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De acordo com seu entendimento, qual é o conceito de Monarquia?

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LR

Monarquia é uma “Forma de governo” (Abbagnano, 2007: 794), mas não uma forma de governo qualquer: “Entende-se comumente por Monarquia aquele sistema de dirigir a res pubblica que se centraliza estatalmente numa só pessoa investida de poderes especialíssimos, exatamente monárquicos, que a colocam claramente acima de todo o conjunto de governados.” (BOBBIO, 1993: 776). Ou seja, Monarquia é uma forma de governo cujo sistema organizativo centraliza o poder nas mãos de um único indivíduo, esse “chefe de Estado tem o título de rei ou rainha (ou seus equivalentes)” (HOUAISS, 2009: 1310). Essa definição de Monarquia é primaria, apesar de não ser incorreta, não é completa pois trata-se da descrição de uma Monarquia nos moldes da antiguidade. Hoje é necessário um entendimento mais amplo devido as historicidade do termo: “Por Monarquia, portanto, se entende – na complexa formação histórica deste instituto – um regime substancialmente mais não exclusivamente monopessoal, baseado no consenso, geralmente fundado em bases hereditárias e dotado daquelas atribuições que a tradição define com o termo de soberania.” (BOBBIO, 1993: 776).

Houveram na história do mundo diversas Monarquias, não sendo elas exatamente iguais entre si. Entretanto é possível localizar duas características comuns: 1. O monarca, “tendência a um progressivo crescimento e centralização do poder nas mãos do monarca” (BOBBIO, 1993: 776); 2. O Tempo, “onde o Governo se identificou com uma Monarquia nacional, realizou uma obra substancialmente definitiva até hoje” (BOBBIO, 1993: 776)

Se há enquanto a Monarquia perdurou de tal forma que o Poder sempre esteve centralizado nas mãos do Monarca, a respeito deste ator de máxima relevância se faz necessário algumas definições:

  1. Poder centralizado – “para se ter um regime monárquico é necessário a existência de uma pessoa estável no vértice da organização estatal com as características de perpetuidade e irrevocabilidade: o monarca é tal desde o momento de sua elevação até sua morte, exceto o caso de voluntária abdicação” (BOBBIO, 1993: 776);
  2. Poder centralizado e não revogável – “Para expulsá-lo [o monarca] do poder é preciso uma verdadeira revolução.” (BOBBIO, 1993: 776);
  3. Poder centralizado, não revogável e constante no tempo e no espaço – “não é admissível uma redução não voluntária do poder de soberano, poder que é teoricamente uniforme e igual desde o primeiro dia até o ultimo dia do reinado” (BOBBIO, 1993: 777);
  4. Poder centralizado, não revogável, constante no tempo e no espaço e hereditário – “o rei é investido de seu poder, originalmente, por direito do nascimento; a elevação ao trono se verifica por sucessão e, portanto, decorre de um atributo estritamente pessoal do sujeito ou, por alargamento do círculo, de sua família”  (BOBBIO, 1993: 777);

Considerações adicionais:

  1. Monarquia versus Tirania: “a Monarquia, diferentemente da tirania – que é também um regime unipessoal, definitivo e centralizado numa só pessoa, o dominus, a totalidade dos poderes –, se baseia normalmente no consenso: um consenso que tente naturalmente a consolidar-se nos filhos e nos descendentes, em geral, do soberano que bem mereceu de seu povo um consenso que frequentemente se expressa em termos fideísticos [fidelidade] e sentimentais: consenso que, sendo a fonte dos sucessos da Monarquia, tem sido também, – é importante lembrá-lo – a base do processo formativo e unificador do Estado [das soberanias de cada país](BOBBIO, 1993: 777);
  2. Monarquia germânica e feudal: “a Monarquia [neste período específico] aparece em lenta evolução na instável constituição do ordenamento germânico que se seguiu à invasão, organizado inicialmente em bases popular e em seguida, em bases feudais” (BOBBIO, 1993: 777) / “A Monarquia era, na sua origem, um instituto militar: o rei não era senão o chefe militar de seu povo; depois, com a fixação e a territorialização (...), se tornou paulatinamente chefe político.” (BOBBIO, 1993: 777) / “Foi, assim, necessário recorrer, como instrumento de Governo, ao nexo feudal, recurso que consagrava o novo fundamento real do poder numa sociedade agrária desagregada, isto é, o controle e, em seguida, a posse da terra.” (BOBBIO, 1993: 778) / “A Monarquia feudal assumiu assim, além dos aspectos formas absolutistas que encontramos em todos os grandes soberanos – quer como imperadores quer como reis – (...) o caráter de uma primazia teórica desprovida de real poder, fora das regiões de imediato e direto controle. Assumiu, assim, um simples caráter de representatividade genérica num sistema que era, de fato, uma oligarquia de poderosos dinastas fundiários” (BOBBIO, 1993: 778).
  3. Monarquia absoluta: “A formação de novas classes burguesas, de um série de centros de poder urbano e locais que se foram paulatinamente opondo ao controle dos grandes senhores feudais, gerou uma articulação complexa do tecido social e uma desagregação substancial da não mais homogênea estrutura feudal: no choque, nas regiões onde a sociedade não se fracionou em estruturas centrípetas de poderes locais autônomos ou semi-autônomos, a Monarquia pôde substancialmente se colocar como instrumento de mediação e de equilíbrio, reforçando progressivamente seus poderes em prejuízo das outras realidades políticas.” (BOBBIO, 1993: 778 – 779) / “A criação de uma consciência e de uma lealdade dinástica e, portanto estatal nestas classes superiores representou uma autêntica obra-prima, base de força e prestígio da Monarquia: esta plasmava, dessa forma, uma consciência unitária e ligava aos seus interesses estatais e dinásticos todos os grupos dirigentes como uma precisa e definitiva ideologia de poder.” (BOBBIO, 1993: 779) / “Sendo árbitra, a Monarquia era superior a todos, circundada, também exteriormente, dos sinais do poder e da majestade: nesta superioridade os grandes componentes do Estado (nobreza, burguesia, clero) encontraram a garantia formar e substancial da imparcialidade da Monarquia, e, portanto, a garantia do respeito de suas posições, embora seguindo o esquema de valores e precedências já consagrados pela tradição. Enfim, na ordem, nobreza, clero e burguesia se sentiram garantidos pelo sistema de pirâmide dirigido pela Monarquia.”  (BOBBIO, 1993: 780);
  4. Monarquia constitucional: “O surgimento (...) da Monarquia constitucional (...) representou um compromisso com que, na dissolução da velha ordem social hierárquica e na prevalência da ideologia burguesa vitoriosa, se salvou quanto ficava do antigo significado de estabilidade do regime monárquico, inserindo-o num sistema em que os instrumentos de poder tinham já passado por diversas mãos.”  (BOBBIO, 1993: 780) / “Através do pacto constitucional a Monarquia cessava de ser uma instituição acima do Estado e se tornava um órgão do Estado: o Estado, de fato, transmitia à Monarquia todas as suas prerrogativas (...).” (BOBBIO, 1993: 780) / “O rei se tornou um simples representante da unidade e da personalidade do Estado, com funções que se foram paulatinamente reduzindo ao se passar do sistema constitucional- puro para o sistema constitucional-parlamentar.” (BOBBIO, 1993: 780).

 

 

 

Referências bibliográficas:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993.

HOAUISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Messo. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

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