Pedro Octávio Doin
A) A lei é inconstitucional, por não se tratar de atividade sujeita à disciplina legislativa, não tendo o poder legislativo competência para deliberar a respeito da conveniência e da oportunidade para a criação de Programas Sociais, tarefa esta precípua do Poder Executivo, que possui poder discricionário para tal deliberação. Estender esta prerrogativa ao Poder Legislativo é permitir que o legislador administre, invadindo área privativa de outro Poder, violando assim o princípio da separação dos poderes, como nos ensina a melhor doutrina e a jurisprudência. Assim, a inconstitucionalidade decorre da regra da separação de poderes, prevista na Magna Carta em seu artigo segundo.
B) O Governador pode propor uma ADIN, conforme legitimidade conferida pelo artigo 2º, inciso V da lei 9868/99. Vale ressaltar o julgado a seguir: "O Governador do Estado e as demais autoridades e entidades referidas no art. 103, incisos I a VII, da Constituição Federal, além de ativamente legitimados à instauração do controle concentrado de constitucionalidade das leis e atos normativos, federais e estaduais, mediante ajuizamento da ação direta perante o Supremo Tribunal Federal, possuem capacidade processual plena e dispõem, ex vida própria norma constitucional, de capacidade postulatória. Podem, em consequência, enquanto ostentarem aquela condição, praticar, no processo de ação direta de inconstitucionalidade, quaisquer atos ordinariamente privativos de advogado." (ADI 127-MC-QO, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 20-11-1989, Plenário, DJ de 4-12-1992).
Ademais, cabe ressaltar que a súmula 5 do STF considera o desrespeito à prerrogativa de iniciar o processo formal do Direito, como ocorre no caso em questão, um vício jurídico de gravidade inquestionável. Neste sentido, nem mesmo a aquiescência do Chefe do Executivo, mediante sanção ao projeto de lei, ainda quando dele seja a prerrogativa usurpada, tem o condão de sanar esse defeito jurídico radical, de modo que não há que se falar em convalidação.
DLRV Advogados
A) É inconstitucional.
Tal lei, ao criar um programa social no âmbito da Administração Estadual, adentra na organização e no funcionamento da Administração, cabendo a iniciativa do projeto de lei privativamente ao Governador do Estado.
Trata-se de interpretação do artigo 61, parágrafo 1º, II, “b” e “e”, da CRFB, aplicável aos Estados devido ao princÌpio da simetria:
"Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre:
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios;
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no art. 84, VI;"
Neste sentido, já se manifestou o Superior Tribunal Federal (ADI 2294 e 2329), entendendo que leis que instituem programas e benefícios sociais são de competência privativa do Governador do Estado (organização administrativa), seguindo o que atribui ao Executivo a Constituição Federal.
Permitir que a iniciativa destes projetos de lei sejam realizadas por parlamentares viola o princípio da separação dos poderes.
B) Sim. É possível que o atual governador maneje ADIN em face da lei em comento, uma vez que é um dos legitimados do artigo 103 da Constituição.
"Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade:
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; "
Quanto ao enunciado da súmula nº 5 do STF, é cediço que esta já se encontra superada, e que provém de entendimento datado de 1963.
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Direito Constitucional I
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