O trecho a seguir foi retirado do livro Lolita, de Vladimir Nabokov. O romance de 1955, que foi censurado em diversos países por sua temática polêm...

O trecho a seguir foi retirado do livro Lolita, de Vladimir Nabokov. O romance de 1955, que foi censurado em diversos países por sua temática polêmica, é narrado por Humbert Humbert, um narrador não confiável (“eu” como testemunha) e conta a história do envolvimento amoroso entre um professor universitário e sua afilhada.

Quero agora expor uma idéia. Entre os limites de idade de nove e catorze anos, virgens há que revelam a certos viajores enfeitiçados, bastante mais velhos que elas, sua verdadeira natureza - que não é humana, mas nínfica (isto é, diabólica). A essas criaturas singulares proponho dar o nome de ‘ninfetas’.

O leitor terá notado que substituo a noção de espaço pela de tempo. (...) Será que todas as meninas entre esses limites de idade são ninfetas? Claro que não. Se assim fosse, nós que conhecemos o mapa do tesouro, que somos os viajantes solitários, os ninfoleptos, teríamos há muito enlouquecido. Tampouco a beleza serve como critério; e a vulgaridade, ou pelo menos aquilo que determinados grupos sociais entendem como tal, não é necessariamente incompatível com certas características misteriosas, a graça preternatural, o charme imponderável, volúvel, insidioso e perturbador que distingue a ninfeta das meninas de sua idade, as quais, incomparavelmente mais sujeitas ao mundo concreto dos fenômenos que se medem com relógios, não têm acesso àquela intangível ilha de tempo mágico onde Lolita brinca com suas companheiras. (...) É necessário ser um artista ou um louco, um indivíduo infinitamente melancólico (...) a fim de discernir de imediato, com base em sinais inefáveis (...) o pequeno e fatal demônio em meio às crianças normais. Elas não a reconhecem como tal, e a própria ninfeta não tem consciência de seu fantástico poder.

Tomando por base sua leitura do trecho, assinale a alternativa correta a respeito do que se pode inferir sobre a motivação deste na referida obra.

a.

A principal motivação a que se pode observar no trecho é composicional dinâmica, pois o trecho serve para elucidar as principais ideias vigentes na cultura socialista da União Soviética.

b.

A principal motivação observada no trecho é estética, justamente porque o pseudônimo do narrador, enquanto professor universitário, tenta criar uma narrativa que mistura linguagem científica e linguagem poética, provocando estranhamento.

c.

São duas as motivações apresentadas neste trecho: a primeira, estética, justifica-se pela busca de um estilo narrativo mais ligado à linguagem científica, com a finalidade de provocar estranhamento; a segunda, composicional falsa, justifica-se porque o narrador, no trecho, tenta desviar da trama por alguns momentos para que o leitor seja apresentado às ideias socialista da União Soviética.

d.

São duas as motivações apresentadas neste trecho: a primeira, estética, justifica-se no uso de termos provenientes da cultura grega em um tipo de literatura muito mais voltado à dissertação de ideias; a segunda, composicional dinâmica, justifica-se no fato de o trecho sintetizar as principais ideias do pseudônimo do narrador enquanto professor universitário.

e.

É possível dizer que a principal motivação deste trecho na obra é composicional funcional, pois sendo o trecho a dissertação de uma proposta/ideia a respeito de um assunto que virá a ser o centro de debate na trama, funciona como tentativa de justificativa por parte do narrador dos atos que ele mesmo irá cometer.