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51 6ºAula A relação entre cuidar x educar Esta aula tratará sobre a relação entre cuidar e educar, especialmente porque existe ainda um grande número de pessoas leigas que desconhecem a fundamental importância de uma instituição infantil. Pessoas que acreditam que esse ambiente tem apenas a função de cuidar, assumindo assim um caráter unicamente assistencialista. Trataremos de como essa ideia, precisa ser banida, considerando que, a cada dia vem se buscando oferecer um ambiente em que as crianças tenham a possibilidade de ter seus direitos respeitados e a oportunidade de viver a infância. Cuidar e educar são refletir sobre as ações pedagógicas, obtendo uma visão integrada do desenvolvimento da criança, ou seja, considerá- la como um ser completo e capaz, além de considerar as concepções que respeitem as especificidades de cada momento da realidade relacionada à infância. Cuidar e educar implica compreender que o espaço e o tempo em que a criança vive necessitam do seu esforço particular e da mediação dos adultos como forma de oferecer ambientes estimulantes, despertando a curiosidade com consciência e responsabilidade. Boa aula! Fundamentos e Metodologia da Educação Infantil 52 Objetivos de aprendizagem 1 - Cuidar e educar 2 - As instituições de educação infantil 3 - A interação professor-criança 1 - Cuidar e educar Ao término desta aula, você será capaz de: • identificar a importância do cuidar e educar de maneira que ambas estejam relacionadas; • perceber a necessidade de realizar todas as atividades de modo que se utilize com responsabilidade o termos cuidar e educar; • conhecer as diferenças entre ambos, mas não separá-las; • refletir sobre o que ocorre atualmente nas creches e pré-escola em relação ao cuidar e educar. Seções de estudo Caro estudante, O conteúdo apresentado nesta aula é de suma importância, pois trata de dois conceitos essenciais na construção da infância, que se diferenciam, mas sob nenhuma hipótese podem ser trabalhados separadamente. Está pronto para nossa primeira seção de estudo? Apesar de muitas pessoas ainda acreditarem que o cuidado e a educação são conceitos dissociáveis, atualmente vem se provando que não, cuidar e educar, de acordo com as novas diretrizes, deve caminhar junto, pois como o indivíduo não deve ser encarado como um ser fragmentado, mas completo, em todos os momentos e situações. Cuidar e educar consiste em contemplar todas as diversidades e ao mesmo tempo, a natureza complexa do indivíduo. Assim, o cuidar e o educar devem possibilitar a construção da identidade e a autonomia da criança. A prática dos educadores, aliada às demais pessoas da instituição, é de fundamental importância para garantir que o cuidar e o educar aconteçam de forma integrada. Torna-se necessário então, um comprometimento de todos da instituição para o bem-estar do educando. Cuidar e educar implica em estudo, dedicação, ajuda e muito amor de todos os responsáveis por esse processo. CUIDAR Na educação infantil o “cuidar” faz parte da educação, apesar de se poder exigir conhecimentos, habilidades e i n s t r u m e n t o s que exploram a dimensão pedagógica. Cuidar de uma criança demanda a participação de vários campos de conhecimento e também da ajuda de vários profissionais de diferentes áreas. O mais importante, no cuidado humano, é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio, que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos (SIGNORETTE, 2002, p.3) Cuidar decorre da necessidade de considerar vários aspectos do desenvolvimento como: afeição, cuidados com a alimentação, higiene, cuidados com a saúde, além do oferecimento de acesso a conhecimentos diversificados. Existem, porém, variadas formas de cuidar, dependendo de crenças, valores e culturas que influenciam, embora a necessidade seja bem comum como: alimentar-se, proteger-se, pois, tais necessidades, conhecidas como necessidades básicas, podem ser modificadas, de acordo com o contexto sociocultural. Pode-se dizer que além daquelas que preservam a vida orgânica, as necessidades afetivas são, também, necessárias para o pleno desenvolvimento infantil. Sendo assim, as ações referentes ao cuidado, são apresentadas de maneira a enfatizar o desenvolvimento integral da criança, envolvendo aspectos afetivos, sociais, biológicos, físicos, alimentares e concernentes à saúde. O contexto sociocultural aparece como fator determinante nesse desenvolvimento e nas necessidades básicas de sobrevivência, diferentes em cada cultura, ou seja, Fonte : luxochic.com 53 o comprometimento do professor com a criança em todos esses aspectos se torna indispensável, compreendendo a sua história e as reais necessidades que ela apresenta. O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção da saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseados em conhecimentos específicos sobre desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em conta diferentes realidades sócio-culturais (BRASIL, 1998, p.4). Para cuidar com precisão é necessário o reconhecimento das particularidades de cada ser, sendo solidários às suas necessidades e acreditando nas suas habilidades. Isso depende da construção de um vínculo afetivo entre quem cuida (no caso o professor) e quem é cuidado (criança). O professor terá o papel de mediar, contribuindo com a criança para que ela possa descobrir suas necessidades e atendê- las da melhor maneira possível. Esse profissional da educação deve se lembrar que essa criança está em contínuo crescimento e desenvolvimento, e isso inclui interessar-se sobre o que essa criança sente, pensa, o que ela sabe sobre si e sobre o mundo, visando à ampliação desse conhecimento e de suas capacidades, que, aos poucos, se tornarão mais independentes e mais autônomas. EDUCAR É importante ressaltar que as instituições de educação infantil absorvam de maneira integrada as funções de cuidar e educar, não mais diferenciando ou dissociando, e mais do que isso, desvalorizando aqueles profissionais que trabalham com crianças pequenas diante daqueles que trabalham com crianças maiores. As novas diretrizes da educação infantil devem buscar a qualidade. Qualidade essa que, parte de conceitos de desenvolvimento que consideram as crianças em seu contexto social, ambiental, cultural e mais concretamente na participação ativa de práticas sociais, das quais ofereça a elas a oportunidade do contato com as mais diversas linguagens e conhecimentos para a construção do saber e consequentemente a construção da autonomia. A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as crianças que a frequentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel socializador, propiciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de interação (BRASIL, 1998, p. 7). Às crianças devem ser oferecidas condições em que a aprendizagem aconteça em decorrência de brincadeiras e variadas ações pedagógicas dirigidas por profissionais qualificados que estejam dispostos a conduzir tais atividades para a aprendizagem significativa, servindo como condutor desse conhecimento, fazendo com que eles ocorram de maneira espontânea e prazerosa. Contudo, é necessário que essa aprendizagem, de natureza diversa, seja integrada no processo de desenvolvimentoinfantil. Educar significa portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, de respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. O processo educativo é realizado de várias formas: na família, na rua, nos grupos sociais e, também, na instituição. Educar, nessa primeira etapa da vida, não pode ser confundido com cuidar, ainda que as crianças (especialmente de zero a três anos) necessitem de cuidados elementares para garantia da própria sobrevivência. O que deve permear a discussão não são os cuidados que as crianças devem receber, mas o modo como elas devem recebê-los, já que se alimentar assear-se, brincar, dormir, interagir são direitos inalienáveis à infância (GARCIA, 2001, p.9). Nesse processo, a educação infantil poderá contribuir no desenvolvimento das capacidades e potencialidades em diversos aspectos como: afetivos, corporais, emocionais, estéticos e éticos, proporcionando a essas crianças perspectiva de uma vida feliz e saudável. Fonte: joedventurini.blogspot.com Fundamentos e Metodologia da Educação Infantil 54 Portanto, para educar, faz-se necessário que o educador crie situações significativas de aprendizagem para que alcance o objetivo de desenvolver habilidades cognitivas, psicomotoras e socioafetivas, mas é, sobretudo, fundamental que a formação da criança seja vista como um ato inacabado, sempre sujeito a novas aprendizagens, a novos recuos, a novas tentativas. Para refl etir E você conhece verdadeiramente a diferença entre cuidar e educar? Está preparado para assumir a responsabilidade de realizar uma prática refl exiva e comprometida com a melhoria da educação infantil? 2 - As instituiçoes de educação infantil As instituições de educação infantil devem ser percebidas como equipamentos educacionais e não somente como assistencialistas, pois como já fora dito, essa nova concepção vem mostrando o quão é importante o papel dessas instituições para o bom desenvolvimento da criança. Sendo assim, uma das características da educação infantil é associar o cuidado com a educação, de modo que, um complemente o outro, já que, sabemos que nos primeiros anos de vida, o cuidado é extremamente necessário. Toda a educação, inclusive a educação infantil tem como finalidade conduzir o indivíduo ao progresso, oferecendo condições de um pleno desenvolvimento de suas capacidades inatas e adquiridas pelo meio em que vive, de acordo com seu contexto sociocultural. Então, as instituições de educação infantil são um dos contextos de desenvolvimento da criança, pois além de oferecer cuidados físicos, ela cria condições para o desenvolvimento do cognitivo, simbólico, social e emocional. É indispensável, porém, que essas instituições sejam compreendidas como um ambiente facilitador para a aquisição de conhecimentos, além de socializador, e não como uma substituta da instituição familiar. Nela, as crianças, vivem, convivem, exploram, conhecem, construindo uma visão de mundo e de si mesmas. Fazer parte de uma instituição infantil dá a essa criança a oportunidade de se relacionar com outras pessoas, sejam elas, crianças ou não e a todo momento viver situações de aprendizagens, em qualquer atividade que realize, seja com o intuito de cuidar ou educar, o professor oferece estímulos para pensar, além disso, se questionar sobre toda e qualquer atitude, mesmo que a criança ainda não seja capaz de desvendar o mundo, pois tudo é novo, sendo necessário que sejam orientadas a construir bons hábitos e atitudes corretas. Isso ocorre de maneira espontânea e por essa razão, significativa. Mesmo reconhecendo a fundamental importância das instituições de educação infantil, a parceria com a família e os demais profissionais que englobam todo esse sistema educacional de maneira direta ou indireta, acarretará no diferencial na formação dessas crianças. Para que o sucesso desses educandos seja mais facilmente alcançado, a instituição infantil deve funcionar com a interação entre pais, educadores e crianças. O bom relacionamento entre os três é fundamental durante todo o processo de inserção da criança na vida escolar, voltando assim, a pedagogia, para a consolidação da infância. Deve ficar clara a função de cada um, ou seja, o que é dever dos pais e o que é dever do educador. As tarefas a que lhe cabem a cada um deles não devem ser separadas ou trocadas ou esquecidas, pois isso pode significar na perda de importantes etapas de formação do indivíduo, acarretando lacunas e até mesmo perda em sua vida, sem chance de serem vivenciadas novamente. Diante de tudo isso, o professor nunca deve se esquecer que as crianças são seres humanos, que possuem sentimentos e, sendo assim, não devem deixar a afeição de lado. Trabalhar somente o intelectual da criança e considerá-la como máquina é totalmente reprovável. Cuidar, e principalmente educar, não é tarefa fácil. Exige do profissional, especialmente o de educação infantil, sensibilidade que os façam compreender que em todo momento devem proporcionar às crianças momentos que lhe façam crescer, refletir e se desenvolver, capacitando-as a diferenciar o que é certo e o que é errado, baseados em coerência e justiça. Espero que os textos lidos até aqui, possam fazer com que você refl ita sobre a importância da instituição de educação infantil, assim como o binômio entre cuidar e educar. Vamos para a próxima seção? 55 3 - A interação entre professor e criança Na educação infantil a relação entre professor e criança é fator complexo, embora necessário e possui desafios próprios. Nas creches e pré-escolas, esse parceiro das crianças é o professor, é ele que conduz os educandos ao desenvolvimento e tem como função se relacionar afetivamente com as crianças, já que ela precisa de alguém que compreenda suas emoções e assim, auxilie na estruturação do pensamento. Ao oferecer às crianças momentos de esclarecimentos, confusões e ações o professor está alimentando o pensamento infantil, propondo questões que a ajudem a fortalecer as ideias já existentes e também a construir novas hipóteses. As interações ocasionadas pelas crianças com seus professores não contribui unicamente para a construção de fatores ligados ao conhecimento, mas também a construção de uma ética, uma noção política e uma certa autonomia, aspectos que, diversas vezes, passam despercebidos como inerente ao processo de ensino. Compreender o papel importante do professor como alguém que facilita ou dificulta o caminho para a aprendizagem significativa, é extremamente necessário. Os atos, os ensinamentos e as palavras do educador têm um grande peso na formação da personalidade e do caráter de seus educandos, visto que, diariamente observamos expressões de professores que demonstram uma política contrária do que defende a educação infantil, quando utilizam falas como: “Já está bom, chega!” (desestimulando a criança a fazer melhor), “quem mandou ser bobo?” (ensinando a moral da esperteza), “se fizer isso de novo não falo mais com você” (utilizando a chantagem como forma de controle), entre tantos outros. Considerando a criança um agente ativo de seu processo de desenvolvimento, o professor infantil faz a mediação, entre ela e seu meio, utilizando os diversos recursos básicos disponíveis: o próprio espaço físico da creche ou pré-escola com seu imobiliário, equipamentos e materiais, as tarefas e instruções propostas e, particularmente, sua maneira de se relacionar com a criança: como observa, apóia, questiona, responde-lhe, explica-lhe, dá-lhe objetos e consola (OLIVEIRA, 2002, p2. ). A participação ativa das crianças é favorecida pelas pistas que o professor lhes fornece sobre como aprendem, trabalhame se relacionam, pistas que são construídas à medida que ele percebe cada criança e conhece seus sentimentos. As crianças, tendo os professores como facilitador, recebem informações e estímulos para ampliarem seus conhecimentos na creche ou pré-escola com outras experiências fora dela. Para isso, faz-se necessário, interagir com elas, mesmo com as muito pequenas, tendo ações pensadas sobre como acalmá-las, motivá-las, ajudá- las a diferenciar, conceituar, argumentar. As práticas discursivas que se estabelecem nas creches e pré-escolas agem como fonte de construção de conhecimentos já existentes nas diversas vivências culturais das crianças. Para isso, o profissional da educação infantil, mais do que qualquer outro, deve possuir tal sensibilidade a fim de acompanhar a imaginação intelectual que a criança possui e demonstra. Para conhecer cada criança e como ela reage a cada situação é necessário que o professor seja um observador, percebendo suas reações e incentivando- as a expor o que pensam sobre esse ou aquele conceito. Com isso, ele a auxilia a superar visões e obter esquemas flexíveis e criativos de significação. Alguns elementos transformam essa relação em experiências com certas dificuldades. A linguagem das crianças, como ferramenta de trabalho é utilizada para sua própria relação com outras pessoas e a qual o professor deve identificar e compreender. Além disso, as creches e pré-escolas lidam com mais uma questão complicada, o de estar trabalhando com crianças que estabeleceram um vínculo muito forte com sua família e que certamente irão estabelecer esse vínculo agora também com o educador. Nesse período o professor requer um cuidado e atenção especial, pois a criança ainda apresenta um pensamento egocêntrico, o que gera dificuldades em compreender que não é apenas o seu modo de pensar e ver que existe, apresentando acessos de birra, manifestações de ciúmes e até determinadas agressões aos seus colegas. Tais características tornam o trabalho do professor uma tarefa exigente, gerando preocupações, pois alguns deles temem criar esse vínculo com as crianças. Embora esses profissionais sintam-se impotentes para lidar com as crianças, devem olhá- las como seres reais e não como ideais. Portanto, observar as crianças no cotidiano da creche e pré-escola, ouvir sua família, pode ajudar cada professor a descobrir caminhos promissores para a formação de vínculos afetivos produtivos para seu desenvolvimento. Fundamentos e Metodologia da Educação Infantil 56 Saber mais Para saber mais, vamos a leitura de um artigo retirado da revista Pátio Educação Infantil, ano 1 n.1 Abr/jul de 2003, com o titulo: “A NECESSÁRIA RELAÇÃO ENTRE CUIDAR E EDUCAR”, escrito por Maria Clotilde Rossetti Ferreira, professora titular da Faculdade de Filosofi a e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) – USP. Boa leitura! A necessária associação entre cuidar e educar Admirável capacidade humana essa de aprender com os outros da mesma espécie e de se adaptar aos mais variados ambientes e situações. Estranho pensar que ela se funda em nossa extrema imaturidade motora ao nascer, que nos faz depender de outros por longos anos. Em contraposição, nossa rica expressividade ao nascer favorece nossa comunicação com os outros. Aqueles que nos cuidam medeiam nossas relações com o mundo. Nas condições materiais e sociais em que vivem e de acordo com sua cultura, seus costumes e suas crenças, organizam o ambiente em que vivemos, possibilitanto-nos agir nele e sobre ele. Possibilitam, assim, que as coisas desse mundo façam sentido para nós e, ao mesmo tempo, apresentam-nos aos outros, atribuindo-nos ao interagir conosco. Essa realidade humana está bem expressa no ditado xhosa, língua materna de Nelson Mandela: pessoas são pessoas através de outras pessoas. Tal ditado contrapõe-se fortemente à dissociação entre cuidar e educar, tão frequentemente em nossas escolas, pré-escolas e creches. Esquecemos que, ao cuidar ou descuidar do outro, estamos colocando-o em certa posição, dando-lhes certos sentidos, aos quais contribuem para constituí-lo como pessoa. Certas experiências vivenciadas por mim em algumas creches e pré-escolas podem ajudar a evidenciar isso. As situações de higiene são as mais típicas. Recordo- me da rotina de banho de uma creche que lembrava as linhas de montagem das fábricas, ironizadas por Charles Chaplin, no filme Tempos Modernos. Duas educadoras compunham a situação, com um grupo de 15 crianças entre 2 e 3 anos. O ritmo de umas e de outras era bem diferenciado. Enquanto as educadoras, automática e rapidamente, desempenhavam as tarefas de despir, lavar, secar e vestir uma criança após a outra, as crianças eram submetidas a um contínuo e longo tempo de espera. De início, permaneciam em penicos encostadas a parede. Quando chegava sua vez, eram pegas, esfregadas, enxugadas e deixadas ainda pingando, no estrado para esperar a vez de serem vestidas e penteadas pela outra educadora. Terminada essa rotina, as crianças ficavam à espera da rotina seguinte, sendo repreendidas se não ficassem quietas e silenciosas. Pouca ou nenhuma oportunidade era propiciada a elas de ter alguma autonomia na situação, desfrutar o prazer da água no corpo, interagindo e brincando umas com as outras. A organização dessa atuação de cuidado estava claramente educando as crianças a serem submissas e passivas, sem iniciativa ou autonomia. Para refl etir Pare e refl ita um pouco, sobre essa prática vivenciada pela professora. Será algo de outro mundo ou ocorre cotidianamente em nossas creches e escolas? O que você fará enquanto educador (a) para mudar isso? Essa mesma rotina de banho pode ser trabalhada de forma completamente diversa. O ambiente e a rotina podem ser organizados de maneira a oportunizar as crianças o desenvolvimento autônomo de uma série de habilidades, como despir, lavar, enxugar, vestir e calçar a si própria e às outras. Podem ser ocasião de experimentar a textura e outras qualidades da água, do sabão e das esponjas. Podem ajudar os outros ou cuidar deles, ou serem cuidadas por eles. Com isso, estamos exercendo um cuidado/ uma educação que as coloca em uma posição mais ativa, de alguém competente para interagir, aprender a exercer uma série de funções. A injusta estrutura social brasileira espelha-se sobremaneira nas instituições educacionais, onde as atividades de cuidado são empurradas para os de menor salário e status, dado que a elas é atribuído um menor valor que aquelas denominadas educativas. Nas creches, nota-se uma frequente discriminação entre “as professoras”, entendidas como responsáveis pela parte mais nobre da educação, e “as auxiliares, atendentes, serventes ou pajens”, responsáveis pela parte menos nobre, de cuidado das crianças e do ambiente. Supostamente, as primeiras formam a mente da criança, responsabilizando-se pelas atividades ditas de aprendizagem cognitiva. Já as outras cuidam da alimentação, da higiene, da limpeza, do descanso e da recreação, atividades que, teoricamente, requerem menor qualificação. Como a discriminação é grande, quem educa não se propõe a 57 cuidar e quem cuida não se considera apto a educar, como se essa cisão fosse possível. Em um estudo sobre inclusão/exclusão de crianças com paralisia cerebral na pré-escola (Yazzle, Amorim e Rossetti-Ferreira, em produção), pudemos observar os efeitos perversos dessa dissociação. A pessoa portadora de necessidades especiais usualmente requer maior cuidado, seja no sentido de apoio ambiental (rampas, cadeiras adequadas), seja no sentido de um auxílio mais direto e efetivo em atividades nas quais não tem autonomia, como ir ao banheiro, por exemplo. As professoras da pré-escola mostraram-se desesperadas a atônitas nessa situação. Para elas, esse tipo de função não lhes cabia e sim às serventes, que não estavam disponíveis em vários momentos. Nossa investigação pôs em evidência o fato de que todas as criançasprecisam, em momentos diversos, de algum cuidado especial, adequado a suas necessidades individuais. As professoras, porem, não estão preparadas para isso, pois consideram que sua função é apenas ensinar saberes especificados no currículo escolar. E quando obrigadas a exercer atividades de cuidado geralmente o fazem a respeito das crianças. No entanto, o processo de cuidado e de ensino-aprendizagem é muito mais efetivo e prazeroso quando há uma real sintonia entre quem cuida e quem é cuidado, entre quem ensina e quem aprende, em que o professor educador é capaz de perceber o momento da criança, de proporcionar condições que a acolham e motivem, envolvendo-a e compartilhando com elas atividades variadas, as quais podem ter partido da iniciativa da criança ou do adulto. Ao colocá-la em uma posição mais ativa, de parceria e coautoria do que ocorre e do seu próprio processo de cuidado e aprendizagem, ele estará dando oportunidades para as crianças construírem uma identidade positiva a respeito de si mesmas, de pessoa capaz de se cuidar e ser cuidada, de interagir com os outros e dominar diferentes habilidades e conteúdos. A identidade da criança também esta sendo formada durante a atividade de vida diária, como a alimentação, por exemplo. Muito da cultura e dos saberes de um povo é transmitido nessa prática social. Que o digam os italianos, árabes, franceses e brasileiros de norte a sul! O preparo da comida e o momento da refição constituem ocasiões extremamente ricas para a aprendizagem e o desenvolvimento de hábitos e costumes individuais e culturais. No entanto, essa situação tem sido tratada como uma rotina cansativa, da qual os adultos desejam desvencilhar-se o mais rapidamente possível. As atividades de cuidado/educação de crianças cujos direitos são reconhecidos e respeitados pela instituição e por seus educadores devem envolver o cultivo da identidade familiar, do gênero e da raça. Nesse sentido, podem ser programadas situações para as crianças explorarem sua história individual e familiar, descobrirem e serem acolhidas em sua individualidade, aprendendo a reconhecer e respeitar as diferenças próprias e alheias. Propiciar oportunidades para as crianças aprenderem a gostar de si próprias, desenvolvendo um autoconceito positivo e aprendendo a reconhecer e respeitar as características pessoais de cada um, constitui uma tarefa educativa das mais importantes. A indissociabilidade entre cuidado e educação precisa permear todo o projeto pedagógico de uma creche, pré-escola ou escola. Trata-se, de certa forma, de uma filosofia de atuação que prevalece – ou não – em todo o planejamento. As famílias não procuram as instituições apenas para que proporcione a seus filhos os aprendizados definidos no currículo escolar. Elas buscam compartilhar com os professores educadores o cuidado e a educação de seus filhos. Esperam que estes sejam acolhidos em sua individualidade, que comporta necessidades variadas. Turma, Para fi nalizar, gostaria de deixar uma refl exão interessante. Para refl etir Na época que vivemos em que maior ou menor oportunidade ao conhecimento defi ne muitas vezes o futuro de uma pessoa, as atividades de cuidado assumem cada vez mais uma posição de destaque. As máquinas e os robôs puderam substituir o ser humano em várias tarefas, mas não nas de cuidado! O setor no qual mais crescem as oportunidades de emprego é o de serviços. E a competência neles exigida envolve também delicadeza e cuidado no trato. Outros setores que apresentam acentuado crescimento dizem respeito diretamente ao cuidado das pessoas com o ambiente ecológico. Cabe, então, a pergunta: Será que estamos preparando um futuro melhor para nossas crianças se deixarmos o cuidado de fora das tarefas educativas em nossas creches e pré-escolas? Gostaram do texto? Acredito que tenha sido bem promissor no sentido de fazer com que valorizemos as práticas vivenciadas todos os dias Fundamentos e Metodologia da Educação Infantil 58 dentro e fora da escola, respeitando as crianças em suas diferenças e capacidades. Retomando a aula Busquem retomar os conteúdos anteriores sempre que houver dúvidas! 1 - Cuidar e educar Na primeira seção tratamos especificamente sobre os termos Cuidar e Educar e sua finalidade, além disso, percebemos que são indissociáveis. 2 – As instituições de educação infantil Tratou-se das instituições de educação infantil, sua finalidade e importância diante de uma fase que cada vez mais cresce de importância. 3 – A interação professor-criança A última seção sugeriu o tema: A interação professor-criança, mostrando o quanto é necessário que o professor estabeleça um elo de ligação muito forte e harmonioso com seus alunos, a fim de criar um ambiente mais estimulador. Vale a pena • Com mérito; • O nome da Rosa. Vale a pena assistir