Nas discussões sobre temas sociais ligados aos grupos minoritários, um termo bastante utilizado é lugar de fala. O que é lugar de fala? No senso co...

Nas discussões sobre temas sociais ligados aos grupos minoritários, um termo bastante utilizado é lugar de fala. O que é lugar de fala? No senso comum, lugar de fala é percebido com o sentido de desqualificar e afastar pessoas do debate por não fazerem parte do grupo minoritário, indicando, por exemplo, que o racismo só pode ser discutido por negros. Entretanto, é relevante saber que o termo “lugar de fala” é plural e indica que existem diversos pontos de vista de acordo com o grupo de que a pessoa faz parte. Nesse contexto, é importante que qualquer grupo se manifeste, mas tenha consciência do lugar de onde fala. Assim, negros e brancos terão percepções diferentes do racismo, em razão dos lugares de fala diversos, porém ambos podem e devem participar das discussões e têm muito a contribuir. Se somente os negros tivessem lugar de fala na discussão do racismo, haveria uma visão distorcida do próprio significado de racismo, uma vez que ele envolve o sentimento da dignidade da pessoa humana, qualidade presente no ser humano, independentemente de sua etnia. Por isso, não se podem excluir o grupo dominante nem o grupo dominado (discriminado) desse debate nas escolas, nas universidades, nas redes sociais, na mídia, na política, etc. Ademais, “lugar de fala” se refere ao grupo (coletividade), e não a um indivíduo isoladamente. Caso contrário, poderíamos considerar válido o argumento de um indivíduo negro e preconceituoso que expusesse inexistir racismo na sociedade, em razão de seu lugar de fala de negro. Ora, se o racismo foi implantado na sociedade pelas pessoas brancas, com a finalidade de subjugar as pessoas em razão da cor, tornando inferiores aquelas que fossem negras, então essas pessoas brancas têm um lugar de fala muito relevante no contexto da desconstrução do conceito e da estrutura do racismo na sociedade. A ideia do decolonialismo é rever ou revisitar teses e verdades para uma nova compreensão do mundo, com base em outras nuances e outras realidades, sob diversos olhares ou pontos de vista, sem excluir nem mesmo o ponto de vista dos colonizados. Assim, o decolonialismo não representa uma aversão ou repulsa ao colonialismo, mas sim, e tão somente, a abertura para diferentes visões de mundo, além do colonialismo, sob a perspectiva de outros povos não colonizadores.