Logo Passei Direto
Material
Study with thousands of resources!

Text Material Preview

ADQUIRIDO EM 
www.mercadolivre.com.br
VENDEDOR
FERREIRA_EBOOKS
e b o o k s
Clique aqui para obter 
novos títulos.
www.mercadolivre.com.br
http://lista.mercadolivre.com.br/_CustId_195852375
http://perfil.mercadolivre.com.br/FERREIRA_EBOOKS
■
■
■
■
■
■
 
A autora deste livro e a EDITORA SANTOS LTDA. empenharam seus melhores esforços para assegurar que as informações e os procedimentos
apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publicação, e todos os dados foram atualizados pela autora até a
data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da saúde, as mudanças regulamentares governamentais
e o constante fluxo de novas informações sobre terapêutica medicamentosa e reações adversas a fármacos, recomendamos enfaticamente que os
leitores consultem sempre outras fontes fidedignas, de modo a se certificarem de que as informações contidas neste livro estão corretas e de que
não  houve  alterações  nas  dosagens  recomendadas  ou  na  legislação  regulamentadora. Adicionalmente,  os  leitores  podem  buscar  por  possíveis
atualizações da obra em http://gen­io.grupogen.com.br.
A autora e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de qualquer material
utilizado neste livro, dispondo­se a possíveis acertos posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de algum deles tenha sido
omitida.
Direitos exclusivos para a língua portuguesa 
Copyright © 2016 by EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA. 
Publicado pela Editora Santos, um selo integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional 
Travessa do Ouvidor, 11 
Rio de Janeiro – RJ – CEP 20040­040 
Tels.: (21) 3543­0770/(11) 5080­0770 | Fax: (21) 3543­0896 
www.grupogen.com.br | editorial.saude@grupogen.com.br
Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer
meios  (eletrônico, mecânico,  gravação,  fotocópia,  distribuição  pela  Internet  ou  outros),  sem  permissão,  por  escrito,  da EDITORA  GUANABARA
KOOGAN LTDA.
Capa: Bruno Sales 
Produção digital: Geethik
Ficha catalográfica
K19o
Kairalla, Silvana Allegrini 
Ortodontia lingual simplificada/Silvana Allegrini Kairalla. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Santos, 2016.
il
ISBN 978­8­5277­3001­3
1. Ortodontia 2. Aparelhos ortodônticos. I. Título.
16­33136 CDD: 617.643 
CDU: 616.314­089.23
Rogério Adib Kairalla
Doutor, Mestre e Especialista em Prótese Dentária pela Universidade de São Paulo (USP).
Especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial pelo Conselho Federal de
Odontologia (CFO).
Vittorio Cacciafesta
Mestre e Especialista em Ortodontia pela Universidade de Aarhus, Dinamarca.
São  muitas  pessoas  a  agradecer,  pois  a  participação  delas  em  minha  vida  influenciou  de  uma  maneira  ou  de  outra  na
caminhada. Entretanto, a família é a que sempre (ou na maior parte do tempo) está ao nosso lado, seja nos momentos bons
ou difíceis. Então, agradeço primeiramente aos meus pais, Rosa e Sergio (in memoriam), pois, sem a educação que recebi
deles, não teria chegado até aqui. Com eles, descobri o valor das coisas, e que cada momento da vida deve ser trabalhado
com muita  dedicação,  determinação  e  amor,  mesmo  que  para  isso  tenhamos  de  fazer  sacrifícios.  Aprendi  que  devemos
estabelecer metas para alcançarmos nossos objetivos; se um dia olharmos para trás, que tenhamos orgulho do que fizemos.
Agradeço ao meu marido, Rogério, pela compreensão, pelo companheirismo, carinho, amor e apoio em tudo aquilo que
eu desejo fazer, seja no campo pessoal ou no profissional, principalmente nos momentos em que tive de optar pelos estudos
sem poder me dedicar  à  família. Também por  isso  agradeço  aos meus  filhos,  Paula, Cláudia  e Gustavo,  que  sempre me
apoiaram e me deram estímulo  para  percorrer  o  caminho da  profissão  que  escolhi  e  que  em nenhum momento  cobraram
minha ausência. Ao contrário, sempre me estimularam a estudar, porque assim sentiriam mais orgulho da mãe que tinham.
Espero ter servido de exemplo para que acreditem que o estudo é o alicerce de todas as profissões.
Agradeço a todos os colegas e professores que participaram da minha vida acadêmica e profissional, dentre os quais não
poderia  deixar  de  citar  a  amiga  e  professora  Liliana  Ávila Maltagliati.  Desde  que  abracei  a  técnica  lingual,  ela  me  deu
oportunidade,  na  especialização,  de  poder me  aprofundar  nos  estudos  desta  técnica  e  realizar minha monografia  sobre  o
tema.  Também  preciso  agradecer  ao  meu  orientador  de  mestrado,  Luiz  Renato  Paranhos,  que  acreditou  que  eu  pudesse
começar  a  desenvolver  artigos  científicos  e  me  deu  a  chance  de  continuar  minha  pesquisa  sobre  a  técnica  lingual  no
mestrado, tendo, portanto, uma influência direta na minha iniciação na produção científica.
Ao professor Vittorio Cacciafesta, que me ensinou os primeiros passos da ortodontia lingual simplificada e com quem
tive a oportunidade de trocar conhecimento e experiência clínica e científica. Ao professor Alexandre Ponce, que, desde que
nos  conhecemos,  acreditou  que  eu  poderia  transmitir meus  conhecimentos  aos  colegas  especialistas  e  também  sugeriu  e
despertou em mim a ideia de realizar esta obra. Agradeço ao professor Mario Cappellette Jr. por confiar no meu trabalho ao
me convidar para  fazer parte da sua equipe no curso de especialização em Ortodontia da ABO/SP, e,  também, por  ter me
apresentado à esta editora, por meio da qual tenho a oportunidade de publicar esta obra.
Por fim, agradeço a Deus por me acompanhar e me dar forças nos momentos de dificuldades durante toda a caminhada
e por sempre guiar meus passos no caminho do bem, permitindo realizar este sonho com muita saúde e energia.
Finalizo  com um pensamento  de  José  de Alencar:  “O  sucesso  nasce  do querer,  da  determinação  e  persistência  em  se
chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos no mínimo fará coisas admiráveis.”
Silvana Allegrini Kairalla
A ortodontia  lingual não é uma  técnica muito antiga;  ao contrário,  é bastante  recente,  se considerarmos que os primeiros
estudos  começaram  na  década  de  1970.  Particularmente,  ouvi  falar  sobre  a  técnica  em  meados  dos  anos  1980,  em  um
congresso brasileiro, e achei fantástica a ideia de poder corrigir problemas de má oclusão sem que o aparelho pudesse ser
visto,  ou  melhor,  com  uma  técnica  invisível.  Porém,  os  colegas  com mais  conhecimento  consultados  naquele  momento
(afinal, eu ainda fazia o aperfeiçoamento em ortodontia) me desaconselharam e disseram que a técnica não funcionava bem.
Essa argumentação será discutida nesta obra, e, de maneira bastante clara, os leitores poderão compreender o que sucedeu
naquela época e o que evoluiu até hoje.
Mais tarde, já na especialização em Ortodontia, também em um congresso brasileiro, tive novamente a oportunidade de
ouvir  sobre  a  técnica  lingual,  e  foi  a  partir  daí  que  iniciei meus  estudos  de maneira mais  profunda, mergulhando  nessa
técnica tão apaixonante. Isso me levou a realizar a monografia de conclusão do curso com o tema “Ortodontia Lingual”. No
curso de mestrado em Ortodontia, pude dar sequência aos estudos dessa técnica, com uma dissertação sobre o mesmo tema,
em que aprofundei meus conhecimentos específicos.
A  partir  daí,  tornei­me  apta  a  escrever  diversos  artigos  em  revistas  nacionais  e  internacionais,  e  ministrar  cursos  e
workshops sobre a técnica. Recentemente, fui nomeada uma speaker internacional da empresa Forestadent®.
Assim,  juntando  toda a bagagem de conhecimentos ao  longo dos anos, acreditei ser possível aplicá­los em um livro e
apresentá­los de modo bastante prático e objetivo.
Nesta obra, presume­se que o leitor seja um especialista ou conhecedor profundo em ortodontia convencional; por isso,
alguns  conceitosbásicos  são  tratados  de  maneira  a  apenas  recordar  o  leitor,  a  fim  de  que  possa  compreender  mais
rapidamente os conceitos necessários para a técnica abordada. Também procurei aqui não me aprofundar na técnica lingual
convencional,  pois  este  livro  destina­se  a  descrever  de maneira  bastante  clara  e  direta  os  conceitos  da  ortodontia  lingual
simplificada,  sem  deixar  de  respeitar  evidências  científicas  e  basear­se  nelas. A  simplicidade  a  que  nos  referimos  tem  o
intuito de beneficiar o profissional que deseja conhecer e praticar a  técnica simplificada sem que ela seja  tratada de modo
banal, mas que possa ser aplicada em seus  tratamentos de maneira segura e eficaz, alcançando os resultados clínicos com
bastante confiança e previsibilidade.
Silvana Allegrini Kairalla
Transmitir conhecimento é uma arte, mas abdicar de tempo para transcrever em palavras o conhecimento é uma arte ainda
maior.  Poucos  têm  a  exata  noção  do  que  significa  escrever  um  livro  –  desnudar  seu  pensamento,  expor  sua  experiência,
colocar­se à prova da avaliação dos leitores. É uma atividade que exige doação e abnegação.
Quando o assunto a ser abordado se refere a uma especialidade pouco explorada e divulgada, o desafio é ainda maior,
pois a proposta é falar do que ainda não foi escrito e divulgar a própria experiência, os passos dados e os erros corrigidos
sem muito em que se basear.
A  ortodontia  lingual  é  uma  técnica  ortodôntica  diferenciada,  muito  apreciada  pelos  pacientes  por  utilizar  o  único
aparelho verdadeiramente estético, invisível de fato. O domínio dessa técnica exige profissionais qualificados e habilidosos,
e boa parte deles reluta em adentrar nesse universo por considerar a técnica complexa. No entanto, quando nos interessamos
e nos propomos a entendê­la e praticá­la, descobrimos quão fascinante ela é e o quanto nos diferencia como profissionais.
O  entendimento  e  interesse  dependem,  fundamentalmente,  de  como nos  é  apresentada  e  ensinada  a  técnica  lingual,  e,
nesse aspecto, ainda temos pouca informação disponível em comparação com a técnica vestibular convencional. Carecemos
de obras completas, detalhadas, com didática, para aumentar o interesse pela técnica e sua aplicabilidade.
O que torna esta obra única e muito especial é a maneira como a Professora Silvana consegue tornar a técnica simples e
a  transmite  de  modo  didático,  tornando­a  exequível  e  de  fácil  entendimento,  ensinando  com  maestria  a  técnica  lingual
simplificada, com ricas informações e orientações.
Com  certeza,  é  um  livro  importante  para  nossa  especialidade,  que  vem  somar  e  preencher  uma  lacuna  importante  de
informação.
Aproveitem e mergulhem nesse universo fascinante da ortodontia lingual!
Liliana Ávila Maltagliati
Doutora em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia 
de Bauru da Universidade de São Paulo (USP). 
Mestre em Ortodontia pela USP.
1
2
3
4
5
6
7
Considerações Gerais sobre Ortodontia Lingual
Revisão da literatura
Montagem do aparelho lingual
Considerações finais
Sistema Lingual 2D®
Braquete lingual 2D®
Técnica de montagem simplificada
Tipos de braquetes 2D®
Indicações e aplicações clínicas do braquete 2D®
Otimização do braquete lingual 2D®
Considerações finais
Sistema Lingual 3D®
Características do braquete 3D®
Considerações sobre o braquete 3D®
Sistema Kairalla
Considerações finais
Biomecânica
Princípios de biomecânica
Movimentos ortodônticos
Biomecânica lingual
Biomecânica com o Sistema 2D®
Discussão
Considerações finais
Ortodontia Lingual nas Cirurgias Ortognáticas
Preparo ortodôntico cirúrgico com a técnica lingual
Considerações finais
Finalização dos Tratamentos com Ortodontia Lingual
Finalização ortodôntica com a técnica lingual
Remoção
Contenção
Considerações finais
Casos Clínicos
Caso clínico 1
Caso clínico 2
Caso clínico 3
Caso clínico 4
Caso clínico 5
•
•
•
Introdução
Atualmente,  existe um crescente  interesse de pacientes  adultos por  tratamentos ortodônticos  cada vez mais  estéticos. Em
função  disso,  o  profissional  que  recebeu  ensinamentos  de  ortodontia  para  aplicar  em  crianças  e  adolescentes  precisa
adaptar­se  e  buscar  novos  conhecimentos  para  atender  também  o  público  adulto;  afinal,  quanto  mais  estético  for  o
tratamento, maior  será  a  probabilidade  de  ser  aceito.  Por  isso,  grande  número  de  ortodontistas  está  em  busca  de  novas
tecnologias para tratar essa demanda, no intuito de proporcionar um sorriso agradável e estético, além da obtenção de uma
ótima função.1
Uma das alternativas que alcançam esses objetivos para o  tratamento em adultos é a  técnica  lingual. Ao se pensar em
ortodontia  lingual, a  ideia de uma  técnica  totalmente estética é muito atrativa, embora, em seguida, um pensamento alerte
para  a  dificuldade  quanto  à  colocação  de  braquetes  na  face  interna  dos  dentes  e  também quanto  à  adaptação  do  paciente.
Alguns questionamentos surgem, como:
Será que o aparelho lingual incomodará?
Como será a adaptação da fala?
O aparelho lingual poderá causar incômodo ou ulcerações na língua?
O ortodontista também questiona o quanto será vantajoso aprender uma nova técnica e aumentar o número de pacientes
no seu consultório, oferecendo para eles uma nova proposta ortodôntica com a técnica lingual.1
Outro questionamento diz  respeito  à  colagem dos braquetes,  que pode  tornar­se mais  difícil  pela  falta  de visibilidade
que se  tem da face  lingual, quando se  faz a montagem do aparelho pela  técnica  lingual, o que requer maior habilidade do
profissional que a executa. Contudo, uma vez que se utilizam acessórios da técnica vestibular por lingual, é razoável pensar
na possibilidade de usar a técnica vestibular em toda a face interna dos dentes.1
Por  outro  lado,  existem  vantagens  na  técnica  lingual,  e  a  principal  delas  é  a  estética.  Dentre  todas  as  técnicas
ortodônticas, sem dúvida o aparelho lingual é o que tem a maior vantagem, já que é o único totalmente invisível e cada vez
mais utilizado.2,3
A ortodontia  lingual  está  crescendo  rapidamente. As peças  estão menores, o que melhora muito o problema da  fala  e
oferece conforto para a língua; o desenho dos braquetes e o modo de montagem e de colagem também vêm proporcionando
melhor aceitação da técnica, que deixou de ser um tabu (acreditava­se que se tratava de um aparelho que incomoda) e hoje é
uma possibilidade bastante viável para tratamento ortodôntico.1,2
Revisão da literatura
•
•
•
•
A ortodontia  lingual,  apesar  de  estar  se  tornando mais  conhecida  e  procurada,  ainda  é  um  assunto  recente  na  história  da
ortodontia – seu surgimento se deu na década de 1970. Kinja Fujita, da Universidade de Kanagawa, no Japão, iniciou seus
estudos  com  aparelho  lingual  em  1971,  não  por  estética, mas  para  proporcionar  aos  seus  pacientes  que  praticavam  artes
marciais um  tratamento  com maior  segurança, uma vez que os braquetes  colados pela  técnica vestibular poderiam causar
muitos danos em atletas.1 Seu primeiro artigo foi publicado em 1978, em uma revista japonesa, e descreve casos de Cl I e
Cl II (classe I e II de Angle) com extrações utilizando aparelho lingual;4 porém, em 1979, Fujita ficou mais conhecido, pois
publicou um artigo descrevendo um aparelho com braquetes por método  lingual e um arco semelhante a um cogumelo, o
mushroom.5
Já nos EUA, os estudos começaram por volta de 1975 com o Dr. Craven Kurz,3 que relatou ter sido procurado por uma
modelo da Playboy club  que vivia em Hollywood e  tinha o desejo de utilizar um aparelho que  fosse “invisível” para não
interferir  na  sua  carreira.  Dr.  Kurz  decidiu  improvisar,  utilizando  os  braquetes  convencionais  que  existiam  no  mercado
colocando­os  nas  superfícies  linguais  dos  dentes.  Quando  viu  que  havia  obtido  um  resultado  positivo,  mostrou  a  nova
técnica  aos  colegas  e  decidiu  desenvolvê­la. Voltou  da Califórniaconvencido  de  que  a  colagem  lingual  era  possível.  Em
1976, Kurz et al. iniciaram os estudos de um novo braquete em parceria com a empresa Ormco®, que acabou por patentear
sua ideia, desenvolvendo o aparelho lingual Edgewise.6
Para obter credibilidade para esse novo braquete, foi criada, em 1980, a Lingual Task Force, que consistia em um grupo
de profissionais encarregados de ajudar a desenvolver o desenho do braquete, o qual era de aço e deveria sofrer adaptação e
ajuste na dimensão, no  torque e na angulação baseando­se na morfologia  lingual de cada dente. O grupo  também deveria
criar  uma mecanoterapia  para  aplicação  da  técnica,  definindo  desenhos  de  arcos,  discutindo  a  sequência  de  tratamento  e
determinando o critério de seleção dos casos, iniciando, assim, o desenvolvimento da técnica lingual.7
Até meados dos anos 1980, as conclusões foram: que a retenção do braquete se mostrava tão segura quanto a colagem
por vestibular; que o conforto e a aceitabilidade pelos pacientes eram, em muitos casos, tão bons ou melhores do que com o
aparelho vestibular tradicional; e que os pacientes voltavam a falar normalmente após um período mais curto de tempo.
Em 1982, Paige enumerou alguns critérios que deveriam ser considerados com relação ao desenho do braquete:8
A distância interbraquetes no aparelho lingual é menor; portanto, o desenho deve ser o mais estreito possível
É preciso observar a topografia da superfície lingual dos dentes anteriores da maxila e da mandíbula
Qualquer mudança na colagem no sentido oclusogengival provoca mudança no torque da raiz, o que pode ser solucionado
por meio de procedimentos de colagem indireta
É muito importante considerar a facilidade de inserção, ligação e remoção do arco no braquete e, para tanto, sugere­se a
colocação do arco por  incisal ou oclusal, usando uma ranhura ou slot vertical, que permitiria o uso de pinos de fixação
para tornar mais fácil essa ligação.
O autor normalmente usava o braquete de Begg, pois considerava que atendia as necessidades descritas anteriormente;
porém,  ele  passou  a  usar  o  Unipoint  Combination  Bracket  (Unitek)  quando  sentiu  necessidade  de  aletas  gengivais  para
prender elásticos em cadeia. A seleção do arco também era importante; por isso, ele utilizava arcos mais leves e resilientes,
já que a distância interbraquetes era menor, e fazia a fixação com o double over­tie (amarração com elástico em cadeia em
forma de gravata), pinos ou fio de amarrilho de metal, dependendo da necessidade do caso.8
Para Scholz e Swartz (1982), a colagem indireta para os braquetes linguais foi escolhida pela dificuldade de visualização
e contorno da superfície lingual.9
Em  1983, Gorman  et  al.10  questionavam  se  a  importância  do  aparelho  lingual  seria  apenas  uma moda  passageira  da
época ou se ele alcançaria a mesma excelência do tratamento por vestibular, atraindo o maior número possível de pacientes
para  tal  prática.  Cada  vez  mais  eles  se  convenciam  de  que  era  importante  fazer  um  excelente  diagnóstico,  escolher  a
mecanoterapia e fazer uma seleção dos pacientes para o tratamento lingual.
Alexander  et  al.(1983)11  ressaltaram  que  muitos  pacientes  desejam  os  benefícios  oferecidos  por  um  tratamento
ortodôntico de alta qualidade, mas não gostariam que os braquetes fossem visíveis. Naquela época, houve grande interesse
em  programas  de  saúde  envolvendo  exercícios  físicos,  dieta  e  nutrição,  tendência  que  também  apareceu  na  área
odontológica,  com a divulgação pela mídia de um  tratamento ortodôntico  invisível  e  estético. Segundo os autores, para o
sucesso do profissional ortodôntico, é muito  importante oferecer e conhecer um aparelho que satisfaça a procura pela boa
aparência e pela estética.
Segundo Gorman (1993),12 a técnica lingual possibilita o tratamento de alguns casos com maior rapidez e qualidade do
que  se  conseguiria  com  a  técnica  convencional  labial.  Sendo  assim,  a  técnica  lingual  é  uma  ótima  alternativa  para  o
tratamento ortodôntico e, às vezes, pode ser mais eficiente do que a técnica convencional.
Em 1997, Fillion dizia que, desde que o aparelho  lingual aparecera como um tratamento completamente estético, uma
das  dúvidas  seria  a  capacidade  de  adaptação  dos  pacientes  aos  braquetes  linguais.  Em  seus  10  anos  de  experiência  com
aparelho lingual, 35% dos pacientes se adaptaram em até 3 semanas de tratamento, 36% depois de 3 semanas, e apenas três
casos não se adaptaram ao aparelho  lingual. De acordo com ele, não existe  razão para contraindicar o aparelho  lingual ao
paciente que deseja usar essa técnica.13
O mesmo autor, em 1998, já fazia afirmações de que grandes mudanças nas técnicas tradicionais estavam acontecendo
no mundo todo e que a tendência era que isso certamente se intensificaria muito, inclusive aumentaria significativamente a
competitividade  dentro  do  mercado  da  ortodontia.  Ele  já  argumentava  que  as  mudanças  ocorriam,  principalmente,  pela
melhoria das técnicas clínicas, além de um bom trabalho de gestão e de marketing, sugerindo que o profissional interessado
em se manter na competitividade deveria investir muito em si próprio, com atualização e treinamento especializado.14
Em 2003, Pato et al.7 apresentaram um resumo sobre a história da ortodontia  lingual desde o seu início, na década de
1970,  nos  EUA,  citando  que  os  precursores  da  técnica  obtiveram maior  número  de  fracassos  ao  longo  do  projeto.  Isso
porque,  para  conseguir  desenvolvê­la,  na maioria  das  vezes  utilizaram o método  “tentativa  e  erro”  (como não  conheciam
bem  a  técnica,  aguardavam  as  consultas  seguintes  para  ver  o  resultado  e  corrigir  os  erros  que  ocorriam),  provocando,
assim, uma queda na procura pela técnica lingual por parte dos ortodontistas americanos e retardando seu desenvolvimento
naquele país. Porém, ela chegou a outros países da Europa e ao Japão, e, na década de 1980, muitos equívocos já haviam
sido  corrigidos.  Somente  no  início  da  década  de  1990  ela  retomou  seu  crescimento  nos  EUA  e  foi  divulgada  em mais
países, inclusive no Brasil, propondo como vantagem principal a possibilidade de o paciente usar um aparelho “invisível”.
Esse foi um importante diferencial para o ortodontista.
Na  Itália,  em  2004,  Macchi  et  al.15  propuseram  a  utilização  de  uma  técnica  lingual  mais  simplificada  denominada
Insubria System® Lingual Technique, que utiliza um dos primeiros braquetes autoligados.
Geron (2004)16 salientou que a técnica lingual é mais difícil do que a vestibular por várias razões, como, por exemplo, a
dificuldade no posicionamento dos braquetes, o desconforto dos pacientes e a dificuldade na mecânica durante o tratamento.
Ela ressaltou que o tipo de amarração com elástico aumenta a resistência e o atrito e consome mais tempo de trabalho, pois
requer  que  o  elástico  seja  frequentemente  trocado  para manter  a  higiene  oral.  Já  se  a  amarração  for  feita  com  amarrilho
metálico em vez do elástico, o atrito será reduzido e o engrenamento do fio no braquete será melhorado; porém, aumentará
significativamente o tempo de cadeira, e ocasionalmente o fio de amarrilho poderá ser deslocado, ocasionando desconforto
no paciente e  traumatismos nos  tecidos moles,  levando a mais  consultas de emergência. Assim, os braquetes autoligados
podem contribuir para a eficiência do tratamento ortodôntico lingual, e o desempenho do aparelho ortodôntico lingual pode
ser melhorado por causa da qualidade dos braquetes autoligados.
Muitos estudos sobre o baixo atrito com braquetes autoligados têm sido demonstrados e quantificados em trabalhos de
vários  autores.  Com  o  baixo  atrito,  a  força  para movimentar  os  dentes  é menor  e mais  previsível,  causando  uma  força
recíproca  menor  e  levando  a  melhor  controle  de  ancoragem.  A  amplitude  de  ativação,  então,  é  aumentada,  e  menos
consultas  de  ativação  são  necessárias.  Umdos  principais  benefícios  dos  braquetes  autoligados  é  a  melhora  na  eficácia
clínica e a economia de tempo; além disso, a substituição do arco é mais rápida e mais fácil.16
Scuzzo e Takemoto (2004),17 com base nos princípios de força leve e deslize, desenvolveram o braquete STb – Ormco®
(Scuzzo­Takemoto  brackets).  O  sistema  possibilita  a  montagem  dos  braquetes  com  a  confecção  de  um  setup  (técnica
tradicional para montagem do aparelho lingual), mas também de maneira simplificada, a chamada técnica social six, que é
feita  somente nos dentes anteriores,  superiores e  inferiores, de canino a canino. Consiste na montagem dos braquetes no
modelo de trabalho e transferência destes para a boca do paciente com moldeiras confeccionadas em “cola quente”.
Em  2005,  Ling18  relatou  que  em  1979  ocorreu  a  primeira  onda  de  popularidade  do  aparelho  lingual  e  que,  mesmo
existindo  aparelhos  estéticos  de  plástico,  vinil,  policarboxilatos,  cerâmicos  ou  alternativos  como  os  alinhadores
transparentes, muitos  adultos não procuraram o  tratamento devido  ao  constrangimento de usar braquetes. Durante  anos a
ortodontia  lingual  andou  lentamente,  pois  muitos  protocolos  clínicos  não  foram  elucidados  e  muitos  ortodontistas  não
tinham o preparo adequado exigido pela  técnica, o que resultou no abandono precoce da  técnica por muitos deles. Assim,
particularmente na América do Norte, o desenvolvimento foi mais lento e, em outras partes do mundo,  teve continuidade.
Ocasionalmente são levantadas objeções ao tratamento lingual por profissionais que não utilizam a técnica, os quais alegam,
principalmente, que o tratamento lingual é mais demorado do que o vestibular. Entretanto, não existe prova disso, faz parte
da história e do desenvolvimento de “novas  técnicas”. Também não há nada na  literatura que comprove que o  tratamento
com aparelho lingual seja menos preciso do que o tratamento com aparelho vestibular.
A  mesma  controvérsia  ocorreu  com  o  lançamento  dos  braquetes  cerâmicos  em  1980,  porém  sua  prática  foi  logo
difundida  e,  como  coincidiu  com  a  chegada  dos  primeiros  aparelhos  linguais,  muitos  profissionais  optaram  por  usar
braquetes cerâmicos vestibulares.
Monini  et  al.  (2008)19  mostraram  as  diferenças  biomecânicas  entre  as  técnicas  lingual  e  convencional  vestibular,  e
concluíram  que  a  técnica  lingual  também  exige  mais  conhecimento  sobre  questões  biomecânicas  e  maior  habilidade  do
ortodontista.
Wiechmann et al. (2008)20 relataram que existe uma grande procura pela utilização de aparelhos estéticos por parte dos
adultos  e,  agora,  até  mesmos  por  adolescentes.  Muitas  vezes,  os  aparelhos  de  porcelana  por  vestibular  não  suprem
necessidades estéticas, pois, ainda que  transparentes e parecidos com a cor dos dentes, são visíveis, e os alinhadores que
seriam mais estéticos não podem ser usados para todos os tipos de má oclusão. Portanto, o aparelho lingual vem tornando a
satisfação dessa necessidade viável, principalmente com a ajuda de mini­implantes.
Cacciafesta  e  Kairalla  (2010)21  relataram  que  cada  vez  mais  adultos  procuram  estética  e  conforto  no  tratamento
ortodôntico. A  ortodontia  lingual  foi  superior  em  comparação  com  os  aparelhos  estéticos  convencionais  vestibulares;  no
entanto, ainda é considerada mais difícil e cara. Segundo os autores, pode­se fazer uma ortodontia  lingual mais simples e
mais barata utilizando o braquete da Forestadent 2D®.
O conforto do paciente  sofre objeções, mas  tem sido superado com o  tempo com as mesmas abordagens clínicas que
existem pelo aparelho vestibular.
Também em 2010, foi publicado por Wu et al.22 um estudo comparativo entre 60 pacientes chineses dos sexos feminino
e masculino, 30 deles com aparelho por vestibular e 30 com aparelho por lingual. Dentre os resultados obtidos, verificou­se
que não existiam diferenças significativas entre os  tratamentos. Os pacientes que estavam com aparelho  lingual  relataram
que a dor era maior na língua, e os que receberam aparelho vestibular, que a dor era maior nos lábios e nas bochechas, ou
seja,  a  dor  está  relacionada  diretamente  com  o  local  em  que  o  aparelho  está  instalado.  O  mesmo  estudo  pesquisou  o
requisito  “higiene”,  concluindo  que,  na  técnica  lingual,  é  feita  de maneira  similar  à  da  técnica  vestibular.  Os  resultados
comparativos foram estatisticamente semelhantes entre as duas técnicas.
Uma  revisão  sistemática  realizada  em  2013  por  Hu  Long  et  al.23  no  Departamento  de  Ortodontia  no  West  China
Hospital  of  Stomatology  da Sichuan University  (Chengdu, China)  comparou  a  técnica  lingual  com  a  técnica  vestibular  e
concluiu que, quando ocorre dor, ela é semelhante em ambos os tratamentos. O estudo verificou também que os pacientes
que estavam com aparelho lingual tinham maior probabilidade de ter dificuldade na fala e dor na língua, mas eram menos
propensos a dor na face e nos lábios, como aqueles que usavam o aparelho por vestibular.
Em  2014,  Kairalla  et  al.24  realizaram,  na  Faculdade  de  Odontologia  da  Universidade  Metodista  de  São  Paulo,  uma
pesquisa com o objetivo de encontrar a forma e a dimensão de arcos dentários para definir o  tamanho e o formato de um
arco  contínuo  que  pudesse  ser  utilizado  na  técnica  lingual.  Os  modelos  dos  arcos  dentários  da  maxila  e  da  mandíbula
digitalizados  (3D)  foram obtidos  a  partir  de  uma  amostra  composta  por  indivíduos  brasileiros  leucodermas  com oclusão
normal natural. Os autores concluíram ser possível definir uma forma de arco contínuo para ser utilizado na técnica lingual
straight­wire (LSW) e criaram um diagrama de arcos (template) de maneira mais simplificada.
Recentemente, em 2015, um grupo de autores  japoneses25  realizou um estudo com pacientes  submetidos a  tratamento
ortodôntico no Okayama University Hospital, com o objetivo de avaliar a hipótese de que poderia haver uma diferença entre
os tratamentos com aparelho lingual e vestibular em uma amostra contendo 24 casos de classe II com extração tratados com
aparelho  lingual e 25 casos de classe  II com extração  tratados com aparelho vestibular. O grupo concluiu que pode haver
alguma  diferença  mecânica  entre  as  técnicas,  a  qual  pode  ser  contornada;  porém,  o  aparelho  lingual  não  causa  maior
reabsorção  radicular quando comparado ao aparelho por vestibular,  assim como  também não causa  limitação na dinâmica
dos movimentos mandibulares e é tão provável quanto o aparelho vestibular que não contribua para as causas da disfunção
temporomandibular (DTM).
Montagem do aparelho lingual
Na  ortodontia  lingual,  faz­se  necessário  sempre  abordar  a  forma  de montagem  do  aparelho,  pois,  em  função  da  grande
variedade de tipos de braquetes linguais, existe uma forma de montagem específica para cada um.1
Pudemos observar que,  no desenvolvimento da  técnica,  uma das preocupações dos  autores  é o modo de  colagem dos
braquetes.  Para  Scholz  e  Swartz  (1982),  a  colagem  deveria  ser  indireta  em  razão  da  dificuldade  de  visualização  e  de
contorno  da  superfície  lingual.9  Devido  à  variabilidade  da  anatomia  lingual  e  à  distância  interbraquetes  mais  reduzida,
alguns movimentos dentais são mais complicados de serem feitos,8,26­28 como, por exemplo, as dobras de 1a e 3a ordens8,27
e o controle de torque.8,28
Figura 1.1
Esses  fatores  foram  responsáveis  pelo  desenvolvimento de vários  instrumentos,  ferramentas  ou máquinas  específicas
para a montagem dos aparelhos linguais e de métodos de transferência dos braquetes, como TARG (SDS/Ormco®, Orange,
CA) (Figura 1.1) e CLASS (Specialty Appliances, Norcross, GA).3,29
Desse modo, para a montagem indireta, além do uso de instrumentos específicos e/ou setup8,9  (Figura 1.2),  também é
feito  o pad,  que  consiste  em  uma  camada  de  resina  que  se  interpõe  entrea  base  do  braquete  e  a  superfície  lingual  dos
dentes, a qual, normalmente, é mais irregular do que a face vestibular19,30 (Figura 1.3). Nesses casos de montagem indireta,
a  transferência para a boca do paciente se faz por meio de moldeiras,  jigs ou casquetes.9 Atualmente,  também existem os
sistemas  de  braquetes  virtuais,  em  que  setup,  os  braquetes  e  os  fios,  assim  como  a  montagem,  podem  ser  totalmente
confeccionados por programas de computador.20
Durante  a  evolução  da  técnica,  também  foi  descrito  que  alguns  braquetes  linguais  podem  ser  colados  diretamente,31
como na ortodontia vestibular, ou indiretamente,1 dependendo do sistema utilizado ou da gravidade da má oclusão.26
Um sistema que possibilita que a colagem seja direta é o Sistema 2D®, que foi desenvolvido por Macchi et al. (2004)29
e a empresa Forestadent® (Pforzheim, Alemanha).
Dessa maneira, para que daqui em diante a leitura e a compreensão fiquem mais didáticas, podemos afirmar que existem
basicamente duas formas de se fazer a montagem do aparelho lingual: pela técnica convencional, isto é, normalmente com
setup ou auxílio de outra ferramenta; e a montagem simplificada (Figura 1.4), em que a colagem pode ser feita de maneira
direta, ou seja, sobre o esmalte dos dentes, e indireta, quando se faz em modelos (não em modelos de setup, mas sim em
modelos de má oclusão).
Máquina TARG.
Figura 1.4
Figura 1.2
Figura 1.3
Vista lateral de modelo de setup.
Aplicação de resina composta fotopolimerizável na base do braquete para confecção do pad.
Esquema simplificado de montagem do aparelho lingual. ↑: mais trabalhoso ou mais elaborado; ↓: menos trabalhoso
ou menos elaborado.
Pode­se concluir que, a montagem convencional é mais elaborada e demanda mais  tempo do operador para executá­la,
enquanto a técnica simplificada, como o próprio nome diz, é mais simples e por isso demanda menos tempo.
  1.
  2.
  3.
  4.
  5.
  6.
  7.
  8.
  9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
O tema montagem do aparelho lingual foi abordado neste capítulo por ser parte da evolução da técnica e porque muitos
ortodontistas utilizam a forma de montagem convencional. Assim, é necessária uma abordagem melhor e mais extensa para
descrever todas as técnicas convencionais e referenciar de maneira justa e adequada os autores que as criaram. Porém, como
o  intuito  deste  livro  é  tratar  sobre  a  técnica  simplificada,  sugerimos  a  busca  por  literatura  específica  para  montagem
convencional, já que o objetivo deste capítulo foi exatamente esclarecer a diferença entre elas.
Considerações finais
A  história  da  evolução  da  ortodontia  lingual  mostra  que  a  procura  pela  estética  foi  um  fator  muito  importante  para
determinar seu surgimento e desenvolvimento.
A  técnica  ortodôntica  lingual  é  considerada  uma  técnica  estética,  que  demanda  tempo  de  trabalho  e  habilidade  do
profissional que a utiliza, mas é viável para muitos casos e para pacientes que não se tratariam com a técnica convencional
por vestibular ou similar.
Muitos  trabalhos  de  pesquisa  precisam  ser  feitos  para  melhorar  as  partes  clínica  e  laboratorial,  mas  muito  já  se
avançou. A ideia de se fazer um braquete que seja confortável e prático sem ser muito oneroso ainda persiste, devendo­se
continuar os estudos para seu desenvolvimento.
Os  fabricantes  procuram  desenvolver  braquetes  cada  vez  melhores  para  atender  o  mercado  ortodôntico  lingual,  e  a
tendência é que sejam autoligados, pois podem contribuir para diminuir o atrito e são facilitadorres da técnica lingual. Em
relação ao tipo de arco utilizado na técnica, pode­se dizer que, inicialmente, o arco utilizado na técnica tinha um formato de
cogumelo, mas já existem autores que estudaram ser possível a utilização de um o arco contínuo lingual ou straight­wire.
A adaptação do paciente à dificuldade na  fala,  à higiene e às escoriações na boca é  similar à da ortodontia vestibular.
Finalmente,  não  existem  evidências  concretas  de  que  a  técnica  lingual  seja  menos  efetiva  do  que  a  convencional  por
vestibular; porém, estudos comparativos evidenciam que problemas decorrentes do tratamento ortodôntico podem acontecer
em ambas as técnicas.
Referências bibliográficas
Kairalla SA, Cacciafesta V, Maltagliati LA et al. Ortodontia lingual: evolução da técnica e os braquetes autoligados. Rev
Clín Ortod Dental Press. 2011; 10(3):106­12.
Kairalla SA, Kairalla RA, Miranda SL et al. Ortodontia lingual: um aparelho “invisível”. Rev Bras Cir Craniomaxilofac.
2010; 13(1):40­3.
Alexander CM, Alexander RG, Gorman JC et al. Lingual orthodontics: a status report. J Clin Orthod. 1982; 16:255­62.
Fujita K. Development of lingual bracket technique: esthetic and hygiene approach to orthodontic treatment. J Jpn Res Soc
Dent Mater Appliances. 1978; 46:81­6.
Fujita K. New orthodontic treatment with lingual bracket mushroom arch wire appliance. Am J Orthod. 1979; 76:657­75.
Kurz C, Swartz ML, Andreiko C. Lingual orthodontics: a status report part 2 – research and development. J Clin Orthod.
1982; 16:735­40.
Pato JM, Pato JMS, Sabóia SVM et al. Lingual orthodontics. Rev Dental Press Ortodon Ortoped Facial. 2003; 7(2):77­80.
Paige SF. A lingual light – wire technique. J Clin Orthod. 1982; 16:534­44.
Scholz RP, Swartz ML. Lingual orthodontics: a status report part 3: indirect bonding – laboratory and clinical procedures. J
Clin Orthod. 1982; 6:812­20.
Gorman JC, Hilgres JJ, Smith JR. Lingual orthodontics: a  status  report part 4 – diagnosis and  tratment planning.  J Clin
Orthod. 1983; 17:26­35.
Alexander CM, Alexander RG, Sinclair PM. Lingual orthodontics: a status report part 6 – patient and practice manegement.
J Clin Orthod. 1983; 17:240­6.
Gorman J. Dispelling some myths about lingual orthodontics. Clinical Impressions (S.I.). 1993; 2(3):2­5,16­7.
Fillion D. Improving patient comfort with lingual brackets. J Clin Orthod. 1997; 689­94.
Fillion D. The resurgence of lingual orthodontics – the orthodontic specialty responds to challenging marketplace. Clinical
Impression. 1998; 7(1).
Macchi A, Norcini A, Cacciafesta V et al. The use of tridimensional brackets in lingual orthodontics: new horizons in the
tratament of adults patients. Orthodontics. 2004; 1(1).
Geron S. Class II non­extration treatment with self ligating lingual brackets. Disponível em: www.lingualnews.com. 2004;
2(2).
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
31.
Scuzzo G,  Takemoto K.  STb  (Scuzzo­Takemoto  bracket)  and  light  lingual  philosophy  clinical  problems  and  solutions.
Original Article. 2004; 2(2).
Ling HP. Lingual orthodontics: history, misconceptions and clarification. J l’Association Dentarie Canadienne. 2005; 71(2).
Monini AC, Gandini LG, Gandini MREA et al. Biomechanical differences between  lingual and  labial orthodontics. Rev
Dental Press Ortodon Ortopedi Facial. 2008; 13(1):92­100.
Wiechmann D, Wong RWK, Hagg U. Incognito – the novel CAD/CAM lingual orthodontic appliance. Dental Asia. 2008.
Cacciafesta V, Kairalla SA. O uso de braquetes linguais 2D em ortodontia lingual. Ortodontia Dentistry. 2010; 7.
Wu AKY, McGrath C, Wong RWK et  al. A comparison of pain  experienced by patients  treated with  labial  and  lingual
orthodontic appliances. Eur J Orthodont. 2010; 32:403­7.
Hu Long, Zhou Y, Pyakurel U et  al. Comparison of adverse effects between  lingual  and  labial orthodontic  treatment:  a
systematic review. The Angle Orthodontist. 2013; 83(6):1066­73.
Kairalla SA, Scuzzo G, Trivino T et al. Determining shapes and dimensions of dental arches for the use of straight­wire
arches in lingual technique. Dental Press J Orthod. 2014; 19(5):116­22.
Deguchi T, Terao F, Aonuma T et al. Outcome assessment of lingual and labial appliances compared with cephalometrics
analysis, peer assessment rating, and objective grading system in angle classe II extraction cases. Angle Orthodontist. 2015;
85(3):400­7.
Nidoli G, Lazzati M, Macchi A. Migliora l’esteticacon l’incollaggio linguale dei bracket. Attualita’ Dent. 1988; 18:12­20.
Nidoli G, Lazzati M, Macchi A et al. Analisi clinico­statistica della morfologia dentale in rapporto al posizionamento dei
bracket linguali. Mondo Ortod. 1985; 10:45­53.
Kairalla  SA,  Cacciafesta  V,  Benedicto  EN  et  al.  Formas  de  inserção,  fixação  e  remoção  do  arco  na  técnica  lingual.
Ortodontia SPO. 2011; 44(5):468­74.
Macchi A, Norcini A, Cacciafesta V et al. The use of “bidimensional” brackets in lingual orthodontics: new horizons in the
treatment of adult patients. Orthodontics. 2004; 1:21­32.
Kairalla SA, Paranhos LR, Cacciafesta V. Considerações biomecânicas da ortodontia convencional  lingual e  lingual com
sistema 2D. Rev Dental Press Ortodon. 2012; 11(3):98­108.
Carloni L, Cacciafesta V, Norcini A et al. Ortodonzia linguale semplificata. Speciale Ortodonzia Gen. 2005; 2(1):1­10.
Figura 2.1
Introdução
Na  evolução  da  ortodontia  lingual,  com  intuito  de  aprimorar  a  técnica,  os  fabricantes  desenvolveram  vários  tipos  de
braquetes linguais.1
A  empresa  Forestadent®  (Pforzheim,  Alemanha)  baseou­se  no  desenho  feito  pelo  ortodontista  francês,  o  Prof.  Dr.
Philippe Julien (1984) e criou um braquete com duas aletas2 (Figura 2.1), nomeando­o de braquete Philippe.
Um  grupo  de  italianos  da  Universidade  de  Insubria,  na  Itália,  o  qual  já  trabalhava  com  a  técnica  convencional  de
montagem  do  aparelho  lingual  e  que  também  iniciou  a  técnica  com  braquetes  3D®,  com  base  nos  autoligados  de  Begg
(Capítulo  3),  decidiu  simplificar  a  técnica  lingual,  principalmente  com  relação  à  forma  de  montagem  indireta  para  a
montagem direta. Assim, junto à empresa Forestadent®, e baseado no braquete de Philippe, eles desenvolveram o Sistema
Lingual 2D® com o intuito de facilitar alguns dos procedimentos que dificultam a técnica lingual convencional e, ao mesmo
tempo, oferecer resultados satisfatórios.3,4
Philippe lingual bracket.
O Sistema Lingual 2D® é a técnica que possibilita a montagem do aparelho de maneira simplificada, sem a necessidade
da confecção de modelos em setup. Essa técnica consiste em colar os braquetes linguais diretamente no esmalte, como na
ortodontia convencional por vestibular.4
O Sistema Lingual 2D®, com mecânica e desenho exclusivos, utiliza braquetes 2D® autoligados e de  inserção vertical,
isto é, o fio ortodôntico é colocado de cima para baixo, diferentemente da maioria dos braquetes linguais, que têm inserção
Figura 2.2
horizontal.5 Como  esse  sistema permite  a  colagem de maneira  direta  sem  a  necessidade  de  fazer  setup  em  laboratório,  é
possível ter uma diminuição dos custos e do tempo de trabalho.6,7
Outro fator muito  importante na aplicação da ortodontia  lingual obviamente é a questão de os braquetes serem ou não
confortáveis  para  os  pacientes.  Se  os  braquetes  linguais  forem  muito  grandes  e  largos,  podem  atrapalhar  a  pronúncia,
causando  maior  dificuldade  na  fala  do  paciente,  principalmente  quando  o  tratamento  se  estender  por  mais  tempo.  Os
braquetes  linguais  2D®  contam  com  um  perfil  bastante  estreito,  o  que  facilita  a  adaptação  dos  pacientes  ao  tratamento
ortodôntico.
A  técnica  lingual  2D®  emprega  braquetes  linguais  autoligados  simples,  arcos  denominados  Titanol®  superelásticos  e
arcos de liga de NITI termoativado denominados Biolingual®, possibilitando a mecânica com baixo atrito e forças leves.
Esse sistema oferece conforto para os pacientes que buscam o máximo da estética e  tempo menor de  tratamento, pois
reduz o “tempo de cadeira”, já que é de fácil manejo clínico.6,7
Braquete lingual 2D®
| Características principais do braquete lingual 2D®
As características principais do braquete lingual 2D® são a base e o sistema de fixação do fio. Os braquetes 2D® possuem
um  slot  arredondado,  diferentemente  da  maioria  dos  braquetes  linguais,  em  que  esse  slot  na  base  é  retangular  e/ou
quadrado. O braquete tem duas aletas na superfície lingual para prender o fio e pode ser usado em todos os dentes por não
exigir prescrição (Figura 2.2).
É um sistema autoligado de progressivo atrito, porque é possível  fazer o fechamento das aletas de modo progressivo,
ou  seja,  pode­se  fechar  mais  ou  menos  as  aletas  conforme  for  ocorrendo  o  nivelamento  e  alinhamento  dos  dentes
envolvidos  no  tratamento,  principalmente  nos  casos  em  que  existir  dentes  com muito  apinhamento.  O  sistema  também
possibilita a inserção de fio no diâmetro máximo de 0,22” × 0,16”, pois funciona como um ribbon arch, ou arco em forma
de fita, cuja inserção é vertical.
Braquetes linguais Forestadent 2D® montados em modelos de acrílico.
Por não ter um slot  tradicional, o braquete tem uma espessura média de 1,2 mm quando está totalmente fechado e 1,4
mm quando está com as aletas semiabertas. Essa espessura reduzida permite que o fio fique posicionado quase tangente à
superfície  lingual.6,7  Sua  base  bastante  retentiva  tem  0,4  mm  de  espessura  e  foi  criada  de  modo  a  possibilitar  que  o
posicionamento  do  braquete  seja  feito  quase  na  altura  do  cíngulo  dos  dentes  anteriores,  ou  seja,  sobre  o  centro  de
resistência.
Essas  características,  aliadas  ao  uso  de  fios  redondos  e  retangulares  e  ao  posicionamento  correto  do  braquete,
compensam as diferentes espessuras vestibulolinguais, normais nos dentes anteriores, principalmente no arco superior.6­9
Os  braquetes  2D®  possuem  ganchos  para  inserção  de  elásticos  em  cadeia,  bastante  utilizados  no  sistema.  As  aletas
podem ser abertas, uma de cada vez, por deformação mecânica, com uma espátula tipo Haideman, com formato bem afilado
na  ponta,  o  que  possibilita  inserção  e  remoção  do  fio  na  canaleta  ou  com  um  instrumento  semelhante  denominado
explorador lingual, desenvolvido pela Forestadent® (Figura 2.3). As aletas dos braquetes também podem ser abertas uma a
Figura 2.3
uma  com  um  alicate  manufaturado  de  pontas  extremamente  finas,  criado  especificamente  para  este  fim,  como  ilustra  a
Figura 2.4.
Para o fechamento do braquete, utiliza­se um alicate Weingart e recomenda­se fechar somente uma das aletas por vez,
para  evitar  a  descolagem. Essas  aletas  são  soldadas  a  laser  na  base  do  braquete,  e  o material  é  preparado  para  suportar
cerca  de  20  a  30  movimentos  de  abertura  e  fechamento.  A  fim  de  proteger  o  esmalte  na  face  vestibular  dos  dentes,
recomenda­se posicionar um rolete de algodão ou colocar uma capa de proteção plástica na ponta do alicate, que deve ser
usado contra a superfície vestibular dos dentes para evitar que o alicate escape (Figura 2.5).
| Características do arco lingual do Sistema Lingual 2D®
Os arcos normalmente utilizados no Sistema Lingual 2D® são os arcos Titanol®  superelástico (Forestadent®), encontrados
nas espessuras  .010”,  .012”,  .014”,  .016”  .0,22” ×  .0,16” para a maxila e para a mandíbula (Figura 2.6). Esses arcos são
pré­curvados de canino a canino, o que possibilita a  inserção de uma dobra de 1a ordem entre o canino e o primeiro pré­
molar,  formando  o  típico  arco  em  forma  de  cogumelo.10  Para  adicionar  dobras  de  1a  ou  2a  ordem  ao  arco  pré­formado,
acentua­se a dobra do fio durante a fase martensítica (fase fria); assim, quando o fio é levemente aquecido em uma chama
(até  aproximadamente  60  a  70°C),  recupera  sua  fase  austenítica,  e  o  formato  ideal  da  dobra  pode  ser  verificado.  Esse
método é um procedimento rápido e muito fácil que requer apenas alguns minutos.4 Porém, caso o operador deseje realizar
dobras mais precisas, estas podem ser feitas utilizando­se máquinas elétricas específicas para este fim, como por exemplo a
Memory Maker (Forestadent®).
Explorador lingual usado para abertura das aletas.
Figura 2.4
Figura 2.5
Alicate lingual usado para abertura das aletas.
Alicate Weingart usado para o fechamento.Figura 2.6
Figura 2.7
Arcos Titanol®.
Podem ser utilizados também os arcos Biolingual®, fabricados com a forma de cogumelo em seis tamanhos diferentes e
quatro espessuras: .010”, .012”, .014” e .016” (Figura 2.7). Existe um template para selecionar o tamanho correto do arco
Biolingual®, que também possibilita orientar a confecção de dobras no arco Titanol® superelástico (Figura 2.8).
Os arcos possibilitam a aplicação de  forças  leves aos dentes, principalmente durante as primeiras  fases de  tratamento
(nivelamento e alinhamento).6,7
Arcos Biolingual®.
Figura 2.8 Template para seleção do tamanho correto do arco.
Técnica de montagem simplificada
Como mencionado  anteriormente,  é  possível  fazer  a  montagem  do  aparelho  lingual  de  diversas  maneiras,  mas  existe  a
possibilidade de realizar a montagem dos braquetes de forma mais simplificada.
O  Sistema  Lingual  2D®  possibilita  a  montagem  simplificada,2,7,11,12  ou  seja,  a  colagem  pode  ser  feita  de  maneira
direta sobre a superfície do esmalte. Essa técnica é conhecida como técnica lingual simplificada, easy technique ou Insubria
system® lingual technique, em que são utilizados os braquetes 2D®, desenvolvidos pela Forestadent®.4,13
A técnica será descrita na íntegra e ilustrada no caso clínico 1 (adiante); porém, ela pode ser modificada, isto é, existe a
possibilidade  de  se  fazer  a montagem de maneira  indireta  em modelos  de  trabalho,  o  que  também não  deixa  de  ser  uma
técnica simplificada, uma vez que não utiliza máquinas ou ferramentas específicas,  tampouco modelos em setup. A forma
de montagem simplificada indireta será ilustrada no caso clínico 2 (adiante).
| Colagem direta do braquete lingual 2D®
O Sistema Lingual  2D®  não  requer  qualquer  preparação  prévia  em  laboratório. Com  um  pouco  de  prática  e  experiência,
todas  as  etapas  do  tratamento  podem  ser  realizadas  de maneira  bastante  semelhante  ao  procedimento  clínico  de  colagem
convencional de braquetes vestibulares.7,12 Para colocação do braquete, é necessário abrir ligeiramente as aletas e, com uma
pinça convencional, mantê­lo firme para o seu correto posicionamento (Figura 2.9).
Para uma boa colagem, é necessário observar o preparo da superfície do dente, o desenho da base do braquete e o agente
de  colagem.  Os  passos  que  envolvem  a  colagem  direta  na  técnica  lingual  são:  profilaxia,  condicionamento  do  esmalte,
aplicação do sistema adesivo, colagem e polimerização com luz, quando utilizada uma resina fotopolimerizável.
Figura 2.9
Figura 2.10
Pinça clínica posicionando o braquete 2D® com as aletas abertas.
Antes da colagem dos braquetes, é essencial  remover qualquer  irregularidade na superfície dos dentes, como cíngulos
muito pronunciados (Figura 2.10), além da película orgânica (biofilme) que cobre todos os dentes. Isso pode ser feito com
uma  mistura  de  água  e  pedra­pomes,  ou  pasta  profilática  com  uma  taça  de  borracha  ou  escova  de  Robson  com  baixa
rotação.  Em  seguida,  deve­se  lavar  e  secar  com  jato  de  água  e  ar.  Para  esse  procedimento,  recomenda­se  o  uso  de
afastadores de bochecha e língua, como abridor de Nola, sugador e rolos de algodão ou gaze (Figura 2.11).
O  condicionamento  ácido  é  realizado  cobrindo­se  completamente  a  superfície  do  esmalte  com  ácido  ortofosfórico  a
37%,  por  aproximadamente  30  segundos,  a  fim  de  que  se  criem  irregularidades  na  superfície  do  esmalte  (Figura 2.12).
Após  esse  procedimento,  faz­se  necessária  a  lavagem  e  secagem  com  jato  de  água  e  ar,  para  que  a  superfície  fique
completamente seca e para se obter uma aparência esbranquiçada (Figura 2.13).
Preparo da boca para a colagem dos braquetes.
Figura 2.11
Figura 2.12
Figura 2.13
Isolamento relativo.
Condicionamento ácido.
Superfície esbranquiçada do esmalte.
Figura 2.14
Para  o  selamento  da  superfície,  é  aplicado  adesivo  (primer/bond)  com  um  pincel,  ou  microbrush,  com  um  único
movimento  gengivoincisal  sobre  cada  dente.  O  adesivo  penetra  nas  irregularidades  criadas  na  superfície  do  esmalte  já
condicionado pelo ácido, permitindo que o material de colagem se una à superfície do dente mecanicamente (Figura 2.14).
Depois da aplicação de uma  fina camada de adesivo sobre o dente  (single bond universal  3M ESPE), deve­se aplicar
também  uma  pequena  quantidade  de  adesivo  na  base  do  braquete,  que  deve  ser  pressionada  sobre  o  esmalte  na  posição
correta. O sistema adesivo pode ser quimicamente ativado ou fotopolimerizado, e o material deve ter viscosidade suficiente
para  que  braquetes  colados  não  se  movam  da  posição  durante  a  colagem.  As  resinas  fotopolimerizadas  podem  ser
preferencialmente a Transbond® XT (Unitek/3M, Monrovia, Califórnia, EUA) ou a Kurasper F (Kuraray, Japão).
O  procedimento  de  colagem  dos  braquetes  consiste  em:  transferir,  posicionar,  ajustar,  remover  excessos  e
fotopolimerizar.  Quando  o  excesso  de  adesivo  é  cuidadosamente  removido  e  uma  boa  higiene  é mantida,  a  condição  da
gengiva não é afetada pela colagem por técnica lingual. Por outro lado, se um excesso de adesivo ficar próximo à margem
gengival, poderá causar inflamação na gengiva e até descalcificações ao redor da base do braquete. A colagem direta é mais
fácil e mais rápida (principalmente se forem poucos os dentes a serem colados).
No arco inferior, a colagem direta é feita por meio de marcação com um calibrador específico posicionado na superfície
incisal  do  dente,  que  definirá  a  altura  da  posição  desejada  para  fixação  do  braquete  (Figura 2.15).  O  fabricante  também
desenvolveu uma pinça para fixação dos braquetes de modo a facilitar a colagem, a qual pode ser encontrada nos tamanhos
3, 4 e 5 mm (Figura 2.16). No arco superior, devido a anatomia mais complexa e visibilidade limitada, sugere­se o uso de
uma moldeira confeccionada por meio de máquina a vácuo, que servirá como guia para o posicionamento dos braquetes. No
arco superior, a colagem direta é feita com auxílio de uma guia de acetato (Figura 2.17).
Selamento da superfície do esmalte.
Figura 2.15
Figura 2.16
Calibrador (A) e marcação de altura no esmalte (B).
Descrição do caso clínico 1
A  paciente  C.S.G.,  de  31  anos,  leucoderma,  padrão  I  facial,  mesofacial,  levemente  assimétrica,  apresentava  classe  I,
apinhamentos importantes na maxila e na mandíbula, ausência de guia anterior e em lateralidade direita e esquerda (Figura
2.18).  A  queixa  principal  da  paciente  era  o  apinhamento  anterior.  Ela  desejava  corrigir  a  má  oclusão  por  meio  de  um
tratamento ortodôntico estético, por isso foi proposto o tratamento lingual.
Foi escolhido o Sistema Lingual 2D® (Insubria system® lingual technique),4,13 que preconiza a colagem do arco maxilar
com auxílio de uma guia de acetato (ver Figura 2.17) e na mandíbula por meio de um calibrador (ver Figura 2.15 A).
Pinça para fixação (A) e posicionamento dos braquetes (B).
Figura 2.17 Guia de acetato.
Figura 2.18 Fotos intraorais iniciais do caso clínico 1.
Primeiramente,  foi  realizada  a moldagem  do  arco maxilar  (Figura 2.19)  –  que  pode  ser  com material  de moldagem,
como  silicone de  adição ou de  condensação –,  para  então  se obter  um modelo  em gesso  especial  no qual  serão  feitos  os
traçados com o calibrador (Figura 2.20). Em seguida, uma lapiseira é utilizada para definir o longo eixo dos dentes (Figura
2.21).
Outra moldagem  em  alginato  é  feita  com  fins  de  se  obter  um modelo  em  gesso  pedra  para  a  confecção  da  placa  de
acetato  de  1,0 mm  por meio  de  uma  plastificadora  (Figura 2.22).  Subsequentemente,  com  um  disco  de  carburundum,  a
placa é  separada do modelo em gesso, para então  ser dado o acabamento para obtenção da guia de acetato  (Figura 2.23).
Marcações  são  feitas  com caneta marcadora  de  fio  nas  cores  vermelha  e  azul,  orientando  a  colagem naboca  do  paciente
(Figura  2.24).  A  guia  deve  ser  provada  no modelo  em  gesso  especial,  a  fim  de  ser  checada  a  compatibilidade  entre  as
marcações da moldeira e do modelo previamente desenhadas, assim como o braquete lingual 2D® (Figura 2.25).
Figura 2.19
Figura 2.20
Molde do arco maxilar em silicone de adição feita em um único ato.
Modelo em gesso com traçado do calibrador.
Figura 2.21
Figura 2.22
Modelo em gesso com traçado do longo eixo dos dentes.
Modelo em gesso pedra para confecção da guia de acetato.
Figura 2.23 A. Cortes com disco de carburundum. B. Acabamento da guia com brocas multilaminadas. C. Acabamento da guia
com escovas (DHpro).
Para realizar a colagem direta na boca, deve­se proceder da mesma maneira descrita anteriormente, utilizando­se ácido
fosfórico a 37% e sistema adesivo. É necessário checar na boca a adaptação da guia (Figura 2.26). Feito isso, procede­se à
colagem dos  braquetes,  dente  a  dente,  com  auxílio  de  uma pinça  clínica  (Figura 2.27)  até  completar  todo  o  arco  (Figura
2.28).  Após  a  remoção  da  guia,  pode  ser  iniciado  o  nivelamento  dental  com  a  colocação  do  primeiro  arco  selecionado
(Figura  2.29 A).  No  arco  inferior,  a  colagem  foi  feita  com  auxílio  do  calibrador  (Figura  2.29  B).  O  resultado  final  do
tratamento pode ser visto na Figura 2.30, e as guias dos movimentos mandibulares anterior (protrusivo) e de lateralidades
direita e esquerda estão demonstradas na Figura 2.31).
Figura 2.24 Guia de acetato finalizada com as marcas.
Figura 2.25 Guia de acetato com as marcas (A) e checagem da guia no modelo (B).
Figura 2.26
Figura 2.27
Checagem da guia na boca.
Colagem com pinça clínica.
Figura 2.28
Figura 2.29
Final da colagem dos braquetes.
Início do nivelamento na maxila (A) e na mandíbula (B).
Figura 2.30 Resultado final.
Figura 2.31 Guias anterior e de lateralidades direita e esquerda.
| Colagem indireta do braquete lingual 2D®
A técnica de colagem indireta foi desenvolvida para melhorar a precisão na colagem dos braquetes e é feita em modelos de
gesso  que  reproduzem  a  boca  do  paciente.14,15  Sabe­se  que  a  colagem  indireta  requer  um  pouco  mais  de  tempo  em
laboratório, mas o tempo de cadeira e o desconforto do paciente são diminuídos.16 Um estudo clínico randomizado mostrou
não haver diferenças estatísticas entre a precisão de colagem da técnica direta e a da indireta.17 Desse modo, com base em
estudos para a técnica vestibular, será descrita a colagem indireta para a técnica lingual com o braquete 2D®.
Tanto na técnica vestibular como na técnica lingual os procedimentos iniciais são os mesmos com relação à moldagem,
isto é, preconiza­se que seja obtido um modelo de trabalho por meio de um bom material de moldagem tipo silicone.18 Seja
este de condensação ou de adição, ambos reproduzem com fidelidade o objeto moldado (no caso, a boca do paciente), mas o
último tem propriedades que ajudam a manter estável o molde por até 15 dias. Recomenda­se que o modelo seja obtido com
gesso especial.
Depois de obtido o modelo de trabalho da má oclusão, deve­se marcar com uma lapiseira de ponta fina o longo eixo da
coroa  clínica,  a  margem  oclusal  e  a  posição  do  braquete.  Com  auxílio  do  calibrador,  deve­se  delimitar  a  marcação  dos
dentes anteriores,7,12 definindo 3,3 mm para os dentes  inferiores e 3,5 mm para os superiores. Como média (e  isso pode
depender  do  caso  e  da  má  oclusão),  sugere­se  utilizar  3,5  mm  para  os  caninos  inferiores  e  3,0  mm  para  os  incisivos
inferiores (centrais e laterais). Para os dentes superiores, recomendam­se 4,0 mm para os incisivos centrais; 3,5 mm para
os  incisivos  laterais;  e  4,0 mm  para  os  caninos,  podendo  também  sofrer  variações  dependendo  do  tamanho  da  ponta  de
cúspide dos mesmos (Figura 2.32).
Em  seguida,  deve­se  isolar  o  modelo  com  um  isolante  tipo Cel­lak  e  aguardar  a  secagem.  Os  braquetes  podem  ser
posicionados  no modelo,  com  resina  fotopolimerizável. A  resina  composta  convencional  ou  na  versão  flow  recomendada
será sempre da mesma marca da resina a ser utilizada posteriormente na colagem na boca do paciente, no caso Transbond®
XT  (Unitek/3M,  Monrovia,  Califórnia,  EUA).  Após  a  fotopolimerização  dos  braquetes  no  modelo  de  gesso,  deve  ser
confeccionada uma moldeira de transferência para migrar esses braquetes para a boca do paciente, a qual pode ser feita de
silicone, opaca7,12  (Figura 2.33)  ou  transparente7  (Figura  2.34),  em máquina  a  vácuo  (soft)7,12  (Figura  2.35)  ou  de  cola
quente15 (Figura 2.36).
Depois de removida a moldeira do modelo em gesso, as bases de resina dos braquetes devem ser limpas com acetona.7
Os dentes do paciente devem estar preparados, assim como no procedimento de colagem direta. Recomenda­se não colocar
muita quantidade de resina para evitar excessos quando da remoção da moldeira7 (Figura 2.37).
Figura 2.32
Figura 2.33
Independentemente do  tipo de colagem, direta ou  indireta,  é necessário observar qual é o  tipo de  superfície em que o
braquete será colado.
Quando  a  superfície  for  o  esmalte,  a  sequência  do  preparo  da  superfície  dental  será  a  mesma,  tanto  na  técnica  de
colagem direta como na indireta. O mesmo pode ser dito se o dente a ser colado apresentar alguma superfície restaurada em
resina composta ou estiver recoberto por uma coroa provisória confeccionada em resina acrílica, caso em que se recomenda
fazer  pequenas  ranhuras  nas  superfícies  com brocas  diamantadas,  a  fim de  se  conseguir  uma  retenção mecânica  entre  os
materiais.  Porém,  se  o  paciente  apresentar  outras  superfícies  diferentes,  como  coroas  de  porcelana  e/ou metálicas,  serão
necessárias algumas pequenas alterações nesse preparo.
Montagem dos braquetes no modelo de gesso especial.
Moldeira de silicone opaca.
Figura 2.34
Figura 2.35
Moldeira de silicone transparente.
Moldeira soft.
Figura 2.36
Figura 2.37
Moldeira em cola quente.
Procedimento de colagem (A) e fotopolimerizador (B).
Nas superfícies metálicas será necessário fazer o  jateamento com óxido de alumínio (Microetch®)  previamente  ao uso
do primer, que, nesse caso, poderá ser o Metal Primer (Reliance®), e esperar 30 s.19 Também poderá ser usado um sistema
adesivo universal como o Single Bond Universal (3M ESPE); em seguida, continua a colagem do braquete com a mesma
resina utilizada para a colagem no esmalte.
Quando  a  superfície  for  de  porcelana,  em  coroas  ou  onlays  de  cerâmica  deve­se  também  utilizar  o  jato  de  óxido  de
alumínio; depois de  lavar e secar,  será necessário o condicionamento da superfície de porcelana,  feito com a aplicação do
ácido fluorídrico a 10% (Dentsply®), que deve atuar por 3 minutos.19 Porém, esse tempo pode ser menor de acordo com o
tipo de porcelana utilizada na restauração protética. A remoção deve ser feita com uma pequena bolinha de algodão e spray
de água para evitar lesões na gengiva.19 Depois de secar a superfície cerâmica previamente condicionada, deve ser aplicado
o Silano primer/ativador (Dentsply®)  por  1 min  para  transformar  a  superfície  de  porcelana  de modo  a  tornar  possível  a
adesão às resinas compostas. Os passos seguintes são a aplicação do sistema adesivo (Single Bond Universal 3M ESPE), a
fotopolimerização  e  o  posicionamento  do  braquete  com  resina  tipo  Transbond®  XT  (Unitek/3M,  Monrovia,  Califórnia,
EUA), como na sequência para a colagem em superfície de esmalte (Figura 2.38).
Descrição do caso clínico 2
A paciente F.V.B., de 33 anos, leucoderma, padrão II facial, dolicofacial, simétrico, apresentava classe I, apinhamentos na
maxila  e  na  mandíbula,  com  os  dentes  24,  25  e  26  cruzados  e  giroversão  nos  dentes  13  e  35  (Figura  2.39).  A  queixa
principal do paciente era o apinhamento anterior, superior e inferior. Ele desejava utilizar um aparelho ortodôntico estético;
assim, foi proposto oSistema 2D®.
Figura 2.38 A. Jato de óxido de alumínio. B. Aplicação de ácido  fluorídrico a 10% na superfície da coroa de porcelana. C.
Aplicação  de  Silano  com  microbrush.  D.  Aplicação  com  pincel  da  resina  líquida  (primer/bond).  E.
Fotopolimerização.
Figura 2.39 Fotos intraorais iniciais do caso clínico 2.
Primeiramente,  foi  realizada  a  moldagem  do  arco  maxilar  e  mandibular  com  silicone  de  adição  ELITE®  H­D
(Zhermack) (Figura 2.40), para então se obterem os modelos em gesso especial, nos quais foram feitos os traçados com a
lapiseira e o calibrador. Em seguida foi aplicado o isolante tipo Cel­lak. Depois de seco, foi feita a montagem do aparelho
lingual com a resina Flowable Restorative (3M ESPE Filtek® Z350XT) (Figura 2.41).
Figura 2.40
Figura 2.41
Molde em silicone de adição feito em dois atos, da maxila (A) e da mandíbula (B).
Para a montagem dos braquetes nos modelos da maxila e da mandíbula, foi confeccionada a moldeira de  transferência
em  silicone  transparente  (Vinyl  Polysiloxane) Memosil®  2  (Heraeus Kulzer GmbH),  e,  após  a  remoção  da moldeira  dos
modelos, verificou­se que os braquetes ficaram retidos na moldeira de transferência para posterior colagem indireta (Figura
2.42).
Iniciamos a sequência de fios para nivelamento e alinhamento com Titanol®.012” (Figura 2.43); depois, Titanol®.014”
(Figuras 2.44) e TMA.016” no arco maxilar, com dobras de finalização, e Titanol®.016” no arco mandibular (Figura 2.45).
O caso finalizado pode ser visto na Figura 2.46.
Braquetes montados em modelo de gesso especial.
Figura 2.42
Figura 2.43
Figura 2.44
Figura 2.45
Moldeira transparente Memosil® 2. No verso, os braquetes retidos no material.
Fase inicial de nivelamento e alinhamento no arco maxilar (A) e mandibular (B).
Fase intermediária do tratamento.
Fase final do tratamento.
Figura 2.46 Resultado final.
Tipos de braquetes 2D®
Como  existem  vários  modelos  de  braquetes  2D®,  para  a  melhor  compreensão  da  técnica,  é  importante  conhecermos  as
ferramentas  com  que  iremos  trabalhar;  por  isso,  serão  descritos  detalhadamente  cada  um  dos  modelos,  com  intuito  de
mostrar as pequenas diferenças existentes entre eles.7,12
Primeiramente, com relação à base dos braquetes, já foi mencionado que ela é bastante retentiva e soldada. Entretanto,
ela  pode  variar  de  tamanho  conforme  o  braquete;  logo,  pode  haver  braquetes  com  bases  quadradas,  retangulares  e
triangulares,  como  ilustram as Figuras 2.47 a 2.49,  respectivamente. Ao descrevermos cada braquete,  essa diferença  será
observada (Tabela 2.1).20
Figura 2.47
Figura 2.48
Figura 2.49
Tabela 2.1
Base quadrada.
Base retangular.
Base triangular.
Tipos de braquetes 2D®.
Médio Tem uma base quadrada e duas aletas ou duas asas, como também é conhecido (Figura 2.50)
Médio com gancho gengival Também tem a base quadrada, mas possui três aletas ou três asas, e uma delas representa o gancho (Figura 2.51)
Grande ou largo Tem uma base retangular com duas aletas; portanto, difere do anterior por ter a base mais larga (Figura 2.52)
Grande ou largo com gancho Também tem a base retangular; porém, possui três aletas ou três asas, e uma delas representa o gancho (Figura 2.53)
Figura 2.50
Figura 2.51
Figura 2.52
Simples Tem a base triangular e possui uma só aleta posicionada na parte central (Figura 2.54)
Médio com gancho em T Possui uma base quadrada e duas aletas e um gancho com a forma da letra T (Figura 2.55)
2D® Plus sem gancho gengival Tem uma base quadrada e duas aletas �exíveis, que permitem a abertura e o fechamento. Porém, entre elas foi adicionada
uma haste central rígida com a �nalidade de possibilitar o torque individual, isto é, em um único dente quando da inserção
de �os retangulares (Figura 2.56)
2D® Plus com gancho gengival É semelhante ao anterior, mas a haste central rígida é prolongada com o intuito de criar um gancho (Figura 2.57)
2D® Plus grande ou largo com gancho Recentemente lançado e semelhante aos dois anteriores, este braquete tem uma base retangular com duas aletas e
também a haste central rígida prolongada, que serve como um gancho (Figura 2.58)
Mini Ants É um braquete que tem a base triangular com duas aletas. É semelhante ao braquete simples, mas as duas aletas foram
posicionadas de modo que �cassem juntas, isto é, uma ao lado da outra (Figura 2.59)
Mini Ants com gancho longo É semelhante ao anterior, mas uma das aletas é maior, isto é, foi prolongada de maneira a servir como um gancho (Figura
2.60)
Tubos molares São extremamente planos, o que proporciona excelente conforto. Na parte inferior e mesial de cada tubo está posicionado
um minúsculo gancho (Figura 2.61)
Braquete 2D
®
 médio.
Braquete 2D
®
 médio com gancho gengival.
Braquete 2D
®
 grande ou largo.
Figura 2.53
Figura 2.54
Figura 2.55
Figura 2.56
Braquete 2D
®
 grande ou largo com gancho.
Braquete 2D
®
 simples.
Braquete 2D
®
 médio com gancho em T.
Braquete 2D
®
 Plus sem gancho gengival.
Figura 2.57
Figura 2.58
Figura 2.59
Figura 2.60
Figura 2.61
Braquete 2D
®
 Plus com gancho gengival.
Braquete 2D
®
 Plus grande ou largo com haste central rígida (gancho).
Mini Ants.
Mini Ants com gancho longo.
Tubo molar.
Indicações e aplicações clínicas do braquete 2D®
•
•
•
•
•
•
•
•
Figura 2.62
Figura 2.63
O Sistema Lingual 2D® é bastante versátil, pois permite a montagem parcial,  tanto na maxila quanto na mandíbula. Desse
modo, é possível tratar a má oclusão somente onde o problema está instalado, como nos casos de apinhamentos terciários,
que é uma queixa comum no consultório odontológico.7
A seguir, serão abordadas especificamente as indicações e aplicações clínicas do Sistema Lingual 2D®,  ilustradas com
exemplos clínicos.
| Indicações do sistema lingual 2D®
Este sistema é indicado nos seguintes casos:
Apinhamentos dentários, particularmente no arco inferior, e apinhamentos terciários (Figura 2.62)
Casos em que é necessário fechamento de pequenos espaços ou diastemas7 (Figura 2.63)
Pacientes que necessitam da correção de mordida profunda7 (Figura 2.64)
Alinhamento  de  caninos  ectópicos  e/ou  impactados,  assim  como  em  dentes  mal  posicionados  (Figura  2.65),  mesmo
quando se trata da técnica ortodôntica vestibular, em que alguns dentes podem ser mais bem posicionados ou tracionados
com a utilização de um acessório por lingual (como no caso do braquete 2D®), possibilitando que a força aplicada atue de
forma mais próxima ao CR do dente21
Correção de mordida cruzada anterior (Figuras 2.66) e posterior (Figura 2.67)
Preparo  ortodôntico  para  cirurgia  ortognática  (esses  casos  serão  abordados  especificamente  no Capítulo 5, Ortodontia
Lingual nas Cirurgias Ortognáticas)
Quando se faz necessária a exodontia de um incisivo inferior (Figura 2.68)
Quando  se  deseja manter  os  braquetes  após  a  finalização  do  tratamento  ortodôntico,  permitindo  que  eles  permaneçam
como contenção, inclusive e principalmente nos casos em que existam problemas periodontais (Figura 2.69).
Casos com apinhamentos inferiores.
Caso com diastemas.
Figura 2.64
Figura 2.65
Figura 2.66
Caso com mordida profunda.
Dente mal posicionado.
Mordida cruzada anterior.
Figura 2.67
Figura 2.68
Figura 2.69
Mordida cruzada posterior.
Exodontia de um incisivo inferior.
Contenção.
Por fim, quando está indicada a exodontia de dois ou quatro pré­molares para a correção de má oclusão, pode ser usado
o sistema com parcimônia: nos casos em que os  incisivos  superiores estiverem muito vestibularizados, pode ser usado o
braquete 2D® plus com auxílio de miniparafusos, miniplacas e/ou elásticos  intermaxilares; nos casos em que os  incisivos
superiores estiverem muito lingualizados, ou seja, quando é necessário maior torque anterior, recomenda­se a utilização do
braquete 3D® (Capítulos 3 e 4).
| Aplicação do sistema lingual 2D®
Figura 2.70
Figura 2.71
Figura 2.72
Como o sistema é versátil e tem indicação principalmente para pacientesadultos, a técnica permite que a montagem também
seja feita de maneira parcial, isto é, em partes, onde se localiza o problema da má oclusão ou onde está a queixa principal
do paciente.7
Desse modo, pode­se aplicar a técnica nos casos de apinhamentos anteriores somente de canino a canino, tanto no arco
superior como no  inferior.  Isso é conhecido como  técnica  social six,  pois  compreende  somente os  seis dentes  anteriores1
(Figura 2.70) e é utilizada para casos mais  simples, em que o apinhamento esteja  localizado na  região dos  incisivos e os
caninos estejam com uma relação de classe I de Angle.
Quando houver necessidade de abranger mais dentes, os braquetes podem ser posicionados até os primeiros pré­molares
de um arco ou de  ambos  (Figura 2.71),  o que pode  ser  considerado uma extensão da  técnica  social  six.  Isso porque,  em
certos casos, além da necessidade de correção da inclinação ou do giro dos caninos, é preciso maior controle do caso, pois a
colagem somente até os caninos pode causar um giro indesejado nas distais desses dentes.
O mesmo ocorre se houver necessidade de alcançar os segundos pré­molares de um ou dos dois arcos,7 pois estes, além
de auxiliarem no controle da mecânica, também podem estar girados e precisar de correção (Figuras 2.72).
Nos  casos  em  que  o  tratamento  for  completo,  pode­se  fazer  a  colagem  até  os  primeiros molares  superior  e  inferior
(Figura 2.73), ou mesmo até os segundos molares.7 Contudo, isso dependerá da necessidade de correção, da má oclusão ou
do  padrão  facial  do  paciente  em  tratamento  (Figura  2.74),  e  também  quando  o  caso  envolver  extrações  de  pré­molares
(Figuras 2.75).
Técnica social six.
Braquetes posicionados até os primeiros pré­molares.
Braquetes posicionados até os segundos pré­molares.
Figura 2.73
Figura 2.74
Figura 2.75
Braquetes posicionados até os primeiros molares.
Braquetes posicionados até os segundos molares.
Extrações de pré­molares e uso de mini­implantes na fase inicial de retração.
Otimização do braquete lingual 2D®
Como existem vários tipos de braquetes 2D®, pretende­se, aqui, demonstrar como otimizar a utilização deles7,12,20 e, desse
modo, aproveitar ao máximo mais uma ferramenta para o tratamento ortodôntico lingual com a técnica simplificada.11
Figura 2.76
Figura 2.77
Mesmo  sabendo­se  que  o  braquete  lingual  2D®  pode  ser  usado  em  todos  os  dentes,  existem  situações  em  que  a  sua
utilização pode ser mais bem aproveitada. Sendo assim, seu emprego será demonstrado, por meio de exemplos clínicos.
| Médio
Este braquete pode ser utilizado em todos os dentes, mas, por não apresentar um gancho e ter uma base quadrada, o ideal é
posicioná­lo  nos  casos  em que  a  coroa  clínica  é muito  curta,  como nos  dentes  pré­molares  inferiores,  em que  a  cúspide
lingual é bastante pequena (Figura 2.76).
| Médio com gancho gengival
O braquete médio com gancho gengival também é conhecido como braquete padrão, por ser um dos mais usados. Ele pode
ser utilizado em  todos os dentes e  também permite a utilização de elásticos em cadeia em um ou mais dentes do sistema
(Figura 2.77).
Braquete médio nos incisivos inferiores e pré­molares inferiores.
Braquete médio com gancho gengival e elástico em cadeia.
| Grande ou largo
É ideal para ser posicionado nos incisivos centrais maiores, isto é, quando a distância mesiodistal desses dentes for maior e
quando  precisarem  de  uma  grande  movimentação,  principalmente  nos  movimentos  que  envolvem  rotações  e  inclinações
(Figura  2.78).  Também  é  indicado  nos  primeiros  molares,  pois  se  pode  utilizá­lo  quando  se  usar  o  tubo  nos  segundos
molares (Figura 2.79).
| Grande ou largo com gancho
Sua utilização é semelhante à do anterior; porém, como este possui gancho, possibilita o uso de elásticos em cadeia caso
exista essa necessidade (Figura 2.80).
| Simples
Por ter uma base triangular e ser bem pequeno, é ideal que se utilize em dentes em que o espaço também é muito pequeno,
como  nos  casos  de  grande  apinhamento  anterior.  A  base  permite  certa  flexibilidade,  de modo  que  possa  ser  adaptada  à
superfície  dental  disponível  para  a  colagem  e,  assim,  possibilitar  que  o  fio  ortodôntico  passe  pela  aleta,  incluindo  o
elemento dental no sistema autoligado (Figura 2.81).
Figura 2.78
Figura 2.79
Figura 2.80
Braquete grande ou largo nos incisivos centrais superiores.
Braquete grande ou largo no primeiro molar.
Braquete grande ou largo nos incisivos centrais superiores com gancho.
Figura 2.81
Figura 2.82
Braquete simples no canino inferior com falta de espaço.
| Médio com gancho em T
O braquete médio com gancho em T também pode ser utilizado em todos os dentes e possibilita a utilização de elásticos em
cadeia.  Quando  se  faz  necessário  o  posicionamento  do  braquete  muito  próximo  à  região  cervical,  o  que  pode  causar
inflamação gengival,  o  gancho  em  forma de T permite  que  o  elástico  em cadeia  fique  um pouco mais  distante  da  região
gengival, minimizando a inflamação (Figura 2.82).
| 2D® Plus sem gancho gengival
Esse  braquete  tem  uma  base  quadrada  e  duas  aletas  flexíveis,  dentre  elas  uma  haste  central  rígida  com  a  finalidade  de
possibilitar o  torque  individual,  isto é, em um único dente quando da  inserção de  fios  retangulares. Essa haste permite o
torque individual quando o braquete é colocado somente em um dente do arco dental; porém, ele também pode ser utilizado
em grupo, quando se utiliza esse mesmo braquete em todos os dentes do arco (Figura 2.83).
| 2D® Plus com gancho gengival
As indicações são as mesmas das do 2D® Plus sem gancho; porém, como a haste central é prolongada e pode ser utilizada
como gancho, possibilita a colocação de elásticos em cadeia, necessários para a mecânica (Figura 2.84).
Braquete médio com gancho em T e elástico em cadeia.
Figura 2.83
Figura 2.84
Braquete 2D® Plus sem gancho gengival nos incisivos.
Braquete 2D® Plus com gancho.
| 2D® Plus grande ou largo com gancho
Como  ele  tem  a  base  retangular  e  a  haste  central  rígida,  que  também  é  alongada  para  poder  servir  como  gancho,  será
indicado quando  existir  necessidade de  torque nos  incisivos  centrais  superiores. Desse modo,  permite  que o profissional
possa escolher o braquete 2D® Plus com gancho com a base quadrada e/ou o 2D® Plus  com a base  retangular quando os
incisivos centrais forem muito grandes e necessitarem de torque. O gancho também é útil para a colocação de elásticos em
cadeia e quando há necessidade da colagem de tubos nos segundos molares (Figura 2.85).
| Mini Ants
Por ser um braquete com a base  triangular e duas aletas  juntas, está  indicado para ser utilizado nos  incisivos  inferiores e
laterais  superiores,  assim  como  em  caninos  inferiores  e  superiores  nos  casos  que  apresentem  grande  apinhamento.  A
vantagem em utilizá­lo, em relação ao braquete  simples de uma só aleta,  é o  fato de o Mini Ants  ter duas aletas e poder
permanecer por mais tempo no sistema, muitas vezes até o final do tratamento, sem a necessidade de ser substituído, como
no caso do braquete simples de uma só aleta (Figura 2.86).
Figura 2.85
Figura 2.86
Braquete 2D® Plus grande ou largo com gancho nos incisivos centrais e nos primeiros molares.
Mini Ants sem gancho no canino inferior (A) e Mini Ants sem gancho no canino superior (B).
| Mini Ants com gancho longo
Este braquete é semelhante ao descrito anteriormente, mas uma das aletas é maior. Ela foi prolongada de maneira a servir
como  um  gancho  e  possibilitar,  de  acordo  com  a  necessidade  da  mecânica,  a  utilização  de  elásticos  intermaxilares  e
elásticos em cadeia (Figura 2.87).
| Tubos molares
Serão  sempre  utilizados  quando  o  tratamento  necessitar  da  complementação  de  um  ou  mais  molares,  já  que  a  técnica
permite que a montagem possa ser feita de maneira parcial. O tubo é plano e, na sua parte inferior e mesial, foiposicionado
um pequeno gancho, o que permite a colocação de elásticos em cadeia (Figura 2.88).
  1.
  2.
  3.
  4.
  5.
  6.
  7.
  8.
  9.
10.
11.
12.
13.
Figura 2.87
Figura 2.88
Mini Ants com gancho longo em caninos inferiores.
Tubos nos primeiros (A) e segundos molares (B).
Considerações finais
Na  ortodontia  lingual  tradicional,  a montagem do  aparelho  lingual  é  feita  por meio  da  colagem  indireta,  necessitando  de
laboratório para a confecção de um setup ou de dispositivos específicos. Entretanto, com a utilização dos braquetes 2D®, é
possível realizar a montagem do aparelho lingual de maneira mais simplificada e com resultados satisfatórios. Mostramos a
viabilidade  do Sistema Lingual  2D®  em diversas  aplicações  clínicas  e  acreditamos  que,  independentemente  da  técnica  de
montagem escolhida, tanto a colagem direta como a indireta devem ser feitas com muito cuidado e precisão para a obtenção
do melhor resultado. A escolha depende única e exclusivamente do operador e de sua habilidade manual.
O conhecimento do braquete  e do  sistema utilizado  também é de  suma  importância para otimizar o  tratamento  com a
técnica lingual, principalmente quando a escolha for o Sistema Lingual 2D®, em que a montagem dos braquetes é feita de
modo mais simplificado, o que possibilita o uso de diferentes tipos de braquetes pré­fabricados.
Assim, quanto mais capacitado estiver o profissional da área de ortodontia, melhor será o tratamento oferecido ao seu
paciente.  O  conhecimento  de  diferentes  formas  e  técnicas  para  o  tratamento  ortodôntico  diferencia  o  ortodontista  dos
demais profissionais.
Referências bibliográficas
Kairalla SA, Cacciafesta V, Maltagliati LA et al. Ortodontia lingual: evolução da técnica e os braquetes autoligados. Rev
Clín Ortod Dental Press. 2011; 10(3):106­12.
Macchi A, Tagliabue A, Levrini L et al. Philippe self­ligating lingual brackets. J Clin Orthod. 2002; 36:42­5.
Tagliabue A, Levrini L, Macchi A. Attacchi linguali Philippe: considerazioni cliniche. Mondo Ortod. 2000; 25:187­92.
Macchi A, Norcini A, Cacciafesta V et al. The use of “bidimensional” brackets in lingual orthodontics: new horizons in the
treatment of adult patients. Orthodontics. 2004; 1:21­32.
Kairalla  SA,  Cacciafesta  V,  Benedicto  EN  et  al.  Formas  de  inserção,  fixação  e  remoção  do  arco  na  técnica  lingual.
Ortodontia SPO. 2011; 44(5):468­74.
Cacciafesta V, Kairalla SA. Mecânica  simplificada  em 2D. Ortodontia  lingual  – princípios  e  aplicações  clínicas. Rio de
Janeiro: Santos; 2013. p. 159­69.
Kairalla SA, Paranhos LR, Cacciafesta V. Ortodontia lingual com sistema 2D. Ortodontia SPO. 2012; 45(3):295­305.
Nidoli G, Lazzati M, Macchi A et al. Analisi clinico­statistica della morfologia dentale in rapporto al posizionamento dei
bracket linguali. Mondo Ortod. 1985; 10:45­53.
Kairalla SA, Cacciafesta V. Biomecânica  lingual  com o  sistema 2D.  In: Marigo M, Eto LF, Gimenez CMM. Ortodontia
lingual, uma alternativa incomparável para a terapia ortodôntica estética. Maringá: Dental Press; 2012. p. 414­29.
Fujita K. New orthodontic treatment with lingual bracket mushroom arch wire appliance. Am J Orthod. 1979; 76:657­75.
Carloni L, Cacciafesta V, Norcini A et al. Ortodonzia linguale semplificata. Speciale Ortodonzia Gen. 2005; 2(1):1­10.
Cacciafesta V, Kairalla SA. O uso de braquetes linguais 2D em ortodontia lingual. Ortodontia Dentistry. 2010; (7):13­7.
Kairalla  SA,  Cacciafesta  V,  Paranhos  LR. Montagem  de  aparelho  ortodôntico  lingual  na  arcada  dentária  superior  pela
Insubria system® lingual technique. Rev Clín Ortod Dental Press. 2012; 11(4):26­31.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
Rajagopal R, Venkatesan A, Gnanashanmugham K et al. A new indirect bonding technique. J Clin Orthod. 2004; 38:600­2.
Fortini A, Giuntoli F, Franchi L. A simplified indirect bonding technique. JCO. 2007; XLI(11):680­3.
Sondhi A. Efficient and effective indirect bonding. Am J Orthod. 1999; 115:352­9.
Hodge TM, Dhopatkar AA, Rock WP et al. A randomized clinical trial comparing the accuracy of direct versus indirect
bracket placement. J Orthod. 2004; 31:132­7.
Thurler RCCSB, Macedo A, Cotrim­Ferreira A. Colagem indireta na ortodontia lingual: Descrição do Sistema TMF Rev
Assoc Paul Cir Dent. 2008; 62(4):309­13.
Valdetaro H. Actualización clínica en cementado indirecto. Ortodoncia Clínica. 2001; 4(3):152­7.
Kairalla SA, Kairalla RA, Cacciafesta V. Otimização do braquete lingual 2D. Ortodontia SPO. 2014; 47(1):59­64.
Kairalla SA, Paranhos LR, Cacciafesta V. Considerações biomecânicas da ortodontia convencional, lingual e lingual com
sistema 2D. Rev Dental Press Ortodon. 2012; 11(3):98­108.
Introdução
Como  já mencionado  no Capítulo 1, Considerações Gerais  sobre Ortodontia  Lingual,  em  que  foi  abordado  o modo  de
montagem do aparelho  lingual,  existem diversas  formas de montagem, e, na  convencional,  a maioria utiliza o modelo de
setup, com colagem indireta.1
A maioria do braquetes linguais permite a inserção do arco ou fio de maneira horizontal,2 e existem vários sistemas que
atendem a montagem de braquetes pré­fabricados com esse tipo de inserção.3
Muitas  empresas  recomendam  seu  próprio  sistema de montagem utilizando  instrumentos  específicos. A Forestadent®
criou o braquete 3D®, que também tem um sistema próprio de montagem e que é específico para um braquete cuja inserção
do arco seja vertical.2,4
O Sistema Lingual 3D®  compreende um conjunto  formado por braquetes  autoligados  com  slot  retangular  de  inserção
vertical, hastes de metal utilizadas para fixação dos braquetes e uma plataforma metálica para a adaptação das hastes e dos
respectivos braquetes.
Características do braquete 3D®
O braquete 3D® é autoligado, como ilustra a Figura 3.1. Sua base é quadrada e fundida (Figura 3.2), isto é, está incorporada
ao corpo do braquete. Os braquetes têm uma numeração para a região anterior e outra para a região posterior (Figura 3.3), e
vêm  acondicionados  em  uma  pequena  caixa  (Figura  3.4).  O  slot  é  retangular,  o  que  possibilita  a  inserção  de  fios
retangulares .022” × .016”, já que a inserção desse no arco lingual se dá de maneira vertical. Por ser autoligado, o braquete
3D®  possui  duas  aletas,  e  o modo  de  abertura  e  de  fechamento  das mesmas  é  semelhante  ao  do  braquete  2D®,  sempre
realizado com uma aleta de cada vez.
Para os dentes anteriores (incisivos e caninos), os braquetes possuem torque de 45° (Figura 3.5) e podem ter gancho ou
não (Figura  3.6).  Para  os  dentes  posteriores  (pré­molares  e  molares),  o  torque  é  de  0°  (Figura  3.7),  e  são  encontradas
versões com e sem gancho (Figura 3.8).
Figura 3.1
Figura 3.2
Braquete 3D® autoligado.
Base fundida do braquete 3D®.
Figura 3.3
Figura 3.4
Numeração dos braquete 3D®.
Kit completo de braquetes 3D®.
Figura 3.5
Figura 3.6
Figura 3.7
Braquete 3D® para dentes anteriores.
Braquete 3D®para dentes anteriores com (A) e sem (B) gancho.
Braquete 3D® para dentes posteriores.
Figura 3.8
Figura 3.9
Braquete 3D® para dentes posteriores com (A) e sem gancho (B).
| Hastes metálicas
As  hastes  metálicas  são  os  suportes  metálicos  dos  braquetes  (Figura  3.9),  que  podem  ser  retos  para  os  dos  dentes
posteriores  (Figura  3.10)  e  angulados  para  os  dos  dentes  anteriores  (Figura  3.11).  São  utilizadas  para  manutenção  dos
braquetes em posição durante a montagem no modelo de setup.
Suporte metálico com o braquete 3D®.
Figura 3.10
Figura 3.11
Suporte metálico reto para braquetes de dentes posteriores.
Suporte metálico angulado para braquetes de dentes anteriores.
| Plataforma
Uma plataforma metálica foi criada pelo Dr. Dieter Petermann e desenvolvida pelo laboratório alemão Kieferorthopädisches
Labor Ortho­Station. Essa plataforma destina­se à adaptação das hastes e dos braquetes durante a montagem do aparelho.
Considerações sobre o braquete 3D®
Considerações sobre o braquete 3D®
A montagem de  aparelhoslinguais  sobre modelos  de  setup  já  foi  descrita  na  literatura  desde  o  início  da  implantação  da
ortodontia  lingual;1 mais  recentemente,  recebeu  foco  a montagem  preconizada  por  outros  autores,  como,  por  exemplo,  o
sistema Hiro.3 Entretanto, essas montagens eram destinadas a braquetes de  inserção horizontal, e a maioria deles não era
autoligada.2  Assim,  pelo  fato  de  os  braquetes  3D®  serem  autoligados  e  de  inserção  vertical,  não  era  possível  utilizar  as
técnicas de montagem já descritas na literatura.
Diante  disso,  foi  desenvolvido  o  Sistema  Lingual  3D®  com  base  no  trabalho  dos  autores Macchi  et  al.  (2002)4  Ele
possibilita a montagem convencional, isto é, sobre modelos de setup, de braquetes linguais autoligados tridimensionais de
inserção vertical, utilizando uma plataforma metálica e hastes específicas para a realização dessa montagem.
Sistema Kairalla
O Sistema Forestadent Lingual 3D® compreende o conjunto formado por braquetes autoligados tridimensionais com slot de
inserção vertical, mais as hastes de metal utilizadas para fixação dos mesmos durante a montagem no modelo de setup em
uma  plataforma  horizontal,  desenvolvida  especificamente  para  a  adaptação  das  hastes  e  dos  braquetes,  para  posterior
transferência.  O  Sistema  Kairalla5  baseou­se  em  trabalhos  dos  autores  Macchi  et  al.4  que  desenvolveram  o  braquete
Forestadent 3D®, e em outros descritos na literatura.1,3,6 Foi criado com o intuito de simplificar a técnica de montagem dos
braquetes  e  possibilitar  a  montagem  pelo  operador  sem  a  necessidade  de  aparatos  especiais.  Portanto,  é  um  sistema
específico para um braquete lingual autoligado tridimensional com slot de inserção vertical2 e objetiva facilitar a técnica.
| Descrição da técnica
Primeiramente,  realiza­se  a moldagem  da  arcada  dentária  da maxila  e  da mandíbula  com  silicone  de  adição,  por  ser  um
material que reproduz com maior fidelidade a anatomia dental (Figura 3.12). Depois de preenchidos os moldes com gesso
especial  e  obtidos  os  modelos  de  trabalho  em  gesso  especial  (Figura  3.13),  são  feitos  os  registros  do  paciente  para
montagem dos modelos em articulador semiajustável (Figura 3.14) e, assim, serem construídos modelos em setup a partir
dos modelos  de  trabalho  com  a má  oclusão7  (Figura 3.15).  Em  seguida,  são  confeccionados  arcos  retangulares  com  fio
.022” × .016” Betaflex (Forestadent®), um para o modelo da arcada superior e outro para o modelo inferior, respeitando o
formato  de  cogumelo,  ou mushroom8  (Figura  3.16).  Uma  alça  metálica  de  aço  com  secção  transversal  em  meia­cana  é
confeccionada sobre as cristas marginais dos dentes em três pontos (um anterior e dois posteriores), permitindo a inserção
do  fio  ao  modelo  em  um  mesmo  eixo  vertical  (Figura  3.17).  Os  braquetes  Forestadent  3D®  são  inseridos  nos  arcos
retangulares;  depois  de  certificar­se  de  que  todos  estão  devidamente  posicionados  na  face  lingual  de  seus  respectivos
dentes, inicia­se a montagem (Figura 3.18).
A montagem  inicia­se  pelo  arco  superior  posterior. No modelo  da  arcada  superior  (ver  Figura  3.15 A),  os  braquetes
foram  removidos  da  porção  anterior  (de  canino  a  canino),  sendo  mantidos  somente  aqueles  referentes  aos  dentes
posteriores. Essa divisão em duas partes para a montagem do arco superior foi definida pelo operador, que julgou ser mais
fácil, o que não impede que o processo seja feito de uma só vez.
Figura 3.12
Figura 3.13
Molde em silicone de adição da arcadas dentária (ELITE® H­D/Zhermack) da maxila (A) e  inferior da mandíbula
(B).
Modelo em gesso especial das arcadas dentárias superior (A) e inferior (B).
Os braquetes da região posterior são fixados ao modelo na sua porção inferior, utilizando resina acrílica quimicamente
ativada  de  baixa  contração  de  polimerização,  pela  técnica  de  Nealon9  (Figura  3.19)  e  pela  colocação  de  um  fio  de  aço
redondo .020” contornando a vertente palatina do modelo (Figura 3.20 A a C). Nota­se uma diferença entre as Figuras 3.20
B e C: na última, a montagem é feita com a colocação de elásticos, que normalmente são utilizados quando se trabalha com
a fixação de braquetes convencionais cujo slot é de inserção horizontal.2 Isso é feito somente com a intenção de proteger a
parte inferior do braquete da resina quimicamente ativada; porém, esse passo é opcional (Figura 3.20 A), pois não altera em
nada a forma de montagem. Caso o operador opte por esse modo de montagem, deve ter o cuidado de remover o elástico
com  uma  espátula  do  tipo  Lecron,  previamente  aquecida,  para  cortar  o  elástico,  a  fim  de  permitir  a  remoção  do  arco
retangular de inserção vertical de maneira cuidadosa, sem pressão ou deslocamento (Figura 3.21).
Figura 3.14 A. Registro oclusal em cera. B. Registro do arco facial no paciente. C. Modelo da arcada superior montado em
articulador semiajustável.
Figura 3.15
Figura 3.16
Figura 3.17
Modelo em setup  das arcadas dentárias superior  (A);  inferior  (B) e superior e  inferior montados em articulador
semiajustável (C).
Arcos retangulares .022” × .016” Betaflex: superior e inferior.
Alças metálicas de aço com formato de meia­cana.
Figura 3.18
Figura 3.19
Braquetes 3D® inseridos no arco retangular, no modelo de setup das arcadas dentárias superior (A) e inferior (B).
Pattern Resin LS (GC America Inc®) (A) e resina acrílica quimicamente ativada aplicada pela técnica de Nealon (B).
Figura 3.20
Figura 3.21
A. Início da aplicação da resina acrílica quimicamente ativada. B. Introdução do fio redondo de aço .020”. C. Arco
retangular e braquetes fixados com elásticos.
Espátula Lecron aquecida (A) e fio retangular sendo removido (B).
Desse modo, após a remoção do arco retangular, são introduzidas as hastes metálicas fornecidas pelo sistema, as quais
são  retas para os dentes posteriores e anguladas para os anteriores. As hastes  retas são  inseridas nos braquetes da  região
posterior e dobradas com alicates ortodônticos para adaptá­las às superfícies oclusal e vestibular dos dentes, como mostra a
Figura 3.22. Criam­se,  assim,  hastes  paralelas  que  são unidas  por  uma  “ponte”  em  resina  acrílica  quimicamente  ativada,
pela  técnica de Nealon9  (Figura 3.23),  a  fim de manter a  rigidez do  futuro casquete de  transferência desse braquete. Para
completar o casquete, utiliza­se um material  inócuo e mais  flexível, como a cola quente, para cobrir a porção de  resina e
facilitar o posicionamento no ato da colagem (Figura 3.24).
Após  a  finalização  dos  casquetes  de  transferência  da  região  posterior  do  modelo  superior,  é  feita  a  identificação
numérica e todo o conjunto pode ser removido para dar sequência à montagem da porção anterior (Figura 3.25). Assim, o
Figura 3.22
conjunto “arco  retangular, hastes metálicas e braquetes” é  reposicionado no modelo da arcada superior.  Inicia­se, então, a
montagem para fixação dos braquetes na região anterior, com resina acrílica quimicamente ativada, pela técnica de Nealon9
(ver  Figura  3.19)  e  com  um  fio  de  aço  redondo  .020”  contornando  a  vertente  palatina  do  modelo.  Remove­se  o  arco
retangular e procede­se à inserção das hastes metálicas anguladas no slot retangular dos braquetes anteriores, contornando­
os e adaptando­os sobre os dentes, e unindo as hastes com a resina acrílica quimicamente ativada, pela técnica de Nealon.9
Todo  o  procedimento  descrito  pode  ser  visualizado  pela  sequência  da  Figura  3.25.  Em  seguida,  os  casquetes  de
transferência são finalizados com uma cobertura de cola quente, numerados um a um; só então deve ser feita a remoção do
conjunto (Figura 3.26).
Inicia­se a montagem do arco inferior também pela parte posterior e, em seguida, a parte anterior. A Figura 3.27  ilustra
parte  da montagem  do  arco  inferior  posterior.  Depois  de  finalizados  os  casquetes  detransferência  dos  arcos  superior  e
inferior (Figura 3.28), procede­se à construção dos pads de resina composta.1
Para a confecção dos pads é  inserida uma pequena porção de resina composta fotopolimerizável sobre a base metálica
de cada braquete, que, por meio do casquete, é reposicionado no modelo de setup, onde os excessos de resina composta são
removidos com um explorador. Em seguida, é realizada a fotopolimerização (Figura 3.29).
O acabamento é dado com uma broca diamantada, e a limpeza é feita com um pequeno aplicador (microbrush) embebido
em acetona (Figura 3.30). Assim, cada conjunto (braquete individualizado + casquete de transferência) é posicionado sobre
o modelo  original  aguardando  o momento  da  colagem  (Figura  3.31).  Depois  de  feita  a  colagem  na  boca  do  paciente,  é
possível armazenar os casquetes de transferência sobre o modelo de má oclusão, e, eventualmente, em caso de descolagem
de algum braquete durante o tratamento, é possível refazer o pad para uma nova colagem (Figura 3.32).
Hastes metálicas inseridas no slot dos braquetes (A) e hastes metálicas adaptadas sobre os dentes (B).
Figura 3.24
Figura 3.23 “Pontes” de resina acrílica unindo as hastes metálicas.
A. Cola quente aplicada sobre as “pontes” de resina acrílica, cobrindo a superfície oclusal e parte da face vestibular
de cada dente. B. Casquete de transferência posterior.
Figura 3.25 A. Braquetes anteriores, alças metálicas e arco  retangular  inseridos no modelo da arcada dentária superior. B.
Braquetes  anteriores  fixados  na  parte  inferior.  C.  Arco  retangular  removido.  D.  Hastes  metálicas  anguladas
introduzidas no slot dos braquetes anteriores. E. Hastes metálicas dobradas e adaptadas sobre as incisais e a face vestibular dos
dentes anteriores. F. Resina acrílica unindo as hastes metálicas paralelas.
Figura 3.26 A. Aplicação de cola quente sobre as “pontes” de resina acrílica. B. Finalização dos casquetes de transferência
ainda com  fixação  inferior. C.  Finalização  dos  casquetes  de  transferência  após  remoção  da  fixação  inferior. D.
Casquete de transferência anterior. E. Numeração dos casquetes de transferência da arcada superior.
Figura 3.27
Figura 3.28
A. Fixação inferior dos Braquetes 3D® inseridos no arco retangular no modelo de setup da arcada dentária inferior.
B. Vista oclusal dos Braquetes 3D®após a remoção do arco retangular. C. Finalização dos casquetes de transferência da região
posterior inferior antes da remoção da fixação inferior.
Vista oclusal dos modelos de setup superior (A) e inferior (B) com os casquetes de transferência finalizados.
Figura 3.29
Figura 3.30
A. Inserção de resina composta fotopolimerizável da Filtek® Z350 XT (3M ESPE) na base do braquete. B. Remoção
com explorador dos excessos de resina composta. C. Fotopolimerização da resina composta.
A. Remoção dos  excessos  de  resina  composta  com broca  diamantada. B.  Limpeza  da  base  do  braquete  com
microbrush embebida em acetona.
Figura 3.31
  1.
  2.
  3.
  4.
  5.
Figura 3.32
Conjunto (braquete individualizado + casquete de transferência) no modelo original das arcadas dentárias superior
(A) e inferior (B).
Casquetes de transferências sobre modelo das arcadas dentárias superior (A) e inferior (B) após a colagem.
Considerações finais
Para braquetes autoligados de  inserção vertical, existe a dificuldade de fixação e posterior  remoção do arco retangular, de
confecção de pads e dos casquetes de transferência, o que motivou o desenvolvimento de mais um sistema que atendesse a
esse tipo de braquete.
Assim,  pode­se  verificar  que  a  técnica  apresentada  pelo  Sistema  Kairalla  possibilita  uma  nova  forma  de  montagem
convencional, isto é, sobre modelos de setup, para os braquetes linguais autoligados tridimensionais – Forestadent 3D® de
inserção  vertical  –,  sem  a  necessidade  de  aparatos  pré­fabricados  e  fazendo  uso  de  materiais  acessíveis.  Isso  torna  a
montagem do sistema mais viável e menos onerosa, possibilitando ao profissional que atua na técnica lingual a realização
da montagem dos seus próprios casos, além da vantagem de permitir o reposicionamento dos braquetes sem a necessidade
de refazer os casquetes de transferência.
Referências bibliográficas
Scholz RP, Swartz ML. Lingual orthodontics: a status report part 3 indirect bonding – laboratory and clinical procedures. J
Clin Orthod. 1982; 16:812­20.
Kairalla  SA,  Cacciafesta  V,  Benedicto  EN  et  al.  Formas  de  inserção,  fixação  e  remoção  do  arco  na  técnica  lingual.
Ortodontia SPO. 2011; 44(5):468­74.
Hiro T, De la Iglesia F, Puigdollers A. Indirect bonding technique in lingual orthodontics: the HIRO system. Prog Orthod.
2008; 9(2):34­55.
Macchi A, Norcini A, Tagliabue A. Primeras experiencias con los nuevos brackets  linguales 3D N/M. Ortod Clin. 2002;
5:154­60.
Kairalla SA, Kairalla RA. Sistema Kairalla para colagem indireta na técnica lingual com braquetes Forestadent 3D®. Rev
Clín Ortod Dental Press. 2015­2016; 14(6).
  6.
  7.
  8.
  9.
Thurler RCCSB, Macedo A, Cotrim­Ferreira A. Colagem indireta na ortodontia lingual: descrição do sistema TMF. Rev
Assoc Paul Cir Dent. 2008; 62(4):309­13.
Porto BG, Raveli DB, Porto CHS et al. Confecção e montagem do setup ortodôntico. Rev Clín Ortod Dental Press. 2010;
9(3):26­34.
Fujita K. New orthodontic treatment with lingual bracket mushroom archwire appliance. Am J Orthod. 1979; 76:657­75.
Nealon FH. Acrylic restorations by the operative nonpressure procedure. J Prosth Dent. 1952; 2(4):513­27.
Introdução
Sabe­se  que  existem  algumas  diferenças  entre  a  ortodontia  lingual  e  a  convencional.  Por  isso,  é  de  suma  importância
ressaltá­las  a  fim  de  auxiliar  o  profissional  que  já  utiliza  a  técnica  lingual,  e  também  para  o  conhecimento  de  novos
ortodontistas que desejam iniciá­la.
Assim, neste  capítulo,  serão  tecidas  considerações  sobre  alguns  aspectos que  abordam a biomecânica  convencional,  a
lingual e a lingual com sistema 2D®.1
Princípios de biomecânica
Sempre  que  for  realizado  um  tratamento  ortodôntico,  é  necessário  ter  conhecimento  da  técnica  utilizada  e  do  correto
diagnóstico.  Na  técnica  lingual,  isso  significa  saber  utilizar  braquetes  e  acessórios  que  serão  colados  sobre  a  superfície
dental e seus efeitos na mecânica ortodôntica.1,2
Deve­se  ter  conhecimento  de  qual  efeito  eles  causarão  sobre  todas  as  estruturas  ao  redor  dos  dentes,  uma  vez  que  o
aparelho ortodôntico nada mais é do que o sistema que acumula e libera forças contra os dentes, criando uma reação sobre o
ligamento periodontal e o osso alveolar, o que possibilita, desse modo, o movimento dental.3
Biomecânica é a ciência que estuda as forças internas e externas que atuam no corpo humano e os seus efeitos; força é a
ação  de  um  corpo  sobre  o  outro;  tensão  é  a mudança  na  forma  ou  no  tamanho  de  um  corpo  que  responde  a  uma  força
aplicada; e pressão é a resistência molecular interna à ação deformante das forças externas.4
Todo corpo  tem um “centro de massa”,  e, quando uma  força é  aplicada  sobre este  centro, provoca um movimento de
translação,  sem nenhuma  rotação. O “centro de  resistência”  (CR) equivale ao “centro de massa”; porém,  sofre  influência
dos  corpos  ao  seu  redor.  Como  o  dente  não  é  um  corpo  livre,  mas  preso  ao  periodonto  (ligado  ao  osso  alveolar  e  aos
ligamentos periodontais), o “centro de massa” não corresponde ao CR.
Quando uma  força  é  aplicada  fora  do  “centro de massa”,  o  corpo  se movimenta na mesma distância  e  gira  sobre um
eixo, desenvolvendo um momento. Momento é o deslocamento, a tendência de uma força causar rotação em um corpo, em
torno de um eixo fixo.4
O momento ou movimento é relacionado com a distância da aplicação da força ao CR:
M = F × D
M: momento; F: força; D: distância.
•
•
•
Figura 4.1
O CR está localizado a 1/3 ou 40% da distância da crista alveolar ao ápice;porém, está relacionado com o tamanho e a
forma do corpo. Assim, sua localização depende do comprimento da raiz dental, do número de raízes que o dente possui e
da quantidade de suporte ósseo (Figura 4.1). Quanto menor o suporte ósseo alveolar, mais apical estará o CR.1
Além da direção e da magnitude da força, a distância também influencia o momento. Dependendo da distância em que o
braquete  estiver  do CR do  dente,  sob  uma mesma  força,  serão  encontrados  diferentes movimentos  ortodônticos. Quanto
mais perto do CR, mas puro será o movimento desejado.3
A  reação  biológica  à  resposta  das  forças  ortodônticas  causa  uma  reação  mais  complexa  ao  periodonto  e  provoca
movimento em várias direções, pois está sujeita a um sistema de vetores de força.4
O sistema de  forças pode  ser determinado ou  indeterminado. Quando ele é determinado,  conhecemos a quantidade de
força,  o  momento  criado  e  o  movimento  resultante.  Quando  é  indeterminado,  existem  vários  vetores  de  forças,  em
diferentes magnitudes e direções, determinando momentos e movimentos desconhecidos.1
Em  um  sistema  de  forças  determinado,  tem­se  um  binário,  definido  como  duas  forças  de  mesma  intensidade,  em
direção  oposta  e  não  colineares,  que  não  atuam  na  mesma  linha.3  No  sistema  indeterminado,  pode  haver  dois  ou  mais
binários.1
Posição do “centro de resistência” (CR).
No  tratamento  ortodôntico,  as  forças  aplicadas  aos  dentes  e  as  células  do  ligamento  periodontal  respondem
independentemente da origem da força aplicada, que pode ser oriunda de fios, braquetes, elásticos, molas, enfim, de todo o
aparato utilizado durante o tratamento.5 É difícil aplicar a força diretamente ao CR do dente; entretanto, se aplicadas duas
forças iguais e opostas (um binário) na coroa, pode­se obter um movimento de corpo, isto é, movimento de translação.4
Movimentos ortodônticos
O  aparelho  ortodôntico  e  todos  os  seus  acessórios  podem  provocar  alguns  tipos  de  movimentos  ortodônticos  sobre  a
estrutura dental, entre eles:1
Inclinação: quando o movimento de coroa é maior do que o de raiz (Figura 4.2)
Translação: é o movimento de corpo, isto é, coroa e raiz se movimentam na mesma direção. Pode ser obtido por meio do
torque que é dado pelo fio quadrado ou retangular dentro da canaleta do braquete
Rotação: é o movimento do dente em torno do seu próprio eixo, geralmente realizado por meio de forças binárias. Um
exemplo deste movimento é o que ocorre em braquetes vestibulares, em que o controle de rotação acontece quando o fio
•
•
Figura 4.2
Figura 4.3
toca a extremidade do slot, o que irá determinar uma força dupla ou binária que controlará a rotação, levando o dente ao
correto posicionamento e mantendo a posição constante até o próximo movimento (Figura 4.3)
Intrusão:  é  o  movimento  em  direção  axial,  mais  difícil  de  ser  controlado  devido  ao  local  de  aplicação  de  força  estar
distante do CR
Extrusão:  é  o movimento  em  direção  axial,  mais  fácil  de  ser  controlado  por  ser  o  que  apresenta menor  resistência  à
movimentação.
Apesar  de  esses  movimentos  serem  conhecidos  do  ortodontista,  existem  algumas  diferenças  entre  eles  nas  técnicas
vestibular e lingual; portanto, é importante conhecer os princípios biomecânicos que comandam as forças de movimentação
dental para manter o controle do tratamento ortodôntico, seja com a técnica ortodôntica por vestibular ou com a lingual.6,7
Movimento de inclinação do dente.
Movimento de rotação em braquetes vestibulares.
| Movimentos ortodônticos linguais
Rotação
O controle  de  rotação  nos  braquetes  se  dá  nas  extremidades  do  slot. O  arco  apoiado na  extremidade do  slot  determina  a
formação  de  uma  força  binária,  que  controla  a  rotação  do  dente,  levando­o  à  correta  posição  se  este  estiver  girado  e
mantendo a rotação constante até que se faça outro movimento como foi mostrado na Figura 4.3.1
Figura 4.4
Figura 4.5
Na  técnica  lingual,  o  controle  de  rotação  pode  variar  de  acordo  com  o  tipo  de  braquete  lingual  e  a  inserção  do  arco
dentro do slot,  isto  é,  se o braquete permitir  a  inserção do arco  lingual no  sentido horizontal, de  trás para  frente  (Figura
4.4) ou vertical, de cima para baixo (Figura 4.5).
Pode­se afirmar que existem braquetes de inserção horizontal e de inserção vertical ou axial, dependendo da inclinação
do dente e também de como ele foi posicionado durante a montagem e do tamanho do pad de resina (Capítulo 1). Assim, o
braquete poderá ficar mais próximo ou mais afastado da superfície dental.
Outra  característica  dos  braquetes  de  inserção  horizontal  é  que  o  fundo  do  slot  geralmente  é  plano  e  reto,  e  o  arco
lingual é curvo. Ao introduzir o arco no slot do braquete de trás para frente, não ocorre o perfeito contato desse fio ou arco
com as extremidades do slot,  e  isso pode prejudicar  a  eficácia  no  controle  da  rotação1  e  por  essa  razão  por  vezes  se  faz
necessária uma amarração mais eficaz para se conseguir controle de rotação (Figura 4.6 A a E).
Braquete de inserção horizontal.
Braquete de inserção vertical.
Nos braquetes de inserção vertical, o slot também é reto e o arco curvo, mas nesse caso, o arco toca as extremidades do
slot  promovendo  uma  força  binária,  porém  pode  provocar  um  atrito  maior  nas  extremidades,  principalmente  quando  se
utiliza um arco de maior calibre, sendo assim, às vezes se faz necessária a utilização de arcos com diferentes curvaturas e
várias espessuras até um diâmetro máximo, a fim de que haja um contato ideal do arco nas duas zonas laterais do slot do
braquete e, assim, seja obtido um eficaz controle de rotação (Figura 4.7).1
Com  relação  ao  movimento  de  rotação,  a  largura  e  a  distância  do  slot  até  a  superfície  lingual  do  dente  são  dois
parâmetros fundamentais para que o arco possa exprimir a força binária necessária ao controle da rotação e da inclinação do
dente.1
A distância interbraquetes do aparelho lingual é muito mais reduzida do que por vestibular,8 pois a superfície dental dos
dentes e o raio da curvatura do arco por vestibular são maiores (Figura 4.8 A a F).
Figura 4.6
Figura 4.7
Braquete  de  inserção  horizontal  e  arco  curvo  introduzido  no  fundo  do  slot  (A  a D);  amarração  necessária  para
aumentar o toque do fio nas extremidades do slot (E).
Toque do fio nas extremidades do slot.
Figura 4.8 A. Marcação  em azul  evidenciando  as  distâncias  interbraquetes  vestibulares  autoligados  estéticos  nos  arcos  da
maxila e mandíbula. B. Marcação em azul de mesmo tamanho mostrado na Figura A, e neste caso, comparando com
a distância menor que existe interbraquetes linguais autoligados de inserção vertical em dentes superiores. C. Marcação em azul
de mesmo tamanho mostrada na Figura A, e neste caso, comparando com a distância menor que existe interbraquetes linguais
autoligados de inserção vertical em dentes inferiores. D. Marcação em azul de mesmo tamanho mostrado na Figura A, e neste
caso, comparando com a distância menor que existe interbraquetes linguais de inserção horizontal fixados por meio de ligaduras
elásticas  nos  dentes  inferiores  em  um  manequim  ortodôntico.  E  e  F.  Comparação  entre  as  distâncias  interbraquetes  com
braquetes  linguais  e  braquetes  vestibulares metálicos  no  arco  da maxila  e  com  braquetes  linguais  e  braquetes  vestibulares
estéticos no arco da mandíbula.
Sendo  assim,  distância  interbraquetes  e  curvatura  menores  aumentam  a  rigidez  do  fio  e  dificultam  sua  inserção,
causando  dificuldade  de  realizar  o  movimento  de  rotação.  Isso  porque,  ao  aplicar  a  força  binária,  a  proximidade  de
aplicação dos pontos será reduzida, diminuindo o momento e o efeito rotacional.
Apesar de a distância  interbraquetes ser  reduzida por  lingual, o diâmetro mesiodistal do braquete  lingual não deve ser
inferior  a  3,0  mm,  mas,sim,  semelhante  ao  diâmetro  do  braquete  vestibular,  que  varia  de  3,5  a  4,0  mm  (Figura  4.9).
Alguns  braquetes  podem  apresentar  uma  espessura  mesiodistal  mais  reduzida,  aproximadamente  1,5  mm;  porém,  o
momento produzido pela força binária dentro do slot será extremamente baixo, podendo determinar a perda de controle do
elemento dental devido à proximidade dos pontos de controle de rotação e de inclinação.1
Quando os dentes estão rotacionados, o arco dentro do slot determina uma força binária, que define o alinhamento do
dente e o mantém controlado até que arcos de  secção maior possam movimentá­lo nos  três planos do espaço. Na  técnica
Figura 4.9
Figura 4.11
Figura 4.10
lingual, obtém­se o mesmo efeito quando o arco e, portanto, o slot está posicionado muito perto da superfície lingual dos
dentes. Nos casos em que o arco e o slot se encontram distantes da superfície lingual dos dentes, o controle de rotação vem
acompanhado não mais de uma força binária, mas de uma única força.9
Desse modo, nos braquetes linguais, se o slot ficar apoiado diretamente na superfície lingual dos dentes, o controle de
rotação  será  possível  pela  aplicação  de  uma  força  binária  (Figura 4.10).  Porém,  se  o  slot  e  o  arco  ficarem  distantes  da
superfície  lingual  do  dente,  será  necessário  para  o  controle  da  rotação  um  sistema  de  forças  individuais  (força  única),
porque prevalecerá um deslocamento lateral do slot no controle da posição do dente no plano oclusal (Figura 4.11 A e B).1
Para  ilustrar  e  esclarecer  estes  conhecimentos,  poderíamos  fazer  uma  comparação  com  um  objeto  mais  concreto  e
presente no dia a dia: a bicicleta.
No mercado podem ser encontrados vários modelos de bicicletas, e se prestarmos atenção apenas ao guidão, notaremos
que existem bicicletas com o guidão curvo e mais baixo e outras com o guidão reto e mais alto (Figura 4.12 A e B).
Exemplos de tamanho de um braquete vestibular e de um braquete lingual e o efeito causado pelo fio durante os
movimentos rotacionais.
Controle de rotação pela aplicação de uma força binária em braquete situado mais próximo da superfície lingual.
Controle da  rotação com um sistema de  forças  individuais  (força única) em um braquete onde o slot  está mais
distante da superfície lingual.
Figura 4.12 Bicicleta de guidão baixo e curvo (A) e bicicleta de guidão reto e alto (B).
A  bicicleta  que  tem  o  guidão  curvo  e mais  baixo  faz  um movimento  de  esterçamento  deste  para  poder  girar  a  roda
dianteira  para  a  direita  e  como o  eixo  de  rotação  está  um pouco mais  distante,  é  necessário  aplicar  forças  que  atuem no
mesmo sentido ou direção para realizar tal movimento (Figura 4.13 A). A bicicleta com o guidão reto e mais alto e que se
localiza  mais  próximo  do  eixo  de  rotação  faz  o  mesmo movimento  para  a  direita  para  girar  a  roda,  com  forças  duplas
aplicadas no guidão, mas que atuam em direções opostas (Figura 4.13 B).
Se fizermos uma comparação entre os braquetes posicionados mais distante da superfície lingual (Figura 4.11) com as
bicicletas  de  guidão  baixo  e  curvo  (Figura  4.13 A),  e  entre  os  braquetes  que  estão  situados mais  próximo  da  superfície
dental (Figura 4.10) com as bicicletas de guidão reto e alto (Figura 4.13 B) poderemos entender melhor o movimento das
forças aplicadas.
Figura 4.13 A. Guidão curvo realizando movimento para a direita com forças que atuam na mesma direção. B. Guidão  reto
realizando um movimento para a direita com forças duplas em sentido oposto, uma empurra e outra puxa.
Inclinação
No movimento de  inclinação,  tem­se a movimentação maior de coroa do que de  raiz. Em um corte  sagital, por  exemplo,
observando um incisivo superior bem posicionado, tem­se um vetor de força passando atrás do CR do dente, o que causa
um  movimento  maior  da  coroa  para  lingual  (momento  no  sentido  horário).10  Dependendo  do  caso  clínico  e  do
posicionamento  dental  dentro  da  sua  base  óssea,  isso  pode  ser  favorável  ou  não.  Nos  casos  em  que  as  coroas  já  se
encontram bastante  inclinadas para vestibular,  será conseguida maior  inclinação da coroa para  lingual com a utilização da
técnica lingual, o que faz com que seja bastante favorável para o caso. Porém, ao contrário, quando o dente já estiver com a
coroa  muito  inclinada  para  lingual,  como  nos  casos  de  classe  II  divisão  2,  essa  inclinação  poderá  piorar,  pois  o  vetor
resultante da força aplicada estará passando sempre atrás do CR do dente, resultando em um momento no sentido horário
(Figura 4.14).
Intrusão e extrusão
Na técnica vestibular,  intrusão é o movimento em direção axial mais difícil de ser controlado devido ao local de aplicação
de  força  estar  distante  do  CR.  Extrusão  é  o  movimento  em  direção  axial  mais  fácil  de  ser  controlado  por  ser  o  que
apresenta menor resistência à movimentação.1
O movimento  intrusivo  na  técnica  lingual  é  facilitado,  pois,  normalmente,  o  braquete  encontra­se  posicionado  mais
próximo  ao  CR,  e  a  aplicação  da  força,  portanto,  está  mais  próxima  também.  Supondo­se  um  incisivo  superior  bem
posicionado, com o braquete lingual colado próximo à superfície dental na face lingual, a força aplicada passará quase sobre
o mesmo eixo por onde passa o CR; desse modo, haverá uma intrusão acompanhada de uma vestibularização da coroa de
igual  proporção. O mesmo  acontecerá  quando o  incisivo  estiver mais  vestibularizado  ou  com a  inclinação  da  coroa mais
para vestibular: um movimento  intrusivo com um componente de vestibularização semelhante ou  levemente maior, pois o
momento  será  no  sentido  anti­horário.  Quanto  mais  próximo  do  CR  for  posicionado  o  braquete,  mais  puro  será  o
Figura 4.14
movimento intrusivo; porém, se, por exemplo, o incisivo superior estiver mais verticalizado, como nos casos de classe II
divisão  2,  haverá  intrusão  com  leve  lingualização,  pois  o  vetor  de  força  estará  passando  um  pouco  atrás  do  CR,  e  o
momento será no sentido horário.1
Controle do torque
O  controle  do  torque  é  a  possibilidade  de movimentar  os  dentes  tridimensionalmente. Nos  casos  tratados  com  a  técnica
lingual  em  que  são  necessárias  extrações  dentárias,  é  fundamental  o  controle  do  torque  nos  dentes  anteriores,  tanto
superiores quanto inferiores.1
Diferentes inclinações dos dentes e um dos vetores de força passando atrás do CR do dente.
Esse  movimento  pode  ser  obtido  com  a  aplicação  de  força  única  ou  binária.  O  momento  e  a  força  aplicada  podem
determinar o tipo de movimento obtido,11 maior deslocamento da raiz, maior deslocamento da coroa e translação pura.
O momento acontece por meio do par de forças que o arco retangular exerce no slot; por isso, é fundamental que o arco
esteja bem encaixado dentro do slot para se obter um bom controle de torque.
Como existem braquetes na técnica lingual que estão posicionados mais próximo à face lingual do dente, e outros cujo
slot fica mais distante da superfície dental, deve­se fazer uma distinção sobre como ocorre o torque.
Para  os  braquetes  linguais,  o  controle  do  torque  é  adquirido  quando  é  aplicado  um  arco  de  secção  quadrada  ou
retangular.  O  arco  retangular  exerce,  em  braquetes  linguais  que  estão  situados  mais  próximo  da  superfície  dental,  um
movimento  de  torque  similar  ao  que  ocorre  nos  braquetes  vestibulares,  ou  seja,  um  par  de  forças  ou  forças  binárias
ocorrem entre o  slot  e  o  fio;  estas  determinam um momento  e  provocam um movimento do dente  ao  redor  do  centro de
rotação no nível do slot. Assim, quanto mais justo estiver este fio dentro deste slot, mais efetivo será o torque (Figura 4.15
A e B). Para  os  braquetes  que  estão posicionados  a  uma  certa  distância  da  superfície  lingual,  conjunto  fio  e  slot estarão
distantes desta superfície lingual, portantoo controle do torque não se expressará por meio de uma força binária, mas por
meio de uma única força no sentido vertical, que eliminará a possibilidade de existirem vários centros de rotação em torno
dos quais o dente possa girar (Figura 4.16 A e B). Assim, a rotação ocorrerá em torno do CR do dente.1
Figura 4.15
Figura 4.16
Movimento de torque em braquetes localizados mais perto da superfície dental.
Movimento de torque em braquetes localizados mais distante da superfície dental.
Biomecânica lingual
Continuando e acompanhando o raciocínio anterior, pode­se exemplificar uma das diferenças biomecânicas entre as técnicas
ao  comparar  o  formato  do  arco  utilizado,  já  que,  na  técnica  lingual,  o  formato  pode  ser  em  forma  de  cogumelo12  ou
contínuo,13­15 porém achatado na sua região anterior.15
Outra diferença importante e que deve ser levada em consideração é a distância interbraquetes, que é menor na técnica
lingual, como já foi exemplificado na Figura 4.8.
Também entre as características da  técnica, uma delas é de fundamental  importância: os braquetes são colados na face
lingual dos dentes. Sabendo­se que a superfície lingual apresenta diferença de superfície e com relação a forma, tamanho e
presença  de  irregularidades  superficiais  (Figura  4.17),  principalmente  quando  comparada  com  os  dentes  na  sua  face
vestibular,  em que as  superfícies  são mais planas,  compreende­se por que alterações de  superfície na  face  lingual podem
afetar sensivelmente o correto posicionamento dos braquetes, o que pode justificar a indicação da colagem indireta.8
Em relação ao posicionamento do braquete  lingual,  pode­se dizer que por vezes  ele  se  situa mais próximo ao CR do
dente;  porém,  isso  pode  estar  diretamente  relacionado  com  as  diferenças  existentes  quanto  ao  tipo  de  braquete  lingual
utilizado.8,16  Assim,  se  ele  estiver  posicionado  próximo  ao  CR  do  dente,  pode  fazer  com  que  a  transmissão  das  forças
aplicadas ao ligamento periodontal seja mais  intensa quando comparada à da  técnica convencional. Associado a  isso, há o
fato de a distância  interbraquetes na  técnica  lingual ser menor, o que  justifica a utilização de  fios mais  finos e  resilientes
para minimizar  os  efeitos  de  forças  excessivas,7  além de  pequenas  variações  no  posicionamento  dos  braquetes  na  região
cervico­oclusal da face lingual dos dentes poderem alterar consideravelmente o torque.10
Como  já  foi  dito,  outra  diferença  importante  está  relacionada  com o  formato do braquete  e  a maneira  de  inserção do
fio.8,16 A maioria dos braquetes possui um slot principal,17 e a inserção do fio no slot pode ser no sentido horizontal (ver
Figura  4.4)  ou  no  sentido  vertical  (ver  Figura  4.5).  Além  disso,  braquetes  linguais  podem  ter  um  slot  retangular,  que
possibilita um controle tridimensional, pois aceita a inserção de um fio retangular ou quadrado, e um slot com uma secção
oval ou redonda, que permite um controle bidimensional. Quando o braquete tem um controle tridimensional, independente
da forma de inserção, permite o controle do dente com relação a rotação, inclinação e torque.
Figura 4.18
Figura 4.17 Irregularidade da superfície lingual.
Biomecânica com o Sistema 2D®
O  braquete  2D®  não  tem  o  slot  retangular  tradicional  na  base,  mas  sim  arredondado  (Figura  4.18),  o  que  possibilita  a
realização dos movimentos de 1a e 2a ordens.11
O braquete tem duas aletas na superfície lingual para prender o fio e pode ser usado em todos os dentes por não exigir
prescrição  (Figura  4.19).  É  um  sistema  autoligado  com  atrito  progressivo,  pois  permite  o  fechamento  progressivo  das
aletas.11
A inserção do fio é vertical, e ele aceita uso de fio com diâmetro máximo de .022” × .016” (Figura 4.20). A base  tem
espessura de 0,4 mm e foi criada de modo a possibilitar que o posicionamento do braquete seja quase na altura do cíngulo
dos dentes anteriores, ou seja, sobre o CR (Figura 4.21).11 A altura de 3,3 mm para os dentes inferiores e 3,5 mm para os
dentes superiores permite manter o arco  inserido no braquete na mesma altura do plano de Andrews, que fica paralelo ao
plano oclusal.
Slot arredondado do braquete 2D®.
Figura 4.19
Figura 4.20
Braquete 2D®.
Fio retangular .022” × .016” inserido no braquete 2D® Plus.
Figura 4.21
Figura 4.22
Posicionamento do braquete sobre o CR.
Por não ter o slot convencional na base, a espessura total do braquete fica reduzida a apenas 1,4 mm quando está com as
aletas semiabertas e 1,2 mm quando totalmente fechadas, possibilitando, assim, que o fio fique posicionado quase tangente
à superfície  lingual, o que propicia compensar as diferentes espessuras vestibulolinguais  (normais nos dentes anteriores),
em particular no arco maxilar.18
A técnica lingual 2D® possibilita o controle de rotação (Figura 4.22) e de inclinação (Figura 4.23), movimentos que são
conseguidos pelo fato de este braquete ter duas aletas que podem ser fechadas progressivamente.
A  técnica  também possibilita  o  controle do  torque  (Figura 4.24)  em determinado  setor  somente  com movimentos  em
que o centro de rotação corresponda ao CR desses elementos dentais. O controle de torque pode ser possível utilizando o
braquete 2D® Plus,  que  tem uma  haste  central  rígida  e  permite  que  o  fio  entre muito  justo  dentro  do  slot.  É  importante
haver um perfeito conhecimento de biomecânica lingual para aproveitar toda a potencialidade desse braquete.19
Sequência de rotação.
Figura 4.23
Figura 4.24
Sequência de inclinação.
Sequência de torque.
Discussão
Independentemente  do  acessório  utilizado  para  o  tratamento  ortodôntico,  é  necessário  conhecer  a  técnica  empregada  para
permitir o movimento dental.1,3,5 Sabe­se que existem algumas diferenças entre as técnicas vestibular e lingual,6,7 dentre as
quais estão: o formato do arco lingual, que pode ser em forma de cogumelo12 ou contínuo;13­15 e a montagem do aparelho
lingual, que normalmente é de forma indireta devido às diferentes espessuras e irregularidades da superfície lingual,20 pois
variações  no posicionamento dos  braquetes,  principalmente  no  sentido  cervico­oclusal  da  face  lingual  dos  dentes,  podem
alterar o torque.10
Também existem diferenças quanto ao tipo de braquete lingual utilizado8,16 e à maneira de inserção do fio.8,16 A maioria
dos  braquetes  linguais  tem  um  slot principal,17  e  a  inserção  do  fio  no  slot  pode  ser  horizontal  ou  vertical;  diferente  da
técnica convencional, em que o slot principal é horizontal, e a inserção do fio é sempre horizontal.16
Com relação aos movimentos ortodônticos já descritos, que podem ser realizados em ambas as técnicas, pode­se dizer
que o movimento de rotação se torna ainda mais difícil devido à distância interbraquetes, que, na técnica lingual, é menor.
Além disso, o braquete lingual geralmente está localizado mais próximo ao CR do dente, mais para cervical, justificando a
utilização de fios mais finos e resilientes para realizar tal movimento.7,8
O controle de rotação nos braquetes da técnica vestibular ocorre nas laterais do braquete, pois o arco ou fio apoia­se nas
extremidades do slot. Já nos braquetes da técnica lingual de inserção horizontal, existe maior dificuldade na realização deste
movimento  pois  o  arco  ou  fio  com  curvatura  menor  dificulta  o  contato  nas  extremidades  laterais  do  slot  e,
consequentemente, o controle eficaz de rotação. Nos braquetes  linguais de  inserção vertical, existe este contato do fio nas
extremidades  do  slot  porém  com maior  atrito,  o  que  pode  atrapalhar  o  movimento,  e  por  isso,  muitas  vezes  estes  fios
deveriam ter uma espessura menor para não gerar muito atrito ao tocar nas extremidades do slot do braquete, já que este fio
faz uma curvatura acompanhando a face lingual e o slot é reto. Este movimento pode ser conseguido, por exemplo, com o
braquete lingual 2D®, pois ele realiza o controlede rotação por meio do fechamento progressivo das aletas.18,21
Para  o  controle  de  rotação  e  de  inclinação  do  dente,  a  largura  do  braquete  lingual  no  sentido  mesiodistal  deve  ser
semelhante à do braquete vestibular e, assim, poder exprimir uma força binária. Porém, na tentativa de compensar a menor
distância  interbraquetes,7,8  alguns braquetes  linguais  apresentam uma  largura menor; nesses casos, o momento produzido
pelas forças binárias é menor, podendo ocasionar a perda de controle do elemento dental. Esse mesmo efeito ocorre entre os
diferentes  tipos  de  braquetes  linguais.  Quando  o  arco  está  posicionado  no  slot  mais  próximo  da  superfície  lingual  dos
dentes, o controle de rotação é realizado pela aplicação de uma força binária; já nos casos em que o slot e consequentemente
o arco encontram­se distantes da superfície  lingual dos dentes, o controle de  rotação vem acompanhado não mais de uma
força binária, mas de uma única força.9
Com relação aos movimentos intrusivos e extrusivos, o de extrusão é semelhante ao da técnica vestibular, mais fácil de
ser  controlado  por  ser  o  que  apresenta menor  resistência  à movimentação.  Já  o  de  intrusão,  na  técnica  vestibular  é mais
difícil de ser controlado devido ao local de aplicação de força estar distante do CR e causar componentes no sentido horário
ou  anti­horário.  Contudo,  na  técnica  lingual,  esse  movimento  pode  ser  facilitado  porque  o  braquete  normalmente  se
  1.
  2.
  3.
  4.
  5.
  6.
  7.
  8.
  9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
encontra mais próximo ao CR, principalmente no Sistema 2D®, em que pode ser colado muito próximo à cervical. Assim, a
força aplicada pode passar sobre o mesmo eixo por onde passa o CR.19
Para o movimento de torque, assim como os braquetes convencionais da  técnica vestibular, os braquetes  linguais com
slot retangular permitem o controle tridimensional e a inserção de um fio retangular ou quadrado. Porém, alguns braquetes
linguais estão mais próximos à face lingual do dente, e outros, mais distantes da superfície dental,19 o que pode provocar
alguma diferença nesse movimento.
Para  os  braquetes  linguais  que  ficam  mais  próximos  da  superfície  dental,  o  controle  do  torque  é  semelhante  ao  da
técnica vestibular, ou seja, determina um momento que se expressa por uma força binária que ocorre dentro do slot ao redor
do centro de rotação. É diferente do que ocorre quando os braquetes apresentam uma distância aumentada entre o slot e a
superfície  lingual;  neste  caso  o  controle  do  torque  se  expressa  por meio  de  uma  força  em um único  sentido  vertical  e  o
momento se dá em torno do CR do dente.
Nos braquetes  linguais que  têm slot com uma secção oval ou  redonda, os quais permitem um controle bidimensional,
como no Sistema Lingual 2D®, o controle do torque pode ser obtido de maneira individual,19 com o braquete 2D® Plus.1
Considerações finais
Sobre  as  características mecânicas  dos  braquetes  linguais,  pode­se  dizer  que  o  braquete  ideal  seria  aquele  com  distância
mesiodistal adequada para controlar a os movimentos de rotação,  inclinação e torque do elemento dental. O slot na região
anterior  deveria  poder  receber  o  arco  curvo,  seja  com  o  braquete  de  inserção  vertical  ou  horizontal,  e  a  espessura  do
braquete deve ser reduzida para atenuar os problemas de desconforto.
Assim,  foram  abordados  neste  capítulo  alguns  aspectos  sobre  as  biomecânicas  convencional,  lingual  e  lingual  com o
Sistema 2D®, proporcionando parâmetros na indicação da mecânica.
Referências bibliográficas
Kairalla SA, Paranhos LR, Cacciafesta V. Considerações biomecânicas da ortodontia convencional, lingual e lingual com
sistema 2D. Rev Dental Press Ortodon. 2012; 11(3):98­108.
Gorman JC, Hilgres JJ, Smith JR. Lingual orthodontics: a status report part 4 – diagnosis and treatment planning. J Clin
Orthod. 1983; 17:26­35.
Burstone CJ. The biomechanics oh tooth movements. In: Kraus BS, Riedel RA (Eds.). Vistas in orthodontics. Philadelphia:
Lea & Febiger; 1962.
Moyers RE. Ortodontia. [Trad. Décio Rodrigues Martins]. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1984.
Segner  D.  Some  biomechanical  considerations  in  treatment  with  the  lingual  technique.  Lingual  News.  2007;  5(1).
Disponível em: http://www.lingualnews.com.
Alexander CM, Alexander RG, Gorman JC et al. Lingual orthodontics: a status report part 5 – lingual mechanoterapy. J Clin
Orthod. 1983; 17:99­115.
Monini AC, Gandini­Jr  LG, Gandini MREAS,  Figueiredo  JFBF.  Biomechanical  differences  between  lingual  and  labial
orthodontics. Rev Dental Press Ortodon Ortoped Facial. 2008; 13(1):92­100.
Paige SF. A lingual light­wire technique. J Clin Orthod. 1982; 16:534­44.
Takemoto K, Scuzzo G. The straight­wire concept in lingual orthodontics. J Clin Orthod. 2001; 15(1):46­52.
Scuzzo G, Takemoto K. Invisible orthodontics. Currents concepts and solutions in lingual orthodontics. Berlin: Quintessenz
Verlag; 2003.
Smith RJ, Burstone CJ. Mechanics of tooth movement. Am J Orthod. 1984; 85(4):294­307.
Fujita K. New orthodontic treatment with lingual bracket mushroom arch wire appliance. Am J Orthod. 1979; 76:657­75.
Kyung HM, Park HS, Sung JH. The mushroom bracket positioner for lingual orthodontics. J Clin Orthod. 2002; 36(6):320­
8.
Lombardo L, Luca SL, Scuzzo G et al. New concept of anatomic lingual arch form. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2010;
138:260.e1­260.e13.
Kairalla  SA,  Scuzzo G,  Triviño  T.  Determination  of  dental  arch  form  and  size  for  using  straight­wire  arch  in  lingual
technique. Dental Press J Orthod. 2014; 19(5):116­22.
Kairalla  SA,  Cacciafesta  V,  Benedicto  EN  et  al.  Formas  de  inserção,  fixação  e  remoção  do  arco  na  técnica  lingual.
Ortodontia SPO. 2011; 44(5):468­74.
Kurz C, Swartz ML, Andreiko C. Lingual orthodontics: a status report: part 2: research and development. J Clin Orthod.
1982; 16:735­40.
18.
19.
20.
21.
Kairalla SA, Paranhos LR, Cacciafesta V. Ortodontia lingual com sistema 2D. Ortodontia SPO. 2012; 45(3):295­305.
Macchi A. Tecnica linguale e tecnica vestibolare: differenze biomeccaniche (parte I). Odontoiatria Oggi & Sel. 1996; 1:7­
31.
Scholz RP, Swartz ML. Lingual orthodontics: a status report part 3 – indirect bonding: laboratory and clinical procedures. J
Clin Orthod. 1982; 16:812­20.
Macchi A, Norcini A, Cacciafesta V et al. The use of tridimensional brackets in lingual orthodontics: new horizons in the
tratament of adults patients. Orthodontics. 2004; 1:1­11.
1.
2.
3.
4.
5.
Preparo ortodôntico cirúrgico com a técnica lingual
Atualmente,  muitos  pacientes  têm  perguntado  sobre  a  técnica  lingual.  As  razões  são  diversas,  e  a  principal  é  que  eles
desejam  receber  um  tratamento  estético  ou  quase  invisível,1  geralmente  para  correção  de  apinhamentos  dentais,  mas
também quando a parte estética da face está comprometida, mesmo que não tenham consciência absoluta do seu problema
esquelético.2
Os pacientes  adultos  costumam procurar  tratamento ortodôntico pela  falta  de  oportunidade de  correção dental  quando
crianças ou adolescentes, ou por necessidade de um “retratamento” nos casos de recidiva.3 Porém, em alguns tratamentos, a
correção ortodôntica não pode ser feita somente por meio da compensação dental, necessitando da complementação de uma
cirurgia ortognática.4,5 Assim, já que os pacientes estão mais exigentes, procurando por um tratamento ortodôntico estético
ou praticamente invisível,1 por que não oferecer a técnica lingual para casos orto/cirúrgicos,3,6,7 uma vez que a técnica pode
ser utilizada em todos os casos ortodônticos que são realizados na técnica por vestibular?8
Quando a correção da má oclusão necessita do tratamento ortodôntico complementado com cirurgia ortognática, existe
um problema: como realizar a estabilização e a fixação das bases ósseas de um caso cirúrgico tratado com aparelho lingual
se os braquetes são colados na faceinterna dos dentes?3
Na  técnica  vestibular,  sabe­se  que  a  estabilização  e  a  fixação  das  bases  ósseas  durante  o  ato  cirúrgico  são  feitas  por
meio de  fios de amarrilho metálicos ou elásticos  intermaxilares de calibres variados, que  são  fixados em ganchos de aço
pré­fabricados ou não e soldados ao arco de aço de secção retangular utilizado no final do alinhamento e do nivelamento.
Alternativamente,  os  elásticos  intermaxilares  ou  amarrilhos  metálicos  podem  ser  fixados  a  pequenos  ganchos  de  fio  de
amarrilho de 0,30 mm chamados de Kobayashi, que são amarrados aos braquetes.9
Já na técnica lingual, o aparelho é mantido na face interna dos dentes, sendo necessárias outras formas de estabilização
para ancoragem esquelética, que podem ser realizadas por meio dos seguintes procedimentos:
Inserção de mini­implantes ortodônticos durante o ato cirúrgico na maxila e na mandíbula
Instalação passiva de um aparelho vestibular metálico ou estético
Colocação de arcos de aço retangulares passivos, que foram previamente preparados com a solda de ganchos metálicos
e são fixados nas faces vestibulares de todos os dentes com resina composta fotoativada
Fixação de parafusos de bloqueio intermaxilomandibular utilizados durante o procedimento cirúrgico
Uso  de  botões  estéticos  pré­fabricados  ou  confeccionados  com  resina  composta  fotopolimerizável  na  face  vestibular
dos dentes. Eles também podem ser utilizados por praticidade e razões estéticas.
Com relação ao último item, é preciso ressaltar que podem ser adicionados em alguns botões pré­fabricados os ganchos
Kobayashi,  os  quais  auxiliam  na  amarração  durante  o  ato  cirúrgico. Além  disso,  recomenda­se  que  durante  a  cirurgia  o
profissional  utilize  outros  recursos  coadjuvantes,  como mini­implantes  ou  parafusos  de  bloqueio  para  fixação  das  bases
ósseas.  Nesses  casos,  os  botões  poderão  permanecer  após  o  ato  cirúrgico  e  servirão  para  continuação  do  tratamento,
propiciando o uso de elásticos intermaxilares que irão auxiliar na manutenção da estabilidade cirúrgica e da intercuspidação
dentária.7 O aparelho lingual permanece durante todo o tratamento até que se obtenha a finalização desejada.
As cirurgias ortognáticas para a correção das bases ósseas como complementação dos tratamentos ortodônticos podem
ser na maxila, na mandíbula ou em ambas, dependendo do tipo de má oclusão apresentada pelo paciente. Vale ressaltar que,
durante o planejamento orto/cirúrgico, é muito  importante discutir qual o  tipo de cirurgia é  indicado e de que maneira ela
será realizada.4,5 Nos casos de indicação cirúrgica na maxila, a técnica a ser empregada pode ser a Lefort I, com um único
segmento da maxila ou seccionada em mais segmentos,10,11 cuja forma dos cortes pode ser em Y ou H. Nesta última, deve
existir um espaço suficiente entre os incisivos laterais e os caninos superiores para realização do corte,10,11 e, para  isso, a
montagem do aparelho lingual  também deve ser alterada, ou seja, o posicionamento dos braquetes dos  incisivos  laterais e
dos  caninos  superiores  deve  sofrer  uma  pequena mudança  na  inclinação.3  Portanto,  isso  evidencia  a  necessidade  de  um
planejamento orto/cirúrgico em conjunto para o sucesso do tratamento.
Por fim, utilizar o aparelho lingual em casos orto/cirúrgicos está relacionado também com o fator estético, que pode ser
mantido  não  só  no  início  do  tratamento,  mas  também  durante  o  seu  período  mais  longo,  isto  é,  durante  as  fases  de
nivelamento, alinhamento e desinclinação dos dentes necessários para a  realização da cirurgia ortognática.  Isso porque os
braquetes  colados  na  face  lingual  dos  dentes  minimizam  os  efeitos  antiestéticos  das  mudanças  na  face  do  paciente  que
acontecem nessa  fase,  e  essa  vantagem não  poderia  ser  conseguida  se  o  aparelho  por  vestibular  fosse montado  desde  as
fases iniciais do tratamento.3
| Caso clínico 1
O paciente C.  de A. A.,  de  22  anos,  leucoderma,  padrão  III  facial, mesofacial  com  leve  assimetria  da  face  (Figura 5.1),
tinha má oclusão classe III de Angle, apinhamentos na maxila e na mandíbula, compensação dental natural dos incisivos e
mordida  cruzada  anterior  e  posterior  (Figura 5.2).  Sua  principal  queixa  era  a mordida  cruzada  anterior  e  o  apinhamento
anterior da maxila e da mandíbula.
O paciente aceitou o plano de  tratamento, que consistiu em alinhar e nivelar os dentes com complementação cirúrgica
somente  na maxila.  Porém,  como  ele manifestou o  desejo  de  utilizar  um aparelho  estético  durante  os meses  anteriores  à
realização  do  procedimento  cirúrgico,  foi  proposto  para  a  realização  da  correção  ortodôntica  o  aparelho  lingual  com
braquetes autoligados 2D®  e montagem simplificada. A Figura 5.3 mostra os braquetes  linguais  autoligados 2D® colados
nos  arcos dentais maxilar  e mandibular  na  fase  inicial  do  tratamento ortodôntico,  com  ressalva na Figura 5.3 A,  em que
pode ser observado que os braquetes dos dentes 12, 13, 22, 23 estão posicionados com uma  inclinação diferente da  linha
imaginária  ao  longo eixo do dente e que deve guiar  a  colagem dos braquetes como preconiza a  técnica de colagem direta
com braquete  2D®.  Essa  diferença  na  colagem  especificamente  nos  dentes  12,  13,  22,  23  tem  o  propósito  de  conseguir
espaço  suficiente  para  a  realização  do  corte  durante  o  ato  cirúrgico  na  forma  seccionada  Lefort  I  em  Y,  anteriormente
planejada  pelo  cirurgião. A  Figura  5.4  evidencia  o  final  do  nivelamento  e  alinhamento  dental,  e  a  Figura  5.5  comprova
radiograficamente o espaço ósseo desejado e conseguido entre os  incisivos  laterais e caninos na maxila, necessário para a
técnica cirúrgica de secção da maxila10,11 preconizada para este caso.
Figura 5.1 Fotografias iniciais de frente (A), de perfil (B) e de sorriso (C) evidenciando o padrão III do paciente e telerradiografia
(D).
Figura 5.2
Figura 5.3
Fotografias iniciais intraorais de frente (A), do lado direito (B) e do lado esquerdo (C).
Depois do alinhamento e nivelamento, e feitas as descompensações necessárias conseguidas com o aparelho ortodôntico
lingual,  procedeu­se  à  colagem  de  braquetes  vestibulares  previamente  ao  ato  cirúrgico.  No  caso  em  questão,  foram
colocados  braquetes metálicos  necessários  para  auxiliar  as  amarrações  durante  a  cirurgia  ortognática,  como  sugerido  por
alguns autores.10,11
Vistas oclusais dos arcos dentais maxilar (A) e mandibular (B) com o aparelho lingual 2D.
Figura 5.5
Figura 5.4
Figura 5.6
Fase de nivelamento nos arcos dentais maxilar (A) e mandibular (B).
A. Panorâmica  inicial. B. Radiografia periapical evidenciando o espaço entre as raízes necessário como preparo
pré­cirúrgico.
Após  45  dias  da  cirurgia,  os  braquetes  vestibulares  foram  removidos,  e,  depois  de  pequenas  correções,  foi  também
removido o aparelho lingual e finalizado o procedimento (Figura 5.6). O tratamento teve a duração de apenas 1 ano, entre a
montagem e a remoção dos braquetes, como pode ser verificado na fotografia de frente, antes e depois (Figura 5.7), e na
fotografia de perfil, antes e depois (Figura 5.8). As Figuras 5.9 A e B mostram o sorriso do paciente previamente à cirurgia
com aparelho  lingual  e  após  a  colagem do aparelho vestibular,  respectivamente,  lembrando que, nesses  casos,  o  aparelho
lingual é mantido. A Figura 5.9 C mostra o sorriso final pós­tratamento multidisciplinar.
Fotografias finais intraorais de frente (A), lado direito (B) e do lado esquerdo (C).
Figura 5.7
Figura 5.8
Vistas de frente nas fases pré­cirúrgica (A) e pós­cirúrgica (B).
Vistas do perfil nas fases pré­cirúrgica (A) e pós­cirúrgica (B).
Figura 5.9 Vistas do sorriso na fase pré­cirúrgica com aparelho lingual (A); lingual/vestibular (B) e vista do sorriso na fase pós­
cirúrgica (C).
| Caso clínico 2
A paciente A. P. L.,  de  37  anos,  leucoderma,padrão  II  facial,  dolicofacial  (Figura 5.10),  procurou  o  ortodontista  com  a
queixa de apinhamento anterior superior e inferior.
Após avaliação clínica  intraoral, pôde ser observado, além do apinhamento nos dois arcos, que a paciente apresentava
má  oclusão  classe  II  de Angle  e  trespasse  vertical  anterior  (overbite)  de  1 mm  e  horizontal  (overjet)  de  1 mm  (Figuras
5.11). Também  foi  observada  a  falta  de  vedamento  labial  e  o  sorriso  gengival. O diagnóstico  final  para  o  tratamento  foi
feito  de  posse  dos  exames  de  imagem,  e  concluiu­se  que,  além  do  tratamento  ortodôntico,  estaria  indicado  o  tratamento
cirúrgico  para  correção  da  discrepância  óssea  (Figura  5.12).  Desse  modo,  foi  feito  um  planejamento  ortocirúrgico  com
impactação da maxila e avanço de mandíbula e mento.
A  paciente  concordou  com  o  plano  de  tratamento,  uma  vez  que  já  havia  feito  tratamento  ortodôntico  na
infância/adolescência e o resultado não fora o esperado. Porém, para realizar um novo tratamento, ela impôs a condição de
que  fosse  realizado  com  uma  técnica  totalmente  “invisível”,  levando  à  opção  pelo  tratamento  ortodôntico  com  a  técnica
lingual e o sistema straight­wire lingual com o braquete STb straight­wire® (Ormco). A Figura 5.13 evidencia a montagem
em modelos de setup e a colagem indireta.
O  tratamento  ortodôntico  iniciou­se  com  o  nivelamento  e  o  alinhamento  dos  dentes,  em  que  pudesse  ser  mantido  o
trespasse  horizontal mínimo  de  3 mm,  necessário  para  o  planejamento  cirúrgico  (Figura 5.14). A Figura  5.15 mostra  as
fases intermediárias do tratamento. Aproximadamente 1 ano depois, observa­se o nivelamento dos dentes concluído com o
trespasse necessário, possibilitando a realização da cirurgia (Figura 5.16).
Para  a  realização  da  cirurgia,  optou­se  pela  colocação  de  alguns  braquetes metálicos  a  fim  de  auxiliar  a  fixação  das
bases  ósseas,  pois  havia  sido  planejada  a  colocação  de  mini­implantes  e  microparafusos  que  seriam  instalados  no  ato
cirúrgico e que completariam a fixação maxilomandibular.
A cirurgia  foi  iniciada com osteotomia maxilar do  tipo Lefort  I  e com a  impactação da maxila. Foi  feita  fixação com
miniplacas  e microparafusos  de  titânio,  a  fim  de  estabilizá­la  em  sua  posição  preestabelecida,  como  o  planejado  (Figura
5.17).  Em  seguida,  realizaram­se  osteotomia  sagital  bilateral  de  mandíbula,  instalação  de  guia  cirúrgico  intermediário  e
fixação  com  miniplacas  e  microparafusos  de  titânio  para  o  bloqueio  maxilomandibular,  com  objetivo  de  alcançar  o
posicionamento  final  da  relação  oclusal,  como mostra  a  Figura  5.18.  Por  fim,  foi  realizada  a  cirurgia  do  mento  com  a
finalidade de harmonização facial (Figura 5.19).
Figura 5.10 Fotografias iniciais de frente (A); perfil (B); inicial de sorriso (C).
Após 10 dias da cirurgia, foi feita a troca dos braquetes metálicos por botões estéticos pré­fabricados na face vestibular
dos dentes pela  razão estética  exigida pela paciente  e para  continuação do uso de elásticos  intermaxilares, que ajudam na
manutenção da estabilidade cirúrgica e da intercuspidação dentária (Figura 5.20).
O caso foi finalizado após 5 meses da cirurgia, e foi utilizada contenção fixa nos arcos superior e inferior (Figura 5.21).
O resultado estético pode ser visto nas fotografias pós­cirurgia de frente, perfil e sorriso (Figura 5.22), e na comparação do
sorriso antes e depois (Figura 5.23), assim como na face da paciente sorrindo (Figura 5.24).
Figura 5.11 Fotografias iniciais intraorais de frente (A); do lado direito (B); do lado esquerdo (C); da vista oclusal da maxila (C)
e da vista oclusal da mandíbula (E).
Figura 5.13
Figura 5.12
Figura 5.14
Telerradiografia (A); panorâmica (B).
Braquetes STb Straight Wire® montados em modelo de setup da maxila (A) e da mandíbula (B).
Vistas oclusais da maxila (A) e da mandíbula (B) com aparelho lingual na fase inicial de nivelamento.
Figura 5.15 Vistas oclusais com aparelho lingual durante a fase intermediária de nivelamento no arco dental maxilar (A) e arco
dental mandibular (B).
Figura 5.16
Figura 5.17
Figura 5.18
Vistas oclusais com aparelho lingual durante a fase final de nivelamento do arco dental maxilar (A), mandibular (B),
de frente (C), do lado direito (D), do lado esquerdo (E), do trespasse anterior (F) antes da cirurgia.
Osteotomia segmentada de maxila, com contenção maxilar.
Realização de fixação rígida da osteotomia sagital de mandíbula.
Figura 5.19
Figura 5.20
Realização de fixação rígida da osteotomia de mento.
Botões estéticos pré­fabricados na face vestibular dos dentes.
Figura 5.21
Figura 5.22
Fotografias intraorais finais de frente (A); do lado direito (B); Do lado esquerdo (C); vistas oclusais da maxila (D) e
da mandíbula (E).
Fotografia de frente (A); de perfil (B) e do sorriso (C) pós­cirurgia.
  1.
  2.
  3.
  4.
  5.
  6.
  7.
  8.
  9.
10.
11.
Figura 5.23
Figura 5.24
Comparativo: fotos inicial (A) e final (B) do sorriso.
Foto final da face.
Considerações finais
Independentemente  do  tipo  de  montagem,  é  possível  realizar  um  tratamento  orto/cirúrgico  com  aparelho  lingual  e
possibilitar que, durante o período mais  longo do  tratamento ortodôntico até a  realização da cirurgia,  sejam cumpridas as
necessidades e o desejo estético do paciente.
Referências bibliográficas
Kairalla SA, Kairalla RA, Miranda SL et al. Ortodontia lingual: um aparelho “invisível”. Rev Bras Cir Craniomaxilofac.
2010; 13(1):40­3.
Maltagliati LA, Montes LAP. Análise dos fatores que motivam os pacientes adultos a buscarem o tratamento ortodôntico. R
Dental Press Ortodon Ortop Facial. 2007; 12(6):54­60.
Kairalla SA, Cacciafesta V, Cappellette Junior M et al. Cirurgia ortognática com aparelho ortodôntico lingual 2D. Rev Clín
Ortod Dental Press. 2013; 12(1):88­93.
Arnett W, McLaughlin RP. Planejamento facial e dentário para ortodontistas e cirurgia bucomaxilofaciais. Porto Alegre:
Artes Médicas; 2005.
Miloro M, Ghali GE, Larsen P et al. Peterson’s principles of oral and maxillofacial surgery. 3. ed. Shelton: PMPH­EUA;
2012.
Kairalla  SA,  Gagliano  A,  Paranhos  LR.  Lingual  orthodontics  as  an  aesthetic  resource  in  the  preparation  of
orthodontic/surgical treatment. IJO. 2014; 25(2):39­43.
Kairalla SA, Scuzzo G, Miranda SL de et al. Ortodontia lingual no preparo do tratamento ortodôntico/cirúrgico. Orthod Sci
Pract. 2014; 7(27):99­105.
Fillion D. An interview. Dental Press J Orthod. 2011; 16(1):22­8.
Eto LF, Shibuya RH, Thurler RCSB et al. Ortodontia lingual – o preparo para cirurgia ortognática. Orthod Sci Pract. 2015;
8(31):402­7.
Wolford LM, Rieche­Fischel O, Mehra  P.  Soft  tissue  healing  after  parasagittal  palatal  incisions  in  segmental maxillary
surgery: A review of 311 patients. J Oral Maxillofac Surg. 2002; 60(1):20­5.
Wolford LM, Karras SC, Mehra P. Considerations for orthognathic surgery during growth part 2: maxillary deformities.
Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2001; 119(2):102­5.
Finalização ortodôntica com a técnica lingual
A  fase  de  finalização  ortodôntica  consiste  em  realizar  pequenos  movimentos  dentários  com  a  finalidade  de  conseguir  a
melhor  intercuspidação dentária  e  obter  a  estabilidade necessária  para  um padrão oclusal  funcional  próximo do  ideal. Os
contatos oclusais ao final do tratamento devem ser estáveis e livres de interferências na função;1 logo, os mesmos recursos
usados  para  a  finalização  do  tratamento  ortodôntico  com  ortodontia  vestibular  podem  ser  aplicados  no  tratamento
ortodôntico com ortodontia lingual, independentemente da técnica utilizada para a montagem do aparelho.
Entre esses  recursos, podem ser utilizadas dobras de  finalização, como dobras em Z ou de  inset e offset,  para que  se
obtenha um bom acabamento ao final do tratamento. Elas podem ser realizadas removendo o arco lingual;com auxílio de
alicates  do  tipo  139  (bird beak)  com  a  ponta  fina,  pode­se  construir  nesse  arco  de  aço  .016”  ou  de TMA  .016”  a  dobra
manualmente (Figura 6.1).
As dobras também podem ser confeccionadas sem a remoção do arco lingual, ou seja, com o arco em posição na boca
do paciente, quando a movimentação desejada for bem pequena. Quando as dobras precisarem ser mais acentuadas, o ideal
é que se remova o arco lingual da boca do paciente, e, que estas dobras sejam realizadas com um alicate de ponta fina. Este
movimento deve ser realizado com muito critério, porque ao tentar remover o arco e realizar as dobras fora da boca, podem
ser  aplicadas  forças  maiores  do  que  as  pretendidas,  o  que  poderia  levar  a  uma  movimentação  maior  que  a  desejada;
portanto, quando se trata de realizar movimentos manuais, estes devem ser sempre muito sutis. Essas pequenas dobras com
o arco em posição na boca do paciente  são  realizadas com um  instrumento  chamado Taker  (Forestadent®),  que,  de modo
bastante delicado, deve ser inserido no fio por meio de uma pequena ranhura localizada na sua ponta. Quando essa pequena
ranhura  está  inserida  dentro  do  fio,  pequenos movimentos  são  feitos  para  um  lado  ou  outro  de maneira  a  construir  uma
dobra suficientemente necessária para a movimentação dental desejada, como pode ser visto na Figura 6.2.
Figura 6.2
Figura 6.1 Arco com dobras de finalização.
Outro  recurso para melhorar  a  intercuspidação pode  ser  a utilização de elásticos verticais  intermaxilares  inseridos em
ganchos metálicos chamados de Kobayashi,2 que podem ser fixados aos braquetes linguais ou inseridos no próprio gancho
do  braquete  quando  isso  for  possível.  Dessa  maneira,  os  elásticos  intermaxilares  podem  ser  colocados  por  lingual,
satisfazendo a estética do paciente (Figura 6.3). Também com relação à intercuspidação para finalização na região posterior
ou mesmo  em  algum  detalhamento  na  região  anterior,  principalmente  na  região  de  caninos  superiores,  podem­se  utilizar
elásticos intermaxilares por vestibular com auxílio de botões metálicos, quando a estética permitir, ou botões estéticos pré­
fabricados e/ou confeccionados em resina fotopolimerizável. Nesse caso, apesar da desvantagem estética, existe a vantagem
da facilidade de colocação dos elásticos por parte do paciente, e  isso deve ser observado e discutido para que a utilização
seja feita de maneira eficaz para alcançar o objetivo (Figura 6.4).
Instrumento Taker realizando a pequena dobra intraoral (A); dobra finalizada (B) e Taker (Forestadent®) (C).
Figura 6.5
Figura 6.3
Figura 6.4
Elásticos intraorais inseridos por lingual.
Elásticos intraorais inseridos por vestibular.
Remoção
Quando o  caso  estiver  finalizado,  procede­se  à  remoção  dos  braquetes,  que  pode  ser  feita  com auxílio  de  pinças  do  tipo
Mateau  com  ou  sem  curva,  as  quais  se  prendem  ao  gancho  do  braquete  lingual  de  modo  que  este  possa  ser  removido
fazendo­se um pequeno movimento no sentido oposto da fixação, ou seja, de cervical para oclusal (Figuras 6.5). No caso
dos braquetes que não tenham ganchos, a remoção pode ser realizada com a utilização de alicates de corte de amarrilho ou
alicates para remoção de braquetes vestibulares (Figura 6.6).
A. Fixação da pinça Mateau ao gancho do braquete lingual. B. Remoção do braquete no sentido de cervical para
oclusal.
Figura 6.6 Remoção do braquete sem gancho.
Após  a  remoção  dos  braquetes,  os  excessos  de  resina  podem  ser  facilmente  removidos  com  uma  broca  diamantada
dourada ou multilaminada, esférica ou em formato de pera; em seguida, deve­se fazer um polimento na superfície dentária
da mesma maneira quando da remoção de braquetes na técnica vestibular.
Contenção
A contenção dos dentes pós­tratamento ortodôntico deve ser feita por um período de tempo necessário para a manutenção
dos resultados obtidos.3
Existem  diversos  tipos  de  contenções  utilizadas  pós­tratamento  ortodôntico,  e  elas  podem  ser  fixas  ou  removíveis.4
Porém,  diferentemente  dos  tratamentos  realizados  com  a  técnica  vestibular,  a  contenção  de  casos  tratados  com  aparelho
lingual  deve  também  ser  estética,  além  de  manter  os  resultados  do  tratamento.3  O  paciente  que  realiza  um  tratamento
dentário com uma técnica ortodôntica lingual ou estética dificilmente utilizará uma contenção não estética, como uma placa
removível  de  Hawley  (1919)5  convencional  (Figura  6.7);  nesse  caso,  ser  for  necessária  a  sua  utilização,  deverá  ser
recomendada somente para uso noturno.
Nos  casos  em  que  o  profissional  preferir  o  uso  de  uma  contenção  removível  diurna,  existe  uma  placa  de  Hawley
modificada com um fio de polímero orgânico, conhecida como QCM Retainer (Chikami Miltec Inc., Kochi, Japão).6,7 Ela
é  um  pouco mais  estética,  pois  o  fio metálico  de  aço  do  aparelho  removível  de Hawley  que  fica  na  face  vestibular  dos
dentes  anteriores  é  substituído  por  um  fio  de  polímero  orgânico,  transparente  e,  portanto,  muito  mais  estético,  o  que
permite o uso diurno e noturno da contenção dental.
Outra opção de contenção mais estética e também removível são as placas de acetato,8,9 que são  transparentes; porém,
elas não têm a mesma resistência de um aparelho de Hawley e, com o tempo de uso, devem ser substituídas por outra de
1,0 mm ou até mesmo de 1,5 mm, dependendo do cuidado do paciente. Elas podem ser utilizadas nos arcos dentais superior
e inferior (Figura 6.8).
De qualquer modo, as placas  removíveis  são  fáceis de higienizar;10  entretanto, para  serem efetivas, dependem do uso
disciplinado por parte do paciente,10 principalmente logo após remoção do aparelho ortodôntico lingual, a fim de manter a
estabilidade do tratamento realizado.3
Podem ser utilizadas também as contenções fixas,10­12 que são as mesmas utilizadas quando do tratamento com aparelho
vestibular. Elas podem ser construídas de canino a canino inferior (3/3), de um primeiro pré­molar ao outro (4/4), de um
segundo  pré­molar  ao  outro  (5/5)10  e  de  canino  a  canino  superior  (3/3),  quando  houver  espaço  suficiente  para  o  fio  e  a
resina composta para sua fixação, e sempre que a oclusão permitir. Nos casos em que a oclusão não permitir, as contenções
podem ser fixadas de incisivo lateral a incisivo lateral superior (2/2), como mostra a Figura 6.9.
Figura 6.7
Figura 6.8
Placa removível de Hawley convencional.
Confecção da placa de acetato (A); placas de acetado finalizadas (B).
As contenções fixas podem ser confeccionadas com o fio de aço de forma contornada, que é a contenção higiênica,12 ou
com o fio contínuo.10,11 Porém, existem controvérsias quanto ao seu uso, as quais não serão abordadas neste capítulo.
Outra possibilidade de manter os dentes tratados em contenção é a utilização dos próprios braquetes do Sistema Lingual
2D®  (Capítulo 2, Sistema Lingual 2D®),  cuja manutenção pode  ser  indicada como  forma de contenção. Contudo, deve­se
manter o controle do caso e rever os pacientes em consultas de retorno periódicas para realização de profilaxia, evitando o
acúmulo  de  placa  bacteriana  e  tártaro  (Figura  6.10).  Após  algum  tempo,  os  braquetes  devem  ser  removidos  na  sua
totalidade, e pode ser indicado ou não algum outro tipo de contenção.
Figura 6.9
Figura 6.10
A. Contenção fixa inferior 3/3 confeccionada com fio Twist Flex (Morelli) CrNi.020”. B. Contenção fixa superior 3/3
confeccionada  com  fio  Twist  Flex  (Morelli)  CrNi.020”.  C.  Contenção  fixa  superior  3/3  confeccionada  com  fio
Retainium (Reliance). D. Contenção fixa 2/2 confeccionada com fio Twist Flex (Morelli) CrNi.020”.
Contenção fixa com braquetes 2D® (A); aspecto da contenção fixa com braquetes 2D® e após remoção (B).
A combinação de técnicas já propostas também pode ser utilizada como forma de contenção; assim, pode ser mantida a
contenção fixa, e junto a ela, com indicaçãode uso diurno e/ou noturno, podem ser utilizadas contenções removíveis, como
um aparelho tipo Hawley sem o arco vestibular (Figuras 6.11) ou placas de acetato sobre a contenção fixa (Figura 6.12).
Por fim, a escolha do tipo de contenção a ser utilizada em um tratamento com aparelho lingual poderá depender do tipo
da  má  oclusão  já  corrigida,  da  disciplina  do  paciente  com  relação  ao  uso  do  aparelho  e  da  higienização,  bem  como  de
habilidade, conceitos e experiências adquiridos durante os anos de trabalho como ortodontista, quando este passar a realizar
um tratamento ortodôntico com a técnica lingual.
Figura 6.11
Figura 6.12
  1.
  2.
  3.
  4.
  5.
  6.
  7.
  8.
  9.
10.
A. Contenção removível com aparelho tipo Hawley sem o arco vestibular. B. Contenção removível com aparelho
tipo Hawley sem o arco vestibular combinado com contenção fixa 3/3.
Combinação de contenção removível com placa de acetato sobre a contenção fixa em uma vista oclusal (A) e em
uma vista frontal (B).
Considerações finais
Observa­se ao  final deste capítulo que os princípios para  finalizar de maneira adequada os casos  tratados com ortodontia
lingual são os mesmos e têm a mesma importância dos casos finalizados com a técnica convencional por vestibular. Apenas
nota­se  que  podem  ser  utilizados  pequenos  recursos  que  atendam  ao  apelo  estético  dos  pacientes  e  que  são  pertinentes
àqueles  que  utilizam  uma  técnica  ortodôntica  estética.  E muitas  vezes,  a  escolha  de  qual  a melhor  forma  em  se  fazer  a
finalização e  consequente  contenção dos  casos  tratados,  fica  a  critério do profissional que  a  executa  e de  sua  experiência
clínica.
Referências bibliográficas
Williams JK, Isaacson KG, Cook PA et al. Aparelhos ortodônticos fixos: princípios e prática. Rio de Janeiro: Santos; 1997.
p. 127­9.
McLaughlin RP, Bennett JC. Finishing and detailing with a preadjusted appliance system. J Clin Orthod. 1991; 4(25):251­
64.
Blake M, Bibby K. Retention and stability: a review of the literature. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 1998; 114:299­306.
Störmann I, Ehmer U. A prospective randomized study of different retainer types. J Orofac Orthop. 2002; 63(1):42­50.
Hawley CA. A removable retainer. The Dental Cosmos. 1919; 6(61):449­55.
Sa’Do B, Nakata S, Morishita T et al. New esthetic organic polymer maxillary retainers. JCO. 2001:35(5).
Macedo A, Facchini F, Ueti M et al. Aparelho de contenção estética com fio de polímero orgânico. Ortodontia SPO. 2014;
47(5):459­63.
Kim TW, Park JH. An aesthetic orthodontic treatment option fabrication and applications. Dentistry Today – Orthodontics.
2008; 48­50.
Echarri P. Ortodoncia invisible u ortodoncia para el paciente. Dental Tribune Spain. 2013; 3(8):1­9.
Cardon S, Dolci GS, Marchioro EM. Contenção inferior fixa 3×3 com fio meia­cana. Rev Clín Ortod Dental Press. 2011­
2012; 10(6):94­6.
11.
12.
Silva Filho OG, Kubitski MG, Marinho ET. Contenção fixa  inferior 3×3: considerações sobre a sua confecção, colagem
direta e remoção. R Clin Ortodon Dental Press. 2004­2005; 6(3):17­24.
Macedo A, Nahás Scocate ACR, Barros CC et al. Contenção em ortodontia. Ortodontia. 2009; 42(2):158­63.
Introdução
Nos capítulos anteriores, foram descritos e apresentadas diversas figuras ilustrando procedimentos clínicos, alguns deles de
forma parcial, pois o intuito era demonstrar a técnica propriamente dita e a maneira como foram montados ou realizados, e
alguns casos clínicos sobre o tema abordado foram utilizados como exemplo.
Com objetivo  de  ilustrar  e  sedimentar  a  técnica  lingual,  destinou­se  este  último  capítulo  para  o  relato  de mais  casos
clínicos. Neste, foram inseridos tratamentos com pacientes de ambos os sexos, de diferentes idades e apresentando diversos
tipos ou padrões faciais e que puderam ser esmiuçados com mais detalhes para melhor descrever a técnica lingual utilizada.
Caso clínico 1
A paciente R. D. G. S., com 40 anos e 9 meses, leucoderma, classificada como padrão II facial, braquifacial, face simétrica
(Figura 7.1),  apresentava má  oclusão  de  classe  II  de Angle,  subdivisão  esquerda. No  arco  da maxila  os  dentes  13  e  14
apresentavam  giroversão  e  leve  apinhamento  anterior  superior,  com  trespasse  vertical  (overbite)  de  5,0  mm  e  trespasse
horizontal (overjet) de 6,0 mm decorrentes da protrusão dos incisivos superiores. No arco da mandíbula o apinhamento era
maior.
A paciente só aceitava o tratamento para a correção dos apinhamentos, que era a sua queixa principal, por meio de um
aparelho estético; assim, optou­se pelo aparelho  lingual 2D® da Forestadent®, cuja montagem é simplificada (Figura 7.2).
Após a seleção dos braquetes, procedeu­se à montagem no arco superior e colocação do primeiro fio, que foi o Biolingual®
.012”. Na sessão seguinte, após 1 semana, foi montado o aparelho inferior e utilizado fio Titanol® .012” (Figura 7.3). Por
ser  braquifacial,  havia  maior  incidência  de  quebra  de  braquetes;  por  isso,  foi  necessário  fazer  um  aumento  em  resina
composta ou build up nos segundos molares superiores (Figura 7.4). Em uma fase intermediária, pôde ser vista a evolução
do caso no arco superior com fio TMA .016” e no arco  inferior com fio Biolingual®  .016” (Figura 7.5). Para melhorar a
classificação  da  má  oclusão,  a  intercuspidação  e  o  remanescente  apinhamento,  foram  realizados  os  últimos  desgastes
interproximais  e utilizados  elásticos  em cadeia  (power chain),  assim como dobras nos  fios de TMA  .016”  inseridos nos
arcos superior e  inferior  (Figura 7.6). Na  fase  final de  tratamento, no arco  superior  foi mantido  fio TMA  .016” com um
número maior  de  dobras  para  as  correções mais  refinadas,  uma vez  que  o  paciente  que  utiliza  o  aparelho  lingual  é mais
exigente quanto ao alinhamento dos dentes, porque ele consegue acompanhar melhor a evolução do caso, já que não existe
nenhum braquete na face vestibular. No arco inferior para finalização foi  inserido fio de aço  .016” (Figura 7.7). A Figura
7.8 mostra o caso finalizado com a má oclusão corrigida e a contenção 3/3 nos arcos inferior e a contenção fixa 2/2 no arco
superior complementada com uma placa de acetato de uso noturno (Figura 7.9). A Figura 10.10 mostra o resultado final do
tratamento.
Figura 7.1 Fotografias iniciais de frente (A); do sorriso (B); de perfil (C) e telerradiografia (D).
Figura 7.2
Figura 7.3
Fotografias  iniciais  intraorais de frente (A); do lado direito (B); do lado esquerdo (C); vista oclusal do arco dental
maxilar (D); vista oclusal do arco dental mandibular (E) e radiografia panorâmica (F).
Fase inicial de nivelamento no arco dental maxilar (A) e do arco dental mandibular (B).
Figura 7.4
Figura 7.5
Figura 7.6
Vista de  frente da oclusão com build up  (A);  vista da desoclusão  lateral direita  (B) e vista da desoclusão  lateral
esquerda (C).
Fase intermediária de nivelamento nos arcos dentais maxilar (A) e mandibular (B).
Fase final do nivelamento e alinhamento nos arcos dentais maxilar (A) e mandibular (B).
Figura 7.8
Figura 7.7 Finalização nos arcos dentais maxilar (A) e mandibular (B).
Fotografias finais intraorais de frente (A); do lado direito (B); Fotografia final intraoral do lado esquerdo (C); vista final
dos seis dentes anteriores superiores (D) e vista final dos seis dentes anteriores inferiores (E).
Figura 7.9
Figura 7.10
Vista oclusal com contenção inferior 3/3 (A); vista oclusal com contenção superior 2/2 (B) e contenção com placa de
acetato (C).
Fotografias finais de frente (A); do sorriso (B) e de perfil (C).
Caso clínico 2
O  paciente  A.  de  M.  M.,  com  20  anos,  leucoderma,  padrão  III  facial,  dolicofacial  e  face  assimétrica  (Figura  7.11),
apresentava uma oclusão dentária de classe III, apinhamentos no arco dental da maxila e da mandíbula, compensação dental
natural na região dos incisivos, desvio de linha média inferior e mordida cruzada anterior e posterior (Figura 7.12).
Sua  principal  queixaera  a mordida  cruzada  anterior  e  o  aspecto  da  face.  Por  ser  nitidamente  um caso  com  indicação
cirúrgica,  foi  proposta  a  correção  ortodôntica  utilizando  aparelho  lingual  com  braquetes  autoligados  2D®  junto  com  a
cirurgia ortognática.
A Figura 7.13 mostra  os  braquetes  linguais  autoligados  2D®  colados  nos  arcos  dentais maxilar  e mandibular  na  fase
inicial do tratamento ortodôntico. Na Figura 7.14 observam­se o nivelamento e o alinhamento já em uma fase intermediária.
Nesse caso, a técnica cirúrgica utilizada na maxila foi a Lefort I em um único segmento, o que tornou possível que, após o
alinhamento  e  o  nivelamento  dos  dentes  e  as  descompensações  necessárias  para  um  caso  cirúrgico  com  o  aparelho
ortodôntico  lingual,  pudessem  ser  colados  previamente  à  cirurgia  ortognática  apenas  botões  estéticos  e metálicos  na  face
vestibular dos dentes, e não braquetes ortodônticos, como ilustra a Figura 7.15.
Figura 7.11 Fotografias iniciais de frente (A); do sorriso (B); de perfil (C); telerradiografia (D) e panorâmica (E).
Figura 7.12 Fotografias iniciais intraorais de frente (A); do lado direito (B); do lado esquerdo (C); vista oclusal da maxila (D) e
da mandíbula (E).
Figura 7.13
Figura 7.14
Vista oclusal dos arcos dentais maxilar (A) e mandibular (B) com o aparelho lingual 2D e fio Biolingual® .014”.
Fase  intermediária  do  nivelamento  no  arco  dental  maxilar  com  fio  de  aço  .016”  (A)  e  fase  intermediária  do
nivelamento no arco dental mandibular com fio de Titanol .016” (B).
Figura 7.15 Fotografias intraorais dos arcos dentais com botões estéticos e metálicos (A); vista lateral direita com botões (B);
vista lateral esquerda com botões (C); vista oclusal da maxila (D) e vista oclusal da mandíbula (E).
Após 45 dias da cirurgia na maxila, na mandíbula e no mento (Figura 7.16), o paciente ainda utilizava os elásticos pós­
cirúrgicos  (Figura  7.17);  aos  poucos,  foi  removido  o  arco  do  aparelho  lingual,  primeiramente  na  região  dos  dentes
posteriores (Figura 7.18). Em seguida, foram removidos todos os braquetes linguais e colocada a contenção fixa superior e
inferior.  Do  início  do  tratamento  ortodôntico  até  essa  fase,  passaram­se  11 meses.  Como  o  paciente  iria  ausentar­se  do
acompanhamento do  tratamento por  um  longo período por motivo de viagem,  foi mantido  somente  um botão  estético no
dente 33 e um botão metálico no dente 17, para uso do elástico  intermaxilar  junto com placas de acetato de uso noturno,
uma vez que ainda restavam alguns milímetros para a intercuspidação desejada (Figura 7.19).
Quando o paciente retornou, puderam ser removidos os botões remanescentes e as contenções de acetato, permanecendo
somente  as  contenções  fixas,  como  evidencia  a  Figura 7.20.  O  resultado  final  intraoral  é  mostrado  na  Figura  7.21,  e  o
estético facial, na Figura 7.22.
Figura 7.16
Figura 7.17
A. Cirurgia da maxila Lefort I. B. Cirurgia de mandíbula. C. Cirurgia de mento. D. Fixação pós­cirurgia.
Elásticos utilizados após a cirurgia.
Figura 7.19
Figura 7.18 Fotografias intraorais laterais direita (A); esquerda (B); vista oclusal do arco superior (C) e do arco inferior (D).
Contenção superior (A); inferior (B); fase de contenção com placa de acetato (C) e vista lateral do uso de elástico
com a placa de acetato (D).
Figura 7.20
Figura 7.21
Figura 7.22
A. Vista do arco maxilar com contenção final. B. Vista do arco mandibular com contenção final sem o botão estético.
Fotografias finais intraorais de frente (A); do lado direito (B) e do lado esquerdo (C).
Vistas da face de frente (A); do sorriso (B) e de perfil na fase pós­cirúrgica (C).
Caso clínico 3
O paciente  leucoderma,  37  anos  e  7 meses,  com as  bases  ósseas  em desarmonia  e  retroposicionadas,  braquifacial  grave,
porém simétrico, pode também ser classificado como padrão face curta (Figura 7.23). No exame intraoral foi diagnosticada
Figura 7.23
uma  oclusão  de  classe  I  de Angle,  com  apinhamentos  nos  dentes  anteriores  superiores  e  inferiores  (queixa  principal  do
paciente), além de trespasse horizontal (overjet) de 5 mm e trespasse vertical (overbite) de 5,5 mm (Figura 7.24).
O tratamento ortodôntico requerido foi a  técnica  lingual, utilizando os braquetes 2D® da Forestadent®. Primeiramente,
foi  construído  um  build  up,  ou  levante  em  resina  composta  fotopolimerizada,  nos  primeiros  molares  superiores;  em
seguida, com a obtenção do espaço para montagem do arco superior, os braquetes 2D®  foram posicionados nos dentes da
maxila e da mandíbula, sendo inseridos arcos de fio Titanol® .012” (Figura 7.25). Na sequência do tratamento, foi utilizado
o fio Titanol® .014” nos arcos dentais superior e inferior, com power chain ou elásticos em cadeia no arco inferior (Figura
7.26). Conforme alinhamento e nivelamento obtidos, os  fios aumentaram de calibre,  como mostra a Figura 7.27, em que
foram utilizados os fios Titanol® .016”. Também nessa fase foram removidos os levantes de resina composta dos primeiros
molares superiores e transpostos para os segundos molares inferiores.
Após as fases de nivelamento e alinhamento, iniciou­se a finalização. Para isso, foram utilizados fios de TMA .016” no
arco superior e no inferior (Figura 7.28) e construídos botões em resina composta tipo flow, o que possibilitou a colocação
de  elásticos  intermaxilares  para  intercuspidação  desses  dentes  (Figura 7.29). O  caso  finalizado  pode  ser  visto  na  Figura
7.30 A a C, e a contenção fixa de canino a canino no arco superior e inferior, na Figura 7.30 D e E.
Telerradiografia (A) e radiografia panorâmica (B).
Figura 7.24 Fotografias iniciais intraorais de frente (A); do lado direito (B); do lado esquerdo (C); vista oclusal dos arcos dentais
maxilar (D); mandibular (E); vista das laterais direita e esquerda dos modelos de gesso (F e G); Vista oclusal dos
modelos de gesso (H e I); vista de frente dos modelos de gesso (J e K) e vista de frente simulando boca aberta e fechada dos
modelos de gesso (L e M).
Figura 7.25
Figura 7.26
Vista de frente do levante de mordida (A); vistas laterais direita (B) e esquerda (C) do levante de mordida (B); fase
inicial de nivelamento nos arcos dentais maxilar (D) e mandibular (E).
Fase intermediária de nivelamento nos arcos dentais maxilar (A) e mandibular (B).
Figura 7.27
Figura 7.28
Figura 7.29
Fase final de nivelamento nos arcos dentais maxilar (A) e mandibular (B).
Fase de finalização nos arcos dentais maxilar (A) e mandibular (B).
Vistas de frente (A); da lateral direita (B) e da lateral esquerda dos botões em resina composta (C).
Figura 7.30 Fotografias finais intraorais de frente (A); do lado direito (B); do lado esquerdo (C); vista oclusal com contenção
superior (D) e inferior (E) 3/3.
Caso clínico 4
O  paciente  A.  B.  M.,  com  23  anos  e  9  meses,  leucoderma,  padrão  II  facial,  braquifacial,  simétrico  (Figura  7.31),
apresentava  uma  oclusão  de  classe  II  Angle  (Figura  7.32),  apinhamentos  dentários  no  arco  superior  e  inferior  e  coroa
metalocerâmica  no  dente  42  (Figura  7.33),  trespasse  vertical  (overbite)  de  6,0  mm,  trespasse  horizontal  de  4,0  mm  e
acentuada curva de Spee inferior (Figura 7.34). Ele desejava melhorar o sorriso e usar um aparelho estético imperceptível;
por isso, o tratamento foi realizado com braquetes 3D®, e a montagem do aparelho foi feita pelo Sistema Kairalla, ou seja,
em modelos de setup  e colagem  indireta. A Figura 7.35 mostra  os  braquetes  linguais  autoligados  3D® colados  nos  arcos
dentais  maxilar  e  mandibular  na  fase  inicial  do  tratamento  ortodôntico  com  fios  Biolingual®  .012”.  Na  Figura  7.36,
observa­se ausência de contato dos dentes posteriores, causada pela colocação de “um levante da mordida” (build up) com
resina composta fotoativada inserida na oclusal dos segundos molares superiores. Isso impediu que o paciente ocluísse nos
braqueteslinguais e também favoreceu, de certa forma, as fases intermediária e final do nivelamento e alinhamento para a
correção da curva de Spee, bastante acentuada  (Figura 7.37). Após a  remoção dos braquetes,  foram colocadas contenções
fixas nos dentes  anteriores  de  canino  a  canino,  na maxila  e  na mandíbula  (Figura 7.38). Nas  fotografias  finais,  pode  ser
observada a correção dos apinhamentos nos dentes anteriores e da curva de Spee (Figuras 7.39 e 7.40).
Figura 7.31 Fotografias iniciais de frente (A); do sorriso (B); de perfil (C); telerradiografia (D) e panorâmica (E).
Figura 7.33
Figura 7.32 Fotografias iniciais intraorais de frente (A); do lado direito (B) e do lado esquerdo (C).
Vistas oclusais dos arcos dentais maxilar (A); mandibular (B); vistas anteriores dos apinhamentos dentais superior
(C) e inferior (D).
Figura 7.34
Figura 7.35
Vistas em oclusão (A) e desoclusão (B); vista dos modelos em gesso evidenciando a marca do trespasse vertical
nos incisivos inferiores e a curva de Spee (B); vistas laterais direita (C) e esquerda (D) dos modelos evidenciando o
trespasse horizontal e a classe II.
Vistas oclusais dos arcos dentais maxilar (A) e mandibular (B) com o aparelho lingual 3D e fio Biolingual® .012”.
Figura 7.37
Figura 7.36 Vistas da oclusão de frente (A); da lateral direita (B) e da lateral esquerda (C) com o levante de mordida posterior.
A. Fase intermediária do nivelamento no arco dental maxilar com fio Biolingual® .016”. B. Fase  intermediária do
nivelamento no arco dental mandibular com fio TMA .016”. C. Arco retangular Betaflex .022” × .016” no arco dental da maxila na
fase final do tratamento.
Figura 7.39
Figura 7.38 Contenção fixa superior (A); inferior (B).
Fotografias  finais  intraorais  de  frente  (A);  do  lado  direito  (B);  do  lado  esquerdo  (C);  dos  dentes  anteriores
superiores (D) e dos dentes anteriores inferiores (E).
Figura 7.40 Vistas da face de frente (A); do sorriso (B) e de perfil (C).
Caso clínico 5
O paciente V. C. S., com 26 anos e 1 mês, leucoderma, classificado como padrão II facial, dolicofacial, simétrico (Figura
7.41),  apresentava  oclusão  de  classe  I  de  Angle  com  biprotrusão  dentária,  ou  seja,  projeção  e  acentuada  inclinação
vestibular dos  incisivos anteriores  superiores e  inferiores. Os arcos não apresentavam atresia, mas havia  falta de espaço,
pois  era  evidente o  apinhamento dos dentes nas  regiões  anterior  superior  e  inferior,  sendo este  ainda mais grave no arco
inferior, com uma giroversão bastante considerável no dente 43 com desvio da  linha média  inferior para a direita  (Figura
7.42).
A  queixa  principal  do  paciente  era  com  relação  aos  apinhamentos,  e  ele  desejava  um  tratamento  corretivo  com  um
aparelho totalmente estético e sem exodontias. Assim, optou­se pelo aparelho lingual 2D® da Forestadent® com montagem
simplificada, e o planejamento foi o alinhamento e o nivelamento com a realização de desgastes interproximais.
O primeiro passo foi a montagem dos braquetes selecionados no arco dentário superior, com a colocação do primeiro
fio Biolingual®  .014”. Na sessão seguinte, 1 semana depois,  foi montado o aparelho inferior e utilizado o fio Biolingual®
.010”, de calibre menor devido ao grande apinhamento inferior (Figura 7.43).
Após algumas descolagens somente dos tubos nos molares superiores, decidiu­se por não recolar até que avançássemos
para um fio de maior calibre, e foi dada sequência ao alinhamento e nivelamento com fio Titanol® .014” nos arcos superior
e inferior (Figura 7.44). Durante o tratamento, notou­se que os molares superiores estavam com uma boa intercuspidação e
se mantiveram em chave de oclusão de classe I de Angle. Por não ter sido necessária a realização de um levante de mordida
(build up),  percebeu­se  que  os molares  superiores  não  sofreriam nenhum deslocamento  e,  já  que  o  apinhamento  anterior
havia  quase  se  dissolvido  por  completo,  não  houve  necessidade  de  ancoragem,  e  o  tratamento  continuou  sem  uma  nova
colagem dos tubos nesses dentes.
Na Figura 7.45,  verificam­se:  o  fio  de Titanol®  .016”  no  arco  superior,  com  a  evidência  de  desgastes  interproximais
realizados e a presença de um elástico em cadeia para o fechamento dos respectivos espaços necessários, a fim de sanar o
problema  do  apinhamento;  e  um  fio  Titanol®  .016”  e  elásticos  em  cadeia  no  arco  inferior,  com  a  intenção  de  fechar  os
espaços conseguidos por meio de desgate interproximal realizados na distal do dente 41, mesial do dente 42, distal do dente
43 e mesial do dente 44, obtendo, assim, espaço para o dente 43.
Figura 7.41 Fotografias iniciais de frente (A); do sorriso (B); de perfil (C) e telerradiografia (D).
Na continuidade do tratamento, pôde ser vista uma evolução maior no arco superior,  já com um fio TMA .016”, e no
arco  inferior,  com um  fio Biolingual®  .014”,  além  da  troca  do  braquete  de  uma  aleta  para  uma  de  duas  aletas,  a  fim  de
corrigir  o  giro  do  dente  43, mantendo  a  utilização  dos  elásticos  em  cadeia  (Figura 7.46). Ao  final  do  tratamento,  foram
colocados em ambos os arcos uma contenção fixa 2/2 no arco superior e 3/3 no inferior (Figura 7.47).
O  resultado  final  da oclusão pode  ser visto na Figura 7.48,  e o  resultado na  face  é demonstrado na Figura 7.49.  Um
comparativo do resultado na região anterior superior pode ser visto na Figura 7.50, e, na região anterior inferior, na Figura
7.51.
Figura 7.42
Figura 7.43
Fotografias  iniciais  intraorais de  frente  (A);  do  lado direito  (B);  do  lado esquerdo  (C);  vistas oclusais dos arcos
dentais maxilar (D); mandibular (E) e radiografia panorâmica (F).
Fase  inicial  de  nivelamento  dos  arcos  dentais  maxilar  com  fio  Biolingual®  .014”  (A)  e  mandibular  com  fio
Biolingual® .010” (B).
Figura 7.44
Figura 7.45
Fase intermediária de nivelamento nos arcos dentais maxilar (A) e mandibular (B) com fio Titanol® .014”.
Fase intermediária de nivelamento nos arcos dentais maxilar (A) e mandibular (B) com fio Titanol® .016”.
Figura 7.46
Figura 7.47
Figura 7.48
A.  Fase  de  nivelamento  e  alinhamento  no  arco  dental maxilar  com  fio  TMA  .016”. B.  Fase  de  nivelamento  e
alinhamento no arco dental mandibular com fio Biolingual® .014”. C. Detalhe da troca do braquete 2D no dente 43.
A.  Vista  oclusal  do  arco  superior  com  finalização  e  contenção  superior. B.  Vista  oclusal  do  arco  inferior  com
finalização e contenção inferior.
Fotografias finais intraorais de frente (A); do lado direito (B) e do lado esquerdo (C).
Figura 7.49
Figura 7.50
Figura 7.51
Fotografias finais de frente (A); do sorriso (B) e de perfil (C).
Fotografias inicial (A) e final (B) dos dentes anteriores superiores.
Fotografias inicial (A) e final (B) dos dentes anteriores inferiores (A).
	Capa
	Contra capa
	GEN
	Folha de rosto
	Copyright
	Colaboradores
	Agradecimentos
	Apresentação
	Prefácio
	Sumário
	1 Considerações Gerais sobre Ortodontia Lingual
	2 Sistema Lingual 2D®
	3 Sistema Lingual 3D®
	4 Biomecânica
	5 Ortodontia Lingual nas Cirurgias Ortognáticas
	6 Finalização dos Tratamentos com Ortodontia Lingual
	7 Casos Clínicos