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O termo Fenomenologia vem de duas palavras gregas: PHAINOMENON e LOGOS. Phainomenon ou fenômeno significa aquilo que se mostra por si mesmo; logos ...

O termo Fenomenologia vem de duas palavras gregas: PHAINOMENON e LOGOS. Phainomenon ou fenômeno significa aquilo que se mostra por si mesmo; logos significa discurso, ―pois é como discurso que o logos se constitui a revelação de um sentido de ser e do existir humano. É o logos enquanto discurso que permite algo ser visto (fainesthai), a partir do seu próprio ser‖ (SANTOS, 1997, p. 28). Critelli (1996) faz a seguinte recomendação a respeito do conceito de Fenomenologia: A fenomenologia não pode ser compreendida por nós como uma ―escola filosófica‖ entre outras, mas como um pensamento provocado pelo descompasso de uma civilização, pelo seu esgotamento, pelo esvaziamento, pela nadificação do sentido em que ser nela se fazia possível e solicitante. É o sentido de se ser no mundo, como homens cuidando concreta e expressamente de habitar o mundo e interagindo com os outros homens, o que provoca o pensar fenomenológico [...] compreendendo de antemão que todo saber a seu respeito nunca é senão relativo e provisório (CRITELLI, 1996, p.23). A Fenomenologia, como corrente filosófica fundada por Edmund Husserl39, surgiu inicialmente como filosofia da consciência fundamentada na lógica e na matemática (HUSSERL, 2000). Como filosofia da consciência, essa trajetória se desenvolve sob a orientação de percebermos, por um lado, o objeto a ser estudado, e por outro, a metodologia a ser pretendida (PAISANA, 1992). Husserl (2000, p. 22) caracteriza a fenomenologia como uma ―doutrina universal das essências‖ que se integra à ciência da essência do conhecimento. O autor esclarece a própria noção de fenômeno (Erscheinung) que a seu ver ultrapassa as concepções de seu tempo, considerando que o fenômeno ―não é todo o objeto de uma experiência possível, mas sim o aparecer do próprio objeto, [...] da própria vivência intencional em que o objeto aparece‖ (PAISANA, 1992, p.42). Com isso, a Fenomenologia instaura a angústia da não precisão metodológica: ―enquanto a metafísica fala de forma lógica do ser, a fenomenologia fala dos modos infindáveis de se ser‖ (CRITELLI, 1996, p.15). Sua preocupação não é dizer em que sentido há sentido, e sim nos fazer perceber que sempre existe mais sentido além de tudo aquilo que podemos dizer (REZENDE, 1990). Por meio do olhar de Husserl, a Fenomenologia ―designa um método e uma atitude intelectual: a atitude intelectual especificamente filosófica, o método especificamente filosófico‖ (HUSSERL, 2000, p.46). Essa trajetória metodológica, segundo Santos (2006), posteriormente foi apresentando faces específicas como método de apreensão da realidade com outros autores, como Martin Heidegger (Hermenêutica Fenomenológica), Paul Ricoeur (Fenomenologia Hermenêutica), Maurice Merleau-Ponty (Fenomenologia da Percepção), Gadamer (Hermenêutica Filosófica), os quais nos fazem constatar que, enquanto método filosófico, a Fenomenologia é possível de ser aplicada às Ciências Humanas, configurando-se como opção a ser utilizada pelos investigadores contemporâneos. Podemos assim afirmar que a Fenomenologia possui movimentos simultâneos de apreensão do real que nos auxiliam a percorrê-la como trajetória metodológica desta pesquisa, possibilitando-nos desvelar, revelar, testemunhar e veracizar (CRITELLI, 1996) como os surdos estão utilizando o português escrito como segunda língua nas redes sociais da web. Para isso, foi necessário situar o fenômeno que desejamos conhecer, ‗colocando-o entre parênteses‘, para que assim pudesse ser desvelado em sua essência, buscando ―exclusivamente aquilo que se mostra, analisando o fenômeno na sua estrutura e nas suas conexões intrínsecas‖ (MARTINS, 1992, p.56) que, no caso do objeto desta pesquisa, escrita do português como L2, está recortado pela possibilidade de compreensão do pesquisador, a partir das percepções expressas pela escrita dos surdos nas redes sociais. Como trajetória metodológica, a Fenomenologia registra três momentos que não se constituem etapas delimitadas: a descrição, a redução fenomenológica ou epoché e a compreensão/interpretação. A descrição fenomenológica é o primeiro momento da trajetória da pesquisa, que consiste em enumerar os aspectos indispensáveis à revelação do fenômeno. Para que esse momento ocorra, é necessário que haja a percepção, a consciência do corps propre40 e o sujeito. A percepção se manifesta como um elemento fundamental do processo reflexivo; a consciência do corps propre é a descoberta da subjetividade e da intersubjetividade, o que possibilita, segundo Ricoeur (1989), o rompimento da relação dicotômica sujeito-objeto; o sujeito é o elemento capaz de experienciar o corpo vivido através da consciência, com capacidade de dialogar com os outros e com o mundo41. O segundo momento da trajetória é a redução fenomenológica ou epoché. Esse momento consiste na mudança de atitude, ou seja, determinar, selecionar quais as partes da descrição dos sujeitos que são essenciais para a pesquisa (MARTINS, 1992). Neste segundo momento, é importante que o pesquisador deixe de lado quaisquer conceitos pré-concebidos e juízos de valor a respeito do que deseja investigar. A redução fenomenológica ou epoché pensada por Husserl (2000) coloca entre parênteses o fenômeno investigado, procurando isolar o objeto da consciência e reduzir a realidade exterior. O pesquisador se volta para a experiência vivida num investigar cuidadoso, sempre interrogando e procurando ver além das aparências, ver o que é essencial para o fenômeno (PAISANA, 1992), num movimento de afastamento/aproximação em relação ao fenômeno, utilizando a ‗variação imaginativa‘, técnica de pesquisa que consiste em ―refletir sobre as partes da experiência que nos parecem possuir significados cognitivos, afetivos e conativos e, sistematicamente, imaginar cada parte como estando presente ou ausente na experiência‖ (MARTINS, 1992, p.60). Nesse movimento de afastamento/aproximação, o pesquisador procura selecionar as partes da descrição dos sujeitos que são consideradas essenciais para desvelamento do fenômeno, deslocando o olhar do mundo natural para o sentido do mundo (RICOEUR, 1989). Essas partes são denominadas Unidades de Significado e são entendidas como discriminações espontaneamente percebidas nas descrições dos sujeitos quando o pesquisador assume uma atitude psicológica e a certeza de que o texto é um exemplo do fenômeno pesquisado. [...] As unidades de significado também não estão prontas no texto. Existem somente em relação à atitude, disposição e perspectiva do pesquisador (MARTINS; BICUDO, 1989, p.99). Inicia-se, nesse momento, a análise ideográfica, que consiste na identificação das Unidades de Significado, por meio da redução fenomenológica ou epoché, e na convergência das descrições dos sujeitos da pesquisa para a construção das ―noções primeiras ou categorias sem as quais seria impossível dar à ação o seu sentido de ação‖ (RICOEUR, 1989, p.11). A compreensão fenomenológica é o terceiro momento da trajetória e se constitui em uma tentativa de especificar o significado ―como uma forma de investigação da experiência‖ (MARTINS, 1992, p.60). Esse momento só se torna possível quando o pesquisador se apropria do conjunto das proposições significativas para ele, fruto da redução fen

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ManuelaViana
152 pág.

Português Colegio Militar 2 De JulhoColegio Militar 2 De Julho

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Qual é a recomendação de Critelli sobre o conceito de Fenomenologia? A recomendação de Critelli sobre o conceito de Fenomenologia é que ela não pode ser compreendida como uma "escola filosófica" entre outras, mas como um pensamento provocado pelo descompasso de uma civilização, pelo seu esgotamento, pelo esvaziamento, pela nadificação do sentido em que ser nela se fazia possível e solicitante. É o sentido de se ser no mundo, como homens cuidando concreta e expressamente de habitar o mundo e interagindo com os outros homens, o que provoca o pensar fenomenológico.

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