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em certas circunstâncias. Uma lei dos meados do século XIV, transcrita no Livro de leis e posturas (p. 380), bem como os artigos das concordatas do...

em certas circunstâncias. Uma lei dos meados do século XIV, transcrita no Livro de leis e posturas (p. 380), bem como os artigos das concordatas dos MODERNIDADE, PRÉ-MODERNIDADE, PÓS-MODERNIDADE. A PRÉ-MODERNIDADE JURÍDICA 147 tits. 1 a 7 do Liv. II das Ord. Af. são significativos da política real de restri- ção da jurisdição da Igreja. As Ord. Fil., II, I fazem uma listagem extensa destes casos (cf. doc. em J. Gilissen, Introdução..., doc. 10, p. 157). Os prin- cípios gerais na matéria são os seguintes. Quanto à sujeição (ou não) ao direito temporal: completa isenção nas matérias puramente espirituais e eclesiásticas, submissão nas temporais. Quanto ao foro competente: isen- ção completa nas matérias temporais, mesmo nas patrimoniais e penais. As exceções, neste último plano, são as constantes do citado texto das Ord. Fil. (II, 1). É só no século XIX que a Igreja perde o principal da sua jurisdi- ção: os privilégios de foro são abolidos pela Const. 1822, art.º 9º e pela Carta Const., art.º 145º, §§ 15 e 16; os casos mixti fori são abolidos pelo art.º 177º do decº 24, de 16/3/1832 e, depois, pela Reforma Judiciária, parte II, art.º 70º. Bibliografia: Baptista Fragoso, Regimen reipublicae christianae, Colonia Allo- brogum, 1737, pt. I, 1. II, d. IV; Gabriel Pereira de Castro. Tractatus…, cit.; Pascoal de Melo Freire, Institutiones iuris civilis lusitani, Conimbricae, 1818, I, tit. V (maxime, §§ 14 e 15); Alves de Sá, O catholicismo e as nações catholi- cas – das liberdades da Igreja portuguesa, Coimbra, 1881; Bernardino Joaquim da Silva Carneiro, Elementos de direito eclesiástico…, cit. Quanto às relações entre o direito civil e o direito canónico, matéria abundantemente tratada pela historiografia, v., por último, Guilherme Braga da Cruz, “O direito subsidiário na história do direito português”, Rev. port. hist. 14 (1973); António Manuel Hespanha, História das instituições. Épocas Medieval e Moderna, Lisboa, 1982; Portugal moderno. Político e institucional, Lisboa, Universidade Aberta, 1994 (= António Manuel Hespanha, O direito dos letrados, Florianópolis, Fundação Boiteux, 2006); Nuno Espinosa Gomes da Silva, História do direito português, cit.; Martim de Albuquerque e Ruy de Albuquerque, História do direito português, Lisboa 1984/5; Nogueira, 1990, 1994. Sobre as relações entre direito temporal e direito canónico depois do Concílio de Trento, v. Manuel de Almeida e Sousa (Lobão), Notas […] a Melo, ed. util. Lisboa, 1865, I, 132; Marcelo Caetano, “Receção e execu- ção dos decretos do Concílio de Trento em Portugal”, Rev. Fac. Dir. Lisboa, 19 (1965). As principais fontes do direito eclesiástico estão reunidas nas citadas obras de Pereira de Castro e de Silva Carneiro e ainda em Joaquim dos Santos Abranches, Bullae et breviae pro Lusitaniae..., Ulissipone, 1856, 2 tom.; Fontes do direito ecclesiastico portuguez. Summa do bullario portuguez, Coimbra, 1895; António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, “Nova chronologia das constituições diocesanas portuguesas até hoje impressas”, O Instituto, 58 (1911) 491-505; Avelino de Jesus Costa e Maria Alegria Fernandes, Bulá- rio português: Inocêncio III: 1198-1216, Coimbra, INIC, 1989. Sobre a cano- nística portuguesa medieval, António Garcia y Garcia, Estudios sobre la canonística portuguesa medieval, Madrid, Fundación Universitaria Española, 1976 (maxime, “Canonistas portugueses medievales”), 95-134. 6.5. Resultado: uma ordem jurídica pluralista Dos parágrafos anteriores já resulta que, na sociedade europeia medieval, conviviam diversas ordens jurídicas – o direito comum temporal (basica- mente identificável com o direito romano, embora reinterpretado), o direito canónico (direito comum em matérias espirituais) e os direitos próprios228, de vária natureza e de diversa hierarquia, alguns deles quase que excluí- dos do conceito de direito229. A esta situação de coexistência de ordens jurídicas diversas no seio do mesmo ordenamento jurídico chama-se pluralismo jurídico230. Por pluralismo jurídico quer-se, portanto, significar a situação em que distintos comple- xos de normas, com legitimidades e conteúdos distintos, coexistem no mesmo espaço social. Tal situação difere da atual – pelo menos tal como ela é encarada pelo direito oficial –, em que uma ordem jurídica, a esta- dual, pretende o monopólio da definição de todo o direito, tendo quaisquer outras fontes jurídicas (v.g., o costume ou a jurisprudência) uma legitimi- dade (e, logo, uma vigência) apenas derivada, ou seja, decorrente de uma determinação da ordem jurídica estadual231. Para a visão medieval do mundo, a ordem era – como se disse – um dom originário de Deus. S. Tomás de Aquino, que exerceu enorme influên- cia, antes e depois do Concílio de Trento (1545-1563), e mesmo nos países 228 Note-se que, também no seio do direito canónico, se podem distinguir direito comum (as normas emanadas de uma jurisdição geral, como o Papa e os concílios ecuménicos) e direitos próprios (emanados de autoridades eclesiásticas regionais, como os concílios regionais, os bispos, etc.; o mesmo se passando com os direitos próprios, para um dos quais – o direito real – se reclamava frequentemente a validade como direito comum do reino. 229 Era o que se passava com o direito dos rústicos, dos selvagens e da maior parte dos que viviam para além dos limites da respublica christiana. 230 Sobre o tema da arquitetura do ordenamento jurídico medieval, exemplarmente, Grossi, 1995; Costa, 1999. O conceito pode ser confrontado com o conceito moderno (cf., infra, cap. 7.5.7.5). 231 A unidade e exclusividade do direito oficial correspondem à unidade e indivisibilidade do poder político (soberania), tal como o concebe o imaginário estadualista.

Essa pergunta também está no material:

A_Cultura_Juridica_Europeia
670 pág.

Introdução ao Direito I

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