Pergunta sobre a história das políticas de sáude
Rômulo C Ar
A discussão sobre a nova teoria das doenças consolidou-se na última década do século XIX — e a primeira do período republicano — e foi marcada por muitos conflitos envolvendo o diagnóstico, a profilaxia e o tratamento de doenças que engressavam nos centros urbanos do Sudeste. Estes eram também convulsionados pelo colapso da escravidão, a enxurrada imigratória, as turbulências políticas decorrentes da proclamação da República e as turbulências econômicas associadas à crise do café e à nossa revolução industrial ‘retardatária’. Naqueles anos, em meio a desafios sanitários sem precedentes, despontou uma nova geração de médicos com conhecimento mais seguro das teorias e técnicas microbiológicas. Em São Paulo, foi criado o Instituto Bacteriológico (1892) e sua direção foi entregue a Adolpho Lutz.
A chegada da peste bubônica a Santos, em 1899, motivou a criação dos Institutos Soroterápicos de Butantan, em São Paulo, e de Manguinhos, no Rio de Janeiro. O primeiro, chefiado por Vital Brazil Mineiro da Campanha, logo se singularizaria pelos trabalhos fundamentais em ofidismo (estudo do veneno das serpentes) e, hoje, é responsável pela produção de mais de 80% do total de soros e vacinas consumidos no Brasil. Oswaldo Cruz assumiu a direção do Instituto Soroterápico, inaugurado no Rio de Janeiro em julho de 1900, embrião da atual Fundação Oswaldo Cruz, hoje um dos principais centros de pesquisa e tratamento de doenças tropicais no Brasil.
As doenças ameaçam e modificam as coletividades, muitas vezes de maneira dramática. Os diferentes grupos sociais sofrem e reagem desigualmente às doenças. No Brasil não foi diferente, tanto que em 1904 estoura no Rio de Janeiro a Revolta da Vacina.
A população estava confusa e descontente. A cidade parecia em ruínas, muitos perdiam suas casas e outros tantos tiveram seus lares invadidos pelos mata-mosquitos, que agiam acompanhados por policiais. Jornais da oposição criticavam a ação do governo e falavam de supostos perigos causados pela vacina. Além disso, o boato de que a vacina teria de ser aplicada nas "partes íntimas" do corpo (as mulheres teriam que se despir diante dos vacinadores) agravou a ira da população, que se rebelou.
A aprovação da Lei da Vacina foi o estopim da revolta: no dia 5 de novembro, a oposição criava a Liga contra a Vacina Obrigatória. Entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904, a cidade virou um campo de guerra. A população exaltada depredou lojas, virou e incendiou bondes (qualquer semelhança NÃO é mera coincidência), fez barricadas, arrancou trilhos, quebrou postes e atacou as forças da polícia com pedras, paus e pedaços de ferro. No dia 14, os cadetes da Escola Militar da Praia Vermelha também se sublevaram contra as medidas baixadas pelo Governo Federal.
A reação popular levou o governo a suspender a obrigatoriedade da vacina e a declarar estado de sítio (16 de Novembro). A rebelião foi contida, deixando 30 mortos e 110 feridos. Centenas de pessoas foram presas e, muitas delas, enviadas para o Acre.
Quadros patológicos distintos dominam cada época. No século XIX foram o cólera, a varíola, a tuberculose, a peste bubônica e a febre amarela. Considerando o período Republicano já no início do século XX um marco positivo no desdobrar da Revolta da Vacina foi que o Governo, ao reassumir o controle da situação, reiniciou o processo de vacinação tendo a varíola, em pouco tempo, sido erradicada da capital e do mundo, tendo como último caso de que se tem registros, um acidente de laboratório em 1978.
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Rogério Feliciano
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