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2018 Documento de Análise PERÍODO 1990 - 2016 Coordenação Técnica ICLEI - Governos Locais pela Sustentabilidade Autores Igor Reis de Albuquerque e Iris Moura Esteves Coluna - ICLEI Revisão Hélinah Cardoso Moreira Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) Talita Esturba World Resources Institute Brasil (WRI Brasil) 2018 Documento de Análise EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 2 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS RESUMO EXECUTIVO • No ano de 2016, as emissões setor de Resíduos totalizaram 91,97 milhões de toneladas (Mt) de CO2 equivalente (CO2e), cerca de 4% das emissões nacionais. O setor compreende a disposição fi nal de resíduos sólidos urbanos (RSU), a incineração de resíduos de serviço de saúde (RSS) e resíduos sólidos in- dustriais (RSI) e o tratamento e afastamento de efl uentes líquidos domésticos e industriais. Entre 1970 e 2016, a contribuição média do setor foi de 2,78% do total de gases-estufa emitidos no Brasil. • 57,5% das emissões do setor em 2016 (52,92 milhões de toneladas de CO2e) foram provenientes da disposição fi nal de RSU. Apesar de o subsetor ser marcado historicamente pelo seu crescimento exponencial, entre 2015 e 2016 foi observada uma redução de 2,2% das suas emissões de GEE. Esse com- portamento está relacionado à recessão: observou-se uma redução de 198,75 mil toneladas de RSU coletadas em 2015 diariamente para 195,78 mil tonela- das em 2016. • O tratamento e afastamento de efl uentes líquidos industriais respondeu por 22,7% (20,9 milhões de toneladas de CO2e) do total do setor. O subsetor apresenta um comportamento de emissões distinto do observado para efl uen- tes domésticos, pois as emissões estão diretamente correlacionadas com a produção industrial, a qual está suscetível a oscilações provocadas por aspec- tos econômicos. Para todo o período analisado, de 1970 a 2016, foi possível observar a predominância de emissões associadas à produção de papel e celu- lose, açúcar e álcool. Foram analisadas nove indústrias: i) Produção de açúcar; (ii) Produção de álcool; Iii) Produção de cerveja; iv) Produção de carne bovina; v) Produção de carne suína; vi) Produção de carne avícola; vii) Produção de leite cru; viii) Produção de leite pasteurizado e ix) Produção de celulose e papel. • O tratamento de efl uentes líquidos domésticos respondeu por 19,4% das emissões do setor, ou 17,85 milhões de toneladas de CO2e em 2016. Na totali- dade do período analisado, de 1970 a 2016, estima-se que tenham sido emitidas 488 milhões toneladas de CO2e, com uma característica exponencial de cresci- mento. O comportamento observado está associado ao crescimento populacional e à aplicação de diferentes tipos de tratamento, acompanhada da ampliação da cobertura de sistemas de coleta e tratamento de efl uentes líquidos domésticos. 3 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS RESUMO EXECUTIVO • A menor parte das emissões do setor de Resíduos vem da incineração de RSS e RSI: 288,66 mil toneladas de CO2e, ou 0,3% do total em 2016. Em 1990, foi responsável pela emissão de 22,27 mil toneladas de CO2e, o que representa um crescimento próximo a 1.200% no período analisado. O aumento das emissões pela incineração de RSI pode estar associado às taxas de crescimento da economia no Brasil, que avançaram consideravelmente no período 1990- 2016, acompanhadas pelo aumento do consumo e da atividade industrial. • Em 2016, três dos quatro Estados que mais emitiram GEE no setor de Resí- duos estavam na região Sudeste (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) e um na Sul (Paraná). Esse comportamento reforça a forte infl uência popula- cional atribuída ao setor. Em contrapartida à predominância do Sudeste, ob- serva-se que os seis Estados que menos contribuem localizam-se na macrorre- gião Norte, que apresentam os menores índices populacionais e baixas taxas de acesso a serviços de saneamento. • As emissões do setor de resíduos estão principalmente condicionadas à com- plexidade do estilo de vida nas cidades. A contribuição do setor é pequena se forem analisadas as emissões em âmbito nacional. No entanto, ao analisar o contexto urbano, nota-se um padrão comportamental bastante diversifi cado, onde o tratamento e disposição fi nal de resíduos sólidos e líquidos podem atingir contribuições percentuais médias de 10% a 20% no total de emis- sões de GEE em diferentes municípios no Brasil. • Para o setor atingir seu alto potencial de abatimento de emissões de gases de efeito estufa, as políticas e os instrumentos específi cos do setor, como a Política Nacional de Saneamento Básico (PNSB) e a Política Nacional de Resí- duos Sólidos (PNRS) precisam conversar mais diretamente com as questões climáticas, buscando compreender a sinergia intersetorial e incentivar boas práticas no setor de saneamento, contextualizadas com as questões de en- frentamento às mudanças climáticas. • Grande parte dos municípios brasileiros ainda não se adequaram aos marcos regulatórios do setor e, mesmo em relação aos que estão em con- formidade, não se observa uma intersetorialidade com a temática de mudan- 4 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS RESUMO EXECUTIVO ças climáticas. Diante do alto potencial de mitigação observado nas cidades, é necessário capacitar técnicos e gestores públicos de modo que a busca pela universalização seja acompanhada por políticas que também contribuam para o abatimento de emissões de gases de efeito estufa. Este documento integra a série anual de relatórios analíticos do SEEG, o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, uma iniciativa do Observatório do Clima. O SEEG compreende a produção de estimativas anuais das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, análises sobre a evolução das emissões e um portal na internet para disponibilização, de forma simples e clara, dos métodos e dados do sistema. As estimativas de emissões e remoções de GEE são geradas segundo as diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com base nos dados dos Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa, elaborados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), e em dados obtidos junto a relatórios governamentais, institutos, centros de pesquisa, entidades setoriais e organizações não governamentais. São avaliados os cinco setores fontes de emissões: Mudança de Uso da Terra e Florestas (MUT), Agropecuária, Resíduos, Energia e Processos Industriais e Uso de Produtos. Os dados disponibilizados no SEEG constituem uma série que cobre o pe- ríodo de 1970 até 2016, exceto para o setor MUT, que tem a série de 1990 a 2016. Além disso, os dados do SEEG são alocados nos 26 Estados e no Distrito Federal. 5 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS ÍNDICE Lista de Figuras 6 LIsta de Quadros 8 1. Introdução 9 2. Emissões de GEE no Setor de Resíduos no período 1970-2016 14 2.1 Análises das emissões por subsetor 18 2.1.1 Disposição fi nal adequada ou inadequada de RSU 18 2.1.2 Incineração de resíduos de serviço de saúde (RSS) e de25 resíduos sólidos industriais (RSI) 25 2.1.3 Tratamento e afastamento de efl uentes líquidos domésticos 28 2.1.4 Tratamento de efl uentes líquidos industriais 32 2.2 Análises das emissões por Estado 35 2.3 Análise e limitações dos dados 44 3. Trajetória, metas e compromissos 47 3.1 Política Nacional de Saneamento Básico 47 3.2 Política Nacional sobre Mudança do Clima 50 3.3 Política Nacional de Resíduos Sólidos 52 3.4 Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) 56 3.5 Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas 57 4. Recomendações 60 4.1 Aperfeiçoamento e transparência das informações disponíveis 60 4.2 Tratamento e disposiçãofi nal de resíduos sólidos urbanos 60 4.3 Incineração de resíduos especiais 62 4.4 Tratamento e afastamento de efl uentes líquidos domésticos 62 4.5 Tratamento e afastamento de efl uentes líquidos industriais 63 4.6 Recomendações gerais para as políticas nacionais e a estratégia nacional para a implementação da NDC 63 5. Contextualização nas cidades 67 6. Referências 73 6 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS LISTA DE FIGURAS Figura 1 Emissões de GEE pelo setor de resíduos (1970-2016) 14 Figura 2 Contribuição (%) por subsetor nas emissões totais de GEE 15 Figura 3 Emissões de GEE desagregadas por subsetor (1970-2016) 16 Figura 4 Emissões por tipo de GEE 17 Figura 5 Emissões de GEE provenientes da disposição fi nal de RSU (1970-2016) 18 Figura 6 Percentual estadual de disposição fi nal adequada de resíduos sólidos urbanos (2016) 20 Figura 7 Potencial de geração de metano para diferentes tipos de disposição fi nal 22 Figura 8 Contribuição macrorregional no total de emissões de GEE 24 Figura 9 Emissões de GEE desagregadas pela incineração de RSI e RSS (1990-2016) 25 Figura 10 Contribuição por tipo de resíduos nas emissões totais 26 Figura 11 Emissões de GEE decorrentes do tratamento e afastamento de efl uentes líquidos domésticos (1970-2016) 29 Figura 12 Relação entre as emissões de CH4 e o número de habitantes com escoadouro (1970-2016) 30 Figura 13 Emissões de GEE desagregadas por setores industriais (1970-2016) 33 7 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Figura 14 Contribuição percentual dos setores industriais no total de emissões, para anos de interesse 34 Figura 15 Emissões totais de GEE desagregadas por subsetor e estado (2016) 37 Figura 16 Emissões totais de GEE provenientes da disposição fi nal de RSU do Estados brasileiros em anos de interesse 39 Figura 17 Emissões totais de GEE provenientes da incineração de RSS e RSI dos Estados brasileiros em anos de interesse 40 Figura 18 Emissões totais de GEE provenientes do tratamento e afastamento de efl uentes dos Estados brasileiros em anos de interesse 41 Figura 19 Emissões totais de GEE provenientes do tratamento de efl uentes líquidos industriais em anos de interesse 42 Figura 20 Contribuição percentual de cada atividade industrial nas emissões de GEE pelo tratamento de efl uentes líquidos industriais em 2016 43 Figura 21 Hierarquia na gestão de resíduos. 61 Figura 22 Cenários de emissões do setor de resíduos, segundo o projeto “Opções de Mitigação de Emissões de GEE em Setores-chave no Brasil” 65 Figura 23 Distribuição de municípios no Brasil por faixa populacional 68 Figura 24 Distribuição da população no Brasil pelo tamanho dos municípios (faixas populacionais) quanto ao número de habitantes 69 LISTA DE FIGURAS Quadro 1 Emissões de GEE por resíduos desagregadas por Estado e macrorregião (2016) 36 Quadro 2 Metas estipuladas no Plano Nacional de Saneamento Básico 49 Quadro 3 Metas apresentadas no Plano Nacional de Resíduos Sólidos 53 Quadro 4 Medidas prioritárias e ações de curtos prazo elencadas pelo CT Cidadas e Resíduos 58 Quadro 5 Medidas de baixo carbono elencadas no Projeto “Opções de Mitigação de Emissões de GEE em Setores-chaves no Brasil” e seus potencias custos de abatimento 65 Quadro 6 Diagnóstico municipal da elaboração de PGIRS’s e disposição fi nal de RSU por faixas populacionais 70 LISTA DE QUADROS 8 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 9 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 1. INTRODUÇÃO A geração de resíduos, sua destinação e sua disposição fi nal são inerentes à sociedade e produzem emissões de gases de efeito estufa, que agravam as mudanças climáticas. A plataforma SEEG, iniciativa desenvolvida pelo Observatório do Clima (OC), em sua versão 5.0, contempla a estimativa de emissões de gases de efeito estufa (GEE) associadas ao setor de Resíduos entre os anos de 1970 e 2016. O setor contempla a estimativa de emissões de emissões de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) provenientes de tratamento e disposição fi nal dos resíduos sólidos urbanos, incineração de resíduos industriais e de serviço de saúde e tratamento e afastamento de efl uentes líquidos domésticos e industriais. Os tópicos a seguir se destinam a explicar brevemente cada subsetor que compõe o atual cená- rio de gestão de resíduos. Disposição fi nal de resíduos sólidos urbanos Resíduos sólidos urbanos (RSU) são defi nidos como os resíduos domésticos gera- dos em áreas urbanas, incluindo os materiais decorrentes de atividades de varrição, limpeza de logradouros, vias públicas e outros serviços de limpeza (Brasil, 2010a). É considerada a questão mais problemática do setor de Resíduos: estima-se que, glo- balmente, são gerados 1,5 bilhão de toneladas (Gt) anualmente, com previsão de au- mento para aproximadamente 2,2 Gt para o ano de 2025 (IPCC, 2014). De acordo com o Quinto Relatório de Avaliação (AR5)1 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), do total atual de resíduos gerados no ambiente urbano em todo o planeta, cerca de 300 milhões de toneladas (Mt) (20%) são recicla- das, 200 Mt (13%) são tratadas com recuperação energética, 200 Mt são dispostas em aterros sanitários (13%) e 800 Mt (53%) são dispostas em aterros controlados ou vazadouros a céu aberto (lixões). A gestão de RSU no Brasil é caracterizada pela baixa valorização biológica, física e ener- gética: o material coletado é encaminhado para disposição fi nal em aterros ou lixões, 1 As avaliações do IPCC fornecem uma base científi ca para que os governos em todos os níveis desenvolvam políticas associadas ao enfrentamento às mudanças climáticas. Os relatórios são escritos por centenas de cientistas líderes que oferecem seu tempo e experiência como coordenadores e autores dos estudos. Disponível em <https://www. ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar5/wg3/ipcc_wg3_ar5_chapter10.pdf > Acesso em 12 de junho de 2017 10 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS observando-se insignifi cantes índices de contribuição de alternativas de valorização como, por exemplo, a reciclagem dos resíduos orgânicos (compostagem) ou dos secos. A matéria orgânica contida nos resíduos sólidos, quando depositada em lixões ou aterros e em condições de ausência de oxigênio livre (anaeróbicas), sofre a ação de bactérias geradoras de metano, em um processo denominado metanização, com a produção de biogás. O biogás é composto majoritariamente por metano (50% a 70%)2 e qualifi cado como um GEE. O processo de liberação de CH4 de uma quanti- dade específi ca de resíduos em aterros diminui gradativamente nas décadas subse- quentes (IPCC, 2006). O metano é um poluente com vida relativamente na curta na atmosfera. Apresenta efeitos nocivos à saúde e ao ambiente, além de ser considerado um gás com potencial 28 vezes maior que o do CO2 de agravar o efeito estufa. Incineração de resíduos de serviços de saúde (RSS) e resíduos sólidos industriais (RSI) A incineração é um processo termoquímico de tratamento de resíduos, que consiste na combustão de resíduos sólidos e líquidos em usinas com processos controlados, com consequente redução do volume e da periculosidade dos resíduos. O material incinerado produz gases de combustão, podendo ser fonte de energia gra- ças à geração de vapor superaquecido em caldeiras de recuperação de calor. Essa energia recuperada pode ser utilizada para produzir eletricidade (ABRELPE, 2015). Resíduos sólidos urbanos, resíduos sólidos industriais (RSI) e resíduos de serviços de saúde (RSS) podem ser incinerados. No entanto, a prática de incineração de RSU é mais comum em países com pouca disponibilidade de áreas e com sistemasde gestão e ge- renciamento mais avançados3. Outro aspecto signifi cativo na aplicação da incineração como rota de tratamento é o poder calorífi co (PC) do material, o qual indica a quanti- 2 O biogás também é composto por dióxido de carbono (30 a 45%), no entanto por ter origem biogênica, o CO2 não é quantifi cado como GEE. 3 O Japão encaminhou 79% dos seus resíduos para a incineração em 2008. Enquanto a União Europeia tratou 22% dos seus resíduos sólidos com a tecnologia de incineração (FADE, 2014). 1. INTRODUÇÃO 11 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS dade de energia útil que pode ser liberada no processo de queima do resíduo. Quanto maior o PC4, maiores potências são liberadas no interior do incinerador e maiores tem- peraturas são atingidas (Pavan, 2010). O Brasil é caracterizado pela baixa aplicabilidade de rotas de tratamento térmicas, sendo a incineração utilizada predominantemente para o tratamento de RSS e RSI. A incineração é fonte de emissões de GEE, mais signifi cativamente de CO2 e com meno- res contribuições de emissão de N2O e CH4 5 (IPCC, 2006). Alguns importantes poluen- tes relacionados à combustão (como compostos orgânicos não voláteis, monóxido de carbono e óxidos sulfúricos), apesar de não serem estimados por não apresentar im- pactos diretos signifi cativos nas emissões de GEE, também são emitidos e devem ser inventariados em sistemas próprios. Tratamento e afastamento de efl uentes líquidos O esgotamento sanitário se constitui pelas atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição fi nal adequada de efl uen- tes domésticos, desde as ligações prediais até seu lançamento fi nal no meio ambiente (MADEIRA, 2010). Efl uentes líquidos são gerados a partir de uma variedade de atividades, que podem ser domésticas, comerciais ou industriais. O tipo de atividade da qual o efl uente é gerado impacta diretamente na composição das águas servidas e, portanto, no seu potencial de emissão de GEE. O material originado, por sua vez, pode ser tratado in situ (não coletado), coletado e tratado em estações de tratamento ou descartado diretamente em corpos hídricos (IPCC, 2006). No geral, países desenvolvidos apresentam sistemas centrais com trata- mentos aeróbicos/anaeróbicos, enquanto países em desenvolvimento normalmente possuem baixas taxas de coleta e tratamento de efl uentes líquidos. 4 O cálculo do Poder Calorífi co do RSU é bastante complexo e a nível nacional são observadas poucas pesquisas nessa área de estudo. 5 A estimativa elaborada no âmbito da iniciativa SEEG apenas quantifi cou as emissões de CO2 e N2O relacionadas relacionadas ao tratamento por incineração, por seguir a metodologia utilizada no 3º Inventário brasileiro de emissões e remoções de GEE. 1. INTRODUÇÃO 12 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Quando a matéria orgânica presente nos efl uentes líquidos é degradada em condições anaeróbicas, o tratamento e afastamento de efl uentes pode ser fonte de emissão de metano. Já a degradação de componentes de nitrogênio (como, por exemplo, ureia, ni- tratos e proteínas), é responsável pela emissão de óxido nitroso. O AR5 afi rma que as emissões de CH4 e N2O cresceram exponencialmente no mundo nas últimas décadas, atingindo valores de 667 Mt e 108 Mt de CO2e, respectivamente, em 2010. De acordo com o Atlas Esgotos6 publicado pela Agência Nacional de Águas, as redes co- letoras de esgotos alcançam 61,4% da população urbana brasileira (18,8% dos efl uen- tes são coletados e não tratados e 42,6% são coletados e efetivamente tratados). Os tipos de tratamento mais adotados no Brasil são: lagoa anaeróbica seguida de lagoa facultativa, conhecido como sistema australiano; apenas reator anaeróbico; tanque séptico associado a fi ltro anaeróbico; apenas lagoa facultativa; e reator anaeróbico seguido de fi ltro biológico. O setor de saneamento no Brasil, em especial o tratamento de efl uentes líquidos e de RSU, é marcado pelo défi cit histórico, impactando diretamente a qualidade de vida de seus habitantes. O setor também se qualifi ca com um alto potencial de abatimento de emissões de GEE, onde a busca pela universalização do acesso aos serviços de sanea- mento deve ser acompanhada por boas práticas de gerenciamento que priorizem a redução de emissões. O objetivo do presente documento é proporcionar uma leitura crítica das estimativas de emissões do setor de resíduos, bem como apresentar o atual arranjo institucio- nal brasileiro quanto aos sistemas de gestão e gerenciamento de resíduos. Por fi m, são feitas recomendações de ações setoriais que podem refletir no enfrentamento às mudanças do clima. 6 Disponível em http://atlasesgotos.ana.gov.br/. Acesso em: 23 de março de 2018 1. INTRODUÇÃO 13 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS O ICLEI é a principal associação mundial de governos locais dedicados ao desenvolvi- mento sustentável, cuja rede global conecta mais de 1.500 governos de estados e cidades de diversos portes, em mais de 100 países. Movido pela causa de mobilizar os governos locais para construir cidades mais sustentáveis, o ICLEI oferece apoio para que desen- volvam suas políticas e ações pela sustentabilidade. Orienta-se pela premissa básica de que iniciativas elaboradas e dirigidas localmente podem fornecer uma maneira efi caz e economicamente efi ciente para alcançar objetivos locais, nacionais e globais. Ao longo de sua trajetória pioneira de mais de 25 anos, tem promovido a articulação de cidades, estados e regiões pela agenda do desenvolvimento sustentável e está presente em todas as regiões do mundo, por meio de 17 escritórios e secretariados regionais. O Secretariado para América do Sul conecta seus mais de 55 membros em 8 países a este movimento global. Ao longo destes anos, destacou-se no desenvolvimento e execução de projetos nas temáticas de: Clima e Desenvolvimento de Baixo Carbono, Resiliência, Resíduos Sólidos, Compras Públicas Sustentáveis, Biodiversidade Urbana, dentre outros. 1. INTRODUÇÃO 14 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS No ano de 2016, as emissões do setor de resíduos totalizaram 91,97 milhões de to- neladas de CO2 equivalente (Mt CO2e) 7, representando em torno de 4% das emissões nacionais. No período de 1970 a 2016, as emissões acumuladas do setor de resíduos assumiram o valor de 1,738 bilhão de toneladas de CO2e, que por sua vez representam 2,78% no valor total de emissões acumuladas do Brasil. Apesar da baixa contribuição do setor de resíduos nas emissões de GEE. Analisando os dados do período 1970-1990, anterior ao processo de intensifi cação da urbanização e de políticas de encaminhamento de RSU para disposição fi nal em aterros sanitários, ob- serva-se o aumento de 142% nas emissões de GEE. Já em relação ao período 1990-2016, o crescimento observado foi de 186%. A Figura 1 apresenta as emissões totais do setor. F igura 1 - Emissões de GEE pelo setor de resíduos (1970-2016) Fonte: Elaboração própria Conforme pode ser observado na Figura 1, o setor é marcado pelo crescimento exponen- cial das emissões até o ano de 2010, com posterior estabilização e crescimento menos acentuado para os anos subsequentes. Outro aspecto signifi cativo é a pequena queda de 0,7% registrada em 2016, relacionada principalmente ao período de recessão com dimi- 7 Este documento utiliza como padrão os fatores de conversão para carbono equivalente no formato GWP presente do Quinto relatório do IPCC ( AR5– IPCC Fifi th Assessment Report). 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 M ilh õe s de t on el ad as d e CO 2e 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 - 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 1988 19 99 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 15 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS nuição na geração de resíduos e recuo na gestão de resíduos. De acordo com o Panorama Anual da ABRELPE de 20168, foi observada uma diminuição percentual na quantidade de resíduos encaminhadas para a disposição fi nal considerada ambientalmente adequada. A Figura 2 apresenta a contribuição de cada subsetor no total de emissões de GEE. No ano de de 2016, 57,5% das emissões foram provenientes da disposição fi nal de RSU, 22,7% do tratamento e afastamento de efl uentes líquidos, 19,4% do tratamento de efl uentes líquidos domésticos e 0,3% da incineração de RSS e RSI. Historicamente, as emissões do setor são principalmente associadas à disposição fi nal de RSU em aterros sanitários, aterros controlados ou lixões, que respondeu por 62,4% das emissões do setor entre 1970-2016. O segundo subsetor que mais contribui é o tratamen- to e afastamento de efl uentes líquidos domésticos, com média de 22,6% para o mesmo período. A terceira maior fonte de emissões é o tratamento de efl uentes líquidos indus- triais, com índice médio de 14,7% do total de emissões. Por fi m, observa-se a contribuição média de 0,2% da incineração de resíduos de serviços de saúde e resíduos industriais. F igura 2 – Contribuição (%) por subsetor nas emissões totais de GEE Fonte: Elaboração própria 8 Disponível em: http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2016.pdf 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 a) Ano de referência 2016 b) Média da contribuição no período entre 1970-2016 Efl uentes Líquidos Industriais IncineraçãoEfl uentes Líquidos Doméstios Disposição Final 16 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Apesar de o setor ser predominantemente atrelado às emissões de GEE provenientes da disposição fi nal de RSU, o pico de sua contribuição – em percentual – foi observado nos anos 1990 e no inicio dos anos 2000. A partir de 2002, observa-se uma diminuição da contribuição percentual das emissões associadas à disposição fi nal de RSU. Em relação aos efl uentes líquidos, observa-se uma diminuição gradativa da contribui- ção de emissões associadas ao tratamento e afastamento de efl uentes domésticos, à medida que se nota o comportamento oposto para águas residuais industriais, com paulatino crescimento inicial e aumento signifi cativo a partir do início dos anos 2000. Em 2008, observa-se que as emissões dos dois subsetores praticamente se igualaram, com maior contribuição do setor industrial para os anos subsequentes. As emissões decorrentes do processo de incineração de RSS e RSI passaram a ser quantifi cadas a partir da década de 90 e, apesar de apresentarem um crescimento acentuado, representam uma contribuição pouco signifi cativa no total de emissões de setor. A Figura 3 apresenta a evolução de emissões totais de CO2e, desagregadas por subsetor, entre 1970 e 2016. Figura 3 - Emissões de GEE desagregadas por subsetor (1970-2016) Fonte: Elaboração própria 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 M ilh õe s de t on el ad as d e CO 2e 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 - 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 99 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 17 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Das emissões totais em CO2e, 97,6% das emissões são de CH4, 2,3% são de N2O e ape- nas cerca de 0,02% são emissões de CO2, conforme apresentado na Figura 4. Figura 4 – Emissões por tipo de GEE Fonte: Elaboração própria As emissões de metano se destacam por receber contribuições do setor de disposição fi - nal de RSU e também pelo tratamento de efl uentes líquidos, tanto industriais quanto do- mésticos. Já as emissões de óxido nitroso ocorrem apenas pelo tratamento de efl uentes líquidos domésticos e pela incineração de resíduos sólidos, sendo este último subsetor o único responsável pelas emissões de CO2, o que justifi ca sua baixa contribuição. 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 a) Desagregação das emissões por tipo de GE em Mt de CO2e b) Emissões totais de metano (mil t de CH4) e contribuição por subsetor CH4 CO2 N2O Tratamento de Efl uentes Líquidos Industriais Disposição Final Tratamento e Afastamento de Efl uentes Líquidos Domésticos Emissões totais de óxido de nitrogênio (mil t de N2O) e contribuição por subsetor Incineração Tratamento e Afastamento de Efl uentes Líquidos Domésticos 18 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 2.1 ANÁLISES DAS EMISSÕES POR SUBSETOR 2.1.1. Disposição fi nal adequada ou inadequada de RSU A disposição final de RSU produz quantidades significativas de metano, por meio da decomposição da fração orgânica degradável do RSU em condições anaeróbicas. O potencial de geração de CH4 dos resíduos sólidos é estimado a partir da análise da com- posição gravimétrica, do tipo de gestão adotada nos locais de disposição fi nal - lixões, aterros controlados ou aterros sanitários – e da quantidade de material encaminhada para cada tipo de destino. A disposição fi nal de RSU é a maior contribuinte nas emissões de GEE do setor de re- síduos, responsável pela emissão de 52,92 milhões de toneladas de CO2e em 2016. As emissões totais associadas à disposição fi nal, assim como seu comportamento históri- co, estão demostradas na Figura 5. Figura 5 – Emissões de GEE provenientes da disposição fi nal de RSU (1970-2016) Fonte: Elaboração própria. 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 M ilh õe s de t on el ad as d e CO 2e 60 50 40 30 20 10 - 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 99 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 19 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS A política ambiental brasileira se desenvolveu principalmente nos últimos 40 anos. Apenas em 1973, sob infl uência de movimentos exógenos9, criou-se a Secretaria Espe- cial de Meio Ambiente - SEMA (FADE 2014). A partir da década de 1980, com o inchaço urbano e a complexidade do estilo de vida nas cidades, observa-se uma saturação das áreas de disposição fi nal de RSU10 e o início da discussão sobre o gerenciamento, com a incorporação do questionamento da viabilidade de diferentes tipos de tratamento e a necessidade de aproveitamento e reciclagem (LOPES, 2006). A década de 1990 foi marcada pela busca de regulamentação de legislações sobre a temática dos resíduos sólidos, com o aumento da conscientização sobre a questão de limpeza pública e maior aporte de recursos do governo federal para o setor (LOPES, 2006). Ao fi m do século XX, inicia-se o debate para a construção da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Até a implantação da PNRS, em 2010, o setor foi marcado pela falta de diretrizes nacionais, objetivos e instrumentos para gestão e gerenciamento nos diferentesníveis federativos. A quantifi cação de emissões relacionadas à disposição fi nal de RSU é infl uenciada por diferentes variáveis, entre elas a quantidade de material disposto, a qualidade de ge- renciamento no local de disposição fi nal, a composição gravimétrica, aspectos climáti- cos (temperatura, precipitação) e outros. Os próximos tópicos irão explicitar como as principais variáveis infl uenciaram no comportamento da estimativa de emissões de GEE no período analisado. Tipo de gestão aplicada no local de disposição fi nal Diante do contexto regulatório apresentado, a partir de 1990 observa-se o crescimento acentuado de emissões de GEE, devido ao início mais signifi cativo da implementação de políticas de encaminhamento de RSU para aterros sanitários. A fração orgânica do material que efetivamente é degradada em condições anaeróbicas é infl uenciada, entre outros fatores que serão posteriormente explicados, pela gestão aplicada no local de disposição fi nal. Em linhas gerais, locais não gerenciados apresentam potencial de gera- ção de CH4 menores que locais gerenciados (MCTI, 2015) 11, porque uma fração maior dos 9 Conferência de Estocolmo (FADE,2013). 10 Modelo de gestão aplicado priorizava a busca pela melhoria na coleta de resíduos, promovendo a disposição fi nal afastada dos grandes centros urbanos. 11 Essa característica é interpretada pelo fator de correção de metano (MCF). Para aterros sanitários aplica-se o fator 1, para aterros controlados a taxa aplicada é de 0,8 e para lixões aplica-se o MCF 0,4. (IPCC,2006). 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 20 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS resíduos se degrada em condições aeróbicas. Em 1991, cerca de 4% dos resíduos eram dispostos adequadamente (FADE, 2014), enquanto em 2016 esse valor cresceu para cer- ca de 58,4%, RSU que foram encaminhados para aterros sanitários (ABRELPE, 2017). O maior potencial de geração de metano associado à disposição fi nal de resíduos em aterros sanitários, aliado ao aumento na quantidade de material coletado, foram os principais responsáveis pelo forte crescimento observado. O gerenciamento de resíduos difere fortemente por macrorregião e por Estado. Os Es- tados da região Sul e Sudeste encaminham mais de 70% dos seus RSU para aterros sa- nitários. Já nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste são encaminhados em torno de 30% dos resíduos coletados para disposição fi nal ambientalmente adequada (ABRELPE, 2016). A Figura 6 demonstra o percentual de disposição fi nal adequada apresentado pe- las 27 Unidades da Federação de acordo com o levantamento realizado pela ABRELPE. Figura 6 - Percentual estadual de disposição fi nal adequada de resíduos sólidos urbanos (2016) Fonte: Elaboração própria 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 0 % 10 % 20 % 30 % 40 % 50 % 60 % 70 % 80 % 90 % 21 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Quantidade de material coletado Outro aspecto signifi cativo é o aumento dos índices de geração e coleta de RSU. Obser- va-se que a quantidade de material coletado passa a aumentar mais acentuadamente do que o número de habitantes urbanos. Isso indica que a taxa de coleta per capita aumentou mais do que o crescimento populacional, impactando diretamente na quan- tidade de RSU encaminhada para a disposição fi nal. Em 1970 estima-se um valor diário de 26,34 mil toneladas de RSU coletados, já em 2016 descreve-se que foram coletadas 195,45 mil toneladas de RSU por dia em 201612, Composição gravimétrica Conforme mencionado anteriormente, a composição gravimétrica é uma das variáveis mais relevantes na determinação das emissões associadas ao tratamento de resíduos sólidos. Diferentes aspectos culturais, fatores econômicos e sociais infl uenciam na composição dos RSU, de modo que se obtêm diferentes quantidades de fração orgâ- nica, materiais recicláveis e outros para os distintos contextos nacionais (IPCC, 2006). A análise da composição gravimétrica também considerou as características macrorre- gionais e estaduais encontradas no território brasileiro, onde historicamente se obser- va um decréscimo da fração orgânica degradável13. A análise da fração orgânica degradável obtida a partir das equações fornecidas no relatório de referência do setor14, juntamente com o tipo de disposição fi nal, permitiu a obtenção do potencial de geração de metano das cinco macrorregiões brasileiras e de três Estados (Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina) para os quais o MCTIC forne- ceu informações específicas. O potencial de geração de metano diminuiu signifi cativa- mente para todas as macrorregiões e os Estados analisados, conforme pode ser obser- vado na Figura 7. A diminuição observada corrobora a tendência descrita na proposta do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), onde se indica que, apesar dos RSU 12 A taxa de coleta de 1970 foi obtida a partir da média de índices regionais descritos no relatório de refêrencia setorial do Terceiro Inventário Nacional de Emissões e Remoções. Já a taxa de coleta de 2016 foi obtida no Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil (2016), elaborado pela ABRELPE. 13 A fração orgânica degradável é o carbono orgânico presente no resíduos que é acessível para o microrganismos realizarem a decomposição bioquímica (IPCC, 2006) 14 Documento setorial que serviu como base técnica para a elaboração da Comunicação Nacional. Disponível em: < http://sirene.mcti.gov.br/documents/1686653/1706163/RR_Tratamento+de+Res%C3%ADduos_ III+Invent%C3%A1rio_FINAL.pdf/44396032-ed7b-4815-b529-aa17d3c87ac6> 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 22 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS brasileiros serem predominantemente formados por matéria orgânica, observou-se um aumento percentual signifi cativo na geração de recicláveis (Brasil, 2012). Figura 7 - Potencial de geração de metano para diferentes tipos de disposição fi nal Fonte: Elaboração própria a partir de dados disponíveis no Relatório de Referência do setor de tratamento de resíduos do Terceiro Inventário Nacional de Emissões e Remoções Antrópicas, 2015. a) Aterros Sanitários c) Vazadouros a céu aberto b) Aterros controlados Norte Sul Nordeste Sudeste Rio de Janeiro Santa Catarina Centro-Oeste São Paulo Em is sã o de C H 4 ( t d e R SU -1 ) Em is sã o de C H 4 ( t d e R SU -1 ) Em is sã o de C H 4 ( t d e R SU -1 )0,1 0,08 0,06 0,04 0,02 0 19 70 19 75 19 80 19 85 19 90 19 95 20 00 20 05 20 10 20 15 0,04 0,03 0,02 0,01 0 19 70 19 75 19 80 19 85 19 90 19 95 20 00 20 05 20 10 20 15 0,08 0,06 0,04 0,02 0 19 70 19 75 19 80 19 85 19 90 19 95 20 00 20 05 20 10 20 15 A maior queda no potencial de geração de metano ocorreu na macrorregião Sul. Em 2016, as regiões Centro-Oeste, Nordeste e o Estado de Santa Catarina apresentaram os maiores índices para todos os tipos de disposição fi nal. Enquanto a região Norte, em todo período analisado, apresenta os menores valores potenciais. 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 23 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Aspectos Gerais Apesar de o subsetor ser marcado historicamente pelo seu crescimento exponencial, entre 2015 e 2016 foi observada uma redução de 2,2% das emissões totais de GEE. Esse comportamento não está relacionado à implementação de medidas de mitigação, mas sim ao período de retração econômica, que impactou diferentes aspectos do gerencia- mento de RSU, principalmente quanto à geração per capita e tipos de disposição final adotados. De acordo com o Panoramada ABRELPE, a nível nacional observou-se uma redução de 198,75 mil toneladas de RSU coletados em 2015 diariamente para 195,78 mil toneladas em 2016. Enquanto em relação à disposição fi nal ambientalmente ade- quada, apesar das exigências da PNRS, foi observada uma pequena redução de resí- duos encaminhados para aterros sanitários, passando do índice de 58,7% para 58,4%. Esses aspectos evidenciam a vulnerabilidade da gestão de RSU frente a crises econômi- cas, visto que o subsetor é constituído essencialmente por serviços, os quais necessitam para sua operação de pleno engajamento municipal e fl uxo de recursos permanente. As emissões de GEE relacionadas à disposição fi nal adequada ou inadequada de RSU refl etem principalmente o comportamento da geração/coleta de resíduos, composição gravimétrica e gerenciamento do local de disposição fi nal. Para uma análise que refl e- tisse a complexidade brasileira na gestão de resíduos, buscou-se incorporar as diver- gências macrorregionais e estaduais observadas. Em todo período analisado, nota-se o predomínio da região Sudeste no total de emis- sões de CO2e, motivado pela sua concentração populacional e seus instrumentos de gestão e gerenciamento mais avançados em relação às outras regiões brasileiras. A macrorregião Nordeste, devido ao número de Estados, composição gravimétrica e ín- dices populacionais, é a segunda maior região fonte de emissão no Brasil. A Figura 8 apresenta as contribuições percentuais das emissões de GEE desagregadas por macrorregião, tanto historicamente quanto para 2016. 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 24 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Figura 8 - Contribuição macrorregional no total de emissões de GEE Fonte: Elaboração própria Nota-se também que a região Sul, terceira macrorregião em termos de emissão, foi a que apresentou a maior queda nas emissões de GEE em 2016 quando comparado à totalidade do período analisado. Nesse contexto, destaca-se o crescimento do Cen- tro-Oeste, que apesar de apresentar sistemas de gestão menos avançados apresenta o maior potencial macrorregional de geração de metano. A região Norte apresenta os menores potenciais de geração de metano, bem como menores índices de acesso a serviços de saneamento e também menor densidade populacional, consequente- mente com a menor emissão de GEE. Apesar de serem descritas na PNRS como mecanismos de destinação fi nal ade- quadas, alternativas de valorização como a compostagem e a reciclagem não representam em massa, um valor signifi cativo no Brasil. Portanto, suas contri- buições não foram consideradas para os cálculos das estimativas relacionadas a resíduos sólidos urbanos. 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 a) No total de emissões no período de 1970-2016 b) No total de emissões em 2016 Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul 25 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 2.1.2. Incineração de resíduos de serviço de saúde (RSS) e de resíduos sólidos industriais (RSI) A incineração é uma rota tecnológica para tratamento de resíduos sólidos pouco ado- tada no Brasil, utilizada majoritariamente para o tratamento de resíduos de serviços de saúde e sólidos industriais. É o subsetor com menor contribuição no total de emissões, responsável pela emissão de 288,66 mil toneladas de CO2e em 2016. Em 1990, o subse- tor foi responsável pela emissão de 22,27 mil toneladas de CO2e, o que representa um crescimento próximo a 1.200% no período analisado. A Figura 9 e Figura 10 apresen- tam a evolução de emissões de setor entre 1990 a 2016, desagregadas por subsetores. Figura 9 - Emissões de GEE desagregadas pela incineração de RSI e RSS (1990-2016) Fonte: Elaboração própria 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 M ilh õe s de t on el ad as d e CO 2e 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 350 300 250 200 150 100 50 - Resíduo de Serviço de Saúde (RSS) Resíduo Sólidos Industriais (RSI) 26 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Figura 10 - Contribuição por tipo de resíduos nas emissões totais Fonte: Elaboração própria O aumento das emissões pela incineração de RSI pode estar associado às taxas de cres- cimento da economia no Brasil, que avançaram no período 1990-2016, acompanhadas pelo aumento do consumo e da atividade industrial. Segundo o IBGE, no período de 2001 a 2007, foi observado o aumento de 25% no número de indústrias de transfor- mação no Brasil15. Consequentemente, registrou-se também o aumento da geração de resíduos, seu tratamento e taxas de destinação fi nal. Até a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, os marcos regulatórios do setor de resíduos industriais se direcionavam, principalmente, para a elaboração de um inventário nacional, onde as indústrias deveriam apresentar aos respectivos órgãos estaduais informações sobre geração, características, armazenamento e desti- nação de seus resíduos (IPEA, 2012a). A PNRS prevê obrigações para o setor produtivo, responsabilizando o gerador pelo tratamento e disposição fi nal adequada dos resí- duos, podendo executar essa função internamente ou contratar serviços de empresas especializadas (BRASIL, 2010). 15 Disponível em http://ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa/120806_relatorio_residuos_solidos. pdf>.Acessado em 06 de junho de 2017 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 Resíduo de Serviço de Saúde (RSS) Resíduo Sólidos Industriais (RSI) a) No total de emissões em 1990 b) No total de emissões em 2016 27 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS No contexto da recessão econômica de 2016, observou-se uma redução de cerca de 4% no total de emissões de GEE provenientes da incineração de resíduos industriais. Ressalta-se que esse mesmo abatimento não está diretamente relacionado com a im- plementação de medidas de mitigação. Já em relação à intensifi cação das emissões provenientes do tratamento de RSS, pode- -se justifi cá-las pelo aumento da geração de RSS per capita e maiores restrições quanto a tratamento e disposição fi nal. De acordo com o Diagnóstico dos Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde do IPEA16, ela- borado em 2012, foi possível observar o aumento signifi cativo do número de médicos, enfermeiros e odontólogos por habitante, em todas as macrorregiões do país. Assim como a evolução positiva da oferta de leitos desde 1990 até 2005, aliada ao crescimen- to populacional. Em relação aos aspectos legais e normativos relacionados a RSS, nota-se a partir da década de 90 o robustecimento dos marcos regulatórios que incluem tanto questões ambientais quanto de saúde pública. Em 1993, foi aprovada a Resolução CONAMA nº 05, que dispõe sobre a necessidade de realização de algum tipo de tratamento de re- síduos gerados pelos prestadores de serviços de saúde. A mesma resolução também estabelece a responsabilidade do manejo seguro pelos prestadores de serviço, assim como dispõe sobre a obrigatoriedade da elaboração e implantação do Plano de Geren- ciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), quanto ao acondicionamento, à coleta, ao arma- zenamento, ao transporte, ao tratamento e à disposição fi nal (IPEA, 2012b). Posteriormente, diferentes resoluções do CONAMA e da ANVISA e leis federais reforça- ram a obrigatoriedade da implantação de PGRS específi cos para serviços de saúde e a importância de sistemas de tratamento e disposição fi nal de RSS. Essa consolidação de marcos regulatórios culminou na elaboração do Manual de Gestão de Gerenciamento de RSS de 2006 e na regulamentação da Política Nacional de Saneamento Básico(Lei Federal nº 11.445) e Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal nº 12.305) (IPEA,2012b). 16 Disponível em http://ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa/120806_relatorio_residuos_solidos. pdf>.Acessado em 06 de junho de 2017 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 28 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Apesar da recessão, as emissões por incineração de resíduos de serviços de saúde cresceram 5% entre 2015 e 2016. 2.1.3. Tratamento e afastamento de efl uentes líquidos domésticos A emissão de CH4 ocorre quando os componentes orgânicos dos efl uentes líquidos domésticos são degradados anaerobicamente em reatores, lagoas, fossas sépticas e valas para o esgoto sem rede coletora e no lançamento em corpos d’água. A extensão da produção de metano depende da quantidade de matéria orgânica, índices de tem- peratura e tipos de tratamento aplicados (IPCC, 2006). De acordo com as diretrizes do IPCC, a principal determinante para a geração de me- tano associada ao tratamento de efl uentes líquidos é a quantidade de componentes orgânicos degradáveis presente nos efl uentes líquidos domésticos, parâmetro quanti- fi cado pela concentração da demanda bioquímica por oxigênio (DBO)17. A emissão de N2O pode ocorrer direta ou indiretamente, proveniente da degradação de componentes de nitrogênio (como ureia, proteínas e nitratos) na excreção humana. As emissões diretas estão relacionadas a processos de nitrifi cação e desnitrifi cação em sistemas de tratamento avançados. As emissões indiretas, mais signifi cativas, são de- correntes do lançamento de efl uentes domésticos em ambientes aquáticos. O subsetor relacionado ao tratamento e afastamento de efl uentes domésticos foi res- ponsável pela emissão de 17,85 milhões de toneladas de CO2e em 2016. Na totalidade do período analisado, de 1970 a 2016, estima-se que foram emitidas 488 milhões tone- ladas de CO2e. A Figura 11 apresenta o comportamento histórico das emissões, onde é possível observar seu crescimento exponencial. 17 DBO quantifi ca a matéria orgânica oxidável por ação de microrganismos. É um índice de concentração de matéria orgânica por unidade de volume de efl uente. 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 29 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Figura 11 - Emissões de GEE decorrentes do tratamento e afastamento de efl uentes líquidos domésticos (1970-2016) Fonte: Elaboração própria O Relatório de Referência do setor de Resíduos, elaborado pelo MCTIC, estabelece a quantidade de carga orgânica gerada por habitante, isso signifi ca que a quantidade de emissões possui forte correlação com o número de habitantes atendidos por rede cole- tora de efl uentes líquidos domésticos. A Figura 12 descreve a relação entre as emissões de metano e a fração da população com escoadouro18. 18 População com escoadouro se caracterizam por apresentar algum tipo de instalação sanitária (fossas sépticas, valas, conexão à rede coletora e outros). 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 99 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 M ilh õe s de t on el ad as d e CO 2e 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 - 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 99 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 30 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Figura 12 – Relação entre as emissões de CH4 e o número de habitantes com escoadouro (1970-2016) Fonte: Elaboração própria Apesar da forte correlação entre a população, geração de carga orgânica e emissões de metano, é possível observar que as curvas de crescimento não apresentam comporta- mentos semelhantes. Isso se deve à atuação de uma terceira condicionante: a aplica- ção de diferentes tipos de tratamento19, acompanhada da ampliação da cobertura de sistemas de coleta e tratamento de efl uentes líquidos domésticos. Até o início da década de 80, observam-se as mesmas características de crescimento do número de habitantes com escoadouro e as emissões GEE do subsetor, onde ambos apresentam um aumento signifi cativo. O período coincide com o início da implementa- ção do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA), com vigência de 1971 a 1990. A partir do plano, organizou-se um forte esquema de fi nanciamento, impulsionando o aumento de investimento de 0,15% do PIB em 1970, para 0,55% em 1980 (ARAÚJO FILHO, 2008). 19 Fração do resíduo que de fato é degradada anaeróbicamente por tipo de tratamento. Valores default são estabelecidos no IPCC, disponível em: <http://www.ipcc-nggip.iges.or.jp/public/2006gl/pdf/5_Volume5/V5_6_Ch6_ Wastewater.pdf> 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 M ilh õe s de t on el ad as d e CO 2e 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 - 19 60 19 65 19 70 19 75 19 80 19 85 19 90 19 95 20 00 20 05 20 10 20 15 20 20 M ilh õe s de h ab it an te s 250 200 150 100 50 0 31 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS O PLANASA, considerado de caráter centralizador, priorizou as regiões metropolitanas, a fi m de atingir ganhos em escala quanto a índices de cobertura de sistemas de abasteci- mento de água e coleta e tratamento de efl uentes domésticos (LIMA E MARQUES, 2012). De meados da década de 80 até 1995 observa-se um maior distanciamento do cres- cimento da população com escoadouro e das emissões de GEE, decorrente principal- mente da desestruturação do modelo fi nanceiro do PLANASA, que provocou o cresci- mento no défi cit absoluto nos serviços de saneamento básico (ARAÚJO FILHO, 2008). Durante a primeira metade dos anos de 1990, foram criados diferentes programas para modernização e reestruturação institucional do setor, que causaram a diminuição gradativa do défi cit absoluto de esgotamento sanitário (ARAÚJO FILHO, 2008). Conse- quentemente, foi observado um crescimento acentuado nas emissões. Atualmente, os marcos regulatórios e instrumentos do setor são a Lei 11.445, de 5 de janeiro de 2007, e o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab). De acordo com a referida lei, o planejamento integrado, a regulação, a cooperação federativa e o contro- le social impulsionarão o setor de saneamento, focando estrategicamente no futuro. O Brasil ainda convive com as consequências de um atraso histórico nas infraestruturas de saneamento básico. Um dos instrumentos promovidos pela lei de 2007, visando à diminuição gradativa das desigualdades de acesso e universalização de serviços de saneamento, foi implantação do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC20. Iniciado em 2007 (1ª fase até 2010 e segunda fase de 2011 a 2015), concentrou investimentos importantes do governo federal e trouxe relevantes contribuições para o setor de saneamento21. No entanto, o programa se mostrou bastante aquém do desejado e, apesar dos investimentos realizados, o Brasil con- tinua muito distante da universalização dos serviços de saneamento (TRATA BRASIL, 2016). 20 Instituto Trata Brasil- Relatório de Olho no PAC, disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/datafi les/de-olho-no- pac/2016/relatorio.pdf?pdf=Relatorio-Completo_De-Olho-No-PAC-16> 21 Foram executadas 340 obras, sendo que 183 são relacionadas a sistemas de esgotamento sanitário e 157 a sistemas de abastecimento de água. Ao todo, 45% das obras paradas. (Trata Brasil, 2016) 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 32 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 2.1.4. Tratamento de efl uentes líquidos industriais Efl uentes líquidos industriais são despejos líquidos provenientes exclusivamente de ati- vidades de indústrias, compreendendo águas servidas de processos industriais e de re- frigeração. As emissões associadas ao tratamento de efl uentes industriais, assim como o apresentado para efl uentes domésticos, relacionam-se principalmente à quantidade de carga orgânica presente no sistema de esgotamento, quantifi cada pela concentração de DBO, e às tecnologias de tratamento e disposição de efl uentes industriais aplicadas. Para analisar as estimativas do setor, foram classifi cadas as indústrias estratégicas que geram grande volume de DBO no Brasil. De acordo com o relatório de referência do setor de tratamento de resíduos, os nove setores produtivos indicados abaixo são res- ponsáveis por mais de 97% da carga orgânica industrial no país: i) Produção de açúcar; (ii) Produção de álcool; Iii) Produção de cerveja; iv) Produção de carne bovina; v) Produção de carne suína; vi) Produção de carne avícola; vii) Produção de leite cru; viii) Produção de leite pasteurizado e ix) Produção de celulose e papel. Em 2016, o tratamento de efl uentes industriais foi responsável pela emissão de cerca de 20,9 milhões de toneladas de CO2e. A Figura 13 demonstra o crescimento do subse- tor no período analisado, também evidenciando uma característica exponencial. 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 33 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Figura 13 - Emissões de GEE desagregadas por setores industriais (1970-2016) Fonte: Elaboração própria Nos períodos de 1994-1998 e 2002-2010 verifi caram-se saltos no total de emissões. O primeiro período de expansão coincide com o início do Plano Real, onde se observou um forte crescimento econômico e, consequentemente, maior acesso a bens de con- sumo e aumento da produção industrial. Já o segundo período destacado, entre 2002 e 2010, também é marcado por um crescimento acentuado no número de indústrias, decorrente do aquecimento da economia. Somado a isso, os investimentos em infraes- trutura, programas de inclusão social, a Política Nacional de Saneamento Básico e o maior fi nanciamento em obras de infraestrutura de saneamento pelo PAC. Um segundo aspecto interessante é contribuição de emissões relacionadas à produção de açúcar e álcool. De acordo com o Relatório de Referência do setor não foi possível estabelecer os tipos de tecnologias de tratamento utilizadas, bem como as frações tra- 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 99 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 M ilh õe s de t on el ad as d e CO 2e 25 20 15 10 5 - 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 99 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 Aves Álcool Leite Pasteurizado Suínos Cerveja Bovinos CeluloseAçúcar Leite Cru 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 34 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS tadas anaerobicamente para ambas as indústrias22, de modo que as emissões foram progressivamente quantifi cadas a partir de 1990. Em 2016 a produção de álcool e açú- car, juntamente com a indústria de celulose, foram as produções industriais que mais contribuíram com as emissões de GEE por efl uentes líquidos industriais, representan- do cerca de 77% do total emitido, conforme pode ser observado na Figura 14. Histori- camente nota-se, com o aumento das emissões relacionadas com a produção de álcool e açúcar, o decréscimo da contribuição de diferentes produções industriais. Figura 14 – Contribuição percentual dos setores industriais no total de emissões, para anos de interesse. Fonte: Elaboração própria 22 Variável denominada fator de correção de metano (MCF) ponderado relacionado com o tipo de tratamento aplicado e a fração de efl uente encaminhada para cada tipo de tratamento. Assim como para o subsetor de resíduos sólidos, tratamentos anaeróbicos apresentam maiores valores de MCF. Aves Álcool Leite Pasteurizado Suínos Cerveja Bovinos CeluloseAçúcar Leite Cru a) 1990 b) 2016 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 35 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS O subsetor de tratamento de efl uentes industriais apresenta um comportamento de emissões distinto do observado para efl uentes domésticos, pois as emissões estão di- retamente correlacionadas com a produção industrial, a qual está suscetível a oscila- ções provocadas por aspectos econômicos. Ressalta-se que, para todo período anali- sado, de 1970 a 2016, foi possível observar a predominância de emissões associadas à produção de papel e celulose, açúcar e álcool. 2.2 ANÁLISES DAS EMISSÕES POR ESTADO A versão 5.0 da plataforma SEEG apresenta as emissões de GEE desagregadas por Uni- dades da Federação. O processo de alocação por Estado do setor de resíduos é marcado pela influência de condicionantes diretas ou indiretas, como o número de habitantes e produção industrial. O Quadro 1 apresenta a contribuição dos subsetores evidenciados no item 2.1, bem como o total de emissões de CO2e por Unidade da Federação no ano de 2016. Evidencia-se que, do total de emissões estimadas no setor de resíduos e sua contribuição percentual no total nacional, cerca de 99,9% foram alocadas em Unidades da Federação. A mínima fração não alocada (NA) corresponde a dados de atividade de produção de carne bovina, suína e avícola. 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 36 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Quadro 1 - Emissões de GEE por resíduos desagregadas por Estado e macrorregião (2016) 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 Acre Amazonas Amapá Pará Rondônia Roraima Tocantins TOTAL REGIONAL Alagoas Bahia Ceará Maranhão Paraíba Pernambuco Piauí Rio Grande do Norte Sergipe TOTAL REGIONAL Distrito Federal Goiás Mato Grosso do Sul Mato Grosso TOTAL REGIONAL Espírito Santo Minas Gerais Rio de Janeiro São Paulo TOTAL REGIONAL Paraná Rio Grande do Sul Santa Catarina TOTAL REGIONAL NÃO ALOCADO BRASIL EMISSÕES DE GEE (MIL TONELADAS DE CO2e) Estado Disposição fi nal Incineração Tratamento de Efl uentes Líquidos Industriais Tratamento e Afastamento de Efl uentes Líquidos Domésticos Total Contribuição 45 323 50 413 62 23 83 999 534 3.100 2.090 1.103 778 2.079 586 684 448 11.401 1.706 2.191 787 846 5.529 958 6.004 7.839 14.080 28.881 2.418 1.556 2.1346.108 - 52.918 0 1 0 2 1 0 0 5 1 9 4 3 12 15 1 5 0 51 3 30 2 9 44 3 41 22 86 152 29 4 3 37 - 289 21 69 0 184 142 3 91 511 286 489 81 81 107 363 27 54 66 1.554 11 1.342 910 503 2.766 78 2.017 208 8.621 10.924 2.705 1.865 585 5.155 6 20.916 71 347 68 717 155 45 133 1.534 291 1.323 776 602 346 815 278 301 196 4.930 258 580 232 286 1.356 344 1.819 1.441 3.876 7.480 974 978 599 2.550 - 17.849 137 739 119 1.316 360 71 307 3.049 1.111 4.921 2.951 1.790 1.244 3.272 893 1.044 711 17.936 1.977 4.143 1.932 1.643 9.695 1.384 9.881 9.510 26.662 47.437 6.126 4.403 3.320 13.849 6 91.972 0,15% 0,80% 0,13% 1,43% 0,39% 0,08% 0,33% 3,31% 1,21% 5,35% 3,21% 1,95% 1,35% 3,56% 0,97% 1,14% 0,77% 19,50% 2,15% 4,50% 2,10% 1,79% 10,54% 1,50% 10,74% 10,34% 28,99% 51,58% 6,66% 4,79% 3,61% 15,06% 0,01% N O R TE N O R D ES TE SU D ES TE SU L CE N TO -O ES TE 37 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Observa-se que em 2016, três dos quatro Estados que mais emitem no setor de resí- duos se localizam na macrorregião Sudeste e um na Sul. Esse comportamento reforça a forte infl uência populacional atribuída ao setor. Em contrapartida à predominância do Sudeste, observa-se que os seis Estados que menos contribuem localizam-se na macrorregião Norte, que apresenta os menores índices populacionais e baixo acesso a serviços de saneamento. A Figura 15 apresenta os resultados consolidados do setor de resíduos, em ordem de- crescente de contribuição por Unidade da Federação no território brasileiro em 2016. Nota-se que os estados brasileiros, em sua maioria, contribuem majoritariamente com emissões associadas à disposição fi nal de RSU, característica não observada nos esta- dos do Paraná e Rio Grande de Sul, que apresentam altos índices de contribuição de emissões relacionadas ao tratamento de efl uentes líquidos industriais. Figura 15 - Emissões totais de GEE desagregadas por subsetor e estado (2016) Fonte: Elaboração própria 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 99 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 M ilh õe s de t on el ad as d e CO 2e 30 25 20 15 10 5 - SP M G RJ PR BA R S G O SC PE CE D F M S M A M T ES PA PB A L RN P I AM S E RO TO A C AP RR N A Tratamento de Efl uentes Líquidos Industriais Disposição Final Tratamento e Afastamento de Efl uentes Líquidos Domésticos Incineração 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 38 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Os tópicos a seguir analisam o comportamento histórico das emissões por subsetor e como o processo de alocação estadual ocorreu para cada unidade da federação. Análise das emissões associadas aos sistemas de gestão de RSU nos estados brasileiros A abordagem aplicada pelo SEEG incorporou as características regionais nas estimati- vas de emissões de metano, utilizando dados de coleta de resíduos e tipo de disposição final adotada para cada UF. No subsetor de disposição final de RSU, observa-se a pre- dominância da região Sudeste, responsável por cerca de 51% das emissões em 2016. Os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os três maiores emissores, contribuem com aproximadamente 29%, 11% e 10%, respectivamente. A evolução histórica das emissões do subsetor por estado pode ser observada na Figura 16, onde se observa o crescimento acentuado das emissões entre os anos de 1970, 1990 e 2002. Após 2002, identifi ca-se a inclinação à estabilização do setor, con- forme discutido no item 2.1. Nota-se também que alguns Estados, como São Paulo e Rio Grande do Sul, apresentam um crescimento comparativamente baixo entre 2012 e 2015 ou decréscimo, devido ao aumento de índices de recuperação de metano em aterros sanitários, seja pela queima ou pelo aproveitamento energético, sendo a pri- meira opção mais comum. 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 39 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Figura 16 - Emissões totais de GEE provenientes da disposição fi nal de RSU do Estados brasileiros em anos de interesse Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul Ressalta-se a baixa contribuição de Estados da região Norte, cujas emissões represen- tam apenas cerca de 2% do total nacional. Outro aspecto interessante sobre as ca- racterísticas estaduais de emissões é a contribuição mais signifi cativa de Estados da macrorregião Centro-Oeste, que, apesar de não apresentarem taxas populacionais tão acentuadas, possuem índices de emissões relativamente altos. Goiás, por exemplo, é o nono Estado mais populoso do Brasil; no entanto, é o sexto maior emissor, à frente de estados como Rio Grande do Sul, Pernambuco e Ceará23. Neste caso, o comportamen- to é justifi cado pela composição gravimétrica e, consequentemente, pelo potencial de geração de metano de cada região. 23 De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015, os estados apresentados são as 6ª, 7ª e 8ª UFs com maior maior número de habitantes urbanos. Disponível em <https://sidra.ibge.gov.br/tabela/261> 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 99 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 M ilh õe s de t on el ad as d e CO 2e 16 14 12 10 8 6 4 2 - SP R J M G BA P R G O SC CE PE D F RS M A ES M T M S PB RN P I AL SE PA AM T O RO A P AC RR 20121970 20151990 2016 40 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Análise das emissões provenientes da incineração nos Estados brasileiros Conforme mencionado anteriormente, a incineração é uma rota tecnológica pouco ex- plorada como tratamento de resíduos sólidos no Brasil. A desagregação das emissões por Unidades da Federação foi realizada por meio de dois processos distintos para resíduos de serviços de saúde e resíduos industriais. Para RSS, foram utilizados dados de atividades obtidos nos panoramas anuais da ABREL- PE, especialmente para anos recentes, enquanto para períodos sem informações, foram utilizadas correlações matemáticas. Já para RSI, a alocação estadual foi baseada em in- formações compiladas a partir de inventários estaduais. A Figura 17 apresenta a contri- buição por estado de emissões GEE provenientes da incineração, em anos de interesse. Figura 17 - Emissões totais de GEE provenientes da incineração de RSS e RSI dos Estados brasileiros em anos de interesse Fonte: Elaboração própria 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 19 7019 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 99 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 M ilh õe s de t on el ad as d e CO 2e 90 80 70 60 50 40 30 20 10 - SP M G PR G O RJ PE P I PB BA M T RS RN C E D F SC M A M S ES PA AM A L SE RO A C AP TO R R 20121970 20151990 2016 41 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Como nem todas as Unidades da Federação possuíam inventários regionais, a produção de resíduos industriais foi alocada somente em Estados que apresentaram seus inventários. De modo que pode-se ter superestimado as emissões para os estados que apresentaram informações sobre suas respectivas atividades industriais. Nesse contexto regional, os Es- tados que mais contribuíram no subsetor foram São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás. Análise das emissões provenientes do tratamento e afastamento de efl uentes líquidos domésticos nos Estados brasileiros A análise das emissões associadas ao tratamento de efl uentes líquidos domésticos, caracterizada por sua baixa qualidade de dados, discutida na seção 2.3, baseia-se prin- cipalmente nas taxas de população com acesso a escoadouro em cada Unidade da Federação do Brasil. A Figura 18 apresenta o comportamento histórico das emissões associadas ao tratamento e afastamento de efl uentes domésticos, marcada pelo acen- tuado crescimento para todos os Estados brasileiros. Figura 18 - Emissões totais de GEE provenientes do tratamento e afastamento de efl uentes dos Estados brasileiros em anos de interesse Fonte: Elaboração própria 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 M ilh õe s de t on el ad as d e CO 2e 5 4 4 3 3 2 2 1 1 - SP M G RJ BA R S PR P E CE PA M A SC G O AM P B ES RN A L M T PI D F M S SE RO TO A C AP RR 20121970 20151990 2016 42 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Como a principal condicionante do setor na análise realizada foram as taxas populacio- nais, os seis Estados que mais emitem (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná), responsáveis por cerca de 57% do total de emissões do se- tor, são também os que apresentam o maior número de habitantes com escoadouro. Análise das emissões provenientes do tratamento e afastamento de efl uentes líquidos industriais nos Estados brasileiros As emissões provenientes do tratamento de efl uentes líquidos industriais foram esti- madas por meio da produção industrial de cada Unidade da Federação, que por sua vez foi obtida por meio de dados diretos ou correlações matemáticas. A Figura 19 apre- senta o comportamento histórico das emissões do subsetor. Figura 19 - Emissões totais de GEE provenientes do tratamento de efl uentes líquidos industriais em anos de interesse Fonte: Elaboração própria 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 M ilh õe s de t on el ad as d e CO 2e 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 - SP PR M G RS G O M S SC M T BA P E AL R J PA RO P B TO M A CE ES AM S E RN P I AC D F N A RR AP 20121970 20151990 2016 43 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS O Estado de São Paulo novamente se posiciona como a principal UF fonte de emissões de GEE pelo tratamento de efl uentes industriais, responsável por 41% das emissões do subsetor. É seguido por Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e Goiás. Destaca-se que o posicionamento em relação à quantidade de emissões de GEE das UFs não necessa- riamente coincidem com seu posicionamento na contribuição ao PIB nacional24, pois a análise seleciona as atividades industriais por sua capacidade de geração de DBO. Deve-se enfatizar o crescimento acentuado de emissões entre os anos de 2000 e 2010, no setor de efl uentes líquidos industriais, para todos os Estados, intervalo no qual o sub- setor se consolidou como segundo maior em emissões de GEE no setor de resíduos. A Figura 20 apresenta a contribuição percentual de cada atividade industrial no total de emissões das dez UFs que mais emitiram em 2016. Destaca-se a contribuição da produ- ção de açúcar nos Estados de São Paulo e Pernambuco; a produção de papel e celulose no Paraná, no Rio Grande do Sul e na Bahia; a produção de álcool nos Estados da região centro-oeste; e, por fi m, a característica bastante diversifi cada de Minas Gerais. Figura 20 - Contribuição percentual de cada atividade industrial nas emissões de GEE pelo tratamento de efl uentes líquidos industriais em 2016 Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul 24 Rankeamento dos estados elaborado pela Confederação Nacional de Indústria (CNI), disponel em: <http:// perfi lestados.portaldaindustria.com.br/ranking?cat=9&id=1354> 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Avícola Álcool Leite Pasteurizado SuínosCerveja BovinaCelulose Açúcar Leite Cru BA G O M G M S M T PE PR R S SC SP 44 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 2.3 ANÁLISE E LIMITAÇÕES DOS DADOS Disposição fi nal de resíduos sólidos A qualidade da estimativa de emissões de metano está diretamente relacionada à qua- lidade e disponibilidade dos dados de atividade no setor de resíduos, que incluem o total de resíduos sólidos urbanos gerados, índices de coleta, composição gravimétrica, fração de RSU encaminhada para disposição fi nal em aterros sanitários, controlados e lixões e a quantidade de metano recuperada nos locais de disposição. Apesar de os Panoramas Anuais da ABRELPE - lançados a partir de 2004 - apresenta- rem os indicadores estaduais de coleta de RSU e tipos de disposição fi nal, o setor de resíduos é caracteristicamente marcado pela ausência de informações, principalmente pela pouca disponibilidade de dados históricos. As informações sobre a composição gravimétrica e, consequentemente, a fração de car- bono degradável presente no material coletado, foram obtidas a partir do relatório de referência do setor de resíduos elaborado e extrapolados para os anos subsequentes a 2010. As informações estão disponíveis para as macrorregiões e apenas três Estados têm os dados desagregados, ou seja, a análise de quantidade de carbono orgânico degradá- vel é dada pela aplicação de dados regionais em cada UF. Outro aspecto a ser destacado é o fato de o relatório de referência do setor não explicitar de forma transparente a me- todologia utilizada para estabelecer as equações referentes à obtenção do DOC. Por fi m, a gestão de resíduos possui característica fortemente local; no entanto, as esti- mativas são realizadas considerando dados estaduais ou regionais, não representando com acurácia a realidade brasileira da gestão municipal de resíduos sólidos. 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 45 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Incineração de resíduos sólidos As variáveis chaves para o cálculo das emissões de CO2 e de N2O são a quantidade e o tipo de resíduos (industrial e de saúde) incinerados anualmente. Frente à impossibi- lidade de um levantamento mais assertivo da quantidade de resíduos incinerados de 1970 a 2016, as estimativas de emissões desse período foram calculadas pelo SEEG baseando-se nos dados disponíveis após 1990. Os dados encontrados no período de 1990 a 2016 também são parciais, sendo neces-sária a aplicação de correlações matemáticas e inferências, não correspondendo à to- talidade de incineradores existentes e à quantidade de resíduos incinerados. Especifi camente para os resíduos industriais, observa-se a ausência de informações consistentes, de modo que se utilizaram dados obtidos a partir do relatório de refe- rência do setor. A desagregação estadual foi realizada a partir de inventários regionais. Porém, como nem todas as Unidades da Federação elaboraram seus inventários, a alocação pode ter subestimado ou superestimado a contribuição de diferentes UFs. Efl uentes líquidos domésticos De acordo com a metodologia de cálculo, as emissões desse subsetor variam, dentre outros fatores, em função da população e dos tipos de tratamento adotados. Frente à inexistência de uma base de dados anual que permita conhecer com exatidão as frações dos efl uentes domésticos e cada tipo de tratamento, os autores do 3o Inven- tário Nacional de Gases de Efeito Estufa realizaram um conjunto de inferências e de integrações de dados de fontes e formatos diferentes. No entanto, as informações não estão integralmente descritas no relatório de referência, impossibilitando a replicação da metodologia de cálculo. A estimativa realizada pela plataforma SEEG obteve o valor do fator de correção de me- tano (sigla em inglês, MCF) ponderado, variável que agrega matematicamente informa- ções de tipo de tratamento adotado e as frações da população atendida por determi- nado serviço, a partir dos resultados obtidos no relatório de referência. O processo de alocação estadual de emissões foi realizado com base no número de habitantes com escoadouro de cada UF. A metodologia aplicada para a quantifi cação das emissões de GEE pelo tratamento de efl uentes líquidos tem necessidade de aprimoramento. 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 46 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Efl uentes líquidos industriais O cálculo abrange as atividades industriais que mais geram carga orgânica e que, por- tanto, possuem o maior potencial de geração de GEE. Nesse sentido, os setores con- templados foram: cerveja, leite cru, leite pasteurizado, açúcar, álcool, papel, suínos e aves e bovinos. De acordo com o método de cálculo, as emissões desse subsetor variam, dentre outros fatores, em função de volume/quantidade produzida e do tipo de tratamento adotado, dado que cada sistema de tratamento possui um fator de emissão específi co. Para o cálculo foram utilizados os dados de produção, porém não foram obtidos dados específi cos sobre o tipo de tratamento dos efl uentes, para os quais foram reproduzi- das informações descritas no relatório de referência do setor de resíduos e valores de- fault estabelecidos pelo IPCC. Destaca-se também a falta de dados atualizados e ofi ciais sobre a recuperação energética do metano nos diferentes sistemas de tratamento de efl uentes, impossibilitando uma estimativa precisa das emissões. Dessa forma as estimativas variaram em função do aumento da produção dos dife- rentes setores avaliados, porém não captaram totalmente as mudanças no padrão de tratamento dos efl uentes industriais. Tais mudanças possivelmente ocorreram, levan- do-se em consideração a intensifi cação das exigências ambientais para a aprovação e para o funcionamento das indústrias. 2. EMISSÕES DE GEE NO SETOR DE RESÍDUOS NO PERÍODO 1970-2016 47 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS A temática de resíduos é transversal a várias políticas nacionais, como as áreas de meio ambiente, indústria, saúde, saneamento básico e mudanças climáticas. Como não há planos de mitigação e adaptação ao enfrentamento da mudança do clima específi co para o setor de resíduos, foram analisadas as políticas e planos setoriais, a fi m de verifi car o status atual de integração entre as medidas propostas e as ambi- ções de mitigação de gases de efeito estufa (GEE) brasileiras, no contexto de Contri- buição Nacional Determinada (NDC). 3.1 POLÍTICA NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO A Lei Federal de Saneamento Básico, Lei nº 11.445, promulgada em 5 de janeiro de 2007, defi niu um marco regulatório para o setor. O conceito de saneamento básico consiste no conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de (BRASIL, 2013): 1) Abastecimento de água potável, desde a captação até as ligações prediais e instrumentos de medição; 2) Esgotamento sanitário, constituído pelas atividades de coleta, transporte, tratamento e disposição fi nal adequada de efl uentes, desde as ligações pre- diais até o seu lançamento no meio ambiente; 3) Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos; 4) Drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. A Lei de Saneamento é um importante marco no sentido de estabilidade institucional, abrindo um leque de opções para a formação de diversas estruturas de regulação. Seu principal foco é a universalização do acesso na saúde fi nanceira de empresas (ARAÚJO FILHO, 2008). O Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) é o principal instrumento da política nacional de saneamento básico instituído pela Lei 11.445. Aprovado em dezembro de 2013, o plano contém diretrizes gerais para a atuação do governo federal nos próximos 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS 48 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 20 anos, orientando que órgãos federais desenvolvam programas e ações na área de saneamento básico. É de importância estratégica para o Brasil, ao disciplinar o proces- so de tomada de decisões na política pública setorial e ao se colocar como referência para os planos locais, a serem elaborados por determinação legal. Destacam-se a seguir alguns dos princípios fundamentais que norteiam o Plansab (BRASIL,2015): • Universalização: acesso igualitário aos serviços de saneamento básico por toda a população; • Equidade: superação de diferenças evitáveis, desnecessárias e injustas por meio da prestação de serviços, destacando um grupo ou categoria essencial alvo es- pecial das intervenções; • Integralidade: conjunto de todas as atividades e componentes de cada um dos diversos serviços, propiciando à população o acesso na conformidade de suas necessidades e maximizando a efi cácia das ações e resultados; • Intersetorialidade: articulação e integração institucional visando compatibilizar a execução de diversas ações, planos e projetos, e o compartilhamento entre tecnologias e práticas setoriais; • Sustentabilidade: assumida em pelo menos quatro dimensões: a ambiental, a social, a de governança e a econômica; • Participação e controle social: construção de relações entre cidadania e gover- nabilidade, vislumbrando avançar na instituição de práticas democráticas subs- tantivas; • Matriz tecnológica: prospecção dos rumos tecnológicos que o setor deve trilhar e o padrão tecnológico que deve ser apoiado e incentivado. O Quadro 2 descreve as metas de curto, médio e longo prazo – 2018, 2023 e 2033 -, esta- belecidas no Plansab, defi nidas a partir da evolução histórica e da situacional dos indica- dores, com base nos cenários políticos e econômicos que o Brasil apresentava em 2012. 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS 49 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Quadro 2 - Metas estipuladas no Plano Nacional de Saneamento Básico Fonte: Elaboração própria 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS % de domicílios urbanos e rurais abastecidos por rede de distribuição ou por poço ou nascente com canalização interna (abastecimento de água) % de domicílios urbanos e rurais servidos por rede coletora ou fossa séptica para os excretas ou esgotos sanitários % de tratamento de esgoto coletado % de domicílios urbanos atendidos por coleta direta de resíduos sólidos % de municípios com coleta seletiva de resíduos sólidos domiciliares PLANO DE METAS (%) Metas Região 2010 2018 2023 2033 NorteNordeste Sul Sudeste Centro-Oeste Brasil Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-Oeste Brasil Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-Oeste Brasil Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-Oeste Brasil Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-Oeste Brasil 71 79 98 96 94 90 33 45 72 87 52 67 53 66 59 46 90 53 84 80 96 93 92 90 5 5 38 25 7 18 79 85 99 98 96 93 54 59 81 90 63 76 69 77 73 63 92 69 90 88 99 99 95 94 12 14 48 36 15 28 84 89 99 99 98 95 63 68 87 92 70 81 77 82 80 72 93 77 94 93 100 100 97 97 15 18 53 42 19 33 94 97 100 100 100 99 87 85 99 96 84 92 93 93 94 90 96 93 100 100 100 100 100 100 22 28 63 53 27 43 50 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS As metas foram baseadas em um cenário futuro possível e, até certo ponto, considera- das desejáveis e otimistas. O atual momento político e econômico do Brasil, de instabi- lidade política e recessão, aponta para um desvio do cenário base, onde taxas de cres- cimento do acesso ao saneamento devem se mostrar mais tímidas nos próximos anos. A ampliação progressiva do acesso de domicílios ao saneamento básico apresenta, de- pendendo das medidas e políticas implementadas, o potencial de aumentar ou reduzir as emissões de GEE. A prática da coleta e tratamento de efl uentes pode apresentar maior potencial de geração de metano do que se o efl uente fosse lançado diretamente num corpo hídrico, porém caso seja observada a queima ou o aproveitamento do bio- gás gerado no tratamento anaeróbio do efl uente, as emissões seriam menores. Alter- nativas, como a aplicação de tratamentos primários e secundários em condições aeró- bias, também apresentam potencial de anular ou minimizar as emissões de metano. O Plansab não faz menção às políticas de mudanças climáticas, apenas cita que devem ser fomentadas técnicas que reduzam as emissões de GEE como uma estratégia rela- tiva ao desenvolvimento tecnológico. No entanto, não indica diretrizes de como isso deve ser alcançado. Não foi identifi cado nenhum plano especifi co para tratamento de efl uentes industriais, os quais devem estar de acordo com a legislação específi ca seguindo os padrões de lançamento de efl uentes, conforme a Resolução CONAMA 357/2005, que não possui nenhum padrão referente às emissões de GEE. O défi cit do saneamento básico, caracterizado pela ausência ou precariedade de so- lução para disposição dos efl uentes gerados, é fruto de muitos fatores históricos, po- líticos, econômicos e sociais que precisam ser enfrentados. A qualidade de vida da população brasileira é diretamente infl uenciada pela qualidade e universalidade dos serviços do setor. O saneamento apresenta impactos diretos sobre a saúde pública, o meio ambiente e o desenvolvimento econômico do país. 3.2 POLÍTICA NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA A Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), instituída pela Lei nº 12.187 de 29 de dezembro de 2009, ofi cializa o compromisso voluntário de redução do nível de emissões de gases de efeito estufa entre 36,1% e 38,9% até 2020 em relação ao cenário 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS 51 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS tendencial. A lei estabelece, ainda, o desenvolvimento de planos setoriais de mitigação e adaptação nos âmbitos local, regional e nacional, cuja execução tem como principais instrumentos o Plano Nacional Sobre Mudanças Climáticas, o Fundo Nacional para Mu- danças Climáticas (Fundo Clima) e a Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Qua- dro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (BRASIL, 2008). O Plano Nacional sobre Mudança do Clima visa identifi car, planejar e coordenar ações e medidas de mitigação que possam ser aplicadas para reduzir as emissões de GEE, bem como àquelas necessárias para aumentar a capacidade de adaptação da sociedade no contexto de mudanças climáticas. Explicitando exclusivamente os objetivos específi cos do Plano Nacional sobre Mudança do Clima que se relacionam com o setor de resíduos, pode-se destacar (BRASIL, 2008): • Fomentar aumentos de efi ciência do desempenho dos setores da economia na busca constante do alcance das melhores práticas; • Fortalecer ações intersetoriais voltadas para a redução das vulnerabilidades das populações; • Identifi car os impactos ambientais decorrentes da mudança do clima e fomentar o desenvolvimento de pesquisas científi cas para que se possa traçar uma estra- tégia que minimize os custos socioeconômicos de adaptação do país. O plano ainda estabelece que as maiores oportunidades de mitigação do setor de re- síduos consistem em seu planejamento e gestão integrada, equacionamento do pro- blema relacionado à disposição fi nal inadequada, recuperação de metano em aterros sanitários – com devida queima ou captura do biogás para fi ns de aproveitamento energético-, incineração com recuperação energética e compostagem. Além disso, in- dica o direcionamento de esforços para atingir o patamar de 20% de reciclagem de resíduos sólidos (BRASIL, 2008). O Decreto nº 7.390 de 9 de dezembro de 2010, que regulamenta a Política Nacional sobre Mudança do Clima, por sua vez, publicado quase um ano após a entrada em vigor da PNMC, defi ne como as metas devem ser alcançadas, prevendo a elaboração de Planos Setoriais com a inclusão de ações, indicadores e metas específi cas de redu- ção de emissões, mecanismos de verifi cação, além de estabelecer as revisões do Plano Nacional sobre Mudança do Clima. Não há, porém, obrigatoriedade na elaboração de 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS 52 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS um plano exclusivo para o setor de resíduos, além de não se quantifi car as projeções exatas de emissões do setor, pois o decreto as apresenta juntamente com as emissões do setor de indústrias de transformação. O Plano Setorial de Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima para a consolidação de uma economia de baixo carbono na Indústria de Transformação apresenta uma meta de redução de 308,16 Mt de CO2eq até 2020. Destaca-se o aumento da reciclagem e o aproveitamento de coprodutos, reforçando a necessidade de integração entre as Polí- ticas Nacionais de Mudança do Clima e a de Resíduos Sólidos. Para tanto, é prevista a realização de um estudo/avaliação de barreiras regulatórias sobre o processamento de resíduos sólidos industriais e urbanos, com propostas de alteração do marco regulatório se necessário, tratamento tributário diferenciado para produtos recicla- dos, bem como bolsas de resíduos, ou seja, instrumentos regulatórios e econômicos fun- damentais para o cumprimento do objetivo de aumento de reciclagem e aproveitamento de coprodutos. Contudo, tais atividades ainda não foram concretizadas (BRASIL, 2008). 3.3 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/10, com- preende o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotadas em âmbito federal. É um marco regulatório que possui como base a diretriz sequencial de não geração, redução, reciclagem, tratamento de resíduos sólidos e dis- posição fi nal ambientalmente adequada de rejeitos (Brasil, 2010a). A PNRS defi ne os conceitos de “responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do pro- duto” e a “logística reversa”, assim como estabelece que os resíduos devem ser tratados e recuperados por processos tecnológicos disponíveise economicamente viáveis (ABRELPE, 2015). Destaca-se que, para a destinação fi nal ser considerada ambientalmente adequada, os resíduos devem ser valorizados mecanicamente, biologicamente e/ou energeticamente. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares)25 é um dos principais instrumentos da PNRS. Consiste em uma ferramenta que, quando publicada e em vigor, contribuirá para 25 O Planares ainda não foi aprovado pelos cinco Conselhos Nacionais relacionados à temática de resíduos sólidos 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS 53 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS a execução da Política Nacional. No Plano são apresentados objetivos intermediários que deveriam ser alcançados nos anos de 2015, 2019, 2023 e 2027 – tais metas estão descritas no Quadro 3. Por fi m, a universalização da gestão ambientalmente adequada deveria ser alcançada em 2031. Quadro 3 - Metas apresentadas no Plano Nacional de Resíduos Sólidos Fonte: Elaboração própria 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS Áreas de lixões reabilitadas (queima pontual, captação de gases para geração de energia, coleta de chorume, drenagem, compactação da massa e cobertura do solo e cobertura vegetal Redução dos resíduos recicláveis secos e dispostos em aterro, com base na caracterização nacional DE 2012 Redução do percentual de resíduos úmidos disposto em aterros, com base na caracterização nacional Recuperação energética (em MWh) Erradicação de lixões27 PLANO DE METAS (%) 26 Metas Região 2015 2019 2023 2027 2031 Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-Oeste Brasil Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-Oeste Brasil Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-Oeste Brasil Brasil Brasil 5 5 10 10 8 5 10 12 43 30 13 22 10 15 30 25 15 19 50 100 20 20 20 20 20 20 13 16 50 37 15 26 20 20 40 35 25 28 100 100 45 45 50 50 45 45 15 19 53 42 18 29 30 30 50 45 35 38 150 100 65 65 75 75 65 65 17 22 58 45 21 32 40 40 55 50 45 46 200 100 90 90 100 100 90 90 20 25 60 50 25 36 50 50 60 55 50 53 250 100 26 Metas elaboradas a partir dos cenários desenvolvidos no Plansab, que serão posteriormentes discutidas ainda nessa seção 27 A data inicialmente prevista para o encerramento de lixões no Brasi era 2 de agosto de 2014, no entanto o prazo foi prorrogado e as novas datas estabelecidas estão no período compreendido entre julho de 2018 e julho de 2021, de acordo com as dimensões e a população do município. 54 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS As diretrizes e metas previstas no PNRS podem repercutir nas emissões de GEE. A se- guir apresenta-se um levantamento das principais metas e suas infl uências no contex- to de enfrentamento às mudanças do clima. Eliminação de lixões e aterros controlados Das metas quantitativas apresentadas, apenas a meta de eliminação dos lixões e ater- ros controlados é uma imposição legal. Se essa condição se refl etir apenas no encami- nhamento de RSU para aterros sanitários, desacompanhada de medidas de valoriza- ção como o aumento de taxas de coleta seletiva, compostagem, reciclagem, redução do consumo e o aproveitamento energético, a tendência é que haja uma elevação das emissões de GEE, devido ao potencial de geração de metano em aterros sanitários. Redução dos resíduos recicláveis secos e dispostos em aterro, com base na caracterização nacional de 2012. A reciclagem é o processo de transformação de resíduos sólidos que envolve a altera- ção de propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com o intuito de reaproveitar materiais em insumos ou novos produtos (BRASIL, 2010a). O potencial de mitigação associado ao processo se dá, inicialmente, pela diminuição de materiais encaminhados para disposição fi nal. Deve-se considerar que a reciclagem permite a substituição de insumos em um con- texto de economia circular, podendo resultar em uma forte redução de emissões asso- ciadas ao consumo de energia do setor industrial, ao aliviar pressões de demanda de matérias-primas e de energia (EPE,2014). Redução do percentual de resíduos úmidos disposto em aterros, com base na caracterização nacional. A fração orgânica, também denominada fração úmida, pode ser submetida a proces- sos de tratamento por compostagem ou a processos de estabilização em biodigestores anaeróbicos, a fi m de promover a valorização biológica do material orgânico. Os pro- cessos, além de diminuir a quantidade de RSU encaminhados para aterros, apresen- tam menores potenciais de geração de GEE28. 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS 28 A compostagem é um processo majoritariamente aeróbico, enquanto o uso de biodigestores se qualifi ca como uma rota de tratamento anaeróbica. Porém podem estarassociados a processos de aproveitamento energético do metano gerado. 55 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS A gestão efi ciente da fração orgânica dos resíduos é considerada um dos instrumentos mais efi cazes para a redução das emissões de GEE. Recuperação de biogás - Potencial de 300 MWh (MWh) Uma das possibilidades para reduzir as emissões de metano de aterros sanitários é a utilização de um sistema de captura e queima de CH4 ou aproveitamento de energéti- co do biogás. De acordo com as estimativas realizadas por Alves e Gouvello (2010), as emissões de CH4 assumirão patamares maiores que 74 Mt de CO2e até 2030. Tal cená- rio, contudo, considera as mesmas práticas de manejo de resíduos em 2010 e em 2030, onde cidades com mais de 200.000 habitantes realizam a disposição dos resíduos em aterro sanitário e cidades com menos de 200.000 habitantes realizam a disposições dos resíduos sólidos em lixões. Outras iniciativas previstas no plano, como acordos setoriais para logística reversa, in- centivos à redução de geração de resíduos na fonte e o reuso de materiais também devem contribuir positivamente para a redução das emissões. Segundo as estatísticas setoriais dos últimos anos, aumentaram os níveis de cobertura no serviço de limpeza, bem como os percentuais de coleta de resíduos e disposição fi nal em aterros sanitários. Entretanto, ainda há um longo caminho a percorrer, visto que no Brasil medidas que incentivam a produção e aproveitamento energéticos de biogás, a bioestabilização da fração orgânica por meio da compostagem e digestão anaeróbica, assim como a reciclagem de resíduos secos estão bastante distantes do potencial existente e das metas explicitadas no Planares. Muitos municípios brasileiros, isoladamente, não apresentam condições técnicas que permitam a elaboração de planos de gestão de resíduos completos, aplicáveis e sus- tentáveis. Visando sanar esse défi cit municipal, a PNRS estimula o planejamento inter- municipal ou microrregional para a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos, o que é de extrema importância para sua efetividade (ABRELPE, 2015). Mesmo que não existam planos específi cos no Brasil para reduzir as emissões prove- nientes do setor, observa-se uma forte oportunidade de redução a partir da implementa- ção da PNRS. A principal meta do Planares, de universalização do acesso ao saneamento, deve estar acompanhada de medidas que induzam a não geração, a redução, a utilização de tratamento biológico, aumento do índice de reciclagem e aproveitamento do biogás. 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS 56 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Infelizmente, a inefi ciência na gestão, decorrente da falta de capacidade técnica, ge- rencial e fi nanceira dos municípios brasileirosdemonstra que o atual cenário brasileiro está bastante distante de cumprir as metas estabelecidas pela PNRS. A execução de alternativas de redução de emissões, sem instrumentos legais específi cos e sem incen- tivos econômicos, tende a ser mínima. 3.4 CONTRIBUIÇÃO NACIONALMENTE DETERMINADA (NDC) O Acordo de Paris, negociado no fi m da 21ª Conferência das Partes da Convenção-Qua- dro das Nações Unidas para as Mudanças do Clima, a COP 21, em dezembro de 2015, marcou o compromisso histórico em que 197 países e blocos supranacionais se orga- nizaram para limitar o aumento da temperatura média global. Os principais pontos do Acordo de Paris são: • Manter o aumento da temperatura da Terra bem abaixo de 2°C até 2100 em re- lação à época pré-industrial, fazendo esforços para limitá-lo a 1,5°C: • Diminuir a emissão de gases de efeito estufa das atividades antrópicas ao mes- mo nível que árvores, solo e oceanos são capazes de absorvê-los naturalmente, entre 2050 e 2100; • Incidir sobre todos os países signatários e ter sido fi rmado com base nas contri- buições nacionalmente determinadas (NDC, acrônimo em inglês), apresentadas individualmente pelas nações; • Reconhecer que governos locais e subnacionais são participantes essenciais para acelerar ações transformadoras no ambiente urbano; • Levantar ao menos US$ 100 bilhões anuais de países desenvolvidos até 2020 para fi nanciar a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas. Em relação à mitigação da mudança do clima, a contribuição do Brasil será reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025, com uma contribuição indicativa subsequente de reduzir essas emissões em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030. 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS 57 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS De acordo com o projeto “Opções de Mitigação de Emissões de GEE em Setores-Chave do Brasil”, que será posteriormente discutido, os setores energéticos e de gestão de resíduos apresentam o maior potencial de redução em 2025. Apesar de o setor de resí- duos ser identifi cado como uma área prioritária e ser considerado um dos setores com menores custos de abatimento de emissões, o documento-base da elaboração da NDC brasileira não apresenta medidas e recomendações setoriais específi cas. 3.5 FÓRUM BRASILEIRO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), um dos instrumentos institucio- nais da Política Nacional de Mudanças Climáticas, se caracteriza como um espaço de concertação de atores da sociedade e do Estado brasileiro, cujo objetivo é conscientizar e mobilizar a sociedade e contribuir para a discussão das ações necessárias para en- frentar a mudança global do clima. Em março de 2017, o FBMC iniciou o processo de discussão para a Proposta de Im- plementação da NDC do Brasil, com o objetivo de elaborar um documento, a ser en- tregue ao Presidente da República, contento uma estratégia consistente, de alto nível técnico que contemple prioridades, sequenciamento e um plano de implementação socialmente legítimo e politicamente viável para cumprimento da NDC até 2025 e 2030 (FBMC, 2017). O processo foi realizado por meio da implantação de dez Câmaras Temáticas (CTs) con- templando os diversos setores da nossa economia, sendo uma delas intitulada CT de Cidades e Resíduos. O ICLEI, juntamente com o WRI Brasil e o WWF, foi responsável por co-coordenar os trabalhos que se relacionam com questões urbanas e das atribuições municipais. Foram levantadas, ao todo, 255 ações/medidas de mitigação no Cardápio de Opções, sendo 40 selecionadas para NDC e 59 como Ações de Curto Prazo. O Quadro 4 apre- senta as priorizações elencadas especifi camente no âmbito do setor de resíduos. 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS 58 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Quadro 4 - Medidas prioritárias e ações de curtos prazo elencadas pelo CT Cidadas e Resíduos As medidas prioritárias selecionadas focam em ações referentes aos subsetores de tratamento intermediário de RSU e disposição fi nal de resíduos sólidos e efl uentes do- mésticos. O potencial de abatimento da medida de estímulo à compostagem reside principalmente no não encaminhamento da fração orgânica para a disposição fi nal em aterros sanitários, controlados ou lixões, reduzindo o potencial de geração de metano do material coletado e consequentemente reduzindo também os valores absolutos de emissão de GEE. A compostagem, por ser um processo majoritariamente aeróbico, apresenta um fator de emissão menor em relação à rotas de tratamento anaeróbicas. De acordo com as diretrizes do IPCC29, a estimativa da emissão de metano na atmos- fera decorrente do processo de compostagem atinge um intervalo menor de 1% do conteúdo de carbono inicial do material. 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS 29 Informação obtida no capítulo relacionado ao tratamento biológico de resíduos, disponível em: https://www. ipcc-nggip.iges.or.jp/public/2006gl/pdf/5_Volume5/V5_4_Ch4_Bio_Treat.pdf. Resíduos sólidos Resíduos sólidos Resíduos sólidos e Efl uentes líquidos domésticos Resíduos sólidos e Efl uentes líquidos Resíduos sólidos e Efl uentes líquidos Estímulo à compostagem da fração orgânica dos RSU segregada na fonte, seja por domicílios/grandes geradores. Criação e implementação de programa de fi scalização e monitoramento dos fl ares e da cobertura fi nal do aterro para a avaliação da efi ciência da eliminação controlada de biogás. Aproveitamento energético de biogás gerado em aterros sanitários/no tratamento da fase sólida e líquida em ETEs/biodigestores de RSU/ codigestão de resíduos e/ou efl uentes, para geração de energia elétrica, gás para injeção na rede e/ou combustível veicular. Criação de plano de subsídios à formalização do sistema integrado de gestão de resíduos. Redução do risco creditício para alavancagem do aproveitamento energético de resíduos urbanos. Subsetor Subsetor Medidas Medidas 59 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS O aproveitamento energético do biogás gerado pelo tratamento e a disposição fi nal de resíduos sólidos e efl uentes líquidos, medida referente às últimas etapas na gestão de resíduos, apresenta potencial de redução de emissão GEE ao aumentar o percentual da fração de recuperação de CH4. Em relação às ações de curto prazo apresentadas, observa-se um direcionamento no sentido de ampliar o acesso ao crédito para o aproveitamento energético, visando di- minuir o risco de inadimplência. Propõe-se também a melhoria da gestão aplicada em aterros sanitários, com programas de fi scalização e monitoramento de fl ares e da co- bertura fi nal do aterro, ambas ações apresentadas possuem o potencial de reduzir as emissões de metano em locais de disposição fi nal. Por fi m, propõe-se a criação de um plano de subsídios à formalização do sistema inte- grado de gestão de resíduos, que de acordo com proposta elaborada tem o potencial de fortalecer a avaliação e o monitoramento das emissões de GEE a nível local, em con- sonância com a NDC e a PNRS30. 3. TRAJETÓRIA, METAS E COMPROMISSOS 30 Destaca-se que diferentes medidas setoriais (e.g. medidas prioritárias listadas no setor de agricultura e indústrias) também apresentam potencial de abatimento de emissões do setor de resíduos, no entanto elas não serão discutidas neste documento. 59 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 59 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 60 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 60 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 60 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 4. RECOMENDAÇÕES 4.1 APERFEIÇOAMENTO E TRANSPARÊNCIA DAS INFORMAÇÕES DISPONÍVEIS O setor de saneamento básico no Brasil é marcado pela baixa disponibilidade de da- dos, apesar de se observar uma melhoria nas últimas décadas, ainda se observa um conjunto de inconsistências e divergências metodológicas. A atualizaçãoe uniformiza- ção é necessária para que o cálculo das emissões do setor de resíduos seja realizado com maior acurácia. Nesse sentido, recomenda-se o aprimoramento da obtenção dos dados de atividade e a geração de informações integradas. Além disso, recomenda-se que os próximos relatórios de referência dos inventários do setor de resíduos tenham maior grau de detalhamento das metodologias adotadas, transparência quanto às bases de dados utilizadas em sua totalidade e que sejam dis- ponibilizadas informações em formatos editáveis. Destaca-se o potencial da plataforma de disponibilização de dados SNIS (Sistema Na- cional de Informações sobre Saneamento), hospedado no Ministério das Cidades, que agrega informações fornecidas pelos municípios. No entanto, nem todos os municípios brasileiros coletam e inserem suas informações regionais. Ou ainda, as informações descritas apresentam inconsistências nos diferentes anos. Recomenda-se a elabora- ção de uma componente dedicada às variáveis signifi cativas para quantifi car e analisar as emissões de GEE relacionadas à gestão de resíduos sólidos e efl uentes líquidos no âmbito da plataforma SNIS. 4.2 TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS A Figura 21 apresenta a hierarquia da gestão de resíduos, com a não geração/redução e reuso de resíduos no topo da pirâmide, seguidos por reciclagem, sistemas de recupe- ração energética (incluindo digestão anaeróbica), sistemas de tratamento sem aprovei- tamento energético (incluindo compostagem e incineração). Por fi m, com menor prioridade no gerenciamento de RSU, tem-se a disposição fi nal de resíduos em aterros sanitários (priorizando o aproveitamento energético ou queima de metano), seguida pela disposição em aterros controlados e em lixões. 61 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 4. RECOMENDAÇÔES Figura 21 - Hierarquia na gestão de resíduos. Fonte: Quinto relatório de avaliação (IPCC, 2014) A descrição de destinação fi nal adequada da Política Nacional de Resíduos Sólidos cor- robora o descrito na pirâmide hierárquica de sistemas de gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, apesar da obrigatoriedade quanto às metas do Planares ser apenas uma imposição legal para a erradicação de lixões. A seguir são descritas as recomendações quanto à gestão e gerenciamento de RSU, medidas essas com alto potencial de abatimento de emissões de GEEs: a) Produção e disseminação de informações qualifi cadas para os gestores munici- pais quanto às alternativas tecnológicas para tratamento e destinação de RSU e in- centivar a elaboração de planos municipais de gerenciamento de resíduos sólidos; b) Promoção de medidas de incentivo à não geração e reuso de resíduos sólidos; Prevenção Redução e não-produção de resíduos Lixão Reuso Reciclagem Recuperação energética Aterro sanitário com recuperação e uso de metano Aterro controlado/queima a céu aberto Aterro sanitário com escape de metano Aterro sanitário com queima de metano Tratamento sem recuperação energética Preparação para o reuso Reciclagem Outros tipos de recuperação Disposição 62 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS 4. RECOMENDAÇÔES c) Criação de instrumentos econômicos de incentivo à reciclagem e à redução do uso de materiais na cadeia produtiva; d) Remoção de barreiras fi scais à cadeia da reciclagem; e) Implantação plena dos acordos setoriais de logística reversa; f) Mecanismos de incentivos técnicos e fi nanceiros para a implantação pelos mu- nicípios de processos de tratamento da fração orgânica, como a compostagem e digestão anaeróbica; g) Fomento à utilização plena do potencial energético, físico e biológico dos resíduos; h) Criação de mecanismos sólidos de incentivos para implantação de sistemas de aproveitamento de biogás, tanto em pesquisas tecnológicas, quanto em incen- tivos fi nanceiros e tarifários para que os projetos não sejam tão vulneráveis ao mercado de carbono. i) Transversalmente a todas as ações, destacam-se práticas de educação e cons- cientização ambiental. 4.3 INCINERAÇÃO DE RESÍDUOS ESPECIAIS Recomenda-se fortalecer a gestão de resíduos de serviços de saúde e industrial, priori- zando a não geração e redução, quando aplicável. Além do fomento à utilização do po- tencial energético dos resíduos a partir do processo de incineração e a elaboração de novas tecnologias que minimizem os impactos ambientais das práticas de tratamento térmico e apresentem índices de abatimento de emissões de GEE. 4.4 TRATAMENTO E AFASTAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DOMÉSTICOS A busca pela universalização do acesso à serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento e afastamento de efl uentes domésticos deve estar acompanhada da te- mática de racionalização do consumo, juntamente com a priorização de medidas que reduzam a emissão de GEE, como: 63 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS a) Aplicação de sistemas de tratamento primário e secundário em condições aeró- bicas; b) Sistemas de captação e aproveitamento de metano associados à aplicação de tratamento anaeróbico; c) Incentivo à elaboração de planos municipais, procurando sinergia com o sanea- mento e o enfrentamento às mudanças do clima; d) Transversalmente, incentiva-se práticas de educação quanto à racionalização do consumo. 4.5 TRATAMENTO E AFASTAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS INDUSTRIAIS Garantir que os efl uentes líquidos industriais sejam dispostos adequadamente no meio ambiente, com o incentivo à implementação de sistemas de tratamento aeróbicos e aumento gradativo da captação e aproveitamento energético de metano, bem como promover o consumo consciente de insumos, priorizando a não geração de efl uentes. 4.6 RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA AS POLÍTICAS NACIONAIS E A ESTRATÉGIA NACIONAL PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA NDC Maior consideração quanto às questões climáticas e integração das políticas e planos nacionais como os Planos Nacionais de Mudanças do Clima (PNMC), de Resíduos Sóli- dos (PNRS), de Recursos Hídricos (PNRH), de Saneamento Básico (Plansab), de Produ- ção e Consumo Sustentável (PPCS) e Política Nacional de Saúde (PNS). Buscando com- preender a sinergia intersetorial e incentivar boas práticas no setor de saneamento, contextualizadas com as questões de enfrentamento às mudanças climáticas. Recomenda-se a criação de um Plano Setorial de Saneamento Ambiental para mitiga- ção e adaptação à mudança do clima. Assim como a revisão do documento-base da NDC, promovendo a incorporação do setor de resíduos como área prioritária, devido 4. RECOMENDAÇÔES 64 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS ao seu impacto na qualidade de vida da população brasileira, saúde pública e seu alto potencial de abatimento de emissões de gases de efeito estufa. Trajetórias de mitigação e instrumentos de políticas públicas para alcance das metas brasileiras no Acordo de Paris Em janeiro de 2018, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e o Programa da ONU para o Meio Ambiente lançaram as publicações dos re- sultados do Projeto “Opções de Mitigação de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) em Setores-Chave do Brasil”. O projeto considerou o exercício de modelagem integrada, a nível nacional, de traje- tórias de emissões, analisando as oportunidade de mitigação por uma lógica de cus- to-efetividade, ressaltando os impactos que sua implementação traria para diferentes agregados econômicos e sociais (MCTIC e ONU Meio Ambiente, 2017). Com a criação preliminar de um cenário de referência (REF), que considera as metas constantes de políticas públicas governamentais, bem como planos ofi ciais de expan- são setorial, foram elaborados cenários de baixo carbono (BC) que abrangem a aplica- ção de melhores tecnologias disponíveis (MTD) para redução de emissões de GEE (MC- TIC e ONU Meio Ambiente, 2017). A partir dos resultados do projeto,o MCTIC preparou uma contribuição técnica com o intuito de subsidiar as discussões para a elaboração de estratégias de implementação da NDC. Analisando especifi camente o setor de resíduos, as principais atividades identificadas e seus potenciais de abatimento nos cenários elaborados estão demonstradas no Qua- dro 5. Como premissa da análise, foram utilizados dados da Terceira Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima31. 31 Os resultados das estimativas do setor de resíduos elaborado no âmbito da plataforma SEEG e da comunicação nacional divergem, seja pela utilização de distintas abordagens metodológicas ou fontes de dados atividade. No entanto, os resultados da análise do MCTIC serão descritos para ilustrar o potencial de abatimento do setor. 4. RECOMENDAÇÔES 65 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Q uadro 5 – Medidas de baixo carbono elencadas no Projeto “Opções de Mitigação de Emissões de GEE em Setores-chaves no Brasil” e seus potencias custos de abatimento. Fonte: MCTIC, 2017 O cenário BC0 é caracterizado por medidas do tipo no regret, ou seja, que apresentam viabilidade econômica ao longo de sua vida útil. No caso do cenário BC10, inclui-se uma barreira econômica relacionada à internalização de um valor de US$ 10 por tonelada de CO2e. A Figura 22 apresenta grafi camente os resultados compilados da implementa- ção das medidas elencadas nos cenários analisados nos anos de 2025 e 2030. Figura 22 – Cenários de emissões do setor de resíduos, segundo o projeto “Opções de Mitigação de Emissões de GEE em Setores-chave no Brasil” Fonte: Elaboração própria, a partir do estudo “Opções de Mitigação de Emissões de GEE em Setores-chave no Brasil”. MCTIC, 2017. Degradação de biogás para aterros sanitário com fl are Aproveitamento de biogás para produção de biometano Aproveitamento de biogás para a geração de eletricidade Aproveitamento de biogás do tratamento de efl uentes para a geração de eletricidade Difusão da biodigestão para a geração de biometano Incineração de resíduos Difusão da biodigestão para a geração de eletricidade Ampliação da reciclagem de RSU 5,4 2,2 1,8 1,3 0,6 0,3 0,2 NA 20,8 8,2 6,7 5 2,1 1 0,9 0,4 Opções de mitigação Potencial de mitigação (Mt CO2e) BC0 (2025) BC10 (2030) 140 120 100 80 60 40 20 0 M ilh õe s de to ne la da s de C O 2e REF BC0 BC10 REF BC0 BC10 4. RECOMENDAÇÔES 108.5 96.6 68.5 122.2 83.1 77 66 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS O projeto enfatiza o papel relevante da gestão de resíduos para o cumprimento da meta da NDC em 2030, destacando o potencial dos seguintes instrumentos de po- líticas públicas para eliminar as barreiras econômicas setoriais (MCTIC e ONU Meio Ambiente, 2017): i. regulamentação do biogás, oriundo da gestão de resíduos, pela ANP; ii. captação de recursos de fundos internacionais para fi nanciamento da atividade; iii. criação de um centro nacional de apoio a municípios para a gestão de baixo car- bono de resíduos sólidos; iv. condicionamento da concessão de isenções e incentivos fi scais aos Estados e municípios à implementação de contrapartidas de gestão de baixo carbono de RSU. 4. RECOMENDAÇÔES 67 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS As cidades são as grandes emissoras de gases de efeito estufa relacionados a trata- mento e disposição fi nal de resíduos sólidos e efl uentes líquidos, bem como são os locais onde os danos provocados pelas mudanças climáticas, como alagamentos, des- lizamentos, ondas de calor, se fazem sentir mais diretamente pela população, especial- mente a fração mais vulnerável e suscetível a riscos (ICLEI, 2016). As emissões do setor de resíduos estão principalmente condicionadas à complexidade do estilo de vida nas cidades. Em âmbito nacional, o setor é marcado pela baixa contribuição no entanto, ao se analisar no contexto urbano, nota-se um cenário muito distinto, onde o tratamento e a disposição fi nal de resíduos podem atingir contribuições percentuais médias de 10% a 20% no total de emissões de GEE em diferentes municípios no Brasil. O inventário de emissões e remoções antrópicas de GEE do município de São Paulo, de 2003 a 2009, registrou que o setor de resíduos foi responsável por 15,6% das emissões na cidade32. Já o inventário de emissões da cidade do Rio de Janeiro de 2012, coordena- do pela equipe Centro Clima/COPPE/UFRJ, relata que o setor de resíduos corresponde por cerca de 10% das emissões totais no município33. O Distrito Federal também quan- tifi cou suas fontes de emissão e identifi cou o setor como responsável pela emissão de 20,09% e 20,48% em 2008 e 2009, respectivamente34. Por fi m, também se pode citar o inventário realizado pelas sete cidades do Grande ABC, na região metropolitana de São Paulo, articuladas pelo consórcio intermunicipal da região, no qual se registra que o setor foi responsável por 13% do total de emissões de GEE35. Nos últimos 50 anos o Brasil se transformou de um país rural para urbano, concen- trando cerca de 89% da população em cidades (IBGE,2010). O fenômeno observado no 5. CONTEXTUALIZAÇÃO NAS CIDADES 32 Disponível em: <http://www.respirasaopaulo.com.br/INVENTARIO%20EMISSOES%20ANTP%20-%202011.pdf>. Acesso em 13 de junho de 2017 33 Disponível em: < http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/1712030/DLFE-222982.pdf/NelsonSINVENTARIOFINALMAC_ Resumo_Geral_Inv_e_Cenario_v05abr_E.pdf>. Acesso em 10 de junho de 2017. 34 Disponível em <https://www.agenciabrasilia.df.gov.br/wp-conteudo/uploads/2016/06/inventario-de-emissoes-por- fontes-e-remocoes-por-sumidouros-de-gases-de-efeito-estufa-do-df.pdf>. Acesso em 13 de junho de 2017. 35 Disponível em:<https://issuu.com/icleisams/docs/inventario_abc_iclei>. Acesso em 12 de junho de 2017. 68 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Brasil é típico de países que experimentaram um rápido processo de urbanização sem a devida contrapartida de políticas voltadas para a provisão de infraestruturas e servi- ços urbanos, incluindo serviços de saneamento ambiental. A distribuição de acordo com o tamanho da população é um importante fator para as soluções tecnológicas aplicadas para a gestão de resíduos. A Figura 23 apresenta o percentual de municípios e suas respectivas faixas populacionais. Observa-se que aproximadamente 25% dos municípios brasileiros têm menos de 5.000 habitantes, cer- ca de 70% dos municípios têm menos de 20.000 habitantes e apenas 4,8% dos municí- pios têm população acima de 100 mil habitantes. Figura 23 – Distribuição de municípios no Brasil por faixa populacional Fonte: (SPERLING, 2016). Elaborado a partir de dados divulgados pelo IBGE no Censo Demográfi co de 2010. A Figura 24 apresenta a população total pela faixa populacional dos municípios brasilei- ros onde é possível observar que apenas aproximadamente 20% da população vivem em cidades com menos de 20.000 habitantes, 45% da população está estabelecida em cidades com menos de 100.000 habitantes e, por fi m, em torno de 55% da população vive em municípios com mais de 100.000 habitantes. < 2 000 2 001 - 5 000 5 001 - 10 000 10 001 - 20 000 20 001 - 50 000 50 001 - 100 000 100 001 - 500 000 > 500 000 0,7% 2,1%4,4% 5,8% 18,7% 21,3% 21,8% 25,2% 5. CONTEXTUALIZAÇÃO NAS CIDADES 69 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS F igura 24 - Distribuição da população no Brasil pelo tamanho dos municípios (faixas populacionais) quanto ao número de habitantes Fonte: (SPERLING, 2016). Elaborado a partir de dados divulgados pelo IBGE no Censo Demográfi co de 2010 A distribuição espacial da população indica que grande parte dos municípios brasileiros são compostos por pequenas faixas populacionais, apresentandoum aspecto bastante heterogêneo quanto à gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos e efl uentes líqui- dos, em um contexto de diferentes níveis de capacidade técnica e arranjo institucional dos governos locais. Planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos (PGIRS) A elaboração dos planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos (PGIRS) é condição necessária para o Distrito Federal e os municípios terem acesso aos recursos da União, destinados ao manejo de resíduos e à limpeza urbana (ICLEI, 2012). Uma pesquisa realizada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA)36, no âmbito do Sis- tema Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos (SINIR), identifi cou < 2 000 2 001 - 5 000 5 001 - 10 000 10 001 - 20 000 20 001 - 50 000 50 001 - 100 000 100 001 - 500 000 > 500 000 197.429 4.176.916 8.541.935 19.743.967 22.314.204 31.344.67148.565.171 55.871.506 36 Disponível em <http://sinir.gov.br/web/guest/2.6-planos-de-gerenciamento-de-residuos-solidos>. Acesso em 13 de junho de 2017. 5. CONTEXTUALIZAÇÃO NAS CIDADES 70 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS que dos 5.570 municípios brasileiro apenas 2.325 (42%) apresentam PGIRS nos termos estabelecidos na PNRS. Em relação a disposição fi nal, 2.702 ainda destinam a maior parte dos RSU coletados para lixões. O Quadro 6 apresenta os resultados consolidados do levantamento realizado pelo MMA para o ano de referência de 2015, desagregados por faixas populacionais. Qu adro 6 - Diagnóstico municipal da elaboração de PGIRS’s e disposição fi nal de RSU por faixas populacionais Fonte: Elaboração própria a partir de dados disponíveis na plataforma SINIR, 2015. Municípios de até 20.000 habitantes e de 20.000 a 100.000 apresentaram os maio- res valores absolutos e percentuais de municípios que ainda não elaboraram planos municipais de gestão de resíduos sólidos. Ressalta-se que, apesar de os municípios com faixa populacional acima de 500.000 habitantes caracteristicamente possuírem maior capacidade técnica e articulação institucional, apenas 52% dos governos locais elaboraram PGIRS’s. O cenário atual da gestão de resíduos sólidos nas cidades brasileiras ainda se encontra em uma etapa inicial de desenvolvimento. Apesar de ser obrigatoriedade na Política Nacional de Resíduos Sólidos, grande parte dos municípios ainda não elaboraram seus PGIRS, bem como dispõem seus RSU de forma ambientalmente inadequada. 5. CONTEXTUALIZAÇÃO NAS CIDADES Faixa Populacional (habitantes) Não Sim Total Aterros Sanitários O MUNICÍPIO POSSUI PGIRS? DISPOSIÇÃO FINAL (onde é depositada a maior parcela dos RSU coletados?) Aterros Controlados Lixões Até 20.000 De 20.001 a 100.000 De 100.001 a 500.000 Acima de 500.001 Brasil 1601 559 144 21 2325 2223 833 119 20 3195 3824 1442 263 41 5570 1437 570 193 35 2235 507 122 20 4 653 1880 770 50 2 2702 71 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) Os planos de saneamento básico abrangem, minimamente (ICLEI, 2012): I. Diagnóstico da situação, utilizando um sistema de indicadores sanitários, epide- miológicos, ambientais e socioeconômicos, construídos a partir dos contextos locais e apontando as causas das defi ciências apontadas. II. Objetivos e metas de curto, médio e longo prazo para a universalização, elencan- do soluções progressivas. III. Programas, ações e projetos para atingir os objetivos estipulados. IV. Ações para emergência e procedimentos para a avaliação sistemática da efi ciên- cia e efi cácia das ações programadas. É de responsabilidade dos titulares do serviço a elaboração de planos de saneamento básico. O acesso, para uso no saneamento básico, a recursos orçamentários da União ou a financiamentos geridos ou administrados por entidade federal é condicionado à existência de plano de saneamento. Faculta-se a elaboração de planos específicos por serviço, de modo que o PGIRS pode integrar o Plano de Saneamento (ICLEI, 2012). A Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC), elaborada em 2013 pelo IBGE, aponta que os titulares dos serviços, de forma geral, ainda não se adaptaram ao marco normativo, uma vez que uma parcela signifi cativa (68%) dos municípios ainda não ela- borou seus PMSB`s e deve chegar ao prazo estabelecido no Decreto sem atender à sua exigência para acesso aos recursos federais de saneamento. A cobertura dos serviços de saneamento básico no Brasil varia de maneira signifi cati- va em relação ao serviço prestado. De acordo com dados de 2015 da do SNIS, 93,1% da população urbana recebe atendimento referente ao abastecimento de água, 42,7% dos efl uentes líquidos gerados são coletados e, considerando a água residual coletada, aproximadamente 74% é tratada. Na análise amostral realizada pelo SNIS, 1.382 muni- cípios apresentaram índice de cobertura por rede de esgoto superior a 70%; 382 com índices na faixa de 40 a 70%; 241 municípios com valores entre 20 a 40%; 143 se enqua- draram no na faixa entre 10 a 20%; e, por fi m, 166 municípios apresentaram índices abaixo de 10%37 (BRASIL, 2017). 5. CONTEXTUALIZAÇÃO NAS CIDADES 72 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS Da comparação dos dois índices de abrangência apresentados, pode se concluir que o serviço de abastecimento de água, apesar de presente em quase todos os municípios, ainda precisa se expandir dentro das áreas urbanas. Em relação ao esgotamento sa- nitário, parcela relevante dos municípios brasileiros ainda não se adequou a Política Nacional de Saneamento Básico, que prevê a conexão de toda edifi cação permanente urbana às redes públicas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário. Atuação dos governos locais O défi cit nos serviços de saneamento, no que tange a coleta, tratamento intermediário e disposição fi nal ambientalmente adequada de resíduos sólidos urbanos e efl uentes líquidos, deve ser uma prioridade dos governos locais devido ao impacto direto na qua- lidade de vida da população. Grandes partes dos municípios brasileiros ainda não se adequaram aos marcos regula- tórios do setor e, mesmo em relação aos que estão em conformidade, não se observa uma intersetorialidade com a temática de mudanças climáticas. Diante do alto poten- cial de mitigação observado nas cidades, é necessário capacitar técnicos e gestores pú- blicos de modo que a busca pela universalização seja acompanhada por políticas que também contribuam para o abatimento de emissões de gases de efeito estufa. 5. CONTEXTUALIZAÇÃO NAS CIDADES 37 A análise apresenta o resultado para 2.314 municípios 73 EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS ABRELPE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2015. ABRELPE: [S.1], 2016. ABRELPE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS. Estimativas dos custos para viabilizar a universalização da destinação adequada de r2017esíduos sólidos no brasil. São Paulo, 2015. Agência Nacional de Águas (Brasil). Atlas esgotos: despoluição de bacias hidrográfi cas /Agência Nacional de Águas, Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental . -- Brasília: ANA, 2017ESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL. São Paulo, 2015. 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