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Relação Cuidar e Educar

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6ºAula
A relação entre cuidar x educar
Esta aula tratará sobre a relação entre cuidar 
e educar, especialmente porque existe ainda um 
grande número de pessoas leigas que desconhecem 
a fundamental importância de uma instituição 
infantil. Pessoas que acreditam que esse ambiente 
tem apenas a função de cuidar, assumindo assim um 
caráter unicamente assistencialista. Trataremos de 
como essa ideia, precisa ser banida, considerando 
que, a cada dia vem se buscando oferecer um 
ambiente em que as crianças tenham a possibilidade 
de ter seus direitos respeitados e a oportunidade de 
viver a infância.
Cuidar e educar são refletir sobre as ações 
pedagógicas, obtendo uma visão integrada do 
desenvolvimento da criança, ou seja, considerá-
la como um ser completo e capaz, além de 
considerar as concepções que respeitem as 
especificidades de cada momento da realidade 
relacionada à infância. Cuidar e educar implica 
compreender que o espaço e o tempo em que a 
criança vive necessitam do seu esforço particular 
e da mediação dos adultos como forma de 
oferecer ambientes estimulantes, despertando a 
curiosidade com consciência e responsabilidade.
Boa aula!
Fundamentos e Metodologia da Educação Infantil
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Objetivos de aprendizagem
1 - Cuidar e educar
2 - As instituições de educação infantil
3 - A interação professor-criança
1 - Cuidar e educar
Ao término desta aula, você será capaz de:
• identificar a importância do cuidar e educar 
de maneira que ambas estejam relacionadas;
• perceber a necessidade de realizar todas 
as atividades de modo que se utilize com 
responsabilidade o termos cuidar e educar;
• conhecer as diferenças entre ambos, mas não 
separá-las;
• refletir sobre o que ocorre atualmente nas 
creches e pré-escola em relação ao cuidar e educar.
Seções de estudo
Caro estudante, 
O conteúdo apresentado nesta aula é de suma importância, 
pois trata de dois conceitos essenciais na construção da 
infância, que se diferenciam, mas sob nenhuma hipótese 
podem ser trabalhados separadamente.
Está pronto para nossa primeira seção de estudo?
Apesar de muitas pessoas ainda acreditarem que 
o cuidado e a educação são conceitos dissociáveis, 
atualmente vem se provando que não, cuidar e 
educar, de acordo com as novas diretrizes, deve 
caminhar junto, pois como o indivíduo não deve ser 
encarado como um ser fragmentado, mas completo, 
em todos os momentos e situações. 
Cuidar e educar consiste em contemplar todas 
as diversidades e ao mesmo tempo, a natureza 
complexa do indivíduo. Assim, o cuidar e o educar 
devem possibilitar a construção da identidade e a 
autonomia da criança.
A prática dos educadores, aliada às demais 
pessoas da instituição, é de fundamental importância 
para garantir que o cuidar e o educar aconteçam de 
forma integrada.
Torna-se necessário então, um 
comprometimento de todos da instituição para o 
bem-estar do educando. Cuidar e educar implica em 
estudo, dedicação, ajuda e muito amor de todos os 
responsáveis por esse processo.
CUIDAR
Na educação 
infantil o “cuidar” 
faz parte da 
educação, apesar 
de se poder exigir 
conhecimentos, 
habilidades e 
i n s t r u m e n t o s 
que exploram 
a dimensão pedagógica. Cuidar de uma criança 
demanda a participação de vários campos de 
conhecimento e também da ajuda de vários 
profissionais de diferentes áreas.
O mais importante, no cuidado humano, é 
compreender como ajudar o outro a se desenvolver 
como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar 
a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato 
em relação ao outro e a si próprio, que possui uma 
dimensão expressiva e implica em procedimentos 
específicos (SIGNORETTE, 2002, p.3)
Cuidar decorre da necessidade de considerar 
vários aspectos do desenvolvimento como: afeição, 
cuidados com a alimentação, higiene, cuidados 
com a saúde, além do oferecimento de acesso a 
conhecimentos diversificados.
Existem, porém, variadas formas de cuidar, 
dependendo de crenças, valores e culturas que 
influenciam, embora a necessidade seja bem 
comum como: alimentar-se, proteger-se, pois, tais 
necessidades, conhecidas como necessidades básicas, 
podem ser modificadas, de acordo com o contexto 
sociocultural. Pode-se dizer que além daquelas 
que preservam a vida orgânica, as necessidades 
afetivas são, também, necessárias para o pleno 
desenvolvimento infantil.
Sendo assim, as ações referentes ao cuidado, 
são apresentadas de maneira a enfatizar o 
desenvolvimento integral da criança, envolvendo 
aspectos afetivos, sociais, biológicos, físicos, 
alimentares e concernentes à saúde. O contexto 
sociocultural aparece como fator determinante 
nesse desenvolvimento e nas necessidades básicas 
de sobrevivência, diferentes em cada cultura, ou seja, 
Fonte : luxochic.com
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o comprometimento do professor com a criança 
em todos esses aspectos se torna indispensável, 
compreendendo a sua história e as reais necessidades 
que ela apresenta. 
O cuidado precisa considerar, principalmente, as 
necessidades das crianças, que quando observadas, 
ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes 
sobre a qualidade do que estão recebendo. Os 
procedimentos de cuidado também precisam seguir 
os princípios de promoção da saúde. Para se atingir 
os objetivos dos cuidados com a preservação da vida 
e com o desenvolvimento das capacidades humanas, 
é necessário que as atitudes e procedimentos estejam 
baseados em conhecimentos específicos sobre 
desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual 
das crianças, levando em conta diferentes realidades 
sócio-culturais (BRASIL, 1998, p.4). 
Para cuidar com precisão é necessário o 
reconhecimento das particularidades de cada ser, 
sendo solidários às suas necessidades e acreditando 
nas suas habilidades. Isso depende da construção 
de um vínculo afetivo entre quem cuida (no caso o 
professor) e quem é cuidado (criança). O professor 
terá o papel de mediar, contribuindo com a criança para 
que ela possa descobrir suas necessidades e atendê-
las da melhor maneira possível. Esse profissional 
da educação deve se lembrar que essa criança está 
em contínuo crescimento e desenvolvimento, e isso 
inclui interessar-se sobre o que essa criança sente, 
pensa, o que ela sabe sobre si e sobre o mundo, 
visando à ampliação desse conhecimento e de suas 
capacidades, que, aos poucos, se tornarão mais 
independentes e mais autônomas.
EDUCAR
É importante 
ressaltar que as 
instituições de 
educação infantil 
absorvam de 
maneira integrada 
as funções de 
cuidar e educar, 
não mais diferenciando ou dissociando, e mais do 
que isso, desvalorizando aqueles profissionais que 
trabalham com crianças pequenas diante daqueles 
que trabalham com crianças maiores. As novas 
diretrizes da educação infantil devem buscar a 
qualidade. Qualidade essa que, parte de conceitos 
de desenvolvimento que consideram as crianças 
em seu contexto social, ambiental, cultural e mais 
concretamente na participação ativa de práticas 
sociais, das quais ofereça a elas a oportunidade 
do contato com as mais diversas linguagens e 
conhecimentos para a construção do saber e 
consequentemente a construção da autonomia.
A instituição de educação infantil deve tornar 
acessível a todas as crianças que a frequentam, 
indiscriminadamente, elementos da cultura que 
enriquecem o seu desenvolvimento e inserção 
social. Cumpre um papel socializador, propiciando 
o desenvolvimento da identidade das crianças, por 
meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em 
situações de interação (BRASIL, 1998, p. 7). 
Às crianças devem ser oferecidas condições em 
que a aprendizagem aconteça em decorrência de 
brincadeiras e variadas ações pedagógicas dirigidas 
por profissionais qualificados que estejam dispostos 
a conduzir tais atividades para a aprendizagem 
significativa, servindo como condutor desse 
conhecimento, fazendo com que eles ocorram de 
maneira espontânea e prazerosa. Contudo, é necessário 
que essa aprendizagem, de natureza diversa, seja 
integrada no processo de desenvolvimentoinfantil. 
Educar significa portanto, propiciar situações de 
cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas 
de forma integrada e que possam contribuir para o 
desenvolvimento das capacidades infantis de relação 
interpessoal, de ser e estar com os outros em uma 
atitude básica de aceitação, de respeito e confiança, 
e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais 
amplos da realidade social e cultural.
O processo educativo é realizado de várias formas: 
na família, na rua, nos grupos sociais e, também, na 
instituição. Educar, nessa primeira etapa da vida, 
não pode ser confundido com cuidar, ainda que as 
crianças (especialmente de zero a três anos) necessitem 
de cuidados elementares para garantia da própria 
sobrevivência. O que deve permear a discussão não 
são os cuidados que as crianças devem receber, mas o 
modo como elas devem recebê-los, já que se alimentar 
assear-se, brincar, dormir, interagir são direitos 
inalienáveis à infância (GARCIA, 2001, p.9).
Nesse processo, a educação infantil poderá 
contribuir no desenvolvimento das capacidades 
e potencialidades em diversos aspectos como: 
afetivos, corporais, emocionais, estéticos e éticos, 
proporcionando a essas crianças perspectiva de uma 
vida feliz e saudável.
Fonte: joedventurini.blogspot.com
Fundamentos e Metodologia da Educação Infantil
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Portanto, para educar, faz-se necessário 
que o educador crie situações significativas de 
aprendizagem para que alcance o objetivo de 
desenvolver habilidades cognitivas, psicomotoras 
e socioafetivas, mas é, sobretudo, fundamental 
que a formação da criança seja vista como um ato 
inacabado, sempre sujeito a novas aprendizagens, a 
novos recuos, a novas tentativas. 
Para refl etir
E você conhece verdadeiramente a diferença entre cuidar 
e educar? Está preparado para assumir a responsabilidade 
de realizar uma prática refl exiva e comprometida com a 
melhoria da educação infantil?
2 - As instituiçoes de educação infantil
As instituições de educação infantil devem ser 
percebidas como equipamentos educacionais e não 
somente como assistencialistas, pois como já fora 
dito, essa nova concepção vem mostrando o quão é 
importante o papel dessas instituições para o bom 
desenvolvimento da criança. Sendo assim, uma das 
características da educação infantil é associar o cuidado 
com a educação, de modo que, um complemente o 
outro, já que, sabemos que nos primeiros anos de 
vida, o cuidado é extremamente necessário.
Toda a educação, inclusive a educação infantil 
tem como finalidade conduzir o indivíduo ao 
progresso, oferecendo condições de um pleno 
desenvolvimento de suas capacidades inatas e 
adquiridas pelo meio em que vive, de acordo com 
seu contexto sociocultural.
Então, as instituições de educação infantil são 
um dos contextos de desenvolvimento da criança, 
pois além de oferecer cuidados físicos, ela cria 
condições para o desenvolvimento do cognitivo, 
simbólico, social e emocional. É indispensável, 
porém, que essas instituições sejam compreendidas 
como um ambiente facilitador para a aquisição de 
conhecimentos, além de socializador, e não como 
uma substituta da instituição familiar. Nela, as 
crianças, vivem, convivem, exploram, conhecem, 
construindo uma visão de mundo e de si mesmas.
Fazer parte de uma instituição infantil dá a 
essa criança a oportunidade de se relacionar com 
outras pessoas, sejam elas, crianças ou não e a todo 
momento viver situações de aprendizagens, em 
qualquer atividade que realize, seja com o intuito 
de cuidar ou educar, o professor oferece estímulos 
para pensar, além disso, se questionar sobre toda e 
qualquer atitude, mesmo que a criança ainda não 
seja capaz de desvendar o mundo, pois tudo é novo, 
sendo necessário que sejam orientadas a construir 
bons hábitos e atitudes corretas. Isso ocorre de 
maneira espontânea e por essa razão, significativa.
Mesmo reconhecendo a fundamental 
importância das instituições de educação infantil, 
a parceria com a família e os demais profissionais 
que englobam todo esse sistema educacional de 
maneira direta ou indireta, acarretará no diferencial 
na formação dessas crianças.
Para que o sucesso desses educandos seja mais 
facilmente alcançado, a instituição infantil deve 
funcionar com a interação entre pais, educadores 
e crianças. O bom relacionamento entre os três é 
fundamental durante todo o processo de inserção da 
criança na vida escolar, voltando assim, a pedagogia, 
para a consolidação da infância. Deve ficar clara a 
função de cada um, ou seja, o que é dever dos pais e o 
que é dever do educador. As tarefas a que lhe cabem 
a cada um deles não devem ser separadas ou trocadas 
ou esquecidas, pois isso pode significar na perda 
de importantes etapas de formação do indivíduo, 
acarretando lacunas e até mesmo perda em sua vida, 
sem chance de serem vivenciadas novamente.
Diante de tudo isso, o professor nunca deve 
se esquecer que as crianças são seres humanos, que 
possuem sentimentos e, sendo assim, não devem 
deixar a afeição de lado. Trabalhar somente o 
intelectual da criança e considerá-la como máquina 
é totalmente reprovável. 
Cuidar, e principalmente educar, não é tarefa fácil. 
Exige do profissional, especialmente o de educação 
infantil, sensibilidade que os façam compreender 
que em todo momento devem proporcionar às 
crianças momentos que lhe façam crescer, refletir e se 
desenvolver, capacitando-as a diferenciar o que é certo 
e o que é errado, baseados em coerência e justiça.
Espero que os textos lidos até aqui, possam fazer com que 
você refl ita sobre a importância da instituição de educação 
infantil, assim como o binômio entre cuidar e educar. 
Vamos para a próxima seção?
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3 - A interação entre professor e criança
Na educação infantil a relação entre professor e 
criança é fator complexo, embora necessário e possui 
desafios próprios. Nas creches e pré-escolas, esse 
parceiro das crianças é o professor, é ele que conduz 
os educandos ao desenvolvimento e tem como função 
se relacionar afetivamente com as crianças, já que ela 
precisa de alguém que compreenda suas emoções e 
assim, auxilie na estruturação do pensamento.
Ao oferecer às crianças momentos de 
esclarecimentos, confusões e ações o professor 
está alimentando o pensamento infantil, propondo 
questões que a ajudem a fortalecer as ideias já existentes 
e também a construir novas hipóteses. As interações 
ocasionadas pelas crianças com seus professores 
não contribui unicamente para a construção de 
fatores ligados ao conhecimento, mas também a 
construção de uma ética, uma noção política e uma 
certa autonomia, aspectos que, diversas vezes, passam 
despercebidos como inerente ao processo de ensino. 
Compreender o papel importante do professor 
como alguém que facilita ou dificulta o caminho 
para a aprendizagem significativa, é extremamente 
necessário. Os atos, os ensinamentos e as palavras 
do educador têm um grande peso na formação 
da personalidade e do caráter de seus educandos, 
visto que, diariamente observamos expressões de 
professores que demonstram uma política contrária 
do que defende a educação infantil, quando utilizam 
falas como: “Já está bom, chega!” (desestimulando a 
criança a fazer melhor), “quem mandou ser bobo?” 
(ensinando a moral da esperteza), “se fizer isso de 
novo não falo mais com você” (utilizando a chantagem 
como forma de controle), entre tantos outros. 
Considerando a criança um agente ativo de seu 
processo de desenvolvimento, o professor infantil 
faz a mediação, entre ela e seu meio, utilizando os 
diversos recursos básicos disponíveis: o próprio 
espaço físico da creche ou pré-escola com seu 
imobiliário, equipamentos e materiais, as tarefas e 
instruções propostas e, particularmente, sua maneira 
de se relacionar com a criança: como observa, apóia, 
questiona, responde-lhe, explica-lhe, dá-lhe objetos e 
consola (OLIVEIRA, 2002, p2. ).
A participação ativa das crianças é favorecida 
pelas pistas que o professor lhes fornece sobre como 
aprendem, trabalhame se relacionam, pistas que são 
construídas à medida que ele percebe cada criança 
e conhece seus sentimentos. As crianças, tendo os 
professores como facilitador, recebem informações 
e estímulos para ampliarem seus conhecimentos 
na creche ou pré-escola com outras experiências 
fora dela. Para isso, faz-se necessário, interagir com 
elas, mesmo com as muito pequenas, tendo ações 
pensadas sobre como acalmá-las, motivá-las, ajudá-
las a diferenciar, conceituar, argumentar.
As práticas discursivas que se estabelecem 
nas creches e pré-escolas agem como fonte de 
construção de conhecimentos já existentes nas 
diversas vivências culturais das crianças. Para isso, 
o profissional da educação infantil, mais do que 
qualquer outro, deve possuir tal sensibilidade a 
fim de acompanhar a imaginação intelectual que a 
criança possui e demonstra.
Para conhecer cada criança e como ela reage a 
cada situação é necessário que o professor seja um 
observador, percebendo suas reações e incentivando-
as a expor o que pensam sobre esse ou aquele 
conceito. Com isso, ele a auxilia a superar visões e 
obter esquemas flexíveis e criativos de significação.
Alguns elementos transformam essa relação em 
experiências com certas dificuldades. A linguagem 
das crianças, como ferramenta de trabalho é utilizada 
para sua própria relação com outras pessoas e a qual 
o professor deve identificar e compreender. Além 
disso, as creches e pré-escolas lidam com mais uma 
questão complicada, o de estar trabalhando com 
crianças que estabeleceram um vínculo muito forte 
com sua família e que certamente irão estabelecer 
esse vínculo agora também com o educador. 
Nesse período o professor requer um cuidado e 
atenção especial, pois a criança ainda apresenta um 
pensamento egocêntrico, o que gera dificuldades 
em compreender que não é apenas o seu modo de 
pensar e ver que existe, apresentando acessos de 
birra, manifestações de ciúmes e até determinadas 
agressões aos seus colegas.
Tais características tornam o trabalho do 
professor uma tarefa exigente, gerando preocupações, 
pois alguns deles temem criar esse vínculo com 
as crianças. Embora esses profissionais sintam-se 
impotentes para lidar com as crianças, devem olhá-
las como seres reais e não como ideais.
Portanto, observar as crianças no cotidiano da creche e 
pré-escola, ouvir sua família, pode ajudar cada professor 
a descobrir caminhos promissores para a formação de 
vínculos afetivos produtivos para seu desenvolvimento.
Fundamentos e Metodologia da Educação Infantil
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Saber mais
Para saber mais, vamos a leitura de um artigo retirado da revista 
Pátio Educação Infantil, ano 1 n.1 Abr/jul de 2003, com o titulo: 
“A NECESSÁRIA RELAÇÃO ENTRE CUIDAR E EDUCAR”, escrito por 
Maria Clotilde Rossetti Ferreira, professora titular da Faculdade 
de Filosofi a e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) – USP.
Boa leitura!
A necessária associação entre cuidar e educar
Admirável capacidade humana essa de 
aprender com os outros da mesma espécie e de se 
adaptar aos mais variados ambientes e situações. 
Estranho pensar que ela se funda em nossa extrema 
imaturidade motora ao nascer, que nos faz depender 
de outros por longos anos. Em contraposição, 
nossa rica expressividade ao nascer favorece nossa 
comunicação com os outros. Aqueles que nos 
cuidam medeiam nossas relações com o mundo. 
Nas condições materiais e sociais em que vivem e 
de acordo com sua cultura, seus costumes e suas 
crenças, organizam o ambiente em que vivemos, 
possibilitanto-nos agir nele e sobre ele. Possibilitam, 
assim, que as coisas desse mundo façam sentido para 
nós e, ao mesmo tempo, apresentam-nos aos outros, 
atribuindo-nos ao interagir conosco. Essa realidade 
humana está bem expressa no ditado xhosa, língua 
materna de Nelson Mandela: pessoas são pessoas 
através de outras pessoas.
Tal ditado contrapõe-se fortemente à dissociação 
entre cuidar e educar, tão frequentemente em nossas 
escolas, pré-escolas e creches. Esquecemos que, ao 
cuidar ou descuidar do outro, estamos colocando-o 
em certa posição, dando-lhes certos sentidos, aos 
quais contribuem para constituí-lo como pessoa. 
Certas experiências vivenciadas por mim em algumas 
creches e pré-escolas podem ajudar a evidenciar isso. 
As situações de higiene são as mais típicas. Recordo-
me da rotina de banho de uma creche que lembrava 
as linhas de montagem das fábricas, ironizadas por 
Charles Chaplin, no filme Tempos Modernos. 
Duas educadoras compunham a situação, 
com um grupo de 15 crianças entre 2 e 3 anos. O 
ritmo de umas e de outras era bem diferenciado. 
Enquanto as educadoras, automática e rapidamente, 
desempenhavam as tarefas de despir, lavar, secar e 
vestir uma criança após a outra, as crianças eram 
submetidas a um contínuo e longo tempo de espera. 
De início, permaneciam em penicos encostadas 
a parede. Quando chegava sua vez, eram pegas, 
esfregadas, enxugadas e deixadas ainda pingando, 
no estrado para esperar a vez de serem vestidas e 
penteadas pela outra educadora. Terminada essa 
rotina, as crianças ficavam à espera da rotina 
seguinte, sendo repreendidas se não ficassem quietas 
e silenciosas. Pouca ou nenhuma oportunidade era 
propiciada a elas de ter alguma autonomia na situação, 
desfrutar o prazer da água no corpo, interagindo e 
brincando umas com as outras. A organização dessa 
atuação de cuidado estava claramente educando as 
crianças a serem submissas e passivas, sem iniciativa 
ou autonomia.
Para refl etir
Pare e refl ita um pouco, sobre essa prática vivenciada 
pela professora. Será algo de outro mundo ou ocorre 
cotidianamente em nossas creches e escolas? O que você 
fará enquanto educador (a) para mudar isso?
Essa mesma rotina de banho pode ser 
trabalhada de forma completamente diversa. O 
ambiente e a rotina podem ser organizados de 
maneira a oportunizar as crianças o desenvolvimento 
autônomo de uma série de habilidades, como despir, 
lavar, enxugar, vestir e calçar a si própria e às outras. 
Podem ser ocasião de experimentar a textura e outras 
qualidades da água, do sabão e das esponjas. Podem 
ajudar os outros ou cuidar deles, ou serem cuidadas 
por eles. Com isso, estamos exercendo um cuidado/
uma educação que as coloca em uma posição mais 
ativa, de alguém competente para interagir, aprender 
a exercer uma série de funções.
A injusta estrutura social brasileira espelha-se 
sobremaneira nas instituições educacionais, onde 
as atividades de cuidado são empurradas para os de 
menor salário e status, dado que a elas é atribuído um 
menor valor que aquelas denominadas educativas. 
Nas creches, nota-se uma frequente discriminação 
entre “as professoras”, entendidas como 
responsáveis pela parte mais nobre da educação, 
e “as auxiliares, atendentes, serventes ou pajens”, 
responsáveis pela parte menos nobre, de cuidado das 
crianças e do ambiente. Supostamente, as primeiras 
formam a mente da criança, responsabilizando-se 
pelas atividades ditas de aprendizagem cognitiva. 
Já as outras cuidam da alimentação, da higiene, da 
limpeza, do descanso e da recreação, atividades que, 
teoricamente, requerem menor qualificação. Como a 
discriminação é grande, quem educa não se propõe a 
57
cuidar e quem cuida não se considera apto a educar, 
como se essa cisão fosse possível.
Em um estudo sobre inclusão/exclusão de 
crianças com paralisia cerebral na pré-escola (Yazzle, 
Amorim e Rossetti-Ferreira, em produção), pudemos 
observar os efeitos perversos dessa dissociação. A 
pessoa portadora de necessidades especiais usualmente 
requer maior cuidado, seja no sentido de apoio 
ambiental (rampas, cadeiras adequadas), seja no sentido 
de um auxílio mais direto e efetivo em atividades nas 
quais não tem autonomia, como ir ao banheiro, por 
exemplo. As professoras da pré-escola mostraram-se 
desesperadas a atônitas nessa situação. Para elas, esse 
tipo de função não lhes cabia e sim às serventes, que 
não estavam disponíveis em vários momentos.
Nossa investigação pôs em evidência o fato 
de que todas as criançasprecisam, em momentos 
diversos, de algum cuidado especial, adequado a suas 
necessidades individuais. As professoras, porem, 
não estão preparadas para isso, pois consideram que 
sua função é apenas ensinar saberes especificados 
no currículo escolar. E quando obrigadas a exercer 
atividades de cuidado geralmente o fazem a respeito 
das crianças. No entanto, o processo de cuidado e de 
ensino-aprendizagem é muito mais efetivo e prazeroso 
quando há uma real sintonia entre quem cuida e quem 
é cuidado, entre quem ensina e quem aprende, em que 
o professor educador é capaz de perceber o momento 
da criança, de proporcionar condições que a acolham 
e motivem, envolvendo-a e compartilhando com elas 
atividades variadas, as quais podem ter partido da 
iniciativa da criança ou do adulto. Ao colocá-la em 
uma posição mais ativa, de parceria e coautoria do 
que ocorre e do seu próprio processo de cuidado e 
aprendizagem, ele estará dando oportunidades para 
as crianças construírem uma identidade positiva a 
respeito de si mesmas, de pessoa capaz de se cuidar 
e ser cuidada, de interagir com os outros e dominar 
diferentes habilidades e conteúdos.
A identidade da criança também esta sendo 
formada durante a atividade de vida diária, como a 
alimentação, por exemplo. Muito da cultura e dos 
saberes de um povo é transmitido nessa prática social. 
Que o digam os italianos, árabes, franceses e brasileiros 
de norte a sul! O preparo da comida e o momento 
da refição constituem ocasiões extremamente ricas 
para a aprendizagem e o desenvolvimento de hábitos 
e costumes individuais e culturais. No entanto, essa 
situação tem sido tratada como uma rotina cansativa, 
da qual os adultos desejam desvencilhar-se o mais 
rapidamente possível.
As atividades de cuidado/educação de crianças 
cujos direitos são reconhecidos e respeitados pela 
instituição e por seus educadores devem envolver o 
cultivo da identidade familiar, do gênero e da raça. 
Nesse sentido, podem ser programadas situações 
para as crianças explorarem sua história individual 
e familiar, descobrirem e serem acolhidas em 
sua individualidade, aprendendo a reconhecer e 
respeitar as diferenças próprias e alheias. Propiciar 
oportunidades para as crianças aprenderem a gostar 
de si próprias, desenvolvendo um autoconceito 
positivo e aprendendo a reconhecer e respeitar as 
características pessoais de cada um, constitui uma 
tarefa educativa das mais importantes.
A indissociabilidade entre cuidado e educação 
precisa permear todo o projeto pedagógico de uma 
creche, pré-escola ou escola. Trata-se, de certa forma, 
de uma filosofia de atuação que prevalece – ou não – 
em todo o planejamento. As famílias não procuram as 
instituições apenas para que proporcione a seus filhos 
os aprendizados definidos no currículo escolar. Elas 
buscam compartilhar com os professores educadores 
o cuidado e a educação de seus filhos. Esperam que 
estes sejam acolhidos em sua individualidade, que 
comporta necessidades variadas.
Turma,
Para fi nalizar, gostaria de deixar uma refl exão interessante.
Para refl etir
Na época que vivemos em que maior ou menor 
oportunidade ao conhecimento defi ne muitas vezes o 
futuro de uma pessoa, as atividades de cuidado assumem 
cada vez mais uma posição de destaque. As máquinas e os 
robôs puderam substituir o ser humano em várias tarefas, 
mas não nas de cuidado! O setor no qual mais crescem as 
oportunidades de emprego é o de serviços. E a competência 
neles exigida envolve também delicadeza e cuidado no trato. 
Outros setores que apresentam acentuado crescimento 
dizem respeito diretamente ao cuidado das pessoas com 
o ambiente ecológico. Cabe, então, a pergunta: Será que 
estamos preparando um futuro melhor para nossas crianças 
se deixarmos o cuidado de fora das tarefas educativas em 
nossas creches e pré-escolas?
Gostaram do texto? 
Acredito que tenha sido bem promissor no sentido de fazer 
com que valorizemos as práticas vivenciadas todos os dias 
Fundamentos e Metodologia da Educação Infantil
58
dentro e fora da escola, respeitando as crianças em suas 
diferenças e capacidades.
Retomando a aula
Busquem retomar os conteúdos anteriores 
sempre que houver dúvidas! 
1 - Cuidar e educar
Na primeira seção tratamos especificamente 
sobre os termos Cuidar e Educar e sua finalidade, 
além disso, percebemos que são indissociáveis. 
2 – As instituições de educação infantil
Tratou-se das instituições de educação infantil, 
sua finalidade e importância diante de uma fase que 
cada vez mais cresce de importância.
3 – A interação professor-criança
A última seção sugeriu o tema: A interação 
professor-criança, mostrando o quanto é necessário 
que o professor estabeleça um elo de ligação muito 
forte e harmonioso com seus alunos, a fim de criar 
um ambiente mais estimulador. 
Vale a pena
• Com mérito;
• O nome da Rosa.
Vale a pena assistir