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Leia os excertos abaixo: I. Arnaldo não estava. Mocinha entrou na saleta onde a dona da casa, com um pano contra pó amarrado na cabeça, tomava ca...

Leia os excertos abaixo: I. Arnaldo não estava. Mocinha entrou na saleta onde a dona da casa, com um pano contra pó amarrado na cabeça, tomava café. Um menino louro — decerto aquele que Mocinha deveria vigiar— estava sentado diante de um prato de tomates e cebolas e comia sonolento, enquanto as pernas brancas e sardentas balançavam-se sob a mesa. A alemã encheu-lhe o prato de mingau de aveia, empurrou-lhe na mesa pão torrado com manteiga. As moscas zuniam. Mocinha estava fraca. Se bebesse um pouco de café quente talvez passasse o frio no corpo. A mulher alemã examinava-a de vez em quando em silêncio: não acreditara na história da recomendação da cunhada, embora "de Iá" tudo fosse de se esperar. Mas talvez a velha tivesse ouvido de alguém o endereço, até num bonde, por acaso, isso às vezes acontecia, bastava abrir um jornal e ver que acontecia. É que aquela história não estava nada bem contada, e a velha tinha um ar sabido, nem sequer escondia o sorriso. O melhor seria não deixá-la sozinha na saleta, com o armário cheio de louça nova (LISPECTOR apud COSTA, Flávio Moreira. Os melhores contos da América Latina. São Paulo: Ediouro, 2008, p. 430). II. Já vimos que, por sua própria essência literária, a poesia e a prosa se aparentam numa série de aspectos. Destes (sic), o mais importante é aquele (sic) que caracteriza a própria Literatura: expressão dos conteúdos da ficção, da imaginação, numa palavra, o subjetivismo. Na poesia, como acabamos de ver, o sujeito, o “eu”, volta-se para dentro de si, fazendo-se ao mesmo tempo espetáculo e espectador. A prosa, todavia, inverte completamente essa equação. Com efeito, a prosa é a expressão do “não eu” do objeto. Por outras palavras: o sujeito que pensa e sente está agora dirigido para fora de si próprio, buscando seus núcleos de interesse na realidade exterior, que assim passa a gozar de autonomia em relação ao sujeito (MOISÉS, Massaud. A criação literária. São Paulo: Melhoramentos, 1968, p. 38). Considerando a estrutura do excerto do conto “Viagem à Petrópolis”, de Clarice Lispector, e as reflexões teóricas de Massaud Moisés, assinale a alternativa que define inadequadamente as características do gênero prosa de ficção: a. A prosa é discursiva e, com isso, na maioria das vezes, tenta esclarecer com objetividade desde logo quaisquer insinuações da linguagem; no conto, a trajetória de Mocinha é narrada de maneira objetiva e clara tendo em vista a conclusão do conto. b. A prosa utiliza-se sempre da linguagem denotativa, porque, geralmente, procura ser o mais explícita e objetivamente possível com o intuito de traçar imagens “objetivas” e “concretas” da realidade percebida; observe a descrição objetiva do espaço e das personagens no conto “Viagem à Petrópolis”. c. A prosa é concisa, com significados sugestivos sem esclarecimentos imediatos e completos. Explora metáforas abundantes e subjetivas da realidade, como acontece com o prolongamento da situação vivida entre a personagem Mocinha e a mulher alemã. d. A prosa geralmente se apresenta em fluxo contínuo em contraposição à poesia que é geralmente escrita em versos; no conto citado, o fluxo é perceptível por meio da estrutura dos parágrafos longos e perfaz a mancha da página. e. A prosa associa-se a enunciados simples e diretos, sem adorno de imagens, aproximando-se da linguagem cotidiana e/ou coloquial; note o vocabulário simples que é utilizado para descrever a situação narrada pelas personagens do conto.

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A alternativa que define inadequadamente as características do gênero prosa de ficção é a opção c) A prosa é concisa, com significados sugestivos sem esclarecimentos imediatos e completos. Explora metáforas abundantes e subjetivas da realidade, como acontece com o prolongamento da situação vivida entre a personagem Mocinha e a mulher alemã. Na verdade, a prosa de ficção pode ser tanto concisa quanto expansiva, dependendo do estilo do autor e da proposta do texto. Além disso, nem sempre a prosa utiliza metáforas abundantes e subjetivas, podendo ser objetiva e direta em sua linguagem.

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