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<p>SILVICULTURA, MANEJO E</p><p>PRODUÇÃO FLORESTAL</p><p>AULA 2</p><p>Prof. Thiago Cardoso Silva</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Nesta abordagem, daremos seguimento a assuntos relacionados a</p><p>silvicultura, manejo e produção florestal. As temáticas abordadas envolvem</p><p>conceptualização e caracterização de sementes e mudas florestais.</p><p>Nosso objetivo é estudar características e processos de produção de</p><p>mudas e sementes, caracterização de etapas de produção de sementes</p><p>florestais e contextualização sobre viveiros florestais. Esses assuntos são</p><p>essenciais para a compreendermos como trabalhar com mudas e sementes</p><p>florestais sob o ponto de vista da silvicultura, manejo e produção florestal.</p><p>Os tópicos principais serão:</p><p>• Sementes florestais – características e avaliação;</p><p>• Sementes florestais – colheita, beneficiamento e armazenamento;</p><p>• Viveiros florestais – conceitos gerais;</p><p>• Viveiros florestais – produção de mudas sexualmente;</p><p>• Viveiros florestais – produção de mudas assexualmente.</p><p>Vamos reiniciar o estudo, pois daremos início a novos conceitos</p><p>importantes para produção florestal.</p><p>TEMA 1 – SEMENTES FLORESTAIS – CARACTERÍSTICAS E AVALIAÇÃO</p><p>A perpetuação das plantas pode ser realizada de duas formas:</p><p>crescimento vegetativo ou desenvolvimento reprodutivo. Este último, em</p><p>plantas angiospermas, é realizado de forma natural pela fecundação das flores,</p><p>formação de frutos e geração de sementes, que irão servir como estrutura de</p><p>reprodução. Uma semente florestal pode ser definida como “toda e qualquer</p><p>estrutura vegetal utilizada na propagação de uma cultivar” (Pires et al., 2018, p.</p><p>87). A maioria das sementes florestais são obtidas de espécies arbóreas.</p><p>Sementes florestais apresentam comercialização e produção com</p><p>características distintas das sementes agrícolas. Ecologicamente, pode-se</p><p>considerar que as sementes florestais possuem duas características que ajudam</p><p>na perpetuação das espécies em diferentes ecossistemas, sobretudo nos</p><p>ambientes degradados: “sua capacidade de distribuir a germinação no espaço</p><p>(pelos mecanismos de dispersão) e no tempo (pelo mecanismo de dormência)”</p><p>(Sena; Gariglio, 2008, p. 4).</p><p>3</p><p>Dentre os benefícios proporcionados pela floresta, as sementes acabam</p><p>sendo consideradas itens dos benefícios diretos, classificadas como produto</p><p>florestal não madeireiro. Quanto aos benefícios indiretos, podem ser</p><p>considerados inseridos nos benefícios de abastecimento ou provisão, por</p><p>proporcionarem matéria-prima para diversos usos.</p><p>As sementes florestais podem ser obtidas para serem utilizadas em</p><p>diversas finalidades, sendo as principais: plantio e cultivo florestal em áreas</p><p>degradadas destinadas à recuperação, reflorestamento, enriquecimento de</p><p>florestas ou para produção florestal, seja de madeira, frutos, sementes e outros</p><p>produtos florestais. Para que sejam atingidos esses objetivos, as sementes</p><p>florestais precisam ser coletadas de árvores que possuam certas características,</p><p>como resistência a certas condições climáticas, crescimento rápido, boa</p><p>adaptação ao solo e às condições locais, além de produzir madeira e outros</p><p>produtos de alta qualidade.</p><p>A organização silvicultural fornece tecnologia essencial para garantir a</p><p>disponibilidade de sementes de alta qualidade e o estabelecimento de florestas</p><p>altamente produtivas. No Brasil houve o surgimento da rede de sementes, que é</p><p>estruturada a ponto de suprir a necessidade do mercado de sementes florestais.</p><p>Porém questões como coleta, armazenamento e beneficiamento levam em</p><p>consideração duas características para avaliação das sementes florestais</p><p>coletadas: presença de dormência e formas de superá-la; e métodos de análise</p><p>da qualidade das sementes.</p><p>1.1 Dormência</p><p>A dormência é um dos fatores que dificulta a reprodução das plantas. Em</p><p>sementes, a dormência corresponde a um processo fisiológico resultante de</p><p>estratégias de evolução de diferentes espécies de plantas visando uma garantia</p><p>de propagação sexuada por meio do controle da germinação até que o ambiente</p><p>proporcione condições favoráveis (Hoppe et al., 2004).</p><p>De forma simplificada, a dormência é uma característica que impede as</p><p>sementes de germinarem quando não há condições favoráveis ao</p><p>desenvolvimento da planta. Assim, as diversas espécies podem prover</p><p>diferentes estratégias de dormência. Pode-se classificar a dormência de</p><p>sementes em (Pegorin et al., 2022):</p><p>4</p><p>I. Momento de ocorrência: referente ao momento em que dará início ao</p><p>processo de dormência, sendo classificada como:</p><p>• Dormência primária: ocorre antes da dispersão das sementes,</p><p>fazendo parte de um mecanismo de desenvolvimento delas;</p><p>• Dormência secundária: ocorre quando a semente já está madura,</p><p>iniciando após a embebição (absorção de água para umedecer o</p><p>embrião visando a germinação), proporcionando condições</p><p>inadequadas para germinação.</p><p>II. Localização dos mecanismos de dormência: baseado nos critérios de</p><p>local de ocorrência da dormência na semente, sendo classificada como:</p><p>• Dormência exógena: relacionada à dormência imposta pelos</p><p>envoltórios, gerando barreiras físicas, químicas e mecânicas;</p><p>• Dormência endógena: relacionada à dormência do embrião por</p><p>eventos de inibição metabólica e imaturidade, relacionadas às</p><p>questões fisiológicas, morfológicas e morfofisiológicas.</p><p>A seguir serão descritos alguns tipos de dormência que ocorrem em</p><p>sementes florestais (Pinã-Rodrigues; Martins, 2012):</p><p>I. Dormência tegumentar: resistência observada no tegumento de frutos e</p><p>sementes, sendo considerada a forma mais comum de dormência em</p><p>sementes florestais. Logo, corresponde às barreiras encontradas nas</p><p>camadas externas de sementes e frutos. Tais barreiras impedem a</p><p>entrada de gases e líquidos responsáveis pelo processo de germinação</p><p>das sementes, podendo ser mecanismos físicos (deixa a semente</p><p>impermeável) ou mecânicos (aumento da dureza contra o rompimento);</p><p>II. Dormência fisiológica: quando há ausência de quantidades significativas</p><p>de compostos essenciais para a germinação ou presença de substâncias</p><p>retardantes ou que impedem a germinação. Esta forma de dormência</p><p>corresponde a influências de processos fisiológicos da planta;</p><p>III. Dormência morfológica: causada pela imaturidade do embrião, pois</p><p>quando este está com mau desenvolvimento, é necessário aplicar</p><p>condições especiais para que ele consiga realizar os processos de</p><p>desenvolvimento;</p><p>IV. Dormência combinada: quando há a combinação de dois ou mais tipos</p><p>de dormência em uma única espécie;</p><p>5</p><p>V. Germinação lenta ou retardada: processo causado por diversos fatores,</p><p>sendo que alguns autores acabam não considerando o retardamento da</p><p>germinação como um tipo de dormência. Por outro lado, considera-se que</p><p>quando há uma lentidão de um mês a um ano para haver a germinação,</p><p>pode-se configurar um tipo específico de dormência devido à</p><p>irregularidade do processo natural.</p><p>Apesar de serem observadas essas características de dormência em</p><p>sementes florestais, existem técnicas aplicadas para contornar essa</p><p>interferência na eficiência da germinação destas sementes. A estas técnicas</p><p>damos o nome de superação de dormência.</p><p>Em condições naturais, por questões ecológicas ou fisiológicas, as</p><p>sementes apresentam um período propício para superar a dormência e seguir o</p><p>ciclo natural de desenvolvimento da planta e perpetuação da espécie. Destacam-</p><p>se, dentre estes processos naturais, as seguintes formas de superação de</p><p>dormência na natureza (Pinã-Rodrigues; Martins, 2012):</p><p>I – Queimadas naturais: causam interferências diretas nas barreiras físicas</p><p>e mecânicas, auxiliando o desenvolvimento do embrião;</p><p>II – Passagem pelo trato intestinal de animais: os ácidos responsáveis</p><p>pelo processo de digestão acabam interferindo também nas barreiras</p><p>físicas e mecânicas da semente, com as fezes também auxiliando na</p><p>disponibilidade de condições nutricionais e de</p><p>água para germinação;</p><p>III – Umidade do ambiente: questões como disponibilização de água pelas</p><p>chuvas é responsável por um processo de “lavagem” da semente,</p><p>reduzindo ou eliminando substâncias responsáveis pela inibição da</p><p>germinação;</p><p>IV – Frio excessivo: a redução da temperatura favorece a produção de</p><p>substâncias responsáveis por estimular o desenvolvimento do embrião,</p><p>que germinará e crescerá ao chegar o período de chuvas.</p><p>Conseguimos identificar, dessa forma, que existem mecanismos naturais</p><p>de superação de dormência. Porém, é possível aplicar métodos semelhantes</p><p>aos mecanismos naturais. Os principais métodos aplicados para superação de</p><p>dormência em sementes florestais são (Pinã-Rodrigues; Martins, 2012; Pegorin</p><p>et al., 2022):</p><p>6</p><p>I – Escarificação química: imersão da semente em substâncias que correm</p><p>o tegumento, sem danificá-la. Neste método é comum o uso de ácidos,</p><p>como os ácidos sulfúrico e clorídrico, e peróxido de hidrogênio (água</p><p>oxigenada). As quantidades de substâncias a serem utilizadas e as</p><p>temperaturas a serem aplicadas neste método depende da espécie da</p><p>semente;</p><p>II – Escarificação mecânica: abrasão ou raspagem do tegumento para que</p><p>este passe a ficar permeável à água e ao oxigênio. Neste método podem</p><p>ser utilizadas lixas. A quantidade de semente a ser raspada depende da</p><p>espécie;</p><p>III – Imersão em água quente ou choque térmico: as sementes são</p><p>submetidas a alterações de temperatura por meio da imersão em água</p><p>quente e posterior imersão em água em temperatura ambiente. Os</p><p>tempos de imersão dependem da espécie da semente;</p><p>IV – Imersão em água fria: facilita a embebição das sementes, visando</p><p>homogeneizar a germinação. Utilizado em sementes que apresentam</p><p>germinação lenta. Os tempos de imersão dependem da espécie da</p><p>semente, porém geralmente deixa-se as sementes imersas por 24 horas;</p><p>V – Imersão em água corrente: realiza a lavagem e remoção de compostos</p><p>que inibem a germinação. Os tempos de lavagem dependem da espécie</p><p>da semente, porém geralmente deixa-se as sementes imersas por</p><p>períodos de 12 a 48 horas, em fluxo constante (água corrente);</p><p>VI – Estratificação a frio: utilizado em sementes com embrião imaturo ou</p><p>pouco desenvolvido. Neste caso, as sementes permanecem em baixas</p><p>temperaturas (5 ºC a 10 ºC) por tempo determinado dependo da espécie</p><p>e grau de imaturidade da semente. Geralmente as sementes permanecem</p><p>num recipiente com areia para que haja o estímulo de produção de</p><p>hormônios que promovem o crescimento da semente e das plantas;</p><p>VII – Alternância de temperatura: as sementes são colocadas em substrato</p><p>umedecido e são aplicadas diferentes temperaturas para proporcionar</p><p>condições à germinação;</p><p>VIII – Quebra de dormência combinada: uso de pelo menos dois métodos</p><p>de superação de dormência combinados. Acontece quando as espécies</p><p>apresentam dormência tegumentar e embrionária.</p><p>7</p><p>Por fim, no Quadro 1 é possível observar uma relação entre os tipos de</p><p>dormência e as técnicas mais utilizadas para sua superação. Foram</p><p>relacionadas também as famílias botânicas de maior ocorrência desses tipos de</p><p>dormência.</p><p>Quadro 1 – Técnicas de superação de dormência em sementes florestais</p><p>Tipo de</p><p>dormência Técnicas mais utilizadas</p><p>Famílias botânicas florestais em</p><p>que pode ocorrer este tipo de</p><p>dormência</p><p>Fisiológica</p><p>- Estratificação</p><p>- Imersão em água corrente</p><p>- Alternância de temperatura</p><p>Lauraceae, Piperaceae,</p><p>Malpighiaceae, Myrtaceae,</p><p>Malvaceae, Boraginaceae,</p><p>Solanaceae, Asteraceae</p><p>Morfologia - Estratificação</p><p>Aquifoliaceae, Annonaceae,</p><p>Caryocaraceae, Lauraceae,</p><p>Urticaceae, Euphorbiaceae,</p><p>Sapotaceae, Fabaceae, Araliaceae</p><p>Física</p><p>(tegumentar)</p><p>- Escarificação</p><p>- Imersão em água quente</p><p>- Choque térmico</p><p>- Imersão em água</p><p>Fabaceae, Malvaceae,</p><p>Chenopodiaceae, Convolvulaceae,</p><p>Liliaceae, Solanaceae</p><p>Fonte: Piña-Rodrigues; Martins, 2012.</p><p>1.2 Avaliação de sementes florestais</p><p>A avaliação de sementes florestais ocorre nos Laboratórios de Análises</p><p>de Sementes Florestais (LASF), que seguem todas as diretrizes descritas pelas</p><p>Regras de Análise de Sementes (RAS). Essas regras são baseadas na</p><p>legislação, que incluem a RAS (Brasil, 2009) e as Instruções para Análise de</p><p>Sementes de Espécies Florestais (Brasil, 2013). Os parâmetros abordados</p><p>nesses documentos são: amostragem, análise de pureza, teste de germinação</p><p>e grau de umidade.</p><p>1.2.1 Amostragem</p><p>A etapa de amostragem visa a obtenção de uma fração que represente o</p><p>lote e que possua quantidade suficiente para realização das análises. A</p><p>amostragem deve seguir as RAS (Brasil, 2009). São termos utilizados nesta</p><p>etapa (Bento et al., 2018):</p><p>I. Lote: quantidade de sementes de uma mesma espécie de um mesmo</p><p>local;</p><p>8</p><p>II. Amostras: podem ser amostra simples (pequena porção de sementes),</p><p>amostra composta (junção de duas ou mais amostras simples); amostra</p><p>média (amostra composta ou subamostra com uma quantidade mínima</p><p>de sementes); amostra de trabalho (obtida no laboratório para realização</p><p>dos testes); e subamostras (porção de uma amostra, simples ou</p><p>composta, utilizadas como repetições nas análises).</p><p>As seguintes observações devem ser seguidas para amostragem de</p><p>sementes florestais (Bento et al., 2018):</p><p>I. Condições para amostragem: prezar pela homogeneidade do lote, para</p><p>que a amostra seja representativa das condições das sementes.</p><p>II. Peso máximo de sementes por lote: depende da espécie de semente,</p><p>porém as informações gerais estão no Quadro 2.</p><p>Quadro 2 – Amostragem de sementes florestais por tamanho de lote, seguindo</p><p>as Instruções para Análise de Sementes de Espécies Florestais.</p><p>Número de sementes por quilo Tamanho máximo do lote</p><p>< 1.000 500 kg</p><p>1.000 – 3.000 250 kg</p><p>300.001 – 800.000 100 kg</p><p>> 800.000 50 kg</p><p>Fonte: Brasil, 2013.</p><p>III. Obtenção de amostras representativas: determinada pelas RAS, cujas</p><p>orientações determinam as amostras a serem avaliadas, os instrumentos,</p><p>as embalagens e as identificações das amostras. É utilizada a</p><p>amostragem manual para que não danifique as sementes sensíveis e para</p><p>seleção de sementes aladas. Sementes que não toleram secagem devem</p><p>ser analisadas o mais rápido possível, de preferência assim que cheguem</p><p>no laboratório.</p><p>IV. Obtenção de amostras de trabalho: determinadas pelas RAS, para</p><p>obtenção das amostras, equipamentos, métodos de divisão de uso dos</p><p>equipamentos para avaliação.</p><p>1.2.2 Análise de pureza</p><p>A análise de pureza é a determinação da quantidade de sementes de uma</p><p>mesma espécie em um lote. São consideradas impurezas: outras sementes e</p><p>9</p><p>materiais inertes (partes do fruto, cascas, solo, pedras). A análise de pureza</p><p>envolve as seguintes definições (Bento et al., 2018):</p><p>I. Semente pura: aquela que faz parte da espécie avaliada, sendo então</p><p>inteiras, maduras e não danificadas;</p><p>II. Outras sementes: aquelas que não fazem parte da espécie avaliada;</p><p>III. Material inerte: material de dispersão e outras estruturas que não podem</p><p>ser classificadas como sementes, sendo puras ou não.</p><p>1.2.3 Teste de germinação</p><p>O procedimento para teste de germinação é determinado pelas RAS</p><p>(Brasil, 2009) visando observar o potencial máximo de germinação de um lote</p><p>de sementes. São fatores que influenciam o teste de germinação (Bento et al.,</p><p>2018): água, substrato (papel, areia ou vermiculita), temperatura e luz. Podem</p><p>ser utilizados equipamentos germinadores que controlam temperatura, luz,</p><p>umidade relativa do ar e outras características.</p><p>Leva-se em consideração também para os testes de germinação a</p><p>amostra de trabalho (prezar por um alto grau de pureza) e assepsia das</p><p>sementes, dos substratos, dos equipamentos e dos germinadores. Portanto, é</p><p>necessário realizar (Bento et al., 2018):</p><p>I. Tratamentos para promover a germinação: favorecem a correta</p><p>germinação da semente;</p><p>II. Espaçamento de semeadura: tende a reduzir a competição entre as</p><p>sementes, devendo ser padronizado</p><p>para todas as sementes avaliadas.</p><p>Também ajuda a reduzir a contaminação entre sementes;</p><p>III. Duração do teste: grande parte das sementes florestais precisa de</p><p>alguns dias para germinarem completamente. Deve-se realizar a</p><p>contagem de sementes germinadas de tempos em tempos, além de</p><p>avaliar o tamanho da radícula (início da formação das raízes). Considera-</p><p>se germinada a semente que apresenta condições de sobrevivência</p><p>depois de formação da radícula;</p><p>IV. Cálculo e informação dos resultados: “O resultado do teste de</p><p>germinação é a média das repetições utilizadas. A soma das</p><p>porcentagens de plântulas normais, plântulas anormais, sementes</p><p>10</p><p>dormentes e mortas, incluindo as vazias, deve totalizar 100%” (Bento et</p><p>al., 2018, p. 75).</p><p>1.2.4 Teor de umidade das sementes</p><p>Como será observado no tópico 2, as sementes podem ser classificadas</p><p>de acordo com o armazenamento. Quando armazenadas, as sementes perderão</p><p>água, o que alterará seu potencial germinativo. Por isso é importante realizar o</p><p>teste de teor de umidade das sementes.</p><p>O método mais utilizado é o da estufa, na qual as sementes serão secas</p><p>a 105ºC até perderem totalmente a quantidade de água na sua composição. A</p><p>relação entre o peso da semente úmida e o peso da semente seca, em</p><p>porcentagem, expressa o conteúdo de umidade presente nas sementes.</p><p>TEMA 2 – SEMENTES FLORESTAIS – COLHEITA, BENEFICIAMENTO E</p><p>ARMAZENAMENTO</p><p>A colheita, beneficiamento e armazenamento de sementes florestais são</p><p>etapas cruciais para garantir a previsão e a qualidade dessas sementes. Essas</p><p>práticas garantem que as sementes estejam prontas para o plantio, ajudando no</p><p>sucesso do reflorestamento, recuperação de áreas degradadas ou outros fins de</p><p>manejo e produção florestal.</p><p>Visando avaliação da produção de sementes florestais, é necessário que</p><p>abordemos alguns conceitos relacionados aos atores desse processo. Os</p><p>principais são (Meneguci, S.d.):</p><p>I – Produtor: pessoa física ou jurídica que produz sementes florestais para</p><p>venda, sendo assistida por um responsável técnico;</p><p>II – Coletor de sementes: pessoa física ou jurídica, com credenciamento no</p><p>Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para prestar</p><p>serviços de coleta de material de propagação;</p><p>III – Beneficiador: pessoa física ou jurídica que presta serviço de</p><p>beneficiamento de sementes para terceiros, assessorada por um</p><p>responsável técnico;</p><p>IV – Armazenador: pessoa física ou jurídica responsável por armazenar</p><p>sementes florestais;</p><p>V – Reembalador: aquele é responsável por reembalar sementes florestais;</p><p>11</p><p>VI – Responsável técnico: podem ser responsáveis técnicos profissionais</p><p>devidamente registrados em Conselho profissional graduados em</p><p>Engenharia Florestal ou Agronômica;</p><p>VII – Comerciante: aquele responsável pela distribuição comercial das</p><p>sementes florestais.</p><p>Considera-se que as etapas de colheita, beneficiamento, armazenamento</p><p>e posterior comercialização das sementes florestais são consideradas como</p><p>importantes fontes de recursos das florestas proporcionadas para produtores</p><p>rurais e comunidades locais, tradicionais ou extrativistas. A seguir vamos</p><p>observar algumas considerações para cada uma destas etapas.</p><p>2.1 Colheita de sementes florestais</p><p>A colheita é a primeira etapa de aquisição das sementes florestais, pois</p><p>representa a forma de obtenção diretamente de árvores previamente</p><p>selecionadas. Para que haja uma maior qualidade genética dessas sementes, é</p><p>necessário realizar a escolha de árvores-matrizes.</p><p>Uma árvore-matriz é conhecida como “aquela que apresenta</p><p>características superiores às demais, na altura, no diâmetro e na forma do</p><p>tronco, no vigor da planta, no tamanho e forma da copa, na frutificação, na</p><p>produção de sementes e na qualidade da madeira” (Sena; Gariglio, 2008, p. 5).</p><p>Os principais critérios de inclusão de uma árvore para esta ser escolhida como</p><p>uma matriz de sementes florestais são:</p><p>• Para produção de não-madeireiros (frutos e sementes): selecionar</p><p>árvores sadias, sem sinais de ataques de pragas e doenças, com grande</p><p>produção de copa, em forma e volume, e levar em consideração a</p><p>qualidade dos frutos e sementes produzidos por essas árvores;</p><p>• Para produção de madeira: selecionar árvores com bom crescimento em</p><p>altura e diâmetro e com desenvolvimento ideal para produzir um fuste com</p><p>características específicas para finalidade esperada. Por exemplo:</p><p>visando produzir madeira serrada, é fundamental que as árvores</p><p>produzam fustes mais cilíndricos e retos, com toras em maiores</p><p>diâmetros. Também escolher árvores sadias, livres de ataques de pragas</p><p>e doenças;</p><p>12</p><p>• Para recuperação de ambientes florestais degradados: selecionar</p><p>espécies e árvores que ocorrem em regiões semelhantes e próximas. No</p><p>caso de haver a necessidade de uso de espécies ameaçadas de extinção,</p><p>utilizar o máximo possível de material para tentar perpetuar a existência</p><p>dessas espécies, não importando as características das matrizes.</p><p>Estas árvores-matrizes são selecionadas em povoamentos florestais</p><p>autorizados como fontes de sementes. Em questão de sementes florestais</p><p>nativas, as principais fontes são (Brasil, 2004):</p><p>I – Área Natural de Coleta de Sementes (ACS-NS): população vegetal</p><p>natural na qual não é preciso fazer uma marcação prévia das matrizes</p><p>para coletas;</p><p>II – Área Alterada de Coleta de Sementes (ACS-AS): população vegetal</p><p>nativa ou exótica, natural ou plantada, na qual também não é preciso fazer</p><p>uma marcação prévia das matrizes para coletas;</p><p>III – Área Natural de Coleta de Sementes com Matrizes Marcadas (ACS-</p><p>NM): população vegetal natural na qual é preciso fazer uma marcação</p><p>prévia das matrizes para coletas;</p><p>IV – Área Alterada de Coleta de Sementes com Matrizes Marcadas (ACS-</p><p>AM): população vegetal nativa ou exótica, natural ou plantada, na qual</p><p>também é preciso fazer uma marcação prévia das matrizes para coletas;</p><p>Estas áreas de coleta necessitam, previamente, ser autorizadas por</p><p>órgãos específicos para produção de sementes florestais. Nestas autorizações,</p><p>é preciso definir o Planto Anual de Coleta de Sementes. Portanto, de maneira</p><p>resumida, pode-se dizer que o planejamento anual de coleta de sementes</p><p>envolve características como (Medeiros; Nogueira, 2006):</p><p>I. Demanda e disponibilidade de sementes: considerar questões como</p><p>espécies, procedências e tipos de sementes. Além disso, as demandas e</p><p>as disponibilidades de sementes são influenciadas por fatores genéticos,</p><p>condições ambientais, variações meteorológicas, presença de pragas ou</p><p>doenças e interferência antrópica nas populações vegetais;</p><p>II. Autorização para coleta de sementes: observar a legislação vigente que</p><p>autoriza a coleta em alguns fragmentos florestais de acordo com o bioma</p><p>em que estão as populações vegetais;</p><p>13</p><p>III. Mão de obra – treinamento e capacitação: necessário apresentar</p><p>pessoal técnico especializado para realização dos métodos corretos de</p><p>coleta, visando obter sementes de melhor qualidade e para manter a</p><p>sanidade destas;</p><p>IV. Equipamentos necessários: em muitos momentos será necessário</p><p>escalar árvores para obter sementes, bem como utilizar equipamentos</p><p>como facões, podões, escadas e cordas (Figura 1);</p><p>V. Documentação: necessário registrar dados sobre local de condições de</p><p>coleta, informações para transporte e acondicionamento das sementes,</p><p>visando atestar documentos de origem das sementes;</p><p>VI. Transporte: atentar para as condições dos veículos, visto que grande</p><p>parte das áreas de coleta de sementes florestais está em locais de difícil</p><p>acesso, necessitando cuidados extras com manutenção. Características</p><p>ambientais devem ser monitoradas para que as sementes não percam a</p><p>qualidade durante o transporte.</p><p>Figura 1 – Colheita de frutos e sementes de espécies arbóreas</p><p>Crédito: Robuart/Shutterstock.</p><p>14</p><p>Para o momento da coleta das sementes, devem-se observar cuidados,</p><p>sendo os mais importantes:</p><p>• Coletar de um número grande de árvores-matrizes, visando uma alta</p><p>variabilidade genética;</p><p>• Não coletar todas as sementes de uma matriz, visando permitir que estas</p><p>continuem disseminando sementes na área para perpetuação da espécie</p><p>e manutenção dos ciclos ecológicos;</p><p>• Árvores muito próximas da mesma espécie devem ser consideradas como</p><p>um grupo, pois há uma grande possibilidade de serem relacionadas</p><p>geneticamente;</p><p>• Realizar a marcação das matrizes, para que sejam realizadas coletas</p><p>periódicas, dependendo da produção anual da espécie;</p><p>• A época ideal da coleta é quando os frutos estão maduros o suficiente</p><p>para iniciarem o processo de dispersão das sementes. Neste momento</p><p>grande parte das características fisiológicas das sementes já estão</p><p>desenvolvidas ao ponto de iniciarem o processo de germinação,</p><p>dependendo das convicções ambientais.</p><p>Além desses assuntos já abordados, podemos observar duas formas de</p><p>se obter as sementes florestais. Estas formas são (Sena; Gariglio, 2008):</p><p>I. Colheita direta do chão: quando frutos pesados estão maduros, porém</p><p>não possuem sementes dispersadas pelo vento, ou quando é possível</p><p>fazer com que os frutos atinjam o solo sem danificar as sementes. Nestes</p><p>casos, evitar sementes que tiveram contato com o solo para reduzir riscos</p><p>de contaminação. Para isso, pode-se fazer uma cobertura no solo com</p><p>lona para facilitar o recolhimento;</p><p>II. Colheita direta nas árvores: quando os frutos ou sementes são</p><p>diretamente retirados da árvore. É a forma mais difícil de coleta, pois</p><p>questões como altura são empecilhos para alcance de frutos e sementes.</p><p>Para isso, pode utilizar equipamentos como peia, podão, escadas,</p><p>equipamentos de alpinismo, esporas e blocante ao tronco.</p><p>2.2 Pomar de sementes</p><p>Outra estratégia de produção de sementes florestais é a formação de um</p><p>pomar (Figura 2). Um pomar de sementes florestais é uma área plantada para</p><p>15</p><p>produzir sementes de alta qualidade de árvores ou espécies vegetais</p><p>previamente selecionadas. Geralmente, esses pomares são planejados para</p><p>garantir a produção regular de sementes viáveis e geneticamente saudáveis.</p><p>Portanto são formados por populações isoladas de determinadas espécies para</p><p>evitar que pólen de outras árvores externas fecundem essas árvores.</p><p>Figura 2 – Ilustração de um pomar implantado para produção de frutos e</p><p>obtenção de sementes.</p><p>Crédito: Anna_Summer/shutterstock.</p><p>Existem algumas categorias de classificação dos pomares de sementes,</p><p>sendo as principais (Paludzyszyn Filho, 2021):</p><p>I. Pomar de sementes por mudas: formado utilizando teste de progênies</p><p>(para conservar a genética dos indivíduos escolhidos), removendo as</p><p>mudas que não possuem as características selecionadas;</p><p>II. Pomar clonal de sementes: criado a partir de propagação assexuada</p><p>(maiores detalhes no tópico 5), utilizando material vegetativo de árvores-</p><p>matrizes;</p><p>III. Pomar clonal para produção de sementes híbridas: formado utilizando</p><p>a hibridização de duas espécies ou de clones selecionados de uma</p><p>mesma espécie, também criado utilizando material vegetativo;</p><p>IV. Pomar de sementes testado: criado a partir de mudas formadas por</p><p>sementes ou por clonagem cujas árvores-matrizes foram propagadas</p><p>previamente por mudas ou clones selecionados.</p><p>16</p><p>2.3 Beneficiamento e armazenamento de sementes florestais</p><p>Depois de coletadas, as sementes devem ser manuseadas de maneira</p><p>que sua qualidade seja melhorada. Isso se dá a partir do beneficiamento destas</p><p>sementes, que ocorre nas Unidades de Beneficiamento de Sementes (UBS).</p><p>Os objetivos da existência de uma UBS é realizar a classificação das sementes</p><p>“quanto ao seu tamanho e formato e a disponibilizar um produto homogêneo e</p><p>livre de impurezas, facilitando o processo de semeadura mecanizada e</p><p>mantendo a qualidade de sementes adequada ao processo” (Trogello et al.,</p><p>2013, p. 1).</p><p>Desta forma, há a remoção de impurezas, como agentes externos</p><p>(palhas, solo, pedras e folhas) e inerentes aos frutos (casca, polpas e outras</p><p>estruturas dos frutos), além de separar aquelas que apresentam boas</p><p>características das que apresentam má formação, deformações e</p><p>contaminações. São etapas básicas do beneficiamento das sementes (Carvalho;</p><p>Nakawa, 2000; Oliveira et al., 2021):</p><p>I. Recepção: quando as sementes chegam na UBS, sendo nesta etapa</p><p>destinadas diretamente para a linha de beneficiamento ou serem</p><p>armazenadas/acondicionadas para aguardar futuras operações;</p><p>II. Pré-limpeza: etapa na qual é realizada a retirada das impurezas;</p><p>III. Secagem: estabilização dos teores de umidade das sementes para que</p><p>estas estejam adequadas para a realização do beneficiamento ou para</p><p>serem armazenadas (cuja umidade pode desfavorecer a manutenção da</p><p>qualidade). Essa secagem pode ser realizada por meios naturais (ao ar/ao</p><p>tempo) ou artificiais (estufas e fornos de secagem/secadores);</p><p>IV. Limpeza: etapa mais rigorosa de remoção de impurezas, separando todo</p><p>o material indesejável, deixando apenas as sementes de interesse limpas;</p><p>V. Separação e classificação: realização de triagem para seleção de</p><p>sementes com características físicas diferenciais, como tamanho, massa,</p><p>teor de umidade e cor. Estas sementes são separadas em lotes que</p><p>podem ser mais ou menos uniformes. São objetivos da classificação dos</p><p>lotes: melhorar qualidade (por uniformidade morfológica) e facilitar os</p><p>tratamentos das sementes;</p><p>17</p><p>VI. Embalagem: etapa na qual as sementes são acondicionadas em</p><p>embalagens, podendo ou não serem previamente tratadas com produtos</p><p>químicos;</p><p>VII. Armazenamento: depois de coletadas, limpas, tratadas e embaladas,</p><p>as sementes são armazenadas. Constitui a última etapa do</p><p>beneficiamento das sementes. Após armazenadas, pode-se definir o uso</p><p>para o qual as sementes serão destinadas. Um dos principais usos é a</p><p>produção de mudas, realizada em viveiros florestais.</p><p>Quanto ao armazenamento, podemos classificar as sementes florestais</p><p>como (Bento et al., 2018):</p><p>I. Sementes ortodoxas: podem secar até apresentarem menos que 5% de</p><p>umidade e serem armazenadas a baixas temperaturas por muito tempo</p><p>sem perder o potencial germinativo;</p><p>II. Sementes recalcitrantes: perdem a viabilidade quando secas, por isso</p><p>não podem ser guardadas por longos períodos. O teor de umidade e o</p><p>período máximo de armazenamento dependem da espécie;</p><p>III. Sementes intermediárias: podem secar até apresentarem cerca de 10</p><p>a 15% de umidade sem perder a viabilidade. Caso sequem mais, há danos</p><p>na germinação.</p><p>TEMA 3 – VIVEIROS FLORESTAIS – CONCEITOS GERAIS</p><p>A produção de mudas florestais ocorre em um viveiro florestal. Este local</p><p>é caracterizado como um espaço destinado à produção, ao manejo e à proteção</p><p>de plantas produzidas em local próprio até que estas obtenham a idade e o</p><p>tamanho adequados para serem levados ao local de plantio (Gomes; Paiva,</p><p>2011).</p><p>Basicamente toda a estrutura dos viveiros florestais é voltada para a</p><p>produção de mudas de espécies florestais. A finalidade das mudas, assim como</p><p>das sementes florestais, é determinada para fins de reflorestamento,</p><p>recuperação de áreas degradadas, conservação de ambientes florestais,</p><p>paisagismo e outras atividades específicas. Dentre várias características, os</p><p>viveiros de espécies florestais apresentam:</p><p>18</p><p>I. Estrutura de produção de mudas: espaços planejados para o cultivo e</p><p>desenvolvimento das mudas. Pode variar em tamanho, desde pequenos</p><p>viveiros locais até grandes instalações comerciais;</p><p>II. Localização estratégica: indica-se estarem localizados próximo às áreas</p><p>de plantio para facilitar a logística e reduzir custos de transporte;</p><p>III. Infraestrutura adequada: possuem estruturas básicas para todas as</p><p>etapas após germinação das sementes ou enraizamento de estruturas</p><p>vegetativas, possuindo estufas, casas de vegetação, canteiros e demais</p><p>estruturas que proporcionam condições ideais</p><p>de crescimento;</p><p>IV. Escolha de espécies: dependendo da finalidade, produzem uma grande</p><p>variedade de espécies nativas e exóticas. A escolha das espécies</p><p>depende do objetivo do uso para reflorestamento ou conservação;</p><p>V. Técnicas de produção: aplicação de métodos e técnicas para</p><p>reprodução sexuada por germinação das sementes (ver tópico 4) ou por</p><p>reprodução assexuada por meio do enraizamento de estacas e outras</p><p>técnicas como estaquia e alporquia (ver tópico 5). Independente da</p><p>técnica, busca-se produzir mudas saudáveis e resistentes às condições</p><p>de campo visando sobrevivência;</p><p>VI. Manejo e cuidado: aplicação de cuidados específicos nas sementes e</p><p>nas mudas, visando controlar doenças e proporcionar nutrição adequada,</p><p>realização de podas e auxiliar na manutenção das mudas para seu</p><p>crescimento;</p><p>VII. Controle de qualidade: realiza análises e avaliações para produzir</p><p>mudas de boa qualidade, garantindo que haja aptidões para o plantio e</p><p>possuam características desejáveis para o local de destino;</p><p>VIII. Sustentabilidade: alguns viveiros buscam práticas ambientais</p><p>sustentáveis, como o uso de substratos orgânicos, reciclagem de</p><p>materiais, captação de água da chuva e adoção de energias renováveis;</p><p>Essas características variam de acordo com o propósito específico do</p><p>viveiro, podendo os viveiros serem classificados de diversas formas. Segundo</p><p>Gomes e Paiva (2011), os viveiros florestais podem ser classificados a partir de</p><p>características como:</p><p>I. Propriedade: podem ser classificados como privados, quando são</p><p>administrados por pessoas físicas individuais, por associações ou por</p><p>uma corporação, de agências governamentais, quando são</p><p>19</p><p>administrados por órgãos públicos municipais, estaduais ou federal, e de</p><p>instituições de ensino, aqueles de competência de arboretos, jardins</p><p>botânicos, universidades e demais instituições de pesquisa e ensino;</p><p>II. Objetivo: podem ser classificados como viveiros de produção (formação</p><p>de mudas para uso próprio ou comercialização, podendo ser generalistas</p><p>pela variedade de espécies produzidas ou especializados para poucas</p><p>espécies); quarentena (formado por órgãos de fiscalização e controle</p><p>fitossanitário); ensino, pesquisa e extensão (realização de estudos e</p><p>pesquisa científica);</p><p>III. Técnica de propagação: viveiros voltados para produção de mudas por</p><p>meio de sementes, enxertia, estaquia ou micropropagação;</p><p>IV. Longevidade: quanto ao tempo de funcionamento, podem ser:</p><p>a. Temporários ou provisórios: para produzir mudas para</p><p>determinada área num curto período. Geralmente são construídos</p><p>em áreas pequenas e com poucas instalações. Depois do</p><p>plantio/comercialização das mudas, o viveiro pode ser desativado;</p><p>b. Permanentes ou fixos: para produzir mudas com altos</p><p>investimentos em infraestrutura, destinando uma alta produção por</p><p>um longo período.</p><p>3.1 Instalações básicas de um viveiro florestal</p><p>Para o melhor funcionamento de um viveiro florestal, a sua estrutura deve</p><p>envolver uma composição de instalações básicas. Estas estruturas envolvem</p><p>características de (Nascimento, 2011; Gomes; Paiva, 2011):</p><p>I. Local: sua escolha é importante para o melhor funcionamento das</p><p>estruturas, visando que o viveiro possua:</p><p>• Água de boa qualidade e disponibilidade em grande quantidade;</p><p>• Facilidade de obter mão de obra;</p><p>• Facilidade de acesso até o local de plantio das mudas;</p><p>• Área plana, evitando baixadas que acumulam água e locais elevados</p><p>que podem proporcionar erosão e outros desgastes no terreno;</p><p>• Alta exposição à luminosidade, evitando locais sombreados;</p><p>• Proteção contra ventos fortes que podem prejudicar o desenvolvimento</p><p>das mudas.</p><p>20</p><p>II. Instalações: as instalações básicas de um viveiro florestal devem ter:</p><p>• Infraestrutura básica para construção de uma casa para convivência e</p><p>para o viveirista;</p><p>• Área coberta para períodos chuvosos;</p><p>• Reservatórios de água;</p><p>• Local de depósito de insumos, equipamentos e ferramentas;</p><p>• Cerca para proteção;</p><p>III. Área: local disponível para produção das mudas, sendo que:</p><p>• O tamanho depende da quantidade de mudas, espécie e tipo de muda</p><p>a ser produzida;</p><p>• A limpeza do terreno permite a formação das ruas, dos canteiros e</p><p>obras de infraestrutura. Esse cuidado evita aparecimento de pragas e</p><p>doenças;</p><p>IV. Irrigação: a disponibilidade de água no viveiro deve ser constante e sem</p><p>excesso. A irrigação pode ser feita por aspersão e microaspersão,</p><p>bombeamento ou rega manual (com regador ou mangueira).</p><p>3.2 Canteiros</p><p>A produção das mudas dentro dos viveiros florestais é feita em canteiros,</p><p>que são áreas disponibilizadas para germinação das sementes em substrato ou</p><p>para transferência de mudas já desenvolvidas. Os canteiros podem ser de dois</p><p>tipos (Nascimento, 2011):</p><p>I. Canteiro de sementeira: usada a superfície do solo (Figura 3A) para</p><p>produção das mudas para as plantas serem transferidas após certo nível</p><p>de desenvolvimento. Utiliza o processo de repicagem (transferência da</p><p>planta após germinada e desenvolvida);</p><p>II. Canteiro de recipientes: uso de recipientes para germinação das</p><p>sementes ou para receber mudas repicadas. Os recipientes mais</p><p>utilizados são os sacos plásticos, bandejas e tubetes (Figura 3B)</p><p>21</p><p>Figura 3 – Formas de produção de mudas em canteiros. A – Semeadura direta</p><p>em canteiro de sementeira; B – Produção em canteiro de recipientes utilizando</p><p>tubetes.</p><p>Crédito: Caron Badkin/shutterstock; Roberta Blonkowski/Shutterstock.</p><p>3.3 Viveiros cobertos - estufas e casas de vegetação</p><p>Apesar de apresentarem caraterísticas semelhantes, as estufas e as</p><p>casas de vegetação apresentam algumas diferenças, sendo as principais:</p><p>I. Estufas: estruturas fechadas, feitas de material impermeável (Figura 4A),</p><p>como vidro ou plástico (que pode ser transparente ou opaco), com as</p><p>seguintes características:</p><p>• Controle ambiental de temperatura, luz e umidade, criando condições</p><p>ideais para o desenvolvimento das mudas. Essa característica facilita</p><p>a produção de mudas durante todo o ano, independente das condições</p><p>ambientais externas;</p><p>• Utilizada para produção de espécies sensíveis às mudanças climáticas</p><p>durante o desenvolvimento das mudas.</p><p>II. Casa de vegetação: são estruturas semelhantes às estufas, porém a</p><p>principal diferença é o material de cobertura, que preferencialmente é</p><p>permeável, o que dificulta o controle das condições ambientais. Os</p><p>principais materiais utilizados são plásticos, polietileno ou sombrites</p><p>(Figura 4B). Dessa forma, o principal controle é o nível de sombreamento</p><p>de acordo com a abertura da tela.</p><p>22</p><p>Figura 4 – Produção de mudas em A – estufas; e B – casas de vegetação</p><p>Crédito: Bokic Bojan/shutterstock; Icswart/Shutterstock.</p><p>3.4 Avaliação da qualidade das mudas</p><p>Determinar a qualidade das mudas florestais produzidas é essencial para</p><p>o sucesso de projetos de reflorestamento, silvicultura e conservação ambiental.</p><p>É a partir do uso de mudas de boa qualidade que se tem a confiança da eficiência</p><p>de crescimento e de sobrevivência das mudas em campo. Algumas avaliações</p><p>podem ser realizadas para atestar a qualidade das mudas, sendo as principais</p><p>(Gomes; Paiva, 2013):</p><p>I. Altura da parte aérea: diz respeito ao desenvolvimento do caule, dos</p><p>ramos e das folhas, que está diretamente relacionado com o crescimento</p><p>ideal das plantas. É um método não destrutivo de avaliação. É uma</p><p>característica de fácil medição, por isso é uma das mais utilizadas para</p><p>determinar a qualidade da muda. Nesses casos, o ideal é produzir e</p><p>utilizar mudas com crescimento uniforme;</p><p>II. Diâmetro do coleto: diz respeito ao desenvolvimento do caule em</p><p>diâmetro, sendo medido na base do caule. Também é um método não</p><p>destrutivo de avaliação. Mudas com maiores diâmetros de coleto</p><p>possuem uma maior probabilidade de sobrevivência, sobretudo a</p><p>condições ambientais, como chuvas, geadas e ventos fortes;</p><p>III. Produção</p><p>de matéria seca: diz respeito à produção de biomassa, tanto</p><p>da parte aérea quanto das raízes, que podem ser avaliadas</p><p>separadamente. É um método destrutivo, pois será necessário matar a</p><p>muda para ter essa avaliação. Basicamente será pesada a massa da</p><p>planta depois de seca em estufa à 102±3 ºC. Mudas com maior biomassa</p><p>costumam sobreviver mais às alterações ambientais, pois já estão em</p><p>23</p><p>pleno desenvolvimento. Essa é uma avaliação importante, porém inviável</p><p>pela destruição das mudas, sendo realizada por amostragem de algumas</p><p>mudas, para se ter uma ideia da produção de massa seca.</p><p>Depois de avaliadas essas características, são estimados alguns índices</p><p>de qualidade de mudas. Os principais são (Gomes; Paiva, 2013):</p><p>I. Relação altura da parte aérea/diâmetro de coleto: índice baseado em</p><p>métodos não destrutivos, sendo obtido pela divisão do valor da altura da</p><p>parte aérea pelo diâmetro do coleto. Exprime o equilíbrio do crescimento</p><p>da muda;</p><p>II. Relação altura da parte aérea/massa seca da parte aérea: divisão entre</p><p>o valor de altura da parte aérea pela massa seca da parte aérea. Quanto</p><p>menor o valor, melhor, pois a planta estará produzindo mais biomassa</p><p>numa altura ideal;</p><p>III. Relação massa seca da parte aérea/massa seca de raízes: divisão</p><p>entre o valor de massa seca da parte aérea pela massa seca de raízes.</p><p>O ideal é o valor estar próximo a 2;</p><p>IV. Índice de qualidade de Dickson (IQD): quanto maior o valor, melhor a</p><p>qualidade das mudas, sendo ideal acima de 0,2. Pode ser obtido pela</p><p>equação a seguir:</p><p>𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼𝐼 =</p><p>𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀</p><p>ℎ</p><p>𝐼𝐼𝐷𝐷 + 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀</p><p>𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀</p><p>Em que: IQD = índice de qualidade de Dickson, adimensional; MMST =</p><p>massa de matéria seca total, em g; h = altura da parte aérea, em cm; DC =</p><p>diâmetro do coleto, em mm; MMSPA = massa de matéria seca da parte aérea,</p><p>em g; MMSR = massa de matéria seca de raízes, em g.</p><p>3.5 Substratos, recipientes e fertilização para produção de mudas</p><p>Determinar quais os substratos mais indicados para a produção de mudas</p><p>em cada recipiente e a fertilização é essencial para a produção de mudas</p><p>florestais. No Quadro 3 são apresentados alguns exemplos para cada uma</p><p>dessas necessidades para a produção das mudas.</p><p>24</p><p>Quadro 3 – Exemplos de substratos, recipientes e fertilização para produção de</p><p>mudas florestais</p><p>Item Tipos Características</p><p>Recipientes</p><p>Torrão reba Bloco de substrato + argila e materiais orgânicos</p><p>Torrão paulista Bloco de substrato orgânico</p><p>Torronete Cilindro prensado de duralumínio + substrato</p><p>orgânico</p><p>Laminado de</p><p>madeira</p><p>Em forma de tubo cilíndrico, sem fundo, feito com</p><p>lâminas de madeira torneada</p><p>Togaflora Tudo cilíndrico vazado feito de papel Kraft + uma</p><p>fina camada externa de plástico</p><p>Paper-pot Recipiente biodegradável de papel</p><p>Fertil-pot Recipiente de fibra de madeira + turfa +</p><p>nutrientes minerais</p><p>Vapo Blocos secos de turfa seca prensada + NPK +</p><p>calcário dolomítico</p><p>Bandejas de isopor Moldes de isopor em bandejas</p><p>Win-strip Série de placas de PVC em forma de zigue-</p><p>zague</p><p>Saco plástico Muito utilizado para produção da muda até ser</p><p>levada a campo. Pode ser biodegradável</p><p>Tubete de plástico</p><p>rígido</p><p>Formato cônico e feito de plástico, sendo</p><p>organizados em gradeamentos que ocupam</p><p>pouco espaço. Alta produção de mudas</p><p>Substratos</p><p>Vermiculita Mineral de argila rico em Mg e Fe. Retém</p><p>umidade e é considerado condicionador de solo</p><p>Composto orgânico Material resultante da decomposição da matéria</p><p>orgânica</p><p>Esterco bovino Auxilia na física, na química e nas condições</p><p>bióticas do solo ou substrato</p><p>Moinha de carvão</p><p>vegetal</p><p>Resíduo do processo de carbonização da</p><p>madeira, rica em carbono</p><p>Terra de subsolo Pouca matéria orgânica, porém, fonte de</p><p>minerais, água e ar</p><p>Serragem Resíduo orgânico que retém água e ajuda na</p><p>estrutura do solo/substrato</p><p>Bagaço de cana Incorpora matéria orgânica + imobilizar</p><p>nitrogênio</p><p>Acículas de pinus Cobertura orgânica morta + nutrição e</p><p>condicionador de solo</p><p>Húmus de minhoca Fornece matéria orgânica + nutrição</p><p>Composto de</p><p>resíduos sólidos</p><p>urbanos</p><p>Fornece matéria orgânica + nutrição. Atentar</p><p>para uso de compostos sem elementos tóxicos</p><p>Fertilização</p><p>Macronutrientes</p><p>Nitrogênio, fósforo, potássio, magnésio, cálcio e</p><p>enxofre  essenciais em grandes quantidades</p><p>Mais comuns o uso de fertilizantes NPK</p><p>Micronutrientes Ferro, zinco, cobre, molibdênio, boro, manganês</p><p>e cloro  essenciais em pequenas quantidades</p><p>Micorrizas Auxiliam o fornecimento de fósforo e melhoram</p><p>as condições de solo</p><p>Rizóbios Auxiliam a disponibilização de nitrogênio</p><p>Fonte: Gomes; Paiva, 2013.</p><p>25</p><p>3.6 Características e técnicas básicas em viveiros florestais</p><p>As principais características observadas e técnicas aplicadas em viveiros</p><p>florestais são (Gomes; Paiva, 2013):</p><p>I. Sombreamento: uma das classificações ecológicas das espécies</p><p>florestais diz respeito à luminosidade que incide na planta, podendo essas</p><p>serem classificados como: plantas de pleno sol, plantas que toleram sol,</p><p>plantas que toleram sombreamento ou plantas de pleno sombreamento.</p><p>Na produção de muda por sementes, o sombreamento é ideal, pois</p><p>controla a temperatura, a umidade, a ação de pingos d’água e a</p><p>luminosidade que incidem sobre as mudas. Dessa forma, evitam-se</p><p>diversos problemas, reduzindo a mortalidade;</p><p>II. Irrigação: a água é essencial em todos os períodos de desenvolvimento</p><p>dos seres vivos, não sendo diferente para as mudas. A água é essencial</p><p>para umedecer as sementes e iniciar o processo de germinação. Além</p><p>disso, é necessário fazer o controle da umidade do solo ou substrato, pois</p><p>a água é responsável por diversos processos fisiológicos, principalmente</p><p>por movimentar substâncias, compostos e nutrientes no interior da planta.</p><p>A frequência de irrigação depende de fatores como: nível de chuvas no</p><p>local; temperatura; umidade relativa do ar; incidência de ventos no viveiro,</p><p>pois tendem a ressecar o solo/substrato; tipo de substrato utilizado, pois</p><p>os arenosos tendem a reter menos água do que os argilosos e aqueles</p><p>que possuem menor quantidade de matéria orgânica; espécie e fase da</p><p>produção da muda;</p><p>III. Raleio ou desbaste: são plantadas muitas sementes em cada substrato.</p><p>As com melhor desenvolvimento permanecem e são retiradas as demais;</p><p>IV. Monda ou capina manual: eliminação manual de plantas indesejáveis;</p><p>V. Movimentação ou dança das mudas: mudança das mudas de local para</p><p>realização da poda das raízes, sendo também responsável pela sua</p><p>rustificação;</p><p>VI. Rustificação: adaptação das mudas às condições de campo onde será</p><p>realizado o plantio definitivo;</p><p>VII. Poda das raízes e da parte aérea: controle de crescimento das mudas.</p><p>26</p><p>TEMA 4 – VIVEIROS FLORESTAIS – PRODUÇÃO DE MUDAS POR SEMENTES</p><p>Até aqui, debatemos temas sobre características de sementes florestais</p><p>e instalações gerais para produção de mudas em viveiros florestais. Agora</p><p>iremos entender como produzir mudas, que basicamente pode ocorrer por</p><p>sementes ou por métodos de propagação vegetativa. Estes últimos serão</p><p>abordados no tópico 5. Agora iremos abordar sobre a produção de mudas por</p><p>sementes.</p><p>Também conhecida como propagação sexuada ou propagação de plantas</p><p>sexuadamente, esta é uma técnica que envolve a germinação das sementes</p><p>(que são os propágulos que possuem a mistura dos gametas feminino e</p><p>masculino, sendo, portanto, responsáveis pela reprodução das plantas).</p><p>Obviamente o sucesso da propagação sexuada está ligado à qualidade das</p><p>sementes (já debatido nos tópicos 1 e 2). A seguir serão discutidas algumas</p><p>características e técnicas da produção de mudas por sementes.</p><p>4.1 Semeadura em canteiros para posterior repicagem</p><p>Neste caso, as sementes serão distribuídas nos canteiros (chamados</p><p>canteiros de sementeira), onde será esperado que as sementes germinem em</p><p>tempos semelhantes. Depois de desenvolvidas a certo nível, as plântulas serão</p><p>distribuídas para outros recipientes por meio da repicagem (transferência das</p><p>plântulas de um substrato para outro).</p><p>É uma técnica que está em baixa no setor florestal devido ao aumento da</p><p>qualidade das sementes obtidas e produzidas. Esta técnica é utilizada devido a</p><p>algumas características, como (Gomes; Paiva, 2013):</p><p>• Baixa disponibilizada de quantidade ideal de sementes;</p><p>• Falta de uniformidade de germinação dentre as várias espécies;</p><p>• Menor número de mudas produzidas;</p><p>• Maior custo de produção e maior valor de mudas.</p><p>Pela necessidade de repicagem, deve-se ter alguns cuidados. Os</p><p>principais envolvem a realização da técnica apenas quando as plantas estiverem</p><p>bem desenvolvidas, observar a manutenção das raízes, deixar intactos os</p><p>torrões formados nas raízes e evitar deformações. Atentar também para o</p><p>espaçamento entre as sementes para evitar competições.</p><p>27</p><p>4.2 Mudas para plantio com raiz nua</p><p>As mudas, nesse processo, são produzidas em sementeiras até</p><p>desenvolvimento ideal. Depois de crescidas, elas são retiradas das sementeiras,</p><p>sendo desfeitos os torrões das raízes para que elas fiquem totalmente expostas.</p><p>Por causa disso, são poucas espécies que toleram este tratamento, sendo então</p><p>restrita a algumas condições.</p><p>Depois de terem o solo totalmente retirado das raízes, as mudas são</p><p>destinadas diretamente ao local definitivo de plantio. “A técnica de produção é</p><p>semelhante à usada para repicagem. A diferença está no fato de que as mudas</p><p>ficam nos canteiros de semeadura até a época de serem levadas ao campo”</p><p>(Gomes; Paiva, 2013, p. 31-32).</p><p>4.3 Semeadura direta nos recipientes</p><p>Ao contrário das duas técnicas citadas anteriormente, esta é realizada</p><p>diretamente nos recipientes onde serão desenvolvidas desde o início da</p><p>germinação até a ida ao local definitivo de plantio. Segundo Gomes e Paiva</p><p>(2013), a semeadura direta em recipientes pode ser considerada a melhor</p><p>técnica para produção de mudas por sementes de espécies tropicais, auxiliando</p><p>na maior produção de mudas em grande escala. As principais vantagens de</p><p>utilizar esta técnica são (Gomes; Paiva, 2013):</p><p>• Não é necessário construir canteiro para semeadura e para repicagem,</p><p>nem estruturas para sombreamento das mudas após repicagem;</p><p>• Reduz o tempo e custo de produção das mudas, pois evita técnicas de</p><p>repicagem, troca de local e rustificação em outros substratos;</p><p>• Reduz perdas por doenças;</p><p>• Há a produção de mudas mais vigorosas justamente pela redução de</p><p>movimentações entre substratos;</p><p>• Melhor formação do sistema radicular e formação do torrão.</p><p>4.4 Características básicas para semeadura</p><p>Algumas características básicas devem ser observadas ao optar por</p><p>produzir mudas por sementes. As principais são as seguintes (Gomes; Paiva,</p><p>2013):</p><p>28</p><p>I. Época de semeadura: depende da espécie, da taxa de crescimento,</p><p>nutrição do substrato, clima local, dos objetivos de produção das mudas</p><p>e do sistema de plantio das mudas em campo;</p><p>II. Profundidade de semeadura: geralmente devem estar totalmente</p><p>submersas no solo, porém não tão fundo para reduzir o tempo de</p><p>emergência da planta germinada. Sementes pequenas devem ser</p><p>distribuídas na superfície.</p><p>TEMA 5 – VIVEIROS FLORESTAIS – PROPAGAÇÃO VEGETATIVA DE MUDAS</p><p>Outro método de realizar a reprodução de plantas em viveiros florestais é</p><p>a partir da propagação de mudas assexuada (propagação vegetativa). Nestes</p><p>casos, há o uso de órgãos vegetativos para a formação de novas mudas. Estas</p><p>mudas apresentarão, dentre outras características, carga genética igual à da</p><p>planta de origem (conhecida também como planta-mãe).</p><p>A propagação vegetativa é o processo pelo qual há a produção de clones</p><p>de plantas que apresentam características previamente selecionadas para a</p><p>perpetuação e produção vegetal. O princípio básico dessa técnica está na</p><p>formação de uma nova planta com todas as características morfológicas de uma</p><p>muda (raízes e parte aérea contendo caule, ramos e folhas), superando a fase</p><p>inicial de desenvolvimento das plantas jovens e necessitando que a planta-mãe</p><p>apresente alta capacidade regenerativa para que desenvolva órgãos suficientes</p><p>para que não morra durante o processo de propagação (principalmente para</p><p>formação do sistema radicular). No Quadro 4 podem ser observadas algumas</p><p>vantagens e desvantagens da propagação vegetativa em viveiros florestais</p><p>quando comparada com a propagação por sementes.</p><p>Quadro 4 – Vantagens e desvantagens da propagação vegetativa (assexuada)</p><p>em comparação com a produção de mudas por sementes</p><p>Vantagens Desvantagens</p><p>Preserva o potencial produtivo da planta</p><p>mãe</p><p>Alto custo para produção de mudas por</p><p>clonagem</p><p>Diminui o tempo aguardado na fase</p><p>inicial de crescimento e, assim, o</p><p>período sem produção da planta,</p><p>garantindo a precocidade na produção</p><p>da muda e na floração</p><p>Exige elevado cuidado com a sanidade</p><p>das plantas, a fim de evitar a</p><p>propagação de doenças por partes</p><p>vegetativas</p><p>29</p><p>Favorece a criação de áreas de</p><p>produção convencionais, facilitando o</p><p>gerenciamento e aplicação de técnicas</p><p>de cultivo</p><p>Necessita de espaço e de mão de obra</p><p>para a manutenção do canteiro de</p><p>plantas mãe</p><p>Facilita a propagação de características</p><p>desejáveis para novas plantas ao longo</p><p>de gerações</p><p>Menor produção de número de mudas</p><p>Fonte: Fachinello et al., 2005; Senar; 2018.</p><p>Diante dessas desvantagens, alguns fatores interferem no sucesso da</p><p>propagação vegetativa. Os principais são (Wendling, 2003; Senar, 2018):</p><p>• Estágio de maturidade ou juvenilidade dos propágulos;</p><p>• Nível de nutrição da planta-mãe;</p><p>• Produção de reguladores de crescimento naturalmente pela própria</p><p>planta;</p><p>• Condições ideais de ambiente, como luz, temperatura e umidade;</p><p>• Técnica escolhida para realização da propagação.</p><p>As principais técnicas aplicadas em viveiros florestais são a enxertia e a</p><p>estaquia. Porém as espécies arbóreas apresentam condições apropriadas para</p><p>aplicação de outras técnicas, como alporquia, mergulhia e micropropagação.</p><p>Dependendo do nível da produção do viveiro, podem ser aplicadas essas</p><p>técnicas para propagação das mudas. A seguir serão apresentadas as</p><p>características básicas de cada uma dessas técnicas.</p><p>5.1 Estaquia</p><p>A estaquia é um método de propagação vegetativa altamente aplicado em</p><p>viveiros florestais. Consiste na coleta de partes, como folhas, ramos e galhos,</p><p>estimulando o crescimento de raízes ao plantá-las em outro substrato (Figura 5).</p><p>Figura 5 – Esquema de propagação vegetativa por estaquia</p><p>Crédito: Kazakova Maryia/shutterstock.</p><p>30</p><p>As estacas podem ser classificadas de acordo com características de</p><p>obtenção em relação ao órgão em (Senar, 2018):</p><p>I. Estacas apicais: possuem gemas de terminação apical, geralmente</p><p>possuindo folhas;</p><p>II. Estacas medianas ou intermediárias: retiradas do meio do órgão.</p><p>Exemplo: estacas de galhos sem possuir folhas;</p><p>III. Estacas basais: retiradas da base dos órgãos, com comprimento</p><p>variando entre 15 e 20 cm e possuindo folhas ou não.</p><p>5.2 Enxertia</p><p>O método de enxertia consiste na junção de ou mais plantas, que podem</p><p>ser da mesma espécie ou de espécies que apresentem afinidade (geralmente de</p><p>mesmo gênero ou família). De uma forma bem resumida, são utilizadas uma</p><p>planta enraizada, designada como porta-enxerto, e parte de outra planta,</p><p>chamada de enxerto, permitindo o uso de ramos, galhos, fustes ou outros órgãos</p><p>aplicação na enxertia (Figura 6).</p><p>Figura 6 – Esquemas de realização de enxertia</p><p>Crédito: Sergey Merkulov/shutterstock; Sergey Merkulov/shutterstock.</p><p>A partir da junção do enxerto no porta-enxerto, vários fatores influenciam</p><p>no sucesso da técnica, como a desidratação das plantas, que é favorecida por</p><p>temperatura e luminosidade elevadas, fortes ventos e baixa umidade do</p><p>ambiente (Senar, 2018). Portanto, é necessário que as espécies utilizadas</p><p>possuam alta capacidade de cicatrização, característica</p><p>geralmente encontrada</p><p>em plantas mais jovens.</p><p>31</p><p>5.3 Alporquia</p><p>A alporquia é o método de enraizamento de órgãos vegetativos</p><p>conectados na planta-mãe para gerar uma nova planta. Realizada em galhos ou</p><p>ramos, envolve a remoção de parte da casca ao redor do órgão, interrompendo</p><p>o fluxo de nutrientes das folhas para as raízes. Esse processo estimula o</p><p>crescimento de novas raízes no local, possibilitando a formação de uma nova</p><p>planta a partir desse ponto. Esse local é envolvido com algum material que evite</p><p>trocas com o ambiente, como plástico (Figura 7).</p><p>Figura 7 – Formação do esquema de alporquia para propagação vegetativa</p><p>Crédito: Bigc Studio/Shutterstock.</p><p>É uma técnica útil para propagação de espécies arbóreas, porém pouco</p><p>aplicada em viveiros. Um dos principais motivos é a demora para enraizar</p><p>(geralmente mais de três meses), além do aumento da possibilidade de</p><p>contaminação das plantas por adicionar substrato e água em contato com</p><p>estruturas abertas dos ramos.</p><p>32</p><p>5.4 Mergulhia</p><p>A técnica de mergulhia envolve imergir no solo ou em outro substrato um</p><p>galho/ramo que ainda está conectado à planta-mãe. É necessário aguardar a</p><p>formação das raízes nessa estrutura “mergulhada” no solo (Figura 8). Após</p><p>enraizamento completo, é realizado um corte para separar a nova planta formada</p><p>da planta-mãe.</p><p>Figura 8 – Esquema básico da técnica de mergulhia para propagação vegetativa</p><p>Crédito: Kazakova Maryia/Shutterstock.</p><p>A mergulhia é uma técnica pouco utilizada em viveiros florestais, porém</p><p>deve ser considerada como uma forma de propagação vegetativa por ser de</p><p>baixo custo e de fácil execução. As principais dificuldades de aplicação são a</p><p>capacidade de enraizamento das espécies e aumento da probabilidade de</p><p>contaminação e surgimento de doenças, além da necessidade de uma maior</p><p>área disponível.</p><p>33</p><p>5.5 Micropropagação vegetativa</p><p>A micropropagação vegetativa é a técnica de reprodução vegetal a partir</p><p>de órgãos específicos, como gemas, embriões, partes de órgãos ou células</p><p>individuais, em um ambiente estéril de cultivo em laboratório, conhecido como in</p><p>vitro (Wendling, 2003). “Essa técnica tem por objetivo a clonagem de plantas em</p><p>larga escala e a multiplicação de um grande número de indivíduos, para as mais</p><p>diversas finalidades, em curto intervalo de tempo” (Senar, 2018, p. 61).</p><p>Para isso, as plantas não são cultivadas em solo ou substrato (mineral ou</p><p>orgânico), mas sim em meio de cultura (Figura 9), sob rígido controle do</p><p>ambiente em questão de luminosidade, temperatura e umidade. “É uma técnica</p><p>que exige alto investimento em estrutura e mão de obra qualificada elevando,</p><p>consequentemente, o custo de produção das mudas. No entanto, as produzidas</p><p>por esse sistema apresentam alta qualidade, uniformidade e sanidade” (Senar,</p><p>2018, p. 62).</p><p>Figura 9 – Cultivo vegetal por micropropagação em meio de cultura</p><p>Crédito: Vladimir Mulder/Shutterstock; Andrii Anna Photographers/Shutterstock</p><p>FINALIZANDO</p><p>Depois de estudarmos as características silviculturais visando o manejo e</p><p>a produção florestal, nesta abordagem foram apresentadas algumas</p><p>características das sementes florestais e as formas de produção de mudas,</p><p>incluindo os atributos básicos de um viveiro florestal.</p><p>Quanto às sementes florestais foram abordados os conceitos e os</p><p>benefícios que estas proporcionam ao ambiente e à produção florestal, suas</p><p>principais características para germinação e produção de mudas, incluindo a</p><p>dormência e formas de avaliação da qualidade. Além disso foram debatidas</p><p>34</p><p>questões de coleta, armazenamento e beneficiamento de sementes visando sua</p><p>comercialização e produção de mudas florestais.</p><p>Em relação aos viveiros florestais foram abordadas temáticas</p><p>relacionadas às suas instalações básicas. Neste tópico foram dados os</p><p>conceitos básicos para o funcionamento de um viveiro florestal.</p><p>Por fim, foram debatidas as formas de propagação de plantas nos viveiros</p><p>florestais, destacando-se os métodos de reprodução por sementes e de</p><p>propagação vegetativa de enxertia e estaquia. Também foram abordadas</p><p>técnicas menos aplicadas nos viveiros florestais, como mergulhia, alporquia e</p><p>micropropagação, porém dando importância para cada uma destas.</p><p>35</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BENTO, M. C. et al. Manual de boas práticas: técnicas de produção e análise</p><p>de sementes florestais. Rio Branco: Edufac, 2018. 96p.</p><p>BRASIL. Instruções para análise de sementes de espécies florestais, de 17</p><p>de janeiro de 2013. Brasília: MAPA, 2013.</p><p>BRASIL. Legislação brasileira sobre sementes e mudas: Lei n. 10.711, de 5</p><p>de agosto de 2003 e Decreto n. 5.153, de 23 de julho de 2004. Brasília: Ministério</p><p>da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Serviço Nacional de Proteção de</p><p>Cultivares, 2004.</p><p>BRASIL. Regras para análise de sementes. Brasília: MAPA/ACS, 2009.</p><p>CARVALHO, N. M.; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção.</p><p>Jaboticabal: FUNEP, 2000.</p><p>FACHINELLO, J. C. et al. Propagação de plantas frutíferas. Brasília: Embrapa</p><p>Informação Tecnológica, 2005.</p><p>GOMES, J. M.; PAIVA, H. N. Viveiros florestais: propagação sexuada. Viçosa:</p><p>Ed. UFV, 2011.</p><p>HOPPE, J. M. et al. Produção de sementes e mudas florestais. 2. ed. Santa</p><p>Maria: UFSM, 2004. (Caderno Didático n. 1).</p><p>MEDEIROS, A. C. S.; NOGUEIRA, A. C. Planejamento da coleta de sementes</p><p>florestais nativas. Circular Técnicas, 126. Colombo: Embrapa Florestas, 2006.</p><p>9p.</p><p>MENEGUCI, J. L. P. A coleta e produção de sementes e de mudas de</p><p>espécies florestais nativas de acordo com a legislação brasileira. Brasília:</p><p>Embrapa, S.d.</p><p>NASCIMENTO, C. E. S. Viveiros para produção de mudas florestais.</p><p>Petrolina: Embrapa Semiárido, 2011.</p><p>PALUDZYSZYN FILHO, E. Sementes. Colombo: Embrapa Florestas, 2021.</p><p>Disponível em: <https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-</p><p>tecnologica/cultivos/eucalipto/pos-producao/comercializacao/sementes>.</p><p>Acesso em: 7 dez. 2023.</p><p>36</p><p>PEGORIN, P. et al. Histórico e classificação da dormência: a grande polêmica.</p><p>In: FERREIRA, G. et al. (org.) Dormência de sementes: provocações e</p><p>reflexões. Botucatu: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,</p><p>Instituto de Biociências de Botucatu, 2022. p. 10-35.</p><p>PIÑA-RODRIGUES, F. C. M.; MARTINS, R. B. Dormência: conceito, tipos e</p><p>formas de superação. In: MORI, E. S. et al. Sementes florestais: guia para</p><p>germinação de 100 espécies nativas. São Paulo: Instituto Refloresta, 2012. p.</p><p>19-26.</p><p>PIRES, P. T. L. et al. Dicionário de termos florestais. rev. e ampl. Curitiba:</p><p>FUPEF, 2018.</p><p>SENA, C. M.; GARIGLIO, M. A. Sementes florestais: colheita, beneficiamento</p><p>e armazenamento. Natal: MMA, Secretaria de Biodiversidade e Florestas,</p><p>Departamento de Florestas, Programa Natural de Florestas, Unidade de Apoio</p><p>do PNF no Nordeste, 2008.</p><p>SENAR – Serviço Nacional de Aprendizado Rural. Plantas ornamentais:</p><p>propagação e produção de mudas. Brasília: Senar, 2018.</p><p>TROGELLO, E. et al. Acompanhamento de uma Unidade Beneficiadora de</p><p>Sementes de milho – estudo de caso. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, v.</p><p>12, n. 2, p. 193-201, 2013.</p><p>WENDLING, I. Propagação vegetativa. Colombo: Embrapa Floresta, 2003.</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>TEMA 1 – SEMENTES FLORESTAIS – características e AVALIAção</p><p>TEMA 2 – sementes florestais – colheita, beneficiamento e armazenamento</p><p>TEMA 3 – VIVEIROS FLORESTAIS – CONCEITOS GERAIS</p><p>TEMA 4 – VIVEIROS FLORESTAIS – PRODUÇÃO DE MUDAS POR SEMENTES</p><p>TEMA 5 – VIVEIROS FLORESTAIS – PROPAGAÇÃO VEGETATIVA DE MUDAS</p><p>FINALIZANDO</p><p>REFERÊNCIAS</p>