista tanto do próprio Estado quanto da sociedade civil organizada. 3.2 Evolução e importância dos movimentos sociais na contemporaneidade Uma das premissas basilares a respeito dos movimentos sociais, desde a sua origem até a contemporaneidade, é o fator político social e educativo que os movimentos sociais proporcionam às pessoas que deles participam. Os movimentos sociais são mecanismos fundamentais na sociedade, uma vez que permitem que situações sejam transformadas por meio de pessoas que se articulam na sociedade, organizam suas demandas e desenvolvem formas de chamar a atenção do Estado e dos demais membros da sociedade, visando a garantir que suas necessidades e demandas se tornem direitos e benefícios garantidos pelo Estado. De acordo com Castells (2013), o exato escopo dos movimentos sociais é aumentar a consciência dos cidadãos em geral e qualificá-los pela participação, visando a alcançar a informação e o conhecimento a respeito de sua cidadania e de 35 seus direitos individuais e coletivos perante o Estado. Com o passar dos anos, esses movimentos sociais foram se alterando e surgiram novos, os quais buscam garantir os direitos humanos e alterar comportamentos e atitudes de toda a sociedade. De acordo com Gohn (1995a), os movimentos sociais se constituem enquanto atos coletivos de atitude sociopolítica, estabelecidos por atores sociais de distintas classes sociais. A partir dos movimentos sociais, é possível alcançar o grau de politização e educação crítica e cidadã, a compreensão sobre o jogo político e econômico, entre outros. Desse modo, esses movimentos instituem uma arena política de força social na sociedade civil. Atualmente, os movimentos sociais representam as novas demandas apresentadas à sociedade contemporânea, e existem diversas respostas e formas distintas para atender aos anseios desses inúmeros movimentos (CRAVEIRO; HAMDAN, 2015). Alguns dos importantes movimentos sociais que foram se estabelecendo, com pautas de lutas por visibilidade, direitos e reivindicações, são: movimentos ambientais, movimentos culturais, movimentos de luta por igualdade de gênero, Movimento Sem-Terra (MST), movimento em defesa da cultura e da arte, movimento LGBTQIA+, movimento negro, movimento de luta pelo direito à moradia, movimento das pessoas em situação de rua, entre outros. Em se tratando dos movimentos sociais contemporâneos, estes possuem algumas distinções em relação aos movimentos sociais originários. Por exemplo, quando analisamos os movimentos sociais mais tradicionais, eles se articulam a partir de necessidades de elevação de salários, melhores condições de trabalho e direitos (p. ex., férias remuneradas, descanso no final de semana remunerado, etc.). Contudo, hoje, muitos trabalhadores podem usufruir dessas reinvindicações, fruto do processo de luta desses movimentos sociais. 36 Fonte: www.cursoenemgratuito.com.br Os movimentos sociais que foram se constituindo no cenário contemporâneo também lutam por direitos, porém em esfera mais específica, como é o caso do movimento LGBTQIA+, que luta por direitos sociais, civis e políticos de pessoas que se identificam por sua orientação sexual e de gênero ser distinta daquela determinada pelos setores mais conservadores da sociedade. Segundo Tomazi (2000), esses movimentos foram se formando em prol de lutas por necessidades específicas e porque negam a moral de meritocracia apregoada na sociedade. Portanto, na cena contemporânea, tanto os movimentos que têm pautas mais gerais quanto os que têm pautas mais específicas, como o movimento negro e o LGBTQIA+, têm algo em comum: lutar por direitos sociais, por melhores condições de vida, respeito, igualdade e dignidade. Somado isso, eles tecem críticas ao Estado, para que este intervenha de maneira mais inclusiva e com políticas sociais que promovam a igualdade de oportunidade para todos. Na contemporaneidade, vários movimentos sociais têm influência em diversos setores da sociedade civil, além de partidos políticos. Todavia, é importante ressaltar que tanto os movimentos sociais mais tradicionais como os movimentos contemporâneos possuem importância,pois ambos lutam por transformações necessárias. Além disso, eles buscam apresentar as diversas insatisfações que a população possa ter diante de uma tomada de decisão por parte de algum gestor público, seja na esfera municipal, estadual ou federal. 37 Ferraz (2019, p. 360) faz uma importante ponderação em relação a uma especificidade a respeito dos movimentos sociais que se formam na contemporaneidade: Embora algumas das atuais características dos movimentos sociais estivessem presentes desde o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, as novas mídias sociais e tecnologias de informação e comunicação parecem ter proporcionado uma maior visibilidade a um número também crescente de inquietações e demandas e aumentado sua capacidade de articulação [...]. Portanto, os movimentos sociais são organizados de forma a alcançar as suas reivindicações, bem como dar visibilidade à realidade social vivenciada. Além disso, os movimentos sociais têm por característica apresentar as conquistas adquiridas, para que todos da sociedade possam perceber que muito dos direitos que eles podem acessar são frutos de intensos debates, articulações e reivindicações por parte dos movimentos sociais. É fato que houve avanços na forma de os movimentos sociais se organizarem, visto que a sociedade adentrou a era da tecnologia, com diversos meios de comunicação acessíveis a uma boa parcela da população. Isso tem sido um fator preponderante entre os movimentos sociais que utilizam redes sociais, grupos de discussão em aplicativos de mensagens, blogs, entre outros. Contudo, é imprescindível destacar que os espaços de ruas e praças são fundamentais para os processos de organização dos grupos coletivos que executam manifestações em prol das lutas sociais, com vistas a conquistar direitos, visibilidade, respeito e demais necessidades que se formam na vida das pessoas na sociedade civil. 4 ESTADO E CLASSES SOCIAIS O Estado é um fenômeno histórico e relacional que deve ser tratado como um processo. Afinal, ele não existe de forma absoluta nem é inalterável. Sua finalidade é garantir a liberdade e a igualdade entre os homens. Para isso, o Estado exerce controle sobre a sociedade, mas também possui a função de protegê-la. Na atualidade, predomina o Estado neoliberal, que interfere de forma parcial na economia e visa a proteger as classes mais desfavorecidas por meio de políticas sociais paliativas. 38 Contudo, o que se vê é o Estado atuando a favor de determinados grupos. Nesse contexto, surgem questões importantes, especialmente ligadas aos movimentos de resistência como forma de oposição e luta por igualdade de direitos. 4.1 O Estado e os seus papéis A fim de compreender a formação do Estado na atualidade, você deve refletir sobre os pressupostos ontológicos que pontuam a constituição dessa instância, que é um marco na história das sociedades. O homem, em seu estado de natureza, possui sua liberdade natural e a protege com sua força física. Como disse Thomas Hobbes (1588–1679) “o homem é o lobo do homem”, ou seja, o homem é seu próprio inimigo. Essa premissa levou as sociedades primitivas a criarem a ordem em meio ao caos. A sociedade que surge do estado de natureza se constitui por meio de um contrato social. Quando a força física já não é mais suficiente para a manutenção da ordem, é necessária uma força superior. Nesse sentido, o homem sai de seu estado natural para o estado civil e perde a liberdade natural. Em uma sociedade, existe a liberdade política, que é garantida pelo Estado e não mais pela força física. Assim, ela se iguala à liberdade natural — desde que o homem não deixe de exercer as suas vontades. Rousseau explica que o homem possui duas vontades: uma pública e outra particular. Sendo a vontade pública uma vontade geral, ela se sobrepõe à vontade particular de cada um. Em um Estado legítimo, a vontade particular deve se adaptar à vontade geral. Caso contrário, ocorre o fim do Estado. A vontade geral leva os homens a se tornarem um só corpo e a terem uma única direção política. O corpo político possui caráter moral e se torna existente a partir do pacto social. Ele só existe se todos dispuserem de tudo para toda a comunidade, porque um corpo não pode denegrir a si mesmo. Veja: Se a vontade do corpo político é feita, tem-se um Estado legítimo. Estado esse que é guiado pela vontade geral, e preza pela preservação da liberdade e dos bens de cada associado. O homem natural, que vivia isolado e bastava a si mesmo, agora, através do pacto, faz parte de um todo maior, o corpo político. No corpo político, sua liberdade é ainda mais assegurada, já que não depende de sua força física. O que limita essa liberdade é a vontade geral, que, por sua vez, está diretamente ligada à criação e observância das leis (SILVA; CUNHA, 2013, p. 218). 39 Nesse contexto, é importante você notar a compreensão que se tem das leis, que são uma declaração geral sobre um interesse comum. Elas existem a fim de garantir a liberdade e a igualdade entre os homens. Além disso, a lei é sempre justa, pois o homem não pode ser injusto consigo mesmo. Assim, “Se quisermos saber no que consiste, precisamente, o maior de todos os bens, qual deva ser a finalidade de todos os sistemas de legislação, verificar-se-á que se resume nestes dois objetivos principais: a liberdade e a igualdade [...]” (ROUSSEAU, 1999, p. 127 apud SILVA; CUNHA, 2013, p. 219). O que fundamenta e garante que a finalidade do Estado se cumpra é a preservação da liberdade e da igualdade entre os homens. Esse também é o fundamento da vontade geral, das leis e do corpo político. Segundo Silva e Cunha (2013, p. 220), “[…] A vontade do corpo político é a vontade geral. Por meio dela o homem continua a ser livre, e por ser membro deste corpo ele é igual a todos os demais membros […] o Estado dirigido pela vontade geral é um Estado social legítimo [...]”. Fonte: www.politize.com.br Segundo Pereira (2009), três elementos constituem o Estado. Veja a seguir. 1. Um conjunto de instituições e prerrogativas, entre as quais o poder coercitivo, que só o Estado possui, por delegação da própria sociedade. 2. O território, isto é, um espaço geograficamente delimitado onde o poder estatal é exercido. Muitos denominam esse território de “sociedade”, ressaltando a 40 sua relação com o Estado, embora este mantenha relações com outras sociedades, para além de seu território. 3. Um conjunto de regras e condutas reguladas dentro de um território, o que ajuda a criar e manter uma cultura política comum a todos os que fazem parte da sociedade nacional ou do que muitos chamam de “nação”. O Estado é um fenômeno histórico e relacional. Portanto, deve ser tratado como processo. Afinal, ele não existe de forma absoluta nem é inalterável. Veja: Por ser um processo histórico, que contempla passado, presente e futuro, bem como a coexistência de antigos e novos elementos e determinações, a relação praticada pelo Estado tem caráter dialético — no sentido de que propicia um incessante jogo de oposições e influências entre sujeitos com interesses e objetivos distintos. Ou, em outros termos, a relação dialética realizada pelo Estado comporta igualmente antagonismos e reciprocidades e, por isso, permite que forças desiguais e contraditórias se confrontem e se integrem a ponto de cada uma deixar sua marca na outra e ambas contribuírem para um resultado final (PEREIRA, 2009, p. 345). É nessa relação com a sociedade que o Estado abrange toda a dimensão da vida social, indivíduos e classes, assumindo diferentes responsabilidades. Entre elas, a de atender às demandas e reivindicações da sociedade como um todo e não apenas de uma classe. Mesmo possuindo um poder coercitivo, o Estado também exerce funções protetoras, sendo pressionado e controlado pela sociedade. Pereira (2009)ainda afirma que o Estado não é uma entidade desgarrada da sociedade. Ele não é a única força organizada e autossuficiente na sociedade e não é um instrumento exclusivo da classe dominante. É uma instituição constituída e dividida por interesses diversos, que possui a tarefa primordial de administrar tais interesses sem neutralidade. O Estado deve se relacionar com todas as classes para se legitimar e construir sua base material de sustentação, e não apenas com a classe com que mais se identifica. O Estado é a expressão de todas as classes. Embora zele pelos interesses da classe dominante, acata outros interesses para manter a classe dominada afastada do bloco de poder. Segundo Pereira (2009, p. 346), é “relacionando-se com todas as classes que o Estado assume caráter de poder público e exerce o controle político e ideológico sobre todas elas [...]”. Se o Estado se exime de suas responsabilidades com certos grupos ou classes, pode perder o seu apoio ou a sua confiança. Isso abre brechas para a sociedade se organizar autonomamente por meio de movimentos. Além disso, isso põe em risco o bloco de poder e possibilita o surgimento de poderes 41 paralelos. É por isso que o Estado é, por um lado, uma relação de dominação (ou a expressão política da dominação de quem está no poder) e, por outro, um conjunto de instituições mediadoras e reguladoras dessa dominação. Como você pode notar, o Estado exerce uma forma de controle sobre a sociedade, mas também possui a função de protegê-la e está estruturado de forma a garantir o seu poder e a sua autonomia. Na atualidade, se vive sob os mandos do Estado neoliberal, que interfere de forma parcial na economia e visa a proteger as classes mais desfavorecidas por meio de políticas sociais paliativas, ofertando o mínimo para sobreviverem. Em tempos de capital, o que se vê é o Estado atuando a favor de determinados grupos em vez de cumprir o seu papel de protetor de toda a sociedade. 4.2 O Serviço Social e a divisão de classes Segundo Marx e Engels (2008, p. 8), “A história de todas as sociedades até agora tem sido a história das lutas de classe [...]”. A concepção de classe social adotada pelo Serviço Social está fundamentada na teoria social de Marx. Ela parte do pressuposto de que nos primórdios do capitalismo havia duas classes fundamentais: a dos proprietários e a dos proletários. A primeira detinha os meios de produção e a segunda vendia a sua força de trabalho em troca de um salário, que em parte também era apropriado pela primeira classe. A divisão da sociedade em classes permite a concorrência e a liberdade econômica que geram lucratividade e consumo. Com a ascensão da burguesia no período do declínio da sociedade feudal, o antagonismo de classes foi ficando cada vez mais aparente. Nesse contexto, as contradições não eram eliminadas; pelo contrário, surgiam novas classes e novas condições de opressão. Para compreender isso melhor, considere o seguinte: A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção, portanto as relações de produção e, por conseguinte, todas as relações sociais. A conservação inalterada dos antigos modos de produção era a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores. A transformação contínua da produção, o abalo incessante de todo o sistema social, a insegurança e o movimento permanente distinguem a época burguesa de todas as demais. As relações rígidas e enferrujadas, com suas representações e concepções tradicionais, são dissolvidas, e as mais recentes tornam-se antiquadas antes que se consolidem. Tudo o que era sólido desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas (MARX; ENGELS, 2008, p. 14). 42 A burguesia expandiu o mercado por meio dos oceanos a fim de que o comércio chegasse a todos os cantos do mundo, criando uma interdependência geral entre os países. Com o passar do tempo, as duas classes fundamentais foram se estratificando, ganhando novas conotações, mas, em suma, se resumem à burguesia e ao proletariado. Segundo Marx e Engels (2008, p. 29–30), “[...] a condição essencial para a existência e a dominação da classe burguesa é a concentração de riqueza nas mãos de particulares, a formação e a multiplicação do capital; a condição de existência do capital é o trabalho assalariado [...]”. Fonte: www.mundoeducacao.uol.com.br Via de regra, a burguesia (ou classe dominante) não se preocupa em retirar da classe proletária o pouco que ela possui. A burguesia utiliza a propriedade privada, a apropriação dos meios de produção, a apropriação da riqueza socialmente produzida e a extração da mais-valia para manter o seu status quo. Entretanto, no decorrer da história, a classe trabalhadora sempre demonstrou o seu descontentamento com a condição de vida e de trabalho que lhe foi imposta. Ela tem encontrado nos movimentos de oposição uma forma de lutar por seus direitos. Toda luta de classes é, portanto, uma luta política (MARX; ENGELS, 2008). Assim, você pode considerar que a divisão de classes sociais existe apenas no modo de produção capitalista e que, portanto, é produto consolidado da lógica capitalista. Segundo Frederico (2009, p. 1), classes sociais “[...]são entendidas como um componente estrutural da sociedade capitalista e, ao mesmo tempo, como sujeitos coletivos que têm suas formas de consciência e de atuação determinadas pela 43 dinâmica da sociedade [...]”. Em suma, a conformação das classes sociais depende do desenvolvimento da sociedade capitalista. Nesse sentido, Duriguetto (2013) destaca a relação orgânica entre a sociedade civil e o mundo das relações sociais de produção. É a partir dela que se desenvolvem as classes sociais, bem como seus interesses conflitantes, suas expressões organizativas, suas formas de consciência e até mesmo a função do Estado. A sociedade é uma esfera em que as classes lutam pela hegemonia, e há aquelas que transitam na contra-hegemonia, buscando aliados, articulando interesses e necessidades. O Serviço Social, em seu Código de Ética (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 1993), assume o compromisso de atuar juntamente à classe trabalhadora, lutando pelos interesses dos menos favorecidos. O projeto ético-político definido no seio da profissão visa ao fortalecimento das lutas a favor da classe trabalhadora, o que a leva a fazer alianças com os sujeitos coletivos. Percebe-se que aumenta cada vez mais o nível de divisão entre as classes. Isso remonta ao conceito de Antunes (2008): “classe que vive do trabalho”. Tal conceito exprime e dá relevância àqueles que não têm acesso aos bens produzidos pela sociedade, mas que têm no trabalho o motivo da sua existência e da sua sobrevivência. Na medida em que o capital vai se complexificando, a divisão de classes vai ficando também cada vez mais complexa. O Serviço Social, com base nos pressupostos teóricos da profissão, assume a posição política de voltar suas ações para a defesa dos direitos da classe trabalhadora. A ideia é fortalecer vínculos, estreitar laços com as lideranças dos movimentos e contribuir para a construção de sujeitos coletivos, visando à emancipação política dessa classe. Em seu Código de Ética, está expressa a “[...] opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação/exploração de classe, etnia e gênero [...]” (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2013, p. 24). Além disso, está prevista a “[...] articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores [...]” (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 1993, p. 24). Assim, como evidenciam o Código de Ética do Serviço Social, a lei de regulamentaçãoda profissão e o seu projeto ético-político, o Serviço Social serve como um mecanismo para a concretização das políticas públicas. Ele atua no 44 enfrentamento das manifestações da Questão Social e a favor da classe trabalhadora (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 1993). 5 AS RELAÇÕES ENTRE POLÍTICA SOCIAL E CIDADANIA NO BRASIL 5.1 O que é cidadania? A palavra cidadania vem de civitas, que, do latim, refere-se ao indivíduo que habita a cidade. Assim, com o início da vida na cidade, em coletividade, surge a necessidade de os indivíduos exercerem seu papel de cidadãos — com direitos e deveres (MANZINI-COVRE, 2010). A partir desse momento, a vivência na cidade, em coletivo, fez nascer a necessidade de se estabelecer direitos e deveres de cada um, para a manutenção da vida e das relações sociais. É possível observar que, desde a Antiguidade Clássica, lutas sociais ocorreram e podem ser correlacionadas com o sentido de cidadania, que conhecemos atualmente. Já, na Grécia Antiga, o conceito de cidadania resumia-se aos direitos políticos, e, ainda assim, nem todos eram considerados cidadãos (MANZINI-COVRE, 2010). Na Roma Antiga, o conceito de cidadania está ligado à classe social à qual o indivíduo pertencia. Havia três classes sociais: os patrícios, descendentes dos fundadores; os plebeus, descendentes dos estrangeiros; e os escravos, prisioneiros das diversas guerras e, também, aqueles que não pagavam seus débitos. Assim, somente os patrícios eram considerados cidadãos e possuíam direitos políticos, civis e religiosos (MANZINI-COVRE, 2010). Já com o monopólio da Igreja Cristã na Idade Média, a ampliação do conceito de cidadania foi esquecida — destruída quando a Igreja alega ter sido Deus que designou essas hierarquizações e sucessões hereditárias de Reis e Rainhas (MANZINI-COVRE, 2010). Assim, exercer a cidadania significa viver em constante luta por melhorias na qualidade de vida — individuais e coletivas, em busca de liberdade, dignidade e igualdade. Autores, como Rousseau, Montesquieu, Diderot e Voltaire, já defendiam essa ideia de cidadania, onde existiria um governo democrático e ampla participação 45 popular, findando os privilégios de classe e inaugurando os ideais de liberdade e igualdade como direitos fundamentais dos homens (MANZINI-COVRE, 2010). Cidadania é a prática do indivíduo em exercer seus direitos e deveres, no âmbito de uma sociedade do Estado. Não se restringe somente ao ato de votar e ser votado, como pensado por muitos, mas envolve viver em sociedade, cumprir seus deveres e ter seus direitos garantidos, por meio da justiça social (PEREIRA, 2011). Fonte: www.osbrasil.org.br A cidadania, pois, deve garantir a plena emancipação dos indivíduos que, por meio de seus deveres com a sociedade, têm seus direitos inerentes à vida — como saúde, assistência social, educação, moradia, renda, alimentação, entre outros garantidos pelas políticas sociais. Tendo em vista que cidadania é sinônimo de garantia de direitos, podemos considerar que, no Brasil, temos vivenciado uma cidadania relativa, ou regulada — nome proposto pelo sociólogo brasileiro Wanderley Guilherme dos Santos, na década de 1970, para descrever uma “cidadania restrita e sempre vigiada pelo Estado”. A cidadania brasileira, nesse sentido, permanece em uma constante construção, num movimento de ampliação e encolhimento das políticas sociais, à medida que, em muitos momentos históricos, inclusive atualmente, muitos indivíduos não têm o direito de ter suas necessidades básicas garantidas ou, nem mesmo, o mínimo necessário para sua subsistência e da família (PEREIRA, 2011). Em momentos de crise, as políticas sociais sofrem um encolhimento e focalizam suas ações, violando a condição de cidadãos, à medida que parcelas 46 significativas da população têm seus direitos violados — direitos estes já adquiridos, pelo que deveria ser a cidadania, por meio do que chamamos de Constituição Cidadã: a Constituição Federal de 1988. É por meio do exercício de cidadania, assumindo o papel de cidadãos, que se dará a ampliação dos direitos mediante políticas sociais. As ações coletivas, nesse sentido, são mais eficazes do que as individuais, e o que é conquistado por meio do coletivo fortalece a cidadania de todos. 5.2 O desenvolvimento das políticas sociais a partir da concepção de cidadania Tendo em vista o conceito de cidadania, que é a prática do indivíduo em exercer seus direitos e deveres, no âmbito de uma sociedade, e tendo seus direitos inerentes à vida garantidos mediante políticas sociais, o desenvolvimento das políticas sociais está diretamente relacionado à concepção de cidadania, com cidadãos portadores de direitos e deveres. Sendo assim, a conquista da cidadania perpassa a efetivação dos direitos sociais, políticos e civis, dentro de uma perspectiva de universalização dos direitos, por meio das políticas sociais (PIANA, 2009). Nesse sentido, o desenvolvimento das políticas sociais, pautada numa concepção de cidadania, vai contra o discurso capitalista, que (des)responsabiliza o Estado das responsabilidades sociais e faz das políticas sociais uma política para a classe social menos favorecida — a dos “pobres mais pobres” —, transformando-as em medidas compensatórias, paliativas e focalizadas, e não em políticas de direito com vistas à emancipação dos indivíduos (PIANA, 2009). É possível afirmar, então, que, a partir do momento em que os indivíduos se reconheceram como cidadãos pertencentes a um grupo social e ansiando pela sua condição de cidadania, passaram a enfrentar, sobretudo em coletivo, a forma de organização e produção da sociedade, sendo que os padrões de proteção social e as políticas sociais são as respostas para esses enfrentamentos. A partir do século XIX, o cenário político mundial, sobretudo no contexto europeu, iniciou um movimento e reconhecimento dos direitos civis relacionados à 47 propriedade privada. O Estado deveria proteger o direito à vida, à liberdade e aos direitos de segurança e propriedade (BEHRING; BOSCHETTI, 2007). Contudo, o Estado era repressor, e os trabalhadores eram explorados. Foram as mobilizações e a organização da classe trabalhadora (operária), reivindicando sua cidadania, numa perspectiva de emancipação humana e na socialização da riqueza socialmente produzida, que os cidadãos conseguiram assegurar importantes conquistas no que diz respeito aos direitos (BEHRING; BOSCHETTI, 2007). Conforme apontam Behring e Boschetti: O surgimento das políticas sociais foi gradual e diferenciado entre os países, dependendo dos movimentos de organização e pressão da classe trabalhadora, do grau de desenvolvimento das forças das forças produtivas, e das correlações e composições de força no âmbito do Estado. Os autores são unânimes em situar o final do século XIX como período em que o Estado capitalista passa a assumir e a realizar ações sociais de forma mais ampla, planejada, sistematizada e com caráter de obrigatoriedade (BEHRING; BOSCHETTI, 2007, p. 64). Já no contexto brasileiro, por suas particularidades históricas de colonização, dependência, escravatura e posterior independência, o desenvolvimento das políticas sociais deu-se de forma diferente, e ainda se encontra em construção, assim como a nossa cidadania, enquanto cidadãos brasileiros. Assim, de maneira geral, as condições de trabalho e vida dos cidadãos têm forte relação com o surgimento das primeiras iniciativas de proteção social e políticas sociais, já que estas têm correlação direta com a luta de classes, ou seja, relação capitalismo versus trabalhador. Sendo a cidadania o direito de se ter direitos, para os cidadãos, as políticas sociais são a forma de garanti-la. Para o sistema capitalista, as políticas sociais são uma forma de amenizar os enfrentamentos da classe trabalhadorae dar conta, ao menos, dos mínimos sociais. No Brasil, a partir das décadas de 20 e 30, surgiram as primeiras medidas de proteção social, e as políticas sociais fragilmente começam a ser desenhadas. É importante ressaltar algumas das políticas sociais que marcam o período, por ordem cronológica, quase sempre em resposta às lutas coletivas pelos direitos sociais. São elas: 1923 – Lei Eloy Chaves, que cria as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP), para os trabalhadores ferroviários; 48 1933 – Criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs); 1942 – Criação da Legião Brasileira de Assistência (LBA), destinada ao atendimento de pessoas pobres, com apoio à maternidade e infância; 1943 – Promulgação das Consolidações das Leis Trabalhistas (CLT); 1960 – Aprovação da Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS); 1966 – Criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS); 1988 – Promulgação da Constituição Federal do Brasil, a chamada Constituição Cidadã. 5.3 Efetivação das políticas sociais: garantia de cidadania A noção de cidadania permeia a garantia de direitos políticos, civis e sociais. Não é à toa que a Constituição Federal de 1988 foi chamada de Constituição Cidadã, já que foi um marco nos direitos políticos, civis e sociais dos cidadãos brasileiros, após duas décadas de Ditadura Militar e muita repressão. Com ela, a concepção de cidadania e as políticas sociais, ao menos na lei, foram ampliadas. Assim, os direitos sociais expressos na Constituição visavam a ajustar as desigualdades existentes, à medida que afirma que a sua natureza jurídica é o direito à igualdade, logo que todos os cidadãos são iguais e têm os mesmos direitos e a mesma condição de cidadania (ZANETTI, 2011). É justamente por meio das políticas sociais que nos aproximamos do princípio de igualdade, dignidade e cidadania, tendo em vista que podemos, a partir da garantia de nossos direitos, viver com dignidade e nossas necessidades básicas garantidas. Obviamente, a Constituição Federal de 1988 trouxe inúmeros e importantes avanços no que diz respeito aos direitos sociais, sobretudo aos mais pobres e vulneráveis (ABREU, 2011). A Constituição de 1988 tentou dar conta das profundas mudanças ocorridas em nosso país na economia, nas relações de poder e nas relações sociais globais, nos últimos 20 anos, introduzindo temas, redefinindo papéis, incorporando às instituições sociais segmentos historicamente marginalizados, sem, no entanto, alterar substantivamente as relações sociais vigentes (NEVES, 1999, p. 99). 49 Assim, as políticas sociais não devem focalizar o mínimo existencial como preservação somente da própria vida humana, mas, sim, a se atingir um mínimo desejável para uma vivência digna dentro da construção da cidadania. Fonte: www.revistaviag.com.br A Constituição Federal de 1988 inaugurou o que chamamos de Seguridade Social Brasileira, formada pelo tripé: “saúde, assistência social e Previdência Social. Nesse sentido, podemos entender que a satisfação das necessidades sociais básicas dos cidadãos deve ser por meio da Seguridade Social, sendo que, nesta, a saúde é considerada um direito universal, a assistência social para quem dela necessitar e a Previdência Social sendo a única possível de acessar por meio de prévia contribuição. Conforme aponta Pereira (2006): Reconhecer, portanto, a existência de necessidades humanas como necessidades sociais, com valores, finalidades e sujeitos definidos, tem sido um grande passo para a construção da cidadania, pois isso equivale reconhecer a existência de uma força desencadeadora de conquistas sociais e políticas (p. 68). Nessa linha, as políticas sociais atuam diretamente no processo de emancipação do cidadão e conquista da cidadania. Atuam numa perspectiva de inclusão e reparação das desigualdades sociais, que perpassam os momentos históricos de nossa sociedade, à medida que permitem o acesso aos direitos básicos 50 dos indivíduos, como saúde, moradia, trabalho e qualificação profissional, alimentação, entre outros. As políticas sociais governamentais são entendidas como um movimento [...] resultante do confronto de interesses contraditórios e também enquanto mecanismos de enfrentamento da questão social, resultantes do agravamento da crise socioeconômica, das desigualdades sociais, da concentração de renda e da pauperização da população (SOUZA et al., 2013). Embora as conquistas já tenham sido inúmeras, vivemos em tempos de encolhimento de direitos, onde o Estado é máximo para o capital e mínimo para o social. O momento exige que o conceito de cidadania seja resgatado e que cada cidadão atue numa perspectiva de enfretamento à redução dos direitos já assegurados. Para Afonso (2016), a Seguridade Social é instrumento de inclusão social, já que propicia a inserção e reinserção no mundo do trabalho, a interação social, promovendo a cidadania consciente. Assim, é instrumento de efetivação dos direitos fundamentais, já que garante aos cidadãos o mínimo para sua subsistência, sendo possível manter a dignidade humana. Cabe ao Estado garantir a proteção social como política pública de cidadania e de direitos, excluindo as formas de políticas sociais focalizadas e assistencialistas, que somente reafirmam e mantêm a condição de desigualdade entre os cidadãos. 6 LUTA E MOBILIZAÇÃO SOCIAL A mobilização social não é uma realidade contemporânea ou algo inventado pelas sociedades em sua nova configuração, trata-se de um processo que sempre esteve presente em toda a história da humanidade. Desde que as pessoas descobriram que poderiam agir no mundo e que se viram em coletividade, elas se mobilizam coletivamente e compartilham desejos, sentimentos e ações, buscando a construção de uma vida que lhes permita ter liberdade, autonomia e o direito de ser um ser humano com direitos e reconhecido como sujeito. 51 6.1 Democracia e cidadania Conceituar democracia não é uma tarefa fácil, pois seu conceito está em constante construção. Uma vez que a democracia decorre de acontecimentos históricos, é dinâmica e está em constante aperfeiçoamento. Dessa forma, não existe um conceito claro e direto sobre democracia que a defina sob diversos aspectos. Contudo, cabe destacar que além da mudança que sofre ao longo dos tempos, a democracia se apresenta em diferentes e variados graus de desenvolvimento, com características autoritárias e até democracias mais desenvolvidas (BASTOS, 1992; CANOTILHO, 2002; MATTOS, 2016). Fonte: www.santafeideias.com.br São várias as teorias que tentam descrever a democracia. Dahl (1997) desenvolveu um modelo que lista as condições necessárias para uma democracia perfeita, o qual denominou poliarquia (governo de muitos), capaz de absorver as diferenças em uma sociedade e refletir a vontade da população. Entre as características desse modelo estão: Liberdade de formar e aderir a organizações; a liberdade de expressão; o direito de voto; a elegibilidade para cargos públicos; o direito de líderes políticos disputarem apoio e, consequentemente, conquistarem votos; a garantia de acesso a fontes alternativas de informação; eleições livres, frequentes e idôneas; e instituições para fazer com que as políticas governamentais dependam de eleições e de outras manifestações de preferência do eleitorado (DAHL, 1997, p. 27). 52 No entanto, muitas destas características não estão presentes nos sistemas políticos. Para Rousseau (1981), a democracia verdadeira nunca existiu e não existirá, uma vez que é difícil reunir as condições necessárias para isso, por exemplo, facilidade de reunir o povo e que ele se conheça com facilidade; costumes simples que não permitam a multiplicação de problemas e de discussões espinhosas; condições de igualdade entre o povo (incluindo renda e poucoou nenhum luxo). Já para Bobbio (1986), só se governaria democraticamente se existisse um povo de deuses, ou seja, um governo perfeito não é um governo feito para os homens. Esses foram apenas alguns exemplos de que a democracia não é perfeita, mas é o melhor regime de poder que temos disponível. Na verdade, cada sociedade deve adotar o sistema de governo que melhor se adapta a sua cultura, costumes, crenças, leis e realidade social, características que se modificam com o tempo e com a própria evolução política. A democracia é um regime político em que o poder é representado pela vontade do povo, sendo garantido como um dos direitos universais e fundamentais do homem, na Declaração de Direitos de Virgínia (1776), na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), na qual todo indivíduo pode participar do governo de seu país, de forma direta ou indireta, por meio dos representantes escolhidos livremente por eles. Portanto, como previsto na Constituição Federal de 1988 (CF/88), parágrafo único do art. 1º, “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente [...]” (BRASIL, 1988). A democracia direta diz respeito à forma de organização social onde os indivíduos, sem distinção, podem participar ativamente da tomada de decisões, com direito a se manifestar e votar, exercendo a democracia. A participação popular, a discussão e o debate entre as pessoas eram características da democracia antiga onde as decisões eram tomadas de forma coletiva. Nesse sistema de governo é a população quem decide sobre os interesses públicos e administra a cidade decidindo desde realização de obras até a elaboração de leis. Cabe destacar que a democracia direta funciona melhor em pequenas populações. Grandes populações adotam a democracia indireta ou representativa, em que os cidadãos participam indiretamente na elaboração das normas e na administração pública por meio dos representantes que elegem para cuidar dos assuntos de governo 53 em seu nome por um determinado período de tempo (SILVA, 2000; MATTOS, 2016). Nos Estados modernos predomina a democracia representativa, dada a complexidade e a contingência de pessoas que as caracterizam atualmente. As críticas a esse modelo estão ligadas à falta de legitimidade e a discordância existente entre a vontade dos eleitores e de seus representantes. A democracia representativa se torna frágil quando poucos decidem por muitos. Essa fragilidade levou à busca por alternativas que fossem capazes de abraçar a vontade popular sem desistir do sistema representativo, fazendo surgir a democracia participativa ou semidireta, que tenta aproximar a vontade popular e o cidadão da decisão política, sem intermediação. A democracia participativa é baseada no sistema indireto, em que os representantes são escolhidos por meio de eleições e com características do sistema direto, como a iniciativa popular e o referendo, que dá ao povo o direito de propor e aprovar leis e normas (FERREIRA FILHO, 1994). Assim, a participação representativa, além de atribuir aos cidadãos maior comprometimento e responsabilidade em relação ao rumo político-jurídico do Estado no qual estão inseridos, exige deles maior conscientização e educação política, uma vez que se podem eleger seus representantes, devem também participar diretamente na formação dos atos legislativos (ZANETTI, 2013). Fonte: www.pt.slideshare.net 54 É na sociedade que o interesse público é construído e fortalecido, seja ele contraditório ou não, por meio da participação dos indivíduos na vida política do Estado. A partir disso, é possível desenvolver o conceito de cidadania, que não se restringe ao direito de votar e ser votado. Cidadania é o ato de participar ativamente da vida política de um Estado, seja por meio do voto, referendo, plebiscito, iniciativa popular ou do controle social, em que é possível fiscalizar as ações dos governantes e se os princípios da moralidade, probidade e legalidade estão sendo respeitados (TAVEIRA, 2009). Dessa forma, a cidadania é condição fundamental para a existência do sistema democrático e, para sua sobrevivência, é necessário que: “O povo esteja disposto a aceitá-lo; que tenha a vontade e a capacidade de fazer o necessário para a sua preservação e vontade e a capacidade de cumprir os deveres e exercer as funções que lhe impõe este governo. ” (MILL, 1981, p. 39). Portanto, você pode considerar que um povo que não exerce sua cidadania não possui representatividade e corre o risco de ser comandado por uma pequena classe, cujo interesse é satisfazer suas próprias necessidades e desejos. Cabe destacar que a cidadania é o pleno exercício da democracia, em que os indivíduos possuem direitos civis, políticos e sociais perante a lei e pertencem a uma sociedade organizada (TORO; WERNECK, 2004; TAVEIRA, 2009). 6.2 Luta e mobilização social As lutas sociais estão diretamente relacionadas ao exercício da cidadania, pois, à medida que as pessoas tomam consciência de seu papel na sociedade, passam a reivindicar seus direitos e a contestar ou se inconformar com certas normas sociais que lhe são impostas, se organizando em movimentos de caráter político, religioso, etc. A organização em lutas não é algo novo no Brasil, sendo relatada desde os tempos de colônia e motivada por diversos fatores. No entanto, somente a insatisfação não é sufi ciente para iniciar um movimento de mobilização, ele só é possível por meio da ação coletiva (GOHN, 2000). Quando você houve falar em mobilização social o que vem à sua mente? Pessoas na rua com faixas e cartazes, passeatas, concentração? Isso são manifestações públicas, muitas vezes confundidas com mobilização social. Para Henriques, Braga e Mafra (2004, p. 36): 55 A mobilização social é a reunião de sujeitos que definem objetivos e compartilham sentimentos, conhecimentos e responsabilidades para a transformação de uma dada realidade, movidos por um acordo em relação a determinada causa de interesse público. A mobilização social é uma forma de construir soberania, cidadania, dignidade, entre outros, propostos na CF/88. A mobilização social acontece quando um grupo de pessoas, seja a sociedade de modo geral ou uma comunidade, se une em torno de um mesmo objetivo, buscando, cotidianamente, os resultados esperados por todos. Por que cotidianamente? Porque a mobilização requer uma dedicação contínua e, por isso, participar de um processo de mobilização deve ser um ato de escolha, uma vez que a participação é um ato de liberdade e uma decisão de cada um e, por isso, convoca a participação (TORO; WERNECK, 2004). Participa quem quer e quem se sente capaz de contribuir para a construção de mudanças, pois isso deve ser um ato de paixão e de razão, pois a mobilização existe para o alcance de um objetivo pré-definido e de um objetivo comum. Dessa forma, o desenvolvimento da mobilização social deve ser motivado por um sentido maior, por um propósito consistente capaz de fazer as pessoas imaginarem uma situação futura, adotando práticas transformadoras em sua rotina, participando, assim, de um consenso social que, para Toro e Werneck (2004), pode ser definido como a escolha e a construção de um interesse compartilhado. Fonte: www.sasop.org.br Para isso, é necessária a criação de conteúdos suficientemente fortes que estimulem a sociedade a realizar mudanças significativas. Isso significa que, no processo de mobilização, deve haver claramente e de forma simples, uma declaração 56 do motivo principal para a ação, por meio da análise da realidade social que se deseja mudar, do problema a ser solucionado, do projeto que se tem em mente, etc. Dessa forma, é importante saber quais ações podem solucionar os problemas ou transformar a realidade constatada e quaisefeitos são esperados (TORO; WERNECK, 2004; BOCK, 2008). Veja, a seguir e na Figura 1, as etapas do processo de mobilização social propostas por Toro e Werneck (2004) e Souza (1999): Contextualização crítica da realidade local, conscientização; Formulação de um imaginário coletivo; Organização social; Coletivização e corresponsabilidade; Capacitação técnica; Acompanhamento e avaliação. Em um primeiro momento torna-se fundamental ter percepção crítica da realidade em que os problemas sociais são diagnosticados, para que as políticas de enfrentamento possam ser definidas. Aqui, é necessário problematizar a realidade que se apresenta, buscando realidades implícitas. A conscientização, por sua vez, é a etapa referente ao ponto de partida para que a mobilização social se desencadeie. A conscientização se dá quando os atores assumem a posição de protagonistas sociais e conseguem problematizar e refletir sobre as condições em que vivem. A conscientização envolve a produção de um imaginário que, uma vez compartilhado 57 entre os atores sociais, permite orientar os objetivos que deverão ser alcançados por meio da mobilização social (SOUZA, 1999). A próxima etapa é a da organização social, que pressupõe a conscientização, que permite o aprimoramento para a tomada de atitude diante da realidade social que se apresenta. A organização é uma ampliação do processo de conscientização que leva a formas concretas de enfrentamento da realidade. A coletivização e corresponsabilidade, por sua vez, dizem respeito ao sentimento e a certeza que se tem de que aquilo que a pessoa faz, em seu campo de atuação, é também feito por outras pessoas, da mesma categoria, com os mesmos propósitos e sentidos. Por fim, chega-se a etapa da capacitação técnica, que tem como objetivo manter e fortalecer a organização social para que ela não se desarticule, o que não é impossível. A capacitação atua como uma estratégia de sustentabilidade, na qual os atores ampliam sua articulação coletiva para outros âmbitos, em busca de novas formas de intervir na realidade. Dessa forma, “a capacitação é um processo em que as experiências realizadas servem de base para a implementação das novas”, sendo um recurso para o gerenciamento e a avalição das práticas sociais (SOUZA, 1999, p. 95). Para motivar as pessoas a participar e de que forma podem fazer isso, é preciso oferecer a elas informações claras sobre os objetivos, metas, a situação atual que se quer modificar e as prioridades da mobilização a cada momento, fazendo-as se sentirem seguras em relação ao respeito e à valorização de sua forma de pensar e agir e em relação a sua capacidade de contribuir para o alcance dos objetivos. Dessa forma, um projeto de mobilização deve permitir a compreensão adequada do campo de atuação de cada pessoa, conter explicações claras e consistentes sobre os problemas a serem resolvidos, as situações que serão criadas ou modificadas, o sentido e a finalidade das decisões que serão tomadas e das ações a serem perseguidas diariamente. Ainda, é preciso indicar quais decisões competem às pessoas dentro de seu campo de atuação e trabalho, explicando de que forma elas irão contribuir com o propósito da mobilização. Tudo isso deve ser apresentado de forma estimulante, para que as pessoas, em momento algum, se acomodem ou se sintam desestimuladas ou com sua autonomia à prova. Portanto, é fundamental que os produtores sociais da mobilização possuam conhecimento profundo sobre o campo de atuação e os papéis de cada um dos atores que podem participar da mobilização. 58 Você já se perguntou quem são os atores da mobilização social? Pode ser uma pessoa, um grupo, uma instituição que inicia um movimento com o intuito de alcançar algo, ou todos esses atores juntos, mobilizados para um ou mais propósitos ao mesmo tempo. O importante é que eles tenham a preocupação em seguir os critérios já mencionados. Cabe destacar que para que um processo de mobilização aconteça é preciso haver condições financeiras, institucionais, técnicas e profissionais. Dessa forma, o responsável por viabilizar o movimento de mobilização e conduzir as negociações necessárias para a legitimidade social e política é chamado de produtor social. O produtor social é primeiro ator de uma mobilização, que pode ser uma instituição pública, uma secretaria de Estado, uma empresa privada, uma pessoa, um grupo, e que tenha como intenção a transformação de uma realidade e esteja disposto a compartilhar isso com outras pessoas que possam ajuda-los nesse processo. É preciso que o produtor social tenha legitimidade, para que consiga credibilidade diante das outras pessoas, instituições, grupos, etc. O ideal é que o produtor social seja visto como alguém que possui uma preocupação e uma imensa vontade de realizar mudanças de forma compartilhada e não como o dono do processo. Para isso, ele precisa respeitar e confiar nas decisões coletivas, estimulando esse comportamento nas pessoas e a energia e criatividade delas e da coletividade, bem como o seu espírito empreendedor delas. Deve ser capaz de conhecer e interpretar a nossa realidade social; orientar um editor na produção de materiais adequados, com conhecimento sobre as possibilidades e limites da comunicação social; ter claros os conceitos de democracia, cidadania, público e participação; e ter tolerância e sensibilidade para trabalhar com as redes de reeditores, transformando-as em redes autônomas e doadoras de sentido próprio. A mobilização social é uma oportunidade de congregar pessoas para a construção de um projeto futuro que passa a ser de todos, e ela só tem utilidade e sentido para a sociedade se for assim, caso contrário deixa de ser uma mobilização para se tornar um evento, uma campanha ou algo semelhante. A mobilização social é vista, então, como um processo intimamente ligado à possibilidade de incluir os sujeitos em suas principais questões, criando mecanismos para sua participação (MAFRA, 2007). Dessa forma, podemos entender que a mobilização social é, para os indivíduos, um recurso para a construção e transformação de seus entornos, que se 59 realizam em nível coletivo, ou seja, por meio de ação e interação entre os sujeitos, cujo objetivo é a emancipação social. Assim, que para haja mobilização social é preciso entrar em relação, é preciso comunicar-se. 6.3 Papel e funções da comunicação nos processos de mobilização Para funcionar como agente de transformação de determinada realidade, a mobilização social necessita da criação de vínculos coletivos, e a utilização estratégica de instrumentos da comunicação possibilita isso. Para manter esses vínculos, é preciso que haja uma constante troca de informação sobre os objetivos a serem alcançados, sem a necessidade de uma ligação formal para as pessoas agirem. Esses vínculos e relações devem ser alimentados e fortalecidos pelo contato constante entre as pessoas e pela troca de informações. A comunicação é tão essencial em um processo de mobilização social porque faz as informações circularem, promovendo a participação e o aumento do nível de vinculação entre os atores desse movimento (MAFRA, 2007). Fonte: www.crfsp.org.br O uso de instrumentos da comunicação permite que os atores conheçam o movimento e possam analisa-lo, julgá-lo e decidirem se participam ou não. Portanto, a mobilização social é um ato de comunicação, pois exige divulgação, discurso e informações. É necessário que haja um projeto de comunicação, cuja meta seja o compartilhamento de todas as informações relacionadas ao movimento, incluindo os 60 objetivos, as justificativas para a mobilização, o propósito, as ações que serão desenvolvidas, os lugares em que a mobilização acontecerá, etc. A comunicação e a informação são necessárias em um processo de mobilização social para: Informar as pessoas, dando a elas a autonomia, a iniciativa e a responsabilidade compartilhada necessárias; Divulgar os propósitos da mobilização, justificando seu objetivo, ampliando suas bases e dando a ela visibilidade, abrangência e pluralidade; Informar os reeditores, de modo que eles consigam verificar se o que estão fazendo ou falando está sendo compartilhado, dando-lhes mais segurança para agir; Divulgar as ações e decisões dos diversos grupos de mobilização, formando um banco de ideias que podem ser copiadas por outras pessoas ou grupos, bem como divulgar a experiência de outros grupos ou pessoas em processos de transformação, servindo de incentivo para os que estão na ação e para aqueles que pretendem participar, uma vez que veem que agir e alcançar resultados é possível (toro; werneck, 2004). Cada processo de mobilização exige um modelo específico de comunicação, ou seja, a comunicação pode ser estruturada de acordo com o tipo de projeto e propósitos de cada um. Veja a classificação dos modelos de comunicação (TORO; WERNECK, 2004; RABELO, 2002). Comunicação de massa: voltada às pessoas anônimas, com o intuito de dar informações gerais sobre a mobilização e seus resultados. As mensagens são codificadas de forma a facilitar o entendimento, com informações mais genéricas que os outros níveis. Macrocomunicação: comunicação voltada às pessoas de acordo com seu papel ou ocupação na sociedade, também chamada de comunicação segmentada, construída utilizando códigos específicos de uma profissão ou ocupação. 61 Microcomunicação: voltada a grupos ou pessoas por sua especificidade ou diferença, também chamada de comunicação dirigida, construída sobre as características próprias e diferenciais do receptor. Os diferentes meios de comunicação podem ser utilizados em cada um dos modelos de comunicação citados, no entanto, há diferenciação em relação ao alcance de cobertura deles em cada nível, ou seja, quanto maior for a cobertura na comunicação de massa, menor será a efetividade da comunicação e a possibilidade de criar mudanças estáveis; a microcomunicação tem maiores chances de efetividade; e a macrocomunicação, tem a efetividade e a cobertura combinadas de forma específica. Apesar disso, não se pode afirmar que exista um tipo de comunicação melhor que o outro. Em geral, os três tipos de comunicação são necessários em um projeto de comunicação participada, mesmo sendo a macrocomunicação, a fundamental (TORO; WERNECK, 2004). Comunicar não é somente transmitir mensagens. Em um processo de mobilização, comunicar é criar vínculos e relações com outras pessoas. Para Henriques, Braga e Mafra (2004, p. 21): [...] a principal função da comunicação em um projeto de mobilização é gerar e manter vínculos entre os movimentos e seus públicos, por meio do reconhecimento da existência e importância de cada um e do compartilhamento de sentidos e de valores. 62 Dessa forma, os processos de construção e manutenção da mobilização estão intimamente ligados ao uso de técnicas de comunicação. Para Toro e Werneck (2004), as ações de comunicação, por permitirem a troca de repertório entre as pessoas, também possuem caráter educativo. O grande desafio da comunicação em um processo de mobilização social é mexer com a emoção das pessoas, fazendo elas quererem fazer parte dos processos de transformação de uma determinada realidade. As estratégias de comunicação visam, além de convocar, despertar ações e emoções ativas que se desdobram em outras ações participativas, solidárias e políticas. Outro desafio é gerar processos de comunicação e transformar pessoas comuns em atores, sujeitos, cidadãos (RABELO, 2002). Esses movimentos têm como características o exercício da decisão partilhada e, por isso, exigem canais de comunicação desobstruídos, abundância de informações, autonomia, corresponsabilidade e representatividade. Dessa forma, o caminho ideal para gerar a participação, a verdadeira mobilização e a efetividade das iniciativas é planejar a comunicação, estabelecendo fluxos que estimulem a criação da corresponsabilidade. Assim, você pode compreender a comunicação mobilizadora como uma experiência e uma convivência entre sujeitos cujo objetivo é a alocar esforços, atitudes e comportamentos em busca de ações do ponto de vista social, cultural e político (PERUZZO, 1998; HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2004). 63 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA BÁSICA ALVAREZ, S. Cultura e política nos movimentos sociais latino-americanos. Belo Horizonte: UFMG, 2000. CASTELLS. Manoel. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999. GOHN, Maria da Glória. Movimentos Sociais no início do século XXI. Petrópolis, Vozes, 2003. OLIVEIRA, Roberto Veras de. Sindicalismo e democracia no Brasil: do novo sindicalismo ao sindicato cidadão. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2011. História dos Movimentos Sociais e Lutas Sociais. São Paulo: Loyola, 1995. Teorias dos Movimentos Sociais. São Paulo: Loyola, 1997. SHERER-WARREN, Ilse. Redes de movimentos sociais. São Paulo: Loyola, 1993. Cidadania sem fronteiras: ações coletivas na era da globalização. São Paulo: Hucitec, 1999. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR DUARTE, L. P. J. Sindicalismo brasileiro: do anarcossindicalismo à ditadura militar, histórico e resgate. Revista Digital em Debate, Florianópolis, n. 3, p. 28-43, 2007. Disponível em: . Acesso em: 28 jun. 2017. GOHN, M. G. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasilera de Educação. Rio de Janeiro, v. 16, n. 47, p. 333-361, maio/ago. 2011. Disponível em: . 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