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Atenção: As próximas questões baseiam-se no 
texto seguinte.
Desde pequeno, tive tendência para personifi-
car as coisas. Tia Tula, que achava que mormaço 
fazia mal, sempre gritava: “Vem pra dentro, meni-
no, olha o mormaço!” Mas eu ouvia o mormaço 
com M maiúsculo. Mormaço, para mim, era um 
velho que pegava crianças! Ia pra dentro logo. E 
ainda hoje, quando leio que alguém se viu per-
seguido pelo clamor público, vejo com estes olhos 
o Sr. Clamor Público, magro, arquejante, de preto, 
brandindo um guarda-chuva, com um gogó protu-
berante que se abaixa e levanta no excitamento 
da perseguição. E já estava devidamente grande-
zinho, pois devia contar uns trinta anos, quando 
me fui, com um grupo de colegas, a ver o lança-
mento da pedra fundamental da ponte Uruguaia-
na-Libres, ocasião de grandes solenidades, com 
os presidentes Justo e Getúlio, e gente muita, tan-
to assim que fomos alojados os do meu grupo 
num casarão que creio fosse a Prefeitura, com os 
demais jornalistas do Brasil e Argentina. Era como 
um alojamento de quartel, com breve espaço 
entre as camas e todas as portas e janelas aber-
tas, tudo com os alegres incômodos e duvidosos 
encantos de uma coletividade democrática. Pois lá 
pelas tantas da noite, como eu pressentisse, em 
meu entredormir, um vulto junto à minha cama, 
sentei-me estremunhado e olhei atônito para um 
tipo de chiru, ali parado, de bigodes caídos, pala 
pendente e chapéu descido sobre os olhos. Diante 
da minha muda interrogação, ele resolveu expli-
car-se, com a devida calma:
— Pois é! Não vê que eu sou o sereno...
Mário Quintana. In: As cem melhores crônicas brasileiras. 
São Paulo: Objetiva, 2007.
 Æ PONTUAÇÃO (PONTO, VÍRGULA, TRAVESSÃO, 
ASPAS, PARÊNTESES ETC)
249. (ME – CEBRASPE-CESPE – 2020) No que se 
refere aos sentidos e aos aspectos linguísticos do 
texto precedente, julgue o próximo item.
A inserção de uma vírgula logo após “protuberan-
te”, no trecho “com um gogó protuberante que se 
abaixa e levanta no excitamento da perseguição”, 
manteria a correção gramatical do período e seu 
sentido original.
( ) Certo ( ) Errado
250. (ME – CEBRASPE-CESPE – 2020) No que se 
refere aos sentidos e aos aspectos linguísticos do 
texto precedente, julgue o próximo item.
Em “Tia Tula, que achava que mormaço fazia 
mal, sempre gritava: ‘Vem pra dentro, menino, 
olha o mormaço!’“, os termos “Tia Tula” e “meni-
no” desempenham a mesma função sintática nas 
orações em que ocorrem, o que justifica o fato de 
serem isolados por vírgulas.
( ) Certo ( ) Errado
Atenção: As próximas questões baseiam-se no 
texto seguinte.
Texto 1A18-I
Nos Estados Unidos da América, no século XIX, 
a passagem da polícia do sistema de justiça para o 
de governo da cidade significou também a passa-
gem da noção de caça aos criminosos para a pre-
venção dos crimes, em um deslocamento do ato 
para o ator. Como na Europa, a ênfase na preven-
ção teria representado nova atitude diante do con-
trole social, com o desenvolvimento pela polícia de 
uma habilidade específica, a de explicar e prevenir 
o comportamento criminoso. Isso acabou redun-
dando no foco nas “classes perigosas”, ou seja, 
em setores específicos da sociedade vistos como 
produtores de comportamento criminoso. Nesse 
processo, desenvolveram-se os vários campos de 
saber vinculados aos sistemas de justiça criminal, 
polícia e prisão, voltados para a identificação, para 
a explicação e para a prevenção do comportamen-
to criminoso, agora visto como “desviante”, como 
a medicina legal, a psiquiatria e, especialmente, a 
criminologia.
Na Europa ocidental, as novas instituições esta-
tais de vigilância deveriam controlar o exercício da 
força em sociedades em que os níveis de violên-
cia física nas relações interpessoais e do Estado 
com a sociedade estavam em declínio. De acordo 
com a difundida teoria do processo civilizador, 
de Norbert Elias, no Ocidente moderno, a agres-
sividade, assim como outras emoções e prazeres, 
foi domada, “refinada” e “civilizada”. O autor esta-
belece um contraste entre a violência “franca e 
desinibida” do período medieval, que não excluía 
ninguém da vida social e era socialmente permiti-
da e até certo ponto necessária, e o autocontrole 
e a moderação das emoções que acabaram por 
se impor na modernidade. A conversão do con-
trole que se exercia por terceiros no autocontrole 
é relacionada à organização e à estabilização de 
Estados modernos, nos quais a monopolização da 
força física em órgãos centrais permitiu a criação 
de espaços pacificados. Em tais espaços, os indi-
víduos passaram a ser submetidos a regras e leis 
mais rigorosas, mas ficaram mais protegidos da 
irrupção da violência na sua vida, na medida em 
que as ameaças físicas tornaram-se despersonali-
zadas e monopolizadas por especialistas.
C. Mauch. Considerações sobre a história da polícia. In: 
MÉTIS: história & cultura, v. 6, n.º 11, jan./jun. 2007, p. 107-19 
(com adaptações).