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CONTABILIDADE INTERMEDIARIA II
CAPÍTULO 3 - DESTINAÇÃO DO LUCRO E O 
PATRIMÔNIO LÍQUIDO, O QUE É 
NECESSÁRIO SABER?
Ciro Gustavo Bragança
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Introdução
Você já parou para refletir sobre o que é o lucro? O que as empresas podem ou devem fazer quando auferem
lucro? O lucro e o patrimônio líquido são a mesma coisa? O que é o patrimônio líquido?
Comumente, as empresas são separadas em entidades com fins lucrativos e entidades sem fins lucrativos.
Entretanto, o objetivo de obtenção de lucro é inerente a qualquer empresa, haja vista a busca empresarial pela
sobrevivência no mercado.
O profissional de contabilidade deverá empregar seus conhecimentos profissionais para auxílio às diretorias das
empresas quanto à aplicação adequada das técnicas de destinação do lucro obtido pelas entidades e para a
formação do seu patrimônio.
Guesser; Laffin (2012, p. 1) destacam que a “destinação dos lucros é uma das mais importantes discussões na
gestão das empresas por envolver dois aspectos: continuidade das operações e satisfação dos acionistas”. Já a
composição do patrimônio líquido passa pela compreensão do principal dispositivo legal que rege o contexto
contábil, que é a Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976).
Neste capítulo, você terá a oportunidade de refletir acerca da destinação do lucro e da formação do patrimônio
líquido das empresas. Dessa forma, este estudo ajudará você a compreender essas e outras questões ligadas à
destinação do lucro pelas empresas e sobre a formação de seu patrimônio líquido. Vamos começar logo, pois
teremos muito trabalho. Bons estudos!
3.1 Patrimônio Líquido
Sabemos que o patrimônio das empresas é formado por bens, direitos e obrigações. Os bens e direitos são
denominados de Ativos, e as obrigações denominam-se de Passivos. Por sua vez, na estrutura do Balanço
Patrimonial (BP), os ativos são apresentados do lado esquerdo, enquanto que os passivos do lado direito do
demonstrativo. Ainda na estrutura do BP, temos o , que se configura do lado direito destaPatrimônio Líquido
Demonstração Financeira. Desse modo, como é denominado o ?Patrimônio Líquido
Segundo Martins et al. (2013, p. 411), no Balanço Patrimonial, a “diferença entre o valor dos ativos e o dos
passivos representa o , que é o valor contábil pertencente aos acionistas ou sócios”. Luz;Patrimônio Líquido
Oliveira (2017, p. 37) destacam que o Patrimônio Líquido é denominado também de Capital Próprio ou de
Recursos Próprios, e é formado por recursos aplicados pelos sócios na empresa e/ou pelos lucros gerados por
ela. Já Padoveze (2017, p. 443) comenta que o “patrimônio líquido representa contabilmente o valor da riqueza
dos proprietários, sócios ou acionistas”.
Com base nestas definições, alguns pontos devem ser tratados em relação ao , quais sejam:Patrimônio Líquido
• compreender os conceitos e critérios de reconhecimento e avaliação das contas do Patrimônio Líquido;
• reconhecer as contas envolvidas nas operações do patrimônio líquido;
• construir o patrimônio líquido.
O CPC 00 (CPC, 2011) trata da “Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-
Financeiro”. Neste Pronunciamento são destacadas as seguintes definições:
Item 4.4. Os elementos diretamente relacionados com a mensuração da posição patrimonial e
financeira são os ativos, os passivos e o patrimônio líquido. Estes são definidos como segue:
(a) ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se
espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade;
(b) passivo é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se
espera que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos;
(c) patrimônio líquido é o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os
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(c) patrimônio líquido é o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os
seus passivos.
Por sua vez, a composição do Patrimônio Líquido se dá conforme o art. 178, parágrafo 2, inciso III, da Lei 6.404
/1976 (BRASIL, 1976) e que está dividido em:
• capital social;
• reservas de capital;
• ajustes de avaliação patrimonial;
• reservas de lucros;
• ações em tesouraria;
• prejuízos acumulados.
Martins et al. (2013) destacam tais contas conforme apresentamos no quadro abaixo:
Quadro 1 - Composição ou divisão do Patrimônio Líquido pelas empresas com base na Lei 6.404/1976 e 
alterações introduzidas pela Lei 11.941/2009.
Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em MARTINS et al., 2013.
Notamos no quadro imediatamente acima que não há menção para a conta de Lucros Acumulados ou Lucro do
Exercício. O que acontece é que estas contas foram eliminadas para as empresas constituídas sob a forma de
sociedade anônima, por meio da alteração introduzida pela Lei 11.638/2007 (BRASIL, 2007), sendo aceitas
somente movimentações nelas. 
Adicionalmente, temos as reservas de capital, que podem ser constituídas em decorrência do ágio na emissão de
ações, principal fonte de reserva de capital, do produto da alienação de partes beneficiárias, se for uma empresa
de capital fechado, e do produto da alienação de bônus de subscrição. Esse bônus consiste no direito de
subscrição de ações do capital por meio da apresentação do título e pagamento do preço de emissão de ações. O
valor dessas reservas pode ser utilizado para absorver prejuízos que ultrapassem os Lucros Acumulados e as
reservas de lucros, para resgate, reembolso ou compra de ações, bem como para incorporação ao capital social.
Em relação aos ajustes de avaliação patrimonial, eles podem ser positivos ou negativos, pois podem ser
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Em relação aos ajustes de avaliação patrimonial, eles podem ser positivos ou negativos, pois podem ser
resultado de contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuídos a elementos do ativo e do passivo,
em decorrência da sua avaliação a valor justo, como as variações cambiais ativas ou passivas. Constituem-se em
saldos temporários até a realização efetiva dos ganhos ou perdas.
Exemplo 1
Suponha que a instituição financeira Cálculos S/A, em 01/09/2017, tenha aplicado em títulos governamentais
brasileiros o valor de R$ 100.000,00. O objetivo da aquisição dos títulos é revendê-los futuramente, auferindo os
rendimentos pela taxa Selic durante o período.
Considerando que a taxa Selic no final do ano de 2017 estava em 4% e que o valor de mercado do título indicava
que ele poderia ser vendido pelo valor de R$ 105.000,00, a empresa já teria uma receita financeira no valor de
R$ 4.000,00 e a diferença de R$ 1.000,00 seria considerada ganho decorrente de valor justo.
Em 2018 a empresa Cálculos S/A decidiu vender o título no mercado apurando, com a venda, o valor de R$
110.000,00, sendo a diferença, uma nova receita financeira. Com base nisso, a contabilização deverá ser:
Pela aquisição do título
Débito: Títulos financeiros (Ativo Realizável a Longo Prazo);
Crédito: Bancos (Ativo Circulante);
Valor: R$ 100.000,00;
Histórico: Aquisição de títulos financeiros nesta data.
Pela apropriação da receita financeira
Débito: Títulos financeiros (Ativo Realizável a Longo Prazo);
Crédito: Receitas financeiras (Grupo de Receitas) ;
Valor: R$ 4.000,00;
Histórico: Apropriação de receita financeira de ajuste de títulos financeiros nesta data.
Pelo ajuste a valor justo
Débito: Títulos financeiros (Ativo Realizável a Longo Prazo); 
Crédito: Ajustes de Avaliação Patrimonial (Patrimônio Líquido);
Valor: R$ 1.000,00;
Histórico: Ajuste de títulos financeiros de ganho decorrente de valor justo nesta data.
Pela apropriação da receita financeira
Débito: Títulos financeiros (Ativo Realizável a Longo Prazo); 
Crédito: Receita financeira (Grupo de Receitas);
Valor: R$ 5.000,00;
Histórico: Ganho decorrente de títulos financeiros nesta data.
Pela venda do título no mercado
Débito: Bancos (Ativo Circulante);
Crédito:Títulos financeiros (Ativo Realizável a Longo Prazo);
Valor: R$ 110.000,00;
Histórico: Venda de títulos financeiros nesta data.
Pela realização efetiva do ganho, quando ocorrer
Débito: Ajuste de Avaliação Patrimonial (Patrimônio Líquido);
Crédito: Receita financeira (Grupo de Receitas);
Valor: R$ 1.000,00;
Histórico: Ajuste de avaliação patrimonial de títulos financeiros nesta data.
As ações em tesouraria são constituídas quando a empresa adquire as próprias ações de volta. A companhia
pode tomar a decisão de readquirir as próprias ações em caso de ter a intenção de fechar o capital social,
deixando de ser companhia aberta ou em situações de queda do preço das ações nas bolsas de valores, buscando
demonstrar confiança na própria empresa e readquirindo-as para revendê-las ou cancelá-las posteriormente,
por exemplo.
Ressaltamos que a aquisição de ações próprias depende do atendimento às regras estabelecidas pela Comissão
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Ressaltamos que a aquisição de ações próprias depende do atendimento às regras estabelecidas pela Comissão
de Valores Mobiliários (CVM), conforme demonstrado no artigo 30 da Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976), em seu
parágrafo 2º: “a aquisição das próprias ações pela companhia aberta obedecerá, sob pena de nulidade, às normas
expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, que poderá subordiná-la à prévia autorização em cada caso.”
Em relação aos prejuízos acumulados, importa destacar que, quando existirem, conforme o parágrafo único do
artigo 189 da Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976), devem ser, obrigatoriamente, absorvidos pelos lucros
acumulados, pelas reservas de lucros e pela reserva legal, nessa ordem.
O grupo do Patrimônio Líquido é classificado de acordo com o artigo 182 da Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976) e
alterações dadas pela Lei 11.638/2007 (BRASIL, 2007) conforme o que segue:
Art. 182. A conta do capital social discriminará o montante subscrito e, por dedução, a parcela ainda
não realizada.
§ 1º Serão classificadas como reservas de capital as contas que registrarem:
a) a contribuição do subscritor de ações que ultrapassar o valor nominal e a parte do preço de
emissão das ações sem valor nominal que ultrapassar a importância destinada à formação do capital
social, inclusive nos casos de conversão em ações de debêntures ou partes beneficiárias;
b) o produto da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição;
§ 2° Será ainda registrado como reserva de capital o resultado da correção monetária do capital
realizado, enquanto não-capitalizado.
§ 3° Serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no
resultado do exercício em obediência ao regime de competência, as contrapartidas de aumentos ou
diminuições de valor atribuídos a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da sua avaliação a
valor justo, nos casos previstos nesta Lei ou, em normas expedidas pela Comissão de Valores
Mobiliários, com base na competência conferida pelo § 3o do art. 177 desta Lei. (Redação dada pela
Lei nº 11.941, de 2009)
§ 4º Serão classificados como reservas de lucros as contas constituídas pela apropriação de lucros da
companhia.
§ 5º As ações em tesouraria deverão ser destacadas no balanço como dedução da conta do
patrimônio líquido que registrar a origem dos recursos aplicados na sua aquisição.
A representação do Balanço Patrimonial de forma básica, e considerando enfatizar as contas envolvidas nas
operações do patrimônio líquido e a construção do deste, poderá ser feita da seguinte forma considerando o
quadro abaixo:
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Quadro 2 - O Balanço Patrimonial e as contas envolvidas nas operações do patrimônio líquido.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
Note, pelo quadro acima, que o fica do lado direito, ou seja, no passivo. É considerado umPatrimônio Líquido
passivo pelo fato de que os recursos que compõem esse grupo são formados pela dívida da empresa com os
sócios (LUZ; OLIVEIRA, 2017, p. 37).
Cabe destacar a questão da mensuração do . Para tratar disso, devemos lembrar de que o Patrimônio Líquido
 é resultado da diferença entre os ativos e os passivos. Desse modo, o item 4.22 doPatrimônio Líquido
Pronunciamento Conceitual Básico CPC 00 (R1) destaca que “o montante pelo qual o patrimônio líquido é
apresentado no balanço patrimonial depende da mensuração dos ativos e passivos” (CPC, 2011).
VOCÊ QUER LER?
Marcelo Antônio Pierri Junior, no artigo “Divulgação dos valores destinados do lucro líquido:
um estudo nas empresas do novo mercado” (2017), elaborou estudo com o objetivo de
verificar como foi à destinação do lucro do exercício após a extinção da conta lucros
acumulados nas Demonstrações Contábeis. Veja mais acessando o texto em: <https://goo.gl
>. Boa leitura!/qJoEzL
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Uma consideração acerca da mensuração do Patrimônio Líquido, conforme o Pronunciamento Conceitual Básico
CPC 00 (R1) (CPC, 2011), é de que:
Item 4.22 (parte b) Normalmente, o montante agregado do patrimônio líquido somente por
coincidência corresponde ao valor de mercado agregado das ações da entidade ou da soma que
poderia ser obtida pela venda dos seus ativos líquidos numa base de item-por-item, ou da entidade
como um todo, tomando por base a premissa da continuidade ( ).going concern basis
Isto acontece, pois, comumente, em caso de venda, as empresas são negociadas por valor diferente daquele
constante em seu Patrimônio Líquido, ou seja, podemos determinar a venda pelo valor de mercado. Nesse
sentido, temos o conceito de , o ágio decorrente da expectativa de rentabilidade futura, fruto dagoodwill
diferença entre o valor pago em caso de compra e venda de uma empresa por outra, e o seu valor patrimonial,
aquele constante no Patrimônio Líquido.
Finalmente, temos o Patrimônio Líquido como a representação da Situação Líquida Patrimonial das empresas.
Caso este esteja positivo (Situação Líquida Positiva), sabemos que os valores dos ativos são superiores aos dos
passivos, caso esteja negativo (Situação Líquida Negativa), os passivos são superiores aos ativos e, se os ativos e
passivos forem iguais, denominamos Situação Líquida Nula. Nesta seara, a seguir veremos sobre o Lucro Líquido
do Exercício.
3.2 Destinações do Lucro Líquido do Exercício
O é obtido quando as receitas são superiores aos gastos (custos, despesas, tributos eLucro Líquido do Exercício
participações). Do contrário, quando as receitas são inferiores aos gastos, temos o “Prejuízo”. Especificamente,
para empresas sem fins lucrativos, utiliza-se do Exercício em lugar de lucro e do Exercício emSuperávit Déficit
lugar de prejuízo.
Desse modo, da confrontação entre as receitas auferidas e os gastos, apuramos o resultado do exercício das
empresas. Comumente, isto será realizado no fim de cada exercício social, ou seja, em 31 de dezembro do
respectivo ano de apuração do resultado. Dantas (2015, p. 54) salienta que é “sobre os lucros que far-se-á
distribuições de Dividendos e as transferências para outras contas do Patrimônio Líquido.”
Após auferirem o lucro, as empresas necessitam destiná-lo, ou seja, precisam decidir o que será feito a partir do
resultado positivo obtido pela sua atividade empresarial. Nesse sentido, alguns elementos precisam ser
discutidos, como segue:
• entender o que está envolvido nas destinações do lucro Líquido do Exercício, bem como normatização 
VOCÊ SABIA?
Os elementos diretamente relacionados com a mensuração da posição patrimonial e financeira
são os ativos, os passivos e o patrimônio líquido. O ativo é um recurso controlado pela
entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios
econômicos para a entidade. Passivo é uma obrigação presente da entidade, derivada de
eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade
capazes de gerar benefícios econômicos (CPC, 2011). Leia mais acessando o “Pronunciamento
Técnico CPC 00 (R1)”: < >.https://goo.gl/ibNZcX
•
- -8• entender o que está envolvido nas destinações do lucro Líquido do Exercício, bem como normatização 
pertinente (debenturistas, empregados, administradores, partes beneficiárias, imposto de renda e outras 
contribuições sobre o lucro);
• compreender o cálculo envolvido e registro da Destinação do Lucro Líquido do Exercício;
• aprender os procedimentos envolvidos no reconhecimento das Destinações do Lucro Líquido do 
Exercício e grupos de contas impactados;
• contabilizar os fatos contábeis provenientes da Destinação do Lucro Líquido do Exercício e evidenciá-
los.
Inicialmente, é importante esclarecer que o Lucro Líquido do Exercício é apurado após as participações de
debêntures, empregados, acionistas e partes beneficiárias, bem como outras, se houver. Desse modo, destacamos
que o artigo 191 da Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976) menciona que o “lucro líquido do exercício é o resultado do
exercício que remanescer depois de deduzidas as participações de que trata o artigo 190”.
Conforme a Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976), as participações obedecerão ao seguinte:
Art. 190. As participações estatutárias de empregados, administradores e partes beneficiárias serão
determinadas, sucessivamente e nessa ordem, com base nos lucros que remanescerem depois de
deduzida a participação anteriormente calculada.
Parágrafo único. Aplica-se ao pagamento das participações dos administradores e das partes
beneficiárias o disposto nos parágrafos do artigo 201.
Art. 201. A companhia somente pode pagar dividendos à conta de lucro líquido do exercício, de
lucros acumulados e de reserva de lucros; e à conta de reserva de capital, no caso das ações
preferenciais de que trata o § 5º do artigo 17.
§ 1º A distribuição de dividendos com inobservância do disposto neste artigo implica
responsabilidade solidária dos administradores e fiscais, que deverão repor à caixa social a
importância distribuída, sem prejuízo da ação penal que no caso couber.
§ 2º Os acionistas não são obrigados a restituir os dividendos que em boa-fé tenham recebido.
Presume-se a má-fé quando os dividendos forem distribuídos sem o levantamento do balanço ou em
desacordo com os resultados deste.
Com base nos dispositivos legais e estatutários, podemos estabelecer a seguinte ordem para a participação nos
lucros:
Figura 1 - Participações nos lucros das empresas: ordem sucessiva com base na legislação vigente.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
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Desse modo, considerando a figura imediatamente acima, os debenturistas terão participação nos lucros
assegurada em primeira ordem. Se for o caso, as instituições ou fundos de assistência ou previdência de
empregados terão participação nos lucros por último na ordem sucessiva. Vamos a outro exemplo.
Exemplo 2
Suponha que a empresa comercial Salvador S.A. apurou, após encerramento do exercício de 2017, lucro de R$
100.000,00. Para o cálculo das participações de debenturistas, empregados, administradores e partes
beneficiárias, a participação de cada um deles corresponde a 10% do valor.
Debêntures: 10% x R$ 100.000,00 = R$ 10.000,00
Empregados: 10% x (R$ 100.000,00 – R$ 10.000,00) = 10% x R$ 90.000,00 = R$ 9.000,00
Administradores: 10% x (R$ 90.000,00 – R$ 9.000,00) = R$ 10% x R$ 81.000,00 = R$ 8.100,00 ou 10% x (R$
100.000,00 – R$ 19.000,00) = R$ 8.100,00
Partes beneficiárias: 10% x (R$ 81.000,00 – R$ 8.100,00) = R$ 7.290,00 ou
10% x (R$ 100.000,00 – R$ 27.100,00) = R$ 7.290,00
Vamos explicar melhor. Perceba que para calcular a participação dos empregados, que é apurada após a
participação dos debenturistas, foi necessário diminuir a participação anterior da base de cálculo. Ou seja, a
participação de empregados tem base de cálculo R$ 90.000,00, que corresponde à R$ 100.000,00 – R$ 10.000,00
(participação dos debenturistas). Dessa subtração, aplica-se o percentual de 10%.
Da mesma forma, a participação dos administradores, que também corresponde a 10%, foi calculada: a base de
cálculo corresponde ao valor restante após participação dos administradores (R$ 90.000,00 – R$ 9.000,00 = R$
81.000,00) ou (R$ 100.000,00 – R$ 19.000,00 = R$ 81.000,00).
Perceba, então, que apesar de todas as participações possuírem a mesma alíquota (10%), os valores monetários
são diferentes, pois há a dedução das participações anteriormente calculadas.
Desse modo, percebemos que parte dos lucros pode ser distribuída aos empregados e administradores conforme
as partes estabelecerem, sendo uma forma de complemento da sua remuneração. Os debenturistas terão
recebimentos oriundos de lucros como forma adicional de remuneração, haja vista que já recebem juros por
meio das debêntures adquiridas.
Seguindo com o tema das participações calculadas, de acordo com Padoveze (2017, p. 452), após as
movimentações das contas de Lucros Acumulados ou do Lucro do Exercício, os seguintes procedimentos deverão
ser efetuados:
a) a transferência para reserva legal;
b) depois a transferência para lucros ou dividendos a distribuir determinados pela companhia
conforme o estatuto ou contrato social;
c) depois as outras transferências para reserva de incentivos fiscais e outras reservas de lucros, se
existir ou a empresa determinar.
Nesse sentido, as participações aos empregados, administradores e partes beneficiárias são calculadas e
VOCÊ SABIA?
De acordo com o artigo 46 da Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976), denominamos como “partes
beneficiárias” os títulos negociáveis, sem valor nominal e estranhos ao capital social que a
companhia pode criar, a qualquer tempo, sendo vedado às companhias abertas a emissão de
tais títulos.
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Nesse sentido, as participações aos empregados, administradores e partes beneficiárias são calculadas e
distribuídas antes das reservas. Portanto, é necessário tratarmos das reservas.
O Pronunciamento Conceitual Básico CPC 00 (R1), em seu item 4.21 destaca que “outras reservas podem ser
constituídas em atendimento a leis que concedem isenções ou reduções nos impostos a pagar quando são feitas
transferências para tais reservas” (CPC, 2011). Neste mesmo item, observamos que as transferências efetuadas
para as reservas não são despesas, mas apropriações de lucros acumulados.
Inicialmente, os artigos de 193 a 197, da Seção II da Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976), destacam os aspectos sobre
as “Reservas e Retenção de Lucros”. Veja no quadro abaixo:
VOCÊ SABIA?
A constituição de reservas é, por vezes, exigida pelo estatuto ou por lei para dar à entidade e
seus credores uma margem maior de proteção contra os efeitos de prejuízos (CPC, 2011). Leia
mais acessando o Pronunciamento CPC 00 (R1) em: < >.https://goo.gl/ibNZcX
VOCÊ QUER VER?
André Bona (2014) explica o que são dividendos e como eles são pagos por meio do vídeo O
que são dividendos e como eu posso lucrar? Como é o pagamento e a agenda dos dividendos?
Você pode acessá-lo em: < >. Veja lá!https://www.youtube.com/watch?v=rS0-r3aRVUg
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Quadro 3 - Reservas e Retenções de Lucros com base na Lei 6.404/1976 e alterações introduzidas pela Lei 
11.941/2009, Lei 11.638/2007 e Lei 10.303/2001.
Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em BRASIL, 1976.
A reserva legal, por exemplo, é uma reserva compulsória, ou seja, obrigatória, pois é determinada por lei, a Lei
6.404/1976 em seu art. 193 (BRASIL, 1976), e deve ser constituída a cada exercício social com retenção de 5%
do Lucro Líquido do Exercício. Contudo, essa reserva tem um limite máximo obrigatório, cujo valor não pode ser
ultrapassado: o valor total da reserva legal não pode ultrapassar 20% do Capital Social. Vamos a mais um
exemplo para entendermos melhor.
Exemplo 3
Suponha que a empresa Vitória Negra S/A tenha um capital já subscrito de R$ 100.000,00 e tenha auferido Lucro
Líquido do Exercício de R$ 40.000,00 no exercício de 2017. Considerando que a empresa já possua uma reserva
de capital de R$ 19.000,00, qual o valor a ser constituído para essa reserva no exercíciode 2017?
Resposta: 5% do Lucro Líquido do Exercício = R$ 2.000,00
Limite obrigatório: 20% x R$ 100.000,00= R$ 20.000,00.
Reserva de capital: R$ 19.000,00
Então, para não exceder o limite obrigatório, a empresa Vitória S/A só poderá destinar para a reserva de capital
o valor de R$ 1.000,00.
Há ainda um limite facultativo, qual seja, a empresa poderá deixar de constituir a reserva legal, se o saldo dela,
acrescido com os valores referentes ao § 1º do artigo 182 da Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976), ultrapassar 30%
do capital social. É importante informar que a constituição das reservas de lucros é realizada a débito da conta
Lucros Acumulados.
As reservas estatutárias, como o próprio nome diz, é uma reserva que deve estar prevista no estatuto da
companhia e é decorrente de lucros. O estatuto deverá indicar todos os critérios para constituição, finalidade e
limites, bem como os valores a serem destinados anualmente. A companhia deve constituir reserva para
contingências para dar maior suporte a possíveis problemas financeiros futuros, com o objetivo, por exemplo, de
compensar, em exercício futuro, lucro decorrente de perda provável, com valor estimado. Vejamos no exemplo.
Exemplo 4
Companhias que sofrem com a sazonalidade precisam, nos períodos de baixa estação, reforçar o patrimônio da
entidade, para minimizar os possíveis efeitos causados por ela. A reserva de incentivos fiscais é constituída
mediante o recebimento de doações governamentais para investimentos. Acrescentamos que, em relação à
reserva de lucros, por sua vez, ela só poderá ser mantida por até 5 exercícios, salvo em situação específica,
prevista em lei.
A reserva de lucros a realizar tem o objetivo de evidenciar a parcela de lucros ainda não realizada
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A reserva de lucros a realizar tem o objetivo de evidenciar a parcela de lucros ainda não realizada
financeiramente, apesar de já ter sido reconhecida contabilmente pela empresa, em decorrência do regime da
competência. Quando isso acontece, o valor do dividendo obrigatório pode ser maior do que a parcela realizada
do Lucro Líquido do Exercício, portanto, é possível evitar a distribuição de dividendos obrigatórios sobre essa
parcela de lucros que não está realizada financeiramente no caixa da companhia.
Cabe destacar que deverão ser distribuídos como dividendos os lucros não destinados para as reservas previstas
nos artigos 193 a 197, destacados pelo quadro imediatamente acima, conforme menciona o parágrafo 6º do
artigo 202 da Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976). É importante informar que a constituição das reservas de lucros é
realizada a débito da conta Lucros Acumulados.
A figura abaixo destaca as movimentações da conta de Lucro do Exercício e sua destinação:
Figura 2 - Apuração do resultado, destinação do lucro e distribuição aos debenturistas, empregados, 
administradores, partes beneficiárias e provisões de tributos sobre o lucro.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
VOCÊ SABIA?
A Resolução nº 1.157/2009 (CFC, 2009), do Conselho Federal de Contabilidade, destaca que a
obrigação da conta Lucros Acumulados não conter saldo positivo aplica-se unicamente às
sociedades por ações e não às demais. Desse modo, a conta de lucros acumulados poderá ser
utilizada por Pequenas e Médias Empresas (PMEs), por exemplo, e pelas demais.
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Fonte: Elaborado pelo autor, 2018.
Pode ser observado que, quando a empresa auferir o lucro, parte dele, pela lei, irá para reservas obrigatórias e
para as facultativas (ou estatutárias, aquelas definidas no estatuto da empresa), e parte do lucro será distribuído
conforme determinar a legislação e a assembleia deliberar, em caso de sociedades de capital aberto.
Cabe ressaltar que parte do lucro será destinada ao governo e se dará conforme a tributação pelo Lucro Real, ou
seja, por meio da apuração e pagamento do imposto de renda e adicional de imposto de renda, e da contribuição
social sobre o lucro líquido, modalidade imposta a determinados tipos de empresas, ora pela atividade que ela
exerce, ora pelo faturamento bruto anual, ou por opção. Outras participações podem ser estabelecidas, como
aquelas destinadas a instituições, fundos de assistência ou previdência de empregados.
Padoveze (2017, p. 443) destaca que os “lucros obtidos e não distribuídos, também denominados lucros retidos,
representam a intenção da empresa em manter parte dos lucros dos proprietários visando as novas
necessidades de investimento para sustentar o crescimento normal das empresas.” Martins et al. (2013, p. 715),
por sua vez, ressaltam o seguinte:
Como parte importante das divulgações a serem apresentadas pela sociedade está a da justificação
do lucro não distribuído aos acionistas. Essa não distribuição deve ser suportada em orçamento de
capital que justifique a retenção do lucro na empresa, pois, a princípio, todo o resultado apurado no
exercício deve ser passível de distribuição, a não ser que existam fortes razões para não fazê-la.
Quando se trata de destinação de lucros, devemos levar em conta, aspectos legais e estatutários, em específico
para as sociedades anônimas. As demais empresas, como aquelas com finalidade lucrativa que não sejam de
sociedade anônima, obedecerão às disposições do contrato social. Para as entidades sem finalidade lucrativa, as
disposições contidas em seus respectivos estatutos. Veremos mais sobre isso no próximo tópico.
3.3 Destinação do lucro: conceituação
Quando se trata de destinação de lucro, devemos considerar, inicialmente, em que tipo de empresa foi obtido o
lucro, ou seja, se a entidade tem fins lucrativos ou se é uma entidade sem fins lucrativos. Para as entidades com
fins lucrativos, devemos observar o tratamento para aquelas que são sociedades anônimas, pois a destinação do
lucro nestas empresas será diferenciada das demais.
Dessa forma, os pontos abaixo devem ser levados em conta quando se trata da destinação do lucro:
• compreender em que consiste a constituição de Dividendos Obrigatórios a partir do Lucro Líquido do 
Exercício e legislação pertinente;
• identificar as reservas de lucros e de capital existentes e respectivas origens, nos termos da legislação 
VOCÊ O CONHECE?
Paulo Lyra Tavares, nascido em 08/01/1901, na cidade de Recife, em Pernambuco, foi um
ilustre Doutor que lutou pelo reconhecimento da profissão contábil brasileira e foi o primeiro
presidente do Conselho Federal de Contabilidade no período de 27/05/1946 a 14/09/1955
(LEITÃO; BUGARIM, 2016).
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• identificar as reservas de lucros e de capital existentes e respectivas origens, nos termos da legislação 
em vigor;
• distinguir reserva de lucros de reserva de capital.
Inicialmente, é preciso atentarmos para o disposto no artigo 198 da Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976), o qual
dispõe o seguinte:
Limite da Constituição de Reservas e Retenção de Lucros
Art. 198. A destinação dos lucros para constituição das reservas de que trata o artigo 194 e a
retenção nos termos do artigo 196 não poderão ser aprovadas, em cada exercício, em prejuízo da
distribuição do dividendo obrigatório (artigo 202).
Isto quer dizer que as companhias não devem aprovar reservas estatutárias e reservas para contingências em
prejuízo da distribuição do dividendo obrigatório. A Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976) garante aos acionistas o
direito de receber dividendo obrigatório, como se depreende a seguir:
Dividendo Obrigatório
Art. 202. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada exercício, a
parcela dos lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a importância determinada de
acordo com as seguintes normas: (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001) (Vide Lei nº 12.838, de
2013)
I - metade do lucro líquido do exercício diminuído ou acrescido dos seguintes valores: (Redação dada
pela Lei nº 10.303, de 2001)
a) importância destinada à constituição da reserva legal (art. 193); e (Incluída pela Lei nº 10.303, de
2001)b) importância destinada à formação da reserva para contingências (art. 195) e reversão da mesma
reserva formada em exercícios anteriores; (Incluída pela Lei nº 10.303, de 2001)
II - o pagamento do dividendo determinado nos termos do inciso I poderá ser limitado ao montante
do lucro líquido do exercício que tiver sido realizado, desde que a diferença seja registrada como
reserva de lucros a realizar (art. 197); (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001)
III - os lucros registrados na reserva de lucros a realizar, quando realizados e se não tiverem sido
absorvidos por prejuízos em exercícios subsequentes, deverão ser acrescidos ao primeiro dividendo
declarado após a realização. (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001)
§ 1º O estatuto poderá estabelecer o dividendo como porcentagem do lucro ou do capital social, ou
fixar outros critérios para determiná-lo, desde que sejam regulados com precisão e minúcia e não
sujeitem os acionistas minoritários ao arbítrio dos órgãos de administração ou da maioria.
§ 2o Quando o estatuto for omisso e a assembleia-geral deliberar alterá-lo para introduzir norma
sobre a matéria, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25% (vinte e cinco por cento) do
lucro líquido ajustado nos termos do inciso I deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001)
§ 3o A assembleia-geral pode, desde que não haja oposição de qualquer acionista presente, deliberar
a distribuição de dividendo inferior ao obrigatório, nos termos deste artigo, ou a retenção de todo o
lucro líquido, nas seguintes sociedades: (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001)
I - companhias abertas exclusivamente para a captação de recursos por debêntures não conversíveis
em ações; (Incluído pela Lei nº 10.303, de 2001)
II - companhias fechadas, exceto nas controladas por companhias abertas que não se enquadrem na
condição prevista no inciso I. (Incluído pela Lei nº 10.303, de 2001)
§ 4º O dividendo previsto neste artigo não será obrigatório no exercício social em que os órgãos da
administração informarem à assembleia-geral ordinária ser ele incompatível com a situação
financeira da companhia. O conselho fiscal, se em funcionamento, deverá dar parecer sobre essa
informação e, na companhia aberta, seus administradores encaminharão à Comissão de Valores
Mobiliários, dentro de 5 (cinco) dias da realização da assembleia-geral, exposição justificativa da
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Mobiliários, dentro de 5 (cinco) dias da realização da assembleia-geral, exposição justificativa da
informação transmitida à assembleia.
§ 5º Os lucros que deixarem de ser distribuídos nos termos do § 4º serão registrados como reserva
especial e, se não absorvidos por prejuízos em exercícios subsequentes, deverão ser pagos como
dividendo assim que o permitir a situação financeira da companhia.
§ 6º Os lucros não destinados nos termos dos arts. 193 a 197 deverão ser distribuídos como
dividendos. (Incluído pela Lei nº 10.303, de 2001).
O valor destinado à distribuição de dividendos obrigatórios pode, portanto, ser estabelecido como 50% do Lucro
Líquido Ajustado, ou seja, o Lucro Líquido do Exercício ajustado por alguns critérios, quais sejam: reduzido pelo
valor do prejuízo acumulado (se houver), pelo valor destinado à constituição da reserva legal, à constituição de
reservas para contingências; bem como deve ser aumentado pelo valor da reversão de reservas de contingências
formadas em exercícios anteriores.
É importante frisar também que os estatutos da companhia são soberanos para fixar alíquotas diferentes de 50%
do lucro líquido ajustado para a distribuição dos dividendos, respeitando a alíquota mínima de 25% se a
companhia tiver sido constituída antes da vigência da Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976). Contudo, se o estatuto for
omisso em relação a essa determinação, aplicar-se-á a alíquota de 50% tanto para companhias constituídas antes
da vigência quanto após a vigência da referida lei.
A adequada segregação e movimentação (formação e reversão) das reservas de lucros é importante,
particularmente, para fins de cálculo do dividendo obrigatório (MARTINS et al., 2013, p. 419). Cabe destacar que,
em relação à reversão de reservas, segundo Martins et al. (2013, p. 648), consideramos o seguinte:
• reversão de reservas de lucros – são realizadas para a conta de Lucros Acumulados, pois tem origem 
nesta conta;
• reversão de reservas de lucros a realizar – quando constituídas em exercícios anteriores, devem ser 
revertidas para a conta de dividendos a pagar do passivo, de acordo com as alterações introduzidas pela 
Lei 10.303/2001 (BRASIL, 2001) na Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976), caso contenha lucros realizados 
financeiramente;
• reversão de reserva para contingência – deve ser revertida para a conta de Lucros Acumulados no 
exercício em que ocorrer a perda, ou no exercício em que se observar que não será mais necessária a sua 
constituição.
Em relação à reversão de reserva para contingência, cabe destacar que, segundo o artigo 202, letra “b”, da Lei
6.404/1976 (BRASIL, 1976), quando formada em exercícios anteriores, será acrescida ao lucro líquido para
determinação do dividendo obrigatório. Cabe destacarmos as diferenças entre as reservas de lucros e as reservas
legais, o que pode ser visto pela figura abaixo:
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Figura 3 - Distinção de reserva de lucro e reserva legal: características básicas para a constituição de reservas.
Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em PADOVEZE, 2017.
De forma resumida, a principal diferença entre os dois tipos de reserva, quer sejam, de lucros e legal, é que a
primeira é opcional e a segunda é obrigatória por lei.
Por outro lado, como não é obrigatória a definição do valor nominal para os títulos emitidos por uma sociedade
anônima, a opção do valor da ação é feita pela empresa. Por isso, em relação às reservas de capital, Padoveze
(2017, p. 444) destaca que a “possibilidade de existência de reservas de capital está praticamente circunscrita ao
ágio na integralização de capital social das sociedades anônimas, quando os sócios pagam pela propriedade das
novas ações um valor superior ao valor nominal da ação”.
VOCÊ QUER LER?
Tiago André Guesser e Marcos Laffin desenvolveram um estudo que trata sobre a destinação
dos lucros e que foi apresentado no artigo “Normatização da Destinação dos Lucros” (2012). O
trabalho teve como objetivo principal analisar o cumprimento por parte das companhias
listadas no segmento de Construção Civil da BM&FBOVESPA, dos dispositivos legais de
destinação dos resultados referente aos exercícios de 2009, 2010 e 2011. Leia mais acessando:
< >.https://goo.gl/RqrFVS
- -19
Desse modo, o dividendo obrigatório é uma garantia de recebimento dos lucros aos acionistas, as reservas de
lucros são opcionais, as reservas legais são obrigatórias e as reservas de capital têm origem principal na
diferença a maior entre o valor pago pelos sócios pelas novas ações e o valor nominal da ação. A seguir
trataremos da contabilização do lucro. Acompanhem!
3.4 Destinação do lucro: contabilização
A destinação do lucro enseja várias decisões, ora de cunho legal e/ou estatutário, ora de cunho gerencial. Nesse
sentido, algumas situações precisam ser analisadas em relação à contabilização no ato da destinação do lucro:
• formação de reservas de capital e de lucro;
• cálculo de dividendos obrigatórios;
• contabilização dos fatos contábeis provenientes da constituição de Dividendos Obrigatórios e formação 
de Reservas e evidenciação nas demonstrações contábeis.
Dessa forma, sabemos que as reservas de capital originam-se, principalmente, da diferença a maior entre o valor
pago pela ação e o seu valor nominal. Além disso, as reservas de lucro são espontâneas e originam-se da
necessidade de manutenção de liquidez e solvência das empresas e os dividendos obrigatórios são garantias
dadas aos acionistas. Dito isso, apresentamos o Caso a seguir com vistas a elucidaçãodos principais impactos
contábeis oriundos de tais transações.
VOCÊ QUER VER?
O contador Vicente Sevilha Jr. explica o que são debêntures por meio do vídeo Sociedades
 É uma boa oportunidade para você saber que as debênturesAnônimas - o que são debêntures?
são fontes de captação de recursos para as empresas de capital aberto. Você poderá acessá-lo
em: < >.https://www.youtube.com/watch?v=Rfxk4mgc9Rc
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VOCÊ QUER LER?
Gilmar Antônio Vedana e colaboradores realizaram um estudo sobre a destinação dos lucros
em pequenas empresas. O trabalho, intitulado “O Destino dos Lucros nas Pequenas Empresas”
(2017), teve como objetivo identificar como ocorre a destinação de lucros em 32 pequenas
empresas varejistas do comércio do município de Ampére, no estado do Paraná. Leia mais
acessando: < >.https://goo.gl/XLgq7x
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Solução do caso
Inicialmente, deverá ser contabilizada “Reserva de Capital” proveniente da diferença entre o valor nominal das
ações emitidas e o valor pago por estas ações pelos sócios. Sendo assim, a contabilização ocorrerá da seguinte
forma:
Pela constituição da Reserva de Capital
Débito: Bancos (Grupo do Ativo Circulante);
Valor: R$ 1.6500.000,00;
Crédito: Capital Social (Patrimônio Líquido);
Valor: R$ 1.400.000,00;
Crédito: Reservas de capital (Patrimônio Líquido);
Valor: R$ 250.000,00;
Histórico: Valor referente ao recebimento de ações nesta data.
Memória de cálculo
A assembleia deliberou que R$ 855 mil do lucro, em um valor auferido de R$ 1.800.000,00, será destinado para
reserva.
Pela constituição da Reserva de Lucros
Débito: Lucros acumulados (Patrimônio Líquido);
Valor: R$ 855.000,00;
Crédito: Reservas de lucros (Patrimônio Líquido);
Valor: R$ 855.000,00;
Histórico: Valor referente à reserva de lucros conforme deliberação em assembleia.
Memória de cálculo
CASO
A Cia. SALTZ S.A. emitiu 50.000 ações no valor nominal de R$ 28,00 cada uma e os seus sócios
efetuaram pagamento no valor de R$ 33,00 por ação. A SALTZ auferiu lucro no período no
valor de R$ 1.800.000,00. Em assembleia, foi deliberado que R$ 855 mil do lucro será
transferido para reserva. A Cia. não recebeu nenhuma importância referente à doação do
governo no período.
O Capital Social da empresa é de R$ 3 milhões, já contemplado o valor das 50 mil ações
emitidas. O estatuto da Cia. SALTZ não prevê reservas estatutárias como aquelas para
contingências, por exemplo. A SALTZ também não apresenta ganhos apurados e demonstrados
em DRE – Demonstração do Resultado do Exercício, que ainda não foram realizados. Não existe
valor acumulado de Reservas Legais e o estatuto da Cia. é omisso quanto às formas de
pagamento de dividendos.
Você é o principal analista da empresa e, portanto, você é o responsável por proceder as
contabilizações pertinentes às reservas legais e estatutárias, considerando o caso e
fundamentando textualmente os procedimentos contábeis. Ao final, evidencie as transações
nas Demonstrações Contábeis.
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Histórico: Valor referente à reserva de lucros conforme deliberação em assembleia.
Memória de cálculo
Pela constituição da Reserva Legal
Débito: Lucros acumulados (Patrimônio Líquido);
Valor: R$ 90.000,00;
Crédito: Reservas legais (Patrimônio Líquido);
Valor: R$ 90.000,00;
Histórico: Valor referente à reserva legal constituída conforme artigo 193 da Lei 6.404/1976.
Memória de cálculo
Reservas de incentivos fiscais não serão constituídas, haja vista que não houve nenhum recebimento de doações
do governo no período. As Reservas Estatutárias, aquelas para contingências, por exemplo, não serão
constituídas uma vez que não estão previstas no estatuto da Cia., conforme informado no Caso. Como não há
valores referentes a ganhos a realizar que transitaram pelo resultado, nenhuma Reserva de Lucros a Realizar
será constituída. Então, foi informado que não há saldo de reservas legais.
De acordo com o artigo 193 da Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976), o saldo de reservas legais não poderá exceder
20% do Capital Social e, por isso, conforme o Caso, o valor de Reserva Legal constituída é de R$ 90 mil, o que
representa 3% do capital social da empresa, que é de R$ 3 milhões, como informado. Veja o cálculo:
Memória de cálculo 
 
Em relação ao pagamento de dividendos, como o estatuto da Cia. SALTZ é omisso quanto à parcela dos lucros
que será destinada aos acionistas, consideramos o disposto no artigo 202 da Lei 6.404/1976 (BRASIL, 1976),
inciso I, letra “a” e “b”. Desse modo, a contabilização dos dividendos será realizada da seguinte forma:
Pela contabilização dos dividendos
Débito: Lucros acumulados (Patrimônio Líquido);
Valor: R$ 855.000,00;
Crédito: Dividendos a distribuir (Grupo do Passivo Circulante);
Valor: R$ 855.000,00;
Histórico: Valor referente a dividendos a distribuir conforme artigo 202 da Lei 6.404/1976.
Memória de cálculo
VOCÊ O CONHECE?
Antônio Lopes de Sá nasceu em Belo Horizonte, no dia 9 de abril de 1927. Ele é o precursor do
“neopatrimonialismo”, uma corrente científica da contabilidade moderna. Lopes de Sá teve
atuação não só no Brasil, mas também em países como Portugal, Argentina, Estados Unidos e
Itália. Para saber mais sobre ele, acesse: < >.https://goo.gl/tfxKja
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Balanço Patrimonial da Cia SALTZ S.A. após as transações de constituição de reservas.
Fonte: laborado pelo autor, 2018.
Neste sentido, é muito importante que os profissionais da contabilidade estejam atentos aos dispositivos legais e
normativos para que possam desempenhar bem a sua função junto às empresas. Nesse ponto, entender os
conceitos sobre destinação de lucro e sobre a constituição e formação do patrimônio líquido é muito importante,
uma vez que há diferentes características das empresas com as quais um profissional da contabilidade poderá
lidar e atuar.
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Síntese
Você acabou de concluir os estudos sobre a destinação do lucro e sobre os conceitos e formação do patrimônio
líquido das empresas. Você pôde compreender que os aspectos conceituais relacionados a estes temas são de
suma importância para o exercício da profissão contábil. Esperamos que as discussões e elucidações dos temas
aqui presentes contribuam para o entendimento e para a aplicação no seu dia a dia.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• compreender os conceitos e critérios de reconhecimento e avaliação do patrimônio líquido;
• assimilar os aspectos relacionados com a destinação do lucro;
• conhecer as formas de constituição de reservas de capital e de lucro segundo a normatização contábil.
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