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Direito Civil 111 Personalidade Jurídica -Conceito: É a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na órbita jurídica. Tanto a pessoa física como a jurídica é dotada desta qualidade. Pessoa física ou natural: Vale lembrar que Teixeira de Freitas denominava a pessoa física ou natural de “ente de existência visível”. *Pergunta de concurso: Em que momento a pessoa física ou natural adquire personalidade jurídica? Aparentemente, a resposta encontra-se na primeira parte do Art. 2º do CC, segundo a qual a personalidade da pessoa começa do NASCIMENTO COM VIDA. Por “nascimento com vida” entenda-se o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório vale dizer, ainda que respire por um único instante, o recém-nascido, mesmo falecendo em seguida, adquiriria personalidade jurídica. Entretanto, a segunda parte do Art. 2º, estabelece que o nascituro teria direitos desde a concepção. Afinal, o nascituro também seria uma pessoa? Para se compreender a verdadeira natureza jurídica do nascituro, é indispensável a análise das suas três principais teorias (Teorias explicativas do nascituro): Teoria Natalista: Defendida por Vicente Ráo, Silvio Rodrigues, Eduardo Espínola. A personalidade jurídica somente seria adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não deve tecnicamente ser considerado pessoa, sendo mero titular de uma expectativa de direito. Teoria da Personalidade Condicional: Defendida por Serpa Lopes. O nascituro seria considerado pessoa no que tange a certos direitos personalíssimos (Como o direito à vida), mas, direitos e efeitos de cunho econômico ou patrimonial só seriam adquiridos sob a condição de nascer com vida. Ou seja, não seria ainda pessoa se não quando implementada a condição do nascimento, no que se refere a efeitos patrimoniais. Tem força na questão da herança. Crítica: e os alimentos gravídicos? Teoria Concepcionista: Defendida por Clóvis Beviláqua e Silmara Chinelato. Afirma que o nascituro deve ser considerado pessoa desde a concepção, inclusive para efeitos econômicos ou patrimoniais (o nascimento apenas consolidaria a personalidade existente). Em vários pontos do nosso sistema é nítida a Teoria Concepcionista (alimentos gravídicos), bem como o direito de receber doação (Art. 542 CC), além disso, reforçando a corrente Concepcionista, o STJ admite dano moral ao nascituro (REsp 931556 RS, 399028 SP). Vale acrescentar ainda que o noticiário STJ de 15 de maio de 2011, que, em nosso sentir, tem fluência concepcionista, admitiu que um casal obtivesse indenização pelo seguro DPVAT pela morte de um nascituro de 35 semanas. *Pergunta de concurso: Qual das três teorias foi adotada pelo Direito Civil brasileiro? Trata-se de uma matéria ainda acentuadamente polêmica. Em nosso sentir, mesmo com o julgamento da ADI 3510, em que fora questionada a Lei de Biossegurança, a temática ainda comportaria discussão (a despeito de a Ementa do julgado fazer expressa referência à corrente Natalista). Clóvis Beviláqua, por sua vez, em doutrina ainda atual, em sua clássica obra “Comentários ao CC dos Estados Unidos do Brasil”, afirma que a melhor teoria é a Concepcionista, embora o CC aja adotado a Natalista por ser mais prática. OBS: A Teoria Concepcionista vem ganhando força, mas, não chegou ao ponto de justificar para a jurisprudência a transmissibilidade de uma herança para a sua mãe. Nascituro: Segundo Limongi França, o nascituro é o ente concebido, de vida intrauterina, mas ainda não nascido. Concepturo: É aquele que nem concebido ainda foi, também chamado de prole eventual. Natimorto: Trata-se daquele ente nascido morto, em relação ao qual o enunciado nº1 da primeira jornada de Direito Civil reconhece a tutela de determinados direitos da personalidade, na perspectiva da dignidade humana, a exemplo do resguardo à imagem e à sepultura. OBS: Vale lembrar que o CC da Espanha, em seu Art. 30, até a entrada em vigor da recente lei nº 20/11 exigia, para efeito de aquisição de personalidade, forma humana e uma sobrevivência mínima de pelo menos 24 h. Tal posicionamento, no Brasil, já não seria possível à luz do Princípio da dignidade da Pessoa Humana e segundo a doutrina da Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais. -Capacidade: De Direito: É uma capacidade genérica que qualquer pessoa tem. Quem tem personalidade jurídica tem capacidade de direito. Segundo Horlando Gomes na obra “Introdução ao Direito Civil”, para o Direito Moderno não há como diferenciar personalidade e capacidade de direito. De Fato: Nem toda pessoa tem, pois é a capacidade que a pessoa tem de pessoalmente praticar atos na vida civil. A falta da Capacidade de fato gera Incapacidade Civil, que pode ser: Absoluta: Art. 3º CC Menores de 16 anos (menores impúberes) Deficientes Mentais ou os enfermos: Mediante procedimento de Interdição, a incapacidade, inclusive a absoluta, pode ser declarada por sentença, valendo registrar que, especialmente nos casos de enfermidade e deficiência mental, o juiz de direito antes de julgar determinará uma perícia médica. Proferida a sentença de Interdição, registrada e publicada, todos os atos a partir deste momento praticados por incapaz, mesmo em momento de lucidez, sem o seu curador, é considerado inválido (Ver Art. 1177 e seguintes do CPC). É válido o ato praticado por pessoa portadora de uma causa de incapacidade (doença mental) e que ainda não fora interditada? Embora a Le civil seja omissa, a doutrina (Holando Gomes), com inegável influência do Direito Italiano, tem admitido a invalidação do ato praticado pelo incapaz, mesmo ainda não interditado, se concorrer três requisitos: Incapacidade de entendimento, demonstração do prejuízo ao incapaz e má-fé da outra parte (que pode ser aferida pelas circunstâncias do negócio). O projeto do novo CCP, para dar mais segurança jurídica à hipóteses, em seu Art. 774, III, estabelece que o juiz na sentença fixe o termo inicial da interdição. As pessoas que mesmo por causa transitória não puderem exprimir sua vontade: exemplo, o coma, intoxicação fortuita. O CC de 1916 considerava absolutamente incapaz também o ausente e o surdo-mudo que não tivesse habilidade para manifestar vontade. Embora o novo Código não seja expresso, o inc. III do Art. 3º abrange o surdo-mudo que não tenha habilidade para manifestação da sua vontade. E, quanto ao ausente, veremos que a ausência pode traduzir não incapacidade, mas presunção de morte. Relativa: Art. 4º CC Maiores de 16 anos e menores de 18 anos (menores púberes) Os ébrios habituais (se a embriaguês neutralizar a capacidade de discernimento, a capacidade é absoluta), os viciados em tóxicos e os que por deficiência mental tenham o discernimento reduzido: Se essas circunstâncias forem profundas, a incapacidade é absoluta. Os excepcionais, sem desenvolvimento mental incompleto: Exemplo disso, Síndrome de Down, e o pródigo. Pródigo: sofre de um transtorno de personalidade, em geral, uma compulsão, que gera a sua incapacidade relativa, podendo também ser interditado. Em verdade, a proteção do pródigo inspira-se na Teoria do Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo, desenvolvida por Luiz Edson Fachin, segundo a qual as normas civis, na perspectiva da dignidade humana, deve ser resguardar a cada pessoa um mínimo de patrimônio para que tenha vida digna. O curador do pródigo deve assiti-lo em atos de disposição patrimonial. Vale finalmente dizer, que o curador do pródigo deve se manifestar quanto ao regime de bens que o incapaz pretenda adotar em seu casamento. O índio é regulado por lei especial em relação à sua capacidade: Ver lei 6.001/73, Art. 8º. OBS: A idade avançada por si só não é causa de incapacidade. Capacidade de Direito + Capacidade de Fato = Capacidade Civil Plena OBS: Em Direito Civil, o conceito de capacidade não se confunde com o de “legitimidade”. Uma pessoa pode ser plenamente capaz, mas não ter legitimidade para a prática de um determinado ato, a exemplo de dois irmãos maiores e capazes impedidos de casarem entre si (falta-lheslegitimidade para o ato). - Restitutio in Intregrum: Em primeiro sentido, no âmbito da responsabilidade civil, pode significar a restituição integral devida à vitima em caso de dano. Em um segundo sentido, no âmbito da Teoria Geral, observa Clóvis Beviláqua que Restitutio In Integrum seria um benefício ou privilégio conferido ao incapaz no sentido de poder invalidar um ato formalmente perfeito, simplesmente alegando prejuízo. O CC/16 trazia proibição expressa deste benefício (Art. 8ª), já o CC/02 é silente, embora se entenda que a proibição continua. OBS: O Art. 119 do CC/02, em verdade, traz situação inversa: a de conflito de interesses entre representante e representado. Se houver esse conflito, o ato será anulável. - Quais são os principais efeitos da redução da maioridade civil? Um dos principais efeitos da redução da maioridade civil se fez sentir no âmbito do Direito aos alimentos, na medida em que se instalou controvérsia quanto à cessação deste direito com o simples alcance da maioridade civil. Todavia, o STJ pacificou o entendimento no sentido de que o alcance da maioridade civil não implica cancelamento automático da pensão alimentícia (STF REsp 442502/SP; REsp 739004/DF; HC 55606/SP e Súm. 358 STJ.) O entendimento assentado é de que, regra geral, que o pagamento da pensão deve ser feito até a conclusão dos estudos. Outro efeito que merece destaque é no âmbito previdenciário, pois, também houve discussão acerca da possibilidade de se cancelar pagamento de auxílio ou pensão previdenciária com o alcance da maioridade civil. Todavia, firmou-se o entendimento no sentido de que eventuais benefícios previdenciários devem ser pagos até o limite etário estipulado na Lei Previdenciária (8.213/91) especial (Nota SAJ nº42/03; Enunciado 03 da 1ª Jornada de Direito Civil). - Emancipação: Nos termos do Art. 5ª do CC, a maioridade é atingida aos 18 anos completos, habilitando a pessoa a pratica dos atos da vida civil. Lembra Washington de Barros Monteiro que a maioridade é atingida no primeiro instante do dia do respectivo aniversário. A emancipação, instituto também consagrado em outros Estados do mundo (Alemanha, Suíça, Portugal) permite a antecipação dos efeitos da capacidade plena, podendo ser: Voluntária (Art. 5º, § único, I, 1ª parte); Judicial (Art. 5º, § único, I, 2ª parte) ou Legal (Art. 5º, § único, II a V). Voluntária: A Emancipação voluntária é aquela concedida por ato dos pais, ou por um deles na falta do outro, mediante instrumento público, em caráter irrevogável, independentemente de homologação judicial, desde que o menos tenha pelo menos 16 anos completos. Logicamente, o fato de um dos pais deter a guarda não lhe dá o direito de sozinho emancipar o filho, caso o outro genitor ou representante ainda esteja vivo e seja detentor do poder familiar. O menor a ser emancipado, dada a sua incapacidade, não tem poder para autorizar ou desautorizar os pais. Todavia, é recomendável que participe do ato emancipatório, uma vez que repercutirá em sua própria esfera jurídica. OBS: É firme no Direito Brasileiro não apenas na doutrina (Silvio Venosa), mas também, a própria jurisprudência (STF RTJ 62/108; RT 494/92; STJ Resp 122573/PR) O entendimento no sentido de que, na emancipação voluntária, os pais continuam responsáveis pelos ilícitos causados pelos filhos menores, até que alcancem a maioridade civil. Judicial: É aquela concedida pelo juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha 16 anos completos. Somente em caso de tutela. Legal: Deriva da própria lei. Art. 5ª, § único, II a V. Hipóteses: Casamento: Em regra a capacidade núbil é atingida aos 16 anos. O CC é claro ao dizer que o casamento emancipa. Mesmo que posteriormente a pessoa se separe (existe ainda quem defenda que separação ainda existe) ou divorcie, continua emancipada. Todavia, e se o casamento for invalidado, a emancipação persiste? Respeitável parcela da doutrina, conforme veremos nas aulas de família, corretamente entende que a sentença de invalidade do casamento tem eficácia retroativa para cancelar o registro do matrimônio (Flávio Tartuce, Fernando Simão, Zeno Veloso), caso em que, logicamente, a emancipação queda-se ineficaz (ressalvada a hipótese de reconhecimento da putatividade). O mesmo não ocorre com a União Estável, não comportando interpretação extensiva. Exercício de Emprego Público Efetivo: Art. 5º, III CC. É quase que impossível, pois nenhum edital de concurso autoriza menores de 18 anos a assumir. Colação de grau em curso de ensino superior; Pelo estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego desde que em função deles o menos com 16 anos completos tenham subsistência própria. Desde que com 16 anos e com economia própria. Estabelecimento civil Estabelecimento comercial Emprego - Economia própria: Como se sabe, o novo CC adotou um sistema aberto de normas, permeado de conceitos abertos ou indeterminados e de Cláusulas Gerais. “Economia Própria” é um conceito indeterminado ou vago, a ser preenchido pelo juiz segundo as circunstâncias do caso concreto, à luz do Princípio da Operabilidade (ver na parte final da apostila texto do profº Miguel Reale sobre o tema). O Princípio da Operabilidade aponta no sentido de que as normas jurídicas, na medida do possível, devem conter conceitos abertos para a sua melhor aplicação ao caso concreto. O CC também adota o Princípio da Socialidade (determinar a função social) e o da Eticidade (determina a observância da boa-fé, da ética na relação jurídica). *Pergunta de Concurso: O menor emancipado tem direito aos alimentos? À luz do Princípio da Solidariedade Familiar é admissível que o emancipado em caso de necessidade tenha direitos aos alimentos (AC 7001.142.9321/TJRS). OBS: O menor emancipado, segundo Paulo Sumariva (“A Lei de Falências e a inimputabilidade penal) que exerça atividade empresarial, pode falir, e se cometer crime falimentar, responderá com base no ECA, uma vez que a emancipação não antecipa a imputabilidade penal. OBS: LFG observa que embora o menor emancipado não possa ser criminalmente preso por não ter imputabilidade penal, pode sofrer prisão civil, uma vez que é um meio de cumprimento de uma obrigação. OBS: A emancipação não autoriza a habilitação para guiar veículo automotor, uma vez que o Art. 140, I, CTB estabelece como um dos requisitos para dirigir que a pessoa seja “penalmente imputável”, ou seja, aos 18 anos. - Extinção da Pessoa Física/ Natural: O Art. 6º do CC é claro ao dizer a existência da pessoa natural termina com a morte. Nos dias de hoje, a comunidade científica mundial reconhece que o critério determinante do óbito, inclusive para fins de transplante, é a morte encefálica (Resoluções nº 1480/97 e 1826/07 do Conselho Federal de Medicina). O óbito deve ser declarado por um médico, e, em sua falta, nos termos dos Art. 77 e seguintes da Lei de Registros Públicos por duas testemunhas. Hipóteses de morte presumida: O CC admite duas situações de morte presumida: Em caso de ausência, quando for aberta sucessão definitiva. OBS: A ausência ocorre quando a pessoa desaparece do seu domicílio, sem deixar notícia ou representante que administre os seus bens. Trata-se de um mero procedimento regulado nos Arts. 22 e seguintes do CC (ver detalhado texto complementar no material de apoio). Haverá morte presumida também, sem decretação de ausência, nos casos previstos no Art. 7º do CC. Chamado procedimento de Justificação. - Comoriência: Traduz uma situação de morte simultânea, em que duas ou mais pessoas, na mesma ocasião falecem, sem que se possa indicar a ordem cronológica dos óbitos (Art. 8ª CC). Comoriência é diferente de Premoriência (pré-morte). A presunção da Comoriência (morte simultânea) só deve ser aplicada se o examinador não indicar a sequência cronológica dos óbitos. Resulta na ideia de que as mortes ocorreram simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo, caso em que são abertas cadeias sucessórias autônomas e distintas, de forma que um comoriente nada herda do outro.Pessoa Jurídica - Conceito: Como decorrência do fato associativo, a Pessoa Jurídica, em uma primeira noção, pode ser definida como um grupo humano, criado na forma da lei e dotado de personalidade própria, para atingir fins comuns. É claro que, ao longo da evolução do instituto, tipos peculiares de Pessoa Jurídica surgiriam, escapando desse primeiro “standard”, a exemplo das fundações. Durante muitos anos, a doutrina debateu acerca da própria denominação a ser utilizada: pessoas morais, pessoas fictícias, universalidades, “entes de existência ideal” (Teixeira de Freitas), pessoas místicas, até que se consolidou no nosso sistema a expressão Pessoa Jurídica. OBS: O fato de a Receita Federal conferir um CNPJ não significa, segundo a Teoria do Direito Civil, que, tecnicamente, o ente seja uma Pessoa Jurídica, pois existem ficções tributárias. Quem diz o que é PJ é o Direito Civil e não o Tributário. - Natureza Jurídica da Pessoa Jurídica: Teorias explicativas: Corrente Negativista: Negava a existência da Pessoa Jurídica, sua autonomia jurídica. Autores como Ihering, Brinz, Bekker e Duguit. Alguns diziam que PJ não existiam, falavam que era um grupo de PF reunidas, outros diziam, que a PJ não tinham existência, pois era um patrimônio coletivo. Corrente Afirmativista: Aceitava a categoria da PJ. Como um tipo de Pessoa autônoma. Existiam várias subteorias, como: Teoria da Ficção: Desenvolvida por Windschud/Savigny. Para essa teoria, a PJ teria uma existência meramente abstrata ou ideal, por ser pura criação da técnica jurídica. O defeito dessa teoria é não reconhecer na PJ uma dimensão social que ela tem. Teoria da Realidade Objetiva: Está de posto distante da primeira, dizia ao contrário. De natureza sociológica ou organicista foi defendida por Lacerda de Almeida. Segunda esta teoria, a PJ seria uma simples organismo social vivo, sem intervenção ou dependência da técnica do Direito. Reconhecia a PJ como mero instrumento sociológico. Teoria da Realidade Técnica: É a mais equilibrada de todas. Foi defendida por autores como Ferrara e Saleilles. Para essa teoria, mais equilibrada, a PJ, embora dotada de autonomia e dimensão social, seria abstratamente personificada pela técnica do Direito (Art. 45 CC). Teoria Lógico-Formal de Kelsen: Um conjunto de normas. Teoria Institucionalista de Hauriou: Dizia que a PJ seria uma instituição. *Pergunta de Concurso: Em que momento e de que forma a PJ adquire personalidade? A base da resposta encontra-se no Art. 45 do CC, segundo o qual começa a existência legal das PJ de direito privado com a inscrição do seu ato constitutivo (contrato social ou estatuto) no respectivo registro (em geral, junta comercial ou CRPJ), precedida quando necessário de autorização especial do Poder Executivo. OBS: Conforme deve ser visto nas aulas de Direito Empresarial, não havendo registro necessário do ato constitutivo, o qual, segundo Caio Mário, tem efeitos Ex Nunc, o ente não tem existência legal, sendo tratado como mera sociedade despersonificada (outrora chamada irregular ou de fato), nos termos dos Arts. 986 e seguintes do CC, caso em que os próprio sócios responderão pessoal a ilimitadamente pelos débitos contraídos. Excepcionalmente, determinados tipos de PJ, para se constituírem, necessitam de uma autorização especial do Poder Executivo, a exemplo dos bancos (BACEN) e das seguradoras (SUSEP), operadoras de plano de saúde (ANS). *Pergunta de concurso: O que são entes despersonificados? Trata-se de determinadas entidades que, posto tecnicamente que PJ’s não sejam, tem capacidade processual (Art. 12 do CPC), a exemplo do Espólio, da massa falida, da herança jacente do condomínio. - Espécies de Pessoa Jurídica de Direito Privado: Art. 44 CC. O desdobramento do Art. 44 do CC, mesmo as Organizações Religiosas e os Partidos Políticos, tendo natureza associativa, for para, alterando-se também o Art. 2031, isentar tais PJ’s, da obrigação legal de se adaptarem (prazo de 1 ano) ao novo CC. O legislador, por sua vez, cuidou de estender o prazo de adaptação ao CC/02 para as outras entidades, como forma de “consolo jurídico”(ver item 8 da apostila 02). As PJ’s anteriores que não tenham se adaptado ao novo CC/02, podem sofrer diversas consequências, dentre as quais: impossibilidade de obtenção de crédito ou financiamento, impossibilidade de participação em licitação, e, principalmente, a responsabilidade pessoal dos seus próprios sócios pelos débitos contraídos, eia que passariam a funcionar irregularmente. Em conclusão, vale acrescentar ainda que a lei 12.441/11 consagrou nova espécie de PJ de direito privado, objeto do direito empresarial, a E.I.R.E.L.I (empresa individual de responsabilidade limitada). Sociedades Associações Fundações São tipos de AssociaçõesOrganizações Religiosas Partidos Políticos - Fundações de Direito Privado: As Fundações tem natureza jurídica peculiar. Diferentemente das Sociedades e das Associações, não resultam da união de indivíduos, mas sim, da afetação de um patrimônio que se personifica para a realização de finalidade ideal (Art. 62, CC). Não podem ter finalidade lucrativa, tem necessariamente finalidade ideal. Pode obter receita, mas não lucro (distribuição de capital). Requisitos para a criação de uma Fundação: Destacamento ou a afetação de bens livres do seu instituidor Instituição por escritura pública ou testamento Elaboração do Estatuto da Fundação (ato normativo e organizacional) (Art. 65, CC). Não tem contrato social! Quem pode elaborar o Estatuto é o instituidor, é possível que um terceiro, fiduciariamente (confiança) possa elaborar o Estatuto. Se este terceiro não elaborar, subsidiariamente, o MP pode (exceção). Aprovação do Estatuto: Em regra, a aprovação do Estatuto é feita pelo MP. Porém, se foi o próprio MP quem elaborou, a aprovação se dará por um juiz (Art. 1202, CPC). Registro da Fundação: Deve ser feito no CRPJ. OBS: O MP tem uma precípua função fiscalizatória das Fundações de Direito Privado no Brasil, nos termos no Art. 66, CC. O §1ª do Art. 66, CC já fora devidamente corrigido pelo STF, ao julgar a ADIN 2794, para se reconhecer, pela própria simetria constitucional, que, Fundações situadas no DF e Território devem ser fiscalizadas pelo MPDFT e não pela Procuradoria da República (MPF). Logicamente, em havendo justificativa, o MPF pode atuar em parceria com o MP do estado, na fiscalização, por exemplo, de uma Fundação que haja recebido verba do Governo Federal com suspeita de irregularidade na sua aplicação (ver enunciado 147 da 3ª Jornada de Direito Civil). Ver: Arts. 69, que cuida do destino do patrimônio da Fundação que acaba, bem como, os Arts. 67 e 68, que tratam da alteração do Estatuto da Fundação. - Associações: As Associações são PJ de direito privado formadas pela união de indivíduos com finalidade ideal (Art.53 CC). Também não podem ter finalidade lucrativa, pois suas respectivas receitas são voltadas para o investimento nelas mesmas. O ato normativo e organizacional da Associação é o seu Estatuto, cujos requisitos estão no Art. 54 do CC, são registradas no CRPJ também. O órgão mais importante da Associação é a Assembleia Geral. OBS: O Art. 55 do CC permite que, em uma Associação, haja categorias diferentes de associados com vantagens especiais. Dentro de uma mesma categoria não pode haver discriminação. Vale lembrar ainda, nos termos do Art. 61, que, regra geral, dissolvida a Associação, o seu patrimônio será atribuído a entidades de fins não econômicos designadas no Estatuto, ou, sendo este omisso, a outra instituição (pública) municipal, estadual ou federal de fins iguais ou semelhantes. - O CC admite em seu Art. 57 a exclusão de um associado em havendo justa causa (conceito aberto). OBS: O Art. 57 do CC que trata da expulsão do associado não pode ser aplicado a condômino, eis que condomínio não é associação. Para condôminos de comportamento antissocial o § único do Art. 1337 prevê multa que pode chegar ao décuplo do valor original, podendo, em tese, em caso de execução resultarna perda do próprio imóvel. O enunciado 508 da 5ª Jornada de Direito Civil, em posição polêmica e ousada admitiu a exclusão do condômino, não com base no Art. 57, mas à luz do Princípio da Função Social e desde que houvesse Ação Judicial para este fim. - Sociedade: A sociedade, pessoa jurídica de direito privado, é dotada de personalidade jurídica própria, instituída por meio de contrato social (tem base no Art. 981 do CC), com o objetivo de exercer atividade econômica e partilhar lucro. Possui finalidade lucrativa. OBS: O direito anterior, influenciado pela teoria francesa dos atos de comércio, reconhecia dois tipos de sociedade: civis e mercantis. Estas últimas, para perseguir lucro, praticavam atos de comércio. Ao longo do séc. XX, com a especial contribuição da teoria da empresa desenvolvida do direito italiano, as antigas noções de “comerciante e comércio” passaram a ser superadas pelos conceitos de “empresário e empresa” (temas que serão desenvolvidos na grade empresarial). Nesse contexto, o CC/02, em seu Art. 982, acompanhando este processo de mudança, superou as antigas espécies (sociedade civil e mercantil), substituindo-as pelas sociedades simples e empresária. OBS: É melhor e mais adequado dizer, dada a própria evolução do conceito de empresa, que as sociedades empresárias correspondem, mas não obrigatoriamente se identificam, às antigas sociedades mercantis; e as sociedades simples às antigas sociedades civis. *Pergunta de Concurso: É juridicamente possível a sociedade entre cônjuges? O Art. 977 do CC admite que cônjuges contratem sociedade entre si ou com terceiros, desde que não sejam casados nos regimes de comunhão universal ou separação obrigatória de bens. Isso por que entende o legislador que esses regimes são mais vulneráveis a fraude. É firme o entendimento no Brasil, inclusive com parecer favorável do DNRC (departamento nacional do registro de comércio – P. nº 125/03), no sentido de que, em respeito ao ato jurídico perfeito, o Art. 977 não se aplica a sociedades anteriores ao novo CC. Sociedade Empresária: Art. 982 do CC. Uma sociedade empresária é fruto do desenvolvimento do ideal capitalista. Isso por que ela é marcada sobre tudo pela impessoalidade. No exercício da sua atividade, a figura pessoal dos seus sócios, não tem tanta importância, na medida em que atuam como meros articuladores de fatores de produção (capital, trabalho, tecnologia e matéria prima). Além disso, estão sujeiras a registro na junta comercial e se submetem à legislação falimentar. Ex: Uma revendedora de veículos ou banco. Requisitos: Material: Deve exercer uma atividade tipicamente empresarial (Art. 966). Formal: Registro na Junta Comercial (R.P.E) Sociedade Simples: As sociedades simples são marcadas pela pessoalidade. Vale dizer, neste tipo de sociedade a figura pessoa de cada sócio é indispensável para o exercício da sua atividade, por ele pessoalmente prestada, ainda que conte como auxílio de empregados ou colaboradores. Por isso, as sociedades simples (que em geral tem registro no CRPJ), são prestadoras de serviços, a exemplo das sociedades de médicos e de advogados. A empresarialidade, todavia, é um elemento que ao longo do tempo pode recomentar uma recategorização de uma sociedade originariamente simples em sociedade empresária. OBS: Vale lembrar ainda, que, por norma legal expressa (Art. 982, § único, CC) a sociedade anônima é sempre empresária e a cooperativa, sociedade simples. Quanto às cooperativas, ainda existe acesa polêmica no que tange ao seu registro: 1ªC: sustenta que, a partir do novo CC, eis que passou a ser sociedade simples, o seu registro deve ser feito no CRPJ (Julieta Lunz e Paulo Rego). 2ªC: (Sergio Campinho En. 69 da IJDC) defende a tese de que o registro deve continuar a ser feito na Junta Comercial. - EIRELI (empresa individual de responsabilidade limitada): Como sabemos, o empresário individual deve ser registrado na junta comercial e, no exercício da sua atividade econômica, responderá pessoalmente pelas dívidas contraídas. Em virtude disso milhares de brasileiros preferem constituir sociedades (algumas de mera fachada ou “de etiqueta” – Waldirio Bulgareli), para, com isso, adotarem a forma “ltda”, limitando assim a sua responsabilidade ao capital social. A partir do momento da entrada em vigor da Lei 12.441/11 que criou a EIRELI, o inconveniente de se buscar a necessária criação de sociedade para efeito de limitação de responsabilidade deixou de existir. Conceito: A EIRELI, nos termos do Art. 980-A do CC, é uma Pessoa Jurídica Unipessoal, com responsabilidade limitada ao seu capital social (que não poderá ser inferior à 100X ao maior salário mínimo vigente – R$ 62.200,00). OBS: O recente enunciado 469 da V JDC corretamente afirma que a EIRELI não é uma sociedade, mas um novo ente jurídico personificado. Tramita no STF a ADIN 4637 que pretende a declaração de inconstitucionalidade deste valor mínimo para a constituição da EIRELI. Autores especialistas na matéria, a exemplo do professor Frederico Pinheiro, admitem a possibilidade de se aplicar o instituto da desconsideração da PJ em face da EIRELI. - O §2º do Art. 980-A do CC só permite que a PF constitua uma EIRELI uma única vez. Vele dizer, que uma PF só pode ser uma EIRELI. A despeito da omissão da norma, a instrução normativa nº 117/11 do DNRC proíbe que PJ possa constituir EIRELI. OBS: Conforme será visto na grade de empresarial, não havendo prejuízo ao credor preexistente admite-se a “transformação de registro” de uma PJ existente em EIRELI (Art. 980-A, §3º). Não é difícil concluir que, por ser uma “empresa individual”, o registro da EIRELI deve ser feito na Junta Comercial. Finalmente, é de grande interesse a discussão a respeito da “EIRELI simples”. Diversos cartórios de registro de PJ no Brasil tem aceitado o registro da EIRELI simples, constituída para o desempenho de atividade não empresarial, compatível com aquela desempenhada pelas sociedades simples (ex: EIRELI constituída por um médico). A Receita Federal decidiu conferir-lhe CNPJ reforçando a corrente afirmativa, embora a polemica ainda persista a favor: A. Gialluca e contra: Frederico Pinheiro. *Pergunta de Concurso: PJ pode sofrer dano moral? Doutrinariamente, já houve forte resistência à tese, sob o argumento de que PJ não sofreria dano moral por não ter dimensão psicológica (Wilson Melo da Silva). Aliás, o En. 286 da IV JDC ao afirmar que PJ não é titular de direito da personalidade, aparentemente reforça esta posição doutrinária. Todavia, é pacificado na jurisprudência brasileira a tese segundo a qual a PJ pode sofre dano moral (Súm. 227 STJ). Direitos da Personalidade - Noções Conceituais: Art. 1ª, CC. Constitui categoria fundamental do sistema, dizer respeito a tudo aquilo que é necessário para assegurar a proteção fundamental da pessoa. Pessoa (dispõe de personalidade) – Personalidade Jurídica – Direito da Personalidade = Proteção Fundamental (respeito à dignidade da pessoa humana) Os direitos da personalidade surgiram após a 2º Guerra Mundial, ou seja, enquanto o Direito não se preocupou com a dignidade humana, não se falava em direitos da personalidade. Os direitos da personalidade dizem respeito aos direitos subjetivos extrapatrimoniais (não tem conteúdo econômico) e a situações jurídicas existenciais. As relações jurídicas privadas podem ser: Existenciais: Direitos da Personalidade: O rol sempre será exemplificativos. Tudo aquilo que está ligado à proteção da dignidade humana. Patrimoniais: Direitos Reais Direitos Obrigacionais Conclusão: No Brasil os direitos da personalidade estão sustentados em uma Cláusula Geral (dignidade da pessoa humana). Em. 274 da Jornada. O direito civil evolui significativamente da tutela jurídica do “ter”, para a tutela jurídica do “ser”. O CC/02 tem a preocupação de proteger as relações existenciais, ou seja, uma “Despatronização das Relações Privadas”. A dignidade da pessoa humana é preservada sempre. OBS: Os entes despersonalizados não podem sofrer danosmorais, mas podem sofre danos materiais, pois só participam de relações jurídicas patrimoniais. - Conteúdo jurídico Mínimo da Dignidade Humana: É composto de: Proteção da integridade física e psíquica (ex: Lei 11.346/06 – garante os direitos a alimentação adequada) Garantia de Liberdade e Igualdade: STF, ADIN 4277/DF – natureza familiar das uniões homoafetivas, como expressão da dignidade humana. Reconhecimento do direito ao mínimo existencial ou “Direito a um patrimônio Mínimo”. Ex: Lei. 8.009/90 – Lei do Bem de Família. Estabelece um padrão médio de vida digna, ou seja, protegem os bens imóveis de valor médio (STJ), esse entendimento de padrão médio cabe somente aos bens móveis. - Conceito de Dignidade Humana: É um valor jurídico do ordenamento como um todo. Nas relações públicas a dignidade é vista de uma forma diferente, ou seja, é vista como Direitos e Garantias Fundamentais. Trás uma eficácia positiva (são exigidas condutas para garantir a dignidade) e outra negativa (a dignidade é limite para a atuação dos direitos). Até 1988, a dignidade foi angularizada (público e privado), a partir de 88, houve uma mudança significativa nesta órbita (STF RE 201.819/RJ), onde foi discutida a eficácia horizontal dos direitos fundamentais ou aplicação direta dos direitos fundamentais. - Direitos da personalidade e Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais: Os Direitos e Garantias Fundamentais não são aplicáveis não só no âmbito das relações públicas, também, nas relações privadas. *STF RE 201819/RJ. Assim, houve uma mistura entre os direitos da personalidade e os direitos fundamentais, que antes não se misturavam. Mesmo os Direitos Fundamentais que não correspondem aos direitos da personalidade possuem uma Eficácia Horizontal. - Eficácia Horizontal dos Direitos Sociais: Aplicação direta dos direitos sociais nas relações privadas, que também merecem essa incidência. *STJ Súm. 302 ( a relação privada não pode violar direito social à saúde); STJ Súm. 364 (“single”, pessoa sozinha não possui bem de família, mas seu imóvel é protegido pela impenhorabilidade). - Direitos da Personalidade Vs. Liberdades Públicas: O exercício do direito da personalidade pode gerar como consequência a imposição de uma obrigação (positiva ou negativa) ao Poder Público. Estas imposições são as Liberdades Públicas. Os Direitos da Personalidade e as liberdades públicas operam em campos diferentes. Os direitos da personalidade se estabelecem em ângulo privado (tudo o que é necessário para uma vida digna), mesmo assim, exigem uma atuação do poder público, sendo positivas ou negativas. Ex: o direito a locomoção (direito da personalidade), porém o Habeas Corpus se apresenta como uma liberdade pública. - Momento Aquisitivo: Aqui se fala em início da proteção. A concepção é o momento aquisitivo dos direitos da personalidade. *STJ Resp 399028/SP houve o reconhecimento da legitimidade ativa do nascituro para ajuizar ação de indenização por dano moral. O natimorto tem direitos da personalidade (Em. 1 da Jornada). A lei não permite se registrar o natimorto (prova objetiva). Lei 11.105/05 – Lei de Biossegurança, Art. 5º (ADIN 3510/DF). OBS: Os embriões congelados não têm direitos da personalidade, pois eles podem ser descartados. -Momento Extintivo: É a morte. É o limite dos direitos da personalidade, conclui-se que os direitos da personalidade são vitalícios (se extingue com a morte do titular) e não perpétuos. Situações polêmicas/controvertidas, relativas ao momento extintivo: Sucessão processual. Art. 43 do CPC. Ocorre quando o titular sofre uma lesão à sua personalidade ainda vivo, propõe a ação e falece no curso do procedimento. Não há transmissão de nenhum direito, neste caso os herdeiros irão se habilitar e dar continuidade ao processo. Confirma-se a regra geral de que os direitos da personalidade se extinguem com a morte do titular. Interesse somente no direito processual, não havendo discussão de direito material. Transmissão do direito à reparação do dano. Art. 943 do CC. Ocorre quando o titular sofre uma lesão à sua personalidade ainda vivo e falece sem propor a ação. Aqui a questão é meramente de direito material. Neste caso, transmite-se o direito de propor a ação ao espólio do falecido. A transmissão se deu no direito patrimonial e não no direito da personalidade em si. *STJ Resp 324886 (direito da personalidade não se confunde com direito patrimonial decorrente da violação do direito da personalidade). A possibilidade de propositura da ação pelo espólio depende da inexistência da prescrição, esse direito é transmitido com a prescrição em curso. Lesados indiretos. Art. 12, § único do CC. Ocorre quando o dano à personalidade de alguém se consuma após o seu óbito. Neste caso, o dano atinge diretamente ao morto; e indiretamente, aos seus familiares vivos. Estarão legitimados como lesados indiretos para a propositura da ação. É o caso de legitimidade autônoma, isso por que os lesados indiretos irão pleitear em nome próprio, direito próprio. No nosso direito encontra-se a proteção aos direitos dos familiares mortos. Rol dos lesados indiretos: Descendentes Ascendentes Cônjuge sobrevivente (companheiro e parceiro homoafetivo) Colaterais até o 4º grau OBS: a doutrina entende que esse rol é exemplificativo e não taxativo. O fundamento dele seria o afeto, e não a biologia. Então poderiam estar a noiva, a namorada, o enteado. O §único do Art. 20, CC exclui a legitimidade dos colaterais quando se tratar de violação ao direito de imagem do falecido. En. 5 da Jornada (se trata de princípio da especialidade). *STJ Resp 86109 e Resp 521697/RJ. -Fontes: Jus naturalismo X Positivismo Jusnaturalismo: Para a doutrina majoritária a fonte dos direitos da personalidade é divina, pois seriam inatos ao homem. Ex: Tribunal de Nuremberg. Positivismo: Pontes de Miranda, Gustavo Tepedino. É uma opção jurídica e cultural do sistema. Sustenta que os direitos da personalidade são produto da evolução do sistema jurídico, no Brasil império, o negro era coisa (onde estavam os direitos da personalidade?). - Direitos da Personalidade e Pessoa Jurídica: No sistema não há dignidade da pessoa jurídica, pois não dispõe de direito da personalidade, pois ele está ancorado da dignidade da pessoa humana. Malgrado a pessoa jurídica não disponha de direitos da personalidade, pelo fundamento da dignidade da pessoa humana, merece a proteção que deles decorrem. Assim a PJ terá a proteção patrimonial decorrente dos direitos de personalidade. Art. 52 do CC. *STJ Resp 433954. STJ Súm. 227 “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral (no que couber)”. Um. 286 da Jornada. - Conflitos entre direitos da personalidade e liberdade de comunicação social: Abrange dois diferentes valores: liberdade de imprensa + liberdade de expressão = liberdade de comunicação social. Ponderação de interesses (conflito de direitos). Súm. 221 STJ e Súm. 281. Esse raciocínio serve também para dirimir o conflito entre liberdade de expressão, o Brasil não acolhe o “Hate Speech”. STF HC 82424/RS (neste julgado o STF confirmou que não admitimos o “Hate Speech”). - Características: Art. 11, CC Indisponibilidade: São indisponíveis ao titular. Os direitos da Personalidade são relativamente indisponíveis. Admitem restrição voluntária, nos casos previstos em lei. Podem ser relativizados com base na autonomia da vontade, pois esta se encontra prevista em lei (CC). En. 23 da Jornada. Irrenunciáveis Intransmissíveis Absolutos: com sentido próprio, não no sentido de não relativos. No sentido de oponíveis Erga Omnes. Extrapatrimoniais: o conteúdo dos Direitos da Personalidade, não tem apreciação econômica. Porém, uma vez violados, pode ensejar reparação econômica. Impenhoráveis: não podem ser objeto de penhora por que não tem valoração econômica. Inatos: Inerentes à condição humana. Imprescritíveis: não há prazo extintivo para o seu exercício. Porém, uma vez violados, há prazo extintivo para requerer a indenização correspondente (3 anos – prazo comum para asações reparatórias) OBS: Direitos Existenciais não possuem prazo para o seu exercício, direitos patrimoniais submetem-se a prazo prescricional. Uma exceção: STJ Resp 816209/RJ (aplicação da Lei 9.140/95, Art. 14) – imprescritibilidade da indenização decorrente de tortura. Vitalícios: Extinguem-se com o titular, e não perpétuos. Art. 943, CC. - Limites ao ato de restrição voluntária dos Direitos da Personalidade: En. 4 da Jornada O ato de disposição não pode ser permanente (desde que limitadamente no tempo). Ex: cessão de imagem tem um prazo de 5 anos renováveis. O ato de disposição não pode ser genérico: O titular pode dispor de todos os seus direitos indefinidamente. É sempre episódico, casuístico, de modo que a cessão de um direito não significa a cessão de todos. O ato não pode violar a dignidade do titular. OBS: A intervenção do Estado nos Direitos da Personalidade deve ser mínima. A tendência do direito Civil é de intervenção mínima do Estado - Proteção jurídica: Art. 12, caput do CC. Esquema protetivo dos direitos da personalidade. A técnica de proteção de direitos do CC/16 era insuficiente (lesão = sanção (perdas e danos)). Houve uma ruptura do binômio. Com isso, o Art. 12, implantou uma nova técnica, que não eliminam outros mecanismos de defesa (tutela penal, administrativa, quando envolver o poder público e a autodefesa – 935 CC, prevista em lei – Arts. 1301 e 1303): E/OUTutela Preventiva: se materializa por meio de Tutela Específica (Art. 461 CPC e 84 do CDC). Tutela Compensatória: se materializa por meio de indenização por danos morais (Art. 5ª, V, X, XII da CF e do CC Art. 927). Passou a ter caráter subsidiário. - Tutela Específica: O provimento jurisdicional que se mostre adequado para a solução de um caso específico. É a solução adequada para resolver aquele problema, é sempre casuística. O juiz pode adotar qualquer providência para a obtenção do resultado prático equivalente. O juiz pode conceder, ampliar, reduzir, substituir e extinguir a tutela específica de ofício, independentemente de pedido das partes. En. 140 da jornada. Ex: tutela inibitória, sub-rogatória e remoção do ilícito, art. 461 do CC. Mandado de distanciamento (restrição de direitos ou restrição ao direito de locomoção) *STJ CC 103813/MG e STJ RHC 23654/ AP Prisão por tutela específica: Admissibilidade excepcional (subsidiariamente) da prisão, por caráter residual de ponderação de interesses. Marinoni e Didier. Não tem prazo. - Tutela Compensatória: Há uma correlação entre direitos da personalidade e danos morais, com isso houve uma valorização técnica do conceito de dano moral. O dano moral agora é a efetiva violação da personalidade. Se os direitos da personalidade são exemplificativos, o cabimento de dano moral também. Em última análise o dano moral é a violação da Dignidade da Pessoa Humana, por esses direitos se submetem a um rol exemplificativo. A prova do dano moral hoje é In Re Ipsa, ou seja, o critério de prova de dano moral se tornou objetivo *STJ Resp 506437/SP. Consequência: Súm. 37 do STJ. Ao mesmo tempo em que dano moral (dano moral, dano à imagem e dano estético) é gênero, é espécie (violação do direito à honra). Então se admite a cumulabilidade de dano moral, com dano moral desde que se trate de bem jurídicos distintos. *Súm. 387 do STJ. As Súmulas 385 e 388 estão em conflito. Problematização da correlação entre danos morais e direitos da personalidade. Natureza do Dano Moral: compensatória e não reparatória. Não tem natureza punitiva. Mas ao fixar o quantum indenizatório, o juiz deve levar em conta a punição do agente, caráter educativo. A fixação do dano moral é de circunstância fática. Não se pode interpor Resp para rediscutir valor do dano moral em razão da vedação da Súm. 7 do STJ. *Resp 816577 (não se aplica a súm. 7, em matéria de fixação de arbitramento de dano moral). Neste caso, afasta-se a súmula 7, para que se possa rediscutir o quantum do dano moral. Inadimplemento contratual e o da moral: O inadimplemento contratual, em linha de princípio, gera apenas dano material. Art. 408 CC (cláusula penal). *STJ Resp 202564 (passou a admitir o dano moral contratual). Natureza do dano moral contratual: Extracontratual, pois decorre da violação de valores jurídicos impostos por lei, e não contratual. Esse valor pode exceder o valor do próprio contrato. Ex: plano de saúde, se recusa a cobertura indevidamente; companhia de água/energia que indevidamente corta o serviço. Legitimidade: Pelo seu conteúdo pecuniário, o juiz não pode fixar de ofício, por isso depende de pedido da parte. Na tutela individual, o MP não tem legitimidade para requerer dano moral ordinariamente. Art. 68 CPP (exceção). *STF RE 135328/SP (inconstitucionalidade progressiva, ou norma em vias de inconstitucionalidade), onde não houver Defensoria pública em funcionamento, o MP permanece legitimado. - Tutela Jurídica Coletiva dos direitos da personalidade: Art. 1ª da Lei 7.347/85 e o Art. 6ª, VI do CDC reconheceram a possibilidade de dano moral difuso (de todos e de ninguém) ou coletivo (grupo determinável de pessoas), transindividual. Existe agora uma perspectiva coletiva dos direitos da personalidade, do corpo social. Ex: danos morais ao meio ambiente e decorrente de improbidade administrativa são difusos. Dano moral decorrente de a violação de uma convenção coletiva é coletivo. Ocorre por meio de Ação Civil Pública (colegitimados – associações, poder público, MP e a Defensoria pública). Ação Civil Pública: Direitos Difusos, Coletivos, Individuais Homogêneos (tocam a duas ou mais pessoas). O dano moral difuso ou coletivo somente pode ser requerido por meio de Ação Civil Pública. Porém, a Ação Civil Pública, também pode ser usada para requerer dano moral individual, se for homogêneo (liquidação e execução são individuais). - Direitos da Personalidade e as pessoas públicas: Essas pessoas sofrem uma relativização dos Direitos da Personalidade, mas não uma eliminação. As suas personalidades se tornam públicas por conta de seu oficia ou sua profissão. Esta relativização não pode geram desvio de finalidade. - Classificação: Tem como plano de fundo a Dignidade da Pessoa Humana. Integridade Física Integridade Psíquica Integridade Intelectual Bem de Família - Breve Histórico: O referencial mais importante do bem de família é o Homestead Act do Direito Texano (Lei texana de 1839). - Conceito: Inicialmente, é importante frisarmos a existência de dois tipos de bem de família, o bem de família voluntário (Art. 1711 do CC) e o bem de família legal (Lei 8.009/90). Assim, para conceituarmos adequadamente o instituto, é preciso saber se estamos nos referindo ao bem de família voluntário ou o bem de família legal. Bem de família voluntário: Conceitualmente, o denominado bem de família voluntário é aquele instituído por ato de vontade, mediante registro cartorário (Art. 167, I, 1 da LRP), nos termos dos artigos 1711 e seguintes do CC , e desde que respeitado um limite de 1/3 do patrimônio líquido dos instituidores ao tempo da sua criação. A lei estabelece um limite de valor para a instituição do bem de família voluntário, visando-a, especialmente, evitar fraudes, na medida em que com a instituição deste bem de família, este patrimônio passa a ser protegido por dívidas futuras. Dois efeitos básicos derivam da instituição do bem de família voluntário: Impenhorabilidade por dívidas futuras, nos termos do Art. 1715 do CC. Inalienabilidade do bem, nos termos do Art. 1717 do CC. Para alienar tem que der um procedimento, deve-se ter o consentimento dos interessados e deve ouvir o MP. OBS: Inovando, o Art. 1712 do CC, admitiu que, ao instituir o bem de família voluntário, sejam afetadas rendas ou valores mobiliários que sirvam para a mantença da família no imóvel (Art. 1712 do CC). Situação diversa é aquela em que, o casal aluga o imóvel residencial para viver da renda de aluguel gerada por aquele bem de família (especialmente nos termos da lei 8.009). Em tal caso, o STJ já firmouentendimento no sentido da impenhorabilidade da renda gerada. *Resp 439920/SP Ag RG no Resp 975858/SP. Ler os artigos: 1720 1721 e 1722. Bem de Família Legal: em virtude da pouca aceitação social, a despeito da sua finalidade nobre, o bem de família voluntário não alcançou maior sucesso entre nós (Silvio Rodrigues e Villaça Azevedo) neste contexto, no início da déc. 90 fora aprovada a lei 8.009, que consagrou o denominado “Bem de Família Legal”. Este bem de família, diferentemente do voluntário, dispensa instituição por ato de vontade ou registro cartorário, valei dizer, a proteção conferida por lei é automática, independentemente do próprio valor do imóvel residencial (Art. 1º da Lei 8.009/90 e Resp 1178469/SP). OBS: Outra grande vantagem do bem de família legal, é que não deriva dele o efeito da inalienabilidade. Dada a sua importância social, o STF editou a Súm. 205 para permitir a aplicação da lei do bem de família legal, a penhoras realizadas antes da sua vigência. Em gera, quase vantagem não há não instituição do bem de família voluntário, diante das benéficas regras do bem de família legal. Sucede que, o Art. 5º da Lei 8.009/90, em seu par. Único, traz situação concreta de vantagem na instituição do bem de família voluntário. *Pergunta de Concurso: qual é a extensão da proteção conferida pela Lei do Bem de Família legal? Responde-nos o ar. Único do Art. 1ª da lei 8.009/90 Relativizando a norma legal, o STJ tem admitido o desmembramento do imóvel, desde que não prejudique a finalidade residencial, para efeito de penhora (Resp 207693/SC, Resp 515122/RS, Noticiário de 15 de maio de 2007). *pergunta de Concurso: Que tipos de bens móveis são protegidos pela lei 8.009/90? O Art. 2º da referida lei trata de forma sucinta do tema, que fica ao sabor da jurisprudência brasileira. Exemplos de bens móveis protegidos: Televisão, freezer, geladeira, computador, ar condicionado, antena parabólica e até mesmo teclado musical (Resp 218882/SP). OBS: No que se refere à vaga de garagem, firmou entendimento sumulado, o STJ (enunciado 449), no sentido de que a vaga de garagem que possua matrícula própria no registro de imóveis não é alcançada pela proteção do bem de família. Súm. 449 STJ. - Exceções à impenhorabilidade do Bem de Família Legal: O Art. 3ª da lei 8.009/90 consagra situações excepcionais que relativizam a proteção legal para permitir a penhora do imóvel residencial. São aplicáveis até para aqueles que instituíram bem de família voluntário. Art. 3º: A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias; O STJ julgando o Resp 644733/SC entendeu a exceção do inc. I do Art. 3º da lei, não beneficia trabalhadores meramente eventuais como: diarista, pedreiro, eletricista ou pintor. Essa exceção deve ser respeitada restritivamente. II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; III -- pelo credor de pensão alimentícia; O STJ interpretando o inc. III do Art. 3º, reafirmando o posicionamento anterior, entende que a exceção ali referida, compreende alimentos decorrentes de vínculo familiar ou ato ilícito (AG Rg no AG 772614/MS e Resp 1186225/RS). IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar; O próprio STF já firmou entendimento (RE 439003) no sentido de que a cobrança de taxa condominial, a despeito de não expressamente referida no inc. IV do Art. 3º, pode resultar na penhora do imóvel. V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; A interpretação do Art. 3º, Inc. V da lei, nos remete a um interessante panorama na jurisprudência do STJ. Existe posição forte, amparada em diversos julgados, no sentido de que não haverá a proteção do bem de família se a hipoteca foi constituída em benefício do casal ou da entidade familiar, nos termos do referido inc. V. Vale dizer, quem voluntariamente hipoteca o imóvel residencial em benefício da família, não pode depois invocar a proteção legal. Resp 997261/SC, Resp 988915/SP, AG Rg no Ag 1152734/SP. Por outro lado, havendo mera indicação do bem à penhora, não sendo o caso de hipoteca, entende a mesma corte, que o devedor possa a posteriori, invocar a proteção do bem de família. Resp 875687/RS, Resp 981532/RJ. VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens. VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. (Incluído pela Lei nº 8.245, de 1991) O STF já reconheceu a Repercussão geral ao RE 612360, no sentido da constitucionalidade da penhora do bem de família do fiado, na locação. Finalmente, uma indagação deve ser feita: a par de um instituto denominar-se Bem de Família, o devedor que more só gozaria da proteção legal? Não importa se vive só ou em grupo (nesse sentido Súm. 364 do STJ e Resp 450989/RJ). Teoria do Fato e do Negócio Jurídico - Conceito de Fato Jurídico: Em sentido amplo, é todo acontecimento natural ou humano que produz efeitos na órbita do Direito, ou, como afirma Agostinho Alvim, é todo fato relevante para o Direito. Pode ser classificado em: Fato Jurídico em sentido estrito: É todo acontecimento natural que produz efeitos na órbita do Direito, podendo ser ordinário ou extraordinário. Não deriva da vontade do homem, é um fato da natureza. Não tem plano da validade. Ordinário: é comum, corriqueiro. Ex: nascimento de alguém, chuva de verão, a morte natural, o tempo etc. Extraordinário: são imprevisíveis. Ex: furacão na costa de SC. Ato-Fato: O denominado ato-fato, categoria situada entre o fato jurídico em sentido estrito e o ato jurídico, não regulada pelo CC/02, merece a nossa atenção. Trata-se de um comportamento que, embora derive do homem e produza efeitos jurídicos, é desprovido de vontade consciente na projeção desses efeitos, razão por que situa-se entre o fato da natureza e a ação humana (voluntária). Ex: A compra de um doce por uma criança de 2 anos é um ato fato, pois está desprovido de vontade consciência e está previsto por lei. Ações humanas: Aqui a doutrina costuma divergir. Podem ser lícitas e ilícitas: Lícitas: É chamado de Ato jurídico. Vale acrescentar que o CC de 16, segundo Luis Edson Fachin, era unitarista ao utilizar apenas a expressão ato jurídico. Já o CC de 02, dualista, expressamente regula o negócio jurídico e o ato jurídico em sentido estrito. Ato jurídico em sentido estrito: Art. 185 do CC. Também chamado de ato não negocial, traduz um simples comportamento humano voluntário e consciente que produz efeitos previamente determinados na lei. Vale dizer, neste tipo de ato, não há autonomia e liberdade negocial para a escolha dos efeitos jurídicos que se pretendam atingir. Estão automaticamente previstos na norma legal. Ex: os atos materiais ou reais, simples comportamentos humanos concretos, voluntários e conscientes, como a caça, a pesca, a percepção de um fruto ou de coisa abandonada são atos em sentido estrito, pois, o efeito jurídico produzido (aquisição da propriedade) é automaticamente determinado por lei. Na mesma linha, os atos de participação como: a notificação, a intimação e o protesto. Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos (ato jurídico em sentido estrito), que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior. (Negócio Jurídico) Negócio jurídico: É talvez, a mais importante categoria de todo o Direito Civil. O crime está para o penalista, como o negócio jurídico está para o civilista. Trata-se da mais importante espécie de ato jurídico, força matricial das relações socioeconômicas em todo o mundo. Diferentementedo ato em sentido estrito, o negócio jurídico é de estrutura mais complexa. Trata-se de uma declaração de vontade, emitida à luz do Princípio da Autonomia Privada e, nos limites da boa-fé e da função social, pela qual a parte pretende alcançar determinados efeitos escolhidos e juridicamente possíveis. Ilícita: Em teoria, a matéria é polêmica. Certos autores, em respeitável entendimento, sufragam a tese de que o ato ilícito seria espécie de ato jurídico (Machado Neto), todavia, entendemos assistir razão aos autores que reconhecem o ato ilícito como categoria autônoma não inserida no conceito de ato jurídico (Zeno Veloso). Aliás, esta parece ter sido a opção do legislador ao tratar o ato ilícito em título separado (Art. 186 e 187 do CC). Negócio Jurídico -Teorias que explicam o Negócio Jurídico: Teoria Voluntarista - Vontade Interna (Willenstheorie): Afirmava que a essência do negócio seria a própria intenção ou a vontade interna do declarante. Teoria da Declaração – Vontade Externa (Erklärungstheorie): consistia na própria vontade externa que se declara. *Pergunta de Concurso: O que é teoria da pressuposição? Segundo esta teoria, desenvolvida por Windscheid, o negócio jurídico somente deveria ser considerado válido e eficaz se a certeza subjetiva do declarante, ao celebrar o negócio, não se modificasse ao longo da execução. OBS: O Art. 112 aparentemente indica uma maior influência da correte voluntarista, embora como dito, as teorias se complementem. Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. - Planos de análise do Negócio Jurídico: Plano de Existência: É o plano substantivo (substância, se existe ou não) do negócio. Vontade: É a manifestação de vontade. O negócio jurídico não existe sem vontade. Agente Objeto Forma: Todo negócio pressupõe uma forma, é o revestimento exterior da vontade. É o meio pelo qual a vontade se manifesta, é o veículo de manifestação. OBS: Lembra Caio Mário da Silva Pereira que o silêncio, em regra é o “nada”, de maneira que não deve servir como forma de concretização de um negócio jurídico. Todavia, excepcionalmente, nos termos do Art. 111 do CC, que segue diretriz do Art. 218 do CC de Portugal, o silêncio poderá traduzir manifestação da vontade. Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. Plano de Validade: Art. 104. É um plano qualificativo, adjetivo do negócio. Ele já existe. Vontade livre + Boa-fé Agente capaz + legitimado Objeto lícito + possível + determinado ou determinável Forma prescrita ou não defesa em lei + forma livre OBS: À luz do Princípio da Liberdade da Forma, nos termos do Art. 107 do CC, a regra é no sentido que os negócios jurídicos têm forma livre, ressalvadas as situações em que a forma é exigida para efeito de prova do negócio (forma Ad Probationem, Art. 227) ou quando a forma é exigida para a validade de próprio negócio (forma Ad Solemnitatem, Art. 108). Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública (forma) é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. Serão inválidos. Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito. OBS: Independentemente do valor, não se exige escritura pública para os contratos de promessa de compra e venda imobiliária, bem como dispensam escritura pública contratos garantidos por meio de alienação fiduciária de imóveis, nos termos do Art. 38 da Lei 9.514/97 ou que tenham por objeto aquisição de imóvel sujeito ao SFH, a teor do Art. 61 da Lei 4.380/64. São exceções à regra. Plano de Eficácia: Condição Termo Modo ou encargo - Defeitos do Negócio Jurídico: Erro: ou ignorância. Embora a lei não faça distinção, em teoria, fala-se que o Erro é uma falsa representação positiva da realidade ao passo que a ignorância é o completo desconhecimento por parte do declarante. O Erro, disciplinado a partir do Art. 138 do CC, é causa de invalidade (anulabilidade) do negócio jurídico. Para a doutrina clássica, o Erro para invalidar o negócio jurídico deveria observar dois pressupostos, vale dizer, o Erro invalidante deveria ser: essencial (substancial) e escusável (perdoável). Esta visão mais tradicional ainda tem força em nosso direito (ver Resp 744311/MS). Todavia, a doutrina moderna (Enunciado 12 da Jornada) sustenta que, à luz do Princípio da Confiança, o requisito da escusabilidade do erro, por demais abstrato, é dispensável. OBS: Para alguns autores a cognocibilidade (poder o erro ser conhecido pela outra parte) seria também um pressuposto do próprio erro (José Fernando Simão). Assim não pensamos se a outra parte toma conhecimento do erro ingressamos na ceara do Dolo. Espécies de Erro: quanto a Roberto de Ruggiero. Art. 139 do CC Sobre o objeto: é o que incide nas características do objeto do próprio negócio. Sobre o negócio: é aquele que incide na própria natureza do negócio que se realiza. Sobre a pessoa: é o que incide sobre as características ou elementos de identificação do outro declarante. É no direito de família a principal aplicação do erro sobre pessoa (Arts. 1556 e 1557 do CC). De Direito: o denominado Erro de Direito recebeu consagração no CC de 2002 (Art. 1393), a despeito do silencia da codificação anterior. Em verdade, Clovis Beviláqua não aceitava a Teoria do Erro de Direito, doutrina sustentada por autores como Carvalho Santos e Eduardo Espínola. Caio Mário, por sua vez, também admitia o Erro de Direito desde que não traduzisse recusa intencional à aplicação da lei, e desde que tenha sido a razão determinante do ato. É um erro sobre a ilicitude do ato, trata-se de uma modalidade de erro que, sem traduzir desrespeito intencional ao império da lei, incide sobre o âmbito de atuação permissiva da norma. É basicamente um erro de interpretação. *Pergunta de concurso: O que é erro impróprio? O sistema jurídico brasileiro não se importa com essa categoria de erro. Segundo a doutrina de Ana Magalhães (“O erro no negócio jurídico”, Ed. Atlas.), o erro impróprio, derivado do pensamento de Saviny, seria aquele incidente, não na vontade interna, mas apenas na vontade declarada do agente. Seria um “erro obstáculo”, verificado por exemplo quando o agente querendo vender a coisa , equivoca-se e expressa a palavra “locação”. Dolo: Na vereda do pensamento de Clóvis Beviláqua, o dolo, causa de invalidade do negócio jurídico (anulabilidade), opera-se quando a outra parte (ou um terceiro) utiliza artifício malicioso para prejudicar a vítima deste defeito. Vale dizer, o dolo, é um erro provocado de má-fé. No direito romano é chamado de Dolus Malus (não confundir com Dolus Bonus). Vale lembrar que, nos termos do Art. 145 do CC, o dolo somente invalida o negócio jurídico quando for principal, uma vez que o dolo meramente acidental (Art. 146) resulta apenas em perdas e danos. Dolo Principal: nos termos do Art. 145 do CC, é aquele que ataca a própria causa do negócio (a essência, substância) *Pergunta de Concurso: O que é Dolo Negativo? É um tipo de dolo que nasce do silêncio. Na perspectiva do princípio da Boa-fé objetiva, traduz uma indevida quebra do dever de informação, um silêncio intencional prejudicial à outra parte do negócio (art. 147 do CC e ler Art. 149). *Pergunta de Concurso: O que é Dolo Bilateral? É o dolorecíproco, as partes querem se enganar reciprocamente. Art. 150 do CC. Não é ideal falar em compensação de dolo (Giorgi). OBS: As mensagens subliminares traduzem uma prática dolosa repudiada pelo sistema jurídico, não se podendo falar aqui em aceitação social. Lembra-nos Henrique Pinheiro no texto “Mensagem subliminar na Teoria do Negócio Jurídico” que tais mensagens são estímulos enviados de forma dissimulada, abaixo do limite da percepção consciente, aptas a induzir o receptor da informação a realizar comportamento não conscientemente refletido. Em nosso sentir a realização de um negócio em virtude da ilícita indução por meio de uma mensagem subliminar, resultaria em um ato viciado pelo dolo. Dolo de Terceiro: Art. 148 do CC. Nos termos do Art. 148, o dolo de terceiro invalidará o negócio jurídico quando a parte beneficiária dele soubesse ou tivesse como saber; em caso contrário, não sabendo nem tendo como saber, o negócio será mantido respondendo apenas o terceiro por perdas e danos pela parte a quem ludibriou. Coação: Enquanto o dolo manifesta-se pelo ardio, a coação traduz violência. Coação Física – Vis Absoluta: Resulta na inexistência do negócio, pela ausência de vontade. Coação Moral – Vis Compulsiva: Somente esta coação é defeito/vício invalidante do negócio, por que aqui, a vontade existe, mesmo que seja viciada. Nos termos do art. 151 do CC, a coação, vício invalidante do negócio jurídico (causa de anulabilidade), consiste em uma violência psicológica apta a influenciar a vítima a realizar negócio que não quer efetuar. OBS: o art. 152 é claro ao dizer que a coação deve ser apreciada segunda as circunstâncias do caso concreto, e não, invocando-se a figura abstrata do homem médio. Ver Art. 153 do CC também Coação de Terceiro: Art. 154 e 155 do CC. O regramento do dolo de terceiro é muito semelhante à coação exercida por terceiro. O negócio somente será invalidado se o beneficiário soubesse ou tivesse como saber da coação. A diferença está na previsão de solidariedade pelas perdas e danos entre o beneficiário e o terceiro coator (previsão esta não existente no dolo). Estado de Perigo: É uma aplicação da noção do estado de necessidade do direito civil. Art. 156 do CC. Possui uma conexão com o Princípio da Função Social. O estado de perigo, defeito invalidante do negócio jurídico (causa de anulabilidade), configura-se quando uma parte assume obrigação excessivamente onerosa para salvar-se, ou a pessoa próxima, de grave dano conhecido pela outra parte. Existe aqui o “Dolo de aproveitamento” e quer se aproveitar disso. É o mais emergencial. Ex: cheque caução nos atendimentos emergenciais. A jurisprudência já apontava no sentido da ilegalidade deste tipo de cobrança, caracterizadora do vício do ato negocial por estado de perigo (Resp 796739/MT, AC 833355-7/SP, Resp 918392/RN), bem como a própria ANS por meio da Resolução Normativa nº 44 de 2003, nos seus termos, indica poder haver inclusive representação ao próprio MPF. Finalmente, foi aprovada a Lei 12.653/12 que criminaliza na perspectiva da função social, a exigência do cheque caução ou ato congênere como condição para atendimento emergencial. Simulação: Na Simulação, celebra-se um negócio jurídico aparentemente normal, mas que, em verdade, não pretende produzir o efeito que juridicamente deveria gerar. Tem por consequência a nulidade absoluta do negócio (Art. 167 do CC), a partir do código novo, após de janeiro de 2003. Pode ser absoluta ou relativa (dissimulação): Absoluta: As partes criam um negócio jurídico destinado a não produzir efeito jurídico algum. Relativa: As partes celebram um negócio jurídico aparentemente normal destinado a encobrir outro negócio jurídico cujos efeitos são proibidos por lei. Ex: simula uma compra e venda com a concubina, mas na verdade é uma doação. OBS: A Simulação relativa também pode se dar por meio de interposta pessoa. Doar o apto para o Fredie e o Fredie para a concubina de Pablo. Vale acrescentar ainda que, à luz do Princípio da Conservação, na simulação relativa, em sendo possível, poderá o juiz, aproveitar o que se dissimulou (Em. 153 da jornada). OBS: O CC de 2002, diferentemente do CC anterior (Art. 103), assenta a ideia de que a Simulação é causa de nulidade absoluta, não havendo mais espaço para a denominada “Simulação Inocente” (En. 152 da jornada). *Pergunta de Concurso: O CC de 16, em seu Art. 104, proibia que a Simulação fosse alegada pelos próprios simuladores em juízo, em caso de litígio. Esta regra ainda vigora? Ela não vigora mais no sistema do CC de 2002 por que ao tratar a simulação como causa de nulidade absoluta, mudou o tratamento da matéria, na medida em que, como se sabe, a nulidade absoluta pode ser arguida por qualquer pessoa ou até mesmo reconhecida de ofício pelo juiz. É matéria de ordem pública (En. 294 da 4ª jornada). *Pergunta de Concurso: O que é Reserva Mental? Lembra Mário Talamanca (Instituições de Direito Romano) que a Reserva Mental (ou reticência) era irrelevante no direito romano. Reserva Mental se configura quando o agente emite a declaração de vontade, celebra o negócio mantendo oculto o íntimo propósito de não cumprir ou desvirtuar aquilo que declarou. O Art. 110 do CC cuida da reserva mental, e, em seus termos, à luz da doutrina do Min. Moreira Alves (Comentários ao anteprojeto da parte geral do CC), uma vez manifestada a reserva e dela tomando conhecimento a outra parte o negócio torna-se inexistente. Todavia, na linha de autores como Carlos Roberto Gonçalves, a reserva manifestada deve resultar não na inexistência, mas na invalidade do negócio (por Simulação ou Dolo). O que é Contrato de Vaca-Papel? Segundo Marco Pissurno, o contrato de vaca-papel é uma patologia do negócio jurídico. Ocorre quando as partes simulam um contrato aparentemente normal de parceria pecuária para mascarar um empréstimo de dinheiro a juros abusivos. É nulo. O próprio STJ tem reconhecido a invalidade e abusividade deste tipo de contrato simulado (Resp 791581/MS e Resp 441903/SP). Prescrição e Decadência - Prescrição: “Pretensões prescrevem”. A pretensão é o poder jurídico conferido ao credor para, coercitivamente, exigir o cumprimento da prestação violada. A pretensão nasce no primeiro dia do prazo prescricional e queda-se em seu último. O direito de ação é a arma, a pretensão é a pólvora. Art. 189 do CC. OBS: O CC de 2002, além de expressamente estabelecer que a prescrição ataca a pretensão, reúne os prazos prescricionais em dois únicos artigo, 205 e 206 (somente estes, os demais são decadenciais). O prazo prescricional extintivo máximo é de 10 anos. Os prazos prescricionais estão previstos em lei, não podem ser convencionais. OBS: O que é prescrição intercorrente? Trata-se de matéria a ser desenvolvida nas grades de processo civil, direito tributário e direito do trabalho. Segundo o professor Arruda Alvin, a prescrição intercorrente é aquela que se dá quando a pretensão já foi deduzida em juízo. Tese aceita no Direito Tributário, encontra resistência no processo civil (AgRg no Ag 618909/PE), embora exceções existam, a exemplo do que se dá na ação rescisória e na ação de execução de título extrajudicial. - Questões especiais envolvendo prescrição: O STJ no Resp 1298576/RJ assentou que o prazo prescricional de indenização por abandono afetivo começa a correr da maioridade do interessado. Qual o prazo prescricional da pretensão monitória baseada em cheque prescrito? O STJ no Resp 1339874/RS assentou que é de 5 anos o prazo prescricional para a propositura da demanda monitória. O prazo prescricional para cobrar o seguro obrigatório DPVAT é de 3 anos (Súm. 405 do STJ). O prazo prescricional para cobrar cota de condomínio, segundo o STJ, no Resp 1139030/RJ é de 5 anos. - Decadência: Também é chamada de “Caducidade”. Para entendermos o que é o prazo decadencial, é fundamental compreendermos a noção de direito potestativo. Direito potestativo não tem conteúdo prestacional, vale dizer, trata-se de um mero direito de sujeição ou interferência,por meio do qual o seu titular influi, interfere ou sujeita a outra parte, sem que esta pessoa nada possa fazer. Existem direitos potestativos sem prazo para o seu exercício (a exemplo do direito de divórcio ou de renúncia), mas sempre que houver prazo para exercício de direito potestativo, este prazo será decadencial. É prazo para exercício de direito potestativo. Vale lembrar ainda, que – diferentemente dos prazos prescricionais, que são legais – os prazos decadenciais podem ser legais (Art. 178 do CC) ou convencionais (pode ser convencionada pelas partes). - Causas impeditivas, suspensivas e interruptivas do prazo prescricional: existem causas que impedem (o início do prazo prescricional), suspendem (paralisa o prazo prescricional que estava em curso) e interrompem o prazo prescricional, conforme os Art. 197 e seguintes do CC. São as mesmas (causas suspensivas e impeditivas). O que as diferencia é o momento em que ocorrem. OBS: Apenas por exceção determinadas causam podem incidir em prazo decadencial (Art. 26, §2º do CPC). Causas Interruptivas/Suspensivas: Art. 197. Não corre a prescrição: I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal. Enquanto tiver casado, o prazo prescricional estará impedido de começar a correr. Enquanto durar a sociedade conjugal. Também pode ser suspensiva, se ocorrer a sociedade conjugal no meio do curso do prazo. Se findo o casamento, o prazo continua a correr. II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela. Causas interruptivas: Art. 202 do CC. Aqui o prazo é zerado e começa a correr do zero novamente. Para evitar abuso por parte dos credores, uma vez que, operada a interrupção, o prazo prescricional recomeça do zero, o Art. 202 deixa claro que esta interrupção só poderá ocorrer uma única vez. Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; Medida cautelar. III - por protesto cambial; cheque, nota promissória etc. IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; se o devedor morresse durante o prazo prescricional, poderia levar o título ao inventário. V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. Confissão de dívida, por que aqui requer o reconhecimento e não o mero conhecimento. Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. OBS: Existem PJ no CN (PL 3293 de 2008) que pretende alterar o Art. 202, para expressamente prever como causa interruptiva a notificação extrajudicial. Ver no material de apoio artigo escrito em coautoria com o prof. Arruda Alvim sobre o direito intertemporal (Art. 2028 do CC). - Características básicas da Prescrição e da Decadência: Os prazos prescricionais, por derivarem da lei, não podem ser alterados pela vontade das partes, assim como os decadenciais legais (Art. 192 do CC). A prescrição pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição pela parte interessada. A decadência legal deve ser reconhecida de ofício pelo juiz, e a convencional alegada também pelo seu interessado (Art. 193 e 210 do CC). OBS: A alegação da defesa nos tribunais superiores pressupõe o prequestionamento da matéria (Edcl no Resp 1104691/RS). *Pergunta de Concurso: O juiz pode reconhecer de ofício a prescrição? A partir da Lei 11.280/06, que conferiu nova redação ao §5º do Art. 219 do CPC, firmou-se a regra de que o juiz poderia, sim, pronunciar de ofício a prescrição. À luz do Princípio da Cooperatividade, e em respeito ao devido processo civil constitucional, para os processos em curso, antes de pronunciar a prescrição, deve o juiz assinar prazo ao autor (credor) e ao réu (devedor). O credor terá a oportunidade de demonstrar que a prescrição não se consumou; e o devedor de renunciar à defesa (Art. 191 do CC e En. 295 da Jornada). Caso o devedor permaneça em silêncio, o juiz pronunciará de ofício a prescrição. ***Questão especial: Ainda existe grande controvérsia no que tange ao prazo de prescrição para se formular pretensão de perdas e danos contra a fazenda pública. Uma Questão de Ordem fora suscitada no Ag Rg no Ag 1364269/PR para se tentar pacificar se o prazo seja de 3 ou 5 anos. As decisões mais recentes (Ag Rg no AResp 14062/RS) têm feito prevalecer o prazo de 5 anos. - Teoria da Actio Nata? Dá roupagem moderna a uma noção antiga. Segunda esta doutrina, um prazo prescricional só começa a correr quando o prejudicado tomasse efetivo conhecimento do fato danoso o e suas consequências (Ag Rg no Resp 1189169/SC). Direito das Obrigações - Conceito: Trata-se do conjunto de normas e princípios que disciplina a relação jurídica pessoal vinculativa do credor ao devedor. OBS: Denomina-se obrigação Propter Rem ou Ob Rem ou In Rem ou mesmo Real aquela obrigação híbrida situada entre o direito das obrigações e o direito das coisas. Trata-se de uma obrigação de natureza mista (real e pessoal), que se vincula a uma coisa, acompanhando-a, independentemente de quem seja o seu titular (Resp 848187/SP e Resp 1275320/PR). Ex: obrigação de pagar taxa condominial. O Resp 1073846/SP aceita como exemplo de obrigação Propter Rem, a par da sua natureza tributária, a obrigação de pagar IPTU e ITR. Resp 1275320/PR (penhora online). Não devo confundir a obrigação Propter Rem com a obrigação com eficácia real, eis que esta última nada mais é do que uma obrigação típica que passa a ter eficácia Erga Omnes, em virtude de registro (Art. 8º da Lei do Inquilinato). É a locação averbada na matrícula do imóvel, que passa a ter eficácia Erga Omnes. - Estrutura da relação obrigacional: Inicialmente, vale lembrar que a palavra obrigação tem dois sentidos básicos. Em um primeiro sentido traduz a própria relação jurídica obrigacional; mas, em sentido mais estrito, é o próprio dever assumido pelo devedor. OBS: Vale lembrar ainda, a diferença entre Schuld (débito) e Haftung (responsabilidade). Antes de estudarmos a estrutura, vale lembrar que a relação obrigacional deriva de um fato jurídico denominado “Fonte da Obrigação”. Segundo Gaio, no direito romano, as fontes das obrigações seriam o contrato, o quase contrato, o delito e o quase delito. Modernamente, tal classificação não é mais usada, podendo ser apontados como fontes, os atos negociais (o contrato), os atos não negociais (a vizinhança) e os atos ilícitos. Elementos da relação obrigacional: Toda relação obrigacional tem fundamentalmente três elementos: Elemento Ideal ou imaterial: É o próprio vínculo abstrato que une o credor ao devedor. Elemento Subjetivo: São os sujeitos da relação obrigacional, que devem ser determinados ou ao menos determináveis. Essa indeterminabilidade dos sujeitos da obrigação, ativa ou passiva, é sempre relativa ou temporária. Ex: título ao portador, promessa de recompensa (sujeitos ativos), obrigação propter rem (sujeito passivo). OBS: Denomina-se obrigação ambulatória aquela que admite a mudança de sujeitos, a exemplo do título ao portador ou da obrigação Propter Rem. Elemento Objetivo: É objeto da relação obrigacional, que é sempre o mesmo: a prestação. A prestação, objeto da obrigação, é a atividade do devedor satisfativa do interesse do credor. Ela pode basicamente: de dar, de fazer e de não fazer. Toda prestação deve ser lícita, possível e determinada (ou ao menos determinável). Em regra, as prestações são dotadas de conteúdo econômico, mas, excepcionalmente, lembram Pontes de Miranda e Paulo Lobo, podem são ter. Ex: dever de enterrar o testador de determinada maneira. À luz da boa-fé objetiva, determinadas prestaçõesnão tem conteúdo econômico, mas são dotadas de inegável exigibilidade jurídica, a exemplo dos deveres de assistência, lealdade e informação. Denomina-se, no moderno Direito Civil, “Violação Positiva do Contrato” por descumprimento de tais obrigações derivadas da boa-fé objetiva. - Positivas: Dar: A obrigação de dar, tanto pode se referir a uma coisa certa, como a uma coisa incerta. Coisa certa: Art. 233 e seguintes do CC. É aquela em que o objeto da prestação é individualizado ou determinado, cuja disciplina é feita a partir do art. 233 do CC. Art. 233 - Os acessórios vão junto. Ex: vaca com os bezerrinhos. Princípio da Gravitação Jurídica. Art. 234 – Perda sem culpa do devedor (a obrigação se resolve). Perda com culpa do devedor (o devedor responderá pelo equivalente + perdas e danos). Art. 235 – Se deteriorada a coisa sem culpa do devedor, o credor poderá resolver a obrigação ou receber a coisa com o abatimento do preço. Art. 236 – Se deteriorada a coisa com culpa do devedor, poderá o credor exigir o equivalente ou aceitar a coisa no estado que se acha, com direito a reclamar em qualquer caso, perdas + danos. OBS: Regra geral, na Teoria das Obrigações, havendo culpa do devedor, será imposta também em face dele a obrigação de pagar perdas e danos. OBS: É princípio básico do direito das obrigações, especialmente aplicado à obrigação de dar coisa certa, a regra segundo a qual o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa (Art. 313 do CC). Coisa incerta: Regulada a partir do art. 243 do CC, é aquela em que a coisa, objeto da prestação, é indicada apenas pelo gênero e quantidade. Vale dizer, trata-se de uma obrigação genérica, em que falta a individualização a coisa. Por óbvio, para que possa ser cumprida, a obrigação de dar coisa incerta deverá ser individualizada, convertendo-se em coisa certa. Este ato de escolha e individualização da coisa (que em geral cabe do devedor nos termos do Art. 244) denomina-se concentração do débito ou da prestação devida. Não será obrigado a dar coisa melhor, nem poderá dar coisa pior (a escolha deve ser feita pela média). *Pergunta de Concurso: O que é Princípio do Genus nunquam perit? Trata-se de uma regra tradicional em nosso direito, que, no CC de 2002, está prevista do Art. 246. A sua noção é simples: o gênero não perece nunca. Em outras palavras, segundo a lei, não é possível alegar caso fortuito ou força maior para se eximir de uma obrigação de dar coisa incerta, em virtude da sua generalidade. Por óbvio, se o gênero for limitado na natureza, o princípio deve ser flexibilizado. OBS: Parte da doutrina, capitaneada por Álvaro Villaça Azevedo, sustenta que mais técnico seria o legislador dizer que, a obrigação de dar coisa incerta é aquela indicada apenas pela espécie e quantidade. Fazer: Inicialmente, vale registrar que o desenvolvimento mais importante no âmbito das obrigações de fazer e de não fazer é feito pelo direito processual civil, no estudo da sua execução e especialmente, da tutela jurídica específica. A obrigação de fazer tem por objeto um fato comissivo ou uma atividade do devedor, satisfativa do interesse do credor, e cuja disciplina é feita a partir do Art. 247 do CC. Pagará o devedor, por perdas e danos. OBS: Vale acrescentar ainda, que as obrigações de fazer poderão ser personalíssimas ou infungíveis (quando somente o devedor poderá presta-lo) ou não personalíssimas ou fungíveis (caso em que terceiro poderá cumpri-la). - Negativas: Não fazer: Tem por objeto a prestação de um fato omissivo, ou seja, uma abstenção do devedor, satisfativa do interesse do credor, e cuja disciplina é feita a partir do Art. 250 do CC. Lembra-nos o professor Guilherme Nogueira da Gama, que a obrigação de não fazer pode ser temporária. Ex: Cláusula de não concorrência, que dura 5 anos. Se houver culpa do devedor, arcará com perdas e danos. OBS: A obrigação de não fazer, pode derivar da Cláusula Geral da Boa-Fé Objetiva. Teoria do Pagamento - Conceito: O pagamento traduz o cumprimento ou adimplemento da obrigação. - Natureza Jurídica: O pagamento é um fato jurídico, havendo infindável discussão acerca da sua natureza negocial ou não (Ver Roberto de Ruggiero em Instituições de Direito Civil). Trata-se de uma polêmica que parece não tem fim, havendo asseverado Caio Mário, que a natureza jurídica do pagamento depende das circunstâncias do caso concreto. OBS: sem pretender por fim à polêmica, o reconhecimento da natureza negocial do pagamento melhor explica a eventual aplicação de defeitos invalidante, a exemplo do Erro. - Condições do pagamento: Subjetivas: quem deve pagar (art. 304 e 305)/ a quem se deve pagar (art. 308 e 309) O devedor deve pagar, ou seu representante. O terceiro também tem legitimidade para pagar (interessado e não interessado). OBS: Vale lembrar que, terceiro interessado é aquele em face de quem, mesmo não sendo parte, o inadimplemento obrigacional poderá repercutir (Ex: fiador). Se o terceiro interessado paga, ele terá não apenas o direito ao reembolso pelo que pagou, mas também sub-rogar-se-á em todos os privilégios e garantias do credor originário. O terceiro não interessado, por sua vez, não detém interesse jurídico no cumprimento da obrigação, razão pela qual não se sub-roga, como o terceiro interessado, na condição de credor. Quando o terceiro não interessado paga, caso efetive o pagamento em seu próprio nome, terá ao menos direito ao reembolso do que pagou, não se sub-rogando, todavia, em todos os privilégios e garantias do credor originário; mas, se pagar em nome do próprio devedor não terá direito a nada. *Pergunta de Concurso: O devedor pode se recusar ao pagamento feito por terceiro? O art. 306 prevê expressamente a possibilidade de o devedor se opor ao pagamento feito por terceiro, oposição esta que deve ser devidamente fundamentada. A quem se deve pagar é o credor ou o representante dele e também a um terceiro. Nos termos do Art. 308, o pagamento feito a um terceiro somente valerá se o credor ratificar o pagamento feito, ou, não o fazendo, houver prova de que reverteu em seu proveito. OBS: À luz da Cláusula Geral de Boa-Fé, e com amparo na Teoria da Aparência, o Art. 309 do CC admite o pagamento feito ao credor aparente ou putativo. *Pergunta de Concurso: O que se entende por Teoria do Adimplemento Substancial (“Substancial Performance”)? Atribuem ao precedente “Cutter X Powell” de 1795, a linha histórica deste instituto. A doutrina do adimplemento substancial sustenta que não se deve considerar resolvida a obrigação quando a atividade do devedor, posto não haja atingido plenamente o fim proposto, aproxima-se consideravelmente do seu resultado final (Ver En. 361 da jornada). O próprio STJ julgando o Resp 415971/SP admitiu que, eventualmente, a Teoria do Adimplemento Substancial poderá amparar segurado que não pagou a última prestação do seu seguro. O mesmo tribunal já aplicou a teoria em contratos de alienação fiduciária (Resp 469577/SC) e de leasing (Resp 1051270/RS). Objetivas: tempo do pagamento/ lugar do pagamento/ objeto e prova do pagamento Objeto do pagamento e sua prova: É necessário observar a identidade física da prestação quanto ao pagamento. Art. 313 (o crdor não é obrigado a receber prestação diversa da que é devida, ainda que mais valiosa – Nemo aliud pro alio) e 314 (não cabe o cumprimento forçado da obrigação de forma fracionada, em regra. Como exceção o Art. 745-A do CPC – moratória legal (imposição de pagamento fracionado)) do CC. Se dá pela quitação regular, que é um direito do devedor que paga (Art. 319 do CC). A prova pode ser o recibo ou o comportamento (presunção). Art. 320 – Requisitos do Recibo (não são essenciais): Partes (Quem?), Objeto (O que?), Tempo (Quando?), Ligar (Onde?). Presunção (comportamento): É uma dedução lógica feita pela lei ou pelo aplicador do direito que parte de algo conhecido para chegar no desconhecido. Presunção relativa (iuris tantum) que admitem prova ou previsãoem contrário. Art. 322 do CC – no caso de pagamento por cotas periódicas (trato sucessivo), o pagamento da última parcela gera presunção de pagamento das anteriores. Art. 323 do CC – o pagamento do capital (principal da dívida) encerra presunção de pagamento dos juros (acessórios). Princípio da Gravitação Jurídica. Art. 324 do CC – a entrega do título ao devedor gera presunção de pagamento. Art. 324 do CC Art. 386 do CC - Presunção de pagamento - Entrega de título de crédito - Remissão - Entrega de instrumento particular Quanto ao pagamento, a dívida pode ser assim classificada: Dívida em dinheiro: é aquela em que o valor é fixo, não está submetido a variações de correção monetária. O pagamento deve ser efetuado em moeda nacional corrente pelo valor nominal (Art. 315 do CC). Princípio do Nominalismo. Em regra, são nulas as estipulações em moeda estrangeira ou em ouro (Art. 318 do CC – nulidade absoluta). A Exceção se dá nos contratos internacionais (Dec. Lei 857/69), porém, é possível cotação em moeda estrangeira ou em ouro desde que conste o correspondente em reais. Ver. Art. 486 e 487 do CC. Dívida de valor: O valor não é fixo, é corrigido, ou seja, está submetido à atualização monetária. Ex: dívidas de consumo, aluguéis, dívidas de condomínio, alimentos, salário etc. Ver Art. 316 do CC (é lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas – cláusulas de escala móvel ou de escalonamento). Objeto = prestação = dívida (Debitum). Lugar do pagamento: Classificação da obrigação quanto ao local do pagamento. Obrigação quesível ou querable: É aquela que deve ser cumprida no domicílio do devedor. É a regra. O sistema obrigacional protege o devedor (in favor debitoris). Obrigação portável ou portable: Deve ser cumprida no domicílio do credor ou de terceiro. É a exceção. Atenção! Art. 327 – Havendo dois ou mais locais para o pagamento, cabe ao credor a escolha (in favor creditoris). Trata-se da única hipótese de escolha pelo credor, dentro do direito obrigacional. O CC/02 prevê duas regras que mitigam a força obrigatória da convenção (pacta sunt servanda) quanto ao local do pagamento. Art. 329 (função social) e 330 (o pagamento reiteradamente feito em outro local, faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato) do CC. O Art. 330 possui dois conceitos anexos à Boa-Fé Objetiva: Surrectio: aquisição do direito correspondente. Supretio: perda de um direito pelo não exercício. Tempo de pagamento: Classificação da obrigação quanto ao tempo de pagamento. Obrigação de execução imediata/ instantânea: Deve ser cumprida pelo pagamento à vista (Art. 331 do CC). É a regra. Obrigação de execução diferida: O pagamento ocorre de uma vez só no futuro. Ex: Pagamento com cheque pós-datado. Obrigação de Execução periódica: Obrigação de Trato Sucessivo. O pagamento ocorre de forma fracionada no tempo. - Vencimento antecipado da obrigação: “b” ou “c”, transforma-se em “a”. Art. 333 do CC (rol exemplificativo, numerus apertus). Abertura e inventário Penhor Cessação ou insuficiência de garantias pessoais ou reais não havendo reforço pelo devedor. Ex: Dívida garantida por fiança e o fiador morre, o locatário tem que reforçar a garantia. Vencimento antecipado não atinge solidariedade passiva. Também cabe o vencimento antecipado nos casos de inadimplemento e previsão no instrumento. - Regras especiais do pagamento e formas do pagamento indireto: Regras especiais (atos unilaterais) e pagamento indireto (atos bilaterais). Pagamento em Sub-rogação: Art. 346 ao 351 do CC. Trata-se da mera substituição do credor primitivo por um terceiro que efetua o pagamento, mantendo-se os demais elementos obrigacionais (caso dos acessórios da dívida). Acessórios: garantias (fiança, penhor, hipoteca), multa, juros etc. Classificação/Modalidades: Legal: Também conhecida como automática ou de pleno direito. Atos unilaterais (regras especiais de pagamento). Art. 346 do CC. Do credor que paga a dívida do devedor comum Do adquirente do imóvel hipotecado que paga a dívida, bem como o terceiro que efetua o pagamento para não perder imóvel (evicção). Do terceiro interessado que paga a dívida. Convencional: decorre do acordo entre as partes. Ato bilateral. Art. 347 do CC. Quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere os seus direitos. O Art. 348 diz que são aplicáveis neste caso, as regras da cessão de crédito. O devedor deverá ser notificado. Caso de mútuo: Terceiro empresta dinheiro ao devedor para que ele pague a dívida. OBS: A sub-rogação convencional pode ter intuito especulativo? 1ªC – Não pode (principiologista). 2ºC – Sim (legalista). Sub-rogação Cessão de Crédito - Forma de Pagamento - Não pode ter intuito especulativo - Transmissão de obrigação - Pode ter intuito especulativo - Ex: “Factoring” Novação: Art. 360 a 367 do CC. É forma de pagamento indireto em que é pactuada a substituição de uma obrigação antiga por uma nova, pela substituição de seus elementos. Efeito: extinção da obrigação antiga, com seus acessórios, em regra. Ex: garantias (fiança), multa, juros etc. Art. 364 e 366 do CC. Em regra, a Novação é total, porém, as partes podem pactuar uma Novação parcial (atípica). Requisitos: Obrigação antiga: Dívida novada Obrigação nova: Dívida novadora Ânimo de novar: Animus Novandi. Pode ser expresso (documento) ou tácito (comportamento), sempre inequívoco. Não havendo ânimo de novar, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira. Ex: simples acordo; Dar um cheque em pagamento de duplicata que não é devolvida ao devedor. Classificação: Novação objetiva ou real: substituição da prestação Novação subjetiva ativa: substituição do sujeito ativo (credor) Novação subjetiva passiva: substituição do sujeito passivo (devedor) Delegação: com o consentimento do antigo devedor. Expromissão: sem o consentimento do antigo devedor (Art. 362 do CC). “Entra sem ser convidado”. Dica pra prova: na prova em caso de dúvida marcar expromissão. OBS: As obrigações nulas ou extintas não podem ser novadas, as obrigações anuláveis, podem. Compensação: É uma forma de extinção das obrigações, em que as partes são reciprocamente credora e devedora uma da outra. Art. 368 do CC OBS: Diferentemente, haverá confusão, e não compensação, quando na mesma pessoa reunirem-se as qualidades de credor e devedor (ver na apostila 03 a detalhada síntese sobre remissão e confusão). Espécies: Basicamente, existem 3 tipos de compensação: legal, convencional e judicial. A compensação judicial é aquela que se opera no próprio processo, por ato do juiz, exemplo, art. 21 do CPC. Já a compensação legal, no âmbito do direito civil, é aquela em que reunidos os requisitos de lei (Art. 369 do CC), caberá ao juiz, uma vez provocado, declara-la. Finalmente, a compensação convencional, também chamada de Faculta Ativa, é aquela que dispensa os requisitos da lei, com base na autonomia privada. Requisitos da Compensação legal: Reciprocidade das obrigações, ou seja, para que se opere a compensação legal, as duas partes, devem reciprocamente ser credora e devedora uma da outra. Ressalva-se a hipótese do Art. 371 que autoriza o fiador, um terceiro, a invocar a compensação. Liquidez das dívidas: as dívidas devem ser certas. Vencimento das dívidas: a prestação deve estar vencida. Exigibilidade. Homogeneidade das dívidas: devem ser fungíveis, devem ter a mesma natureza. Devo ficar atento ao que dispõe o Art. 370 do CC. - Convencionalmente à luz da autonomia privada, os requisitos da compensação legal, podem ser flexibilizadas. OBS: Vale lembrar, que o Art. 374 do CC fora dado pela lei 10.677/03, posição reafirmada pelo En. 19 da jornada. Por fim, vale anotar ainda as hipóteses de impossibilidade de compensação previstas no artigo 373 do CC. Em regra a origem dos créditos recíprocos não importa, mas existem exceções (Art. 373). O STJ, em situações excepcionais, devidamente justificadas, admitea compensação de crédito alimentar (Resp 982857/RJ). Ver Ag Rg no Resp 1214519/PR. Dação em pagamento: Ou datio in solutum. Trata-se de uma forma especial de cumprimento da obrigação em que, na mesma relação jurídica, o credor aceita receber prestação diversa da que lhe é devida (Art. 156 do CC). Requisitos: Existência de uma dívida Consentimento do credor Animus soluendi (intenção de pagar) - Dação Pro Solvendo: Também chamada de Dação por causa de pagamento ou em razão de pagamento. Ex: Dação do título de crédito, terá que cobra-lo ainda. - Dação e a evicção da coisa dada em pagamento: Em linhas gerais, vale lembrar que a evicção traduz a ideia de perda. A evicção se opera quando o adquirente de um bem vem a perder a sua posse a propriedade em razão do reconhecimento judicial ou administrativo de direito anterior de outrem. Alienante, adquirente (evicto) e terceiro (evictor). Art. 359 do CC. Nos termos do Art. 359, se a obrigação primitiva não puder ser reestabelecida, resolver-se-á em perdas e danos. - Cláusula Penal: A cláusula pena também denominada de pena convencional, tem a precípua função de pré-liquidar o prejuízo em caso de descumprimento da obrigação principal (cláusula penal compensatória), ou de descumprimento de determinada cláusula do contrato ou simplesmente mora (cláusula penal moratória). Art. 408 e seguintes. OBS: Por óbvio, até mesmo para evitar o enriquecimento sem causa, o valor da cláusula penal não poderá ultrapassar o da própria obrigação principal (Art. 412 do CC). Na linha do Art. 1152 do CC da Espanha, o Art. 410 do nosso CC, cujo teor é reforçado por jurisprudência do próprio STJ (Ag Rg no Ag 788124/MS), dispõe não ser possível, cumulativamente, cobrar-se o valor da cláusula penal compensatória e a mesma indenização por ação autônoma. OBS: O §único do Art. 416 do CC admite que o credor possa cobrar indenização suplementar, provando prejuízo excedente, desde que tal possibilidade haja sido prevista no contrato. O Art. 413 do CC, na linha do Art. 812 do CC de Portugal, admite que o juiz possa reduzir o valor da cláusula penal em duas situações: Se a obrigação houver sido cumprida em parte Se o valor da penalidade for manifestamente excessivo O juiz não poderá, por sua vez, suprimir a Cláusula Penal (Judith Martins-Costa – A dupla face do Princípio da Equidade na redução da cláusula penal). O Art. 413 do CC não é explícito quanto a possibilidade de redução de ofício do valor da cláusula penal. Todavia, a doutrina moderna, amparada no Princípio da Função Social, tende a sustentar esta tese, como se pode ler no En. 356 da jornada. *Pergunta de Concurso: A cláusula penal que preveja a perda de todas as prestações já pagas, é válida ou inválida? O STJ tem julgados que apontam no sentido da validade da cláusula penal que preveja a perda de todas as prestações pagas, se o contrato houver sido celebrado antes da vigência do CDC (Resp 399123/SC, Resp 435608/PR). Mais moderado, o Ag RG no Resp 479914/RJ, analisando contrato anterior ao CDC, limitou a perda ato patamar de 25% das prestações. Concluímos, portanto, que é mais fácil discutir a abusividade da cláusula para contratos celebrados após a entrada em vigor do CDC. ***Ver En. 355 a 359, e 429 e 430 das jornadas. - O que é Duty to Mitigate? O denominado “dever de mitigar” é decorrência do próprio Princípio da Boa Fé Objetiva, e traduz a seguinte ideia: sempre que possível, o próprio titular do direito (credor) deve atuar para minimizar o âmbito de extensão do dano, mitigando assim, o prejuízo experimentado pelo devedor. Este instituto tem aplicação do próprio direito internacional (Convenção de Viena) e no Brasil (Vera Jacob de Fradera – “Pode o credor ser instado a diminuir o próprio prejuízo?”). OBS: Este instituto de grande importância, não só tem amparo doutrinário (Em. 169 da jornada), mas também, reconhecimento jurisprudencial, Resp 758518 do Paraná. - O que se entende por Tutela Externa do Crédito? Também chamada de “Teoria do Terceiro Cúmplice”. Deve-se muito, nesse ponto, à contribuição doutrinária de Antônio Junqueira de Azevedo. Na perspectiva do Princípio da Função Social e da Boa Fé Objetiva, embora a relação obrigacional vincule as próprias partes, terceiros não devem atuar de forma ilícita, interferindo indevidamente no negócio jurídico alheio. Em outras palavras, a obrigação teria, além de eficácia interna (geradora de direitos e deveres para as partes), uma eficácia externa que imporia ao terceiro dever de respeito sob pena de responsabilidade civil. Case Zeca Pagodinho (“Zeca Pagodinho, a razão cínica e o novo código civil brasileiro” de Judith Martins Costa). Teoria do Inadimplemento - Conceito: O inadimplemento traduz o descumprimento da obrigação. Podendo ser: Absoluto: É o descumprimento total da obrigação. Culposo: Art. 389 e 402 do CC. É o mais comum, se deve a um fato imputável ao devedor. A consequência básica é perdas e danos (devem cobrir os danos emergentes e os lucros cessantes), sem prejuízo de uma eventual tutela específica. Denomina-se Violação Positiva do Contrato, o descumprimento dos deveres anexos decorrentes da boa-fé objetiva, a exemplo do dever de informação. Em doutrina existe tendência no sentido de que a responsabilidade daí decorrente é objetiva. Fortuito: Art. 393 do CC. Decorre de um fato que não pode ser imputado ao devedor. Em regra, nos termos do Art. 193, em havendo inadimplemento fortuito, não haverá responsabilidade civil. Com exceção das companhias de seguro. OBS: Em doutrina, existe acesa polêmica quanto a diferença entre caso fortuito e força maior, conforma podemos constatar no cotejo entre as obras de Maria Helena Diniz, Silvio Rodrigues e Álvaro Vilaça. Em nosso sentir, tende a doutrina em geral, afirmar que a força maior como um fato natureza (terremoto) e o caso fortuito é o imprevisível, a exemplo de um sequestro relâmpago. O CC corretamente, no §único do Art. 393, não cuidou de diferenciar os institutos, reunindo-os na ideia única de fato necessário. OBS: Nas aulas de responsabilidade civil, deverá ser abordada a delicada problemática atinente à diferença entre fortuito interno e fortuito externo. O STJ tem firme entendimento no sentido de que o assalto à mão armada em transporte coletivo, é fortuito externo, que exclui a responsabilidade da transportadora. AgRg no AREsp 235629 do STJ. Relativo: Mora: Ocorre a Mora quando o pagamento não é feito no tempo, lugar e forma convencionados (Art. 394 do CC). Do Devedor ou Solvendi/Debendi: É o retardamento culposo do cumprimento da obrigação. Exige alguns requisitos: A existência de uma dívida liquida e certa O vencimento da dívida (exigível): Vale lembrar, nos termos do caput do Art. 397 do CC, que havendo termo certo de vencimento, a mora opera-se de pleno direito, é automática (Mora Ex Re), ou Dies interpellat pro homine. Caso, todavia, a obrigação não tenha termo de vencimento certo, o credor deverá constituir o devedor em mora., interpelando-o (Mora Ex Persona). OBS: O STJ tem firme entendimento no sentido de que a notificação expedida pelo banco ao devedor em financiamento garantido por alienação fiduciária, é apenas comprobatória da Mora Ex Re já existente desde o dia do vencimento da obrigação (Ag RG no Resp 953950/RS). Culpa do devedor: é presumida, se não há culpa, não há mora. Segundo Orlando Gomes para que haja a mora é necessário haver também a viabilidade no cumprimento tardio da obrigação (Ver §único do Art. 395 do CC e En. 162 da jornada). A mora pressupõe o cumprimento tardio da obrigação objetivamente. - Efeitos da mora do devedor: Responsabilidade pelos prejuízos causados ao credor (caput do Art. 395 do CC) + juros moratórios + honorários advocatícios. Responsabilidade pelo risco de perda da coisa (Art. 399 do CC). Perpetuatio Obligationes, mesmo estando em mora, em caso fortuito, o devedor se responsabiliza pela perda. - Mora na alienação fiduciária: Súm. 284 do STJ X Lei 10.931/04. Para purgar a mora, deve terpago pelo menos 40% da obrigação. A partir da Lei 10.931/04 diversos julgados do STJ apontam a superação da Súm. 284, para se afastar a referência aos 40% do preço financiado. Todavia, na linha interpretativa que se descortina, o banco, em havido atraso do devedor, passa a ter direito de cobrar todas as prestações vencidas e até mesmo vincendas. Ag Rg no Resp 1249149/PR e Noticiário de 15/06 de 2012. Do Credor ou Credendi/Accipiendi: É uma mora objetiva. Ocorre quando injustificadamente, ele se recusa a receber. A resolução é a Consignação em Pagamento. Art. 400 do CC. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa. Obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la. A responsabilidade é do credor nas despesas do devedor. Sujeita o credor a receber pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação. Se vier a valorizar ou menos desvalorizar, o devedor pagará o que lhe for mais favorável. Deveres Matrimoniais - Infidelidade Virtual: a infidelidade virtual é fenômeno típico da modernidade. Por infidelidade virtual, entenda-se a relação paralela espúria que o cônjuge ou companheiro mantém com um terceiro, afetiva e ou sexualmente. Acrescente-se, todavia, a sua principal característica: tal conduta de infidelidade manifesta-se pela via eletrônica, sem contato físico. Autores como o professor Dorival Serejo, preocupados com o risco imposto pelo avanço tecnológico à estrutura da família, observam indivíduos tão obcecados pelo universo abstrato da internet, que passam a preferir a convivência de uma família virtual. Boletim IBDFAM nº 54. *Pergunta de concurso: Existe consequência para a infidelidade virtual? Assim como para a infidelidade real física a jurisprudência brasileira tem apontado no sentido de admitir a responsabilidade civil do infiel, a quem caberá pagar ao traído indenização por dano moral. A juntada de mensagens trocadas ou diálogos mantidos pela via eletrônica e um processo, pode, em tese, configurar a colheita e a produção de prova ilícita. Todavia, à luz do Princípio da Proporcionalidade e com amparo na teoria da ponderação de interesses, excepcionalmente, e com a devida fundamentação, a prova pode ter validade jurídica. - Formas especiais e básicas de casamento: Basicamente, temos o casamento civil e o casamento religioso com efeitos civis. O dec. 181 de 1890 oficializou o casamento civil no Brasil, retirando o monopólio da igreja católica. A CF de 34, por sua vez, passaria a admitir também o casamento religioso com efeitos civis (regulamentado pela Lei 379/37 e diplomas posteriores). OBS: Existe acesa polêmica quanto a validade jurídica do casamento espírita. O TJ da Bahia, julgando o MS 34739-8 de 2005 admitiu a validade jurídica do casamento espirita, tese também perfilhada pelo professor Dalmo Dallari em parecer jurídico sobre o tema. Ver material de apoio. - Formas especiais: Por procuração – Art. 1542 do CC: mediante procuração, instrumento público com poderes especiais. A eficácia do mandato não ultrapassará 90 dias. Em caso de moléstia grave – Art. 1539 do CC: Casamento nuncupativo – Art. 1540 do CC: Chamado de casamento In Extremis ou In Articulo mortis. Um dos nubentes está na beira da morte, não há tempo de chamar a autoridade celebrante, com 6 testemunhas que não sejam parentes. - Questões especiais de Direito de Família: O que é parto anônimo? Esta expressão traduz o direito de a mulher não assumir a maternidade do filho que gerou, entregando-o à instituição autorizada, para evitar o abandono. OBS: Recentemente a CCJ da Câmara rejeitou o PL 2747/08 que pretendia regulamentar o parto anônimo no Brasil. O que é paternidade alimentar? Atualmente fala-se em paternidade biológica ou científica, marcada pelo surgimento do exame de DNA. A paternidade vai além do prisma biológico, surgindo a ideia de desbiologização, chamada de Paternidade Socioafetiva, baseada no afeto. A paternidade alimentar trata-se de uma construção doutrinária nova e polêmica que, sem menoscabar a socioafetividade, visa a permitir a mantença da obrigação alimentar em face do pai biológico (genitor), caso o pai sócio afetivo não disponha de condições financeiras adequadas. OBS: O TJ do RS enfrentou o tema na AC70017530965, negando a possibilidade da paternidade alimentar. O que é “Abandono afetivo filial”? Qual o tratamento jurídico? Trata-se de uma das mais difíceis temáticas da realidade, na medida em que, para muitos, a possibilidade de se indenizar o abandono afetivo poderia gerar a indesejável mercantilização do afeto. O fato é que, na linha de autores como Giselda Hironaka, a possibilidade de se indenizar pelo abandono afetivo respeita o próprio princípio da função social. Vale dizer, a indenização imposta ao pai (ou mãe) que abandona o seu filho, deve ser entendida não perspectiva meramente compensatória, mas principalmente, pedagógica ou de desestímulo. O STJ, em um primeiro momento, refuta a tese do abandono afetivo, conforme se pode ler no Resp 757411/MG. Recentemente, o STJ conforme se lê no noticiário de 13/05/12, alterando a posição anterior, passou a admitir a indenização por abandono afetivo. O que é multiparentalidade? A visão tradicional sobre filiação, é no sentido de que o seu reconhecimento resultaria em uma perspectiva dual: um pai e uma mãe em face do filho. A multiparentalidade permite ao juiz, na perspectiva do Princípio da Sócio afetividade, reconhecer em situações excepcionais, a possibilidade de o filho ter mais de um pai ou mais de uma mãe, como inclusive decidiu o TJ de SP na AC0006422-26/11 da Comarca de Itu. Filiação - Noções Gerais: Havia filhos legítimos e ilegítimos, aos legítimos eram reconhecidos direitos que não eram conferidos aos ilegítimos, os adotivos nada faziam jus. Hodiernamente temos diferentes mecanismos de filiação, como pelo critério sócio-afetivo. STJ Resp 889.852/RS (reconheceu a adoção pelo par homoafetivo). O vínculo de parentesco na linha reta, determinado pela paternidade ou pela maternidade. Filiação = Afeto + Solidariedade, não necessariamente biologia. - Princípio Constitucional da Igualdade entre os filhos: A CF acolheu, em seu Art. 227, o Princípio da Igualdade entre os filhos, que traz consigo uma dupla dimensão. É uma igualdade pessoal e patrimonial de modo que pouco interessa a origem, pois todo filho tem a mesma proteção. A origem do filho pode ser: biologia, adotiva, afetiva etc. O que não pode haver é a discriminação de origem, que pode ser até por casal homoafetivo. A CF proíbe tratamento ou designação discriminatória entre os filhos, motivo pelo qual o filho não possui mais adjetivação. STJ Resp 7631/RJ (o tratamento jurídico dos filhos em relação a sua origem, deve se submeter a uma interpretação liberal e de inclusão). Até 88 havia uma aproximação conceitual entre casamento e filiação, agora são coisas distintas. A igualdade entre os filhos também é patrimonial, historicamente, os filhos sofriam discriminação sucessória. O conceito de igualdade, construída pela CF é uma igualdade substancial ou material. Se a diferença entre eles é puramente econômica não se justificará tratamento desigual. Ex: obrigação alimentícia. Sob o ponto de vista sucessório, um filho nunca terá um tratamento diferenciado. - Maternidade: O CC utiliza uma regra para determinar a maternidade “Mater is semper certus”. A maternidade é presumida pela gestação (En. 129 da jornada), sendo ela iuris tantum (por conta da multiplicidade de origem de filhos). Ex: “barriga de aluguel” (gestação por substituição ou em útero alheio), que é permitida pelo CFM, Res. 1957/10, mas impõem alguns requisitos: Capacidade das partes envolvidas. Comprovação da impossibilidade gestacional da mulher interessada. Que as partes envolvidas sejam da mesma família. Não sendo do mesmo grupo familiar, somente com autorização do Conselho de Medicina. Gratuidadedo procedimento. Ação negatória de maternidade: que tem procedimento comum ordinário de competência absoluta da vara de família. O art. 1608 do CC, dispõe que a legitimidade para propor a ação é tanto do filho quanto da mãe (imprescritível, possui natureza declaratória). - Critérios determinantes da paternidade: O CC estabeleceu 3 diferentes critérios determinantes da filiação: Não existe hierarquia entre os critérios, são autônomos e independentes e o juiz no caso concreto, determinará qual destes está prevalecendo. Esta é a posição que prevalece na doutrina e jurisprudência. Esses critérios são excludentes, ou se tem um pai biológico ou se tem um pai afetivo, não podendo haver uma duplicidade de critérios. Critério Biológico: DNA. Não sendo caso de presunção, ou tendo ela sido afastada, é possível a utilização do critério biológico. Lei 8.56º/92 Art. 2-A. A recusa em se submeter ao exame de DNA, gera a presunção da prova que se pretendia produzir. Malgrado seja uma presunção que decorre de lei, é relativa e comporta prova em contrário. A lei também confere a gratuidade do exame de DNA, na Lei 1.060/50, Art. 3ª, VI. Se o ente federativo não pagar o exame e não houve recusa do réu, o STJ estabeleceu que o juiz deve julgar com base em prova testemunhal. Resp 557365/RO. O STJ também determinou que o juiz pode determinar o exame de ofício ou a requerimento do MP. Resp 397013/MG. O STJ equipara o retardamento à recusa. Critério Afetivo: Estabelece a determinação da filiação pela convivência. É um vínculo que se constrói. A filiação socioafetiva é provada pela posse do estado de filho (Teoria da Aparência). É quando duas pessoas se tratam reciprocamente como pais e filhos. Ex: Filho de criação, presunção de paternidade na fertilização heteróloga, adoção à brasileira e registro civil por erro. Estabelecida a filiação por este critério, todos os efeitos familiares e sucessórios dalí decorrerão, aniquilando os laços biológicos. STJ Resp 878941/DF. OBS: Estabelecido o vínculo socioafetivo, não significa que o filho socioafetivo não possa reconhecer sua origem genética (Investigação da origem ancestral/genética). STJ Resp 833712/RS e Art. 48 do ECA. Esse direito é imprescritível e personalíssimo, porém exige-se a plena capacidade. A sentença proferida nesta ação, não produzirá nenhum efeito familiar nem sucessório, somente os impedimentos matrimoniais. Essa ação não pode ser proposta pelo filho de fertilização heteróloga e de parto anônimo (En. 111 da jornada). - Paternidade alimentar: Possibilidade excepcional de cobrar alimentos do genitor quando o pai e a família do pai não puderem prestá-los. Rolph Madaleno. Nega veementemente a paternidade sucessória. Critério Presuntivo: A filiação decorre do casamento. “Pater is est quatem justae núpcias demonstrant” (o pai é marido da mãe). O filho da mãe casada por presunção é do marido dela. Art. 1597 do CC. Ver Resp 23/PR e Resp 1194059/SP. No Brasil a presunção não somente foi mantida, como também, ampliada. Agora decorre tanto da concepção sexual (I e II), como também da concepção artificial que consiste na fertilização medicamente assistida – in vitro ou inseminação artificial (III a V). Podem ser: Homóloga: o material genético é do casal. Heteróloga: o material genético pertence a terceiros. - Presunção de paternidade: Art. 1597 do CC. Concepção sexual (I e II): A presunção se inicial 180 dias (6 meses) após a celebração do casamento (prazo mínimo de gestação). Se nascer antes não terá presunção. A presunção perdura até 300 (10 meses) dias após a dissolução do casamento. Concepção artificial (III a V): Presume-se a paternidade dos filhos nascidos por fertilização homóloga, mesmo que já falecido o marido. Lei 11.105/05, Art. 5º (ADI 3510/DF). Os embriões serão guardados no prazo de 3 anos, fazendo a reprodução ou enviará para pesquisas com células-tronco. Art. 1798 para Maria Berenice Dias, Cristiano Chaves e maioria da doutrina, este artigo se refere tanto a concepção uterina quanto a laboratorial. Presume-se a paternidade dos filhos nascidos por fertilização homóloga, mesmo que se trate de embrião excedentário. É aquele que sobrou. Presume-se a paternidade dos filhos nascidos por fertilização heteróloga (adultério casto), desde que tenha tido prévia autorização do marido. Tem um verdadeiro caráter de reconhecimento prévio de filho. É a única que gera presunção absoluta. Em. 248 da jornada. Pluripaternidade, Multiparentalidade, ou ainda Teoria Tridimensional do Direito de Família, de acordo com essa teoria, cada pessoa teria direito a ter 3 pais (critério biológico, critério afetivo e presuntivo). Cada pessoa tem direito a todos esses vínculos. Essa corrente não é majoritária. Vínculo biológico: genética Vínculo socioafetivo: convivência Vínculo ontológico: modelo de vida, o exemplo que cada pessoa segue. Atenção! Cuidado para não confundir a Teoria Tridimensional com o acréscimo de nome de padrasto e madrasta (necessita prévia autorização judicial – da vara de registros públicos – com prévio consentimento do padrasto e da madrasta, o pai e a mãe não precisam consentir, sem forem menor de idade, os pais precisarão ser citados). Lei. 11.924/09 – Lei Clodovil. - Reconhecimento voluntário de filhos: Pode ser por ato unilateral (só do pai) ou bilateral (do pai e da mãe). Tem natureza jurídica de confissão e por isso é irrevogável e irretratável, mas pode discutir judicialmente a validade do ato. Múltiplas formas: Escrito particular Escritura pública Registro em cartório Ata em audiência Testamento - Desde o nascituro pode ser reconhecido. Se já estiver morto é chamado de reconhecimento póstumo ou funerário, só sendo possível se o reconhecente não obtiver efeitos sucessórios. - Reconhecimento de filho por um incapaz: Se relativamente incapaz, sim, independente de assistência, para o absolutamente incapaz somente com autorização prévia do juiz. - Art. 1614: o incapaz pode ser reconhecido independentemente de sua anuência, o plenamente capaz só se houver seu consentimento. Quando o filho foi reconhecido ainda incapaz, disporá do prazo decadencial de 4 anos, contados da emancipação ou maioridade, para ajuizar ação de impugnação do reconhecimento. Aqui, o exame de DNA é irrelevante. - Reconhecimento forçado de filhos: É através de ação de investigação de paternidade. Tecnicamente não é investigação de paternidade, e sim de parentalidade (todo e qualquer parente, tanto do pai quanto da mãe, avoenga, irmãos etc). STJ Resp 876434/RS (só pode haver a investigação avoenga depois da morte do pai). - A investigação pode se apresentar com outros pedidos. Ex: petição de herança (Súm. 149 do STF), alimentos (o juiz pode fixar de ofício, mesmo que o autor não tenha requerido – Súm. 277 do STJ). Alimentos - Noções gerais: Significa mais do que alimentação, ou seja, alimentos transcende a ideia de alimentação. É tudo aquilo que é necessário para se ter uma vida digna. Compreende: Alimentação, saúde, moradia, educação, lazer e turismo. É uma ideia mais ampla que sobrevivência. O fundamento dos alimentos é a solidariedade social e familiar. Ver Resp 997. 515/RJ (o fundamento dos alimentos é a solidariedade social e familiar). Podem ser prestados: Pensão Alimentícia: Prestados em pecúnia, dinheiro. Não se aplica a Súm. Vinculante do STF, pensão alimentícia pode ser arbitrada por salário mínimo (Art. 475-Q, §4º do CPC). In Natura: São os bens da vida diretamente entregue ao devedor de alimentos. Não confundir! Caridade com Solidariedade. Caridade é liberalidade, solidariedade é recíproca. - Espécies: Quanto à natureza: Civis: São os alimentos comuns, pois servem para ter uma vida digna. Subsistência + Necessidades Sociais. Também chamados de “côngruos”. Necessários/Indispensáveis: Meramente para a sobrevivência, subsistência. Não englobam as necessidades sociais. Somente serão necessários nos casos previstos em lei. Interpretação restritiva. Ver En. 33 e 264 dajornada. Somente serão assim quando decorrerem de culpa de quem os pleiteia. Art. 1694, §2º e 1604, §único do CC. A culpa pode ser relevante para transmutar a natureza da pensão alimentícia. Lembrando que a culpa somente foi eliminada no divórcio, e não no direito de família como um todo. Quanto à causa: Legais/Legítimos: São os que decorrem de uma relação familiar. Ex: parentesco, casamento, união estável. Só esses decorrem do direito de família. Convencionais/Voluntários: Decorrem de uma liberalidade do alimentante. Solidariedade de alguém que não está compelido a prestar os alimentos legítimos. Pode decorrer de ato: Inter vivos: doação por subvenção periódica. Além de respeitar a legítima, a doação precisa ter limite temporal (aquele indicado pelo doador, no seu silêncio até a sua morte). Art. 545 do CC. Se vinculado ao espólio, não pode ultrapassar a vida do donatário. Enquanto estiver vivo o doador, poderá revogá-la a qualquer tempo. Causa mortis: chama-se Legado (todo legado depende de testamento e tem de respeitar a legítima, sob pena de nulidade daquilo que excedê-la). Ressarcitórios ou indenizatórios: decorrem da condenação em uma ação de reparação de danos. Essa classificação decorre da Responsabilidade Civil. Art. 948 e 949 do CC. Ver Resp 93948/SP (só admissível a prisão civil como meio de execução dos alimentos legítimos). Quanto ao momento da concessão: Todas essas três categorias admitem a prisão civil como meio executivo. São irrepetíveis. Regra geral são devidos desde a data da citação (Art. 13 da Lei de Alimentos) e Súm. 277 do STJ. Exceção: provisionais e gravídicos. Provisórios: Art. 4º da Lei. 5478/68 – Lei de Alimentos. São alimentos fixados initio litis decorrentes de prova preconstituída da obrigação ou em outra ação que contenha pedidos cumulados. Ex: filho contra o pai, ex-cônjuge. Têm natureza de tutela antecipada. Provisionais: Art. 852 do CPC. Constitui uma medida cautelar, de natureza não cautelar. São devidos desde o despacho da inicial. Definitivos: são aqueles fixados por uma sentença de uma ação de alimentos ou outra que traga pedido de alimentos cumulado. Trazem consigo a cláusula Rebus Sic Standibus (quando modificadas as circunstâncias fáticas existente na data de sua fixação). Transitórios: São os alimentos por tempo determinado. STJ Resp 1188399/PB (a regra entre ex cônjuges e companheiros é de alimentos transitórios). Súm. 309 do STJ: Todos podem ser atuais (aqueles vencidos há menos de 3 meses da propositura da ação e vencidos no curso do procedimento) ou pretéritos (são aqueles vencidos há mais de 3 meses antes da propositura da ação de execução). O uso da prisão civil serve somente para os alimentos atuais, os pretéritos não admitem prisão. Os alimentos pretéritos admitem penhora, e não prisão. É um exemplo do Duty do mitigate the own loss (dever do credor de mitigar as próprias perdas). OBS: Os alimentos gravídicos são devidos desde a concepção. - Características: Personalíssimo: são fixados em razão das peculiaridades do credor e do devedor. Transmissibilidade: Art. 1700 do CC. Para o espólio. Limites da transmissibilidade: Respeito à legítima Limite na partilha (para não desigualar a legítima). Produção de frutos pelo espólio (se não produzir nada, não tem de onde tirar o dinheiro). Que o credor não seja herdeiro nem legatário (já participa do espólio, retirando herança ou legado). Irrenunciabilidade: Art. 1707 do CC. Ver. Súm. 379 do STF. O STJ no Resp 701902/SP firmou seu entendimento de que os alimentos somente são irrenunciáveis entre parentes, entre cônjuges e companheiros admite-se renúncia. Ver Súm. 336 do STJ. Imprescritibilidade: Não há prazo para pleitea-los, mas há prazo prescricional para executá-los, que é de 2 anos. Art. 206, §2º do CC. Irretroatividade ou futuridade: Os alimentos retroagem até a data da citação apenas. Com duas exceções (gravídicos e provisionais). Impenhorabilidade e incompensabilidade: Não pode-se penhorar nem compensar o crédito alimentício. Excepcionalmente é possível penhorar alimentos para cumprir outra obrigação de idêntica natureza (flexibilização jurisprudencial). Irrepetibilidade: São irrepetíveis, ou seja, não restituíveis. Aquilo que se recebeu a título de alimentos não se devolve. STJ Resp 412684/SP (a irrepetibilidade se mantém mesmo que se prove que o filho era de outro). Rolph Madaleno admite a repetição dos alimentos decorrente de ato ilícito omissivo. Não solidariedade: Falta de previsão legal, exceto, o Art. 10 a 12 do Estatuto do Idoso. Ver Art. 1698 do CC. Os alimentos são proporcionais (havendo mais de uma devedor, cada um responderá proporcionalmente quanto a sua capacidade contributiva) e subsidiários ( só se pode cobrar do devedor mais distante quando se comprovar a incapacidade contributiva do devedor mais próximo). Ex: alimentos avoengos. Ver Resp 958.513/SP. - Sujeitos: Art. 1694 do CC. São três: parentes, cônjuges e companheiros. Parentesco, casamento e união estável. Alimentos entre cônjuges e companheiros: Se estendem às uniões homoafetivas (ADI 4277). São devidos após a ruptura da convivência, pois durante a convivência não terão direito a alimentos, e sim à assistência recíproca (é proporcional aos ganhos de cada um). Cessada a convivência, a colaboração se transmuta em alimentos. Aqui a regra geral é de que os alimentos são transitórios, salvo situações especiais. Fixados os alimentos, a constituição de uma nova família, produzirá efeitos, se foi o credor, extingue a obrigação; pelo devedor não extingue, apenas permite a revisão. Alimentos entre parentes: Submetem-se a uma presunção de necessidade. Somente podem pleitear alimentos: descendentes, ascendentes e colaterais até o 2º grau. Art. 1697 do CC. A presunção de alimentos é para os filhos menores de 18 anos, ou seja, não devem provar, é presumido; os maiores de 18 anos precisam mostrar a necessidade. A destituição do poder familiar não afeta as obrigações, como a pensão alimentícia. Ver Súm. 358 do STJ e En. 341 da jornada. Há uma ordem hierárquica: ascendentes, descendentes e colaterais (preferencial e taxativo). Lei 11.804 – Alimentos gravídicos: características Devidos desde a concepção Fixados com base em meros indícios Irrepetibilidade Nascendo com vida e não havendo impugnação, convertem-se em pensão alimentícia. Legitimidade ativa: o nascituro. - Regras de fixação: Art. 1694 do CC. São fixados com base no trinômio: Necessidade – Proporcionalidade – Capacidade. O STJ determinou dois instrumentos que o juiz pode se valer para fixar os alimentos: Teoria da Aparência (sinais externos de riqueza), que poderá aplicar de ofício; Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica (desconsideração inversa), depende de requerimento do interessado ou do MP não podendo agir de ofício. - Procedimento judicial: É um procedimento especial Petição inicial: em se tratando de credor criança ou adolescente, o ECA legitima o MP (Art. 201, III do ECA). O próprio pode comparecer e o escrivão reduzir a termo a inicial. Encaminhará à Defensoria ou nomeará advogado Ad Roc. Despacho liminar: fixa os alimentos provisórios, mesmo que o autor não tenha requerido. Tem natureza de Decisão Interlocutória. Citação do réu: marca o termo inicial dos alimentos. Audiência de conciliação, instrução e julgamento: tenta conciliar, se não conciliar, apresentará a contestação e o juiz decidirá. A jurisprudência admite a cisão da audiência, quando necessária á produção de outros meios de prova. Se não comparecer o autor (arquiva) e não o devedor (revelia). Parecer do MP: não está atrelado a direitos indisponíveis. Art. 128 da CF. Sentença: fixa os alimentos desde a citação, faz coisa julgada material com a cláusula Rebus Sic Standibus. Dissolução da Sociedade Conjugal após a EC/66 - Introdução: O CC de 2002, originalmente, confirmou o sistema bifásico de dissolução da Lei do Divórcio. Separação judicial: colocava fim somente à sociedadeconjugal, mantendo-se o casamento. Divórcio: fim do casamento + sociedade conjugal Em 2007 surgiu a Lei 11.441, possibilitando a separação e o divórcio extrajudiciais (escritura pública a ser lavrada no Tabelionato de Notas). “Desjudicialização”. A partir de então, a doutrina passou a utilizar a expressão “separação de direito” ou “jurídica”, para englobar tanto a separação judicial quanto a extrajudicial. Esse termo serve para diferenciar do instituto da “separação de fato”. Em julho de 2010, o Art. 226, §6º da CF/88 foi alterado pela Emenda do Divórcio (EC 66). Redação anterior: “O casamento pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei ou comprovada separação de fato por mais de 2 anos”. Não houve revogação ou alteração de qualquer dispositivo infraconstitucional, seja do CC/02 ou do CPC; o que gera grande debate doutrinário e jurisprudencial. É pacífico que não há prazo mínimo para o divórcio. “Divórcio já!” (Maria Berenice Dias) - Fim da Separação de Direito ou Jurídica: Existem duas correntes doutrinárias a respeito do tema: 1º C – Não existe mais no sistema a separação de direito. Paulo Lôbo e Zeno Veloso fundamentam o fim social da norma (Art. 5º da LINDB), em caso contrário, a EC66 seria inútil. Já o Pablo e Pamplona argumentam na força normativa da Constituição, havendo uma inconstitucionalidade superveniente dos dispositivos que tratam da separação de direito. 2º C – A separação de direito persiste do sistema, pois não houve revogação expressa de qualquer dispositivo infraconstitucional. Para Maria Helena Diniz a separação de direito continua, mas cairá em desuso (desuetudo). Seguindo essa corrente, enunciados aprovados na V jornada (Em. 514, 515, 516 e 517). No mesmo sentido, decisão do CNJ sobre a separação extrajudicial. - Argumentos constitucionais (J. J. Gomes Canotilho): Princípio da máxima efetividade ou eficiência do texto constitucional: Se a separação de direito persiste, a CF/88 terá mínima eficiência, o que retira a utilidade da EC/66. Princípio da Força Normativa da Constituição (Constituição dirigente): O Art. 226, §6º da CF é norma de eficácia plena, até por que foi retirada a expressão “na forma da lei”. O texto constitucional deve ser “otimizado” (aplicação imediata). Princípio da Interpretação conforme a Constituição: Deve-se interpretar o CC/02 e o CPC conforme a CF e não vice-versa. Seguindo a 1º corrente, estão revogados tacitamente os seguintes dispositivos do CC/02 e do CPC (incompatibilidade constitucional superveniente): Art. 1571, III (continuam em vigor as previsões de dissolução por morte e por ausência, nulidade, anulação e divórcio), o §2º deve ser lido assim: “dissolvido o casamento pelo divórcio, o cônjuge poderá manter o nome de casado”. Art. 1572 (separação sanção fundada na culpa), §1º (separação ruptura ou falência), §2º (separação remédio). Revogado. Art. 1573 (motivos da separação sanção). Revogado. Art. 1574 (separação judicial consensual). Somente é possível o divórcio judicial consensual sem prazo, também é viável o divórcio extrajudicial consensual sem prazo. Revogado. Art. 1575 e 1576 (efeitos da sentença de separação judicial). Revogado. Art. 1577 (reconciliação do casal separado judicialmente). Este dispositivo não foi revogado, sendo possível a reconciliação judicial. A res. 35 do CNJ possibilita também a reconciliação extrajudicial, por escritura pública. As premissas valem ainda, para o separado extrajudicialmente. Art. 1578 (uso do nome após a separação judicial). Revogado. Art. 1579 (efeitos do divórcio) O divórcio não modifica os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos, inclusive em caso de novo casamento dos pais. Como a norma trata de divórcio, continua em vigor. Art. 1580 (modalidades de divórcio); caput (divórcio indireto ou por conversão); §2º (divórcio direto). Atualmente, há apenas o divórcio, sem prazo. Revogado. Art. 1581 (efeitos do divórcio e legitimidade). Está em vigor. A partilha pode ser feita posteriormente, nos próprios autos do divórcio, em ação própria ou extrajudicialmente. Art. 1582 está em vigor, trata-se de uma ação personalíssima. Art. 1120 a 1124 do CPC. Estão prejudicados os dispositivos do CPC que tratam da separação judicial consensual. Está prejudicado parcialmente o Art. 1124-A do CPC nas menções à separação extrajudicial. - Continuação da separação de fato no sistema jurídico brasileiro: Separação de direito Separação de fato - Formalizada por ação ou escritura - Informal. - Distanciamento físico, espiritual e afetivo. - A separação de fato gera efeitos jurídicos: O separado de fato pode constituir união estável (Art. 1723, §1º CC). Doutrina e jurisprudência tem entendido que a separação de fato põe fim a sociedade conjugal (deveres de coabitação e fidelidade e também o fim do regime de bens). Resp 330953/ES e 40785/RJ - Segundo Rodrigo da Cunha Pereira (presidente do IBDFAM), a separação de fato substitui a separação de direito quanto aos efeitos, sendo a última desnecessária. Inclusive é possível fazer Escritura de Separação de Fato (“dar um tempo”). Também é possível a cautelar de separação de corpos. - Permanência da culpa no sistema de dissolução do casamento: Culpa: é violação de um dever preexistente, podendo ser: legal, contratual ou social. Chironi. Entre aqueles que entendem pelo fim da separação de direito, existem 2 correntes quanto a culpa: 1ªC – A culpa foi totalmente banida do direito de família, inclusive quanto aos alimentos. Para essa corrente, estão revogados os artigos do CC que associam a culpa aos alimentos (Art. 1702, 1694, §2º do CC – o culpado somente pode pleitear do inocente os alimentos indispensáveis à sobrevivência, os chamados necessários. Os alimentos serão fixados de acordo com o binômio necessidade/possibilidade, sem qualquer influência da culpa). Para essa primeira corrente que entende pelo fim total da culpa, eventual ação de responsabilidade civil entre os cônjuges, será debatida na Vara Cível. Para essa corrente, não existem mais deveres do casamento (Art. 1566), a culpa é violação de dever, se não há culpa, não há dever. 2º C – A separação de direito persiste do sistema, pois não houve revogação expressa de qualquer dispositivo infraconstitucional. Para Maria Helena Diniz a separação de direito continua, mas cairá em desuso (desuetudo). Seguindo essa corrente, enunciados aprovados na V jornada (Em. 514, 515, 516 e 517). No mesmo sentido, decisão do CNJ sobre a separação extrajudicial. 2ªC – A culpa persiste no Direito de Família pelo menos para debate dos alimentos e da responsabilidade civil. Nesse sentido José Fernando Simão Villaça e Cristiano Chaves. Continua tendo aplicação os Art. 1694, §2º e 1704, §único do CC. O culpado pode pleitear somente os alimentos necessários, se não tiver parentes ou condições para o trabalho. Assim, os deveres do casamento permanece no sistema. - Situação do separado juridicamente com a emergência da EC/66: Passa a ser automaticamente considerado divorciado? Não, pois há direito adquirido do estado familiar (Art. 5º, XXXVI da CF). Ademais, não há regra de direito intertemporal com previsão de que o separado juridicamente passa a ser divorciado, como fazia a Lei do Divórcio quanto ao desquitado que passava a ser separado judicialmente. O separado juridicamente possui as seguintes opções: 1 – continuar separado. 2 – divórcio imediato (sem prazo judicial ou extrajudicial) e 3 – reconciliação (judicial ou extrajudicial). Teoria Geral dos Contratos - Evolução história e conceito: Ajuste de interesses patrimoniais entre duas partes. Acordo de vontades para fins patrimoniais, não necessariamente entre duas partes, é possível contrato plurilateral (também chamados de difusos ou coletivos). Pode ter por objeto finalidade não patrimonial, é possível contrato sobre direitos da personalidade e direito de família. Ver. STF HC 86009/DF-QO (admissibilidade da mutação constitucional).Atualmente, o contrato passa por uma mutação conceitual: Acordo de duas ou mais vontades, para finalidades diversas, patrimoniais ou não. Até o movimento de constitucionalização do Direito Civil, esse conceito era interpretado para respeitado para conservar o Pacta Sunt Servanda, havendo uma concepção individualista de contrato. Ver. Art. 170 da CF. Há uma nova dimensão da autonomia privada, mecanismo de manifestação da autonomia privada baseado na solidariedade social e no respeito aos direitos e garantias fundamentais e sociais (eficácia horizontal dos direitos fundamentais). Contemporaneamente, a interpretação acerca do conceito de contrato mantém o seu objetivo principal: ajuste de interesses privados. Contudo, esse acordo de vontades deve respeitar a solidariedade social (não prejudicar terceiros) e os direitos e garantias fundamentais e sociais dos contratantes (eficácia horizontal dos direitos fundamentais). Com isso, a concepção de contrato, em razão da boa fé, da função social e do equilíbrio econômico, deixa de ser baseado no Pacta Sunt Servanda e ganha uma ordem de cooperação, visando alcançar o interesse das partes. - Direito intertemporal dos contratos: É natural que os contratos imponham mecanismos de direito intertemporal. O contrato é uma relação de trato sucessivo, e como toda relação de trato sucessivo, poderá estar submetido a diferentes normas. Regra geral de direito intertemporal, no art. 2035 do CC. Serve para qualquer relação jurídica continuativa: a existência e a validade de um contrato estarão submetido as à norma jurídica vigente ao tempo de sua celebração. Já a eficácia de um contrato submete-se à norma jurídica atualmente em vigor (escada ponteana). Ex: multa condominial (de até 20 %, para até 2%). Ver STJ Resp 7 22904/RS (incidência do novo limite de multa mesmo nos condomínios instituídos anteriormente ao CC/02). Resp 730546/MG; proibição de constituição de sociedade em pessoas casadas em regime de comunhão universal (Art. 977 do CC). - Elementos de validade: Art. 104 do CC. Agente capaz: ordinariamente, as partes precisam ser capazes, sob pena de invalidade. Será nulo ou anulável a depender do grau de incapacidade do agente. A própria norma acoberta o contrato celebrado por incapaz. A criancinha que compra sorvete pratica um ato fato jurídico. Senatus consulto macedoniano (Art. 588 do CC). O CC exige a capacidade e não a personalidade (um ente despersonalizado pode contratar). Objeto lícito, possível, determinado ou determinável: se o objeto for ilícito ou impossível, o contrato é nulo. É a proibição do Pacta Corvina, sob pena de invalidade. É nulo contrato que tenha por objeto herança de pessoa viva (Art. 426 do CC). Exceção: partilha em vida quando todos os herdeiros foram maiores e capazes com partilha em vida (Art. 2018 do CC). Ver Art. 106 do CC (se a impossibilidade é relativa, a absoluta invalida). Se for superveniente e absoluta não invalidade (invalidade posterior gerará perda de eficácia). Forma prescrita ou não defesa em lei: possuem forma livre, porém, sempre que houver forma prescrita em lei ela integra a substância do ato e precisa ser atendida sob pena de nulidade (Art. 109 c/c 166 do CC). Ex: contratos imobiliários (escritura pública), se o imóvel não exceder 30 salários, admite-se instrumento particular. Advertência! Cuidado para não confundir forma do contrato com prova do contrato. A forma (Art. 109) ordinariamente é livre e quando houver previsão, a forma integra a substância do ato e pode dizer respeito ao plano da validade. A prova nunca será da essência do ato (Art. 227 do CC e 401 do CPC), é meramente eficacial (para que ele produza efeitos) e pode dizer respeito ao plano de eficácia. Ex: os contratos que excedem 10 salários não admitem prova exclusivamente testemunhal. O STJ vem flexibilizando o rigor do Art. 227 do CC, e ao flexibilizá-lo, tem admitido prova exclusivamente testemunhal para contratos em que os usos e costumes apontem forma meramente testemunhal. Resp 10807/PI. Art. 169, o contrato nulo jamais pode ser convalidado. A violação da forma quando exigida por lei ou pela vontade das partes, implica em nulidade do contrato (Art. 109 e 166); A nulidade não admite convalidação. Portanto, o contrato nulo nunca será aproveitado (Art. 169, CC); Um contrato nulo por vício de forma (Art. 109) não pode ser aproveitado, mesmo que a vontade nele manifestada seja válida. Conversão substancial do contrato (Art. 170 do CC) (exclusividade dos contratos nulos por vício de forma). É a materialização do Princípio do aproveitamento da vontade, quer aproveitar a vontade válida, manifestada em um contrato nulo, por vício de forma. Na Alemanha chama Transinterpretação e aqui, de Recategorização do contrato. É a possibilidade do juiz (exige-se decisão judicial e impulso das partes, por ação autônoma ou pedido incidental) aproveitar a vontade que foi validamente manifestada em um contrato nulo por vício de forma. Exige dois requisitos (En. 13 da jornada): Subjetivo: existência de uma vontade válida declarada em um contrato nulo por vício formal. Objetivo: existência de outra categoria contratual, apta e idônea para, formalmente, receber aquela vontade. Ex: Testamento público nulo por vício de forma, o juiz pode converter mediante provocação dos interessados, a conversão em testamento particular; compra e venda de imóveis por instrumento particular (Súm. 239 do STJ). Vontade livre e desembaraçada: a vontade manifestada pelo agente precisa ser livre e desembaraçada sob pena de anulabilidade. A simulação excepcionalmente gera nulidade absoluta. - Regras de interpretação: Regra principal ou “regra de ouro”: É a boa-fé objetiva (Art. 113 do CC). É a interpretação do senso ético que se espera das pessoas. Regras acessórias combinantes: Se somam à boa-fé objetiva. Interpretação dos contratos com reserva mental (Art. 110 do CC): É o propósito secreto de não cumprir aquilo que se está prometendo. Se a reserva mental é desconhecida da parte contrária, o contrato vale e eventual descumprimento será resolvido em perdas e danos. Todavia, se a reserva mental é conhecida pela outra parte, o contrato será nulo por simulação. Interpretação do silêncio (Art. 111 do CC): O silêncio pode ser interpretado como manifestação de vontade, quando não se exigir forma prescrita em lei e desde que os usos e costumem autorizem. Ex: doação para quem aceita. Interpretação da vontade (Art. 112 do CC): na interpretação da vontade mais interessa a intenção do que o sentido literal da linguagem. Interpretação do autocontrato (Art. 117 do CC): Também chamado de “contrato consigo mesmo”. O autocontrato se caracteriza quando uma mesma pessoa figura em ambos os polos da relação contratual; em um deles em nome próprio e no outro em nome alheio por força de uma representação privada. Torna-se anulável em caso de interesse contrário do representado. Se decorrer de um contrato de adesão, será nulo (Súm. 60 do STJ). Interpretação restritiva de contratos (Art. 114 do CC): Os contratos benéficos, sancionatórios, renúncia, fiança e aval submetem à interpretação restritiva. Ex: Súm. 214 do STJ. A lei de locações estabelece que esse aditamento não pode ser temporal, pois a própria lei já prevê uma prorrogação temporal do contrato. Ex: a fiança se mantém até a data da devolução das chaves. - Princípios fundamentais do Direito dos Contratos: Historicamente eram vistos como meras recomendações, sem positividade. Art. 4º da LINDB (historicamente os princípios não mereceram importância). Com a CF/88, modifica-se a relevância do estudo dos princípios e os constitucionalistas a partir de então, passaram a dar uma grande colaboração no estudo dos princípios, elevando seus estudos. Norma jurídica = Norma princípio + Norma regra Norma regra X Norma princípio: Norma regra Norma princípio Conteúdo fechado Baixo grau de abstração Determinabilidade na aplicação ao caso concreto Relato descritivo Mandados de definição. “Tudo ou nada” Mecanismode solução: ordinariamente está submetida aos clássicos métodos hermenêuticos (especialidade, hierarquia e temporariedade). Derrotabilidade/Superabilidade: é a possibilidade de afastar a incidência total de uma regra com vistas a garantir a intenção almejada pelo sistema. É uma flexibilização do “tudo ou nada”. Conteúdo aberto Alto grau de abstração Indeterminabilidade na aplicação ao caso concreto Relato valorativo Mandado de otimização. “Maior medida possível”, plasticidade. Mecanismo de solução (proporcionalidade): ponderação (técnica de solução) e razoabilidade (princípio interpretativo) A derrotabilidade é para casos de pouca probabilidade de repetição afastando parcialmente uma regra, com vistas a garantir a sua própria finalidade. “As cores, tons e matizes da norma regra serão pintadas em conformidade com a norma princípio.” Boa Fé objetiva: É norma princípio. Ex: Art. 448 do CC (cumpriu a regra, porém violou o princípio). O direito civil trabalha com as duas formas de boa fé: Objetiva (Treu und Glauben): de comportamento. É a ética mínima, básica, elementar que se espera das partes. É a eticidade que se espera das partes. É norma princípio de conteúdo comportamental. Estará presente sempre, independentemente da previsão. Nada tem a ver com moral (pessoal), a ética é geral, um comportamento esperado de todos. Atenção! A boa fé objetiva não tem a intenção de servir como correção de hipossuficiência econômica. Não é só para o mais fraco, serve para ambas as partes de uma relação contratual. Quer estabelecer um conteúdo ético na contratação. É multifuncional. A boa fé objetiva não importa no sacrifício de posições ou vantagens contratuais. Almeja estabelecer um sentido de cooperação/confiança entre as partes. Funções: Interpretativa: Ao se buscar definir o conteúdo e alcance de um contrato, deve se levar em conta a ética. Art. 113 do CC Integrativa: estabelece deveres anexos, implícitos, laterais, ou seja, deveres que estarão ali queiram as partes ou não. limitadora/restritiva/controle: Serve como uma espécie de antítese da segunda função, esta impede o exercício e direitos que se mostram abusivos. Possui uma íntima ligação com o abuso de direito, direitos que se mostram abusivos não podem ser exercidos. Adimplemento substancial/ “Substancial performance”: Resp 272739 do STJ. Se o descumprimento foi mínimo, é por que o contrato foi substancialmente cumprido, este caso, se mostra abusiva a resolução do contrato. Pode ser qualitativamente ou quantitativamente cumprido. Ex: quebra ou inadimplemento antecipado de contrato (Art. 590 do CC) Duty to mitigate the own loss: Resp 758518/PR e Resp 1075142/RJ. O dever de mitigar as próprias perdas é o abuso do direito da posição de ser credor. Ocorre quando o credor deixa de ser comportar da forma ética que se esperava. Súm. 309 do STJ É fonte autônoma de obrigações, pois pode decorrer responsabilidade civil da violação da boa fé objetiva. Os deveres anexos estão presentes antes a até depois da execução (responsabilidade civil pré e pós-contratual - extracontratual). Violação positiva de contrato: é uma nova forma de inadimplemento dos contratos. A responsabilidade eventualmente advinda de descumprimento de contrato é objetiva. Subjetiva: de conhecimento. É de conteúdo psicológico. Ex: pagamento ao credor putativo, casamento putativo. Função social do contrato: decorre de duas diferentes percepções. “Não se deve reduzir o estudo do direito à estrutura, mas se deve procurar a sua função. (Norberto Bobbio)”. Na exposição de motivos do CC/02 anuncia que o CC possui três diretrizes (eticidade, operabilidade e socialidade). A socialidade é materializada pela “função social”. É a compreensão filosófica para que servem os direitos (Art. 421 do CC). Este artigo diz que o exercício do direito contratual não deve prejudicar terceiros, assim como terceiros não devem prejudicar os contratos alheios (preocupação com o impacto do exercício de direitos contratuais). Funções da função social do contrato: O contrato entre duas partes não deve prejudicar terceiros. O contrato entre duas partes não deve prejudicar a coletividade. Terceiros não devem prejudicar o contrato alheio. Com essas três funções nascem dois institutos: Súm. 308 do STJ e Art. 608 do CC (terceiro ofensor), Resp 97590/RS e Resp 401718/PR Terceiro ofensor: é aquele que viola o contrato alheio. Também é chamado de terceiro cúmplice. Terceiro ofendido: é aquele atingido pelo contrato alheio Consequência processual da função social do contrato: com essa função, passa a ser reconhecida uma nova categoria de legitimados para propor ações em que se discuta a relação contratual. Com a função social do contrato, os terceiros passam a ter legitimidade para propor ações de revisão ou de resolução de contratos (somente terceiro ofendido). É possível esse terceiro cobrar responsabilidades das partes de um contrato do qual ele não é parte. Possui uma dupla eficácia: Externa: terceiro ofensor e ofendido. Interna: é a correlação entre os direitos dos contratantes com a dignidade da pessoa humana. Ex: Súm. 302 do STJ Equilíbrio Econômico e Financeiro: Art. 478 e 317 do CC. Até 1918, o que vigorava era o Pacta Sunt Servanda, assim, na França surgiu a Lei Faillot que tinha o objetivo de equilibrar os contratos depois da guerra, essa lei buscou no Direito Romano a cláusula Rebus Sic Stantibus, assim implantou-se com esta lei, a ideia a Teoria da Imprevisão (primeira mitigação do Pacta Sunt Servanda). Requisitos da Teoria da Imprevisão: Contrato de trato sucessivo Álea extraordinária (evento imprevisível) Onerosidade excessiva Inexistência de culpa da parte Correlação entre o prejuízo sofrido por uma parte e a vantagem obtida pela outra. A desvantagem de um corresponde a vantagem de outro (Teoria da Imprevisão qualificada) OBS: Somente nas décadas de 40 e 50 é que essa teoria surgiu no Brasil, correlacionada com o caso fortuito. Nesta época a admissibilidade dessa teoria foi restrita, por que ainda vigorada o Pacta Sunt Servanda. Já nas décadas de 70 e 80, a jurisprudência só admitia quando o caso fosse absolutamente imprevisível. Em 1990 o CDC (Arts. 4º e 6º) adota essa previsão, mais tarde sai dessa previsão e vai para a Teoria da Base Objetiva do Contrato (também chamada de Teoria da Onerosidade excessiva pura) que estabelece que o equilíbrio de um contrato surge da simples onerosidade excessiva, sem a necessidade de se discutir a previsibilidade do evento. Em 2002, os Arts. 317 e 478 frustram as expectativas acolheu a Teoria da Imprevisão, assim o direito do consumidor e o direito civil não se entendem nesta matéria, pois adotam teorias diferentes. - Aspecto processual: O pedido de revisão ou resolução de contrato com base nessa teoria pode ser feito judicialmente ou por meio de arbitragem. Art. 479 do CC (Princípio do aproveitamento do contrato). - Intervenção de Terceiros nos contratos: No CC virava a relatividade dos efeitos dos contratos, ou seja, o contrato somente produz efeito entre as partes, portanto não se admitia qualquer intervenção de terceiros em qualquer relação contratual. Com a função social do contrato, a relatividade dos efeitos já havia sofrido uma mitigação, indo mais longe, o CC previu três possibilidades de intervenção de terceiros nos contratos: Promessa de fato de terceiro: Art. 439 do CC. É obrigação de fazer, consistente em cumprir algo que fora prometido por outra pessoa. Neste caso, se a obrigação prometida não for cumprida, a responsabilidade cairá sobre o promitente e não sobre o prometido. STJ, Resp 249008/RJ. Haverá responsabilidade do prometido, se: Quem prometer era o seu representante Quando o prometido expressamente anuiu a promessa - Exclusão da responsabilidade (subjetiva) do promitente: não responderá se o ato prometido depender do consentimento do seu cônjuge e, a indenização recair sobre ele. Se o regime é a separação convencional, não incide essa hipótese. O objetivodo CC é evitar fraude. Estipulações em favor de terceiros: Art. 436 ao 438 do CC. Neste caso, haverá uma relação contratual regularmente celebrada entre duas partes, com previsão de desdobramento dos efeitos benéficos do contrato em favor de terceiro. OBS: Terceiro não é parte, então, este poderá ser incapaz, insolvente, na medida em que não assume obrigações. Conclusão: este terceiro não pode ser executado por eventual inadimplemento contratual, pois não é parte. São apenas beneficiários dos efeitos do contrato. Um terceiro, porém, pode incorrer por violação da Boa-Fé objetiva, pois não é um dever contratual. Ex: seguro de vida, divórcios consensuais com cláusula de doação em favor de filhos. Ver Resp 976679/SP (o terceiro não é parte, mas possui legitimidade para executar o contrato). Atenção! O contratante estipulante, pode a qualquer tempo, substituir o beneficiário, independentemente o consentimento do contratado, salvo disposição em contrário (Art. 438 do CC). É direito potestativo do contratante, exceto abuso de direito por violação de confiança. Se o beneficiário já executou o contrato, não mais poderá ser substituído. Contrato com pessoa a declarar: Art. 467 a 471 do CC. Também chamado de “contrato com terceiro a declarar”. Caracteriza-se pela celebração de um contrato entre duas partes, com uma cláusula, expressa, indicando a possibilidade, de um, ou ambos, dos contratantes apontar, dentro do prazo estipulado, a pessoa, física ou jurídica, que passará a figurar na sua posição contratual, assumindo direitos e deveres desde a data da celebração do contrato. No silêncio das partes, o prazo será de 5 dias. O terceiro indicado assume a condição de parte, retroativamente. Precisa ser capaz e solvente, por que passa a ser parte. Precisa, também, aceitar a condição que lhe está sendo atribuída, caso contrário, o contrato permanecerá entre as partes originárias, permanecendo válido e eficaz. A aceitação, nesta hipótese, precisa estar revestida da mesma forma do contrato. - Formação dos Contratos: Contrato preliminar: Também chamado de “Pré-contrato ou Promessa de contrato”. Art. 462 a 466 do CC. É uma obrigação de fazer consistente em celebrar outro contrato. É uma relação contratual válida e eficaz pela qual as partes assumem a obrigação de celebrar outro contrato. Os contratos são autônomos e independentes entre si, não se submetendo a uma subordinação jurídica. Ex: promessa de compra e venda e promessa de comodato (se realiza com a tradição). A forma não precisa ser a mesma do contrato prometido (a ser celebrado). Precisa ter o valor do contrato e a forma de pagamento (aspectos substanciais). Súm. 239 do STJ Execução do contrato preliminar: o CC disponibilizou para o interessado duas possibilidades executivas do contrato preliminar: a escolha do meio executivo é do interessado. Perdas e danos Tutela específica Negociações preliminares: também chamadas de tratativas ou pontuações. Estudos prévios acerca do interesse em celebrar um contrato. Quando escritas, ganham o nome de minuta. Nesta fase não é possível falar em responsabilidade contratual, mas é possível a responsabilidade decorrente da Boa-Fé Objetiva e seus deveres anexos. Aqui Poe haver quebra de boa-fé. Proposta: Também chamada de oferta ou policitação. É a declaração de celebração do contrato. Uma das partes já declarou vontade, sendo agora a responsabilidade contratual. A parte que declarou sua vontade, deve cumprir o que declarou. Aqui também pode se resolver em perdas e danos ou em tutela especifica. A responsabilidade é do proponente e dos sues sucessores. A oferta feita ao público vincula o proponente igualmente à proposta individual. Ex: televisão, rádio, outdoor etc. O proponente pode fazer ressalvas. Ex: enquanto durarem os estoques, até o fim do mês, etc. Aceitação: Também chamada de Oblação. Art. 427. É a aderência à proposta. Deve ser plena e integral. Aceitação fora do prazo, adição, restrição ou modificação, é nula e tem natureza de uma nova proposta. Momento de formação do contrato: se o contrato é entre presentes (mesmas condições de tempo e lugar), o CC estabelece que tem como momento substancial, a aceitação (inclusive por telefone). No contrato entre ausentes (eletrônico), vigora a Teoria da Agnição por Expedição (Art. 427 do CC), sendo assim, o contrato entre ausentes se forma no momento que o aceitante expede a aceitação para o proponente (“enviar”). OBS: O lugar do contrato (Art. 435 do CC) é aquele em que foi proposto, por outro lado, o Art. 9º, §2º da Lei de Introdução estabelece como lugar do contrato a residência do proponente. Se o contrato é internacional, aplica-se a LINDB, se o contrato foi interno, aplica-se o CC. OBS: Nos contratos de adesão, o foro de eleição pretos judicial ao aderente é nulo de pleno direito. Neste caso, o juiz deve de ofício, remeter os autos, para o foro do domicílio do aderente. Súm. 33 do STJ, essa regra é uma mitigação à súmula do STJ. - Vícios Redibitórios: São defeitos ocultos sobre o objeto do contrato depreciando o seu valor ou alterando a sua substância. Requisitos: Contrato oneroso. O contrato gratuito não admite a incidência de vícios redibitórios. Exceções: Doação remuneratória e doação contemplativa de casamento. Defeito oculto existente ao tempo da tradição. No momento da entrega da coisa, o vício deve existir. Descoberta do defeito posteriormente à tradição. Diminuição do valor econômico ou perda da substância da coisa em razão do vício redibitório. Inexistência de cláusula excludente da garantia. Havendo essa cláusula, não incide o vício redibitório. Esta cláusula será nula nos contratos de consumo ou de adesão. - Presentes os requisitos, o contratante prejudicado deverá ajuizar uma ação edilícia. São ações para reclamar vícios redibitórios: Ação Redibitória: para rejeição da coisa, parte não quer mais a coisa. Estimatória (quanti minoris): obter o abatimento do preço, o vício afetou o seu valor. Ação ex empto: complementação de área. É exclusiva dos negócios imobiliários. Pressupõe a possibilidade concreta de complementar a área. Art. 500, §1º do CC (se a diferença não exceder 5% ou 1 vigésimo, não há vício redibitório). Resolve-se me perdas e danos (e não em ações edilícias). Ad mensuram: compra e venda por medida, por extensão. É somente aqui que se pode falar em vício redibitório por falta de medida. Somente se for possível complementá-la. Ad corpus: a venda não é por medida, e por inteiro. Substituição do produto ou do serviço: exclusiva nas relações de consumo. - Prazos decadenciais para a propositura das ações edilícias: Art. 445 do CC Vício redibitório de fácil constatação: 30 dias, se móvel; 1 ano, se imóvel; contados da tradição. Vício redibitório de difícil constatação: 180 dias, se móvel; 1 ano, se imóvel; contados da descoberta do vício. Ex: diálogo das fontes. De complementaridade ou de conexão (sempre que o CC for mais benéfico do que o CDC, aplica-se o CC, invertendo-se, portanto, o Princípio da Especialidade). Vício redibitório sobre animais: prazo previsto em lei; não havendo, usos e costumes no lugar; não havendo usos e costumes naquele lugar, aplicar-se-á o prazo dos vícios redibitórios de difícil constatação (180 dias). Atenção: Teoria da Actio Nata, ou seja, os prazos devem começar a fluir na data do conhecimento. OBS: não correm os prazos se houver previsão de decadência convencional (prazo de garantia). O prazo de garantia, impede a fluência do prazo de decadência legal. No CDC, o prazo é de 30 e 90 se durável ou não durável, contados da descoberta. - Evicção: É a perda, total ou parcial da posse ou da propriedade, de um bem onerosamente adquirido, por força de uma decisão judicial ou administrativa, que a conferiu a um terceiro. Tem natureza de obrigação acessória de garantia (imposta ao vendedor, de garantia da idoneidade da coisa vendida). Quem vendeu (alienante), quem comprou (evicto) e o que ganhou a coisa (evictor ou evincente). O alienantepode estar de boa-fé ou não. Requisitos: Contrato oneroso. O gratuito não incide evicção, possuindo duas exceções. Decisão judicial ou administrativa, conferindo, posse ou propriedade ao terceiro. Inexistência de cláusula excludente da garantia da evicção. Art. 448 e 449 (Boa-Fé Objetiva, dever de informação) do CC. Denunciação da lide: Art. 456 do CC. Seria o único caso de uma Denunciação da Lide obrigatória. STJ Agr 917314/PR (entendeu que não seria obrigatória). O CC permite a Denunciação da Lide per saltum, sendo a possibilidade de denunciar a lide a qualquer pessoa que conste da cadeia sucessória do bem. Não incide a garantia da evicção na aquisição de coisa litigiosa. Incide a garantia da evicção mesmo quando se tratar de aquisição em hasta pública. Extensão da garantia da evicção: Restituição do valor do negócio Restituição do valor das despesas com o negócio. Ex: registro Indenização por benfeitorias Juros e correção Honorários advocatícios e custas Perdas e danos (só se comprovada a culpa do alienante) - Extinção dos Contratos: Perda de validade: diz respeito a uma coisa contemporânea a formação do contrato. Do momento da celebração: Nulidade: Art. 166 e 167 do CC Anulabilidade: Art. 171 do CC Perda de eficácia: Regular execução: adimplido Inexecução: não foi cumprido. Caso fortuito ou força maior: Resolução sem culpa (sem perdas e danos) Pela vontade das partes: Resilição. Quando decorre da vontade dos dois (distrato), quando decorre da vontade dos dois (denúncia, só sendo admitida por cláusula expressa ou pela natureza do contrato). Ex: contrato de mandato (natureza). Culpa: Resolução culposa, que vem cumulada com perdas e danos. A Rescisão, tecnicamente, é a extinção de um contrato por lesão ou estado de perigo. Contratos em espécies - Contrato de Compra e Venda: Art. 481 do CC. É um contrato de circulação de riquezas por excelência. Possui grande papel jurídico e econômico, desde situações mais simples até as mais complexas. A compra e venda pode despertar um interesse internacional, sendo estabelecidos tratados internacionais de compra e venda (“Convention on international Sales of goods”). - Conceito e natureza obrigacional: É o contrato pelo qual um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa e o outro a pagar-lhe certo preço em dinheiro (é um negócio jurídico essencialmente bilateral). Primeiro ocorre o pagamento, depois a transferência do domínio, pois não está obrigado a transferir o domínio enquanto não implementado o pagamento. Se o preço não for em dinheiro poderá ser troca ou permuta, e não, compra e venda. A compra e venda no Brasil, é um contrato meramente obrigacional (Art. 482 do CC), não gerando aquisição da propriedade, não produzindo efeitos no campo dos direitos reais. A aquisição da propriedade só ocorre no registro (imóveis) ou tradição (móveis). Art. 1245 e 1267 do CC. Para a aquisição de propriedade, é necessária a prática de outro ato, posterior, que consiste no registro ou na tradição. É diferente do sistema francês, o qual a aquisição gera a propriedade. Além disso, o inadimplemento da obrigação do vendedor pode gerar tutela específica ou perda e danos, mas não gera o direito de reivindicação da coisa. - É um contrato de consumo, e não um contrato meramente de uso. Também existe o leasing (arrendamento mercantil) nasceu com a ideia (Lei 6.099/74) de compra e venda de uso (comprar pra usar durante um período e pagar uma renda mensal por isso). Tem o prazo mínimo de 36 meses, mas no carro é de 24 meses. Findo o prazo de uso da coisa, abrem-se para o arrendatário três possibilidades: 1 – renovar o leasing; 2 – extinguir o contrato; 3 – exercer o direito de compra (pagando o VRG). STJ Súm. 263 e 293 (cancelou a primeira). Neuromarketing: é um estudo sensorial para despertar o desejo de comprar. Classificação: É um contrato bilateral com sinalagma perfeito. É oneroso Comutativo (vantagens do comprador e do vendedor são previamente conhecidas). Em alguns casos o CC permite a compra e venda aleatória. Ex: venda a contento ou venda sujeita a prova (Arts. 509 e 510 do CC); e Arts. 458 e 459 emptio spei (qualidade) e emptio rei esperatae (quantidade) - contrato de safra agrícola. Em regra é consensual, não sendo solene. Basta a vontade. Eventualmente, no caso da compra e venda de imóveis, é solene (escritura pública - Art. 109 e 166 do CC). Instantânea ou de trato sucessivo. Revisão ou resolução por onerosidade sucessiva (exclusiva da compra e venda de trato sucessivo). O STJ entende que o conceito de relação de consumo é um conceito finalístico. Ver Resp 1038645/RS. As regras do consumidor devem ser aplicadas ao destinatário final. Elementos essenciais: Consentimento: É a declaração de vontade do vendedor e do comprador. Deve ser livre e desembaraçado sob pena de anulabilidade por vício. Se o contrato for de consumo, a lesão e o estado de perigo causam nulidade, sendo diferente do contrato civil. OBS! O ordenamento exige um elemento específico, a legitimação (capacidade específica para a prática de um ato específico). “É um plus na capacidade” Orlando Gomes. Ex: outorga do cônjuge (ou vênia conjugal); pai e mãe no exercício do poder familiar não podem vender bens imóveis pertencentes aos filhos menores (necessita de autorização judicial, ouvindo o MP). - Situações especiais de consentimento: Compra e venda entre marido e mulher (Art. 499 do CC). Quando os bens são excluídos da comunhão. Ninguém pode comprar o que já é seu (comunhão universal, por exemplo). Essa regra aplica-se à união estável. Venda de bens imóveis por pessoas casadas (Arts. 1647 e 1649 do CC). Para alienar ou onerar, fiança ou aval, exige-se o consentimento do cônjuge, exceto se o casamento se der no regime de separação absoluta de bens (convencional). Súm. 377 do STF e Súm. 332 do STJ. Além disso, o CC permite que o pacto antenupcial dispense outorga no regime de participação final dos aquestos. No regime de separação convencional, a lei dispensa a outorga; na participação final nos aquestos, o pacto poderá dispensar. Quando a recusa for imotivada, o CC permite o suprimento da outorga (tem fundamento na proibição do abuso de direito - objetivo). A prática da compra e venda sem a outorga do cônjuge gera anulabilidade no prazo de 2 anos contados do término do casamento (Teoria da Actio Nata – para evitar um venire contra factum proprio). OBS: É necessário o consentimento mesmo para bens que não pertençam à meação. Essa regra não se aplica na União Estável. Dica! A diferença entre união estável e casamento é a projeção de efeitos em relação a terceiros, a união não produz esse efeito, sendo intra partes, já o casamento é erga omnes. Compra e vende de ascendente para descendente (Art. 496 do CC). É diferente da doação, configura antecipação de herança. Mas a compra e venda pode mascarar uma fraude a terceiros. Por isso, o CC previu a exigência do consentimento dos outros interessados (descendentes e cônjuge), sob pena de anulabilidade no prazo de 2 anos contados da celebração do negócio (Art. 179 do CC). Ver En. 368 da jornada. O STJ vem exigindo prova do prejuízo. STJ EResp 668858/PR (se não tem prejuízo não tem razão para desconstituir o negócio). Dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime é de separação obrigatória somente, não se aplica à União Estável. Preço: Deve ser determinado ou determinável. Determina-se que o preço esteja submetido a taxa de mercado, índices econômicos ou bolsas de valores e inclusive por fixação de terceiro (mero representante das partes). O que não se admite é o arbítrio exclusivo de uma das partes, sendo então, nulo (“vou cobrar o quanto eu quiser, sem dizer quanto é”). O preço deve ser em moeda brasileira (real – Lei 9.069/95), corrente e nominal, sob pena de ser nulo. Porém, há exceções em que o preço pode ser fixado em moeda estrangeiro, como a compra e vende feita no exterior, e oriunda de importação. Art. 315 (Princípio do Nominalismo,que deve ser interpretado junto com a correção monetária), os juros precisam ser expressos. O preço também precisa ser sério e idôneo, não pode ser irrisório para que não provoque enriquecimento sem causa. O preço também precisa ser justo, não podendo ter onerosidade excessiva, se ocorrer no momento da contratação (atingirá a validade, será nulo ou anulável), sendo posterior (atingirá a eficácia, permitirá a revisão ou resolução). Coisa: necessita ter idoneidade econômica, ou seja, qualquer objeto com natureza econômica por servir para a compra e venda. Móvel, imóvel, corpóreo, incorpóreo, coisa incerta, coisa alternativa, coisa certa, até mesmo a coisa litigiosa (Art. 42 do CPC exclui-se a garantia da evicção). Pode também ter como objeto coisa futura, venda à non domino (Art. 1268, §1º do CC), sua eficácia fica condicionada à aquisição superveniente da coisa (exercer direito de preferência). Não se pode vender bens personalíssimos nem os bens fora do comércio (com cláusula de inalienabilidade). OBS: A forma não integra a compra e venda. Efeitos: Responsabilidade do vendedor por vícios redibitórios. Responsabilidade do vendedor pela evicção: É possível que as partes convencionem e excluam a garantia da evicção e dos vícios redibitórios (sendo nula se o contrato for de consumo ou de adesão). Só é possível nos contratos paritários. Mesmo nos contratos paritários, o comprador deve ser advertido e assumir o risco (Art. 449). Responsabilidade pela perda ou deterioração (perecimento) da coisa: Res perit domino. Até a tradição, o dono é o vendedor, passando a tradição, o dono é o comprador. Aqui estamos falando do perecimento sem culpa. Responsabilidade pelas despesas da coisa: Art. 490 do CC. As despesas com a tradição correm pelo vendedor; as despesas do registro, com o comprador; salvo disposição em contrário. É uma regra dispositiva, podendo ser afastada pelas partes. Situações Especiais: Venda por amostras, protótipo ou modelo: Art. 484 do CC. O vendedor se responsabiliza pela qualidade da coisa a ser entregue. Havendo divergência entre a coisa apresentada e a contra entregue, prevalecerá a coisa apresentada (amostra). Venda ad corpus e ad mensuram: Ad corpus: por unidade. É irrelevante a medida Ad mensuram: por medida, por extensão. Pode ocorrer vício redibitório por falta de medida. Só haverá vício, se a diferença encontrada exceder 5%. Ver. Resp 436853/DF (nulidade das cláusulas prevendo renúncia ao direito indenizatório por falta de medida). Cláusulas Acessórias: poderá conter cláusulas acessórias disciplinando situações específicas. Cláusula de retrovenda: Art. 505 do CC. É a cláusula que permite ao vendedor, dentro do prazo máximo de 3 anos, recomprar a coisa, pagando o preço do negócio e das benfeitorias, independentemente da vontade do comprador. É um direito potestativo do vendedor (propriedade resolúvel do comprador, pois a qualquer tempo essa propriedade pode se extinguir). Produz efeitos Erga Omnes. O adquirente da coisa, dentro do prazo, fica submetido à cláusula. Não há novo fato gerador, pois é somente o desfazimento do negócio anterior, não havendo incidência fiscal. Atenção! O direito de retrovenda pode ser transmitido por ato inter vivos ou causa mortis, sendo irrelevante a vontade do comprador, caso contrário caberá consignação em pagamento. Art. 507 do CC. Venda a contento e sujeita à prova: Art. 509 e 510 do CC. É a cláusula que subordina os efeitos da compra e venda a um evento futuro e incerto (condicional), que é um agrado do comprador. Também chamada de venda ad gustum. Na venda a contento, o comprador não conhece a coisa, na venda sujeita à prova ele conhece, mas precisa aferir a qualidade. Na venda a contento, o arbítrio do comprador é maior (art. 122 do CC exceção à parte final). OBS! Em ambas as hipóteses a venda é aleatória. Cláusula de preferência ou preempção convencional: Art. 513 do CC. É a cláusula que obriga o comprador, dentro de um determinado prazo, a ofertar a quem lhe vendeu a coisa, primeiramente, caso resolva aliená-la, onerosamente. Não poderá exceder 180 dias se móvel, ou 2 anos se imóvel. Não se confunde com o Art. 516 do CC, que é um prazo para exercer o direito depois da notificação. Se o comprador não respeitar essa cláusula, resolve-se em perdas e danos. Cláusula de Reserva de Domínio. Art. 521 do CC. É a cláusula pela qual o vendedor resguarda a si a propriedade da coisa vendida, enquanto o preço não for integralmente pago. É uma cláusula de garantia. Se o preço não for pago, tomar a propriedade. - Contrato de Doação: Noções conceituais: Art. 538 do CC É um contrato pelo qual uma pessoa por liberalidade transfere bens ou vantagens patrimoniais para outra pessoa. Possui dois elementos, o subjetivo (liberalidade – Animus Donandi) e o objetivo (efetiva transferência de vantagens patrimoniais). É a soma dos dois elementos. Classificação: É um contrato benéfico, vantagem patrimonial para apenas uma parte. Interpretação restritiva (Art. 114 do CC). É um contrato unilateral, somente uma das partes obterá vantagens. Antítese da compra e venda É gratuito, somente o donatário mantém vantagem econômica, não há contrapartida. Não incidem aqui vícios redibitórios e a evicção. Exceções: doação contemplativa de casamento (é a doação para uma pessoa “encalhada”) e a doação remuneratória (contraprestação de uma obrigação não exigível). No caso da doação contemplativa de casamento, a aceitação é a própria celebração do casamento. É solene. Art. 541 do CC. Deverá ser por escritura pública (bem imóvel acima de 30 salários 541 c/c 108 do CC) ou instrumento particular (por escrito). Pode deixar de ser solene é pode se tornar um contrato real quando se trata de doação de bens móveis de pequeno valor, pois neste caso, basta a entrega da coisa para o aperfeiçoamento da obrigação (contrato real – aquele que exige a efetiva entrega da coisa para o seu aperfeiçoamento para que tenha existência; é diferente de direito real – tipicidade). O caso do §único é chamado de “doação manual”. Pequeno valor, por analogia do Direito Penal, seria 1 salário mínimo (Pablo Stolze). Ver STJ Resp 155240/RJ (o conceito de pequeno valor depende do patrimônio do doador). Promessa de Doação: Também é chamada de “Pré-doação” ou “Contrato preliminar de doação”. Muitos autores no Brasil negam a eficácia da promessa de doação (não permite execução), como a doação é liberalidade, não se poderia obrigar alguém a cumprir essa promessa, pois não mais haveria liberalidade. O promitente doador não poderia ser compelido a doar por falta de liberalidade. Art. 462 do CC A posição majoritária é de que a promessa gera eficácia (STJ, Tartuce, Cristiano). Ver EREsp 125859/RJ (a promessa de doação é exigível e está submetida à mesma disciplina do contrato preliminar, descumprida a promessa, caberá tutela específica). Elementos do contrato de doação: Sujeito: Doador: é quem está praticando a liberalidade. Precisa ser capaz, sob pena de invalidade. Além da capacidade, o doador precisa preencher também, em determinados casos, o requisito da legitimação (como a doação de bens imóveis por pessoa casada, que necessita do consentimento do cônjuge, sob pena de anulabilidade no prazo de 2 anos contados do término do casamento). Também é o caso da doação de bens imóveis pertencentes a incapazes, pois além da presença do seu representante legal, deverá haver autorização judicial, ouvido o MP. Donatário: quem está se beneficiando. Não se exige capacidade de quem recebe (é possível doação para o incapaz e também para o nascituro – Art. 542 e 543 do CC). Por analogia do Direito Sucessório, o embrião pode receber doação, desde que seja concebido em até 2 anos da abertura da sucessão (se não for, haverá a caducidade da doação). Objeto: Necessariamente serão bens apreciáveis economicamente. Somente os bens providos de economicidade poderão ser objeto de doação (móveis, imóveis, corpóreos, incorpóreos, singulares, coletivos etc). Admite-se inclusive a chamadadoação “non domino”, é quando alguém promete que vai doar em bem que ainda não lhe pertence (validade e eficácia contida), seguindo as regras da promessa de doação. - Pode também doação por subvenção periódica (alimentos convencionais/voluntários), só é possível falar nisso nos casos em que não cabem alimentos legítimos. O prazo máximo para a subvenção periódica é a vida do doador, porém poderá vincular o espólio, razão pela qual, o limite passa a ser a vida do donatário. Aqui, não se admite a prisão civil como meio executivo, pois é exclusiva para os alimentos do direito de família. - Doação com cláusula de reversão: é a estipulação de que a pré-morte do donatário faz o bem retornar ao patrimônio do doador. Art. 547 do CC. Essa cláusula não é possível em favor de terceiros, tem de ser sempre para o próprio doador. Veda-se fideicomisso (é a substituição do beneficiário de um negócio gratuito) no contrato de doação, mas é possível somente no testamento no caso de prole eventual. Art. 1952 do CC OBS! Só é proibida a doação de bem sem valor econômico e bens legalmente proibidos. Mútuo consentimento: Não basta o consentimento do doador, mas também a aceitação do donatário. Aceita a doação, ela será irretratável. A aceitação pode ser: Expressa: manifestação escrita Tácita: comportamental Presumida: pelo silencio do donatário, quando houve prazo estipulado para a aceitação. Art. 539 do CC Ficta: a aceitação de doação para o incapaz, quando sem encargo. Art. 543 do CC. Forma: Toda doação é formal, exceto a manual. Proibições legais à Doação: determinadas, em determinadas circunstâncias não podem doar. Vedação à doação universal: Art. 548 do CC. É nula a doação de um volume de patrimônio que comprometa a subsistência de um doador. O fundamento da proibição é a proteção da dignidade do doador. STF, Resp 285421/SP. Mínimo existencial. Se não violou a sua subsistência com a doação universal, não a falar em nulidade, mesmo que o objeto do contrato for a integralidade do patrimônio. Proibição de doação inoficiosa: Art. 549 do CC. É nula (parcialmente) a doação naquilo que exceder a legítima (metade do patrimônio líquido disponível do titular). Aqui, preservam-se os interesses familiares, ou melhor, os herdeiros necessários (descendente, ascendente e cônjuge). Em uma interpretação conforme, acrescenta-se o companheiro, inclusive o homoafetivo. A ação cabível é a Ação Declaratória de Redução de Doação (o juiz reduz a doação aos limites da legítima), que é imprescritível, pois se trata de nulidade, de competência do juízo cível, e não de família. Considerando que a legítima vai ser calculada na data de liberalidade, não precisa esperar a morte do doador. Ver. Resp 7879/SP - Cálculo da legítima: Para fins de doação: o momento da liberalidade. Para fins de testamento: no momento da abertura da sucessão (morte). Para fins de colação (filho que recebe antecipação de herança): depende, se o bem ainda existe, o seu valor na data da abertura da sucessão; se não mais existe, o valor na data da liberalidade. En. 119 da jornada. Proibição de doação à concubina: Art. 550 do CC. Gera anulabilidade até 2 anos contados da dissolução do casamento. O fundamento é a proteção do núcleo familiar. STJ Resp 408296/RJ (se o doador estava separado de fato, a doação é válida, pois já deixara de ser concubina). A separação de fato convalida o ato, pois é causa de anulabilidade. Situações jurídicas especiais: regras especiais para alguns tipos de doação Doação com elementos acidentais: pode ser pura e simples, mas também pode ter elementos acidentais. Condição (condicional): É um evento futuro e incerto. Havendo condição, enquanto ela não for implementada não há aquisição nem exercício. Será existente, válida e ineficaz. Termo (a termo): É um evento futuro e inevitável. Há aquisição, mas não há exercício, pois ainda não houve o advento do termo. É cabível medidas cautelares, para sua proteção. Encargo/modo (onerosa): Há aquisição e também há exercício. É apenas uma contraprestação e em se tratando disso, se não for cumprido, poderá ser executado. O próprio doador, os herdeiros em caso de falecimento do doador, o beneficiário do encargo (pode ser a favor de terceiro), e o MP se o beneficiário for a coletividade podem executar a doação. Se o encargo vier expresso sob forma de condição seguem-se as regras da doação condicional (não adquire nem exerce direitos). Doação para entidade futura: Art. 554 do CC. Se a entidade não for constituída regularmente em 2 anos, a doação caducará. Doação de ascendente para descendente: Art. 544 do CC. Não se confunde com compra e venda de pai para filho, pois é válida e eficaz, mas caracteriza antecipação de herança (legítima), devendo colacionar o bem, sob pena de sonegados, neste caso, qualquer interessado terá o prazo prescricional de 10 anos para ajuizar Ação de Sonegados (tem a finalidade de retirar do beneficiário o direito hereditário sobre aquele bem). Doação conjuntiva: Art. 551 do CC. A doação é feita em favor de duas ou mais pessoas, então serão presumidas distribuídas em partes iguais, salvo disposição em contrário. Direito de acrescer: se os beneficiários forem cônjuges, companheiros e este morrer, ficará o sobrevivente com o direito da parte do falecido, privando, neste caso, o efeito sucessório. Revogação da Doação: Ordinariamente, é irrevogável, e irretratável pela vontade do doador. É nula a renúncia antecipada ao direito de revogar a doação. O CC resguarda uma possibilidade, no caso de revogação judicial, que será pela: Inexecução do encargo: é de iniciativa do doador ou dos seus herdeiros, se morto. Independe da execução forçada do encargo. O prazo é de 10 anos prescricionais (Resp 231945/SP). Ingratidão do donatário: o prazo é decadência de 1 ano. Art. 557 do CC (casos de ingratidão). O rol é exemplificativo (o juiz pode admitir outros casos, desde que tenham a mesma finalidade – tipicidade finalística). En. 33 da jornada. Homicídio doloso, tentado ou consumado. Ver Arts. 561 e 564 (ingratidão irrelevante) do CC. Ofensa física Injúria grave Abandono material Contrato de Comodato - O empréstimo: Pode apresentar com duas diferentes feições, pode ser: comodato ou mútuo. Distinguem-se pela finalidade. Comodato: empréstimo para uso Mútuo: empréstimo para consumo - Noções gerais sobre o comodato: É uma expressão latina Commodum Datum (coisa dada em proveito de alguém). Art. 579 do CC. É o empréstimo gratuito de coisa infungível para ser usada e restituída. Perfaz-se com a tradição, ou seja, enquanto a coisa não for efetivamente entregue, não caracteriza o comodato. As partes envolvidas são chamadas de comodante (quem empresta) e comodatário (beneficiário), precisam ser capazes, mas na precisam ser proprietárias (pode ser mero possuidor). É um contrato real e admite-se a promessa de comodato. Resp 178130/RS, STJ - Casos em que o comodante precisa ser o titular (se não for precisa de ter autorização do titular): Sub-comodato: É quando o comodatário constitui um novo comodato. Exige-se prévia autorização do comodante. Locatário: para que o locatário empreste, precisa se autorização do locador. Decorre do Art. 13 da Lei de Locações (8.245/91), no caso de imóvel residencial. O locatário comum pode emprestar sem autorização. Administrador de bens alheios: só podem emprestá-los com autorização judicial. Art. 580 do CC - Classificação: Contrato real: só se aperfeiçoa com a entrega da coisa. Não impede eventual exigência de formalidade, por exemplo, no empréstimo de administrador de bens alheios (necessita de autorização judicial). Admite-se até o comodato verbal. Contrato unilateral: o comodatário, ordinariamente não assume obrigações contratuais, porém, eventualmente terá, por exemplo, no empréstimo de uma casa (pagar o condomínio, neste específico caso, torna-se bilateral imperfeito). Contudo nunca será bilateral sinalagmático (se transformaria em locação). É gratuito: só o comodatário obterá vantagens patrimoniais.Mas nada impede que o comodatário assuma obrigações. É benéfico. Art. 114 do CC. Não solene: Não se exige, ordinariamente, formalidade. É possível até o comodato verbal. Arts. 401 do CPC c/c 227 do CC (não admite prova exclusivamente testemunhal quando o objeto for superior a 10 salários, aqui continua sendo não solene). EREsp 263387/PE, STJ É personalíssimo: em empresta gratuitamente o faz pelas recomendações particulares do indivíduo, salvo disposição em contrário. A morte do comodatário extingue a relação contratual. Ex: relação de emprego (Ver CC 57524/PR). O comodato pode se caracterizar como uma relação de consumo. Ex: TV à cabo. - Características do comodato: Art. 579 do CC. Gratuidade: Não pode haver contraprestação. Nada impede que o comodatário assuma despesas (chamado de comodato modal ou com encargo), que não pode corresponder a uma contraprestação. Ex: pagamento de taxa condominial, IPVA etc. Infungibilidade da coisa: A coisa emprestada tem que ser infungível (dever de restituição), caso contrário, o contrato seria de mútuo. Exceção: Commodatum ad pompam vel ostentationem (comodato para ornamentação). Ex: casamento, aniversário. Além de não fungível, o bem deve ser não consumível. Admite-se bens incorpóreos (direito autoral), Leasing, uso de lugar (empréstimo de garagem). Tradição: efetiva entrega da coisa. Desdobramento de posse (posse direta e indireta). Poderá haver uma composse. - Prazo Determinado ou determinável: Todo comodato tem prazo, e se não tivesse, se transmutaria em doação. É importante para compreender a constituição em mora do comodatário. Pode ser: Determinado: Ex Re. Art. 397 do CC. A mora é automática. Dispensa notificação. Determinável: Ex Persona. Art. 397. Exige-se prévia interpelação (não precisa ser necessariamente judicial e necessita de fixação de um prazo razoável para que venha ser restituído). Aqui, chama-se comodato precário. Resp 571453/MG, STJ. Entende-se que é o prazo necessário para usar e fruir a coisa. Ex: empréstimo de um trator presume-se que vá até a colheita. OBS! Nos dois casos, a constituição em mora caracteriza esbulho, permitindo tutela possessória. Resp 302137/RJ, STJ. O conceito de esbulho também pode ser de natureza contratual, e não somente a ofensa física. O contrário também pode ocorrer. OBS! A existência de prazo impede a retomada da coisa pelo comodante antes do prazo. Exceção: Art. 581 do CC (quando houver necessidade imprevista e urgente reconhecida judicialmente). - Obrigação das partes: Obrigações do comodante: Entrega da coisa (obrigação de fazer) e espera para a data da restituição (obrigação de não fazer). Não embaraçar o uso da coisa (obrigação de não fazer) Ressarcir as despesas extraordinárias, por que as ordinárias correm por conta do comodatário. Resp 249.925, STJ Indenizar vícios que eram do seu conhecimento e não foram informados ao comodatário. Boa-fé objetiva. Obrigações do comodatário: Não alterar a destinação da coisa Conservar a coisa como se fosse sua. Art. 582 do CC. No caso de emergência, o comodatário é obrigado a salvar primeiro a coisa emprestada do que as próprias coisas e se assim não fizer, responderá objetivamente com risco integral (mesmo que decorra de caso fortuito ou força maior). Assumir as despesas ordinárias. Não fará jus às benfeitorias úteis. Art. 584 do CC. Usar a coisa de forma adequada. O uso inadequado gera responsabilidade subjetiva do comodatário. Dever de restituir sob pena de esbulho. Caberá Reintegração de Posse ou Reivindicatória, de acordo com a sua conveniência. Resp 236454 e 81963/MG. Não restituída a coisa no prazo, o comodatário será constituído em mora e passa a responder objetivamente com risco integral pela perda ou deterioração da coisa e passa a dever aluguel (aluguel-pena ou sanção, o qual o juiz deve fixar acima do valor de mercado). Havendo pluralidade de comodatários: respondem solidariamente. Art. 585 do CC (a solidariedade não se presume). OBS! A gratuidade amplia a responsabilidade do comodatário. Contrato de Mútuo - Noções gerais: Art. 586 do CC. Vem da expressão latina Mutui Datio. É o empréstimo de coisas fungíveis para consumo e restituição do mesmo gênero, qualidade e quantidade. O que se restitui não é a mesma coisa que se recebeu. Se puder se restituir outra coisa, será troca ou permuta. Em se tratando de um contrato para consumo, haverá transferência de posse, mas também de domínio e propriedade. É importante por conta da Teoria dos Riscos (Res perit domino). - Capacidade das partes: Em se tratando de pessoa incapaz, exige-se prévia autorização judicial, ouvido o MP (desestimular o empréstimo feito a um menor). Art. 588 do CC. Chama-se Senatus Consulto Macedoniano (empréstimo feito a menor não pode ser reavido). - Exceções: à regra de que o mútuo feito a um menor não pode ser reavido. Art. 589 do CC. A interpretação dessas restrições tem de ser restritivas. O CC só permite essas hipóteses para o menor. Quando o mutuante provar que o empréstimo reverteu em proveito do menor. Evitar enriquecimento sem causa Quando houver posterior ratificação pelo representante ou assistente. Quando o menor tinha renda própria suficiente para subsistência. Quando o menor dolosamente omitiu a sua idade. Tu quoque. Quando o empréstimo foi assumido para satisfazer necessidade alimentar do menor. - Classificação: É contrato real: exige a entrega da coisa. Não solene, pode até ser verbal. É unilateral ordinariamente. Se ambos contraírem obrigação, se transformará em bilateral imperfeito. Gratuito ou oneroso: a onerosidade decorre: disposição expressa das partes ou da finalidade econômica do empréstimo (Ex: empréstimo bancário), que se caracteriza pelos juros – Mútuo feneratício, frugífero ou oneroso. Art. 406 do CC. - Prazo: Art. 592 do CC. Todo contrato de mútuo possui prazo. Não havendo fixação pelas partes, o CC estabelece uma regra auxiliar: se o mútuo for de produtos agrícolas, o prazo será até a próxima colheita; se for de dinheiro, será de pelo menos 30 dias. Antes do prazo, o mutuante não pode exigir a restituição da coisa, mas pode exigir uma garantia de seguridade (inadimplemento antecipado ou quebra antecipada de contrato – Art. 590 do CC). Esse artigo está intimamente ligado ao art. 477 (teoria geral dos contratos). - Mútuo em dinheiro: Pode ser feneratício. O mutuo em dinheiro pode ou não ter finalidade econômica. Submete-se ao Princípio do Nominalismo (Art. 315 do CC). Não há limite de juros, será estipulada pelas partes. Inexistindo taxa de juros estipulada, incidirá o Art. 406 do CC. Ag Reg Resp 895075/RS, STJ - Capitalização de juros: Anatocismo ou juros sobre juros. Súm. 121 do STF. É vedada, mesmo que expressa pela vontade das partes. Exceções: Súm. 93 do STJ e Resp 915.572/RS. Conclusão: só não pode o particular. O juiz pode controlar tanto a taxa quanto a capitalização. Ver. Súm. 382 do STJ - Controle de juros pelo STJ: Comissão de permanência: a estipulação de comissão de permanência impede a cobrança de juros e correção monetária. Juros, correção e encargos financeiros já estão embutidos na correção de permanência, resultaria em Bis in idem. Resp 863.887/RS Nulidade dos contratos “Vaca-papel”: É um contrato de empréstimo sob a forma simulada de um arrendamento rural (parceria rural). Resp. 441.903/SP. A vaca era uma simulação de um contrato de mútuo com juros abusivos. É nulo, por simulação. OBS! Existe um tipo específico de contrato de mútuo decorrente de contrato de depósito. Art. 645 do CC. Deposito irregular é aquele que tem por objeto bens fungíveis. Ex: depósito bancário. Neste caso o contrato segue as regras do mútuo, pela impossibilidade de restituir a coisa. Direitos Reais - Posse: Noções gerais e teoria justificadora: Até 1803 não era um instituto em si mesma, era apenas manifestação da propriedade. Até esse momento, tinha posse quem tinha propriedade, quem não tinha propriedade, não podia ter posse. Teoria Justificadorada posse: nasce em 1803, criado por Savigny, o qual defendeu a autonomia da posse, afirmou que a posse era autônoma e independente, que poderia existir posse sem propriedade. Presença de dois elementos: Subjetiva: Teoria da posse Corpus: apreensão, contato físico. Animus rem sibi habendi: intenção de ter a coisa como sua. Objetiva: Teoria Simplificada da posse (R. Von Ihering) Corpus: quem tem posse, é quem tem contato físico com a coisa. É aquele que apreende independentemente de intenção. Art. 1196 do CC Tem posse, quem exerce um dos poderes da propriedade (uso ou gozo). Ver. Em. 492 da jornada (a posse tem autonomia conceitual em relação á propriedade e merece proteção jurídica independentemente da propriedade). - Em uma visão contemporânea da Teoria Objetiva de Ihering, a posse decorre, não apenas da apreensão física, mas do exercício de um poder físico sobre a coisa. STJ, Resp 1.158.992/MG. OBS: Na usucapião adota-se a Teoria Subjetiva. - Mera detenção: o ordenamento parte da premissa que posse é contato físico, mas este mesmo ordenamento estabelece exceções: existem casos em que alguém tem contato físico, mas não será reputado possuidor. A mera detenção é uma desqualificação da posse. São casos nos quais alguém apreende fisicamente a coisa, mas o ordenamento lhe retira a qualidade de possuidor, privando a obtenção dos efeitos da posse. Não pode ajuizar ação possessória, nem usucapião. Casos de mera detenção: Fâmulo (gestor) da posse (Art. 1198 do CC). É aquele que apreende a coisa por força de uma relação subordinativa para com um terceiro. É aquele que apreende a coisa por dependência jurídica de alguém. Ex: caseiro, adestrador, veterinário, capaz da fazenda, vaqueiro etc. Ver. Art. 62 do CPC (nomeação á autoria – intervenção de terceiros obrigatória, sob pena de perdas e danos). É um instituto tendente à correção de uma ilegitimidade passiva para a causa. Na ação ajuizada contra o possuidor, caberá denunciação da lide (direito de regresso - facultativa), e não nomeação da autoria (obrigatória). Atos de mera tolerância: Art. 1208 do CC. Não induzem posse, os atos de mera tolerância. Posse precária tem natureza de mera detenção. Ex: empréstimo A posse violenta ou clandestina, antes do seu convalecimento. Art. 1208, parte final. A posse violenta ou clandestina, antes do convalecimento (ou interversão), tem natureza de mera detenção, em relação ao anterior possuidor. Em relação a terceiros, a posse violenta ou clandestina, já nasce com natureza de posse. Concessão de uso de bem público especial não gera posse, gera detenção. STJ, Resp 1.003.708/PR. Ocupação regular de terra pública não induz posse (Resp 556721/DF). OBS 1: O detentor não tem direito a usucapião, indenização por benfeitorias ou indenização por acessões. Resp 1.183.266/PR. Detenção não produz efeitos OBS 2: É possível a conversão da detenção em posse, quando rompida a relação jurídica originária. En. 301 da jornada. Ex: caseiro (mero detentor) que passou a ser esbulhador (contra terceiros possui natureza de posse). Objeto da posse: tem de ser bem corpóreo (materializáveis), para que o possuidor possa exercer o seu poder físico. Já na propriedade, admite-se bens incorpóreos (insuscetível de posse). Consequências da fixação do objeto da posse dos objetos corpóreos: Impossibilidade e utilização dos interditos possessórios para a defesa dos bens incorpóreos. Ex: direito autoral (tutela específica ou perdas e danos). Súm. 228 do STJ Inadmissibilidade de usucapião de bens incorpóreos. Se não é possível a posse, não é possível a usucapião. Exceção: Súm. 193 do STJ (linha telefônica). Resp 1.123.747/RS Composse: Também chamado de co-posse ou composseção. É o exercício simultâneo da posse por duas ou mais pessoas. Reclama pluralidade de sujeitos e indivisibilidade da coisa. Todos os seus possuidores exercem os seus direitos sobre o todo independentemente de sua cota parte. Todos podem reivindicar o todo contra terceiros e contra co-possuidores. Ver. Resp 537.363/RS Efeito processual da composse: Art. 10 do CPC. Capacidade processual para propor ações que versem sobre direitos reais imobiliárias, depende de consentimento do cônjuge (consorte). Ex: usucapião, reivindicatória, confessória etc. Posse não é direito real (ação possessória não é ação real). Exceção: Art. 10, §2º do CC. Nos casos de composse, exige-se a participação do cônjuge nas ações possessórias, malgrado não se trate de ação real imobiliária. OBS: um co possuidor não pode usucapir a coisa toda em detrimento dos outros. Cada uma exerce posse sobre o todo. Resp. 10.978/RJ. Excepcionalmente, o STJ admite usucapião por um dos co possuidores, em prejuízo dos demais, se for estabelecida posse com exclusividade, alijando os demais no exercício da posse. O CC estabeleceu uma possibilidade específica de usucapião em composse (Art. 1240-A do CC). O cônjuge pode usucapir a meação do outro cônjuge que tenha abandonado o lar por 2 anos. No CC, no Art. 1571 estabelece que o casamento só se dissolve com o divorcio ou com a morte, mas o STJ vem entendendo que a separação de fato também põe fim aos deveres conjugais e o regime de bens. Função social da posse: Também chamada de Teoria Sociológica da posse (Hernández Gil). Afirma que enxergar a posse somente pelo prisma da dualidade (teoria objetiva e subjetiva) é empobrecê-la, é diminuí-la. A posse deve ser harmonizar com os valores constitucionais da cidadania (constitucionalização do direito civil que chega à posse). Traz a ideia de funcionalização dos institutos jurídicos (Norberto Bobbio). Lembra-se do paradigma da socialidade (Miguel Reale). Art. 5º, XXII e XXIII da CF e 1.228, §1º do CC (função social da propriedade) e a da posse? Na exposição de motivos, refere-se que o CC trata implicitamente a opção pela função social da posse. É um sucedâneo (substitutivo) da função social da propriedade de modo que quando o proprietário não cumpre a função social e alguém cumpre em seu lugar, ali estará a função social da posse, para garantir que todo e qualquer bem cumpra a função social. Ex: Art. 1238 e 1242, §§únicos do CC (permitem a redução em 5 anos no prazo de usucapião ordinário e extraordinário). O juiz poderá o fazer quando o usucapiente estiver morando ou tiver tornado a terra produtiva. Ver. Súm. 487 do STF (o STJ e a maioria da doutrina entendem que está prejudicada pela superveniência do Art. 1210, §2º do CC). Ex: Art. 1228, §§4º e 5º do CC (desapropriação privada ou judicial indireta) - Desapropriação judicial indireta: Art. 1228, §§4º e 5º do CC Extensa área (depende do caso concreto – conceito aberto) rural ou urbana Posse ininterrupta e de boa-fé Considerável número de pessoas (conceito aberto) Prazo de 5 anos Obras e serviços relevantes (conceito aberto), social ou economicamente. Presentes esses 5 requisitos, o proprietário perde, En. 308 e 84 da jornada. Justa indenização paga pelos próprios possuidores (fixada pelo juiz sem avaliação técnica obrigatória – En. 240 do CC). Em se tratando de população de baixa renda e no contexto de políticas públicas de reforma agrária ou urbana, a indenização será custeada pelo poder público. Nesse caso, o poder público terá de ser citado no processo e com isso ocorrerá deslocamento de competência, sendo área rural (União) e zona de município (vara da Fazenda Pública). O En. 241 da jornada estabelece que enquanto a indenização não for paga, não poderá ser registrado em nome dos possuidores expropriantes. Possibilidade de requerimento em ação autônoma ou como exceção substancial na contestação (de uma ação reivindicatória). Havendo interesse social e coletivo, o MP poderá ter legitimidade para requer a desapropriação judicial indireta. En. 82 da jornada (constitucionalidade da desapropriação judicial indireta). Bens públicos: En. 304 da jornada. Aplicam-se aos bens públicos dominicais. Não se trata de usucapião. Forma autônoma de extinção da propriedade, pois a extingue quando os possuidores adquirirem a propriedade. Atenção! Nãoconfundir desapropriação judicial indireta com a usucapião ordinária e extraordinária! - Usucapião especial urbano coletivo. Art. 10 a 12 do ECid. Área urbana superior a 250 m² Posse ininterrupta, de boa-fé ou não. Posse coletiva de população de baixa renda ou não Prazo de 5 anos Fixação de moradia Sem indenização Possibilidade de alegação em ação autônoma ou como exceção substancial na contestação. Jamais será alegada pelo MP (não possui legitimidade), mas participará apenas como fiscal da lei. A alegação ficará a cargo dos co possuidores ou pela Associação de moradores como substituto processual. Classificação da posse: Efeitos da posse: Proteção possessória Responsabilidade civil do possuidor Regime jurídico dos frutos Regime jurídico das benfeitorias Interditos possessórios - Classificação da Posse: Posse direta e indireta (desdobramento de posse): É possível desdobrar a posse por força de uma relação negocial, o proprietário se mantém na qualidade de possuidor muito embora entregue o contato físico da coisa a terceiro. Ex: comodato, depósito, usufruto, servidões etc. - Motivo da distinção da posse direta e indireta: Fazer com que o proprietário que entregou o contato físico da coisa a terceiro por força de um contrato não perca a proteção possessória. Malgrado ter entregado a posse direta, não se perde a posse indireta, continuando exercendo a qualidade de possuidor. É certo que ambos possuem ações contra terceiros, mas é curioso saber se um possui ação contra o outro. O En. 76 demonstra que sim, que o possuidor indireto possui proteção contra o outro e vice versa. Só há desdobramento de posse quando houver uma relação contratual base, neste caso, na ausência desta relação, têm-se posse plena. Ex: proprietário que também é possuidor e o esbulhador (tem posse plena, sem contrato). OBS 1: Admite-se uma verticalização do desdobramento da posse em diferentes graus (é possível um desdobramento aprofundando da posse), é o caso do subcomodato e da sublocação. OBS 2: O possuidor indireto pode ceder a outrem o direito de reclamar a retomada da coisa. Ex: promessa de compra e venda celebrada pelo locador. Ver. STJ, Resp 881270/RS - Desdobramento de posse e usucapião: nenhum dos dois pode usucapir a coisa, pois ao possuidor direto há uma relação contratual base (falta de animus domini – requisito da usucapião) e o indireto já é proprietário. Ex: esbulho (excepcionalmente poderá usucapir, se romper a relação contratual). Posse natural e posse civil: o acolhimento da teoria objetiva de Ihering implica que o conceito de posse seja fundamentalmente naturalístico, pois para ter posse, precisa ter contato físico. O conceito de possuidor é natural, adquire a posse quem passou a ter contato com a coisa, ordinariamente. Aquisição de posse sem contato físico: Art. 1203 a 1205 do CC. Se dá o nome de Constituto possessório, Cláusula constitute, Posse contratual ou Posse civil. Significa a aquisição de posse por força de um contrato, adquiriu a posse sem nunca ter apreendido a coisa. Ex: Leasing, aquisição de imóvel nos leilões da CEF (imissão na posse – não é ação possessória). O efeito mais importante é a legitimação para as ações possessórias. Ver. STJ Resp 1.158.992/MG (possibilidade manejo de ação possessória pela adquirente da posse por meio de constituto possessório). Posse injusta e injusta (defeito objetivo): Vício que macula a posse, que o CC se valeu pelo critério da exclusão. Toda posse que não for injusta será justa. Posse injusta: En. 237 admite o convalecimento (interversão) da posse injusta. É a cura do vício que pesa sobre ela. Ocorre em dois casos: quando a cessada a coisa que originou independentemente do prazo (Ex: esbulhador compra a coisa); depois do prazo de ano e dia. A partir daí ela se torna justa e produzirá regulares efeitos. Violenta: É a posse forçada, contra a vontade do titular. A violência não precisa ser física, pode ser contratual, por exemplo. Ex: roubo, esbulho. Clandestina: É a posse subtraída do titular, sem violência. Ex: furto. Precária: É a posse decorrente de uma dissimulação, baseada em torpeza. Ex: abuso de confiança, empréstimo. Não admite o convalecimento, pois advém do abuso de confiança. - Diante da possibilidade de convalescimento da posse violenta ou clandestina e da impossibilidade de convalecimento da posse precária, conclui-se: A posse violenta e a clandestina, antes do convalescimento, caracterizam mera detenção. A posse precária tem natureza jurídica sempre, se mera detenção. A posse precária não pode convalescer, mas pode alterar a sua natureza. Posse de Boa-Fé e de Má-Fé: A Boa-Fé pode ser: o CC trabalha com dois tipos de Boa-Fé. Objetiva: comportamento, confiança. Subjetiva: conhecimento, psicológica. O possuidor de boa-fé é aquele que não tem ciência de eventual vício que pesa sobre a posse, o possuidor de má-fé é aquele que tem ciência. Tanto a posse de boa-fé quanto a de má—fé produzem efeitos, mas não os mesmos. Há uma distinção na produção de efeitos, no que diz respeito à qualidade. Ex: usucapião (o prazo de um é menor que o de outro). - Efeitos da posse: Proteção possessória: Também chamada de proteção penal da posse. Art. 1210, §1º do CC. É o instituto do desforço incontinente ou imediato. É a legítima defesa da posse, pelo próprio possuidor, de mãos próprias. Exige-se, para tanto, os mesmo requisitos da legítima defesa do CP. A responsabilidade é objetiva no excesso dos meios necessários, pois aqui se fala em abuso de direito. En. 37 da jornada. O En. 493 da jornada admite a defesa penal da posse pelo mero detentor. A eventual responsabilidade recairá aquele ao qual estiver subordinado e exige-se que a reação seja imediata para a legítima defesa da posse (interpreta-se restritivamente esta possibilidade). En. 495 da jornada. Responsabilidade civil do possuidor: o possuidor responde pela perda ou deterioração da coisa. Se o possuidor é de boa-fé, somente responderá pela perda ou deterioração da coisa quando lhe der causa (responsabilidade subjetiva). Em se tratando de possuidor de má-fé, haverá responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa sempre(porém, admite-se excludente), exceto se o possuidor provar que a coisa teria perdido ou deteriorado mesmo sem a sua posse (responsabilidade objetiva com risco integral). Caso fortuito e força maior não eliminam essa responsabilidade. Regime jurídico dos frutos: o possuidor de boa- fé faz jus a todos os frutos produzidos pela coisa, exceto em relação aos frutos pendentes na data da restituição da coisa (não podem ser recebidos pelo possuidor de boa-fé, pois não estão na época da colheita, ficando para o proprietário). Para evitar enriquecimento sem causa, o possuidor de boa-fé será indenizado pelas despesas com custeio dos frutos pendentes. Já o possuidor de má-fé não faz jus a nenhum fruto. Se eventualmente este colheu, terá de ressarcir pela impossibilidade de colheita. Mas o sistema repugna o enriquecimento (ilícito é no Direito Administrativo) sem causa (Art. 284 e 285 do CC). Regime jurídico das benfeitorias: O possuidor de boa-fé tem direito de indenização e de retenção (de se manter com a coisa) pelas benfeitorias necessárias e úteis e direito de levantamento (retirada) das benfeitorias voluptuárias (suntuárias). A pretensão do direto de retenção de vê ser exercida na petição inicial ou na contestação. O direito de retenção pode ser dirigido contra o proprietário ou contra o possuidor da coisa. O que prevalece é que o direito de retenção só pode ser exercido em relação às benfeitorias realizadas até o limite da notificação para a restituição da coisa. O entendimento majoritário é no sentido de que o direito de retenção por benfeitoria útil só pode ser exercido em relação às benfeitorias implementadas até a data da notificação para a restituição da coisa. Depois disso, as benfeitorias úteis geram apenas direito de indenização. Já o possuidor de má-fé, ordinariamente, não faz jus à indenização ou retenção pelas benfeitorias,se quer levantamento das voluptuárias. Exceções: Locação de imóveis urbanos. Art. 35 da Lei. 8.245/91, pois nesse âmbito, as benfeitorias somente são indenizáveis com prévia autorização do locador. Ver. Súm. 335 do STJ (é válida a cláusula de renúncia antecipada à indenização das benfeitorias e ao direito de retenção). Essa súmula não pode ser aplicada no caso de benfeitorias úteis. Comodato: Art. 584 do CC. No comodato as benfeitorias úteis não geram nem indenização nem retenção, pois é empréstimo gratuito. Desapropriação: Art. 26 do Dec. Lei 3365/41. Na desapropriação, as benfeitorias serão computadas no preço. Entretanto, as benfeitorias realizadas no lapso temporal compreendido entre a publicação do decreto expropriatório e a imissão na posse do poder público expropriante submetem-se à seguinte regra: As benfeitorias voluptuárias não serão indenizáveis nunca As benfeitorias úteis serão indenizáveis, se houver prévia autorização do poder público. As benfeitorias necessárias serão indenizáveis sempre. Interditos possessórios: Também chamadas de ações possessórias. Consiste na tutela jurisdicional civil da posse. Reintegração de posse: cabível na hipótese esbulho (perda, privação). Manutenção da posse: cabível na hipótese de turbação (perturbação, embaraço). Interdito proibitório: cabível na hipótese de mera ameaça. É sempre de força nova. - Fungibilidade: O art. 920 do CPC manda aplicar a fungibilidade entre os interditos possessórios. É possível o aproveitamento da ação erroneamente proposta e também aproveita o aproveitamento da mutação do fato (Ex: ameaça que vira esbulho). - A civilística clássica, historicamente vinha enxergando caráter possessório em outras ações, como: Imissão na posse (ação tendente à obtenção da posse, por parte de quem adquiriu a propriedade, sem a posse – procedimento comum ordinário); dano infector (é a ação destinada a cominar uma sanção ao titular do imóvel vizinho, evitando danos decorrentes de uma construção ou reforma, é uma ação cominatória, recebe a multa e ajuíza nova ação para restituir perdas e danos - é uma tutela inibitória); nunciação de obra nova (é ação ajuizada pelo proprietário, possuidor, condômino ou pelo poder público com a intenção de coibir que uma obra nova, em um imóvel, viole direitos de vizinhança, regras condominiais ou normas municipais sobre o direito de construir – fungibilidade com a ação demolitória) e embargos de terceiros (procedimento especial de jurisdição contenciosa – Art. 1046 do CPC – voltado a combater uma indevida constrição judicial – penhora- sobre a posse ou a propriedade de um terceiro, alheio ao processo de execução). Pela maioria não são ações possessórias, e nunca foram. Não se destinam a proteger a posse, não estão em lei (no CC nem no CPC); por que a gênese de cada uma delas não é a defesa da posse. - Força nova ou força velha: Leva-se em conta a data do esbulho ou turbação. - de ano e dia: força nova. + de ano e dia: força velha. Ações possessórias podem ser: de força nova e de força velha (mais ou menos de ano e dia). Será possessória sendo nova ou velha. Sendo de força nova o procedimento será especial (instaura-se um juízo possessório, só pode discutir posse) e, sendo de força velha, será procedimento comum ordinário (instaura-se um juízo petitório, pode ser discutido outros assuntos, como propriedade). O que muda é o procedimento. Atenção! Ordinariamente, o procedimento comum ordinário é pentafásico (postulatória, conciliatória, saneatória, instrutória e decisória), já o procedimento especial não tem fase conciliatória e em seu lugar é possível uma liminar (antecipação da fase decisória, de natureza antecipatória). Para que o juiz conceda a liminar (depois da liminar, o procedimento ordinariza), é preciso que esteja provado três requisitos (art. 927 do CC): Que o autor da ação tinha a posse Que ele sofreu esbulho ou turbação Que este fato tenha ocorrido a menos de ano e dia Ver En. 238 da jornada. Nas ações possessórias de força velha não é possível conceder liminar, mas é cabível a tutela antecipada (requisitos genéricos das tutelas antecipadas – Art. 273 do CPC). - Características das ações possessórias: Proibição de alegação de propriedade, exceptio proprietatis ou exceptio domini. Art. 1.210, §2º do CC e Art. 923 do CPC. Cumulabilidade: Art. 921 do CPC. Admite que o autor cumule três outros pedidos sem perder o procedimento especial (perdas e danos, fixação de multa para evitar novo esbulho ou turbação e desfazimento de construção ou plantação). Para fazer outro pedido deve abrir mão do procedimento especial, e consequentemente da liminar. Natureza dúplice: Actio duplex. Art. 922 do CPC. O réu da ação possessória pode, na propria contestação, formular pedido contra o autor (proteção possessória e perdas e danos). Possui a mesma natureza do pedido contraposto dos juizados especiais. O réu se valerá de reconvenção. Intervenção especifica do MP. Art. 82, III do CPC. Haverá intervenção do MP como fiscal da lei quando se tratar de ação possessória cujo objeto for litígio coletivo pela posse de terra rural. Propriedade - Noções conceituais e extensão: A propriedade é um feixe de direitos, um complexo de poderes sobre uma coisa. O poder complexo do titular sobre uma coisa. Art. 1228 do CC. É a soma: uso + gozo/fruição + livre disposição + reivindicação + título (art. 1245 e 1267 do CC) = propriedade (é o mais amplo e ilimitado de todos os direitos subjetivos). Quem não tem título não pode ter propriedade, mas tem domínio. Há uma diferença entre domínio e propriedade! O direito de propriedade é exercido perante as pessoas por força de sua oponibilidade Erga Omnes, conferida pelo título. Já o domínio, é exercido sobre a coisa, sem a possibilidade de oposição a terceiros. Ordinariamente, quem tem propriedade tem domínio. Ex: usucapiente. Quem tem somente um dos poderes (uso ou gozo), tem posse. - Ações cabíveis: Não são fungíveis. Posse: Ações Possessórias (tem procedimento especial) Domínio: Ações Publicianas com natureza meramente declaratória. A sentença de procedência destas ações não servirá de registro para a propriedade do cartório. Para obter a propriedade, deve ser ajuizada ação de usucapião. Propriedade: Ações Reivindicatórias. Quando for ajuizada pelo Estado, ganha o nome de Ação Discriminatória, com procedimento especial. Os poderes que compõem o domínio são fracionáveis, desmembráveis. Ex: usufruto (uso + gozo/fruição). Esse desmembramento permite a constituição de direitos reais sobre coisa alheia. Na constituição de direitos reais sobre coisa alheia o titulo sofre um desmembramento dos poderes que compõem o seu domínio, sem afetar a titularidade da propriedade, mas sofre um abalo nos poderes do domínio. Ex: servidões, usufruto, superfície, hipoteca. - Extensão da propriedade: acompanha a mesma lógica do conceito de propriedade. A propriedade do solo abrange também o espaço aéreo e o subsolo. Contudo o proprietário não pode se objetar a atividades em seu espaço aéreo e subsolo que violem diretamente o seu interesse. Art. 1229 do CC. Ver. 1230 do CC (já se nota a função social da propriedade). Art. 176, §4º da CF. - A descoberta: encontrar coisa móvel alheia perdida. Não gera aquisição de propriedade. Aquele que encontrou a coisa perdida está obrigado a restituí-la (obrigação de dar), não sabendo quem é o proprietário, deve entregar à autoridade e esta deverá descobrir o titular. Se o titular não for encontrado, a coisa ficará para o poder público. Porém, o descobridor terá direito a uma recompensa, chamado “Achádego”, sendo fixado pelo juiz de pelo menos 5% do valor da coisa (mesmos critérios para fixar os honorários). Obviamente, terá direito as despesas com a manutenção da coisa. A descoberta enquadra-se como ato-fato jurídico, pois, emana de uma conduta humana, produzindo efeitos jurídicos independentemente da vontade e até mesmo contra essa vontade (“achádego”). A recompensa oferecida pelo titular da coisa, quando renunciada,configura renúncia ao crédito, e se este for insolvente, estará cometendo fraude contra credores. - Exceção ao sistema geral de descoberta: Dizem respeito às hipóteses nas quais o descobridor adquirirá a propriedade da coisa descoberta. Quando não localizado o proprietário, o poder público não tiver interesse na coisa. Ex: cachorrinho. Quando localizado a proprietário, este renunciar em favor do descobridor. Não se pode confundir descoberta com ocupação. Art. 1263 do CC (“Res Nullius”). Ex: caça e pesca. A ocupação gera aquisição de propriedade. Também se difere da Arrecadação de coisas vagas (Art. 1175 do CPC), que ocorre em virtude de um prestador de serviços e não se reivindicou em 1 mês. Ex: lavanderia, oficina etc. Ver. Art. 132 do CC. - Função social da propriedade: É um ônus imposto ao titular. O direito de propriedade privada foi consagrado na CF, juntamente com o cumprimento da função social. Art. 5º, XXII e XXIII da CF e Art. 1228, §1º do CC. A propriedade privada está protegida desde que cumpra a sua função social, o que impôs uma obrigacionalização do direito de propriedade. É a busca de uma finalidade para o direito de propriedade, com a valorização da pessoa humana e nos ideais existenciais. STJ, Resp 27039/SP. Dentro do conceito de função social da propriedade hospedam-se diferentes funções: função econômica, ambiental, humana etc. Ver. Súm. 668 do STF. Toda e qualquer propriedade tem que cumprir a função social (“Função social das propriedades”). En. 53 da jornada (função social da empresa). - Propriedade Resolúvel: a regra geral é de que a propriedade é sempre perpétua (e não vitalícia, pois se extingue com o titular), transmissível para os herdeiros do titular. Contudo existem casos em que a propriedade se extingue juridicamente e estes casos recebem o nome de Propriedade Resolúvel. Impede-se a transmissão do direito de propriedade. Podendo ser com causa: Originária: Caracteriza-se quando o motivo da resolubilidade de propriedade constar do próprio título aquisitivo expressamente. Não se pode alegar boa-fé, pois a causa de resolução consta do próprio título. Ex: retrovenda (Art. 505 do CC), alienação fiduciária. Superveniente: Caracteriza-se quando a propriedade é adquirida com caráter perpétuo, mas um fato posterior, não previsto no título a torna resolúvel, extinguindo os direitos do titular. Aqui pode ser alegada a Boa-Fé. Ex: revogação de doação por ingratidão do donatário. Art. 557 do CC. - Efeitos jurídicos da resolubilidade de uma propriedade: Se a propriedade é resolúvel por causa originária, extinta a propriedade, extinguem-se todos os direitos de terceiros constituídos em sua pendência (O terceiro não pode alegar Boa-Fé). Se a propriedade é resolúvel por causa derivada, extinta a propriedade, não serão atingidos os direitos de terceiros constituídos em sua pendência (em preservação à Boa-Fé dos terceiros). O legítimo proprietário exercerá direito regressivo. Ex: herdeiro aparente (Art. 1827 e 1828 do CC). - Aquisição da Propriedade: Originária: não há translatividade. Não há relação jurídica de transmissão. É livre e desembaraçada. Usucapião: É modo originário de aquisição de propriedade (e de outros direitos reais da coisa alheia) pelo lapso temporal. É outro lado da moeda da prescrição e por isso, aplicam-se a Usucapião todas as regras da prescrição. Se não corre prescrição, também não corre o prazo de usucapião (usucaptivo). Requisitos: Obrigatórios: Posse qualificada: possa mansa, pacífica, ininterrupta e com animus domini. Coisa idônea ao usucapião: suscetível de ser adquirida. Ver. STJ Resp 174108/SP (possibilidade de usucapião de bem de família). Lapso temporal: fluência do tempo. Admite-se soma de posses, por ato inter vivos ou causa mortis. Facultativos: a presença desses dois requistos faz com que o prazo seja reduzido. Justo título: instrumento público ou particular que seria idôneo para transmitir a propriedade se não fosse um vício que pesa sobre ele. Ex: escritura pública com evicção. É possível de coisa roubada ou furtada por que a Boa-Fé não é requisito obrigatório da usucapião. Boa-Fé Acessões: Significa ampliação. Naturais: Geradas pela natureza Avulsão: É o desprendimento abrupto e repentino de terras, por força das águas, acoplando-se a outro imóvel. Prazo decadencial de 1 ano para o proprietário prejudicado para reclamar a avulsão. Aluvião: É o desprendimento lento e gradual de terras somando-se a outra propriedade. Não há direito algum. Formação de ilhas: É o acúmulo de terras em meio às águas. Se for formada em mares ou em rios navegáveis pertence à União, se não ocorrer nestes locais, pertencerá ao ribeirinho respectivo. Abandono de Álveo (ou álveo abandonado): É a superfície do rio ordinariamente submerso pertencerá ao proprietário ribeirinho correspondente. O álveo abandonado dos rios navegáveis pertence ao ribeirinho respectivo. Artificiais: Geradas pela intervenção do homem Construções e plantações: são acréscimos na coisa, por força da atuação do homem, submetendo-se ao Princípio da Gravitação Jurídica. Pertencerá ao proprietário do titular. - Exceção à Teoria da Gravitação: art. 1255, §único: inverte-se essa teoria quando a construção ou plantação foi feita de boa-fé em terreno alheio e excede manifestamente o valor do principal. Derivada: quando há translatividade. Relação jurídica de transmissão. É adquirida com todos os vícios que a maculam. Registro em cartório: Art. 1245 a 1247 do CC. O registro em cartório tem força probandi relativa. Só há um caso de força probandi absoluta, que é o Registro Torrens (é exclusivo de imóveis rurais e depende de decisão judicial, ouvido o MP). Ver. RE 175739/SP (é possível responsabilidade civil do Estado pela evicção decorrente de conduta imputável à oficial do cartório). Função social registral: É a proteção de terceiros que confiam em um registro. Resp 675361/CE (proteção do terceiro de boa-fé que adquiriu em fraude de execução). - Hipóteses de retificação do registro imobiliário: Retificação em cartório por procedimento administrativo: quando não houver interesse de terceiros. Ex: nome colocado errado Retificação em juízo registral por procedimento de jurisdição voluntária (é a possibilidade de o juiz decidir por equidade): quando houver interesse de terceiros, mas não gerar ampliação de área do imóvel. Ex: modificação do valor da compra e venda. Retificação em juízo cível por procedimento comum ordinário: quando houver interesse de terceiros e gerar ampliação da área do imóvel. Espécies de Usucapião: Extraordinário: Art. 1238 do CC Requisitos obrigatórios +: Prazo de 15 anos: se provada a função social, o prazo reduz para 10 anos. Ordinário: Art. 1242 do CC. Necessariamente está baseado em justo título. Requisitos obrigatórios + facultativos +: Prazo de 10 anos: se presente a função social o prazo reduz para 5 anos. Para que se dê essa redução de prazo, é preciso, além do cumprimento da função social, é preciso que o justo título tenha se constituído por instrumento público. Os requisitos facultativos são o justo título e a boa-fé. Tabular: Art. 214, §5º da Lei de Registros Públicos. É uma possibilidade específica de discussão de usucapião nos autos de uma ação anulatória de registro público. Permite-se ao réu invocar em seu favor a usucapião. É baseado em economia e celeridade. É usucapião baseado na aquisição originária da propriedade. Especial rural ou pró labore: Art. 191 da CF. esta categoria pode ser adquirida mais de uma vez (pode adquirir e alienar). Requisitos obrigatórios +: Prazo de 5 anos Imóvel rural não superior a 50 hectares Inexistência de propriedade de outro imóvel, rural ou urbano. Prova-se com certidões negativas de inexistência de propriedade no lugar no imóvel usucapiendo e na comarca do domicilio do usucapiente. Finalidade de moradia ou produtividade da terra (função social). Especial urbano ou pró-moradia: Art. 183 da CF 1240 do CC. Só pode ser adquirido uma única vez (direitosocial de moradia). Requisitos obrigatórios + : Prazo de 5 anos Imóvel urbano não superior a 250 m² Finalidade de moradia Inexistência de outra propriedade rural ou urbana. OBS: No caso do usucapião rural e urbano admitem a soma de posse por seus antecessores. Usucapião conjugal, por abandono de lar ou familiar: Art. 1240-A do CC. Requisitos obrigatórios +: Prazo de 2 anos Imóvel urbano não superior a 250 m² Finalidade de moradia Inexistência de outra propriedade rural ou urbana Imóvel único de propriedade do casal, servindo para moradia. Usucapião de meação. Abandono do lar conjugal pelo prazo de 2 anos. Também incide na união estável e na união homoafetiva. Art. 1573 do CC (abandono de lar como causa culposa de dissolução de casamento). A EC 66/10, que modificou o Art. 226, §6º da CF impede a discussão sobre culpa na dissolução do casamento, com isso, deve-se perceber que a prova do abandono de lar não constitui discussão sobre culpa é apenas um requisito específico. OBS: Esse usucapião provavelmente será discutido na ação de divórcio, e a competência é da vara de família. Ver CC 7304, STF. A competência será, fixada não pelo pedido, mas pela causa de pedir. Aqui o pedido é de natureza civil, mas a causa de pedir é uma relação familiar. A Súm. 237 do STF, permite que todo e qualquer tipo de usucapião seja alegado como matéria de defesa, na contestação (como exceção substancial), inclusive o conjugal. - Por conta do efeito Erga Onmes, se faz necessária a citação dos confinantes e a sentença de improcedência do pedido do autor não pode ser levada ao registro. Em se tratando de usucapião especial urbano e rural, o Estatuto da Cidade e a Lei 6969/81 autorizam o registro. - Intervenção do MP na usucapião alegado como matéria de defesa: O MP não intervirá nas ações em que o usucapião for alegado como matéria de defesa, ordinariamente, pois só opera efeito inter partes. Salvo se for especial rural ou urbano. OBS 1: O Art. 33 do Estatuto do índio (Lei 6001/73) o usucapião indígena no prazo de 10 anos e é exclusivamente em favor do índio integrado ou não, desde que não se trata de bem público. OBS 2: O Art. 68 do ADCT estabelece outro tipo de usucapião, sendo este, especial em favor de remanescentes das comunidades de quilombos. Aqui não tem prazo, basta provar a continuidade da posse e o poder público emitirá o título de propriedade respectivo. Condomínio - Noções gerais: Ordinariamente a propriedade é exclusiva, contudo é possível o exercício simultâneo da propriedade por duas ou mais pessoas, que se chama condomínio. É a copropriedade. São duas ou mais pessoas exercendo ao mesmo tempo o mesmo direito de propriedade. Pluralidade de sujeitos e unicidade de objetos. Em nada afetará o caráter exclusivo da propriedade, apenas tendo duas ou mais pessoas exercendo o mesmo direito. Subjetivamente é comunhão e objetivamente é indivisão. Todos os condôminos exercem o seu direito como um todo, independentemente de sua cota. Haverá qualitativamente uma igualdade e quantitativamente uma diferença. Ordinariamente o condomínio tende à extinção, pois todo condomínio é fonte de conflitos, então o CC colabora para essa extinção. - Condomínio Tradicional ou comum: Exercício simultâneo do direito de propriedade por duas ou mais pessoas. Generalidades: É a copropriedade. Ex: casamento e herança (droit se saisine – toda herança estabelece um condomínio que só é dissolvido pela partilha). Direitos dos condôminos: Direito de uso e fruição da coisa como um todo independentemente da sua fração ideal (cota parte). É por isso que se diz que qualitativamente são tratados de forma igual. Um não pode usucapir, como regra, pois todos estão usufruindo o todo. Porém, admite-se exceção (Resp 10978/RJ): quando um condômino estabelecer posse com exclusividade afastando os demais. Possibilidade de defesa da coisa condominial como um todo, independentemente da fração ideal, podendo se valer de ação possessória e reivindicatória, independentemente de sua parte. É a consequência lógica do primeiro. Contra terceiros, o condômino pode se valer de possessória e reivindicatória, porem, contra cada condômino só cabe ação possessória, pois o outro também é proprietário. Direito de voto nas deliberações sobre a coisa condominial proporcional ao seu quinhão. O direito de voto está condicionado ao adimplemento das cotas condominiais (homenagem à função social). Esta regra também se aplica ao condomínio edilício. Direito de preferência, na hipótese de destinação à locação. Direito de alienar (vender ou doar) ou onerar (dar em garantia) a sua fração ideal, não se exige o consentimento de todos, bastando a vontade do titular. Esse tratando de alienação onerosa (venda ou dação em pagamento), o CC exige (Art. 504 do CC) o respeito ao direito de preferência. Isso não se aplica na alienação gratuita (liberalidade) ou na oneração. Por analogia aplica-se a Lei de Locações (Lei 8.245/91), em seu Art. 27 estabelece que o direito de preferência será dado por meio de notificação judicial ou extrajudicial os demais condôminos, prazo mínimo de 30 dias. Concurso de preferências: terá preferência aquele que tiver o maior volume de benfeitorias (homenagem à função social). Se não há benfeitorias será aquele com o maior quinhão. Se todos possuem o mesmo quinhão, será aquele que oferecer a melhor proposta. Não respeito ao direito de preferência: a consequência é a mera ineficácia do negócio em relação ao condômino preterido. É eficaz em relação ao terceiro, assim o condômino prejudicado disporá do prazo decadência de 180 dias (contados do conhecimento da venda – Actio Nata) para ajuizar uma ação de adjudicação compulsória, depositar o valor tanto por tanto e adquirir a propriedade da coisa. Há um litisconsórcio passivo, unitário, necessário. - Se um dos condôminos se recusar a dar consentimento na alienação do todo, cabe suprimento judicial, para se evitar abuso de direito (não é preciso provar a culpa). Deveres dos condôminos (também chamado de comunheiro): Respeitar a finalidade da coisa condominial. Significa não alterar a sua destinação. Não conceder uso ou gozo a terceiros sem o cosentimento dos demais condôminos, cabendo defesa da coisa. Responsabilidade pelos frutos colhidos isoladamente. O acessório segue o principal (Teoria da Gravitação jurídica). Os frutos serão partilhados proporcionalmente ao quinhão de cada um. Se colher frutos isoladamente, será obrigado a partilha-los. Ver STJ 622472/RJ (o STJ estabeleceu que os frutos dos bens comuns são comuns e consequentemente o cônjuge que ficar sozinho no imóvel comum terá de indenizar o outro pela metade do valor do aluguel no período (que será contato a partir da citação da ação). Mas também será dividido o valor das despesas com a coisa comum. Responsabilidade proporcional ao quinhão pelo rateio das despesas comuns. O CC permite a renúncia à fração ideal para que se exonere da responsabilidade (Renúncia de propriedade), assim os outros condôminos adquirirão proporcionalmente a fração ideal do renunciante. Administração: eventualmente o condomínio poderá exigir um administrador. No caso do casamento a administração será comum do casal. Nos demais casos, a administração será eleita pela maioria das frações ideais. Havendo divergência, o juiz decidirá o administrador. Cada um poderá pedir a prestação de contas do administrador. - Incidência da Teoria da Aparência no Condomínio: se justifica na proteção de terceiros de boa-fé que celebram atos com o condomínio. Um terceiro de boa-fé que celebrou um negócio com um administrador aparente de um condomínio. A jurisprudência estabelece que neste caso o condomínio responde pelos atos que ele praticar com o terceiro de boa-fé. O condomínio terá direito de regresso. Espécies: Legal: Forçado: É um condomínio imposto por lei em hipóteses necessárias. Ex: muro, cerca, pastos etc. Fortuito: É aquele que se forma pelo acaso. Ex: sucessão hereditária. Voluntário: Ex: regime de bensdo casamento e da união estável. Extinção: nasce para se extinguir, ou seja, a temporariedade é intrínseca ao condomínio. A extinção não incide sobre o condomínio legal. Todo condomínio tem direito de requerer a divisão da coisa comum a qualquer tempo. Art. 1320 do CC (ação de divisão – regras da partilha sucessória). As partes podem estabelecer a indivisibilidade temporária da coisa, pelo prazo máximo de 5 anos renovável por mais 5. Se foi constituído por doação ou herança, não se admite a prorrogação nenhuma vez. Durante o período de indivisibilidade somente é possível requerer a divisão da coisa comum, se apresentada justa causa. Se não for possível a divisão, será caso de alienação judicial da coisa (é residual e os condôminos terão preferência em relação aos terceiros se oferecerem a mesma proposta). Ver Resp 791147/SP - Condomínio edilício: É uma forma especial de condomínio. É um “mix” de propriedade comum e de propriedade exclusiva. Elementos componentes: Ver Resp 1902/RJ (aplicação das regras do condomínio edilício a todo e qualquer conjunto formado por unidades autônomas e áreas comuns, inclusive as vilas de casas). Unidades autônomas Áreas comuns - Questões polêmicas sobre os elementos componentes: Áreas comuns são insuscetíveis de usucapião. O condomínio permite que estabeleça posse sobre a área comum. Possibilidade de Supressio em área comum de condomínio edilício. Resp 356821/RJ e Resp 214680/SP e En. 247 da jornada. Legitimidade de todo e qualquer condômino para o manejo de ações possessórias/reivindicatórias na defesa das áreas comuns. Impossibilidade de encravamento da unidade autônoma. Só se aplica aos condomínios de casas. Toda unidade autônoma tem acesso à via pública. Cobertura ou terraço: ordinariamente é área comum, exceto se o ato constitutivo do condomínio dispuser expressamente que ele pertence a alguma unidade autônoma (terá maior contribuição de taxa condominial). Se for área comum, só poderá ser alienado por uma unidade autônoma somente pela unanimidade de condôminos. Admite-se suprimento judicial para evitar abuso de direito (elemento objetivo, não se discute culpa). O condomínio edilício não admite o direito de sobrelevação (direito de laje), não podendo aumentar os limites de construção do condomínio edilício. Garagem: Existem três sistemas diferentes de garagem Constituem área comum, pertencendo ao condomínio. Tecnicamente fala-se em estacionamento. Será a convenção do condomínio que disporá sobre sua utilização. É acessório da unidade autônoma, o qual o titula adquire o imóvel com “tantas” vagas de garagem. Não pode ser alienada separadamente. A garagem com unidade autônoma: não é acessório, é a própria unidade autônoma em si mesma (tem registro próprio). Caso dos edifícios garagem. Súm. 449 STJ. OBS! A convenção pode permitir o aluguel de garagem e quando permitir, o condomínio terá preferência sobre terceiro. Natureza jurídica: É de ente despersonalizado. Não é pessoa jurídica, mas possui CNPJ. En. 246 da jornada. STJ, MC 15422/SC (é pessoa jurídica para fins de contribuição previdenciária). Lei 4591/64, Art. 63, §3º (o condomínio pode adquirir bens em nome próprio). Atenção! Não incide a Teoria da Gravitação no condomínio edilício. Neste sentido enuncia a Súm. 308 do STJ. Time Sharing: Significa a multipropriedade imobiliária. Foi criado em países europeus que são bem menores que o Brasil, como instrumento facilitador de acesso aos bens de lazer. É um novo modelo de condomínio (no tempo e não no espaço). Cada proprietário terá o direito de utilizar uma determinada unidade autonomia um determinado número de vezes no ano. Haverá uma escritura pública. O IPTU será proporcional ao tempo de uso no ano. Há uma empresa que deve agendar os dias de uso de cada condômino. Existe outra forma de Time Sharing no Brasil, o chamado Time Sharing turístico hoteleiro. Esse tipo de venda é nula (abusiva). Elementos constitutivos: Todos os condomínios edilícios passarão por essas três etapas. Ato de instituição: Art. 1332 do CC. Pode decorrer de instrumento público (registrado no cartório de imóveis) ou testamento (não precisa ser público). É preciso indicar o lugar e a área do condomínio. Este ato de criação é vinculante, só podendo ser modificado pela unanimidade dos condôminos e deve, obrigatoriamente abordar três matérias (só podem ser alteradas por unanimidade): Indicação das áreas comuns e das unidades autônomas. A fração ideal de cada unidade autônoma. Finalidade do condomínio. Convenção do condomínio (natureza estatutária): É quem delimita os direitos e deveres recíprocos entre os condôminos. Deve ser aprovada e posteriormente modificada por 2/3 das frações ideais (o proprietário da cobertura, por exemplo, terá um poder maior). Só pode votar o condômino que estiver adimplente com a convenção condominial. Ver Súm. 260 do STJ. O registro é condição eficacial em relação a terceiros. Matérias obrigatórias: Art. 1334 do CC Previsão do regimento interno Competências das assembleias ordinária e extraordinária. Forma de administração do condomínio Sanções aplicáveis aos condôminos (não eliminam as previstas nos Arts. 1336, §2º e 1337 do CC – condômino antissocial). Taxa condominial: o CC estabelece que a Cláusula penal não pode exceder 2% ao mês e o juros não podem exceder 1% ao mês. No Resp 722904/RS o STJ estabeleceu que aplica-se novo limite de multa aos condomínios estabelecidos antes do CC/02. Já no Resp 746589/RS, o STJ estabeleceu que a nova multa vincula inclusive as prestações vencidas antes do CC/02. O Resp 1002525/DF o STJ estabeleceu que o juros pode ultrapassar 1%, mas a multa não e a correção monetária só será devida se houver cobrança judicial. No Resp 247288/MG o STJ estabeleceu que a taxa de condomínio é obrigação propter rem. Por fim, no Resp 147485/MG o STJ admitiu a penhora de bem de família para o pagamento de taxa condominial. Ver Art. 1277 do CC. Regimento interno: É uma espécie de manual de instruções para o uso das áreas comuns. Será aprovado e modificado por maioria simples das frações ideais. Direitos Reais de coisa alheia - Noções gerais: Nasce do desmembramento dos poderes do domínio, neste caso, haverá um esvaziamento do domínio, fazendo surgir um novo direito real a partir da propriedade, sem atingir a titularidade. Não reduz a dimensão da propriedade, mas reduz severamente o domínio. Art. 1228 do CC, a propriedade consiste em uso, gozo/fruição, livre disposição e reivindicação (são poderes desmembráveis). É possível que o proprietário desmembre parcela dos poderes do domínio sem afetar a sua titularidade (propriedade). É possível que conceda todos os poderes e ainda assim não perder a propriedade (só ele tem título), chamado enfiteuse. OBS! Hoje em dia já se fala em função social dos direitos reais de coisa alheia, pois se a propriedade precisa cumprir a função social, quem detiver os poderes do domínio terá de cumprir também. É uma consequência lógica da função social da propriedade. Submetem-se ao Princípio da Tipicidade. Art. 225 do CC. - Classificação: Art. 1226 do CC. Gozo/fruição da coisa: Conceder direito a terceiro a retirada da utilidade da coisa. Servidão Superfície Usufruto Uso Habitação Enfiteuse Garantia: assegurar o cumprimento de uma obrigação preexistente, garantindo seu adimplemento. Se não houver adimplemento voluntário, o credor executa a coisa dada em garantia. É diferente de preferência creditícia (Art. 83 da Lei de Falências – que executa o patrimônio todo). Só existirá com especialização (qual a coisa, valor, dato do vencimento e juros). Hipoteca Penhor Alienação fiduciária Anticrese Aquisição: Constitui-se um direito em favor de terceiros para viabilizar a aquisição da coisa pelo terceiro, e através dos poderes do domínio, adquire o título. Promessa irretratável de compra e venda: É um direito Sui Generis, uma relação contratual com efeitos de direito real. A promessa de compra e venda de bem imóvelseria irretratável salvo disposição em contrário (DL 58/37). Súm. 166 do STF. Criação da Lei 6.766/79, que em seu Art. 25 estabelece que em se tratando de imóvel loteado rural ou urbano a cláusula de arrependimento é nula. A promessa terá eficácia real se não contiver cláusula de arrependimento (Art. 1417 do CC). A promessa de compra e venda terá eficácia real se não contiver cláusula de arrependimento (retrato), de qualquer sorte, a clausula de retrato será nula quando se tratar de promessa de compra e venda de imóvel loteado rural ou urbano, quando se tratar de relação se consumo, quando se tratar de contrato de compra e venda submetido ao DL 58/37. Sobraram os contratos paritários com clausula de retratação expressa, desde que não tenha sido pago o valor do contrato. Efeitos jurídicos da promessa: Confere posse ao promitente adquirente. Não pode usucapir, pois não tem animus domini, pois há um contrato, se romper essa relação poderá usucapir. Direito à aquisição forçada: Adjudicação compulsória: DC 58/37, Art. 15. Ver Súm. 239 do STJ (refere-se à aquisição forçada). Ação de outorga de escritura: Art. 466-B do CPC Necessidade de constituição em mora do promitente comprador para que o vendedor possa reaver a coisa. É preciso notificação (indicando o valor) prévia como condição de procedibilidade da ação, com prazo mínimo de 15 dias se não estiver loteado e 30 se estiver loteado. Ver Súm. 76 do STJ. Atenção! Apesar de ter posse e não propriedade, o STJ o legitima para ação reivindicatória. Resp 55941/DF e Súm. 84. - Gozo e fruição: Enfiteuse: É o mais amplo de todos os direitos reais de gozo e fruição, transferem-se todos os direitos do domínio (livre disposição da enfiteuse) para o terceiro (enfiteuta ou foreiro). O proprietário (senhoril) fica somente com o título. Enfiteuse se caracteriza pela transmissão integral de todos os poderes da propriedade para um terceiro (enfiteuta) sob contraprestação, consistente no pagamento de uma pensão anual, certa e invariável (foro, cânon ou pensão). Para receber todos esses poderes do domínio. STJ Resp 267099/BA. Ver Art. 1266 do CC (em caso de achado de tesouro em terreno enfitêutico). - O Art. 2.038 do CC aboliu a constituição de enfiteuse e subenfiteuses. Aquelas que já existiam permanecem, sob a égide do CC de 16 (ultratividade da norma). - As enfiteuses de terras públicas e de terreno de marinha continuam regidas por lei especial, de natureza administrativa. Dec. Lei 9.760/46 (terreno de marinha) e Lei 9.636/98, Dec. Lei 2.398/87 (terras públicas). Não se submetem ao CC de16. Particularidades: a contraprestação admite reajuste e não admite resgate. Falta de pagamento de pensão: é certa, anual. A falta de pagamento do foro anual por 3 anos consecutivos, caracteriza o instituto do comisso. Súm. 122 e 169 do STF. Exceção à regra do Art. 219 do CPC Tanto o enfiteuta quanto o senhoril possuem direito de preferência. É a obrigação de ambas as partes de oferecer, no caso de alienação onerosa, oferecer primeiramente a outro. Neste caso, se o enfiteuta quiser alienar onerosamente seus poderes de domínio, deverá ofertar primeiramente ao senhoril e vice versa. Não sendo respeitada a preferência, a parte prejudicada poderá em 180 dias adjudicar compulsoriamente. Não existe direito de preferência na enfiteuse de terras públicas e de marinha. Quando a alienação onerosa é realizada pelo enfiteuta e o senhoril não exercer a preferência, o enfiteuta pode alienar a terceiro, mas o senhoril teria o direito ao laudêmio. É o direito de receber pelo menos 2,5% (salvo disposição em contrário) do valor do negócio nas alienações onerosas ou dações em pagamento. Ver Art. 2.038, §1º do CC (o CC quer facilitar a extinção da enfiteuse, vedando o laudêmio). Nas terras públicas o laudêmio continua vigente. Direito de resgate do enfiteuta: Para resgatar o título precisa pagar no mínimo 10X o número de pensões correspondente ao número de anos da enfiteuse + laudêmio. No resgate o laudêmio continua. Não há esse direito na enfiteuse de terras públicas. Na recusa em receber o depósito e entregar o título, caberá Consignação em pagamento. É nula a cláusula de renúncia ao direito de resgate. A enfiteuse admite condomínio. É a chamada coenfiteuse (2 ou + enfiteutas exercendo o mesmo direito sobre a mesma coisa). Se o cabecel não for eleito no prazo de 6 meses a nomeação passará para o enfiteuta. É perpétua. Mantém-se mesmo depois da morte do titular, se transmite aos herdeiros. Exceção: não incidirão, contudo, as regras do direito sucessório se o enfiteuta não deixar sucessor. Para evitar que o poder público fique com a enfiteuse, se o enfiteuta não deixar sucessor, extingue-se a enfiteuse, consolidando os poderes do domínio com o proprietário (tem natureza propter rem). OBS: É possível usucapião de enfiteuse de terra pública? Sim, pois não perderá a terra pública, somente o direito real de coisa alheia. Ver Resp 575572/RS Servidões: Servitus. Toda servidão é predial. É direito real da coisa alheia entre prédios, e não entre os titulares deles, gerando a obtenção de uma vantagem a um prédio que originalmente não tinha e que obtém de outro. É um prédio se servindo de outro. A palavra prédio é sinônimo de edificação (casa, ponte, condomínio edilício, monumento etc). - Não retira a titularidade de nenhum dos dois prédios. Os titulares serão os mesmos, mas sofrem um direito real de coisa alheia. Ex: cada um paga o seu IPTU (STJ, Resp 1.115599/SP). Tem uma íntima conexão com a função social da propriedade. Características: Estabelece um gravame entre dois prédios de natureza propter rem. Os prédios devem pertencer à titulares diversos. Não podem pertencer ao mesmo proprietário, sob pena de desnaturação do direito real da coisa alheia. Deixa de ser servidão e passa a ser mera serventia. A confusão na servidão gera extinção. A vantagem é estabelecida em favor do prédio, e não do titular. Não se presume, dependendo de constituição, podendo ser por: Negócio jurídico entre as partes por escritura pública Por testamento ou ato unilateral de vontade Por decisão judicial de ação de usucapião. En. 251 da jornada. Por força de lei. Perpetuidade da servidão. Havendo alienação, o adquirente recebe o prédio com a servidão. A servidão em si é inalienável (não é possível alienar a servidão separadamente). Tutela processual da servidão: Ação negatória do prédio dominado e confessória do prédio dominante (procedimento comum ordinário). Pode se valer também de uma ação possessória. Não se deve confundir servidão com direito de passagem forçada (também chamada de “Servidão predial legal”): Este último é direito de vizinhança imposto por lei para prédios encravados (terá direito de acesso à via pública do modo menos gravoso para o vizinho). Gera responsabilidade objetiva. Se já se tem uma passagem forçada, a outra terá de ser negociada como servidão. Espécies: Contínuas: independe de uma atividade humana. Ex: servidão de vista. Descontínua: é aquela cujo exercício depende do homem. Ex: servidão de água. Não aparente: visualizável por sinais externos. Ex: aqueduto subterrâneo Aparente: É aquela visível por sinais externos. Pode ser defendida por meio de tutelas possessórias (Súm. 415 do STF). Ex: servidão de trânsito A servidão se extingue pelo cancelamento: o CC registra que o não uso por 10 anos consecutivos também gera a extinção. STJ, Resp 207738/SP (a prova do não uso é do interessado). Superfície: É um mecanismo para viabilizar a função social. O Estatuto da Cidade trouxe para o Brasil (foi criado em Portugal) o direito real de superfície, em seu Art. 21. É a entrega a um terceiro da superfície de um imóvel para uso e fruição, construindo ou plantando e posteriormente restituindo a coisa. En. 93 da jornada (o CC e o Estatuto da Cidade regulam a superfície). Em se tratando de imóvel urbano, o direito de superfície é regulado pelo Estatuto da Cidade. Em se tratando de imóvel rural, regula-se pelo CC. O objeto no CC não abrange espaçoaéreo e subsolo, mas o Estatuto da Cidade sim. No CC, seu objeto é mais restrito que no Estatuto. No Estatuto da Cidade, o direito de superfície abrange também o direito de sobrelevação. A Superfície do CC é sempre por tempo determinado, do Estatuto da Cidade, pode ser por tempo determinado, ou não. Implica em consequência em relação à mora. No CC, sempre terá mora Ex Re, já no Estatuto pode ser Ex Re ou Ex Persona. Depende sempre de registro, podendo ser entre ato inter vivos ou causa mortis. Também pode ser adquirido por usucapião ou cisão. Pode ser gratuito ou oneroso, depende das partes. No silêncio é gratuito. Quando onerosa, a contraprestação recebe o nome de Cânom ou Solarium. Sua periodicidade será fixada pelas partes. O custeio dos tributos, quem arcará será o superficiário, salvo disposição em contrário. Mesma ideia da enfiteuse. É autônomo e independente do direito de propriedade. O superficiário pode oferecer o seu bem em garantia autonomamente. En. 249 da jornada. O direito real de superfície é resolúvel, o do proprietário é perpétuo. Admite-se transferência a terceiros, pela autonomia patrimonial, seja gratuita ou onerosamente, inter vivos ou causa mortis. Aqui também não se permite o laudêmio (pagamento ao titular pela transferência). Existe o direito de preferência recíproco. Extinto o direito de superfície, o proprietário readquire a plenitude do domínio, independentemente do pagamento de construções, plantações, e de qualquer indenização, salvo disposição em contrário. Mesmo quando constituído por pessoa jurídica de direito, será regido pelo CC. Usufruto: É direito real da coisa alheia amplo que permite ao terceiro a retirada das utilidades de uma coisa. Utilidades no sentido de posse, uso, fruição e administração. O usufruto é o direito que permite ter a coisa consigo, usá-la fruí-la e administrá-la. Art. 1394 do CC. Objeto: Art. 1390 do CC. É um bem frugífero (que produz frutos). Pode ser móvel, imóvel, patrimônio inteiro ou parte dele. Até mesmo um direito pode ser objeto de usufruto (crédito, autoral, aluguel). E bens fungíveis? Como ficaria a restituição da coisa? Neste caso passa a se chamar de “Usufruto impróprio” ou “Quase Usufruto”, seguindo as regras do mútuo. São admitidas restrições contratuais, decorrente vontade de quem constituiu o usufruto. Ex: usufruto de fazenda que não se pode extrair minerais. Todo usufruto é temporário, aquele estabelecido pelo titular, no máximo será vitalício se constituído para física ou terá o prazo de 30 anos quando constituído para pessoa jurídica. Conclusão: Não admite transmissão (nem por ato inter vivos nem causa mortis, é intuito personae). A morte gera a extinção. Além de ser intransmissível, é impenhorável. Ver STJ, Ag Rg Ag 851994. A nua propriedade não tem esse entendimento. O CC não admite usufruto sucessivo: É aquele de segundo grau. É personalíssimo. A cláusula de usufruto de segundo grau é nula de pleno direito. Admite-se o usufruto simultâneo (constituído em favor de duas ou mais pessoas). Não há que se confundir usufruto com fideicomisso, aqui haverá uma sucessividade de direitos reais. No usufruto há uma simultaneidade de direitos reais. Modos de constituição do usufruto: Por força de lei. Ex: Art. 1689 do CC Por sentença. Ex: ação de usucapião (usufruto místico) Por negócio jurídico, podendo ser por retenção ou por alienação (depende do tipo de negócio). Ex: doação, testamento. Usufruto indígena. STF PET 3388/RO (não se elevam ao patamar de território político). Uso e habitação: Constituem subespécies de usufruto. São usufrutos com finalidades específicas. Todas as regras se aplicam a eles, a normatividade do usufruto lhes é inerente. Possuem alcance familiar (abrange até os empregados domésticos). Uso: utilizar a coisa para fim específico sem recolher os frutos (sem fruição). Habitação: É um usufruto para utilizar para fins de moradia. O titular pode residir com sua família. Direitos Reais de Garantia - Introdução: É a afetação de um bem ao cumprimento de uma obrigação. Não se confundem com os privilégios creditícios, pois consiste na afetação de um bem específico ao cumprimento de uma obrigação. Só é possível falar de direito real de garantia, de bens suscetíveis de penhora, caso contrário, se mostra inidôneo para servir de garantia de uma dívida. O bem de família pode servir de garantia, pois o titular pode dispor de sua própria garantia. A Lei 8.009/90, no Art. 3º excepciona a proteção do bem de família, reconhecendo que se o titular ofertar o bem em garantia, cessa o regime de impenhorabilidade. - Vedação à Cláusula Comissória: É a cláusula que permite que o credor fique com a coisa na hipótese de inadimplemento. O CC no Art. 1428 proíbe a Cláusula Comissória (atenta ao Devido Processo Legal). - Imóveis financiados pelo FSH: o Dec. Lei 70/76 prevê a possibilidade de execução extrajudicial para a instituição financeira credora no caso de financiamento pelo FSH. O STJ conspira em reconhecer a legalidade da execução extrajudicial financiados pelo FSH. - Anticrese: É o “primo pobre” das garantias reais, é a mais simplificada das garantias, é uma garantia incompleta. Incompleta por que é direito real de garantia sobre bem frugífero (bem que produz frutos). O credor (anticrético) não terá direito a executar a coisa como um todo, terá direito de receber os frutos produzidos pela coisa, excepcionalmente. Na anticrese, o credor excepcionalmente o credor recebe os frutos da coisa para abater da dívida e em seguida executa o seu crédito. Não terá idoneidade para assegurar o cumprimento total da dívida. Primeiro abaterá dos juros e depois do montante principal. Exige instrumento público Prazo máximo é de 15 anos. Com 15 anos cessa a garantia, e não necessariamente a dívida. O credo anticrético pode ser compelido a prestar contas ao devedor. O devedor tem o direito de saber o volume dos frutos, para saber quanto ainda sobra da dívida. O meio idôneo é a Ação de Prestação de Contas (esclarecimento sobre os frutos colhidos). O bem anticrético pode ser hipotecado? Sim, são finalidades completamente distintas. Está em desuso, possui pouca aplicabilidade prática. Existe um instituto, a Imputação no Pagamento, ocorre o mesmo resultado que a Anticrese, porém, sem escritura pública, que se faz superada pela Imputação ao Pagamento. - Penhor: É direito real de garantia sobre coisa móvel corpórea ou incorpórea baseado na tradição. Tem dois elementos característicos, a coisa móvel e a tradição. É a entrega de coisa móvel para servir de garantia ao cumprimento de uma dívida. Aeronave e navio são insuscetíveis de penhor, apesar de ser coisa imóvel (serão móveis para fins de hipoteca). Havendo roubo ou furto da coisa empenhada, a dívida permanecerá e cessa a garantia e o credor pignoratício, terá a obrigação de ressarcir a coisa pelo valor de mercado. Se a coisa empenhada produzir frutos, eles dever ser abatidos da dívida. Estamos diante de uma Imputação ao Pagamento. STJ, Resp 730925/RJ Enquanto o credor pignoratício tiver posse, poderá sofrer esbulho ou turbação, se não fizer nada, deverá ressarcir a coisa. Mas poderá também não informar ao devedor, violando assim os deveres anexos à Boa-Fé. Deve ser informado, para proceder à defesa da coisa, na qualidade de possuidor indireto. Ex: violação positiva de contrato (gera responsabilidade objetiva - extracontratual). Características: Solenidade na constituição do penhor. Depende de contrato escrito, podendo ser por instrumento público ou particular, registrado no Cartório de Títulos e Documentos. Efetiva entrega da coisa (tradição). A coisa será entregue ao credor pignoratício, para guarda-la e executá-la se preciso. O credor não pode ficar com a coisa pra si. Se produzir frutos, ele poderá colhê-los. É possível constituir subpenhor? Sim, salvo disposição em contrário. Direito de retenção em favor do credor pignoratício, quando pagou alguma despesa para a manutençãoda coisa. Não se confunde com Cláusula Comissória, que significa ficar com o bem pra si (execução extrajudicial), é o direito de se manter na posse da coisa até a despesa seja efetivamente paga. Direito de exigir caução na hipótese de perecimento ou deterioração, não culposos, da coisa. Se o devedor se recusar a oferecer uma caução, ocorrerá vencimento antecipado da dívida. Espécies de penhor: Convencional: É aquele que decorre de negócio jurídico celebrado pelas partes, ou seja, decorre da vontade das partes. É baseado na entrega de coisa móvel em garantia de uma dívida. Especiais: Rural (agrícola ou pecuário): depende de registro no Cartório de Imóveis para ter eficácia sobre terceiros. Dispensa a tradição e a cosia permanece com o devedor. O credor tem direito de inspeção. O penhor rural incide sobre bens móveis da agricultura/pecuária, sobre as pertenças, imóveis por acessão física (plantações). Se incidir sobre a safra agrícola, abrangerá a safra seguinte. Tem prazo máximo de 3 anos se for agrícola e 4 se for pecuária, prorrogáveis uma vez. Industrial ou mercantil: também exige o registro no Cartório de Imóveis como condição eficacial perante terceiros. Incide sobre bens móveis de indústria ou comércio. Tem como característica a dispensa da tradição e terá direito de inspeção. O devedor pignoratício pode emitir uma cédula representativa da garantia (para permitir a circulação do crédito). De veículos: exige registro no órgão de trânsito, sob pena de nulidade. Exige a constituição de um contrato de seguro do automóvel, por que dispensa a tradição. Tem prazo máximo de 2 anos, prorrogável por igual período. Resp 200663/SP Títulos de crédito: ou penhor de direito (Art. 1472 do CC). É caução em título de crédito. É quando o credor que recebeu um título de crédito o entrega para o seu credor, ou seja, o crédito que ele tem serve para que ele garanta a sua própria dívida. Exige-se a notificação do devedor do devedor. Uma vê notificado, deverá pagar direitamente ao credor do credor sob pena de repetição do pagamento (“quem paga mal paga duas vezes”). Exige registro no Cartório de Títulos e Documentos. Exige-se a tradição. Penhor legal: Art. 1467 do CC. É uma garantia imposta por lei para determinados credores, somente por serem credores. Se efetiva de mãos próprias. Depois que a coisa for retida devera requer a coisa pelo procedimento cautelar chamado de Homologação de penhor legal (não tem prazo – ato contínuo). Titulares: Hospedeiros sobre os bens móveis dos hóspedes Dono de prédio sobre os móveis dos locatários ou rendeiro Artistas e auxiliares cênicos sobre o material da peça teatral. Lei 6533/98 Locador industrial sobre máquinas e aparelhos da indústria. Dec. Lei. 4191/42. - Hipoteca: É garantia sobre bem imóvel. Dispensa a tradição e exige contrato registrado no cartório de imóveis. A celebração do contrato é condição de validade, o registro no cartório de imóveis é condição eficácia perante terceiros. O devedor hipotecário continua na posse do bem. Não retira a posse do devedor, e não retira a alienabilidade da coisa, pois não perdeu a livre disposição. É nula a cláusula que impede a livre disposição da coisa hipotecada. Art. 1475 do CC. O devedor hipotecário pode dispor livremente da coisa. Exceção: os imóveis financiados pelo FSH. Ver Resp 857548/SC (no caso do FSH, exige-se a anuência da instituição financeira). Não obsta o total aproveitamento da coisa, continua sendo integralmente aproveitada pelo devedor hipotecário, sem restrições. Pode desmembrar, lotear, fragmentar etc. Não afeta a posse nem os poderes da propriedade. Objeto: Art. 1473 do CC. Todo e qualquer bem imóvel (acrescentem-se os navios e as aeronaves) e também direitos reais sobre bens imóveis (Ex: superfície). Abrange os frutos e acessórios da coisa, bem com as benfeitorias e construções. OBS! A hipoteca não abrange as pertenças (não é bem acessório pois tem funcionalidade própria). Pertença é um bem que se acopla a outro onde manterá a sua função, não se submetendo à Teoria da Gravitação Jurídica. Hipoteca sobre bem de família: Lei 8.009/90, Art. 3º. No caso, cessa o regime de impenhorabilidade se hipotecado. O STJ estabeleceu que somente é admissível a hipoteca do bem de família para assegurar dívidas constituídas em favor do núcleo familiar. O bem de família convencional não pode ser hipotecado (é impenhorável). Legal: só gera impenhorabilidade Convencional: gera impenhorabilidade e inalienabilidade. Espécies de hipoteca: Hipoteca convencional: Decorrente de contrato escrito e registrado em cartório. Baseia-se na voluntariedade. Todo o regime estudado foi o da hipoteca convencional Hipoteca judicial: Art. 466 do CPC. Tem natureza processual e decorrerá de sentença proferida em ação condenatória. Hipoteca legal: Art. 1489 do CC. A mesma sistemática do penhor legal. O ordenamento reputa a alguns credores merecedores de proteção especial. Decorre da simples existência da relação jurídica, o juiz não precisa reconhecer. É necessária a especialização da hipoteca legal por meio de procedimento de jurisdição voluntária. Art. 1205 do CPC. Casos de hipoteca legal: Bens dos servidores públicos do fisco em favor do Poder Público Bens do criminoso em favor da vítima ou de seus sucessores Bens dos pais que casam sem inventariar o patrimônio anterior em favor de seus filhos. É o caso mais comum Bens do herdeiro que adjudicou imóvel indivisível na partilha em favor dos coerdeiros. Bens do arrematante em hasta pública em favor do credor exequente. Prazo de extinção da garantia hipotecaria: É a chamada perempção de hipoteca, que é de 30 anos. A garantia se extingue, mas permanece a dívida. Atenção! Toda e qualquer hipoteca pode ser representada por uma cédula, portanto, toda hipoteca pode ser cedular. Dec. Lei. 70/66 OBS! Toda e qualquer hipoteca admite diferentes graus, ou seja, admite-se a sub-hipoteca. O credor hipotecário de 1º grau não precisa anuir, pois não retira a preferência do credor de 1º grau. - Alienação Fiduciária em garantia: É o mais antigo de todos os direitos reais de garantia, vem do direito romano, que se chamava Fiducia cum Creditore. É um dos negócios fiduciários permitidos pelo direito brasileiro. Fideicomisso é uma substituição em negócio gratuito (só é permitido no testamento em favor de prole eventual – Art. 1952 do CC). É uma garantia consistente na transferência da propriedade de um bem para o credo (o credor recebe propriedade de um bem). Ex: propriedade resolúvel. Objeto: Podem ser bens móveis ou imóveis (Lei 9.514/98). Ver Súm. 28 do STJ admite que o objeto seja inclusive bens já pertencentes ao devedor. Registro: Em se tratando de bem imóvel o contrato precisa de registro no Cartório de Imóveis, de móvel, registro no Cartório de bens e documentos, se for automóvel o registro será no DETRAN. A falta de registro faz valer somente entre as partes, não terá oponibilidade contra terceiros. Súm. 92 do STJ e 489 do STF. OBS! O credor não precisa ser instituição financeira, pode ser pessoa física, jurídica e até mesmo ente despersonalizado. - Admite-se tanto a cessão da posição de credor (independe da anuência do devedor) quanto a de devedor (depende de anuência do credor). - É possível o pagamento por terceiro na alienação fiduciária. Exceção ao Art. 304 do CC. Pagamento por terceiro (regra): interessado (gera sub-rogação) e não interessado (reembolso). Na alienação fiduciária, funciona de forma diferente, mesmo que o pagamente tenha sido feito por um terceiro não interessado, gerará sub-rogação (para facilitar a circulação do crédito). Patrimônio de afetação: Lei 10.931/04 – Lei do Mercado Imobiliário. Tornou a alienação fiduciária patrimônio de afetação. O bem fiduciário está livre de penhoras e execuções tanto pelos credores do credor quanto pelos credores do devedor, um e outro não podem penhorar o bem, pois têm finalidade específica. E o crédito do credor fiduciário? Pode ser penhorado. Aspectos processuais: Tutela processual daalienação fiduciária: Reintegração de posse (imóvel) Busca e apreensão (móvel): é uma medida autônoma, não tem natureza cautelar e, portanto não exige a propositura de uma ação principal. Ver. Resp 577693/MG. Frustrada a busca e apreensão, caberá perdas e danos. Ver também: Resp 401702/DF; Resp 469577/SC (Substancial performance). OBS! Embora a mora seja Ex Re, a Súm. 72 do STJ, exige notificação para a propositura da ação. Direito das Sucessões - Sucessão em geral: Capacidade Sucessória: É a aptidão para ser herdeiro ou legatário. Prende-se à ideia de atributo sucessório para suceder. Não se confunde com capacidade jurídica (praticar atos jurídicos pessoalmente). A melhor expressão seria legitimidade sucessória. Pessoas nascidas ou concebidas: Art. 1798 do CC. Essa capacidade se dará no momento da abertura da sucessão, sendo irrelevantes eventuais modificações posteriores. Concebidas: abrange a concepção laboratorial? Para alguns autores, como Caio Mário e Tartuce respondem que o embrião laboratorial não tem capacidade sucessória, pois somente ao se tornar nascituro teria o conceito jurídico de concepção, que dependeriam do útero. Para eles, o conceito jurídico de concepção é uterino. Para outros autores, o embrião de laboratório tem sim capacidade sucessória (majoritária). Deve atender ao princípio constitucional da Igualdade entre os filhos. I Aqui deve-se atender à Lei de Biossegurança, que só poderá ficar guardado por 3 anos. O prazo para a ação de petição de herança é de 10 anos. Ocorre a ampliação de capacidade sucessória no que tange à sucessão testamentária, além de suceder pessoas nascidas ou concebidas, também terão essa capacidade: pessoa jurídica, pessoa jurídica a ser constituída com o patrimônio transmitido (fundação) e a prole eventual (ou concepturo). O prazo para conceber é de 2 anos contados da abertura da sucessão. Neste último caso também se inclui a adoção, salvo disposição expressa do testador. Art. 1799 do CC, o I, reduz, limita o benefício em favor de prole eventual. OBS: O fideicomisso só é admitido em favor de prole eventual. Incapacidade sucessória: Quem não pode suceder. Quem não é nascido ou ao concebido (Art. 1.798 do CC) Tabelião ou quem redigir o testamento, as testemunhas testamentárias (acima de 16 anos pode), aquele que redigir o testamento a rogo do testador. Concubina (Art. 1801, III do CC e 1.723, §1º do CC). E a pessoa interposta (a simulação gera nulidade, havendo presunção absoluta de simulação quando se tratar de descendente, ascendente, cônjuge ou companheiro e irmão das pessoas incapazes de suceder). En. 269 da jornada Indignidade e Deserdação: Constituem sanção civil. É uma sanção imposta àquele que se comportou mal contra o autor da herança, ou seja, é aquele sucessor que praticou algum ato contrário aos interesses do autor da herança. Princípio da Intranscendência da Pena, pois seus descendentes receberão como se mortos estivessem ou indignos e deserdados. Constituem um dos casos de sucessão por representação ou por estirpe (indignidade, deserdação e pré-morte). Em se tratando de sanção, exige-se o Devido Processo Legal. Indignidade Deserdação - Qualquer sucessor, seja herdeiro ou legatário. - Atos praticados antes da abertura da sucessão. Se o ato foi praticado depois, já não mais se fala em indignidade. - Será reconhecida por meio de ação ordinária de indignidade (procedimento comum). - Qualquer interessado na indignidade. Ex: qualquer outro herdeiro, descendente. E o MP? En. 116 da jornada. Tem legitimidade quando houver interesse de incapaz. - Prazo decadencial de 4 anos. - Hipóteses: Art. 1.814 do CC Homicídio doloso, tentado ou consumado, contra o autor da herança, seu cônjuge ou companheiro, ascendente ou descendente. Crime contra a honra ou denunciação caluniosa contra o autor da herança, seu cônjuge ou companheiro. Ato que impeça a manifestação de vontade do autor da herança produzir efeitos. - Somente herdeiro necessário (Art. 1.845 do CC). - Ato praticado antes da abertura da sucessão. - Será reconhecida no próprio ato do testamento, que precisa ser homologado pelo juiz. - Somente o autor da herança tem legitimidade para deserdar, pois é o ofendido. - Não tem prazo, pode fazer enquanto vivo. Se morreu não será mais caso de deserdação, poderá ser de indignidade. - Hipóteses: Art. 1.814 + 1.961-3 do CC Ofensas físicas Injúria grave Abandono material Relações ilícitas - O cônjuge só pode ser deserdado pelas causas do Art. 1.814 do CC, os demais legítimos podem incorrer em qualquer uma das 7 hipóteses. OBS1: O rol da Indignidade é taxativo. Ver Resp 334773/RJ (o STJ abraçou a tese da tipicidade finalística). Também serve para a deserdação e ainda para a ingratidão do donatário. A Tipicidade Finalística estabelece que a interpretação desse rol taxativo deve levar em conta a finalidade de cada tipo ali presente. Ex: Homicídio culposo e doloso (não tem as mesmas finalidades), porém o Auxílio e induzimento a suicídio possuem a mesma finalidade do homicídio. Também pode ser chamada de Interpretação Finalística. OBS2: As duas primeiras hipóteses de Indignidade dizem respeito a crimes. É necessária a condenação criminal prévia? Art. 935 do CC (autonomia das instâncias). Não se exige prévia condenação criminal em face da independência das instâncias. Porém, uma hipótese em que é necessária a prévia condenação criminal, é o caso do crime contra a honra. Quando se usar a palavra “crime” somente o juiz penal poderá reconhecer, o cível não pode. Reconhecer o fato criminoso o juiz cível pode, mas reconhecer o fato como crime, só o juiz criminal. - Em caso de uma negativa de autoria superveniente, caberá Ação Rescisória, porém deverá se enquadrar em umas das hipóteses do Art. 489 do CPC. Cessão de direitos hereditários: Requisitos: Temporal: O negócio deve ser celebrado no lapso temporal compreendido entre a abertura da sucessão e a partilha. O Art. 426 proíbe a “Pacta Corvina”. Não pode haver, portanto, cessa ode herança antes da abertura da sucessão. Formal: Tem de ser por escritura pública ou por termo nos autos do inventário, mas não depende de registro no cartório. Subjetivo: É a capacidade do cedente, exceto se casado no regime de separação absoluta, deve haver o consentimento dos dois. Se casados na participação final dos aquestos o pacto poderá dispensar. O herdeiro só pode ceder universalidades, e não bens específicos, pois este não possui bens específicos. Quando houver a concordância de todos os interessados poderá ceder um específico, até a Fazenda Pública (que é interessada). Efeito: o cessionário passa a ocupar o lugar do cedente, assim, o cessionário passa a ter, por exemplo, legitimidade para requerer a abertura o inventário e para propor ação de petição de herança. Natureza jurídica: É aleatória (negócio incerto). Não incidem vícios redibitórios e evicção mesmo se a cessão tiver sido onerosa. Apesar disso, se sobrevierem bens desconhecidos do cedente não pertencerão ao cessionário (não se pode dispor daquilo que não se sabe ter). OBS: Quando se tratar de cessão onerosa de direitos hereditários o CC exige o respeito ao direito de preferência dos coerdeiros. Se for gratuita, será liberalidade, não tendo direito de preferência. O direito de preferência deve ser respeitado, sob pena de ineficácia do negócio celebrado em relação aos coerdeiros prejudicados. Terão o prazo de 180 para ajuizar a adjudicação compulsória. - Relações jurídicas continuativas submetem-se à seguinte regra intertemporal: Existência e validade estão submetidas à norma do tempo da celebração. Eficácia está submetida à norma atualmente em vigor. Aceitação: É um ato jurídico em sentido estrito de natureza confirmatória apenas. Confirma a transmissão automática de saisine, e, portanto, com efeitos retroativos. De acordo com o Art. 1792, a aceitação de herança como beneficio de inventário por força de lei. Os herdeiros não respondem pordívidas para além das forças da herança. É sempre irrevogável e irretratável. Direta: Advém de uma manifestação de vontade do interessado Indireta: É aquela que decorre do credor do renunciante. Espécies: Expressa: É aquela que decorre de uma manifestação de vontade escrita. É muito rara. Tácita: É uma aceitação comportamental. Ex: cessão de direitos hereditários. O CC adverte que não induz aceitação tácita a prática de atos oficiosos ou ordinatórios. Ex: pagamento das despesas do funeral. Presumida: depende de uma ação, Actio Interrogatoria (Ação interrogatória). É a ação promovida pelo interessado em saber se uma determinada pessoa vai ou não aceitar uma herança. Essa ação pode ser promovida somente depois de 20 dias da abertura da sucessão. O herdeiro deverá responder em 30 dias se aceitará ou não, depois de proposta a ação. Se se mantiver silente será interpretado como aceite (presumida). É exemplo daquele que ao mesmo tempo é herdeiro e legatário ao mesmo tempo. Art. 1808 do CC Renúncia: É o ato de despojamento da herança. É o repúdio à transmissão automática de saisine. É ato de disposição patrimonial, e por isso, dispensa o consentimento do cônjuge, exceto se o regime for o de separação absoluta. Abdicativa: pura e simples. “Eu não quero”. Não tem incidência fiscal. Translativa ou In favorem: em favor de um terceiro, na verdade é uma cessão de direitos hereditários (inclusive incidência fiscal). STJ Resp 36076/MG Efeitos da renúncia: Trata-se o renunciante como se nunca tivesse existido. Não gera sucessão por representação. Se todos de uma mesma classe renunciarem, a próxima classe receberá por direito próprio (por cabeça).