Logo Passei Direto
Material
Study with thousands of resources!

Text Material Preview

CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS - SP 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 O ESTUDO DA FILOSOFIA ................................................................................................................... 3 
2 A FILOSOFIA............................................................................................................................................ 4 
2.1 O que é Filosofia ............................................................................................................................ 5 
2.2 Surgimento da Filosofia .................................................................................................................. 7 
2.3 A Filosofia para alguns filósofos .................................................................................................. 10 
3 HISTÓRIA DA FILOSOFIA ................................................................................................................... 19 
3.1 A Filosofia Antiga ......................................................................................................................... 25 
3.2 As principais características da Filosofia ..................................................................................... 27 
3.3 A importância de ensinar Filosofia ............................................................................................... 29 
3.4 Questões de estudo da Filosofia .................................................................................................. 34 
3.5 Empirismo..................................................................................................................................... 37 
3.6 Ceticismo ...................................................................................................................................... 39 
3.7 Liberalismo ................................................................................................................................... 41 
3.8 Dialética ........................................................................................................................................ 43 
3.9 Modernidade: Descartes e Hume ................................................................................................ 49 
3.10 Transcendental: Kant ................................................................................................................... 52 
3.11 Fase Contemporânea: Quine, Popper, Kuhn, Feyerabend ......................................................... 55 
3.12 Contexto Histórico ........................................................................................................................ 61 
3.13 Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino ................................................................................ 62 
3.14 Nietzsche ...................................................................................................................................... 64 
4 PRÉ-SOCRÁTICOS ............................................................................................................................. 65 
4.1 Filosofia pré-socráticas ................................................................................................................ 67 
4.2 Aristóteles ..................................................................................................................................... 69 
4.3 Jean Jacques Rousseau .............................................................................................................. 71 
4.4 Sofistas ......................................................................................................................................... 73 
5 FILOSOFIA NO CÍRCULO DE VIENA ................................................................................................. 75 
 
 
 
5.1 Início da Filosofia Contemporânea .............................................................................................. 78 
6 FILOSOFIA NO BRASIL ...................................................................................................................... 79 
6.1 História da Filosofia no Brasil ....................................................................................................... 82 
7 FILOSOFIA POLÍTICA ......................................................................................................................... 83 
8 NÃO SE ENSINA FILOSIFA, MAS A FILOSOFAR.............................................................................. 86 
8.1 O pensamento crítico ................................................................................................................... 89 
9 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ...................................................................................................................... 92 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 O ESTUDO DA FILOSOFIA 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
"A Filosofia contribui para o estudo da Ética e Moral, demanda social negligenciada 
na formação do cidadão brasileiro" - Arthur Meucci. 
Desde 2006, Filosofia é disciplina obrigatória no Ensino Médio brasileiro. Para 
muitos, perda de tempo, pois exige maturidade intelectual que a maioria dos alunos não 
tem. Mas há defensores fervorosos de sua inclusão no currículo, caso do filósofo e 
psicanalista Arthur Meucci. "É a única disciplina da grade escolar que faz a ponte entre o 
português, a sociologia, a história e a matemática, além de contribuir para o estudo da 
Ética e Moral, demanda social negligenciada na formação do cidadão brasileiro", destaca. 
 
 
 
4 
 
2 A FILOSOFIA 
A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, 
fechado em si mesmo. A filosofia é uma maneira de pensar e é também uma postura 
diante do mundo. Antes de mais nada, ela é uma forma de observar a realidade que 
procura pensar os acontecimentos além da sua aparência imediata. Ela pode se voltar 
para qualquer objeto: pode pensar sobre a ciência, seus valores e seus métodos; pode 
pensar sobre a religião, a arte; o seu cotidiano, o próprio homem em sua cultura e 
imagem. 
A filosofia em síntese não é tão somente uma interpretação do já vivido, daquilo 
que você possa estar objetivando, mais também a interpretação das aspirações e 
desejos do que ainda está por vir e do que está para chegar. Para iniciar o exercício de 
filosofa, a primeira coisa a fazer é admitir que vivemos e vivenciamos valores e que é 
preciso saber quais são eles. Filosofia é inventariar os valores que explicam e orientam 
nossa vida e a vida da sociedade, e que dimensionam as finalidades da prática humana. 
O segundo momento é o momento da crítica que é um modo de penetrar dentro desses 
valores, descobrindo -lhe a sua existência. A filosofia e educação estão vinculadas no 
tempo e no espaço. A pedagogia inclui mais elementos do que o pressuposto filosófico 
da educação, tais como os processos socioculturais, a concepção psicológica do 
educando e a forma do processo educacional. 
Para que possamos compreender ainda mais essa filosofia e como ela é parte de 
uma educação inteiramente possuída pela realidade e construção cultural, segundo o 
filósofo e educador Demerval Saviani, a reflexão filosófica deve possuir as seguintes 
características: 
 
 
 
5 
 
 
2.1 O que é Filosofia 
 
 
Fonte: www.i.ytimg.com 
 
 
 
6 
 
A pergunta pelo que é a Filosofia é, em si, uma investigação filosófica cujas 
tentativas de resposta ocorrem desde Pitágoras, que cunhou o termo. O que é isto: a 
Filosofia? Se essa pergunta continua a ser feita é porque é um desafio a tentativa de 
respondê-la. Não há uma definição simples que consiga resolver a questão, pela própria 
extensão do conteúdo produzido que se convencionou chamar de “filosofia” e pelas 
diferentes respostas que os filósofos deram a elano decorrer da história, muitas vezes 
refutando as interpretações de outros. Ou seja, a própria questão “O que é Filosofia” é 
aquilo que chamamos de “problema filosófico”: problemas que só podem ser resolvidos 
por meio da investigação racional, pois não podem ser constatados por meio de uma 
experimentação, como faz a Matemática, através de cálculos, ou de análise de 
documentos, como faz a História, por exemplo. 
Vamos tomar a palavra “Justiça” como exemplo, pelo método histórico, nós 
podemos fazer uma investigação de quando essa noção aparece, em qual contexto, 
quais foram seus antecedentes, qual o sentido essa palavra teve em determinada época. 
Se dois sócios querem dividir os lucros da empresa de forma justa, ou seja, dividindo 
igualmente o lucro e os custos, a Matemática pode nos ajudar a partir de cálculos. No 
entanto, se tentarmos responder “O que é a justiça?” ou: “Faz parte da condição humana 
a noção de justiça?”, o único recurso que teremos será a nossa razão, a nossa 
capacidade de pensar. 
Desde a invenção da palavra “filosofia”, por Pitágoras, temos diversos problemas 
filosóficos e diversas respostas a cada um deles. Para os pré-socráticos: a physis; para 
a Filosofia Antiga: a atividade política, técnicas e ética do homem; para a Filosofia 
Medieval, o conflito entre fé e razão, os Universais, a existência de Deus, a conciliação 
entre Presciência divina e Livre-arbítrio; para a Filosofia Moderna, o empirismo e o 
racionalismo, para a Filosofia Contemporânea,diversos problemas a respeito da 
existência, da linguagem, da arte, da ciência, entre outros. 
Temos também uma diversidade de formas literárias da filosofia: 
Parmênides escreveu em forma de poema; Platão escreveu diálogos; Epicuro escreveu 
cartas; Tomás de Aquinodesenvolveu o método “questio disputatio” em suas aulas que 
foram transcritas por seus alunos;Nietzsche escreveu em forma de aforismos. Por esses 
exemplos, que não esgotam a pluralidade da escrita e da atividade filosófica, podemos 
 
7 
 
compreender que as formas de se fazer filosofia vão muito além dos tratados e das 
dissertações. 
A compreensão que temos por vezes da Filosofia como uma atividade reservada 
a gênios e que, portanto, não precisa se preocupar em se fazer entendida aos demais 
humanos é baseada em uma compreensão da atividade do pensamento sendo superior 
à atividade da linguagem, como se elas estivessem dissociadas. Ora, não podemos 
ainda, por mais desenvolvidas que estejam as nossas tecnologias, expressar o 
pensamento sem linguagem e nem exercitar a linguagem sem que ela seja, antes, 
elaborada pelo pensamento. 
 
2.2 Surgimento da Filosofia 
: 
Fonte: image.slidesharecdn.com 
 
 
 
8 
 
Como qualquer outra proposta educativa, a EAD tem diferentes perspectivas de 
opção filosófica, onde princípios e valores estão postos. Entre a individualização 
extremada e a massificação determinada pela padronização dos comportamentos, 
coloca-se uma terceira possibilidade, que se estabelece pela individualização voltada 
para a integração e cooperação social (KRAMER, 1999, p.34). 
A Filosofia, como conhecemos hoje, ou seja, no sentido de um conhecimento 
racional e sistemático, foi uma atividade que, segundo se defende na história da filosofia, 
iniciou na Grécia Antiga formada por um conjunto de cidades-Estado 
(pólis) independentes. Isso significa que a sociedade grega reunia características 
favoráveis a essa forma de expressão pautada por uma investigação racional. Essas 
características eram: poesia, religião e condições sociopolíticas. 
A partir do século VII a.C., os homens e as mulheres não se satisfazem mais com 
uma explicação mítica da realidade. O pensamento mítico explica a realidade a partir de 
uma realidade exterior, de ordem sobrenatural, que governa a natureza. O mito não 
necessita de explicação racional e, por isso, está associado à aceitação dos indivíduos e 
não há espaço para questionamentos ou críticas. 
É em Mileto, situado na Jônia (atual Turquia), no século VI a.C. que 
nasce Tales que, para a Aristóteles é o iniciador do pensamento filosófico que se 
distingue do mito. No entanto, o pensamento mítico, embora sem a função de explicar a 
realidade, ainda ecoa em obras filosóficas, como as de Platão, dos neoplatônicos e dos 
pitagóricos. 
A autoria da palavra “filosofia” foi atribuída pela tradição a Pitágoras. As duas 
principais fontes sobre isso são Cícero e Diógenes Laércio. Vejamos o que escreve 
Cícero: 
“O doutíssimo discípulo de Platão, Heráclides Pontico, narra que levaram a 
Fliunte alguém que discorreu douta e extensamente com Leonte, príncipe dos fliúncios. 
Como seu engenho e eloquência tivessem sido apreciados por Leonte, este lhe 
perguntou que arte professasse, ao que ele respondeu que não conhecia nenhuma arte 
especial, mas que era filósofo. 
Admirado Leonte diante da novidade daquele termo, perguntou que tipo de 
pessoas eram os filósofos e o que os distinguia dos outros homens. 
 
9 
 
(...) 
[Pitágoras respondeu] Outrossim, os homens (…) comparam-se com os que vão 
da cidade a uma festa popular: alguns vão em busca de glória enquanto outros de ganho, 
restando, todavia, alguns poucos que desconsiderando completamente as outras 
atividades, investigam com afinco a natureza das coisas: estes se dizem investigadores 
da sabedoria - quer dizer filósofos - e como é bem mais nobre ser espectador 
desinteressado, também na vida a investigação e o conhecimento da natureza das coisas 
estão acima de qualquer outra atividade”. 
 
Percebe-se que por meio desse fragmento de Cícero que: 
 
1) A fonte na qual ele se baseia para escrever sobre Pitágoras é Heráclides 
Pontico, discípulo de Platão, mas que era também influenciado pelos pitagóricos. No 
entanto, não se sabe da veracidade a respeito dessa informação, como nota Ferrater 
Mora que também observa que não é possível saber se “filósofo” para Pitágoras significa 
o mesmo que significaria para Platão ou Aristóteles. 
2) Pitágoras em vez de se denominar como “sábio”, prefere se denominar 
“filósofo”, ou seja, aquele que tem amor pela sabedoria. Também percebemos que 
aparece nome “filósofo” e não “Filosofia” que, como atividade, tem origem posterior. 
Como se pode ver no fragmento, não havia na época uma “arte especial”. 
 
 
10 
 
2.3 A Filosofia para alguns filósofos 
 
Fonte: 1.bp.blogspot.co 
Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.): “A admiração sempre foi, antes como agora, a 
causa pela qual os homens começaram a filosofar: a princípio, surpreendiam-se com as 
dificuldades mais comuns; depois, avançando passo a passo, tentavam explicar 
fenômenos maiores, como, por exemplo, as fases da lua, o curso do sol e dos astros e, 
finalmente, a formação do universo. Procurar uma explicação e admirar-se é reconhecer-
se ignorante." 
Epicuro (341 a . C. - 270 a . C.): "Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, 
nem o canse fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem 
demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar 
ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já 
passou a hora de ser feliz." 
Edmund Husserl (1859-1938): "O que pretendo sob o título de filosofia, como fim 
e campo de minhas elaborações, sei-o naturalmente. E contudo não o sei... Qual o 
pensador para quem, na sua vida de filósofo, a filosofia deixou de ser um enigma?" 
Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Um filósofo: é um homem que experimenta, vê, 
ouve, suspeita, espera e sonha constantemente coisas extraordinárias; que é atingido 
pelos próprios pensamentos como se eles viessem de fora, de cima e de baixo, como por 
uma espécie de acontecimentos e de faíscas de que só ele pode ser alvo; que é talvez, 
ele próprio, uma trovoada prenhe de relâmpagos novos; um homem fatal, em torno do 
 
11 
 
qual sempre tomba e rola e rebenta e se passam coisas inquietantes”. (Para alémdo bem 
e do mal, p. 207) 
Kant (1724-1804): “Não se ensina filosofia, ensina-se a filosofar”. 
Ludwig Wittgenstein (1889-1951): "Qual o seu objetivo em filosofia? - Mostrar à 
mosca a saída do vidro." 
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961): "A verdadeira filosofia é reaprender a ver o 
mundo." 
Gilles Deleuze (1925-1996) e Félix Guattari (1930-1993): "A filosofia é a arte de 
formar, de inventar, de fabricar conceitos... O filósofo é o amigo do conceito, ele é 
conceito em potência... Criar conceitos sempre novos é o objeto da filosofia." 
Karl Jaspers (1883-1969): “As perguntas em filosofia são mais essenciais que as 
respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta” (Introdução ao 
pensamento filosófico, p. 140). 
García Morente (1886-1942): “Para abordar a filosofia, para entrar no território da 
filosofia, é absolutamente indispensável uma primeira disposição de ânimo. É 
absolutamente indispensável que o aspirante a filósofo sinta a necessidade de levar seu 
estudo com uma disposição infantil. (…) Aquele para quem tudo resulta muito natural, 
para quem tudo resulta muito fácil de entender, para quem tudo resulta muito óbvio, 
nunca poderá ser filósofo”. (Fundamentos de filosofia, p. 33-34). 
 
 
NASCIMENTO DA FILOSOFIA 
 
 
Fonte: alunosonline.uol.com.br 
 
12 
 
 
Os historiadores da Filosofia situam o seu nascimento no final do século VII e início 
do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor, na cidade de Mileto. E 
aquele a quem primeiro atribuiu-se esse título foi Tales de Mileto. Em seu nascimento a 
filosofia caracteriza-se como uma cosmologia. A palavra cosmologia é composta de duas 
outras: cosmos, que significa mundo ordenado e organizado, e logia, que vem da 
palavra logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento. 
Assim, a Filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da 
Natureza, de onde: cosmologia. Ainda dentro deste contexto podemos dizer que a 
Filosofia nasceu realizando uma transformação gradual sobre os mitos gregos, embora 
alguns autores defendam uma ruptura radical com os mitos. 
[...] o advento da filosofia, na Grécia, marca o declínio do pensamento mítico e o 
começo de um saber de tipo racional [...] homens como Tales, Anaximandro, Anaxímenes 
inauguram um novo modelo de reflexão concernente à natureza [...] da origem do mundo, 
de sua composição, de sua ordem, dos fenômenos metereológicos, propõem explicações 
livres de toda a imaginária dramática das teogonias e cosmogonias antigas (VERNANT, 
2006, p. 109). 
O que é um mito? Um mito é uma narrativa sobre a origem de algo, como a origem 
dos deuses, dos astros, da Terra, dos homens, da água, do bem e do mal etc. e se opõe 
ao logos que é um tipo de raciocínio que “[...] procura convencer, acarretando no ouvinte 
a necessidade de julgar” (BRANDÃO, 1986, p. 13). A palavra mito vem do grego, mythos, 
e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) 
e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito 
é um discurso diferente do logos pois é pronunciado ou proferido para ouvintes que 
recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra: “Acredita-se 
nele ou não, à vontade, por um ato de fé, se o mesmo parece "belo" ou verossímil, ou 
simplesmente porque se deseja dar-lhe crédito” (BRANDÃO, 1986, p. 14). As narrativas 
míticas gregas nos foram relatadas sobretudo por Homero e Hesíodo, o primeiro, 
segundo a tradição, é autor de a Ilíada e a Odisséia, enquanto que o segundo é autor 
de Teogonia e Os trabalhos e os dias. 
 
13 
 
Quem narra o mito? O poeta-rapsodo. Quem é ele? Por que tem autoridade? 
Acredita-se que o poeta é um escolhido dos deuses, que lhes mostram os 
acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas 
as coisas para que possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra - o mito - é sagrada 
porque vem de uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável. 
Como exemplo dessas narrativas temos o titã Prometeu, que roubou uma centelha de 
fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado (amarrado num 
rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado) e os homens 
também. Qual foi o castigo dos homens? Os deuses fizeram uma mulher encantadora, 
Pandora, a quem foi entregue uma caixa que conteria coisas maravilhosas, mas nunca 
deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos humanos e, cheia de curiosidade e querendo 
dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças, doenças, pestes, 
guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se, assim, a origem dos males no mundo. 
 
 
 
 Fonte: conscienciapolitica.webnode.pt 
Já foi há muito tempo observado que o antecedente da cosmologia filosófica é 
constituído pelas teogonias e cosmogonias mítico-poéticas, das quais é muito rica a 
literatura grega, e cujo protótipo paradigmático é a Teogonia de Hesíodo, a qual, 
explorando o patrimônio da precedente tradição mitológica, traça uma imponente síntese 
 
14 
 
de todo o material, reelaborando-o e sistematizando-o organicamente. A Teogonia de 
Hesíodo narra o nascimento de todos os deuses; e, dado que alguns deuses coincidem 
com partes do universo e com fenômenos do cosmo, além de teogonia ela se torna 
também cosmogonia, ou seja, explicação da gênese do universo e dos fenômenos 
cósmicos. 
Hesíodo imagina ter tido, aos pés do Hélicon, na Beócia, uma visão das Musas, e 
ter recebido delas a revelação da verdade. Em primeiro lugar, diz ele, gerou-se o Caos, 
em seguida gerou-se Gaia (a Terra), em cujo seio amplo estão todas as coisas, e das 
profundidades da Terra gerou-se o Tártaro escuro, e, por fim, Eros (o Amor) que, depois, 
deu origem a todas as outras coisas. Do Caos nasceram Erebo e Noite, dos quais se 
geraram o Eter (o Céu superior) e Emera (o Dia). E da Terra sozinha se geraram Urano 
(o Céu estrelado), assim como o mar e os montes; depois, juntando-se com o Céu, a 
Terra gerou Oceano e os rios (cf. REALE, G. História da Filosofia, vol. I.) 
 
 
Fonte: conscienciapolitica.webnode.pt 
O mito narra, assim, a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações 
entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os 
mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que 
são cosmogonias e teogonias. 
 
15 
 
Considera-se, portanto, que a Filosofia, percebendo as contradições e limitações 
dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as 
numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente. O pensamento 
filosófico em seu nascimento tinha como traços principais: 
 
tendência à racionalidade: a razão é o critério de explicação da realidade; 
a Natureza opera obedecendo leis e princípios racionais e, portanto, pode ser 
conhecida pelo nosso pensamento e pela nossa razão; 
o Cosmo, entendido como ordem, é uma ordem racional; é a racionalidade deste 
mundo que o torna compreensível ao entendimento humano; daí, Cosmologia. 
 
A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e 
sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas 
transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um 
fato tipicamente grego. Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum, que outros 
povos, tão antigos quanto os gregos, como os chineses, os hindus, os japoneses, os 
árabes, os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da América não possuam 
sabedoria, pois possuíam e possuem. Também não quer dizer que todos esses povos 
não tivessem desenvolvido o pensamento e formas de conhecimento da Natureza e dos 
seres humanos, pois desenvolveram e desenvolvem. 
 
 
Fonte: conscienciapolitica.webnode.pt 
 
16 
 
Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizeré que ela possui 
certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir o pensamento, 
estabelece certas concepções sobre o que sejam a realidade, o pensamento, a ação, as 
técnicas, que são completamente diferentes das características desenvolvidas por outros 
povos e outras culturas. 
 Em outras palavras, Filosofia é um modo de pensar e exprimir o pensamento que 
surgiu especificamente com os gregos e que, por razões históricas e políticas, tornou-se, 
depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura europeia 
ocidental da qual, em decorrência da colonização portuguesa do Brasil, nós também 
participamos. Através da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as 
bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, 
ética, política, técnica, arte. 
Portanto, a Filosofia surge quando alguns pensadores gregos, admirados e 
espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, 
começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo 
e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os acontecimentos e 
as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é 
capaz de conhecer-se a si mesma. A filosofia, enfim: 
 
[...] vai encontrar-se, pois, ao nascer, numa posição ambígua: em seus métodos, 
em sua inspiração, aparentar-se-á ao mesmo tempo às iniciações dos mistérios 
e às controvérsias da ágora; flutuará entre o espírito de segredo próprio das sei-
tas e a publicidade do debate contraditório que caracterizava a atividade política 
[...] O filósofo não deixará de oscilar entre duas atitudes, de hesitar entre duas 
tentações contrárias. Ora afirmará ser o único qualificado para dirigir o Estado, e, 
tomando orgulhosamente a posição do rei-divino, pretenderá, em nome desse 
‘saber’ que o eleva acima dos homens, reformar toda a vida social e ordenar 
soberanamente a cidade. Ora ele se retirará do mundo para recolher-se numa 
sabedoria puramente privada; agrupando em torno de si alguns discípulos, dese-
jará com eles instaurar, na cidade, uma cidade diferente, à margem da primeira 
e, renunciando à vida pública, buscará sua salvação no conhecimento e na con-
templação” (VERNANT, 2006, p. 64) 
 
Mas a cosmologia não é a única característica principal da filosofia grega. Se num 
primeiro momento a filosofia surge como compreensão racional do cosmos, não é menos 
exato dizer que com a emergência da polis grega (as cidades-Estado), a filosofia irá 
 
17 
 
mudar a sua ênfase de pesquisa, no sentido de que a problemática agora será o próprio 
homem, enquanto ser individual, ético e cidadão da polis. 
Nesse momento, diz Jean Pierre Vernant, a Grécia está centralizada na ágora, 
espaço comum, espaço público, onde são debatidos os problemas de interesse geral. 
“Esse quadro urbano define efetivamente um espaço mental; descobre um novo 
horizonte espiritual. Desde que se centraliza na praça pública, a cidade já é, no sentido 
pleno do termo, uma polis” (2006, p. 51) E mais adiante: 
O aparecimento da polis constitui, na história do pensamento grego, um 
acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das 
instituições, só no fim alcançará todas as suas consequências; a polis conhecerá etapas 
múltiplas e formas variadas. Entretanto, desde seu advento, que se pode situar entre os 
séculos VIII e VII, marca um começo, uma verdadeira invenção; por ela, a vida social e 
as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente 
sentida pelos gregos (id., ibidem, p. 53). 
 Nesse novo contexto, Sócrates e os Sofistas inauguram um novo momento na 
filosofia grega. O pensamento de Sócrates é um marco na constituição da tradição 
filosófica ocidental. E pode-se dizer que inaugura a filosofia clássica dando maior ênfase 
a problemática ético-política e existencial, ao invés de uma maior preocupação centrada 
sobre a realidade natural, tal como encontramos nos filósofos pré-socráticos do período 
cosmológico. Essa mesma denominação, “pré-socráticos”, já reflete a importância da 
filosofia de Sócrates como um divisor de águas. Neste período da filosofia grega (séc. V 
e IV a.C.), o interesse dos filósofos gira não tanto em torno da natureza, como nos pré-
socráticos, mas em torno do homem e do espírito; da cosmologia passa-se para 
a antropologia, a política e a moral. Daí ser dado a esse segundo período do pensamento 
grego também o nome de antropológico, pela importância e o lugar central destinado ao 
homem e ao espírito no sistema do mundo, até então limitado à natureza exterior. Por 
outro lado, os Sofistas, contemporâneos de Sócrates, embora com visões diferentes, 
compartilham o interesse pela problemática ético-política, pela questão do homem 
enquanto cidadão da polis, que passa a se organizar politicamente no sistema que 
conhecemos como democracia. 
https://www.sabedoriapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-antiga/socrates/
https://www.sabedoriapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-antiga/socrates/
https://www.sabedoriapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-antiga/socrates/
https://www.sabedoriapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-antiga/socrates/
 
18 
 
 Os Sofistas surgem no contexto da democracia grega e do apogeu das 
cidades-estados, onde as deliberações serão tomadas em reunião de cidadãos: as 
assembleias. Tais decisões devem ser tomadas por consenso, o que significa explicar, 
justificar, discutir, convencer, persuadir, além disso, o uso da linguagem, o modo de falar, 
do discurso, deve ser racional. Na medida em que a palavra passa a ser livre, ela se torna 
instrumento através do qual os indivíduos podem defender seus interesses, seus direitos 
e suas propostas. “O filósofo é alguém que usa a palavra. Então, o indivíduo que não se 
interessa pela palavra, que a utiliza de um modo apenas pragmático, do tipo ‘me passe 
o sal’, que se pode fazer com ele?” (CHÂTELET, 1994, p. 29). Surge a arte do discurso, 
a retórica e a oratória, e os Sofistas são, precisamente, os mestres de retórica e oratória. 
“O que implica o sistema da polis é primeiramente uma extraordinária preeminência da 
palavra sobre todos os outros instrumentos de poder. Torna-se o instrumento político por 
excelência, a chave de toda autoridade no Estado, o meio de comento e de domínio sobre 
outrem” (VERNANT, 2006, p. 53). E mais adiante: “Doravante, a discussão, a 
argumentação, a polêmica tornam-se as regras do jogo intelectual, assim como do jogo 
político” (id., ibidem, p. 56). Na democracia ateniense, a função pública dos oradores 
torna-se fundamental e a palavra um instrumento utilizado não mais apenas por 
pensadores, mas também por políticos. É necessário preparar os indivíduos para a vida 
pública, torná-los capacitados para a virtude (aretê) política e para tal, é preciso adestrá-
los na arte da persuasão através da palavra. “Na democracia, a palavra vai impor-se, e 
quem dominar a palavra dominará a cidade” (CHÂTELET, 1994, p. 16). 
 Nesse período o pensamento filosófico terá como traços principais: 
 
 As práticas humanas, a moral, a política, dependem da vontade livre e da escolha 
racional segundo valores estabelecidos pelos próprios seres humanos e não por 
imposição divina ou sobrenatural; 
 A ideia de lei como expressão da vontade humana ordenada pela razão; “A lei da 
polis [...] já não se impõe pela força de um prestígio pessoal ou religioso; devem 
mostrar sua retidão por processos de ordem dialética [do diálogo, em sentido am-
plo]” (VERNANT, 2006, p. 56), e, mesmo que ainda concebida como sagrada, a 
lei se torna uma ordem racional, sujeita à discussão e modificável por decreto 
 
19 
 
 O discurso político – a vida política grega –, ao valorizar o pensamento racional, 
cria condições para valorizar o discurso filosófico, enquantoarte retórica, oratória 
e objeto de debate público – um combate de argumentos cuja arena é a ágora, 
praça pública, lugar de reunião entre os cidadãos. 
 
3 HISTÓRIA DA FILOSOFIA 
 
Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com 
Sob vários aspectos pode a história da filosofia suscitar interesse. Quem quiser 
descortinar o ponto central, deve buscá-lo no nexo essencial que liga os tempos 
aparentemente passados com o grau atualmente alcançado pela filosofia. Tal nexo não 
é um fato exterior suscetível de ser descurado na história desta ciência; exprime, pelo 
contrário, o caráter íntimo da filosofia; e as vicissitudes desta história, perpetuando-se 
nos seus efeitos, como qualquer outro acontecimento, são produtivas de maneira que 
lhes é peculiar: outra coisa não pretendemos senão ilustrar isto mesmo o mais claramente 
que nos seja possível. 
 
20 
 
A história da filosofia representa a série dos espíritos nobres, a galeria dos heróis 
da razão pensante, os quais, graças a essa razão, lograram penetrar na essência das 
coisas, da natureza e do espírito, na essência de Deus, conquistando assim com o próprio 
trabalho o mais precioso tesouro: o do conhecimento racional. 
Na história política, o indivíduo, na singularidade da sua índole, do seu gênio, das 
suas paixões, da energia ou da fraqueza de caráter, em suma, em tudo o que caracteriza 
a sua individualidade, é o sujeito das ações e dos acontecimentos. Na história da filosofia, 
estas ações e acontecimentos, ao que parece, não têm o cunho da personalidade nem 
do caráter individual; deste modo, as obras são tanto mais insignes quanto menos a 
responsabilidade e o mérito recaem no indivíduo singular, quanto mais este pensamento 
liberto de peculiaridade individual é, ele próprio, o sujeito criador. Primeiramente, estes 
atos do pensamento, enquanto pertencentes à história, surgem como fatos do passado 
e para além da nossa existência real. Na realidade, porém, tudo o que somos, somo-lo 
por obra da história; ou, para falar com maior exatidão, do mesmo modo que na história 
do pensamento o passado é apenas uma parte, assim no presente, o que possuímos de 
modo permanente está inseparavelmente ligado com o fato da nossa existência histórica. 
O patrimônio da razão autoconsciente que nos pertence não surgiu sem preparação, nem 
cresceu só do solo atual, mas é característica de tal patrimônio o ser herança e, mais 
propriamente, resultado do trabalho de todas as gerações precedentes do gênero 
humano. 
Como as artes da vida externa, o complexo de meios, de habilidades, de insti-
tuições e de hábitos no convívio social e na vida política são o resultado da meditação e 
da invenção, das privações, ou de acidentes da sorte, da necessidade e da perícia, do 
querer e do poder da história na sua evolução até o presente atual. Se alguma coisa 
somos no domínio da ciência e da filosofia, devemo-lo à tradição, a qual, através do que 
é caduco, e por isso mesmo passado, forma, segundo a expressão de Herder, uma 
corrente sagrada que conserva e transmite tudo quanto o mundo produziu antes de nós. 
Mas esta tradição não é apenas uma ama que conserva fielmente o patrimônio 
recebido para o manter e transmitir invariável aos vindouros, como o curso da natureza 
que, através de infinitas variações e atividades de formas e funções, sempre se conserva 
fiel às suas leis originais sem progredir; não é estátua de pedra, mas é viva, e 
 
21 
 
continuamente se vai enriquecendo com novas contribuições, à maneira de rio que 
engrossa o caudal à medida que se afasta da nascente. O conteúdo desta tradição é 
formado por tudo quanto o mundo espiritual produziu, e o espírito universal nunca 
permanece estacionário. Ora, é do espírito universal que nos devemos ocupar aqui. É 
possível que em determinada nação se dê uma pausa na cultura, na arte, na ciência, nas 
capacidades intelectuaisem geral. Pareceter sido o que sucedeu com os chineses que, 
vai para dois mil anos, teriam estacionado no atual grau de desenvolvimento. Mas o 
espírito do mundo não pode cair neste repouso indiferente, como se deduz do simples 
conceito essencial do espírito, pois que o seu viver é o seu agir. Ora, a ação pressupõe 
uma matéria preexistente sobre a qual se exerça, não só a fim de a aumentar com o 
acréscimo de novos materiais, senão principalmente para a elevar e transformar. Deste 
modo, aquilo que todas as gerações produziram como ciência, como patrimônio 
espiritual, constitui uma herança acumulada pelo trabalho de todos os homens que nos 
precederam, um templo onde todas as gerações humanas, gratas e alegres, depuseram 
o que as ajudou a viver e o que elas conseguiram extrair da profundidade da natureza e 
do espírito. 
A recepção desta herança equivale ao exercício da posse dela. Ela forma a alma 
das sucessivas gerações, a sua substância espiritual e como que um hábito transmitido, 
os seus princípios, prejuízos e riquezas; e, ao mesmo tempo, tal herança degradou-se 
ao ponto de servir de matéria para ser transformada e elaborada pelo espírito. Desta 
maneira se vai modificando o patrimônio herdado, e simultaneamente se enriquece e 
conserva o material elaborado. 
É esta, precisamente, a posição e a função da nossa idade, como aliás de todas 
as idades: compreender a ciência existente, modelar por ela a nossa inteligência, e desse 
modo desenvolvê-la, elevá-la a um grau superior; no ato de a convertermos em 
propriedade nossa e individual, juntamos-lhe algo de que até então carecera. Desta 
característica da produção espiritual, que supõe um mundo espiritual preexistente e o 
transforma no ato de se apossar dele, segue-se que a nossa filosofia só pode existir 
enquanto ligada à precedente, da qual é necessário produto; e o curso da história mostra, 
não o devir de coisas a nós estranhas, mas sim o nosso devir, o devir do nosso saber. 
 
22 
 
Da natureza da relação que expusemos dependem as ideias e os problemas que 
podemos propor, relativos ao âmbito da história da filosofia. Compreender devidamente 
esta relação permite alcançar como pelo estudo da história desta ciência somos iniciados 
no conhecimento da própria ciência. As indicações que demos acerca do processo de 
tratar esta história são tomadas de tal relação, e a elucidação delas constitui uma das 
finalidades desta Introdução. Nesta altura, intervém o conceito do fim da filosofia, que 
deveria ser estabelecido como fundamento. Mas, visto não podermos fazer aqui uma 
exposição científica deste conceito, em vez de provar e fazer compreender a natureza do 
devir da filosofia, contentamo-nos com dar dele uma ideia preliminar. Este devir não é 
simplesmente um movimento passivo como imaginamos que seja o nascer do sol e da 
lua, movimento que se efetua sem contrariedade no espaço e no tempo. O que devemos 
representar ao espírito é a atividade do pensamento livre; devemos representar a história 
do mundo no pensamento, o processo do seu nascimento e produção. Segundo uma 
antiga opinião, a faculdade de pensar é o que separa os homens dos brutos. Aceitamo-
la como verdadeira. O que o homem possui de mais nobre do que o animal, possui-o 
graças ao pensamento: tudo quanto é humano, de qualquer forma que se manifeste, é-o 
na medida em que o pensamento age ou agiu. Mas sendo o pensamento o essencial, o 
substancial, o efeitual, dirige-se a objetos muito variados; pelo que importa considerar 
como mais perfeito o pensamento voltado sobre si mesmo, ou seja, sobre o objeto mais 
nobre que pode buscar e encontrar. 
 
23 
 
 
Fonte: resumoescolar.com.br 
A história que nos propomos fazer é a história do pensamento que a si próprio se 
encontra; e por meio do pensamento acontece que ele se encontra na medida em que se 
produz; por isso só existe e é real na medida em que se encontra. As manifestações 
deste processo são as filosofias, e as séries das descobertas, de que o pensamento se 
vale para se descobrir, constituem o trabalhode dois mil e quinhentos anos. 
Se o pensamento, enquanto essencialmente pensamento, é em si e por si estante 
e eterno, e se o vero está contido só no pensamento — como é que este mundo 
intelectual consegue ter uma história? Na história apresenta-se o que é mutável, o que 
mergulha na noite do passado, o que já não existe; pelo contrário, o pensamento vero e 
necessário — e, aqui, só deste nos ocuparemos — não é suscetível de mudança. A 
questão, que surge aqui, é uma das primeiras sobre que deve incidir a nossa atenção. 
Em segundo lugar, apresentam-se à mente, além da filosofia, muitos outros objetos de 
importância, os quais, sejam embora produto do pensamento, ficam excluídos da nossa 
investigação, tais como a religião, a história política, as constituições dos Estados, as 
artes e as ciências. Ocorre perguntar: como distinguir estes produtos daqueles que 
formam o objeto do nosso estudo? Mais. Que relação medeia entre eles e a história? 
 
24 
 
Sobre estas duas questões precisamos dizer alguma coisa, o bastante para elucidar a 
maneira como entendemos tratar a história da filosofia. 
Além disso, em terceiro lugar, é oportuno, antes de baixar aos pormenores, 
abarcar num relance o conjunto, sob risco de deixar o todo pelos pormenores, a floresta 
pelas árvores, a filosofia pelas filosofias. O espírito exige a posse de uma representação 
geral do escopo e da finalidade do conjunto para saber a que deva consagrar-se. Do 
mesmo modo que se abarca num relance uma paisagem que se vai estreitando à medida 
que demoramos o olhar em cada uma das partes que a constituem, assim também o 
espírito deseja compreender a relação entre as filosofias particulares e a filosofia geral, 
porque o valor das partes singulares deriva principalmente da relação entre elas e o todo. 
Isto obtém-se, acima de tudo, por meio da filosofia e da história da filosofia. A 
necessidade desta visão de conjunto pode, com rigor, parecer menor para a história do 
que para uma ciência própria e verdadeira. De fato, à primeira vista, a história parece ser 
uma sucessão de fenômenos contingentes, isolados, e que só do tempo recebem o nexo 
que os prende. Todavia, já na história política não nos contentamos com esta maneira de 
ver: compreendemos, ou pelo menos pressentimos, uma conexão necessária que marca, 
a cada um dos fatos, a sua posição especial e a relação com uma finalidade, e com isso 
lhes marca também um significado. Tudo, na história, tem significado só pela sua relação 
com algum fato geral e em virtude da sua ligação com ele; descobrir este fato geral 
chama-se compreender o seu significado. 
Restam ainda os seguintes pontos que me proponho esclarecer nesta Introdução. 
Primeiramente, a que se destina a história da filosofia? Qual o seu significado, o seu 
conceito, o seu escopo? Da resposta a estas perguntas se deduzirá o modo de tratar o 
assunto. Resultará daí, como particularidade mais interessante, a relação entre a história 
da filosofia e a própria ciência da filosofia; ver-se-á que a história da filosofia não se limita 
a expor os fatos externos, os acontecimentos acidentais que formam o seu conteúdo, 
mas procura demonstrar como este mesmo conteúdo, embora pareça desenvolver-se 
historicamente, na realidade pertence à ciência da filosofia: a história da filosofia é, 
também ela, científica, e converte-se, pelo que lhe é essencial, em ciência da filosofia. 
Em segundo lugar, precisamos fixar com maior exatidão o conceito da filosofia, a 
fim de determinar, sobre a base de tal conceito, tudo quanto do infinito material e dos 
 
25 
 
múltiplos aspectos oferecidos pela cultura espiritual dos povos se deva excluir da história 
da filosofia. A religião e as ideias nela e acerca dela expressas, especialmente sob forma 
de mitologia, apresentam-se, pelo seu conteúdo, tão aparentadas com a filosofia, que os 
confins de uma e de outra se confundem. Outro tanto se pode afirmar das demais 
ciências: as ideias de cada uma delas sobre o Estado, sobre os deveres e sobre as leis, 
são tão parentes da filosofia pela forma, como a religião o é pela substância. Poder-se-
ia supor que se deveriam tomar em consideração todas estas ideias na história da 
filosofia. Que coisa há que se não tenha chamado filosofia e filosofar? Por um lado, 
convirá considerar atentamente a íntima ligação da filosofia com as disciplinas afins, 
religião, arte, com as demais ciências, como também com a história política. Por outro 
lado, depois de bem delimitado o campo da filosofia, mediante a determinação do que é 
a filosofia e do que lhe pertence, teremos obtido um princípio para a sua história muito 
distinto dos inícios de ideias religiosas e de conjecturas mais ou menos ricas em ideias. 
Do conceito do âmbito e da finalidade, como resulta destes primeiros pontos de 
vista, importará passar à consideração de um terceiro ponto, isto é, ao exame geral e à 
divisão do curso da história da filosofia em momentos necessários. Esta divisão permitirá 
mostrar essa história como um todo orgânico em via de progresso, como um nexo 
racional. Só deste modo alcançará a dignidade de ciência. 
Não me demorarei noutras reflexões sobre a utilidade da história da filosofia e dos 
vários modos de a tratar: a utilidade é por si evidente. Por último, para me não afastar do 
costume tradicional, tratarei também das fontes da história da filosofia. 
3.1 A Filosofia Antiga 
A Grécia (Hélade) nada mais foi do que um conjunto de cidades-Estados (Pólis) 
que se desenvolveram na Península Balcânica no sul da Europa. Por ser seu relevo 
montanhoso, permitiu que grupos de pessoas (Demos) fossem formados isoladamente 
no interior do qual cada Pólis desenvolveu sua autonomia. 
Constituída de uma porção de terras continental e outra de várias ilhas, bem como 
também em virtude da pouca fertilidade dos seus solos, a Grécia teve de desenvolver 
o comércio como principal atividade econômica. Assim, e aproveitando-se do seu litoral 
 
26 
 
bastante recortado e com portos naturais, desenvolveu também a navegação para 
expandir os negócios, bem como mais tarde sua influência política nas chamadas 
colônias. 
A sociedade grega era organizada segundo o modelo tradicional aristocrático, 
baseado nos mitos(narrativas fabulosas sobre a origem e ordem do universo), em que a 
filiação à terra natal (proprietários) determinava o poder (rei). 
Esse modo de estruturar a sociedade e pensar o mundo é comumente classificado 
como período Homérico (devido a Homero, poeta que narra o surgimento da Grécia a 
partir da guerra de Troia). Mas com o tempo, algumas contradições foram sendo 
percebidas e exigiram novas explicações. Surge, então, a Filosofia. Eis os principais 
fatores que contribuíram para o seu aparecimento: 
 
 As viagens marítimas, pois o impulso expansionista obrigou os comerciantes a 
enfrentarem as lendas e daí constatarem a fantasia do discurso mítico, proporci-
onando a desmitificação do mundo (como exemplo, os monstros que os poetas 
contavam existir em determinados lugares onde, visitados pelos navegadores, 
nada ali encontravam); 
 A construção do calendário que permitiu a medição do tempo segundo as esta-
ções do ano e da alternância entre dia e noite. Isso favoreceu a capacidade dos 
gregos de abstrair o tempo naturalmente e não como potência divina; 
 O uso da moeda para as trocas comerciais que antes eram realizadas entre pro-
dutos. Isso também favoreceu o pensamento abstrato, já que o valor agregado 
aos produtos dependia de uma certa análise sobre a valoração; 
 A invenção do alfabeto e o uso da palavra é também um acontecimento peculiar. 
Numa sociedade acostumada à oralidade dos poetas, aos poucos cai em desuso 
o recurso às imagens para representar o real e surge, como substituto, a escrita 
alfabética/fonética, propiciando, como os itens acima, um maior poder de abstra-
ção. 
 A palavra não mais é usada como nos rituais esotéricos (fechados paraos inicia-
dos nos mistérios sagrados e que desvendavam os oráculos dos deuses), nem 
 
27 
 
pelos poetas inspirados pelos deuses, mas na praça pública (Ágora), no confronto 
cotidiano entre os cidadãos; 
 O crescimento urbano é também registrado em virtude de todo esse movimento, 
assim como o fomento das técnicas artesanais e o comércio interno, as artes e 
outros serviços, características típicas das cidades; 
 A criação da Política que faz uso da palavra para as deliberações do povo (Demo) 
em cada Pólis (por isso, Democracia ou o governo do povo), bem como exige que 
sejam publicadas as leis para o conhecimento de todos, para que reflitam, criti-
quem e a modifiquem segundo os seus interesses. 
 
As discussões em assembleias (que era onde o povo se reunia para votar) 
estimulava o pensamento crítico-reflexivo, a expressão da vontade coletiva e evidencia a 
capacidade do homem em se reconhecer capaz de vislumbrar a ordem e a organização 
do mundo a partir da sua própria racionalidade e não mais nas palavras mágico-religiosas 
baseadas na autoridade dos poeta inspirados. Com isso, foi possível, a partir da 
investigação sistemática, das contradições, da exigência de rigor lógico, surgir a Filosofia. 
3.2 As principais características da Filosofia 
 
Fonte: image.slidesharecdn.com 
 
28 
 
 
A reflexão filosófica surge no século VI a. C., na Grécia, em contraposição à 
narrativa mítica. Um novo conceito de verdade sobre a realidade substitui, assim, o 
modelo baseado na tradição oral dos poetas, autoridades portadoras da vontade dos 
deuses. 
A Filosofia surge como espanto diante da possibilidade de estranhar o mundo e 
concebê-lo de forma racional. Esse espanto impulsiona a busca da compreensão do ser 
enquanto algo natural e capaz de ser apreendido pelo Lógos (razão, discurso, palavra) 
humano. Após esse primeiro passo, a Filosofia também nos aparece como admiração, 
isto é, a contemplação da verdade de modo absoluto e universal, válida para todos, 
independente de raça, nação, cultura, mito, etc. Assim, a Filosofia liberta o homem da 
insegurança e do temor proporcionados pelo Mito de que o destino dos homens era um 
joguete dos deuses. 
Para conhecer essa verdade, os filósofos se esforçaram para conhecer as 
causas e os princípios (arqué) de toda a realidade, descobrindo na multiplicidade de 
coisas e opiniões um princípio único. Vejamos quais são as principais características 
deste processo de compreensão: 
 
 Tendência racional, em que somente a Razão é o critério de explicação sobre o 
mundo, segundo seus próprios princípios; 
 Submissão dos problemas à análise, à crítica, à discussão, à demonstração, pro-
curando oferecer respostas seguras e definitivas; 
 O pensamento é a fonte do conhecimento e deve apresentar as regras de seu 
funcionamento para justificar suas bases lógicas (por exemplo: os princípios de 
Identidade, da Não Contradição e do Terceiro Excluído); 
 Não aceitar as noções pré-concebidas, as opiniões já pré-estabelecidas, os pré-
conceitos imediatos, mas investigar o real com o rigor exigido pelo pensamento 
e suas leis, não sendo passivo, mas sim ativo no processo do conhecer; 
 Descobrir, a partir da análise das semelhanças e dessemelhanças entre as coi-
sas, o princípio que promove a generalização, isto é, o que permite agrupar os 
vários casos particulares em uma classe geral de objetos. 
 
29 
 
 
 
Fonte: coladaweb.com 
3.3 A importância de ensinar Filosofia 
 
Fonte: mundoeducacao.bol.uol.com.br 
 
Considerada indispensável ao currículo do Ensino Médio, a Filosofia e a Sociologia 
foram aprovadas, em julho de 2006, pela Câmara de Educação Básica do Conselho 
 
30 
 
Nacional de Educação (CNE), como disciplinas obrigatórias no currículo do Ensino 
Médio. 
Tal exigência se deu devido à percepção que educadores tiveram ao constatar os 
benefícios que a disciplina oferece aos alunos que trabalham com ela. 
A Filosofia em especial, leva o aluno à oportunidade de desenvolver um 
pensamento independente e crítico, ou seja, permite a ele experimentar um pensar 
individual. Sabe-se que cada disciplina apresenta suas próprias características, bem 
como auxilia a desenvolver habilidades específicas do pensamento que é abordado. 
No caso da Filosofia, essa permite e dá oportunidade de realizar o pensamento de 
maneira bastante pessoal. 
O Ensino Médio é geralmente considerado pelos educadores como uma fase de 
consolidação do aluno jovem, de sua personalidade e seus desejos, a Filosofia apresenta 
um papel importante e fundamental no sentido de colaboração. 
A Filosofia é bastante questionada enquanto disciplina, é necessário que os 
educadores se conscientizem de que o ensino não deve ser considerado como uma 
disciplina a mais a ser ensinada. O ideal é que o professor que tem a responsabilidade 
de aplicar tal disciplina tenha em mente o quanto é necessário fazer com que seus alunos 
não fiquem dependentes de livros didáticos, não desmerecendo, mas no sentido de não 
tender para os tão famosos “decorebas” de ideias e autores. 
Aos educadores que se preocupam com a melhor forma de aplicar a Filosofia, não 
existe receita pronta. Recomenda-se a priorização de práticas que favoreça a formação 
de jovens capazes de desenvolver seu próprio pensamento e crítica, formando cidadãos 
capacitados para enfrentar as diversas situações que poderão surgir em suas vidas. 
A Filosofia é fundamental na vida de todo ser humano, visto que proporciona a 
prática de análise, reflexão e crítica em benefício do encontro do conhecimento do mundo 
e do homem. 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 FILOSOFIA DA CIÊNCIA 
 
 
Fonte: 4.bp.blogspot.com 
Filosofia da ciência é a área da filosofia que pergunta sobre a ciência, de quais 
ideias parte, qual método usa, sobre qual fundamento e acerca de suas implicações. 
Apesar destes problemas gerais, muitos filósofos escreveram sobre algumas ciências 
particulares, como a física e a biologia. Não apenas se utiliza a filosofia para pensar sobre 
a ciência, como se utiliza resultados científicos para pensar a filosofia. 
Não existe determinada ciência que faça parte dos estudos da filosofia da ciência. 
As ciências naturais (ex.: biologia, química e física), formais (ex.: matemática, lógica e 
teoria dos sistemas), sociais (ex.: sociologia, antropologia e economia) e aplicadas 
(agronomia, arquitetura e engenharia) já foram objetos de estudos filosóficos. 
Historicamente, já na Grécia Antiga se pensava sobre a ciência. Aristóteles (384 
a.C.-322 a.C.), por exemplo, escreveu sobre a origem da vida, afirmando a possibilidade 
de existir vida a partir de algo inanimado. A teoria da abiogênese (geração espontânea) 
que ele defendia perdurou por diversos séculos. Além da origem da vida, Aristóteles 
também se preocupou em elaborar um meio de estudar as espécies, sendo ele o primeiro 
a propor uma divisão do reino animal em categorias. 
 
32 
 
No decorrer da história, a figura mais importante para a filosofia da ciência é 
Francis Bacon (1561-1626), filósofo inglês responsável pela base da ciência moderna, o 
método indutivo. A indução, método de a partir de fatos particulares chegar a conclusões 
universais, já existia, mas é Bacon o responsável por seu aprimoramento e divulgação. 
Após Bacon, muito se pensou e escreveu sobre a ciência, especialmente devido 
aos avanços e descobertas dos séculos seguintes. René Descartes desenvolveu seu 
método, houve as contribuições e discussões de Galileu Galilei, Isaac Newton, Gottfried 
Leibniz e outros. Deste aumento considerável de pensadores que detiveram tempo 
acerca do campo da filosofia da ciência pode-se escolher alguns para comentar suas 
importantes ideias. Entre eles, David Hume e Karl Popper. 
David Hume (1711-1776), filósofo escocês, criticou fortemente as bases da ciência 
e da filosofia. A partir do pensamento de John Locke (1632-1704), Hume levou o 
empirismo, isto é, aideia de que todo o nosso conhecimento tem origem na experiência 
(nos cinco sentidos), até as últimas consequências. Para ele, se nosso conhecimento 
ocorre após a experiência significa que não podemos deduzir eventos futuros. Significa 
dizer que não há nada no mundo que garanta que as leis que regem o universo hoje 
serão as mesmas amanhã. Por mais que o homem observe há milênios o sol aparecer 
todos os dias, nada garante o seu aparecimento amanhã, e por isso a ciência não pode 
tomar suas conclusões como verdades absolutas. 
No século XX, o filósofo austríaco, Karl Popper (1902-1994) criticou a forma de 
fazer ciência a partir da indução, o método defendido por Bacon. Para Popper, o método 
indutivo não garante a validade de suas conclusões. Afirmou isso, pois não é possível ter 
acesso a todos os fatos particulares para ser possível chegar a conclusões. Um cientista 
pode observar cisnes durante 20 anos e perceber que todos os cisnes observados são 
brancos, mas ele não pode concluir que “todos” os cisnes são brancos. Se ele concluir 
isto, bastará a existência de apenas um cisne negro para invalidar sua tese. Com isto, 
Popper defenderá que o papel da ciência é falsear as suas conclusões a partir do método 
dedutivo, partindo de conclusões universais para a verificação particular. O papel da 
ciência é verificar se suas conclusões são verdadeiras, tentando falseá-las com a 
experimentação. 
 
33 
 
Aproximando questões de metafísica, epistemologia e ontologia, quando estas 
tratam da relação entre ciência e verdade, a filosofia da ciência é o ramo da filosofia que 
trata das questões relativas a confiabilidade, previsibilidade e métodos da ciência. 
Questões acerca da ciência sempre estiveram presentes em filosofia, por muito 
tempo não houve distinção entre questões da filosofia e da ciência. No entanto, uma área 
da filosofia dedicada exclusivamente a compreensão das ciências só veio a surgir na 
metade do século XX, particularmente sob influência do positivismo lógico, que buscava 
desenvolver critérios para garantir o significado de afirmações filosóficas, mas também 
pela obra de Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas, de 1962, na qual o 
autor procurou apresentar uma nova visão de como se dá o progresso científico. 
Atualmente, existem ramos dentro da filosofia da ciência para todas as ciências 
existentes, desde a filosofia da física, que irá analisar, entre outros tópicos, questões 
relativas a natureza do espaço-tempo, até a filosofia da psicologia e ciência cognitiva. A 
filosofia da ciência, como área ampla, neste contexto, analisará ainda questões relativas 
a possibilidade de se reduzir uma ciência a outra (reducionismo), a validade do raciocínio 
científico e mesmo questões próximas a ética, como a morte na filosofia da medicina. 
Os principais tópicos de investigação para a filosofia da ciência são três: 
 
1. O que se qualifica como ciência? 
2. Qual o propósito da ciência? 
3. A confiabilidade das teorias científicas. 
 
O primeiro tópico, que trata do que se qualifica como ciência, é conhecido como 
"problema da demarcação". De acordo com Karl Popper, a qualidade fundamental da 
ciência é a falseabilidade. Sabemos que estamos diante de uma pseudo-ciência quando 
esta não comporta mecanismos para mostrar que suas teses podem ser falsas. Ainda 
segundo Popper, esta seria a questão primordial da filosofia da ciência. Embora muitos 
filósofos concordem com Popper, um consenso ainda não foi estabelecido, chegando 
alguns filósofos a afirmar que devemos usar o padrão Potter Stewart, segundo o qual "eu 
sei o que é quando vejo". 
https://www.infoescola.com/filosofia/reducionismo/
 
34 
 
Quanto ao propósito da ciência, existem duas correntes mais proeminentes, 
realistas e instrumentalistas. Realistas irão defender que o mundo descrito pelas ciências 
é o mundo real, que o objetivo último da ciência é a verdade, e defenderão que entidades 
inobserváveis possuem o mesmo status ontológico que as entidades observáveis. Nesta 
corrente encontramos nomes como Ernan McMullin e Richard Boyd. Instrumentalistas, 
por outro lado, defenderão que as teorias científicas são ferramentas para identificar 
relações entre meio e finalidade úteis e confiáveis na experiência, mas sem afirmar a 
revelação de entidades para além da experiência. Entre os instrumentalistas os principais 
nomes são Karl Popper e John Dewey. 
Quanto à questão da confiabilidade das teorias científicas, trata-se de investigar 
como e por qual razão devemos confiar em uma teoria científica. Entre as possíveis 
respostas encontramos a tese do poder de predição de fenômenos, segundo a qual uma 
teoria é confiável quando ela é eficaz em prever fenômenos que se dispõe a prever. Outra 
abordagem, intimamente ligada a primeira, é a de que a teoria confiável oferece uma boa 
explicação para os eventos que ocorrem com regularidade, ou que já ocorreram. O 
critério pelo qual se poderia dizer que uma teoria explicou bem um evento, assim como 
o que significa dizer que uma teoria tem poder explicatório, ainda permanece sob 
discussão. 
Entre as questões importantes para a filosofia da ciência encontramos ainda, o 
reducionismo, que trata não apenas da possibilidade de se reduzir uma ciência a outra, 
mas também da possibilidade de reduzir todos os campos de estudo a explicações 
científicas; e a neutralidade política e social da ciência. 
3.4 Questões de estudo da Filosofia 
Apesar do seu nome simples, o campo é complexo e continua a ser uma área de 
investigação atual. Filósofos da ciência estudam ativamente questões como: 
 
 O que é uma lei da natureza? Há alguma em ciências não-físicas, como a biologia 
e a psicologia? 
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-lei.php
 
35 
 
 Que tipo de dados pode ser usado para distinguir entre as verdadeiras causas e 
regularidades acidentais? 
 Quanta evidência e que tipos de evidência precisamos ter antes de aceitar hipó-
teses? 
 Por que é que os cientistas continuam a confiar em modelos e teorias que sabem 
ser pelo menos parcialmente incorretos (como a física de Newton)? 
 
Embora possam parecer elementares, estas questões são na realidade muito difí-
ceis de responder de forma satisfatória. As opiniões variam muito dentro do campo (e, 
ocasionalmente, vão contra as opiniões dos próprios cientistas — que usam o seu tempo 
mais a fazer ciência do que a analisá-la abstratamente). Apesar dessa diversidade de 
opinião, os filósofos da ciência em grande parte concordam num ponto: não há uma 
maneira única e simples de definir a ciência! 
 
 
Fonte: saberciencia.tecnico.ulisboa.pt 
 
Embora o campo seja altamente especializado, algumas ideias chave generaliza-
ram-se. Aqui temos uma explicação curta de apenas alguns conceitos associados à filo-
sofia da ciência, que você pode (ou não) já ter ouvido. 
 
 Epistemologia — ramo da filosofia que lida com o que é o conhecimento, 
como aceitamos algumas coisas como verdadeiras, e como podemos justificar 
essa aceitação. 
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-dados.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-evidencia.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-hipotese.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-hipotese.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-modelo.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-teoria.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-aceitar.php
 
36 
 
 Empiricismo — conjunto de abordagens filosóficas para a construção do co-
nhecimento que enfatizam a importância da evidência observável provinda 
do mundo natural. 
 Indução — método de raciocínio em que uma generalização é defendida como 
verdadeira com base em exemplos individuais que parecem estar conformes 
à generalização. Por exemplo, depois de observar que as árvores, bactérias,anémonas do mar, moscas, e os seres humanos possuem células, pode-se in-
ferir por indução que todos os organismos possuem células. 
 Dedução — método de raciocínio em que a conclusão é alcançada logica-
mente a partir de dadas premissas. Por exemplo, se conhecemos as posições 
relativas atuais da lua, do sol e da Terra, e se sabemos exatamente como se 
movem uns em relação aos outros, podemos deduzira data e o local do pró-
ximo eclipse solar. 
 Parcimónia/ navalha de Occam — ideia de que, sendo todas as outras condi-
ções iguais, devemos preferir uma explicação mais simples a uma mais com-
plexa. 
 Problema da demarcação — o problema de distinguir com segurança a ciência 
da não ciência. Filósofos modernos da ciência concordam em termos gerais 
que não existe um critério único e simples que possa ser usado para demarcar 
as fronteiras da ciência. 
 Falsificação — o ponto de vista, associado com o filósofo Karl Popper, que a 
evidência só pode ser usada para descartar ideias, e não para as apoiar. Po-
pper propôs que as ideias científicas só podem ser testadas através de falsifi-
cação, nunca através da procura de evidência corroborante. 
 Mudanças de paradigma e revoluções científicas — uma visão da ciência, as-
sociada com o filósofo Thomas Kuhn, que sugere que a história da ciência 
pode ser dividida em períodos de ciência normal (quando os cientistas incre-
mentam, elaboram e trabalham com uma teoria científica central, geralmente 
aceite) e breves períodos de ciência revolucionária. Kuhn afirmou que durante 
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-observar.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-mundo-natural.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-inferencia.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-inferencia.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-deduzir.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-teste.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-falsificar.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-falsificar.php
 
37 
 
os períodos de ciência revolucionária, anomalias refutando a teoria aceite acu-
mularam-se a tal ponto que a teoria anterior é rejeitada e uma nova é constru-
ída para tomar o seu lugar, numa assim chamada "mudança de paradigma". 
3.5 Empirismo 
 
Fonte: pm1.narvii.com 
O empirismo é a posição filosófica que aceita a experiência como base para a aná-
lise da natureza, procurando rejeitar as doutrinas dogmáticas. Usado pela primeira vez 
pela Escola Empírica, uma escola de praticantes da medicina na antiga Grécia, o termo 
empirismo deriva da palavra grega empeiría (ἐμπειρία), que designa conhecimento ou 
habilidade obtida por meio da prática, sendo também a origem da palavra "experiência", 
por intermédio do termo latino "experientia". 
Empiristas defendem que o conhecimento é primariamente obtido pela experiência 
sensorial, alguns empiristas radicais vão além afirmando que o conhecimento só é obtido 
pela experiência sensorial e por nenhuma outra forma. 
A posição empirista é frequentemente contrastada com o racionalismo, que esta-
belece a razão como origem do conhecimento, independente dos sentidos. O conceito e 
a busca de evidências como fonte primária de conhecimento existiram durante toda a 
história da filosofia e ciência, desde a Grécia antiga, mas foi com o surgimento do cha-
https://www.infoescola.com/historia/medicina-na-grecia-antiga/
https://www.infoescola.com/filosofia/racionalismo/
https://www.infoescola.com/historia/grecia-antiga/
 
38 
 
mado Empirismo Britânico, no século XVII, que se consolidou como uma posição filosó-
fica especifica, sendo o filósofo John Locke considerado o fundador do empirismo como 
tal. 
Os principais filósofos do Empirismo Britânico foram John Locke, George Berkeley 
e David Hume. 
Locke é famoso por sua comparação da mente humana com uma folha em branco, 
tabula rasa, na qual as experiências derivadas das impressões dos sentidos são impres-
sas. Desta forma, haveriam duas formas de surgimento de ideias, pela sensação e pela 
reflexão, com ideias podendo ser simples ou complexas. 
As ideias simples não são passíveis de análise, sendo referentes as qualidades 
primárias e secundárias dos objetos. Sendo as primárias aquelas que definem o que o 
objeto é essencialmente, por exemplo, uma mesa tem como qualidade primária o arranjo 
especifico de sua estrutura atômica, qualquer outro arranjo faria outro objeto e não uma 
mesa. As qualidades secundárias tratam das informações sensoriais acerca do objeto, 
definindo seus atributos (cor, sabor, espessura, etc). 
Ideias complexas combinam ideias simples e constituem substancias, modos e re-
lações. Desta forma, segundo Locke, e discordando dos racionalistas, o conhecimento 
humano acerca dos objetos do mundo é a percepção de ideias que estão em concordân-
cia ou discordância umas com as outras. Esta hipótese tornou-se a base da posição 
empirista. 
Preocupado que a posição de Locke levaria ao ateísmo, Berkeley formulou a hipó-
tese de que as coisas só existiriam na medida em que são percebidas. Para além destas, 
existiriam as entidades que percebem, tendo sua existência garantida mesmo sem que 
outro as perceba. Exagerando a alegoriada tabula rasa, Berkeley defendeu que a ordem 
que vemos na natureza é a escrita de Deus. Por isto, sua posição é hoje conhecida como 
idealismo subjetivo. 
Na sequência desta discussão, o filósofo Hume moveu a posição empirista na dire-
ção do ceticismo. Para Hume, a recusa de Berkeley se daria pelo fato de que o empi-
rismo possui implicações que não são aceitas pela maioria dos filósofos, devido a con-
vicções pessoais. 
https://www.infoescola.com/filosofos/john-locke/
https://www.infoescola.com/biografias/david-hume/
https://www.infoescola.com/portugues/alegoria/
https://www.infoescola.com/filosofia/ceticismo/
 
39 
 
No campo conceitual, Hume utiliza a distinção de argumentos, proposta por Locke, 
entre demonstrativos e prováveis e a expande, dividindo os argumentos em demonstra-
ções, provas e probabilidades. Sendo as provas, aqueles argumentos da experiência aos 
quais não se pode oferecer oposição. Hume afirma ainda que a razão por si mesma não 
poderia fazer surgir qualquer ideia original, ao mesmo tempo em que desafia a causali-
dade, ao afirmar que a razão não seria capaz de concluir que a existência de uma causa 
seja um requisito absoluto. 
 
3.6 Ceticismo 
 
Fonte: i2.wp.com/universocetico.com 
O Ceticismo é a doutrina do constante questionamento. O termo Ceticismo é de 
origem grega e significa exame, seu fundador foi Pirro, no século IV a.C.. Pintor nascido 
no Peloponeso, não deixou nenhum escrito filosófico sobre o assunto, mas desenvolveu 
um grande interesse por filosofia que o levou a fundar uma escola filosófica que garantiu 
sua reputação entre os contemporâneos. Pirro deixou como discípulo Tímon, que, por 
sua vez, produziu uma vasta obra escrita da qual só nos restaram alguns fragmentos. A 
escola cética criada por Pirro passa por um período de escuridão com a morte de seu 
fundador e renasce com Enesidemo, cujo período de vida não é muito bem determinado, 
 
40 
 
porém sua obra é muito conhecida. A partir daí aparecem com destaque os nomes de 
Agripa, Sexto Empírico e Antíoco de Laodicéia. Até que chega ao fim o período do 
chamado Ceticismo Antigo. 
Como corrente doutrinária, o ceticismo argumenta que não é possível afirmar 
sobre a verdade absoluta de nada, é preciso estar em constante questionamento, 
sobretudo, em relação aos fenômenos metafísicos, religiosos e dogmáticos. Com o 
passar do tempo, o Ceticismo se dividiu em duas linhas, o filosófico e o científico. 
O Ceticismo Filosófico é exatamente esse que começa com a escola de Pirro e 
que se expandiu pela chamada “Nova Academia” que ampliou as perspectivas teóricas, 
refutando verdadesabsolutas e mentiras. Seus seguidores alegavam a impossibilidade 
de alcançar o total conhecimento e adotaram métodos empíricos para afirmar seus 
conhecimentos. Assim, o Ceticismo Filosófico se dedicou a examinar criticamente o 
conhecimento e a percepção sobre a verdade. 
O Ceticismo Científico tem, naturalmente, ligação com o Ceticismo Filosófico, que 
é a base de tudo. Porém não são idênticos e muitos dos praticantes do Ceticismo 
Científico não concordam as proposições da corrente filosófica. A corrente científica é a 
contemporânea, as pessoas que se identificam como céticas são aquelas que 
apresentam uma posição crítica geralmente baseando-se no pensamento crítico e nos 
métodos científicos para constatar a validade das coisas. Assim, ganha muita importância 
a evidência empírica, o que não quer dizer que os céticos façam seu uso constantemente. 
A necessidade de evidências científicas é mais recorrente na área da saúde, onde os 
experimentos não podem colocar em risco a vida das pessoas. 
Entre os céticos há os chamados desenganadores que dedicam-se ao combate 
contra o charlatanismo, expondo suas práticas falsas e não-científicas. Os religiosos 
afetados por esses indivíduos, quando chamados a provar suas convicções, preferem 
atingir pessoalmente os céticos e não discutir suas práticas. Por outro lado, há também 
o pseudo-ceticismo, que, invés de manter o perfil de questionamento, partem logo para 
a negação. Assim, o Ceticismo pode levar a um ciclo vicioso e tornar seu praticante em 
um fanático tecnológico. 
 
https://www.infoescola.com/filosofia/pensamento-critico/
 
41 
 
3.7 Liberalismo 
 
Fonte; profigestaoblog.files.wordpress.com 
Liberalismo é uma teoria política e social que enfatiza fundamentalmente os 
valores individuais da liberdade e da igualdade. Para os liberais, todo indivíduo têm 
direitos humanos inatos. O governo tem o dever de respeitar tais direitos e deve atuar 
principalmente para resolver disputas quando os interesses dos indivíduos se chocam. 
De acordo com a filosofia política liberal, a sociedade e o governo devem proteger e 
promover a liberdade individual, em vez de impor constrangimentos; a pluralidade e a 
diversidade devem ser encorajadas e a sociedade deve ser igual e justa na distribuição 
de oportunidades e recursos. O liberalismo é, portanto, uma teoria individualista, pois 
entende que o indivíduo tem prioridade sobre o coletivo. 
As teorias liberais clássicas surgiram influenciadas pelo iluminismo europeu 
e revoluções burguesas, a partir do século XVII, para se oporem às formas de Estado 
absoluto. Elas defendem as instituições representativas e a autonomia da sociedade civil, 
do espaço econômico (mercado) e cultural (opinião pública) frente ao Estado. Nesse 
sentido, a história do liberalismo está intimamente ligada ao próprio desenvolvimento 
da democracia nos países do ocidente. Os sistemas democráticos assumem as 
premissas básicas do Estado liberal, no qual sua principal função seria o de garantir os 
https://www.infoescola.com/historia/iluminismo/
https://www.infoescola.com/historia/revolucoes-burguesas/
https://www.infoescola.com/historia/absolutismo/
https://www.infoescola.com/historia/absolutismo/
https://www.infoescola.com/politica/democracia/
 
42 
 
direitos do indivíduo contra o autoritarismo político e, para atingir esta finalidade, exige 
formas, mais ou menos amplas, de representação política. 
Entre os liberais, porém, não há consenso acerca da amplitude desejável da 
participação política dos cidadãos. Enquanto pensadores liberais 
como Locke, Montesquieu e Constant afirmavam que a participação dos cidadãos 
através das eleições e atuando em cargos representativos seria a melhor forma de 
liberdade política, Tocqueville defendia que a verdadeira ética liberal somente poderia se 
concretizar na atividade política ativa e no associativismo. 
Na história do pensamento ocidental, surgiram vários tipos de liberalismo. Em 
geral, os teóricos se diferenciavam por dar maior ênfase na liberdade ou na igualdade, 
ou divergiam ainda na forma com que propunham reconciliá-los. O liberalismo 
clássico tende a insistir que os direitos civis são fundamentais para os seres humanos, 
enquanto o liberalismo igualitário contemporâneo concentra-se mais na igualdade e 
argumenta que o governo ou a sociedade devem aumentar seu alcance de intervenção 
em áreas como saúde, educação e bem-estar social. 
Historicamente, os pensadores liberais defenderam a liberdade econômica contra 
o Estado: o Estado não deveria se intrometer no livre jogo do mercado, organizado por 
contratos entre particulares. Defendia-se um Estado pouco interventor, que não 
interferisse na resolução dos conflitos entre empregados e empregadores, entre as 
diferentes empresas, deixando a livre concorrência recompensar o melhor ator 
econômico. A liberdade econômica foi sintetizada na frase de “laissez faire, laissez 
passer”, que em francês significa “deixe fazer, deixe passar”. Na segunda metade do 
século XX, o liberalismo econômico clássico inspirou o surgimento de teorias conhecidas 
como neoliberalismo, que defendem uma diminuição drástica do Estado em favor do livre 
mercado. As principais críticas que recebem os liberais estão justamente na sua 
associação com o livre mercado e o capitalismo. 
 
 
 
 
https://www.infoescola.com/filosofos/john-locke/
https://www.infoescola.com/filosofia/montesquieu/
https://www.infoescola.com/sociedade/estado-de-bem-estar-social/
https://www.infoescola.com/economia/liberalismo-economico/
https://www.infoescola.com/historia/neoliberalismo/
https://www.infoescola.com/economia/capitalismo/
 
43 
 
3.8 Dialética 
 
 
Fonte: 4.bp.blogspot.com 
O Método Dialético, frequentemente referido apenas como Dialética, é uma forma 
de discurso entre duas ou mais pessoas que possuem diferentes pontos de vista sobre 
um mesmo assunto, mas que pretendem estabelecer a verdade através de argumentos 
fundamentados e não simplesmente vencer um debate ou persuadir o opositor. Embora 
o ato em si seja fundamental na formação da filosofia, o termo foi popularizado apenas 
com o advento dos diálogos socráticos de Platão. 
Para estabelecer a dialética, Sócrates encontrou na Verdade o maior valor, 
propondo que a verdade poderia ser descoberta através da razão e lógica em uma 
discussão. Desta forma, Sócrates se opôs a retórica como uma forma de arte que visa 
agradar os ouvintes e também a oratória, que convence por vias emocionais, não 
requerendo lógica ou prova. 
O propósito do método dialético é resolver os desacordos através de discussões 
racionais, e, em última análise, a busca pela verdade. A forma herdada de Sócrates para 
proceder tal discussão é mostrar que uma dada hipótese leva a contradições, então, 
forçar a retirada da hipótese como candidato a verdade. Desta forma, teríamos de 
https://www.infoescola.com/filosofos/platao/
https://www.infoescola.com/filosofia/socrates/
 
44 
 
encontrar outro candidato a verdade, para verificar se este também estaria comprometido 
com uma contradição, de tal forma que pudesse ser eliminado. Aquele candidato a 
verdade que por todos os meios não pudesse ser refutado, manter-se-ia como tal. 
Este proceder, herdado de Sócrates, levou Aristóteles a afirmar que a dialética é 
a lógica do provável, daquilo que parece aceitável a todos ou a maioria, mesmo quando 
não se pode demonstrar, já que exige apenas que não seja possível eliminar o candidato 
à verdade. Na mesma linha de análise que Aristóteles, Immanuel Kant, considerado o 
maior filósofo da era moderna, avaliou a dialética como nada mais que uma ilusão, 
tratando-se do que chamou de "lógica das aparências", por basear-se em aspectos 
subjetivos, recusando a explicação causal da realidade. 
A forma mais comum atualmente utilizada é a que foi apresentada por Johann 
Gottlieb Fichte, também adotada por Georg Wilhelm Friedrich Hegel, que consiste em 
abordara questão a ser discutida na forma de tese e antítese, com objetivo de chegar-
se a transcendência de ambas, na síntese, que seria uma terceira tese. Segundo estes 
autores, o objetivo da dialética não seria interpretar a realidade, mas refleti-la. 
 
A dialética Fichteana/Hegeliana é baseada em quatro conceitos: 
 
1. Tudo existe em um tempo médio, ou seja, tudo é finito e transitório. 
2. Tudo é composto de contradições – a palavra "contradição" é por vezes reinter-
pretada pelos alguns estudiosos como "forças opositoras". 
3. Mudanças graduais levam a crises, Fichte sugere uma estratégia que consiste em 
mudar o ponto defendido quando uma força sobrepõe sua força opositora – a ideia 
é que mudanças quantitativas levam a mudanças qualitativas. 
4. A mudança é espiral (sobreposição) e não circular – não se trata apenas de um 
caso de negação da negação, mas a sublimação. 
Para além de Sócrates e Fichte, o conceito de dialética este presente na filosofia 
de Heráclito, conhecido por propor que tudo está em constante mudança, de tal forma 
que a história do método dialético se confunde com a história da filosofia. 
No século XX, a receptividade a dialética, especialmente a dialética de Fichte, 
afastou a filosofia anglo-americana daquela chamada "continental", referindo-se 
https://www.infoescola.com/filosofia/aristoteles/
https://www.infoescola.com/biografias/immanuel-kant/
 
45 
 
particularmente aos filósofos do continente europeu. No continente a dialética tem papel 
fundamental na estrutura filosófica, enquanto na Grã-Bretanha e Estados Unidos a 
dialética não possui papel claro na filosofia, sendo o positivismo mais relevante. Alguns 
filósofos como Karl Popper dedicaram-se a mostrar que a dialética levava a aceitação da 
contradição. 
 
 Fundamentos sobre a filosofia da ciência 
 
A filosofia da ciência preocupa-se com os métodos científicos e com questões 
éticas das descobertas realizadas por esse campo do conhecimento. 
Com as inovações científicas das últimas décadas, passamos a considerar a 
ciência como uma forma de conhecimento infalível. Você já reparou que nós temos a 
tendência de valorizar mais um produto quando ele se anuncia como “cientificamente 
comprovado”? Vejamos a seguir uma lista de tópicos fundamentais para saber sobre a 
ciência e sobre como a filosofia se relaciona com ela. 
 
1) Classificação da Ciência 
 
A palavra ciência deriva do latim “scientia” e significa “conhecimento”. A partir do 
momento em que as ciências tornam-se autônomas, passam a ser classificadas 
em ciências formais, ciências da natureza e ciências humanas. As ciências formais 
recebem esse nome porque seus objetos de estudo não têm existência concreta, como 
a matemática e a lógica. As ciências da natureza são aquelas que estudam objetos que 
têm existência concreta, como a biologia, a química, a física e a geografia. As ciências 
humanas são aquelas que estudam aspectos relacionados com o comportamento 
humano. 
Essa classificação é didática, ou seja, ajuda-nos a compreender melhor os 
diferentes objetos de conhecimento e a diversidade de métodos à qual precisamos 
recorrer para investigá-los. No entanto, essa classificação é insuficiente, pois não se 
refere aos objetos de conhecimento que necessitam de métodos diversos. Também 
https://www.infoescola.com/sociologia/positivismo/
 
46 
 
temos que considerar as novas ciências que surgem e que apresentam traços das 
ciências humanas, das ciências da natureza e das ciências formais simultaneamente. 
 
2) Diferenças entre senso comum e conhecimento científico: 
 
Nós entendemos que o senso comum é uma forma de conhecimento que não é 
bem fundamentada racionalmente. O senso comum, assim, basear-se-ia em afirmações 
feitas de forma acrítica e, mesmo assim, transmitidas como se fossem verdade, como é 
caso dos ditados populares. Mas também podemos ver isso, hoje em dia, nas análises 
políticas que fazemos sem considerar as outras faces da questão e a partir de 
generalizações. 
O conhecimento científico seria uma forma de conhecimento mais rigorosa, 
construída por meio de uma fundamentação e que se distingue do senso comum por não 
considerar apenas as primeiras observações. Para o surgimento de teorias científicas, o 
fato (ou um problema) é observado, depois se levantam hipóteses que passam por 
experimentações para, finalmente, estabelecer conclusões que podem ser refutadas. 
 
3) O método científico experimental: 
 
O método científico experimental usado pelas ciências da natureza compreende 
as seguintes etapas: 
a) Observação: O cientista, ao analisar um fato, pode deparar-se com um 
problema que não pode ser solucionado a partir de pesquisas já feitas. Por exemplo: O 
cientista observa que as alfaces que nascem no lado esquerdo do seu quintal apresentam 
coloração roxa. 
b) Hipótese: Por ter feito leituras ou por acumular conhecimentos adquiridos em 
outras experiências, o cientista, ao analisar um problema que não tem uma resposta, 
levanta hipóteses. Por meio das hipóteses, ele tenta organizar os fatos observados e os 
recursos de que dispõe para explicá-los. Por exemplo: O cientista levanta a hipótese de 
que a coloração roxa foi causada por um mineral presente no solo. 
 
47 
 
c) Experimentação: Depois de levantadas as hipóteses, o cientista deve fazer uma 
observação dos fatos a partir de um controle, ou seja, a partir de condições determinadas 
por ele. Por exemplo: O cientista pode analisar o solo de seu quintal e examinar as 
diferenças entre a composição do lado esquerdo e do lado direito. Se ele identifica a 
presença de dois minerais diferentes no lado esquerdo, pode fazer duas amostras de 
solo, contendo em cada uma um dos minerais. A seguir, pode plantar alface para 
descobrir qual dos dois minerais é responsável pela coloração roxa. 
d) Generalização: Depois de observar a variação do fenômeno que estuda, o 
cientista deve analisar se suas hipóteses foram mantidas ou se elas foram derrubadas 
pela experimentação. Se foram derrubadas, ele deve recomeçar seu método, levantar 
uma nova hipótese e proceder a experimentação. Se comprovada, ele deve observar 
uma constante que o permita generalizar, ou seja, criar uma “lei” que pode ser aplicada. 
Por exemplo: Se o cientista viu que, mesmo na presença dos minerais no solo, as alfaces 
mantêm coloração normal, ele precisa levantar outra hipótese que o permita analisar o 
surgimento da coloração roxa, como a temperatura do solo, e fazer um novo experimento. 
Se ele constata que, na presença de um mineral no solo, as alfaces adquirem coloração 
roxa, ele pode generalizar e dizer: “Toda alface plantada em um solo com a presença do 
mineral citado apresentará coloração roxa”. Depois disso, pode continuar a pesquisa e 
analisar se a alface roxa tem o mesmo sabor da alface com coloração normal e se a 
presença do mineral no solo traz riscos à saúde de quem a ingerir. 
 
4) Leis empíricas e Leis Teóricas: 
 
As generalizações podem ter duas formas. As Leis Empíricas, também chamadas 
de leis particulares, são aquelas que foram criadas a partir de casos particulares, como 
no nosso exemplo da alface no tópico anterior. O cientista, quando procede assim, corre 
o risco de não conseguir estabelecer uma universalização que se aplica, de fato, a tudo 
aquilo que pretende abarcar. As Leis Teóricas, que podem ser chamadas apenas de 
teorias, são mais abrangentes e possuem um caráter unificador, que corresponde à 
aplicabilidade da teoria a casos particulares, e um caráter heurístico,que se refere à 
possibilidade de novas descobertas a partir de determinada teoria. 
 
48 
 
 
5) O que é Filosofia da ciência? 
 
A Filosofia da ciência é o campo de estudo acerca da ciência e de seus métodos, 
ou seja, a Filosofia da ciência responde a questões como “Qual é o método de 
investigação científica?”, “Como podemos classificar a ciência?”, “Qual a natureza das 
teorias científicas?”,“Uma determinada teoria explica de alguma forma a realidade?”. 
Além disso, a pergunta acerca da relação entre ética e ciência também pode ser feita por 
filósofos da ciência. Alguns pensadores importantes dessa área são Imre Lakatos, Karl 
Popper, Paul Feyerabend e Thomas Khun. 
 
6) Relação entre ética e ciência 
 
Com o avanço tecnológico e com a disposição de recursos para a implementação 
de pesquisas, a ciência pode ser questionada em relação aos seus valores éticos. 
Experimentações em animais são constantemente questionadas: até que ponto a ciência 
pode dispor dos animais, causar dor, desenvolver em animais saudáveis alguma doença 
para a descoberta de alguma droga? A obtenção de células-tronco a partir de embriões 
e a possibilidade de clonagem são outros tópicos científicos constantemente debatidos. 
A neutralidade e a autonomia da ciência, ou seja, o fato de o conhecimento científico não 
ter outro valor a não ser o cognitivo e a liberdade de proceder pesquisas, não a eximem 
de um debate ético. 
 
 
 
49 
 
3.9 Modernidade: Descartes e Hume 
 
Fonte: 4.bp.blogspot.com 
A partir da filosofia elaborada por Descartes, foi instalado o estranhamento entre 
razão e mundo, que passaram a ser compreendidos como duas instâncias absolutamente 
distintas, no qual a natureza passa a ser mediada pela razão. É a razão que representa 
o real. O conhecimento, para o pensamento cartesiano, não procede da contingência, da 
mutabilidade das coisas extensas ou da experiência oriunda dos sentidos, mas somente 
da razão. 
No entanto, qual a “natureza” da razão, em outras palavras, o que é razão? Aqui 
cumpre considerar que, a partir das mudanças operadas pela filosofia de Descartes, não 
há mais um critério de verdade externo, extrínseco e anterior no qual a razão encontra 
seu ponto de referência e sua causa. Ao contrário, verdade passa a ser aquilo que é 
constituído, construído e reconhecido pela razão. Não é gratuito, pois, que para 
Descartes, era plausível e matematicamente demonstrável o ideal de uma ciência 
universal, no qual se efetivaria o tríplice ideal: da ciência, do método e da certeza, 
porquanto a razão passa a ser compreendida como essencialmente una e, por 
consequência, uno também o entendimento que produz a ciência. 
Para tanto, o método de Descartes é exposto, sumariamente, no Discurso do 
método, e se compõe por quatro passos. O primeiro era não aceitar jamais alguma coisa 
como verdadeira que não se conhecesse evidentemente como tal, isto é, evitar com todo 
o cuidado a precipitação e a prevenção, e nada incluir em meus julgamentos senão o que 
se apresentasse de modo tão claro e distinto ao meu espírito que eu não tivesse nenhuma 
ocasião para dele duvidar. O segundo, em dividir cada uma das dificuldades que devesse 
 
50 
 
examinar em tantas parcelas possíveis e necessárias para melhor resolvê-las. O terceiro, 
conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos objetos mais simples e mais 
fáceis de conhecer, para, gradativamente, como por degraus, chegar ao conhecimento 
dos mais complexos (compostos), e supondo também, naturalmente, uma ordem de 
precedência de uns em relação aos outros. E o último, em fazer em cada passo, 
enumerações tão gerais que me assegurasse de nada ter omitido. 
Por consequência, o critério de verdade se desloca do objeto para o sujeito 
consciente, no qual o fundamento da verdade encontra-se, latente, no intelecto do 
agente, e do qual a correta aplicação do método permitiria o acesso à razão segundo a 
pureza de sua natureza. Esse deslocamento epistêmico, e seus desdobramentos 
posteriores, modificaram a perspectiva relativa ao conhecimento, porquanto a teoria 
cartesiana não parte das coisas, tais como são apreendidas pelos sentidos, para chegar 
à verdade, senão desta para chegar ao conhecimento das coisas. 
Portanto, se, antes, a razão era o efeito da verdade, e por esta avaliada, com 
Descartes há uma inversão do processo: a verdade passa a ser o efeito da razão; noutras 
palavras: a razão passa a ser a causa da verdade. Esse princípio cartesiano é levado às 
últimas consequências pela filosofia de Immanuel Kant, no processo que este denomina 
“revolução copernicana” do conhecimento. 
Quanto a Hume, para ele a origem do conhecimento ocorre com as percepções; 
elas são divididas em impressões (vivências atuais) e ideias (representações). Aqui 
cumpre salientar que, segundo Hume, se têm muito mais ideias do que impressões. As 
ideias ou representações são elaboradas por meio da memória, da imaginação ou da 
associação de ideias. A impressão, por sua vez, é aquilo que é dado; elas não acarretam 
nenhum problema metafísico; em contrapartida as ideias, sim. A questão surge quando 
é perguntado de que impressões as ideias provêm, já que essas constituem aquilo que é 
dado. Se a ideia é simples como, por exemplo, a cor, isso não acarreta problemas, tendo 
em vista que ela tem uma realidade correspondente. No entanto, se ela for complexa 
como, por exemplo, a ideia de substância, então, tem-se que analisá-la para se constatar 
quais são as suas impressões correspondentes. Mas, se ela não tiver algo assim, não se 
justifica, pois, para Hume, tudo é impressão. Assim sendo, a ideia de substância, para 
Hume, é algo que não tem uma impressão correspondente na realidade, algo que não é 
 
51 
 
uma soma de impressões, porquanto ela é um “não sei o quê” que está subjacente às 
impressões; logo, como ela não tem uma impressão que a fundamente, é uma ideia da 
imaginação do homem. 
A ideia de existência, por sua vez, também, não tem qualquer impressão na 
realidade, pois se é afirmado a existência de um corpo, o que se encontra, ao analisá-lo, 
são as características do próprio corpo, isto é, as impressões dele próprio e, sendo assim, 
não se encontra impressão da existência. Logo, a existência é uma ideia imaginada pelo 
homem. E assim Hume argumenta da mesma forma sobre a ideia do eu; o que se 
constata são vivências das pessoas e não algo real que remeta ao eu. Desta forma, a 
substância pensante, também, é uma imaginação. 
Hume, paulatinamente, causa uma ruptura com o racionalismo dogmático, 
questionando e demonstrando a implausibilidade dos seus princípios. Neste sentido, um 
dos princípios fundamentais metafísicos é o da causalidade, o qual Hume, também, 
analisa: 
 
Todos os nossos raciocínios que se referem aos fatos parecem fundar-se na 
relação de causa e efeito. Apenas por meio desta relação ultrapassamos os da-
dos da nossa memória e de nossos sentidos. Se tivéssemos que perguntar a 
alguém por que acredita na realidade de um fato que não se constata efetiva-
mente (...) ele vos diria uma razão, e esta seria um outro fato (...) Todos os nos-
sos raciocínios sobre os fatos são da mesma natureza. E constantemente supõe-
se que há uma conexão entre o fato presente e aquele que é inferido dele. Se 
não houvesse nada que os ligasse, a inferência seria inteiramente precária. (...). 
Portanto, se quisermos satisfazer-nos a respeito da natureza desta evidência 
que nos dá segurança acerca dos fatos, deveremos investigar como chegamos 
ao conhecimento da causa e do efeito... 
 
Então, mediante o acima exposto, Hume apresenta a causalidade como um 
problema e constata a necessidade de se obter informação sobre o conhecimento da 
relação de causa e efeito. Convém ressaltar que ele não nega a importância de tal 
relação; o que ele objetiva é saber de onde esta procede, se ela pode ou não ser 
legitimada, se ela é necessária e em que bases isto pode ser feito. Nesta perspectiva, a 
experiência, para ele, é a origem de todos os raciocínios. No entanto, nem a razão nem 
a experiência conseguem legitimar a necessidade do princípio de causalidade; prová-la. 
Segundo Hume, a relação de causa e efeito ocorre na experiência; porquanto ela não 
acontece na razão, sendo assim, esta não pode legitimá-la. A experiência, por sua vez, 
não tem o poder decolocar tal relação como algo necessário, pois os dados empíricos 
 
52 
 
são contingentes. Portanto, nem a razão, nem a experiência podem demonstrar a 
necessidade do princípio de causalidade. No entanto, se é constatado que há efeitos que 
remetem a causas, por que isto ocorre? Por que ao ver fumaça relaciona-se a fogo? 
Hume responde: por causa da crença que advém do hábito ou costume; da associação 
de ideias, pois; 
 
Todas as vezes que a repetição de um ato ou de uma determinada operação 
produz uma propensão a renovar o mesmo ato ou a mesma operação, sem ser 
impelida por nenhum raciocínio ou processo do entendimento, dizemos sempre 
que esta propensão é o efeito do costume (...). Portanto, todas as inferências 
tiradas da experiência são efeitos do costume e não do raciocínio...2 
 
3.10 Transcendental: Kant 
 
Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com 
Com Kant se inicia uma nova maneira de propor os problemas filosóficos 
referentes ao conhecimento científico; o caráter transcendental das coisas. Nesta 
perspectiva, nota-se que após a filosofia kantiana, foi elaborada uma nova definição para 
ciência. Mas de onde advém, para Kant, a preocupação com o conhecimento científico? 
 
53 
 
O problema geral kantiano é aquele que pergunta sobre a possibilidade do a priori. A 
grande inquietação de Kant sempre foi com a razão. Nos textos pré-críticos, esta 
preocupação já era vista. Nos Sonhos de um visionário explicados pela metafísica, 
datado de 1766, por exemplo, Kant já parece ter uma diretriz para alcançar a solução da 
possibilidade da razão quando ele afirma, nesse livro, a impossibilidade de se explicar a 
relação entre a alma e o corpo. Nos Sonhos, ele compara o sistema leibniz-wolffiano com 
os resultados alcançados por Swedenborg. Este acreditava que via e falava com espírito. 
Ele dizia que os espíritos moviam objetos e que lhe transmitiam mensagens sobre 
catástrofes e pessoas. Nos Sonhos, Kant qualifica as conclusões swedenborguianas de 
loucuras dos sentidos e as relaciona com as conclusões de Leibniz e Wolff, chamando 
as de loucuras da razão. Nestes termos, Kant critica todos os neocartesianos e afirma, 
veementemente, que nunca vamos poder solucionar os problemas da relação entre a 
alma e o corpo. 
Logo, o problema kantiano sempre foi relacionado com a razão. Com a publicação 
da Crítica da Razão Pura (1781), tal inquietação pôde ser constatada através de quatro 
perguntas: 
 
1ª. A metafísica é possível como ciência? 
2ª. Como são possíveis a física e a matemática como ciência? 
3ª Como são possíveis os juízos sintéticos a priori? 
4ª É possível a razão pura conhecer? 
 
Em outras palavras, Kant objetivava perguntar como o conhecimento a priori é 
possível na matemática e na física e não na metafísica. A preocupação kantiana com a 
possibilidade do a priori é indicada até mesmo pela forma como Kant elabora as 
perguntas: para a matemática e a física, Kant fornece um tratamento diferente daquele 
da metafísica; para esta é perguntado sobre a sua possibilidade e para aquelas é 
afirmado serem elas conhecimento científico, portanto o que ele indaga é sobre o modo 
de efetuar tal conhecimento. 
É conveniente lembrar que, para a filosofia kantiana, ciência é conhecimento 
universal e verdadeiro. Logo, ele não poderia ser a posteriori, pois este é baseado, 
 
54 
 
unicamente, na experiência, aspecto que não garante a universalidade nem a 
necessidade de nenhum conhecimento. Então, o conhecimento científico só pode ser a 
priori. 
Por que o conhecimento a priori é possível na matemática e na física e não na 
metafísica? Saber a resposta sobre a questão é se fazer a pergunta sobre a possibilidade 
de juízos sintéticos a priori, ou seja, juízos que têm uma necessidade diferente daquela 
da lógica formal e, por conseguinte, não se baseiam no princípio de não-contradição. 
Portanto, essa é a constatação de Kant da existência de juízos universais e necessários, 
mas que também são juízos de ampliação. E Kant afirma: “[...] a experiência nos ensina 
que uma coisa é isto ou aquilo, mas não que tal coisa pode ser de outro modo”. E 
acrescenta: “[...] não conhecemos a priori nas coisas senão aquilo que nós mesmos nelas 
colocamos”. 
Com isso, nós vimos que o sujeito só pode conhecer a priori algo que ele 
representa. O que ele conhece da natureza é o modo como a realidade lhe aparece, isto 
é, ele só pode conhecer os fenômenos e não os noumênos . Neste sentido, a física e a 
matemática vão se restringir a fenômenos. É na parte da Crítica da Razão Pura intitulada 
Dialética Transcendental (que trata de assuntos sobre o mundo) que Kant vai abordar a 
questão da liberdade, mostrando as antinomias cosmológicas, ou seja, aquelas que 
sustentam que o problema cosmológico é o da causalidade, e afirma: “A causalidade, 
segundo as leis da natureza, não é a única donde possam derivar-se todos os fenômenos 
do mundo. Para explicá-los, é necessário admitir-se, ainda, uma causa livre.” Como 
também: “Não há liberdade, mas tudo se dá, no mundo, exclusivamente segundo as leis 
da natureza.” 
Logo, com o acima exposto, o que Kant detecta é que a metafísica consegue 
demonstrar, para um só tema, respostas contraditórias. A contradição sobre o 
determinismo e a liberdade põe Kant em dificuldades, pois se ele recusa a causalidade, 
não há lei para a natureza e nem a ciência; se Kant refuta a liberdade, não há ética. Caso 
ele não dissolvesse tal questão, nós teríamos que abrir mão do pensamento racional 
incluindo o ético. 
A solução de Kant para o impasse acima mencionado tem como fundamento 
aquilo que ele denominou de inversão copernicana, isto é, o conhecimento fundado na 
 
55 
 
análise do sujeito cognoscente, onde este é parte ativa no processo, impondo as suas 
intuições puras de espaço e tempo e os seus conceitos. 
3.11 Fase Contemporânea: Quine, Popper, Kuhn, Feyerabend 
Na fase contemporânea relacionada aos pressupostos teóricos e metodológicos 
do conhecimento científico, poder-se-á destacar, no nível de amostragem, quatro 
momentos fundamentais: 
1) o empirismo lógico; 
2) a teoria de Quine; 
3) a crítica de Popper ao empirismo lógico; 
4) as críticas à teoria popperiana (Kuhn, Feyerabend). 
 
Quanto ao positivismo lógico, ele surge no século XX representado pelo Círculo 
de Viena. Como exemplo, tem-se o atomismo lógico10 de Bertrand Russell. Este defende 
que a tarefa da filosofia se esgota na análise lógica da linguagem da ciência, do discurso 
científico. O argumento russelliano consiste em afirmar que, com o advento da geometria 
não-euclidiana, o conteúdo da estética transcendental kantiana não se sustentava, 
igualmente, também, aquilo que foi afirmado como: a continuidade do espaço; o tempo e 
o movimento. Segundo Russell, após Frege ter demonstrado detalhadamente como a 
aritmética pode deduzir-se da lógica pura, sem necessidade de ideias nem axiomas 
novos; a filosofia kantiana que demonstrava que 7 + 5 = 12 era um juízo sintético foi 
refutada. Assim, constatando isto, Russell seguindo Frege, considera a necessidade de 
uma linguagem artificial; de uma linguagem a partir de sua estrutura, em que os efeitos 
da linguagem ordinária sejam remediados e, desta forma, possam ser entendidos todos 
os fatos sobre a realidade. Tomando Russell como amostragem significativa, em ampla 
medida, pode-se afirmar que os pensadores que participavam do movimento do Círculo 
de Viena acreditavam que a filosofia se restringia à lógica – sentenças com valor de 
verdade podem ser tanto empíricas quanto analíticas. Eles tinham como preocupação 
epistemológica a enunciação de fatos empiricamente verificáveis. Portanto: o positivismo 
lógico apresentou-se como uma tentativa de cientificar a filosofia unindo aspectos do 
 
56 
 
racionalismo e do empirismo num projeto epistemológico comum. Em uma visão geral, 
eles tinham como princípios: 
 
1) os métodos da ciência são aúnica via para o conhecimento válido; 
2) proposições que não podem ser verificadas experimentalmente não têm 
significado para a ciência; 
3) elementos a priori, metafisicamente dados, devem ser rejeitados; 
4) os cientistas devem ter procedimentos intersubjetivamente verificáveis; 
5) o conhecimento tem uma ligação necessária com a lógica; 
6) a demarcação do conhecimento científico em relação ao senso comum ocorre 
por meio do uso do método indutivo. 
 
No entanto, embora o positivismo lógico tenha como princípio subjacente à sua 
teoria o ideal de certeza e verificabilidade, isso não impossibilitou o fato de ele sofrer 
inúmeras críticas. Nesta perspectiva, tem-se Quine, cuja preocupação reside, 
essencialmente, em aspectos metaepistemológicos. Quine foi um crítico do chamado 
empirismo-lógico, fornecendo uma nova forma de pensar às relações entre o 
conhecimento e as crenças; assim: 
 
O que o naturalismo faz é compreender a ciência como um empreendimento 
humano, falível por certo, mas que, por não haver uma filosofia primeira ou tri-
bunal superior, deve ela resolver seus próprios problemas, suas próprias ques-
tões, com os recursos que lhe são disponíveis. Faltando um árbitro superior, a 
ciência decide sobre os seus problemas e respostas, sobre seus métodos para 
resolvê-los bem como sobre a confiabilidade relativa deles. Concebendo-se, 
desde o ponto de partida, como falível, a ciência nessa visão naturalista, não 
pretende obter justificações e garantias absolutas. 
 
Desta maneira, Quine abandona uma filosofia primeira e constata que se tem que 
examinar a ciência a partir do seu interior; a pergunta não é mais aquela que diz: o que 
permite que as crenças científicas sejam tidas como conhecimento? Agora, o 
questionamento é o seguinte: se a ciência é verdadeira, como se poderia conhecê-la? 
Assim sendo, a pergunta relativa ao conhecimento científico é feita no âmbito do 
hipotético e, se ela for assumida como verdadeira, os seus resultados também o serão. 
 
57 
 
Conforme isto, estudar a forma segundo a qual se passa dos fatos às crenças é 
denominado de epistemologia naturalizada quineana. Sendo assim, não importam as 
justificações, mas só as questões causais, isto é, o estudo das formas, e caberia à 
ontologia descrever a relação entre evidência e teoria, tendo a aprendizagem linguística 
um papel motivador para a epistemologia. Assim sendo, o importante na filosofia 
quineana são as questões que tratam sobre a relação entre teoria e evidência e aquelas 
sobre a aquisição de crenças. Para tanto, sua tese é holística. O holismo é a tese 
segundo a qual a justificação das crenças não se faz atomisticamente, frase por frase, 
mas em conjunto. Em geral, são teorias como um todo que são justificadas pelas 
evidências, e não as frases isoladas que as compõem. Assim sendo, em se tratando de 
uma frase isolada, ela só é aceita se a teoria da qual faz parte também o é. Uma 
consequência do holismo é aquela que afirma que nenhuma afirmação está imune à 
revisão. O que isto significa é que, em Quine, há um antirreducionismo, uma rejeição da 
verdade analítica e do conhecimento a priori. Assim, segundo Quine, o projeto empirista 
que tem como fundamento expressar enunciados sobre objetos físicos em termos 
puramente observacionais, fracassou. Então, sobre a teoria de Quine, pode-se afirmar: 
A concepção da filosofia como análise conceitual foi seriamente desafiada pela 
assim chamada “virada naturalista”, promovida especialmente por W. V. O. Quine. Para 
ele, a filosofia é mais do que uma mera questão de investigação linguístico-conceitual, 
posto que ela não é algo essencialmente distinto da ciência empírica. Não há 
efetivamente nenhuma distinção real a ser traçada aqui: a filosofia forma um continuum 
com a ciência, e as distinções que podem ser traçadas são meramente artificiais, algo 
como as fronteiras entre os diversos estados de um mesmo país. 
Dentre as críticas à teoria de Quine, podem-se incluir as de Popper. Segundo ele, 
Quine dizia não haver necessidade de acrescentar alguma coisa a mais, uma vez que a 
existência das coisas físicas era suficiente. Segundo Popper, Quine está equivocado, 
porquanto argumentar, apreender e compreender o mundo não pode ser considerado 
como mera coisa física. Quanto à teoria de Popper, seus dois grandes problemas, são 
eles: 
O problema da indução (problema de Hume): como aprendemos a partir da 
experiência? 
 
58 
 
O problema da demarcação (problema de Kant): quais os limites da experiência 
possível? 
Aqui cumpre mencionar que a partir dessas duas problemáticas, inaugura-se o 
problema de Popper, propriamente dito. Em outras palavras: 
O problema de Popper é aquele que se pergunte: como é possível o progresso do 
conhecimento? 
Em linhas gerais, pode-se afirmar que a teoria da ciência de Popper pode ser 
caracterizada como anti-indutivista e falsificacionista. Quanto ao anti-indutivismo 
popperiano, pode-se considerar: 
a) a indução é comprovadamente um modo logicamente inválido de inferência; 
b) qualquer outra forma de justificar a indução, ou seja, mostrar que podemos 
racionalmente formar as nossas expectativas sobre o futuro com base em nossas 
experiências passadas, é obrigado a ser circular. 
Nessa perspectiva da crítica da indução, Popper foi além de Hume quando admitiu 
que a indução é um mito. A ciência do real não deve empregar indução. Contudo, embora 
Popper tenha efetuado um processo de questionamento das formas de se caracterizar a 
ciência e, com isso, iniciou um processo de revisão da metodologia científica, seus 
alunos, Thomas Kuhn e Paul Feyerabend consideraram tímidas as críticas que Popper 
dirige aos princípios organizadores do paradigma clássico da metodologia científica. 
Sob essa ótica, a teoria da ciência de Kuhn pode ser vista como o resultado de 
dois fatores: a) uma reflexão sobre a prática científica, bem como o desenvolvimento 
histórico real de uma sucessão de teorias científicas e b) uma reação ao empirismo lógico 
e à teoria popperiana do crescimento científico como um processo cumulativo. 
Contrapondo-se a isso, Kuhn acredita em uma dinâmica do crescimento científico que 
pode ser representado da seguinte forma: 
 
1. Na ciência normal há um paradigma; 
2. O paradigma entra em crise; 
3. Vem a revolução; 
4. E a partir daí há uma eleição de um novo paradigma. 
 
 
59 
 
E por fim, será considerado na disciplina Filosofia da Ciência a teoria de 
Feyerabend, mais precisamente, aspectos concernentes ao seu livro Contra o Método. 
Nesta perspectiva, o intitulado “anarquista epistemológico” afirma que não existem regras 
e exceções metodológicas as quais possam reger o progresso da ciência ou o 
crescimento do conhecimento. Para Feyerabend, tanto os empiristas quanto o 
racionalismo crítico de Popper terminam por inibir o progresso científico através da 
aplicação de condições restritivas sobre novas teorias. Para demolir tais obstáculos, o 
autor de Contra o Método afirma ter escrito tal livro com o objetivo de libertar o povo da 
tirania dos conceitos abstratos como "verdade", a "realidade", ou "objetividade". Sob essa 
ótica, afirma Feyerabend: 
É claro que a ideia de um método estático ou de uma teoria estática da 
racionalidade funda-se em uma concepção demasiado ingênua do homem e de sua 
circunstância social. Os que tomam do rico manancial da história, sem a preocupação de 
empobrecêlo para agradar a seus baixos instintos, a seu anseio de segurança intelectual 
(que se manifesta como desejo de clareza, precisão, ‘objetividade’, ‘verdade’), esses 
veem claro que só há um princípio que pode ser defendido em todas os estágios do 
desenvolvimento humano. É o princípio: tudo vale. 
 
E para reforçar o “tudo vale”, o autor de Contra o Método argumenta: 
 
Unanimidade de opinião pode ser adequada para uma igreja, para vítimas teme-
rosas ou ambiciosas de algum mito (antigoou moderno) ou para os fracos e 
conformados seguidores de algum tirano. A variedade de opiniões é necessária 
para o conhecimento objetivo. E um método que estimule a variedade é o único 
método compatível com a concepção humanitarista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
60 
 
 FILOSOFIA DA RELIGIÃO 
 
 
Fonte: guiadafilosofia.com.br 
Podemos entender a religião, de uma forma ampla, como um sistema de crenças 
e as práticas a elas referentes. Em quase todas as culturas há pelo menos uma 
expressão que possamos chamar de religiosa. Essas expressões diferem entre si, quanto 
à origem e conceitos principais, mas costumam partir da tentativa do homem de encontrar 
respostas a problemas para os quais a razão humana não seria suficiente. Uma pergunta 
bastante inquietante e que ainda não podemos responder precisamente por meio da 
ciência é a respeito da vida após a morte. 
As religiões espiritualistas, ou seja, que acreditam na existência de um corpo 
mortal e de uma alma imortal, podem enfrentar esse problema criando teorias baseadas 
em algum livro que se considera escrito a partir de uma revelação de Deus, como o 
Alcorão para os muçulmanos, o Bhagavad Gita para os hindus e a Bíblia para os cristãos, 
por exemplo, ou por meio da transmissão oral de revelações individuais feitas a alguém 
que se considera capaz de se comunicar com o plano sagrado, como são os profetas, 
médiuns e babalorixás. 
 
61 
 
Ou seja, na esfera da religião, não se necessita de uma demonstração racional 
para aquilo que se professa como verdade, mas a fé não é necessariamente oposta à 
razão. O termo “filosofia da religião”, que aparece a partir do século XIX, é a parte da 
filosofia que se ocupa de examinar racionalmente as explicações religiosas. A existência 
ou não de Deus foi uma questão que movimentou o pensamento de muitos filósofos 
desde a Antiguidade, como Tomás de Aquino, Agostinho de Hipona e Nicolau de Cusa. 
3.12 Contexto Histórico 
O cenário histórico que serve de pano de fundo para a discussão desses 
pensadores é o desenvolvimento e ascensão do Cristianismo e grande influência da 
Igreja Católica como instituição social. Se o Império Romano se esfacelava, a Igreja 
acumulou grande riqueza material. Se o Império Romano sofria ataques de povos 
bárbaros, a Igreja desempenhava o papel de conciliadora entre a nobreza feudal. 
A fé cristã, segundo a doutrina da Igreja Católica, era a verdade mais elevada. 
Qualquer ato que discordasse do postulado pela Igreja era considerado uma heresia. 
Todas as investigações filosóficas e científicas tinham que partir do pressuposto de que 
a verdade já havia sido revelada pelo próprio Deus. A única tarefa possível à ciência e à 
filosofia era a comprovação racional da fé. Muitos pensadores cristãos investiram nesse 
trabalho e tentaram, a partir da filosofia grega ou contra ela, convencer os descrentes. 
Entre esses pensadores, podemos incluir os “padres apologistas”, ou seja, aqueles 
padres que mostravam a superioridade da fé cristã em relação ao paganismo ou 
politeísmo. Esses padres, como Orígenes, Justino e Tertuliano, rejeitavam o recurso às 
filosofias gregas. Importante lembrar que, nessa época, as obras de Platão e Aristóteles 
estavam desaparecidas e o conhecimento que se tinha delas passava pelo prisma dos 
filósofos estoicos e neoplatônicos e, por isso, apresentavam elementos místicos ou 
comportamentos que a Igreja considerava “imorais”. 
 
 
62 
 
3.13 Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino 
 
Fonte: i.ytimg.com 
No entanto, as obras de maior destaque são as de Santo Agostinho, que pertencia 
à Patrística, e as de Santo Tomás de Aquino, que pertencia à Escolástica. A Patrística é 
o nome que se dá ao conjunto das produções intelectuais a respeito da revelação cristã, 
a maior parte delas de autoria de padres que perceberam a necessidade de 
argumentação racional para consolidar os preceitos cristãos entre as autoridades e o 
povo. Santo Agostinho, seu principal expoente, estabelece que a principal diferença entre 
a fé e a razão é que, pela fé, conseguimos compreender coisas inalcançáveis por meio 
da razão. Mas isso não torna fé e razão contraditórias: para o filósofo, a fé revela 
verdades de forma intuitiva, verdades que são confirmadas pelo exercício racional. A 
alma humana só poderia conhecer a verdade das coisas se iluminada por Deus. 
A Escolástica é o nome que se dá à reunião das obras filosófico-teológicas escritas 
a partir do século IX por consequência do projeto de organização do ensino promovido 
por Carlos Magno no século VIII, projeto esse conhecido como “renascença carolíngia”. 
Nas escolas fundadas por Carlos Magno eram ensinadas as seguintes matérias, 
 
63 
 
submetidas à teologia: gramática, retórica e dialética (a reunião das três era conhecida 
como trivium); e geometria, aritmética, astronomia e música (reunião conhecida 
como quatrivium). A cultura Greco-romana passou a ser divulgada e isso permitiu que o 
pensamento aristotélico pudesse ser considerado nas investigações filosóficas da época. 
O período escolástico pode ser dividido em 3 períodos ou fases: 
 
 Primeira fase: do século IX ao século XII – caracterizada pela harmonia entre fé 
e razão; 
 Segunda fase: do século XII ao século XIV – considera-se que harmonia entre 
fé e razão pode ser parcialmente obtida. 
 Terceira fase: do século XIV ao século XVI – caracterizada pela percepção das 
diferenças fundamentais entre fé e razão. 
 
A obra de Santo Tomás de Aquino pertence à segunda fase e pretendia retomar 
os pensamentos de Aristóteles para explicar os pontos principais da fé cristã. Ao fazer 
isso, no entanto, criou um sistema próprio, dentro do qual conseguiu elaborar cinco 
provas racionais da existência de Deus. Por esse motivo foi proclamado Doutor Angélico 
e o Doutor por Excelência pela Igreja Católica. Sua extensa obra foi considerada, 
inclusive, um argumento a favor de sua canonização. A importância dos argumentos de 
Tomás de Aquino, apesar de serem refutados, para a questão da conciliação entre fé e 
razão é que eles negam 1) a possibilidade de se conhecer a Deus sem passar pelo 
mundo sensível, ou seja, por meio de uma experiência direta; e 2) que só se pode 
conhecer a Deus pela fé. A busca científica encontra legitimidade também na filosofia 
tomista, pois, se o Criador deixa suas marcas em tudo o que cria, o interesse pela 
investigação corresponde à necessidade intrínseca ao homem de conhecê-lo. 
 
 
 
 
 
64 
 
3.14 Nietzsche 
Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o cristianismo reforçou uma moral 
dotada de submissão, pecado e culpa. A própria moral, dirá o filósofo, é um instrumento 
para o enfraquecimento dos fortes. Por esse motivo, a tradição ocidental, resultado desse 
processo de enfraquecimento, é tão distinta do Estado Grego que reunia, pelo espírito 
guerreiro de seu povo e de uma religião que não o tentava domesticar, as condições para 
o aparecimento da tragédia, maior expressão artística dos helenos. 
Sobre a religião grega, Nietzsche sublinha no parágrafo 114 de “Humano, 
Demasiado Humano” que os helenos não se referiam aos deuses como se fossem acima 
de si, ou seja, não tinham uma relação de submissão em relação a eles. Os deuses 
serviam como um exemplo do melhor que os humanos poderiam alcançar, um ideal, 
diferente do cristianismo que, em suas palavras “esmagou e alquebrou completamente o 
homem, e o mergulhou como que em um profundo lamaçal”. Um aspecto relevante da 
religião grega era a inexistência de um livro sagrado. As crenças eram difundidas com 
uma visão não dogmática e sem uma autoridade que teria o direito de proteger os 
dogmas. 
 
 
Fonte: http2.mlstatic.com 
 
65 
 
4 PRÉ-SOCRÁTICOS 
 
Fonte: i1.wp.com/cultura.culturamix.com 
No estudo da história da filosofia, os primeiros filósofos são chamados de pré-
socráticos. Apesar de passar a ideia de que existiram antes de Sócrates, o termopré-
socrático indica uma tendência de pensamento, estando relacionado também com 
filósofos que viveram na mesma época de Sócrates e até mesmo depois dele. 
Aquilo que une os filósofos pré-socráticos é a preocupação em perguntar e 
compreender a natureza do mundo (a physis). Queriam entender a origem, aquilo que 
originou todas as coisas, o princípio delas. Os filósofos pré-socráticos são divididos em 
escolas do pensamento: Escola Jônica, Escola Itálica, Escola Eleática, Escola 
Atomística; de acordo com o local e problemas discutidos por seus pensadores. 
A Escola Jônica recebe este nome por se desenvolver na colônia grega Jônia, na 
Ásia Menor, local onde hoje é a Turquia. Seus principais filósofos foram: Tales de Mileto, 
Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso. Pensavam sobre o 
elemento primeiro, chegando a conclusões diferentes. Para Tales, o elemento que forma 
todas as coisas é a Água. Para Anaximandro, o elemento é o Ápeiron, aquilo que é 
 
66 
 
ilimitado e que possibilita a união e separação dos diferentes corpos. Para Anaxímenes, 
o elemento é o Ar. De acordo com Heráclito, o elemento que representa a natureza das 
coisas é o fogo. Apesar das diferenças sobre qual seria o elemento primeiro, os filósofos 
da Escola Jônica pensavam o mundo como algo em movimento, a água que congela e 
evapora, o ápeiron que não pode ser determinado e não é estático, o ar nada palpável e 
o fogo que está sempre em movimento e transformando o que queima. 
A Escola Itálica se desenvolveu no sul da Itália. O filósofo principal desta escola 
foi Pitágoras de Samos. Nascido na ilha de Samos, foi na península itálica, na cidade de 
Crotona, onde ele desenvolveu suas ideias. Pensou serem os números as essências das 
coisas. Suas investigações da física e matemática eram misturadas com misticismo. São 
atribuídos aos discípulos de Pitágoras, os pitagóricos, diversas descobertas 
matemáticas. Foi Pitágoras o responsável pela criação da palavra filosofia (amizade pela 
sabedoria) ao chamar a si mesmo de filósofo (amigo da sabedoria). 
A Escola Eleática se desenvolveu na cidade de Eleia, ao sul da Itália. Seus 
principais filósofos foram Xenófanes de Cólofon, Parmênides de Eleia e Zenão de Eleia. 
Apesar de não ter nascido em Eleia, Xenófanes se estabeleceu na cidade após levar uma 
vida andando de povoado em povoado. A ideia principal ensinada por Xenófanes e 
posteriormente trabalhada por Parmênides é a ideia de Um. Xenófanes pensava no Um 
a partir de um pensamento mais voltado à religião, dizendo que Deus é Um, não foi feito, 
é eterno, perfeito e não se modifica. Em oposição à Escola Jônica, Parmênides pensa 
que o mundo é formado por um Ser-Absoluto, que não foi feito, é eterno, perfeito e não 
se modifica. Contra a ideia de movimento, Zenão desenvolveu argumentações que foram 
e são muito discutidas. Entre elas está a ideia de que uma flecha em voo sempre ocupa 
o seu espaço de flecha, logo a flecha está em repouso e todo movimento é uma ilusão. 
A Escola Atomística, ou atomismo, desenvolveu-se a partir da ideia de que são 
vários os elementos que formam as coisas. A ideia de átomo (a = negação e tomos = 
divisão, ou seja, aquilo que não pode ser dividido) foi desenvolvida por Leucipo de Mileto 
e depois trabalhada por Demócrito de Abdera e Epicuro de Samos. Para Leucipo, o 
mundo é formado a partir do choque aleatório e imprevisível de infinitos átomos. 
 
67 
 
Embora diversos destes filósofos tenham escrito mais sobre outros assuntos do 
que sobre a natureza das coisas, como é o caso de Demócrito, que escreveu sobre ética, 
é o questionar-se sobre a natureza das coisas que os une neste período. 
4.1 Filosofia pré-socráticas 
Como o nome implica, os filósofos pré-socráticos, cuja linhagem inicia em torno do 
século VI a.C. Na Grécia Antiga, são aqueles que surgiram antes do desenvolvimento 
dos trabalhos de Sócrates, mestre de Platão. Estes filósofos não apenas são agrupados 
por uma data, mas por uma linha de desenvolvimento de seu trabalho, esta linha de 
pensamento, ou corrente filosófica, é frequentemente referida como Filosofia Pré-
Socrática. 
De fato, alguns filósofos da corrente pré-socrática são contemporâneos e até 
mesmo posteriores a Sócrates, a divisão se dá na medida em que Sócrates, pelo que 
nos dá a conhecer Platão, alterou o curso da filosofia em uma direção mais voltada para 
a ética e a política. 
Iniciando com Tales de Mileto, a quem Aristóteles considerou o primeiro filósofo, 
os pré-socráticos foram os responsáveis pela primeira empreitada no sentido de afastar 
a explicação da natureza da visão mítica de mundo, aquela que considerava que por traz 
de todos os fenômenos naturais haviam causas sobrenaturais, oriundas dos deuses, 
heróis e outros elementos. O principal objetivo destes filósofos e sua corrente era 
entender o universo e os fenômenos da natureza, a partir dos elementos que a própria 
natureza nos dava a conhecer, eliminando assim a necessidade de recorrer a explicações 
sobrenaturais. 
Por esta razão, considera-se que a filosofia pré-socrática foi a responsável pelo 
surgimento não apenas da filosofia como a conhecemos hoje, mas também das ciências 
naturais, considerando que o trabalho do filósofo era o estudo e observação da natureza. 
Com o foco no cosmos, e muitas vezes buscando explicar a origem do nosso 
universo, estes filósofos entendiam a arche, ou natureza dos objetos, não apenas como 
um princípio, algo anterior, mas como algo que lhes é originador. Diferentes filósofos 
entenderam diferentes elementos como cumprindo este papel, Tales, por exemplo, 
https://www.infoescola.com/historia/grecia-antiga/
https://www.infoescola.com/filosofia/socrates/
https://www.infoescola.com/filosofos/platao/
https://www.infoescola.com/filosofia/tales-de-mileto/
https://www.infoescola.com/filosofia/aristoteles/
 
68 
 
acreditava que tudo se originava da água, enquanto Anaximandrodesenvolveu o conceito 
de ápeiron, o ilimitado e indefinido, como a origem de todos os objetos no mundo. Destes, 
por composição ou dissolução, os objetos do mundo tomariam suas propriedades. 
Posteriormente, o foco da escola mudou do cosmos como um todo para o homem, 
mas ainda com uma abordagem de observação e estudo da natureza e suas leis. 
A maior parte do conhecimento que hoje temos acerca da filosofia pré-socrática é 
derivada dos trabalhos de Platão, Aristóteles e alguns historiadores gregos, estes tiveram 
acesso tanto aos trabalhos publicados dos filósofos desta corrente, quanto aos próprios 
filósofos ou seus discípulos, apenas fragmentos dos trabalhos publicados sobreviveram 
até o nosso tempo. 
Embora não seja um lista exaustiva ou unânime, nesta corrente destacam-se os 
seguintes filósofos e escolas: 
Tales de Mileto, Anaxímenes, Anaximandro e Heráclito, que constituem a 
chamada Escola Jônica, estes filósofos, embora tenham relações de proximidade, 
inclusive como mestre e discípulo, divergiam em muitos aspectos, a ponto de alguns 
estudiosos não os considerarem como membros de uma mesma escola, Aristóteles no 
entanto os classifica como physiologoi, ou "aqueles que discursavam sobre a natureza", 
já que seu principal trabalho era explicar a natureza da matéria. 
Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena, Leucipo e Demócrito de 
Abdera, da Escola da Pluralidade, uma escola de medicina focada nos pontos mais 
prováveis de cada escola. 
Pitágoras, Filolau e Árquitas, constituem a Escola Itálica, embora sejam dos mais 
importantes para o desenvolvimento da matemática grega, manifestavam ao mesmo 
tempo tendências místico-religiosas e científicas. 
Arquelau e Diógenes, da Escola Eclética, que propunha a existência de 
várias arche, para resolver as questões relativas ao movimento. 
Xenófanes, Parmênides de Eleia, Zenão de Eleia e Melisso de Samos, 
considerados parte da Escola Eleática, cujo fundamento era unidade, imutabilidade e 
necessidade doSer. 
 
https://www.infoescola.com/filosofia/anaximandro/
https://www.infoescola.com/filosofia/anaximenes/
https://www.infoescola.com/filosofos/heraclito/
https://www.infoescola.com/biografias/anaxagoras/
https://www.infoescola.com/filosofos/leucipo/
https://www.infoescola.com/filosofos/democrito/
https://www.infoescola.com/filosofos/pitagoras/
https://www.infoescola.com/filosofos/parmenides/
 
69 
 
4.2 Aristóteles 
 
 
Fonte: infoescola.com 
Entre os principais filósofos antigos está Aristóteles (384 - 322 a.C.), nascido na 
cidade de Estagira, na Macedônia, hoje pertencente à Grécia. Seus escritos discorrem 
sobre uma grande variedade de assuntos como biologia, física, lógica, ética, política e 
arte. 
Filho do médico do rei da Macedônia, Amintas III, Aristóteles foi para Atenas para 
prosseguir com seus estudos. Naquela cidade, que era o centro da produção do 
 
70 
 
conhecimento na época, escolheu a escola de Platão para estudar, a Academia. Estudou 
ali cerca de vinte anos e deixou a cidade e a escola após a morte de Platão. 
Poucos anos após deixar Atenas, Aristóteles recebeu um convite do então rei da 
Macedônia, Filipe II, filho de Amintas III. O convite de Filipe II era para que Aristóteles 
fosse preceptor de Alexandre, que ficaria conhecido na história como o Grande. 
Aristóteles foi professor do adolescente Alexandre até este subir ao trono. 
Com a ascensão de seu aluno, Aristóteles deixou a Macedônia e retornou para 
Atenas. Ali fundou sua própria escola, o Liceu. Com a morte de Alexandre, doze anos 
após fundar sua escola, Aristóteles resolveu deixar a cidade, pois era macedônio e temia 
que os atenienses o matassem. Foi para a ilha de Eubeia e faleceu ali dois anos depois. 
Apesar de existirem diversos escritos de Aristóteles, muito do que ele escreveu se 
perdeu. Foi a partir de alguns fragmentos de seus escritos que sua obra foi organizada. 
Foram juntados textos por assunto para compor o corpo de seus escritos. É certo que a 
forma de compreender e juntar seus escritos tem sido debatida por estudiosos. 
Do que restou de seus escritos, podemos encontrar Aristóteles investigando o “ser 
enquanto ser”. Tal investigação sobre o que são e como são as coisas é fundamental 
para poder compreender o mundo. Nesse sentido, a sua metafísica discorre sobre 
princípios que garantam a realidade das coisas, como: o princípio de identidade, da não 
contradição e do terceiro excluído. Além dos princípios, Aristóteles aponta quatro causas 
que fazem as coisas serem o que são: material, formal, eficiente e final. 
 É interessante notar que Aristóteles visa superar Platão, seu mestre. Assim como 
pensa que a essência das coisas está nas próprias coisas, diferente de Platão que pensa 
nas coisas como cópias de ideias perfeitas, Aristóteles pensa de modo diferenciado 
assuntos como ética e política. 
Em ética, Aristóteles discorda da ideia platônica que via as paixões humanas como 
negativas e que precisavam ser controladas pela razão. Para ele, as paixões humanas 
não são nem boas e nem ruins. Ruim é quando as paixões são viciosas, isto é, quando 
estão em excesso ou em falta. Ter raiva de alguém não é ruim, por exemplo, pois ruim é 
aplicar em determinada situação mais raiva do que o necessário ou menos raiva do que 
o necessário. Nesse sentido, Aristóteles pensa que virtude é encontrar uma justa medida 
 
71 
 
entre o excesso e a falta das paixões. Agir corretamente é um treino constante de dosar 
corretamente as paixões. 
No campo político, Aristóteles se preocupou menos com hipóteses de uma 
sociedade ideal e mais com um estudo dos sistemas políticos e leis existentes em sua 
época. Assim, diferente de Platão, que teorizou uma cidade ideal, Aristóteles pensou uma 
sociedade que não fosse nem totalmente democrática e nem totalmente aristocrática: a 
política permitiria que os conflitos entre ricos e pobres pudessem ser amenizados. 
4.3 Jean Jacques Rousseau 
A filosofia de Jean-Jacques Rousseau tem como essência a crença de que o 
Homem é bom naturalmente, embora esteja sempre sob o jugo da vida em sociedade, a 
qual o predispõe à depravação. Para ele o homem e o cidadão são condições paradoxais 
na natureza humana, pois é o reflexo das incoerências que se instauram na relação do 
ser humano com o grupo social, que inevitavelmente o corrompe. 
 
 
Fonte: infoescola.com 
 
https://www.infoescola.com/filosofia/jean-jacques-rousseau/
 
72 
 
Rousseau, um dos principais filósofos do Iluminismo. Pintura de Maurice Quentin 
de La Tour. 
É assim que o Homem, para Rousseau, se transforma em uma criatura má, a qual 
só pensa em prejudicar as outras pessoas. Por esta razão o filósofo idealiza o homem 
em estado selvagem, pois primitivamente ele é generoso. Um dos equívocos cometidos 
pela sociedade é a prática da desigualdade, seja a individual, seja a provocada pelo 
próprio contexto social. Nesta categoria ele engloba desde a presença negativa dos 
ciúmes no relacionamento afetivo, até a instauração da propriedade privada como base 
da vida econômica. 
Mas Rousseau acredita que há um caminho que pode reconduzir o indivíduo a sua 
antiga bondade, o qual é teorizado politicamente em sua obra Contrato Social, e 
pedagogicamente em Emílio, outra publicação essencial deste filósofo. Ele crê que a 
carência de igualdade na personalidade humana é algo que integra sua natureza; já 
a desigualdade social deve ser eliminada, pois priva o Homem do exercício da liberdade, 
substituindo esta prática pela devoção aos aspectos exteriores e às normas de etiqueta. 
Em sua obra Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os 
homens, Rousseau discorre sobre a questão da maldade humana. Para melhor analisar 
esta característica, ele estabelece três etapas evolutivas na jornada do Homem. O 
primeiro estágio refere-se ao homem natural, subjugado pelos instintos e pelas 
sensações, sujeito ao domínio da Natureza; o segundo diz respeito ao homem selvagem, 
já impregnado por confrontos morais e imperfeições; segue-se, então, a condição do 
homem civilizado, marcada por intensos interesses privados, que sufocam sua 
moralidade. 
É neste processo que o indivíduo se converte em um ser egoísta e individualista, 
convertendo sua bondade natural, gradualmente, em maldade. O Homem abre mão de 
sua liberdade e assim se desqualifica enquanto ser humano, pois se vê despojado do 
principal veículo para a realização espiritual. A solução apontada por Rousseau para esta 
situação é enveredar pelos caminhos do autoconhecimento, através do campo emotivo 
da Humanidade. 
Na esfera da educação, exposta no Emílio, ele teoriza filosoficamente sobre o 
Homem. Sua principal inquietação, neste ponto, é saber se educa o indivíduo ou o 
https://www.infoescola.com/filosofia/contrato-social/
https://www.infoescola.com/sociologia/desigualdade-social/
 
73 
 
cidadão, já que, para ele, estas duas facetas não podem conviver no mesmo ser, por 
serem completamente opostas. 
Rousseau defende a formação do homem natural no seu lar, junto aos familiares, 
por constituir um ser integral voltado para si mesmo, que vive de forma absoluta. Já o 
cidadão deve ser educado no circuito público proporcionado pelo Estado, pois é tão 
somente uma parte do todo, e por esta razão engendra uma vida relativa. O aprendizado 
social, segundo o filósofo, não produz nem o homem, nem o cidadão, mas sim um híbrido 
de ambos. Aliar os dois implica investir no saber do ser humano em seu estágio natural 
– por exemplo, a criança –, e o cidadão só terá existência a partir desta condição, a qual 
tem como fonte a Natureza e como fio condutor a trajetória individual. 
4.4 Sofistas 
Conforme nos reporta Platão, a profissão de sofista foi criada por Protágoras, 
discípulo de Demócrito. Sofistas foram um tipo especifico de professor na Grécia antiga e 
no império romano, que deveriam ensinar a arete, termo grego que traduz o conceito de 
"excelência"ou "virtude", aplicado a áreas como música, política, matemática e 
atleticismo. Entre os principais sofistas conhecidos estão Protágoras, Górgias, Pródico, 
Hípias, Trasímaco, Antifonte e Crátilo. 
O termo "sofista" tem sua origem no idioma grego, a partir da palavra "sophistēs", 
derivada de "sophia" e "sophos", significando "sabedoria" e "sábio" respectivamente. O 
termo Sophistēs foi originalmente utilizado por Homero, para descrever alguém 
habilidoso em uma determinada atividade. Com o tempo a palavra passou a designar a 
sabedoria nos assuntos tipicamente humanos, em oposição aos assuntos da natureza, 
até chegar a designar um tipo especifico de profissional, o sofista. 
Embora os sofistas não sejam considerados filósofos pela tradição, sua 
importância se dá na medida em que estão entre os primeiros a desafiar a ideia de que 
a sabedoria seria recebida dos deuses, baseando-se na hipótese de que, assim como 
nas atividades físicas, a prática da virtude, por meio da retórica e da oratória, poderia 
melhorar os estudantes, tornando-os mais sábios e virtuosos. 
https://www.infoescola.com/filosofos/platao/
https://www.infoescola.com/biografias/protagoras/
https://www.infoescola.com/filosofos/democrito/
https://www.infoescola.com/historia/grecia-antiga/
https://www.infoescola.com/historia/imperio-romano/
https://www.infoescola.com/biografias/homero/
 
74 
 
O foco de seus ensinamentos era prático, direcionado a estratégias de 
argumentação e oratória, para que os estudantes atingissem o ápice da excelência em 
suas atividades, independente de quais fossem estas atividades. 
Como os sofistas são conhecidos por meio das criticas de seus oponentes, alguns 
elementos de suas posições são difíceis de se confirmar. Uma das principais criticas aos 
sofistas era a de que sua posição baseava-se apenas em verossimilhança, quando um 
argumento parece verdadeiro, mesmo que não o seja. O objetivo dos sofistas seria, pela 
visão de filósofos como Aristóteles, apenas o de vencer o debate, sem preocupar-se com 
a busca pela verdade. Por esta razão, a expressão "sofisma" existe hoje para identificar 
uma argumentação rebuscada, porém sem fundamentação sólida. 
Como foi o primeiro sofista, a posição relativista atribuída a Protágoras é 
normalmente identificada como a posição geral que iniciou o movimento, que se tornaria 
a profissão de sofista. 
Protágoras é lembrado pela controvérsia acerca de sua afirmação "o homem é a 
medida de todas as coisas", aparentemente manifestando uma forma de relativismo, o 
que era repudiado por filósofos como Platão e Aristóteles, seus maiores críticos. Como 
aconteceu com a maioria dos filósofos pré-socráticos, as citações de Protágoras 
sobreviveram sem o contexto no qual foram apresentadas, o que mantém abertas as 
possibilidades de interpretações diferentes. Uma destas interpretações possíveis para a 
afirmação de Protágoras é a de que o uso da palavra "chremata", significando "coisas 
usadas", ao invés da palavra mais geral "onta", que significaria "entidades", para se referir 
ao que é traduzido como "coisas", indica que Protágoras não falava da realidade objetiva 
do mundo como um todo, mas daquelas coisas especificas dos seres humanos. 
Desta forma entende-se que os sofistas não davam atenção a busca pela 
compreensão da natureza, do universo e da origem dos objetos do mundo, pois 
concentravam seus esforços na demonstração de que seriam capazes de tornar os 
estudantes melhores nas atividades humanas que poderiam auxiliá-los a prosperar na 
sociedade grega. 
Era comum que sofistas viajassem em grupos pelas cidades gregas e romanas, 
para assim poderem realizar elaborados discursos e acalorados debates públicos, 
demonstrando suas habilidades na expectativa de atrair estudantes para suas escolas. 
https://www.infoescola.com/filosofia/aristoteles/
https://www.infoescola.com/filosofia/filosofia-pre-socratica/
 
75 
 
Em particular, nobres, homens de estado e jovens que pudessem pagar pelos estudos. 
Os sofistas foram muito criticados por Platão e Aristóteles por só ensinarem aos que 
podiam pagar pela educação. 
5 FILOSOFIA NO CÍRCULO DE VIENA 
 
Fonte; 2.bp.blogspot.com 
O Círculo de Viena foi um importante movimento intelectual que surgiu em 1920, 
depois da nomeação de Moritz Schlick como Professor de Filosofia da Ciência, e reuniu 
pensadores de diversas áreas do conhecimento. Esses pensadores formularam o 
princípio de verificabilidade e baseavam-se em uma noção de Filosofia estreitamente 
relacionada com a ciência. Vejamos dezessete pontos fundamentais sobre o Círculo de 
Viena: 
1) O Círculo de Viena foi formado na década de 1920 depois da nomeação de 
Moritz Schlick para Professor de Filosofia da Ciência em Viena. 
2) Entre os estudiosos do Círculo de Viena, estavam o físico alemão Moritz 
Schlick(1882-1936), os matemáticos alemães Hans Hahn (1979-1934) e Rudolf 
Carnap(1891-1970) e o sociólogo e economista austríaco Otto Neurath (1882-1945). 
 
76 
 
3) As reflexões desse grupo de estudiosos versavam a respeito da importância da 
lógica, linguagem, matemática e física teórica na construção de teorias científicas. 
4) O Círculo escreveu um manifesto, em 1929, motivado pela discussão promovida 
em um congresso em Praga. O manifesto, redigido por Schlick, Hahn e Neurath, atacava 
a metafísica como ultrapassada. 
5) As pesquisas desenvolvidas pelos pensadores do Círculo de Viena eram 
divulgadas na revista Erkenntnis, fundada em 1930 e dirigida por Carnap e Hans 
Reichenbach. 
6) Os interesses intelectuais do grupo partiam do positivismo de Ernst Mach 
e Auguste Comte, da lógica de Russell, Whitehead, Peano e Frege e de teorias físicas, 
principalmente as de Einstein. A partir da leitura da obra fundamental de Wittgenstein, 
o Tractatus Logico-Phylosophicus, o grupo enveredou pelo desenvolvimento de uma 
lógica incorporada a uma verificação empírica dos fundamentos do conhecimento. 
7) O Círculo de Viena pertencia a um movimento intelectual conhecido 
como neopositivismo, também chamado de positivismo lógico e empirismo lógico. 
Segundo esse movimento, era preciso retomar o ideal clássico e partir da base 
empírica para se construir uma teoria do conhecimento. 
8) O projeto neopositivista do Círculo de Viena encontra-se nas seguintes linhas 
de Schlick em “O fundamento do conhecimento”: 
“As proposições fatuais são, pois, o fundamento de todo saber, mesmo que elas 
precisem ser abandonadas no momento de transição para afirmações gerais. Estas 
proposições estão no início da ciência. O conhecimento começa com a constatação dos 
fatos” (p. 46)¹. 
9) Pela interpretação do trecho acima de Schlick, entendemos que o conhecimento 
parte de proposições fatuais. Em outras palavras, o conhecimento deve partir de uma 
observação dos fatos. Aquilo que não pode ser verificado é considerado desprovido de 
sentido, como a afirmação “A alma é imortal” e outras de ordem metafísica, religiosa e 
estética. Nisso consiste o princípio de verificabilidade. 
10) O positivismo lógico dos pensadores do Círculo de Viena postulava que, para 
uma teoria ser considerada “ciência”, ela deveria ser unificada em linguagem e fatos que 
 
77 
 
a fundamentassem. As proposições científicas, assim, são apenas aquelas que se 
referem à experiência e podem ser verificadas. 
11) O papel da Filosofia seria interpretar as proposições científicas – ou seja, a 
Filosofia deveria ser uma “Filosofia da Ciência”, que, inclinada para a objetividade e 
mediada por uma linguagem provida de sentido, encerraria os debates metafísicos e a 
atenção a proposições não passíveis de verificação. 
12) Isso (a interpretação das proposições científicas) está de acordo com o 
pensamento de Ludwig Wittgenstein em suas Investigações Filosóficas (1975, p. 
112)²: "Qual o seu objetivo em filosofia? - Mostrar à mosca a saída do vidro." 
13) Podemos perceber que, para os pensadores do Círculo de Viena, só é possívelconhecer o sentido de uma proposição se for possível determinar se ela é verdadeira ou 
falsa, e isso só é possível se ela for verificável. Aquelas proposições que não podem ser 
verificadas também não têm significação. É o que diferencia afirmações como “Existe 
petróleo em Marte” e “Depois da morte, as almas evoluídas habitam em Marte”. 
14) Assim como os relatórios protocolares de uma experiência laboratorial, há 
proposições que são feitas a partir da experiência e expressam um fato. A essas 
proposições, os pensadores do Círculo de Viena referiam-se como “proposições de 
base”. 
15) As proposições de base descrevem casos particulares de fenômenos 
observáveis, como enviar uma nave até Marte para investigar se há petróleo. 
16) A partir de um número considerável de proposições de base encadeadas 
logicamente e aplicando o método indutivo, é possível estabelecer uma teoria científica, 
ou seja, uma proposição geral. 
17) A ascensão do nazismo repercutiu na formação do Círculo de Viena: Carnap 
e outros membros mudaram-se para os Estados Unidos; Hahn, Neurath e Schlick 
morreram, esse último assassinado por um aluno. Mesmo com o fim do Círculo em 1939, 
as teorias desses pensadores ainda são discutidas. Entre os pensadores que 
apresentaram contestações às teses do Círculo de Viena, destaca-se Karl Popper. 
 
78 
 
5.1 Início da Filosofia Contemporânea 
 
 
Fonte: cms.lichngaytot.com 
O Círculo de Viena surgiu por uma necessidade de fundamentar a ciência a partir 
das concepções ou acepções que a Filosofia da Ciência ganhou no século XIX. Até então, 
a filosofia era vinculada à Teoria do Conhecimento, mas, a partir de Hegel, este vínculo 
se desfez. 
O Círculo de Viena era composto por cientistas que, apesar de atuarem em várias 
áreas como física, economia, etc., buscaram resolver problemas de fundamento da 
ciência, problemas estes levantados a partir do descontentamento com os neokantianos 
(seguidores de Kant) e os fenomenólogos (seguidores de Hegel). 
Schlick, por exemplo, tentou mostrar o vazio dos enunciados sintéticos a priori, de 
Kant. E por duas vias: 
- Se os enunciados têm uma verdade lógica, então eles são analíticos e não 
sintéticos; 
- Se a verdade dos enunciados depende de um conteúdo factual, eles são, 
portanto, a posteriori e não a priori. 
 
79 
 
Dessa maneira, Schlick (juntamente com seus companheiros) tentou formular um 
critério de cientificidade que pudesse ou que tivesse uma correspondência com a 
Natureza. Por isso, o Círculo de Viena adotou uma forma de empirismo indutivista que 
se utiliza de instrumentos analíticos como a lógica e a matemática para auxiliar na 
formação dos enunciados científicos. 
Tal critério seria, então, o de verificabilidade. Para os pesquisadores do Círculo de 
Viena os enunciados científicos deveriam ter uma comprovação ou verificação baseada 
na observação ou experimentação. Isto era feito indutivamente, ou seja, estabeleciam-se 
enunciados universais (pois a ciência tem pretensão de universalidade) a partir da 
observação de casos particulares. 
O resultado do estabelecimento deste critério surgiu também a partir da concepção 
de linguagem de Wittgestein que os membros do Círculo de Viena utilizaram. Para ele, o 
mundo era composto de “fatos” atômicos associados e, assim, expressariam sua 
realidade. Daí os enunciados gerais poderem ser decompostos em enunciados 
elementares referentes ou congruentes à Natureza, o que exclui os enunciados 
metafísicos do processo de conhecimento. 
Portanto, a indução foi o método utilizado porque, além de proceder 
experimentalmente, proporcionava um caráter de regularidade que permitia que se 
emitissem juízos universais. Isto também atesta o caráter antimetafisico do Círculo de 
Viena, bem como afirma o procedimento de observação. 
6 FILOSOFIA NO BRASIL 
 
 Fonte: filosofiadocotidiano.org 
 
80 
 
Após um primeiro contato com o universo filosófico é inevitável perguntar se existe 
ou existiu algum filósofo brasileiro. Fala-se muito dos pensadores gregos antigos, do eixo 
europeu Alemanha-França-Inglaterra e, recentemente, de pensadores da América do 
Norte, mas há a visão de que nada novo e original é produzido por aqui. 
É certo que a história da filosofia não está finalizada. A todo instante, novas ideias 
surgem e no Brasil não poderia ser diferente. A existência de intelectuais no Brasil não é 
algo recente. Dentre as diversas mentes brasileiras é possível destacar alguns nomes. 
Mário Ferreira dos Santos (1907-1968), paulista, tem uma grande obra publicada 
em mais de cem volumes. Em seu pensamento, formado pela pluralidade de influências, 
destaca-se o que chamou de Filosofia Concreta, em um livro com o mesmo nome. Para 
ele, é preciso superar a abstração filosófica que resultou da fragmentação do 
conhecimento. Após a análise dos diversos pedaços do conhecimento, como 
matemática, ética, política, economia, ciência, metafísica, existência, etc. era preciso 
reunir este conhecimento num conjunto. Assim, é preciso através do método dialético 
concreto observar os objetos de perto e depois se afastar para chegar a uma ideia do 
todo concreto. 
Miguel Reale (1910-2006), paulista, inovou o pensamento acerca da Filosofia do 
Direito com a Teoria tridimensional do direito. Após séculos de discussões no campo do 
Direito, com argumentos retóricos e pouca profundidade na discussão, a obra de Reale 
delimita a discussão e apresenta uma nova forma de pensar. Para ele, é preciso pensar 
o direito a partir de três dimensões: a do fato, a do valor e a da norma. Com isso, o fato 
visa pensar a partir do aspecto histórico e social, o valor se relaciona com o que se 
pretende defender e a norma é o que faz a relação entre fato e valor. 
Plano organizacional define todas as estratégias para o desenvolvimento de 
programas de EAD. Para construir um plano organizacional, precisa-se de estar em 
sintonia com o seguinte diagrama da equipe transdisciplinar: Henrique Cláudio de Lima 
Vaz (1921-2002), padre mineiro, pensou sobre questões humanistas. Influenciado por 
Tomás de Aquino (1225-1274) e Hegel (1770-1831), Lima Vaz pensa a antropologia 
moderna como uma síntese da visão cosmocêntrica grega e teocêntrica medieval, isto é, 
deixa-se de pensar a partir da ideia de que o universo (kósmos) é o centro, como também 
 
81 
 
Deus (theos) deixa de ser o centro, para um novo momento de colocar o homem 
(anthropos) no centro, pensar o mundo a partir do homem. 
Gerd Bornheim (1929-2002), gaúcho, foi um dos que ajudaram na introdução e 
disseminação da filosofia de Martin Heidegger (1889-1976) no Brasil. Escreveu sobre 
diversos temas e entre eles acerca do que é filosofar, defendendo que filosofar é algo 
que pertence ao interior do sujeito e não a estar presente em determinado meio ou 
cultura. Sobre uma “filosofia à brasileira”, era crítico com relação à ideia de uma filosofia 
nacional. 
No livro A filosofia contemporânea no Brasil (1997), de Antônio Joaquim Severino, 
outros nomes recebem destaque como: Fernando de Arruda Campos (1930-atual), José 
Arthur Giannotti (1930-atual), Rubem Alves (1933-atual), Sérgio Paulo Rouanet (1934-
atual) e Hilton Ferreira Japiassu (1934-atual). 
Outros nomes da filosofia brasileira podem ser lembrados, como: Marilena Chauí 
(1941-atual), Roberto Romano, Olavo de Carvalho (1947-atual) e Paulo Ghiraldelli Jr. 
(1957-atual). 
A filosofia conheceu certa popularização no Brasil, pois canais de televisão 
veicularam programas de filosofia, como o quadro Ser ou Não Ser, com Viviane Mosé, 
no Fantástico, da Rede Globo. O canal GNT manteve a filósofa Márcia Tiburi (1970-atual) 
por cinco anos em seu programa Saia Justa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
82 
 
6.1 História da Filosofia no Brasil 
 
 
Fonte: universoracionalista.org 
A Filosofia no Brasil não é um assunto muito falado forados círculos acadêmicos 
(e muitas vezes nem dentro). Quando se fala em Filosofia se lembra 
de Sócrates, Kant, Nietzsche e Sartre, mas nunca de nenhum filósofo brasileiro. Não 
creio que isso se dê por conta de algum preconceito ou por que filósofos Brasileiros não 
possuem trabalhos relevantes. Acho, sim, que o que acontece é que a Filosofia sempre 
foi predominantemente europeia e, salvo exemplo dos EUA, raros foram os países do 
Ocidente que tiveram Filósofos que ficaram para a posteridade. Isso não significa que os 
filósofos brasileiros ou a história da Filosofia no Brasil seja desprezada; o que acontece 
é que, quando se fala de Filosofia, existem inúmeros Filósofos, e é preciso estabelecer 
prioridades, ou seria impossível ensinar e aprender Filosofia. 
Eu não posso me considerar um nacionalista; acho que reconhecimento deve ser 
dado a quem merece, sem distinção geográfica. Não fico perdendo tempo para analisar 
se um pensador é francês, alemão, americano, português ou brasileiro, se não para 
efeitos didáticos. Mas acredito que escrever, ainda que um pouco, sobre a trajetória da 
 
83 
 
Filosofia no país é um bom serviço para aqueles que se interessam por Filosofia, por 
História ou simplesmente são curiosos a respeito do Brasil. Então achei que seria uma 
boa ideia discorrer um pouco sobre isso, até por que estudar Filosofia é sempre, de certa 
forma estudar história: E estudar a história da Filosofia no Brasil abre caminho para 
muitas percepções que nos permitem entender os rumos que país tomou, da época do 
descobrimento até os dias de hoje (e até por que não se fala tanto em Filosofia no Brasil). 
Antes de mais nada, eu preciso deixar bem claro que não sou profundo 
conhecedor da história da Filosofia no Brasil e de seus pensadores, e minha pesquisa 
sobre o assunto foi relativamente superficial. No entanto, creio que para efeitos de 
conhecimento geral, o que estará nesta matéria poderá servir pelo menos para despertar 
o interesse ou saciar a curiosidade. Ao fim desta série de matérias vocês encontrarão as 
referências e sugestões de leitura se quiserem se aprofundar no assunto. 
7 FILOSOFIA POLÍTICA 
 
 
Fonte: conceitos.com 
Entre as diversas questões que a filosofia visa investigar, pode-se perguntar sobre 
como é e como deveria ser o convívio em sociedade. Se for investigada a palavra política, 
que vem do grego, será compreendido que politika refere-se aos assuntos da cidade 
(pólis). É neste sentido que, em filosofia política, pergunta-se sobre a natureza das leis, 
a natureza do governo, a origem da organização social e sobre qual seria a melhor forma 
 
84 
 
de convívio entre os indivíduos. Todos estes temas nos levam a pensar sobre o espaço 
público, que é o espaço da política. 
O primeiro filósofo a sistematizar uma ideia política foi Platão (428-7 – 348-7 a.C.). 
Ele escreveu sobre o assunto principalmente em dois livros, A república e As leis. Nestes 
livros, apresenta a ideia de que uma sociedade bem ordenada é aquela onde cada 
indivíduo desempenha a função na qual é mais habilidoso. Os hábeis com as mãos 
deveriam ser artesãos, os fortes devem proteger a cidade e os sábios devem governá-la. 
Platão pensa também sobre como deve ser a educação nesta cidade ideal, para 
conseguir desenvolver em cada criança o seu potencial a fim de que possa executar 
melhor a sua função. Cada indivíduo, para ele, será livre enquanto estiver cumprindo as 
leis, criadas com o intuito de melhor conduzir a cidade. 
Ainda no mundo grego, Aristóteles (384 – 322 a.C.) vai discordar de Platão. 
Em Política, Aristóteles pensa que a cidade ideal de Platão, onde há prioridade daquilo 
que é público sobre aquilo que é privado, não funcionaria muito bem. Para ele, as 
pessoas dão mais valor ao que pertence a si mesmo, do que ao que pertence a todos. 
Aristóteles se preocupou menos com hipóteses de uma sociedade perfeita e mais em 
compreender a realidade política de seu tempo, estudando as leis de diferentes cidades 
e as formas de governo existentes. A melhor forma de organização política, defendida 
por ele, é um sistema misto de democracia e aristocracia, chamado política, para evitar 
os conflitos de interesses entre os ricos e pobres. É dele também a ideia de que o homem 
é um animal político, isto é, que faz parte da natureza humana se organizar politicamente. 
A ideia de que é natural se organizar politicamente perdurou até o séc. XVII. 
Thomas Hobbes (1588 – 1679), conhecido por ter escrito Leviatã, propôs a ideia de que 
a sociedade se organiza a partir de um contrato social. Pensou assim, pois é possível 
imaginar uma hipótese sobre o convívio humano antes da formação das sociedades. 
Hobbes via esse momento como uma guerra de todos contra todos, onde, em liberdade, 
cada indivíduo iria apenas pensar em sua conservação. Deste momento, no qual o 
homem é o lobo do homem, a racionalidade faz o homem perceber que a melhor forma 
de conservar a sua vida é perdendo um pouco de liberdade. É neste instante que os 
homens assinam um contrato fictício de convívio social. A partir desta origem da 
sociedade, Hobbes pensa no melhor governo para evitar o retorno para um estado de 
 
85 
 
natureza caótico. Com isto, vê a garantia da vida como função vital do Estado, que deve 
defendê-la mesmo que use de seu poder para coagir a liberdade dos cidadãos. 
Pensando na ideia de um contrato social, John Locke (1632 – 1704), em seus dois 
tratados políticos, escreveu que antes da formação das sociedades os indivíduos não 
viviam em guerra, pois estavam debaixo de leis naturais. Para ele, é natural a garantia 
da vida e os homens racionais respeitariam esta lei. A formação das sociedades ocorre 
pela necessidade da garantia da propriedade. O melhor governo, para Locke, é aquele 
que garanta os direitos à vida, liberdade, propriedade e de se revoltar contra governos 
injustos e leis injustas. 
Ainda pensando sobre a noção de contrato, Jean-Jacques Rousseau (1712 – 
1778) via o homem vivendo antes da formação das sociedades de forma bem otimista. 
Para Rousseau, havia terra e alimento para todos e não haveria motivos para que 
guerreassem entre si. Via no surgimento da propriedade o surgimento da desigualdade, 
de onde resultam diversos males sociais, como os roubos e os assassinatos. Neste 
sentido, sendo impossível retornar a um estado de natureza, o melhor governo é aquele 
que esteja de acordo com a vontade da maioria. 
A forma de pensar dos contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau) foi retomada 
no século XX por John Rawls (1921 – 2002). Para ele, a sociedade deve basear-se em 
princípios de justiça escolhidos na fundação da sociedade. Em igualdade, ele pensa, os 
indivíduos escolheriam dois princípios de justiça, o de liberdades iguais para todos e o 
de que as desigualdades devem trazer maior benefício para os menos favorecidos e 
serem acessíveis a todos por igualdade de oportunidade. 
 
 
 
 
 
86 
 
8 NÃO SE ENSINA FILOSIFA, MAS A FILOSOFAR 
 
Fonte: cidadaocultura.com.br 
A afirmativa de Kant “Não se ensina Filosofia, mas a filosofar”, enseja uma série 
de questionamentos acerca do ensino de filosofia. A assertiva coloca uma questão 
importante, ou seja, se não se ensina filosofia, mas a filosofar, como se ensina a filosofar? 
Nesse sentido, há um ponto de partida importante que, por analogia, pode conduzir o 
raciocínio a partir da ideia de que em educação só se aprende “fazendo”. O ato de 
aprender está vinculado ao ato de fazer, ou seja, de inserir os conteúdos teóricos nas 
práticas em torno do objeto que se deseja conhecer. O raciocínio pode ser transportado 
analogicamente para o ensino de filosofia para concluir, pelo menos provisoriamente, de 
que se ensina a filosofia “filosofando”, daí poder-se inferir, por extensão de raciocínio, 
que “não se ensina a filosofia, mas a filosofar”. 
O problema que se apresenta, a princípio, é o fato de que a filosofia não se definepor um objeto e método próprios como na ciência. A ideia de que a filosofia abarca 
conhecimentos difusos e que também se ressente de um método próprio faz que alguns 
pensem que o filosofar não é seguro. A ideia difusa do conhecimento filosófico faz surgir 
um outro questionamento: em que consiste, então, essa ação que o filosofar aponta? O 
que deve caracterizar o filosofar? 
 
87 
 
A ação que o filosofar aponta é a exigência de um método na forma de um 
exercício, além de uma atitude que deve ser filosófica LUCKESI (1992). A atitude 
filosófica requer o afastamento de diversos preconceitos, entre eles, aquele que leva as 
pessoas a pensarem que o filosofar é inútil, difícil e complicado, como se fosse tarefa 
para gente ultra-especializada. No entanto, a atitude filosófica requer uma postura 
diferenciada, mesmo diante da constatação do alto grau de saber de alguns filósofos, 
deve-se entender que o filosofar não está fechado somente aos filósofos consagrados ou 
com formação acadêmica relevante. 
A filosofia não se restringe ao campo limitado da ciência, embora possa ser uma 
reflexão sobre a ciência. A filosofia é um corpo de entendimentos que compreende e dá 
significado ao mundo e à existência. Nesse sentido, importa saber como é que se 
constitui a filosofia, como é que se constrói esse corpo de entendimentos, que se pode 
assumir criticamente como aquele que se quer para o direcionamento da própria 
experiência e das questões fundamentais que envolver o ser, os valores, a realidade e 
as práticas. 
O exercício do filosofar proposto por LUCKESI (1992), no capítulo denominado “o 
exercício do filosofar”, demanda a execução de três passos didaticamente sequenciais, 
num processo dialético. O primeiro passo do filosofar é inventariar valores que explicam 
e orientam a própria vida e a vida da sociedade, e que dimensionam as finalidades da 
prática humana. Deve-se, portanto, perguntar quais são os valores que dão sentido e 
orientam à vida familiar; se se está analisando a família, quais valores compreendem e 
orientam a vida econômica, se se estiver questionando a economia; quais valores 
compreendem e orientam a educação, se se estiver questionando a educação, ou seja, 
se esta for o objeto de estudos e assim por diante. O objetivo de questionamentos dessa 
natureza é levar o sujeito a tomar consciência das ações, do lugar para onde se está e 
da direção que toma a vida. Direção que nasce tanto da consciência popular como da 
sedimentação do pensamento filosófico e político que se formulou e se divulgou na 
sociedade com o passar do tempo. 
O segundo passo do filosofar é o momento da crítica. Depois de realizado o 
inventário de valores é preciso submetê-los à crítica, questioná-los por todos os ângulos 
 
88 
 
possíveis para verificar se são significativos, e se compõem o sentido que se quer dar à 
existência. 
O terceiro passo do filosofar é o memento da construção crítica de valores que 
sejam significativos para compreender e orientar as vidas individuais e dentro da 
sociedade como guia da ação na direção mais correta. 
Destarte, LUCKESI (1992), sintetiza três passos do filosofar: (i) inventariar os 
valores vigentes; (ii) criticá-los; (iii) reconstrui-los. É um processo dialético que vai de uma 
determinada posição para a sua superação teórico-prática. 
Na medida em que se está inventariando os valores vigentes, está-se, ao mesmo 
tempo, criticando-os e reconstruindo-os. Os momentos descritos como passos do 
filosofar são apropriados para uma exposição didática, contudo esses momentos não são 
seccionados, pois um nasce dentro do outro. 
O exercício do filosofar exige, pois, inventariar conceitos e valores; estudar e 
criticar valores; estudar e reconstruir conceitos e valores, e para que isso ocorra, é preciso 
olhar não só o dia-a-dia, mas ler e estudar o que disseram os outros pensadores, os 
outros filósofos. Eles poderão auxiliar para que se atinja níveis superiores de 
entendimento, enfim, outras categorias de compreensão. 
O exercício do filosofar pode ser o fio condutor para que se aprenda filosofia, sem, 
contudo, que a filosofia seja propriamente ensinada. A sua apreensão deverá decorrer 
mais de uma relação que tenha no aluno o ponto de partida dos questionamentos infinitos 
que a filosofia proporciona, mediado pelo professor, auxiliado pelos pensadores, suas 
ideias, enfim pelas principais correntes de pensamento de um passado distante no 
tempo, mas próximo na história. Eles têm uma contribuição a oferecer. É o auxílio no 
trabalho de construir o entendimento filosófico do mundo e da ação. 
A consciência do professor determina que, precipuamente, sua tarefa é ensinar 
filosofia, essa é a meta, no entanto, didaticamente, a filosofia deverá ser utilizada como 
meio no exercício do filosofar, para, então, de forma oblíqua e indireta o professor realize 
os fins do seu labor: ensinar filosofia, por mais paradoxal que seja essa assertiva em face 
da expressão kantiana, sob análise. 
A frase de Kant “Não se ensina filosofia, mas a filosofar” inserida nos processos 
de aprendizagem revela uma verdade da filosofia como corpo de entendimentos, mas se 
 
89 
 
distancia de uma verdade absoluta nos confins da terminalidade genérica, que exige 
apreensão de conteúdos expressos nas ideias filosóficas e nas principais correntes de 
pensamento, e permita ao aluno, ao final, dizer que aprendeu filosofia. 
 
8.1 O pensamento crítico 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
Pensamento crítico, no sentido de ter vontade de aprender e de saber o que está 
acontecendo, um alerta em que a nossa vontade esteja pulsante, o desejo de tornar as 
coisas fáceis de serem entendidas e de entendê-las, de não ficar dúvidas, no máximo 
ficarem questões que não temos respostas, porque era necessário por enquanto apenas 
perguntar. Sabemos que a nossa vida já mudou pra melhor em muitos aspectos. Imagina; 
 
90 
 
hoje voamos, tomamos banho quente, carregamos fogo e luz (isqueiro, caixa de fósforos, 
lanterna) no bolso. 
Hoje em dia temos textos sobre milhares de assuntos em nossa disposição via 
internet. Acessamos com um celular todo esse conteúdo. Temos também violão a um 
preço razoavelmente barato, temos, sim, em programas (softwares) de produção e 
arranjo musical, uma orquestra inteira nas mãos, detalhes últimos esses, sabidos por 
quem gosta de fazer música. Afinal, temos até hoje a filosofia. E será que sabemos que 
a vida também se tornou pior em outros aspectos. Bem, ficou pior ou melhor? Uma ótima 
pergunta, creio, mas não pretendo respondê-la. Fica para o próximo ensaio. 
O que pretendo indagar o título. E não prometo que concretizarei meu objetivo de 
indagação, mas tentarei. Essa pulsação de vontade que citei acima, que se encontra em 
meu pensamento em forma de desejo. Filosofia para mim é estudar o que pensadores 
através da literatura falaram. É ler a produção literária de escritores que procuraram 
entender como funciona o nosso corpo para entender como aprendemos, como 
conhecemos as coisas. Como eles e elas chamaram nossa atenção para a observação 
do mundo, a observação do nosso comportamento e atitudes. 
Filosofia pra mim é o registro de toda essa observação. A observação da 
observação. Opa, a observação da observação? Opa de novo. Estou percebendo que 
quanto mais tento definir o que é filosofia, amplio o que foi pensado por agentes que 
denominamos filósofos, e entramos num campo sem fronteira, de elementos que 
pertencem a dois conjuntos ao mesmo tempo (filosofia e filosofar). Filosofar é se 
intrometer nesse assunto do que é a filosofia e do que foi pensado em seu nome, do 
assunto filosófico, das coisas que se encontram nela, dessa produção toda que 
encontramos através de textos. Filosofar é assumir essa vontade pulsante em nosso 
pensamento, essa vontade ‘louca’ de decifrarmos o mundo e a nós mesmos. Será que é 
isso, mesmo? Estou cheio de perguntas. Perguntas, insisto,que podem ou não 
ser respondidas. 
 Estética, teoria do conhecimento, ciência política, linguagem, lógica, metafísica, 
antropologia. Meu deus, quanta coisa. Filosofar é pulsar (parece com a vontade que citei 
lá em cima deste texto). Filosofia é saber que podemos pulsar. Será? Filosofar é esse 
desejo de entender e trazer para o foco de nossa atenção. Filosofar cada um tem seu 
 
91 
 
jeito, estou achando. Mas precisamos da filosofia e ela precisa da gente pra 
referenciarmos nosso mar de questões. 
É bem possível que questões que levantamos atualmente tenham sido levantadas 
anteriormente. Vamos tentar responder e comparar as respostas? E se não 
conseguirmos responder, então vamos procurar na filosofia, pois isso também é filosofar. 
Que felicidade tê-la em minha companhia. Quanta gente que a levou adiante, Hegel, 
Marx, Sócrates, Platão, Nietzche, Russerl, Rousseau, Wittgenstein, Kant, Demócrito, 
Heráclito, Frege, Heidgger, Schopenhauer. Opa, novamente. Esqueci gente. Mas não 
esqueci da questão principal, na escola não se ensina filosofia, mas a filosofar. Tanto não 
esqueci que até falei o que penso sobre. Que desejo! Essa vontade me tomou de maneira 
que só descansei quando percebi que estava quase no fim da segunda lauda. E com 
mais rigor, percebi que o título é uma afirmação, mas, leitores, de quem será tal 
proposição? Kant. A resposta é essa. 
Segundo Édison Martinho da Silva Difante, Kant questionou o ensino da filosofia, 
chegando à conclusão do filosofar através da razão. Para Kant não é possível ensinar 
filosofia sem pensar em desenvolver no aluno o ato de filosofar. De certa maneira vejo 
nele, neste momento a intersecção que cito. Filosofia e filosofar fazem parte do mesmo 
conjunto, estão diretamente ligados pelo conjunto filosófico de se posicionar diante do 
mundo. Tomando pra mim, concordo com Kant nesse sentido, e o alerta que citei no início 
do texto, se aproxima da razão que Kant diz, mas dando ênfase para a vontade, onde 
Schopenhauer diz ser, ela, respectivamente precedente da razão. 
 
 
 
92 
 
9 BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia, Gregav.1. Petrópolis: Vozes, 2004. 
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóte-
les. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 
NIETZSCHE, Friedrich. Os pré-socráticos. Em: Para ler os fragmentos dos pré-socráti-
cos. Tales de Mileto. [Trad. R. R. Torres Filho]. São Paulo: Nova Cultural, 2000. 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
ADORNO, Theodor & HORK HEIMER, Max. Dialética do esclarecimento. Rio de Ja-
neiro: Jorge Zahar,1984. 
ARISTÓTELES. Política. Tradução de Mário da Gama Kury. Brasília: UnB, 1997. 
CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem: Introdução a uma filosofia da cultura hu-
mana. São Paulo, Martins Fontes,2001. 
GIOVANNI Reale, ANTISERI Dario: História da Filosofia. Vol1. São Paulo: Paulus, 
1990. 
VAZ, Henrique C. Lima. Antropologia Filosófica. Vol. I. Rio de Janeiro: Loyola, 1991