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Com base na leitura do capítulo "Trabalho e vida econômica" (GIDDENS, 2012), problematizem e dissertem sobre os possíveis efeitos do emprego e do desemprego

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Thiago Mattos

 1282 Fronteiras e fronteiriços Karoline Batista Gonçalves y Roberto Mauro da Silva Fernandes. Organizadores Editado por la Fundación Universitaria Andaluza Inca Garcilaso para eumed.net Derechos de autor protegidos. Solo se permite la impresión y copia de este texto para uso personal y/o académico. Este libro puede obtenerse gratis solamente desde Cualquier otra copia de este texto en Internet es ilegal. 1

2 KAROLINE BATISTA GONÇALVES ROBERTO MAURO DA SILVA FERNANDES (Organizadores) FRONTEIRAS E FRONTEIRIÇOS Ana Cristina Yamashita Bianchi Agostini Gobbo Cirlani Terenciani Everton Luís de Souza Júnior Jones Dari Goettert Juliana Grasiéli Bueno Mota Juliana Tosati Nogueira Marcos Mondardo Karoline Gonçalves Batista Ucleber Gomes Costa Vivianne dos Santos Cavalcanti Eumed.net

3 ORGANIZADORES KAROLINE BATISTA GONÇALVES Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) Dourados/MS Graduada em Relações Internacionais pelas Faculdades Anhanguera Unidade de Dourados/MS ROBERTO MAURO DA SILVA FERNANDES Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) Dourados/MS Graduado em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Campus do Pantanal Corumbá/MS Eumed.net

4 RESUMO O objetivo deste livro foi discutir os diversos significados da fronteira. Para que as reflexões pudessem ser realizadas e a fronteira pudesse ser debatida, professores e alunos do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados UFGD (Brasil), dando sentido e razão a esta obra, elaboraram uma série de artigos cujos diálogos abordam fenômenos fronteiriços, sejam eles ocorridos na fronteira, entendida como lugar, local, zona, área que separa países (ou mesmo o Estado, em sua acepção jurídica e/ou social) ou àqueles que integram o aspecto epistemológico, que transitam entre os limites estabelecidos. Deste modo, o livro está divido em três partes, na primeira, denominada nas fronteiras, os autores abordam temas que versam sobre situações de fronteira, a respeito dos territórios que a fronteira consegue constituir e que perpassam o aspecto material, os discursos que formam sentimentos de pertencimento (nacionalidade) e sobre os movimentos fronteiriços, sejam de pessoas e/ou ideias. No segundo capítulo, sobre fronteiras, o conhecimento científico, as formas de pensamento e as ideologias que estabelecem percepções, cerceamentos e até mesmo encontros desiguais serão analisadas. Logo, a Filosofia, a Ciência, a Arte, os instrumentos utilizados pelo conhecimento e o neoliberalismo dominam a pauta dos assuntos que envolvem esta seção. Tendo em vista que a proposta é discutir questões circunscritas à fronteira e à respeito da fronteira, no terceiro capítulo, intitulado fronteiriços, as análises são sobre as práticas (simploriamente dizendo) do sujeito fronteiriço e dos desdobramentos que ensejam para o território. Para que os fenômenos discutidos fossem compreendidos, os autores realizaram um amplo levantamento bibliográfico, no campo da Geografia, da Literatura, da Filosofia, das Artes, da História, etc., como também, os diálogos estabelecidos foram construídos a partir de um intenso processo empírico, que consistiu em trabalhos de campo. Palavras-chaves: Fronteiras; Fenômenos Fronteiriços; Território; Migrações. 4

5 ABSTRACT The aim of this book is to discuss the various meanings of the border. For the reflections could be held and the border could be debated, teachers and students of the Graduate Program in Geography, Federal University of Grande Dourados - UFGD (Brazil), giving meaning and reason to this work, prepared a series of articles whose dialogues addressing border phenomena, whether they occurred at the border, understood as a place, location, zone, area that separates countries (or even the state, in the legal sense and / or social) or those that integrate the epistemological aspect, transiting between limits. Thus, the book is divided into three parts, the first, called "border", the authors address issues that deal with "border situations", about the territories that border can be and that permeate the material aspect, about discourses that form feelings of belonging (nationality) and on the border movements, whether of people and / or ideas. In the second chapter, "borders on" scientific knowledge, ways of thinking and ideologies that lay perceptions, fenced off and even unequal encounters will be analyzed. Soon, Philosophy, Science, Art, instruments used by knowledge and neoliberalism dominate the agenda of matters involving this section. Given that the proposal is to discuss issues confined to the border and the border, in the third chapter, entitled "border", analyzes the practices are (simplistically saying) border of the subject and the developments that lead to the territory. For the phenomena discussed were understood, the authors conducted a comprehensive literature review in the field of Geography, Literature, Philosophy, Arts, History, etc.., But also established the dialogues were constructed from an intense process empirical, which consisted of fieldwork. Keywords: Border; Border Phenomena; Territory; Migration. 5

6 SUMÁRIO Apresentação Roberto Mauro da Silva Fernandes... 6 Parte 1 Nas Fronteiras NARRATIVAS DE FRONTEIRA: GENTES E LUGARES EM MULTIPLICIDADE Jones Dari Goettert... 9 AS FRONTEIRAS DO TERRITÓRIO: ENTRE O CONFRONTO E O DEVIR DE NOVAS TERRITORIALIDADES EM DOURADOS/MS Marcos Mondardo CONSTRUINDO BRASILIDADES O DESAFIO DE OLHAR, ENTENDER E PERCEBER O SERTÃO E AS FRONTEIRAS PARA DENTRO Ana Cristina Yamashita A MIGRAÇÃO DE BRASILEIROS PARA O PARAGUAI E SEUS DESDOBRAMENTOS: O CASO DA COLÔNIA NUEVA ESPERANZA EM YBY YAÚ/ CONCEPCIÓN Karoline Batista Gonçalves Parte 2 Sobre Fronteiras ENTRE AS FRONTEIRAS DO PENSAMENTO: ENSAIO SOBRE O PENSAMENTO E A NATUREZA A PARTIR DE DELEUZE, GUATARRI E NIETZSCHE Bianchi Agostini Gobbo PERSPECTIVAS DIVERSAS SOBRE A FRONTEIRA: DA PARTILHA DOS ESTADOS-NAÇÕES S PARTILHA DA CIÊNCIA Vivianne dos Santos Cavalcanti AS FRONTEIRAS DO HUMANO. IMAGEM E REFLEXO NO SISTEMA-MUNDO MODERNO COLONIAL Everton Luís de Souza Júnior Parte 3 Fronteiriços CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS TERRITÓRIOS, FRONTEIRAS E IDENTIDADES NAS RELAÇÕES ENTRE OS DE DENTRO E OS DE FORA NA/DA RESERVA INDÍGENA DE DOURADOS Juliana Grasiéli Bueno Mota IDENTIDADES EM TRÂNSITO: BRASILEIROS E PARAGUAIOS NA FRONTEIRA ENTRE PONTA PORÃ (BR) E PEDRO JUAN CABALLERO (PY) Cirlani Terenciani FECULARIAS: INDUSTRIALIZAÇÃO E RELAÇÕES DE PRODUÇÃO NO SUL E SUDESTE/MS Ucleber Gomes Costa FRONTEIRIÇOS: CAMINHOS E LUTAS PARA A PERMANÊNCIA NA TERRA Juliana Tosati Nogueira

7 Apresentação Este livro é resultado do esforço intelectual de docentes, discentes e exdiscentes do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), que se dispuseram a se debruçar sobre temas que envolvem fenômenos fronteiriços. Dessa forma, essa coletânea que ora apresentamos é um esforço coletivo, teórico e empírico, que tem como objetivo discutir as representações, as essências, os discursos, os olhares, os símbolos, as interações espaciais, as porosidades e as maleabilidades da fronteira e de seus diversos significados. Sendo assim, os trabalhos aqui reunidos versam sobre os contatos materiais e imateriais que o ser humano é capaz de construir e reconstruir, seja por meio das suas análises, seus discursos e ações. De imediato, a nossa preocupação era garantir uma multiplicidade de reflexões que não estivessem presas à fronteira somente como zona internacional que separa países, mas nas suas diferentes acepções e escalas. Logo, iniciando as discussões, Jones Dari Goettert, partindo de três narrativas de fronteira, nos apresenta o entendimento de que toda realidade fronteiriça é produzida como situação de relações específicas. A preocupação primeira do artigo é demonstrar que as situações de fronteira devem ser compreendidas através de seus múltiplos movimentos, já que as situações de fronteira tanto são definidas pelas relações da díade da qual fazem parte como pelas relações construídas pelas especificidades de cada configuração socioespacial de fronteira. Ao discutir a produção do território e suas territorialidades, Marcos Mondardo, analisa o município de Dourados/MS como um território de fronteiras, seja pelo fato de estar localizado na Faixa de Fronteira (conceito entabulado pelo artigo 20º da constituição brasileira), seja pela condição de fronteira agrícola, assim como, por se constituir como território (fronteira) que produz relações entre sujeitos com identidades distintas. Ana Cristina Yamashita reflete acerca do processo de consolidação da cidade de Brasília e da Região da Grande Dourados como espaços de representação do poder, a partir do contexto da mudança da capital do Brasil e da marcha para o oeste, conjuntura que está vinculada aos discursos geopolíticos relacionados à segurança nacional, a unificação do país e que justificaram a criação de novas áreas em território brasileiro e, sobretudo, que ensejaram políticas que estavam circunscritas ao controle das fronteiras nacionais. Trata-se então de um debate sobre a formação da fronteira e do surgimento de um imaginário de brasilidade. A contribuição de Karoline Batista Gonçalves está relacionada às suas preocupações e atenções aos movimentos migratórios de brasileiros para a Colônia Nueva Esperanza localizada em Yby Yaú (Paraguai), no Departamento de Concepción, brasileiros que ao cruzarem a fronteira Brasil/Paraguai e se estabelecerem na mencionada colônia, construíram novas afirmações e/ou negações identitárias. Iniciando a segunda parte do livro, ao discutir as fronteiras entre as diversas formas de pensamento, Bianchi Agostini Gobbo, recorrendo a Deleuze, Guatarri e Nietzsche, demonstra-nos como a Filosofia, a Ciência e a Arte podem contribuir para que os professores de Geografia problematizem conteúdos próprios, procurando ir para além do livro didático como fonte de dados e de conceitos. Para Gobbo, professores e alunos devem aprender na escola, e saber mobilizar as supracitadas áreas do pensamento no ensino da Geografia ajuda os alunos a perceberem que não estão separados da natureza, e que o pensamento não é pura abstração, mas é, antes de tudo, a forma como sentimos o mundo. 7

8 Vivianne dos Santos Cavalcanti, em sua discussão, analisa de que forma o conhecimento científico estabeleceu fronteiras ao longo do seu processo de desenvolvimento e consolidação, proporcionando uma série de rupturas as demais práticas e conhecimentos. Fronteiras que podem ser visualizados como instrumentos utilizados pelo conhecimento para apartar de si o que considera estranho e inferior, afirma a autora. A propósito das questões relacionadas ao neoliberalismo, Everton Luís de Souza Júnior em seu trabalho considera que as práticas neoliberais institucionalizaram discursos que vendem um mundo sem fronteiras, interconectando ideologicamente o local e o global, entretanto, o mundo sem fronteiras reatualizou o encontro de colonizador e colonizado, ensejando novos debates sobre a colonialidade do poder, sendo assim, de acordo com suas palavras, o neoliberalismo aumentou as divergências e disparidades sociais, propiciando o encontro dos desiguais. Iniciamos a terceira e a última parte desta coletânea com o artigo de Juliana Grasiéli Bueno Mota que com a necessidade de compreender os territórios, as fronteiras e as identidades, considera para tal análise a Reserva Indígena de Dourados/MS. A partir das relações entre indígenas e também não indígenas, a autora, traça os jogos de identidades existentes na reserva, sobretudo, em relação aos Guarani, Kaiowa e Terena em suas múltiplas territorialidades. Cirlani Terenciani apresenta-nos uma discussão acerca das práticas culturais e identitárias nas cidades de Ponta Porã/MS e Pedro Juan Caballero (Departamento de Amambay), cidades-gêmeas que se localizam na Zona de Fronteira Brasil/Paraguai. Dessa forma, recorrendo às palavras da autora, o principal objetivo do trabalho é discorrer sobre as diversas concepções de fronteira que permeiam o contato entre brasileiros e paraguaios numa área de fronteira internacional. Ucleber Gomes Costa investiga as características do espaço geográfico produzido pela e para a atividade produtiva da mandioca em alguns municípios (localizados na linha de fronteira Brasil/Paraguai) na porção Sudeste e extremo-sul do estado de Mato Grosso do Sul. Logo, procura demonstrar as relações produtivas desenvolvidas entre agricultores e fecularias, assim como, apresenta os impactos gerados pela ação das usinas de cana-de-açúcar, principalmente, naqueles municípios que vem recebendo unidades fabris. Conjuntura que aumenta o preço da terra e, conseqüentemente, da renda da terra. Buscando apontar as características da fronteira Brasil/Paraguai, de igual modo identificar o homem/mulher fronteiriço do ponto de vista social, cultural e econômico, Juliana Tosati Nogueira realiza um estudo de caso com famílias de ex-brasiguaios que residem no Assentamento Itamarati I. Ao analisar os relatos das famílias pesquisadas, Nogueira verificou que: sofreram dupla expulsão, sendo uma nacional (expulsão do Brasil) e outra internacional (expulsão do Paraguai). Assim, trata-se de um estudo que revela a ambigüidade vivida na fronteira. Dessa forma, esperamos que as contribuições aqui reunidas sirvam ao objetivo de provocar novas reflexões e instigar outras pesquisas, já que a pretensão de agrupar esses temas deu-se no sentido de persistir com os diálogos que envolvem a fronteira, independente de como vamos interpretá-la. E por fim, agradecemos a cada um dos autores pelos debates proporcionados, ao se dedicarem a este volume deramlhe sentido e razão. Roberto Mauro da Silva Fernandes 8

9 Parte 1 Nas Fronteiras 9

10 NARRATIVAS DE FRONTEIRA: GENTES E LUGARES EM MULTIPLICIDADE Jones Dari Goettert Curso de Geografia Programa de Pós-Graduação em Geografia Programa de Pós-Graduação em Antropologia Universidade Federal da Grande Dourados CNPq; FUNDECT Resumo Partindo de três narrativas de fronteira, construímos o entendimento de que toda realidade de fronteira é produzida como situação de relações específicas. Da ideia de díade construída por Michel Foucher, esboçamos à de situação de fronteira como aquela construída por contextos fronteiriços próprios, redefinindo suas próprias realidades, seus próprios sistemas simbólicos e seus próprios imaginários. Das fronteiras do escritor Tabajara Ruas, dos laranjas, sacoleiros e balconistas de produtos do Paraguai, e das relações da migração camponesa brasileiro-gaúcha para a Argentina, a fronteira (pluralizada) assume uma multiplicidade em movimento sempre aberto, capaz tanto de reprodução das imposições de fora como de transgressões e de conexões ainda não construídas ali, como em todas as situações de fronteira, junto ao mapa que divide está o mapa da vida de la gente. Palavras-chave: Fronteiras; Narrativas; Situações de fronteira. Abstract Starting with three narratives border, build the understanding that all "reality" of the border is produced as "situation" of specific relationships. The idea of "dyad" built by Michel Foucher, the outline of "frontier situation" as the one built by frontier own contexts, redefining their own "realities", their own "systems" their own symbolic and imaginary. The borders of the writer Tabajara Streets, the "oranges", and clerks sacoleiros product "Paraguay", and relationships of Brazilian peasant migration to Argentina, gaucho, the border (plural) assumes a multiplicity moving always open, capable both playback of the charges off as transgressions and connections not yet built - here, as in all situations of border, next to the map is a map that divides the life of her people. Keywords: Frontiers; Narratives, "boundary situations". 1 Condições de fronteira A condição de fronteira é sempre aquela da dicotomia ser e não ser. Ser daqui e não ser de lá, ser de lá e não ser daqui. Mesmo que essa dicotomia seja suplantada por uma pretensa identidade fronteiriça ou identidade de fronteira, as nacionalidades emolduram com tanta força os sujeitos e seus lugares que o vai-e-vem é inevitável. Identidades, instituições culturas, línguas, jogos, encontros, comunidades, pertencimentos e outras e outros (de fronteiras), cedem espaço, em última instância, à condição hegemônica exercida pelas identidades, instituições, culturas, línguas, jogos, encontros, comunidades, pertencimentos e outras e outros, nacionais. No entanto, parece haver sempre brechas entre os arranjos institucionais internacionais que tentam, em todo lugar e a todo tempo, impor-se como absolutos. Como 10

11 qualquer instituição (a ideia de fronteira como instituição é apontado por Michel Foucher, 1991; 2009), a fronteira é tanto materialidade/imaterialidade vazada em relações as mais diversas, como o espelho que, se anseia pelo reflexo claro e translúcido de formas, cores e sons, cai em sua própria armadilha ao constatar que o direito aqui é o esquerdo lá, e vice versa. Por isso, nesses jogos de espelhos que marcam as fronteiras, as formas, cores e sons das inter-nacionalidades oficiais e oficialescas são borrados e rasurados por relações ao rés do chão. Relações como daquelas que fantasiam o mundo das crianças que ainda tem pouco clara a divisão entre país daqui e país de lá; de músicas ou de programas que tocam nas rádios ou nos canais de televisão com ondas que trazem a saudade, mas também vozes diferentes para o mesmo personagem (como assistir ao programa Chaves nas imagens vindas do Brasil, mas que na Argentina é El show del Chavo ), dos produtos e das mercadorias que viajam atravessados pelo trabalho duplamente precarizado (em países asiáticos e daquele dos laranjas e sacoleiros no Brasil) ou mesmo pelo trabalho marcado ainda pelo valor de uso mais que pelo valor de troca (como nos produtos de colonos brasileiros que voltam ao Brasil depois de produzidos no nordeste argentino)... Formas, cores, sons e relações de fronteira são as permeadas por condições de fronteira (como qualquer outra relação que é sempre definida por sua especificidade). Isto é, as relações de fronteira são aquelas marcadas pelos eventos de fronteira, o que requer pensar, inversamente, que nem todas as relações que ocorrem em espaço de fronteira (ou zona, região, área de fronteira...) podem ser definidas como tal. O espaço de fronteira tende a desenvolver um conjunto de especificidades que se alojam em determinadas relações, mas nem sempre as relações no espaço de fronteira são atravessadas por essas especificidades. Uma camiseta de futebol dividida ao meio pelas cores e formas dos fardamentos das seleções brasileira e paraguaia, à venda em lojinha de camelô na Linha Internacional, que limita as cidades de Ponta Porã (Mato Grosso do Sul Brasil) e Pedro Juan Caballero (Amambay Paraguai), pode ser definida como um objeto em relação de fronteira. Se esta mesma camiseta estivesse disposta em loja da Rua 25 de Março, na cidade de São Paulo, pouca ou mesmo nenhuma imbricação teria com uma condição de fronteira. O exemplo é apenas ilustrativo mais ajuda a dar conta da necessidade de nossas leituras sobre condições de fronteira não serem reféns de um certo determinismo da fronteira. As condições de fronteira e suas relações se desenvolvem não simplesmente porque estão na ou são da fronteira, mas porque incorporam especificidades que as marcam como sendo de fronteira. Um conjunto dessas relações são analisadas aqui. Em um primeiro momento, percorremos as trilhas deixadas pelo escritor Tabajara Ruas. A partir de um relato de sua relação com a fronteira, o escritor deixa pistas importantes de como a fronteira teve participação profunda em sua infância e juventude, e de como continua marcando sua existência, às vezes mais, às vezes menos, mesmo distante do espaço fronteiriço entre Uruguaiana, Paso de Los Libres e Bella Unión, entre o Brasil, a Argentina e o Uruguai. Em um segundo momento a nossa análise de detém sobre condições e relações de fronteira experienciadas e vividas por laranjas, sacoleiros e balconistas entre o Brasil e o Paraguai, mais especificamente entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este. Mulheres e Homens com mais ou com menos idade dão voz a relações de tensão e conflito que permeiam o trânsito cotidiano de gentes instrumentalizadas para o transporte e venda de mercadorias do Paraguai. E em terceiro momento, analisamos condições e relações de fronteira de localidades na fronteira entre Brasil e Argentina a partir dos eventos narrados por brasileiros migrantes e por argentinos. No nordeste argentino, no extremo leste da Província de Misiones, as relações de gentes com a terra e com a condição de estrangeiridade vão redefinindo desde jeitos de falar a formas de comprar e vender coisas, de um e outro lado da fronteira. De um lado, brasileiras e brasileiros, a maioria 11

12 famílias de pequenos agricultores oriundos do Rio Grande do Sul e com quem ainda estabelecem importantes relações, seja pela proximidade física (divididos unicamente pelo rio Uruguai) ou pela proximidade de pertencimento (familiares e parentes do Brasil visitam e são constantemente visitados pelos moradores agora da vizinha Argentina); e de outro lado, argentinas e argentinos protagonistas de uma condição de recebimento e compartilhando novas relações, marcadas tanto por certo modo de vida camponês como pela situação de fronteira imposta pelo controle e poder das nacionalidades. Dessas três rápidas analises, passamos à construção da proposição de que se toda fronteira pode ser compreendida pela formação de díades ( limites comuns de dois Estados contíguos [FOUCHER, 2009, p. 10]), ela também deve ser pensada como produção de situações de fronteira diversas e múltiplas, não obedecendo, portanto, a um processo de homogeneização territorial-fronteiriça como talvez possa fazer supor os interesses nacionais em jogo. Cada situação de fronteira abarca um conjunto de relações que lhe é própria, construído temporal e espacialmente e por isso marcado pelas especificidades econômicas, sociais, culturais e políticas de cada formação socioespacial fronteiriça. Ao mesmo tempo, devemos considerar que ambos os lados de cada situação de fronteira são em si mesmos diversos, heterogêneos, desiguais e contraditórios, definindo jeitos distintos de sujeitos e coletividades construírem suas relações de fronteira. 2 Cada vez que vejo uma ponte, penso que do outro lado está a Argentina : depoimento de um homem de fronteira 



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Mario Fernando

precisamos analisar com dedicação os problemas sociais

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Simone Santos

Verdade
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