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Furto ?

Com tantos pedidos de investigação de paternidade contra o Sílvio Santos, me ocorreu a seguinte questão: pode alguém furtar o sêmen de outro para utilizá-lo com o fim de gerar um filho deste? Isso seria furto (quando se trata do material genético de um reprodutor animal, não tenho dúvida)? Há informações que dizem que o espermatozóide pode sobreviver até duas horas dentro da “camisinha”, tempo suficiente para o tipo de prática ilícita, se presentes outras condições de fertilidade da receptora, por exemplo. Caso um fato desse tipo se confirme, o filho gerado a “contragosto” do pai pode ser excluído do nome e da herança?

💡 3 Respostas

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Estudante PD

Furto é um crime previsto no Código Penal no Art.155, vejamos:

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

O furto ocorre quando o agente subtrai para si coisa alheia móvel sem a permissão do seu Dono. O crime de furto pode ser cometido por qualquer pessoa (sujeito ativo) , contra o proprietário ou possuído da coisa, este sendo pessoa jurídica ou física (sujeito passivo).

O furto qualificado ocorre quando o agente ativo abusa da confiança existente entre ele e o sujeito passivo e se apodera da coisa definitivamente.   

Não pode ser objeto de furto, coisa de uso comum, ou seja, se você subtrai algo sem a autorização do dono, utiliza a coisa e devolve em um curto espaço de tempo, sem nenhum tipo de destruição ou degradação do objeto, esse ato não se caracteriza como furto, não sendo passível de pena 

 

Segue link para melhor compreensão.

 

JusBrasil : <http://leonardocastro2.jusbrasil.com.br/artigos/136366573/legislacao-comentada-furto-art-155-do-cp> 

Art. 155 : http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619836/artigo-155-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940> 

 

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Carlos Eduardo Ferreira de Souza

Questão muito interessante! Minha área é de Direito Civil e Processual Civil, mas entendo que essa questão seja conjunta (além de, repito, muito interessante), iniciando com o Direito Penal e terminando no Direito Civil.

Devo confessar que, respondendo de trás para frente, quanto ao Direito Civil não me restam dúvidas, já que a CRFB/88 e o Código Civil são incisivos ao estabelecer o princípio da não-discriminação entre os filhos ou da igualdade entre os filhos, pouco importando o fato de ser fruto do mesmo casamento, de relações "adulterinas", do amor de "um carnaval" ou mesmo oriundos de adoção.

Assim, nada obstante ainda exista a diferenciação entre relacionamentos monogâmicos e "adulterinos" (a meu contragosto, já que o meu objeto de pesquisa no PPGd/UFRJ são as novas configurações familiares, incluindo o poliafeto e as famílias paralelas, não é possível estabelecer distinção entre filhos.

Portanto, assim como um pai não pode negar seu nome e herança aos filhos havidos no casamento, tampouco poderá tirá-los de atos ilícitos e desleais da genitora.

Observando do ponto de vista da mulher, por exemplo, fica muito mais fácil identificar, pois, infelizmente, o abandono do filho pelo pai ainda é mais socialmente aceito: seria viável aceitarmos que uma mulher, vítima de estupro, que engravida e não se dá conta (sim, isso existe: mulheres que não sentem absolutamente nenhum sinal da gestação e não criam barriga), após o nascimento do filho decidisse que não seria sua mãe? Claro que não! A lei penal faculta o aborto, preenchidos os requisitos, mas se não for realizado, será indiscutivelmente mãe da criança.

O mesmo raciocínio se aplica ao pai: querendo ou não, o filho será seu. Cito os dispositivos que corroboram a posição:

"Art. 227, CRFB. [...]

§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação."

"Art. 1.596, CC. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação."

Na seara penal, fui pesquisar e vi alguns defendendo se tratar do furto do art. 155, §3º, parte final, do CP (furto de energia genética) e outros defendendo o furto simples (art. 155, caput, do CP), por se tratar o espermatozóide de coisa alheia móvel.

Devemos ressaltar que, antes de mais nada, ambos se tratam de crimes patrimoniais. Mas o que seria patrimônio? Seria coisa economicamente apreciável? Se entendermos dessa forma, a conduta seria atípica, pois inexiste valor econômico de material genético, nos termos do ordenamento jurídico pátrio.

Entretanto, ensina o penalista Cezar Roberto Bitencourt (Saraiva: São Paulo, 2014, p. 41) que "O patrimônio não compreende apenas as relações economicamente apreciáveis [...] senão também as que versam sobre coisas que têm mero valor de afeição"

Daí se depreenderia que o furto seria possível, mas me vem a dúvida, quando prossegue informando que "não se pode falar em crime de furto sem a existência efetiva de diminuição do patrimônio alheio", razão pela qual ficaria na dúvida acerca da existência de tipicidade ou não, razão pela qual, existindo dúvida razoável, teria de julgar pela atipicidade penal da conduta.

Me parece, contudo, incontroversa a responsabilidade civil da genitora, que agiu de meios ardis para engravidar sem o consentimento do genitor, devendo ser observado o art. 186 c/c 927, do CC:

"Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito."

"Art. 927. Aquele que, por ato ilícito ( arts. 186 e 187 ), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo."

 

ENTREI EM CONTATO COM NOSSO ESPECIALISTA DE DIREITO PENAL, AQUI DO PASSEI DIRETO. SEGUE COMPLEMENTO DE RESPOSTA, NA SEARA PENAL:

Primeiramente o código penal menciona no artigo 155 que: ´´Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel`` e já no parágrafo 3° o código penal dispõe que ´´Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico``. Observa-se que a coisa móvel retratada pelo código penal não tem o mesmo termo valorativo que o código civil, por exemplo, autores mencionam que uma residência pode literalmente ser subtraída, pois, se ela for daquelas que podem ser separadas do solo e que mantêm sua integridade (normalmente essas casas são existentes nos EUA) poderá haver um furto, sendo que, essas casas são consideradas bens imóveis para o direito civil. Outra coisa importante é que a culpa ainda que levíssima obriga a indenizar no cível  diferentemente do direito penal em que a conduta deve ter relevância na violação de um bem jurídico protegido para ser punida.  No parágrafo terceiro verificado acima observa-se a utilização da interpretação analógica, pois, não é só a energia elétrica que pode ser objeto material de furto e sim qualquer energia que possua valor econômico. O STF  menciona que o sinal de TV a cabo não se equipara à energia elétrica para fins da tipificação do furto. Desse modo, verifica-se o caráter restritivo que a Suprema Corte utiliza na aplicação desse dispositivo. Há autores que mencionam a existência de furto na subtração de sémen de animais, pois, trata-se de energia genética que possui de per si valor econômico, visto que, esse material genético normalmente é vendido. Mas no caso do ser humano isso deve ser tratado de forma diferenciada, haja vista, que o espermatozoide humano no Brasil não tem valor econômico comparado ao sémen de um animal reprodutor. Desse modo, teoricamente a conduta seria atípica tendo em vista não só a  falta de tipicidade formal em virtude da ausência de valor econômico de per si no sémen do ser humano como também por falta de tipicidade material, pois, conforme o princípio da intervenção mínima como também o da fragmentariedade o direito penal não deve punir, em tese, aquelas condutas já bem reguladas/sancionadas por outros ramos do direito, sendo assim, como o direito civil já cuida do questão de forma mais eficaz o direito penal não deveria, em regra, ser utilizado no caso de furto. Entretanto, logicamente que para a realização dessa conduta o indivíduo deverá cometer alguns outros atos que podem ter tipificação penal e que devem ser punidos

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