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CAPÍTULO 3. Teoria de Grupos Abstratos 121 3.7 ESTRUTURAS ALGÉBRICAS Nesta seção será feita uma descrição sucinta de algumas Estruturas Algébricas, entre as quais os grupos estão contidos. A principal razão para tanto está na necessidade de definição formal de uma álgebra, onde serão discutidos os grupos e a álgebra de Lie. Uma estrutura algébrica é composta por um conjunto de objetos, os quais se interrelaci- onam através de uma ou mais operações finitárias definidas sobre o conjunto. As definições dessas operações finitárias e de outros conceitos envolvendo relações entre objetos contidos em conjuntos serão apresentadas antes de se definir as estruturas propriamente ditas. Definição 3.25 (Operação finitária). Uma operação finitária é uma operação (ou ação ou pro- cedimento) aplicada sobre um número finito de objetos, produzindo um resultado. Se a operação é realizada sobre um número infinito de objetos, está é denominada operação infinitária. Dentre as operações finitárias, as mais comuns são: • Operações 1-árias ou unárias: operações executadas sobre um único objeto. • Operações 2-árias ou binárias: operações executadas entre dois objetos. Adição e multipli- cação são os exemplos mais comuns de operações binárias. Definição 3.26 (Estrutura algébrica). Seja C um conjunto de objetos e F uma coleção de operações sobre C e elementos especiais. A dupla 〈C,F 〉 é denominada uma estrutura algébrica sobre C. Muitas vezes, por simplicidade e quando não houver ambiguidade, representa-se a estrutura 〈C,F 〉 simplesmente por C. Na sua maior generalidade possível, estruturas algébricas podem envolver um número arbitrário de conjuntos e uma vasta coleção de operações entre os mesmos. De interesse à física, serão definidas somente estruturas envolvendo, no máximo, dois conjuntos e com, no máximo, duas operações definidas sobre os mesmos. Definição 3.27 (Produto Cartesiano de conjuntos). Dados m conjuntos C1, . . . , Cn, o seu pro- duto Cartesiano é o conjunto Cn ≡ C1 × · · · × Cn . = {(c1, . . . , cn) | ck ∈ Ck,∀1 6 k 6 n} . O objeto (c1, . . . , cn) é denominado uma n-upla ordenada. Se n = 2, a 2-upla é também denomi- nada de par ordenado. Definição 3.28 (Comutatividade, associatividade e distributividade de operações biná- rias). Dado o conjunto C, denota-se por C2 ou C × C o produto Cartesiano de todas as duplas ordenadas formadas em C e por χ : C2 −→ C a função que executa a operação binária entre os elementos de um par ordenado e com resultado aplicado sobre C. Dados a, b, c ∈ C, a operação binária entre quaisquer pares destes é denotada por aχb. Definem-se então as seguintes leis de operações binárias: Lei da associatividade: Uma operação binária χ : C2 −→ C é dita associativa se aχ (bχc) = (aχb)χc. Lei da comutatividade: Uma operação binária χ : C2 −→ C é dita comutativa ou Abeliana se aχb = bχa. Lei da distributividade: Dadas duas operações binárias χ1, χ2 : C2 −→ C, a operação χ1 é dita distributiva em relação a χ2 se: aχ1 (bχ2c) = (aχ1b)χ2 (aχ1c) . Exemplo 3.11. A estrutura algébrica mais conhecida é 〈R,+,×〉, a qual usa as operações de adição (“+”) e multiplicação (“×”) usuais. De acordo com a definição acima, dados a, b, c ∈ R: • Adição é associativa: a+ (b+ c) = (a+ b) + c. Autor: Rudi Gaelzer – IF/UFRGS Início: 05/2013 Impresso: 8 DE DEZEMBRO DE 2022 122 3.7. Estruturas algébricas • Multiplicação é associativa: a× (b× c) = (a× b)× c. • Adição é comutativa: a+ b = b+ a. • Multiplicação é comutativa: a× b = b× a. • Multiplicação é distributiva em relação a adição: a× (b+ c) = (a× b) + (a× c). • Adição não é distributiva em relação a multiplicação: a + (b× c) 6= (a+ b) × (a+ c) = a + (b× c) + a× [a+ b+ c− 1]. Dentre as diversas estruturas algébricas já definidas, as de interesse podem ser agrupadas da maneira apresentada a seguir. 3.7.1 ESTRUTURAS COMPOSTAS POR UM CONJUNTO COM OPERA- ÇÕES Consistem nas estruturas com um único conjunto 〈C,F 〉. Dentre estas, destacam-se: 3.7.1.1 ESTRUTURAS DO TIPO GRUPO Estruturas que contêm uma única operação binária. Magma ou grupóide. Dado o conjunto C e a operação binária • : C2 → C, a estrutura 〈C, •〉 será um grupóide se os seus elementos satisfizerem: Condição de clausura: ∀a, b ∈ C, a • b ∈ C. Semigrupo. Dado o conjunto C e a operação binária •, denominada produto, a estrutura 〈C, •〉 será um semigrupo se os seus elementos satisfizerem: Condição de associatividade: ∀a, c, b ∈ C, a • (b • c) = (a • b) • c. Nota-se aqui que a condição de clausura está ausente. Subsemigrupo. Um subsemigrupo de 〈C, •〉 é um subconjunto não vazio D ⊆ C o qual satisfaz a condição de clausura sob o produto do semigrupo, i. e., ∀a, b ∈ D, a • b ∈ D. Um subsemigrupo pode ser considerado um grupóide com a condição de associatividade. Monóide. Dado o conjunto C e a operação binária •, denominada produto, a estrutura 〈C, •〉 será um monóide se os seus elementos satisfizerem: Condição de associatividade: ∀a, c, b ∈ C, a • (b • c) = (a • b) • c. Elemento identidade: ∃I ∈ C tal que ∀a ∈ C, a • I = I • a = a. Um monóide consiste em um semigrupo com elemento identidade. Submonóide. Um submonóide de 〈C, •〉 é um subconjunto não vazio D ⊆ C o qual satisfaz a condição de clausura sob o produto do monóide, i. e., ∀a, b ∈ D, a • b ∈ D, e contém a identidade, i. e., I ∈ D. Grupo. Dado o conjunto C e a operação binária • : C2 → C, denominada produto, a estrutura 〈C, •〉 será um grupo se satisfizer os axiomas de grupo da definição 3.1. Percebe-se nas definições acima que, partindo de um magma, cada estrutura posterior pode ser considerada, sob certas condições, uma extensão das estruturas anteriores. O diagrama na figura 3.10 representa esta evolução condicional. Cada estrutura ao final de uma seta “herda” as propriedades da estrutura anterior. A inversão no sentido das setas depende da adição de condições adicionais sobre a estrutura; por exemplo, todo grupo é um monóide, mas nem todo monóide é um grupo. É necessário também mencionar que nesta seção somente foram definidas as estruturas do lado direito do diagrama. As estruturas do lado esquerdo estão adicionalmente condicionadas à satisfação do axioma da divisão 3.2. Autor: Rudi Gaelzer – IF/UFRGS Início: 05/2013 Impresso: 8 DE DEZEMBRO DE 2022 1 Sistemas de Coordenadas Curvilíneas Ortogonais 1.1 Coordenadas curvilíneas 3 Teoria de Grupos Abstratos 3.7 Estruturas algébricas 3.7.1 Estruturas compostas por um conjunto com operações 3.7.1.1 Estruturas do tipo grupo