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Frequentemente, o cenário econômico é visto como um dos principais fatores determinantes do trabalho infantil. A condição de pobreza e a baixa rend...

Frequentemente, o cenário econômico é visto como um dos principais fatores determinantes do trabalho infantil. A condição de pobreza e a baixa renda familiar são um dos apelos para o trabalho infantil, pois a busca pela sobrevivência demandaria a colaboração de todos os integrantes da família (CUSTÓDIO; VERONESE, 2009, p. 77). Entretanto, frise-se que não se pode reduzir o trabalho infantil ao argumento da complementação da renda familiar. Além da baixa renda familiar, as condições de desigualdade social instigam o uso do trabalho infantil doméstico. Isso ajuda a entender por que, no Brasil, o uso do trabalho infantil é maior do que em relação a outros países da América Latina. Mesmo que as condições econômicas desses países sejam bem mais precárias que as condições do Brasil, a desigualdade social explica o porquê do maior uso de mão de obra infantil (CUSTÓDIO, VERONESE, 2009, p. 78). Um grande obstáculo que favorece o trabalho infantil é a sua valoração positiva em contextos de pobreza e de risco social advindos da situação econômica e social vivida. Ressalte-se que é a família que ampara a criança, não o contrário. Na hipossuficiência da família, o papel caberá ao Estado. Esse tipo de raciocínio implica a perpetuação da pobreza e a conduta discriminatória com crianças e adolescentes provenientes de famílias com baixo poder aquisitivo (MELO; MARTINS, 2016, p. 47). Um papel delegado à família e, subsidiariamente, ao Estado e à sociedade, jamais deveria ser imposto a uma criança ou adolescente, sendo esta uma lógica inversa extremamente perversa. O conceito de trabalho decente foi formalizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1999, e condiz com a missão histórica de propiciar a homens e mulheres um trabalho produtivo e de qualidade − em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana −, sendo considerado condição fundamental para a superação da pobreza, a redução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável. Brito Filho (2016, p. 56) conceitua o trabalho decente como sendo o conjunto mínimo de direitos que devem ser garantidos ao trabalhador, entre eles, o direito ao trabalho, à liberdade de trabalho, à igualdade no trabalho, ao trabalho com condições justas e que conservem a sua saúde e segurança, à proibição do trabalho infantil, à liberdade sindical e à proteção contra os riscos sociais. Negar qualquer desses direitos é, portanto, ferir a dignidade humana. Nessa conjuntura, as condições de emprego dos pais têm o condão de esclarecer o motivo da utilização do trabalho infantil doméstico. Quando se consubstancia a precariedade nas relações de trabalho, o emprego da mão de obra infantil sobe, muitas vezes com o escopo de manutenção do padrão econômico da família ou mesmo como uma forma de renda complementar (CUSTÓDIO; VERONESE, 2009, p. 78). À vista disso, pode-se afirmar que o desemprego exerce influência sobre o trabalho infantil doméstico, na medida em que o trabalho precário surge como alternativa de sustento. Um dos maiores desafios no enfrentamento do trabalho infantil é a questão cultural. O trabalho do filho de uma criança pobre é naturalmente aceito, enquanto nas classes média e alta a importância dos estudos é ressaltada e o jovem só é direcionado ao mercado de trabalho após a conclusão do ensino superior e, em muitos casos, frise-se, após concluir a pós-graduação, mestrado e doutorado (MELO; MARTINS, 2016, p. 47). É frequente a propagação de um suposto caráter educativo do trabalho infantil, como se este fosse um valor ético e moral. Contudo, a verdade é que a infância é tempo de formação física e psicológica, de brincar e de aprender (MELO; MARTINS, 2016, p. 47). Repise-se: o trabalho infantil interrompe a frequência na escola e traz prejuízos à formação física, psíquica e profissional. Outra barreira é o pensamento do suposto benefício do trabalho desde cedo para se garantir experiência para uma futura profissão. Entretanto, a realidade é que a criança e o adolescente perdem a oportunidade de estudar, de se profissionalizar e entrar no mercado de trabalho com uma sólida qualificação no momento adequado. Ao término de sua análise sobre o trabalho infantil e o trabalho decente, Brito Filho (2016, p. 145) pontua que o direito é enunciado de forma negativa, pois o respeito aos Direitos Humanos é a proibição do trabalho às crianças e adolescentes, que devem preencher seu tempo com o necessário ao seu desenvolvimento, estando o trabalho fora dessas atividades. Em outras palavras: o direito ao não trabalho é garantido para esse segmento. O trabalho infantil é, por sua própria natureza, impossível de ser conciliado com a noção de trabalho decente por seu viés precário, ilegal, indigno, violador dos direitos de crianças e adolescentes a brincar, ler, estudar e se desenvolver em seu tempo apropriado. Um dos maiores desafios no enfrentamento do trabalho infantil é a questão cultural. O trabalho do filho de uma criança pobre é naturalmente aceito, enquanto nas classes média e alta a importância dos estudos é ressaltada e o jovem só é direcionado ao mercado de trabalho após a conclusão do ensino superior e, em muitos casos, frise-se, após concluir a pós-graduação, mestrado e doutorado (MELO; MARTINS, 2016, p. 47). É frequente a propagação de um suposto caráter educativo do trabalho infantil, como se este fosse um valor ético e moral. Contudo, a verdade é que a infância é tempo de formação física e psicológica, de brincar e de aprender (MELO; MARTINS, 2016, p. 47). Repise-se: o trabalho infantil interrompe a frequência na escola e traz prejuízos à formação física, psíquica e profissional. Outra barreira é o pensamento do suposto benefício do trabalho desde cedo para se garantir experiência para uma futura profissão. Entretanto, a realidade é que a criança e o adolescente perdem a oportunidade de estudar, de se profissionalizar e entrar no mercado de trabalho com uma sólida qualificação no momento adequado. Ao término de sua análise sobre o trabalho infantil e o trabalho decente, Brito Filho (2016, p. 145) pontua que o direito é enunciado de forma negativa, pois o respeito aos Direitos Humanos é a proibição do trabalho às crianças e adolescentes, que devem preencher seu tempo com o necessário ao seu desenvolvimento, estando o trabalho fora dessas atividades. Em outras palavras: o direito ao não trabalho é garantido para esse segmento. O trabalho infantil é, por sua própria natureza, impossível de ser conciliado com a noção de trabalho decente por seu viés precário, ilegal, indigno, violador dos direitos de crianças e adolescentes a brincar, ler, estudar e se desenvolver em seu tempo apropriado. Quando se trata do contexto brasileiro, é na década de 80 que fica constituído o marco de afirmação dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes, com a inserção, na Constituição Federal de 1988, dos princípios da Teoria da Proteção Integral (CUSTÓDIO; VERONESE, 2009, p. 73). O art. 227 estabelece: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à prof

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E-book - Trabalho Infantil e Pandemia (2)
390 pág.

Metodologia de Pesquisa I Humanas / SociaisHumanas / Sociais

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