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A estrutura e índices de concentração do mercado internacional 
de agrotóxicos. 
 
Karine Yoshioka-Turma N 
Leticia de P. B. de Melo-Turma N 
 
 
1. Introdução. 
 
O mercado mundial de agrotóxicos foi aquecido a partir na revolução verde, 
que elevou a mecanização do campo e o uso de insumos químicos na 
agricultura, visando elevar a produtividade agrícola. 
Esse cenário levou à consolidação de uma estrutura de mercado, liderada 
por um grupo oligopolista, mantido por sua elevada intensidade de investimento 
em pesquisa e desenvolvimento de moléculas patenteáveis. Dessa maneira 
essas empresas conseguem estabelecer um regime intensivo de barreiras à 
entrada. As empresas que não superam essa barreira, por sua vez, formam a 
chamada franja de mercado, especializadas na fabricação de produtos de 
patente vencida, e têm como principal dificuldade a superação da estrutura de 
custos. 
Esse trabalho busca elaborar, em um primeiro momento, uma breve análise 
sobre a estrutura do mercado mundial de agrotóxicos, seguida por um estudo 
dos índices de concentração desse mercado. 
 
 2. A estrutura do mercado mundial de agrotóxicos 
O comércio de commodities agrícolas impulsiona a produção de insumos 
agropecuários, dentre eles os agrotóxicos. O ramo de agrotóxicos é aqui definido 
de acordo com o estabelecido na alínea I (a) do Art. 2o. da Lei 7.802/89 que 
considera agrotóxicos “os produtos de processos físicos, químicos ou biológicos 
(...) cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de 
preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos;”. Desta 
forma, utiliza-se como referencial de segmentação deste mercado os processos 
de obtenção de produtos. Nesse caso, identifica-se dois segmentos de maior 
relevância: o de agrotóxicos químicos, doravante chamados “químicos”, e o de 
agrotóxicos biológicos ou “biopesticidas”. 
Uma análise dos relatórios anuais das maiores fabricantes de agrotóxicos 
do mundo, elencadas pela revista Agropages, especializada no mercado de 
insumos agrícolas, permite a identificação de uma estrutura de mercado 
oligopolizada, conforme apresentando no Gráfico 1. 
GRÁFICO1- Vendas mundiais de agrotóxicos (2015) 
 
Fonte: relatórios anuais da empresas e resumo de vendas Agropages 
(2015) 
 Uma análise mais detalhada dessa estrutura de mercado permite a 
identificação de dois tipos de empresa. Primeiramente as empresas integradas, 
as quais dominam todo o processo produtivo, desde pesquisa e 
desenvolvimento, passando por produção, distribuição e comercialização. As 
empresas integradas correspondem às seis maiores fabricantes desse mercado 
(Syngenta, Bayer, Basf, Dow, Monsanto e DuPont). Essas empresas concentram 
um poder de oligopólio, podendo estabelecer barreiras à entrada nesse 
mercado, já que, por possuírem alto investimento em P&D, elaboram novos 
ingredientes ativos (molécula base para a produção de agrotóxicos químicos), 
os quais são protegidos por meio de patentes tecnológicas. Desta forma, o 
restante das empresas fabricantes de agrotóxicos, chamadas de especializadas, 
concentram-se na fabricação de produtos de patente vencida (genéricos). Essas 
Syngenta
18%
Bayer
16%
BASF
11%Dow 
9%
Monsanto
8%
DuPont
5%
Adama
5%
FMC
4%
Nufarm
4%
UPL
3%
Sumitomo
3%
Platform Ag
3%
Albaugh
2%
Restante das 
empresas
9%
empresas têm como principal via de competição o preço, já que não há 
significativa diferenciação dos produtos. Essas empresas, da franja de mercado, 
devem então sustentar uma estrutura de custos reduzida para garantir seu 
desempenho competitivos. As empresas integradas, por sua vez, têm a 
qualidade e eficiência como sua principal via de concorrência, vista a alta 
diferenciação dos produtos. (Pelaez.V,2016) 
 Também é possível identificar que esse oligopólio tem a possibilidade da 
elaboração e venda de pacotes tecnológicos, decorrentes do investimento 
intensivo em pesquisa e desenvolvimento. Sendo assim, essas empresas 
passam a diversificar sua produção e comercializar produtos complementares 
aos agrotóxicos, como sementes geneticamente modificadas e biopesticidas. 
Essa estratégia prolonga o ciclo de vida dos produtos, além de elevar sua 
eficiência, usufruindo do elevado Market share dessas fabricantes. Por outro 
lado, esse processo se dá por uma estratégia de crescimento externo, pelo qual 
há mobilização de capitais por meio de aquisições a acordos de cooperação com 
outras empresas. Esse processo leva à uma horizontalização da produção, 
através da qual essas empresas encontram uma estratégia de redução de 
custos, aproveitando de economias de escopo e escala, além de poderem 
concentrar o foco de sua produção, e ainda usufrui do know how de seus 
parceiros. (Pelaez, V., Mizukawa, G.,2015) 
 No ano de 2015 o mercado mundial de agrotóxicos movimentou cerca de 
57 bilhões de dólares em vendas, dos quais 67% são referentes às empresas 
integradas. Em termos de demanda, o Brasil é o maior consumidor mundial de 
agrotóxicos (MMA,2017), no ano de 2015, por exemplo cerca de 15% das vendas 
mundiais corresponderam à demanda brasileira (Agropages,2016). Esse 
contexto se desenvolveu a partir da década de 1970, quando fatores 
institucionais, como o incentivo à modernização agrícola no país, elevaram a 
mecanização agrícola e o uso de insumos químicos, através da isenção de 
impostos e da facilitação para a implantação de plantas industriais no país. Esse 
foi o reflexo local de um movimento de modernização agrícola mundial, marcado 
pela revolução verde. É possível identificar uma estratégia de Market seekers, 
segundo a qual as empresas de agrotóxicos buscam sua inserção em mercados 
comercialmente relevantes, em busca de difusão de suas marcas e da 
identificação de novas atividades produtivas (Pelaez, et al,2014). 
2. Índices de concentração do mercado de agrotóxicos 
2.1 Dados utilizados 
Para o cálculos dos índices de concentração do mercado de agrotóxicos foi 
usada como fonte o ranking de 2015 das maiores empresas fabricantes de 
agrotóxicos, elaborado pela revista Agropages, especializada em insumos 
agrícolas, em conjunto com os relatórios financeiros anuais das principais 
fabricantes. Os dados de vendas do ano de 2015 podem ser encontrados na 
tabela a seguir. 
TABELA 1- Vendas mundiais de agrotóxicos 
EMPRESA 
VENDAS (milhões 
de US$) 
Participação 
em vendas 
Syngenta 10005 17% 
Bayer 9186 16% 
BASF 6464 11% 
Dow 4925 9% 
Monsanto 4758 8% 
DuPont 3037 5% 
Adama 2885 5% 
FMC 2253 4% 
Nufarm 2112 4% 
UPL 1912 3% 
Sumitomo 1900 3% 
Platform Ag 1742 3% 
Albaugh 907 2% 
Restante das empresas 5208,6 9% 
Total 57294,6 100% 
 
É necessário ressaltar que os índices de concentração desse mercado 
tendem a se elevar entre 2017 e 2018, graças à fusões entre Dow e DuPont e 
entre Monsanto e Bayer, além de Chemchina e Syngenta, entretanto, apesar de 
as vendas já terem ocorrido, as funções ainda não foram consolidadas, e estão 
em fase de avaliação por parte dos órgãos antitrust. 
 
 
 
2.2 Razão de concentração CR4 e CR8 
O índice CR4 aponta a porcentagem de faturamento, vendas ou Market 
share concentrada nas mãos das quatro maiores empresas atuantes no ramo. 
No caso do mercado de agrotóxicos ele refere-se à parcela relativa à Syngenta, 
Bayer, Basf e Dow. O cálculo a seguir presenta a obtenção do CR4 referente às 
vendas mundiais do ano de 2015 das fabricantes de agrotóxico. 
��4 =∑��
�=1 
CR4= 17+16+11+9 
CR4= 53 
Da mesma forma, o índice CR8 aponta a porcentagem de faturamento, 
vendas ou Market share concentrada nas mãos das oito maiores empresas 
atuantes no ramo. Aqui, o índice refere-se às parcelas relativas à Syngenta, 
Bayer, Basf e Dow, Monsanto, DuPont, Adama e FMC. O cálculo a seguir 
presenta a obtenção do CR8 referente às vendas mundiais do ano de 2015 das 
fabricantes de agrotóxico. 
 
��8 =∑��
�=1 
 
CR8= 17+16+11+9+8+5+5+4CR4= 76 
2.3 Herfindahl -Hirschman index (HHI) 
Esse índice apresenta um padrão de compação de concentração 
entre mercados. O índice, calculado a partir da somatória dos 
quadrados das parcelas de mercado é apresentado no cálculo a 
seguir. 
HHI = s1^2 + s2^2 + s3^2 + ... + sn^2 
HHI=(17^2)+(16^2)+(11^2)+(9^2)+(8^2)+(2*(5^2))+(2*(4^2))+(3*
(3^2))+(2^2)+(9^2) 
HHI=1005 
 
Segundo classificação do departamento de justiça americano, por ser inferios 
à 1500, o mercado é classificado como sem concentração. Apesar disso, muitos 
dos artigos e trabalhos pesquisados para esse estudo tratam o mercado como 
concentrado, usando como parâmetro outros instrumentos de classificação. 
3. Conclusão 
 Agrotóxico é um composto químico sintético que visa alterar a composição da 
flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos 
considerados nocivos. O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo 
e utiliza agrotóxicos em larga escala, sendo também o maior consumidor mundial 
de agrotóxicos. 
 A indústria de agrotóxico no país apresenta aspectos de uma estrutura de 
mercado oligopolista: com elevadas barreiras à entrada, grau de concentração 
do mercado moderado, com uma parcela significativa de vendas nas mãos de 
poucas empresas e um processo concorrencial efetivado por diferenciação de 
produtos. 
 A concorrência desse mercado de agrotóxico se dá pela diferenciação do 
produto. O ciclo de vida dos agrotóxicos é muito rápido, pois seu uso intensivo 
tende a criar resistência dos agentes nocivos e gerar novas pragas nocivas à 
agricultura. 
 O sistema de patenteamento, bem como a inovação tecnológica, 
principalmente investimentos em P&D, caracterizam as barreiras à entrada da 
indústria de agrotóxicos. O patenteamento acaba gerando o monopólio de 
mercado à empresa, ao garantir legalmente a exclusividade na fabricação do 
produto, além de possibilitar a arrecadação de lucros extraordinários. Já a 
capacidade tecnológica faz com que a empresa desenvolva novos produtos num 
ritmo maior à capacidade de novas empresas entrantes. 
 Outros fatores de barreiras à entradas nessa indústria são: estrutura financeira 
limitada de empresas de médio e pequeno porte, dificuldade de distribuição e 
promoção dos produtos no mercado e processos de regulamentação. 
 Esses muitos fatores a barreiras à entrada do mercado de agrotóxicos acaba 
gerando um alto grau de concentração do mercado tanto em nível agregado 
quanto em nível dos segmentos do mercado. 
 
4. Bibliografia 
• AGROWPAGES. Market insights on Brazilian agriculture Agrowpages, mar. 
2015. Disponível em: < http://news.agropages.com/News/NewsDetail---
19353.htm>. Acesso em: 11 set. 2017 
• AGROWPAGES. Top 20 Global Agchem Firms 2015: Majority declining May 
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• BASF. BASF Report 2015 . Disponível em: <http://on.basf.com/1jq4hKE >. 
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• Bayer. 2015 Annual Report . Disponível em: < 
http://www.bayer.com/en/integrated-annual-reports.aspx>. Acesso em 11 set. 
2017. 
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• DUPONT. Data Book 2015. Disponível em: <http://bit.ly/1GhcSKN>. 
http://www.dow.com/en-us/investor-relations/financial-reporting/annual-
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• MMA. Agrotóxicos Ministério do Meio Ambiente , 2017. Disponível em: < 
http://www.mma.gov.br/seguranca-quimica/agrotoxicos>. Acesso em: 11 set. 
2017. 
• Monsanto. 2015 Annual Report . Disponível em: 
<http://www.monsanto.com/investors/pages/annual-report.aspx>. Acesso em 11 
set. 2017. 
http://bit.ly/1GhcSKN
• PELAEZ, V. et al. A (des)coordenação de políticas para a indústria de 
agrotóxicos no Brail. Revista Brasileira de Inovação, vol. 14, n. esp., 2015, p. 
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• PELAEZ, V. et al. A dinâmica do mercado internacional de agrotóxicos. Revista 
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• PELAEZ, V., MIZUKAWA, G. Diversification strategies in the pesticide 
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• Syngenta. 2015 Annual Report . Disponível em: < 
http://annualreport.syngenta.com/>. Acesso em 11 set. 2017. 
• Syngenta. 2016 Annual Report . Disponível em: < 
http://annualreport.syngenta.com/>. Acesso em 11 set. 2017.