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No que diz respeito às diversas formas de violências, a população negra também representa o segmento mais atingido, em todos os níveis. De acordo c...

No que diz respeito às diversas formas de violências, a população negra também representa o segmento mais atingido, em todos os níveis. De acordo com o Atlas da Violência, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2018, a população negra está no principal índice das pessoas que possuem maiores chances de serem vítimas de homicídios. Tal documento afirma que “em um período de uma década, entre 2006 e 2016, a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1%. No mesmo período, a taxa entre os não negros teve uma redução de 6,8%”. (IPEA, 2018, p. 40). Em números estatísticos, os/as negros/as e negros/as correspondem a 78,9% dos/as pertencentes ao grupo dos/as 10% com mais chances de serem vítimas fatais. De acordo com os dados, os/as negros/as possuem 23,5% maiores chances de serem assassinados em relação a pessoas não negras. “De cada 100 pessoas que sofrem homicídio no Brasil, 71 são negras. Jovens e negros do sexo masculino continuam sendo assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra.” (IPEA, 2017, p. 30). Este documento ainda aponta que os jovens negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no país, cuja média nacional aponta para o crescimento em 34,7% entre a população negra. A cruel e violenta realidade que acomete os corpos negros em nosso país, nos explicita esses dados. Um fato ocorrido recentemente, em agosto de 2019, que causou grande repercussão, foi o do jovem negro de 17 anos que vive em situação de rua, que foi amordaçado, chicoteado com fios elétricos e ameaçado de morte pelos seguranças, após ser acusado de roubar quatro barras de chocolate no supermercado Ricoy, na zona sul de São Paulo40. Também nesse mesmo mês de agosto, 6 jovens – sem nenhuma ligação com o crime, vale destacar – foram mortos no Rio de Janeiro em menos de 80 horas. Dyogo Costa Xavier de Brito, de 16 anos; Gabriel Pereira Alves, de 18; Lucas Monteiro dos Santos Costa, de 21; Tiago Freitas, também de 21; Henrico de Jesus Viegas de Menezes Júnior, de 19 e também Margareth Teixeira, de 17 anos41. Em fevereiro de 2019, Pedro Gonzaga de 19 anos, que segundo familiares possuía transtornos mentais, foi morto por asfixia e estrangulamento, também pelos seguranças do supermercado Extra, na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro42. Esses trágicos acontecimentos, dentre inúmeros outros, evidenciam o quão racista, genocida e antinegro é o Estado Brasileiro. Trata-se de um projeto de extermínio da população negra, em especial jovens negros da periferia. Essa realidade evidencia que o projeto de dominação colonial, infelizmente não dominou apenas os corpos negros, mas também nossas mentes. Esse projeto operou uma verdadeira colonização cognitiva e das subjetividades (QUIJANO, 2005). Essa colonização, expressa-se nos processos de naturalização dessas situações de barbárie vivenciada pela população negra. Naturalização essa, que é decorrente do ideário racista de inferiorização racial e que, historicamente, serviu para esvaziar o/a negro/a de sua humanidade, concebendo-o/a como coisa. Além disso, a construção da sua imagem fora associada ao/à vagabundo/a, ao/à preguiçoso/a, ao/à mal, ao/à perigoso/a, logo, a presença do/a negro/a se torna motivo de medo. Por isso, precisa ser eliminado/a. Quando o objeto do medo é tratado moralmente, torna-se sinônimo do “mal”. Ao mesmo tempo em que a moral serve ideologicamente para dar identidade ao objeto do medo ela passa a justificar uma inversão na moralidade do sujeito: na luta contra o “mal” toda moral é suspensa, tudo é válido: o “mal” acaba justificando o próprio “mal”: a morte, a tortura, a eliminação do outro. (BARROCO, 2011, p. 210, grifos nossos). Portanto, como observado por Moura (1983), para construção de uma práxis social coerente, é fundamental compreendermos que os quase quatrocentos anos de escravidão no Brasil foram determinantes para formação do ethos do nosso país e que ainda a ideologia escravista traz resquícios no tempo presente, cinicamente falseada pela famigerada perspectiva da democracia racial. Ainda na continuidade dessas reflexões, não podemos esquecer dos assassinatos criminosos de inúmeras Cláudias, Amarildos e DGs. Assassinatos que ainda aguardam desfecho. Depois de mais de um ano do assassinato de Marielle Franco, ainda nos perguntamos: quem mandou matar Marielle? Há também a execução do músico Evaldo Rosa que foi assassinado pelo exército com 80 tiros!

Essa pergunta também está no material:

Tales Willyan Fornazier Moreira
182 pág.

Pedagogia Universidade do Estado do Rio de JaneiroUniversidade do Estado do Rio de Janeiro

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