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Descreva a relação do homem com a natureza ao longo da ocupação da terra?

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LR

Há duas formas de caracterizar a relação do homem com a natureza: 1) A relação de dominação da natureza pelo homem; 2) A existência do homem em um estado de Natureza. A seguir ambas as formas serão descritas.

1) A relação de dominação da natureza pelo homem:

Falar sobre a dominação da natureza pelo homem é o mesmo que falar em termos de “trabalho”. Dominação da natureza pelo homem é Trabalho. Trabalho é dominação da natureza pelo homem. Assim por dominação da natureza pelo homem, ou seja, por trabalho, entende-se: “Atividade destinada a utilizar as coisas naturais ou a modificar o ambiente para satisfação das necessidades humanas. O conceito de T. [ler Trabalho] implica portanto: 1) a dependência do homem, no que diz respeito à sua vida e aos seus interesses, em relação a natureza: o que constitui a necessidade (...); 2) a reação ativa a essa dependência, constituída por operações mais ou menos complexas, destinadas à elaboração ou à utilização dos elementos naturais; 3) o grau mais ou menos elevado de esforço, sofrimento ou cansaço, que constitui o custo do trabalho.” (ABBAGNANO, 2007: 1147). Na literatura é possível encontrar diversas significações coerentes ao conceito aqui exposto. São elas:

TRABALHO COMO CONDENAÇÃO: “T. [ler Trabalho] foi considerado pela bíblia como parte da maldição divina decorrente do pecado original (...). E no famoso texto de São Paulo, o preceito ‘Quem não quiser trabalha não como’ deriva da obrigação de não jogar sobre os ombros alheios o cansaço e o sofrimento do trabalho (...). No mesmo sentido, Agostinho (...) e Tomás de Aquino (...) recomendam o T. como preceito religioso. Na exigência de distribuir entre todos o sofrimento e a degradação do T. manual inspira-se a Utopia (1516) de Thomas More e a Cidade do sol (1602) de Campanella, que prescrevem para todos os membros de suas cidades ideais a obrigação do trabalho.” (ABBAGNANO, 2007: 1147 – 1148).

TRABALHO MANUAL x ATIVIDADE INTELECTUAL: “a contraposição entre T. manual e atividade intelectual, entre artes mecânicas e artes liberais; também no Renascimento a defesa quase unânime, por parte de literatos e filósofos, da vida ativa diante da vida contemplativa e a condenação unanime ao ócio (que perde o caráter de disponibilidade para atividades superiores, que lhe fora atribuído na era clássica( nem sempre levam a revalorização do T. manual.” (ABBAGNANO, 2007: 1148).

TRABALHO NO ILUMINISMO: “O iluminismo em geral marca a reinvenção da dignidade do T. manual; dele Rousseau desejava que Emílio extraísse a primeira ideia de solidariedade social e das obrigações que ela impõe (...). Kant, mesmo distinguindo T. e arte, não achava possível uma separação nítida, porque também nas artes liberais ‘é necessário algo de restritivo ou, como se diz, um mecanismo sem o qual o espírito não ganharia corpo e se desvaneceria de todo’ (...).” (ABBAGNANO, 2007: 1148).

TRABALHO NO ROMANTISMO: “com o romantismo que se começou a estabelecer a relação entre R. e a própria natureza do homem; Fichte afirmava que mesmo a ocupação considerada mais baixa e insignificante, porquanto ligada à conservação e à livre atividade dos seres morais, é santificada tanto quanto a ação mais elevada (...).” (ABBAGNANO, 2007: 1148).

HEGEL: “Hegel considera o T. como ‘a mediação entre o homem e seu mundo’; de fato, diferentemente dos outros animais, o homem não consome imediatamente o produto natural, dando assim a tal matéria o seu valor e a sua conformidade ao objetivo (...). É só na satisfação das necessidades por meio do T. que o ser humano é realmente humano: porque se educa tanto teoricamente, através dos conhecimentos que o T. exige, quanto na prática, por se habituar à ocupação, adequando sua própria atividade à natureza da matéria e adquirindo aptidões universalmente válidas. Por isso, ao contrário do bárbaro, que é preguiçoso, o homem civilizado é educado no costume e na necessidade da ocupação (...). Por meio do T., o ‘egoísmo subjetivo converte-se na satisfaças das necessidades de todos os outros’, e de tal modo que, enquanto ‘cada um adquire, produz e usufrui por si, justamente por isso produz e adquire para o proveito de todos’ (...). Hegel também trouxa e baila o crescimento indefinido das necessidades, a importância da divisão do T. e o relevo adquirido, com base nessa divisão, pela distinção entre as classes (...). Também viu que a divisão do T. leva a substituição do homem pela máquina. De fato, tal divisão, cresce a facilidade do T. e portanto da produção; mas também se tem a limitação a uma única habilidade e portanto a dependência inconstitucional do individuo em relação ao conjunto da sociedade. A própria habilidade se torna assim mecânica e daí deriva a possibilidade de substituir o T. humano pelo T. da máquina (...)” (ABBAGNANO, 2007: 1148 – 1149).

MARX: “Esses princípios hegelianos são aceitos por Marx, que no entanto insiste no caráter natural ou material da relação que o T. estabelece entre o homem e o mundo (...). Os homens começaram a distinguir-se dos animais, segundo Marx, quando ‘começaram a produzir seus meios de subsistência, progresso este que é condicionado por sua organização física. Produzindo seus meios de subsistência, os homem produzem indiretamente sua própria vida material’ (...). O t. não pe portanto apenas o meio com que os homens garantem a subsistência: é a própria realização ou produção de sua vida, é um modo de vida determinado. A produção e o T. não são portanto uma condenação para o homem: são o homem mesmo, o seu modo específico de ser e de fazer-se homem. Através do T. a natureza torna-se ‘o corpo inorgânico do homem’, e o homem pode elevar-se à consciência de si mesmo, não tanto como individuo, mas como ‘espécie de natureza universal’ (...). O T. também faz do homem um ente social porque, além de pô-lo em relação com a natureza, o põe em relação com os outros indivíduos: desse modo as relações de T. e de produção constituem a trama ou a estrutura autêntica da história, da qual são reflexo as várias formas da consciência. Isso ocorre, porém, no T. não alienado, ou seja, que não se tornou mercadoria, como ocorre na sociedade capitalista, visto que neste caso surge o conflito entre a personalidade do proletário como indivíduo e o T. como condição de vida que lhe é imposta pelas relações das quais participa como objeto, e não mais como sujeito.” (ABBAGNANO, 2007: 1149).

 

2) A existência do homem em um estado de Natureza:

Especialmente os contratualistas compreendem que o processo de socialização entre os homens e o inicio da convivência em uma vida comunitária, em realidade teria se dado no momento da superação do Homem em Estado de Natureza, para viver de forma organizada. Seria então, a “Condição do homem, antes da constituição da sociedade” (ABBAGNANO, 2007: 816).. Esse mesmo processo também é compreendido como a gênese do Estado. Sendo assim, cabe apresentar aqui como o Estado de Natureza é descrito na literatura.

PLATÃO: “em Platão, no II Livro de Leis, encontra-se a noção da condição em que os homens ficaram depois da destruição de suas cidades por enormes catástrofes: uma terrível e ilimitada solidão, a terra imensa e abandonada; mortos quase todos os animais e bovinos, sobrou apenas um pequeno grupo de cabras, qual mísero resto, para que os pastores recomeçassem a vida’ (...).”

HOBBES: “a condição que Hobbes atribuiu ao estado de N. [ler natureza], a guerra de todos contra todos: ‘Enquanto vivem sem um poder comum ao qual estejam sujeitos, os homens encontram-se na condição que chamamos de guerra, e tal guerra é de um homem contra o outro’ (...). Isto acontece porque, sendo iguais por N., os homens também têm os mesmos desejos, e desejando as mesmas coisas procuram preponderar uns sobre os outros (...). A fundação do Estado, de um poder soberano, é o único meio para sair da condição de guerra, própria do estado de N.” (ABBAGNANO, 2007: 816).

SÊNECA: “na Antiguidade, Sêneca exaltava o estado de N. como uma condição perfeita do gênero humano. (...) Sêneca descreve a idade de outro, em que os homens eram inocentes, felizes e viviam com simplicidade, sem buscar o supérfluo. Além disso, não tinham necessidade de governo e de leis porque obedeciam aos mais sábios. Mas, em certo momento, o próprio progresso das artes levou à avidez e à corrupção, contra as quais se tornou necessária a instituição do Estado.” (ABBAGNANO, 2007: 816 - 817).

LOCKE: “Opondo-se a Hobbes, Locke já havia considerado o estado de N. como um estado de perfeição: é ‘um estado de perfeita liberdade, em que cada um regulamenta suas próprias ações e dispõe de suas posses e de si mesmo como bem lhe aprouver, dentro dos limites da lei da N., sem pedir permissão a ninguém, nem depender da vontade de ninguém.’ (...).” (ABBAGNANO, 2007: 817).

ROUSSEAU: “Rousseau quem mais exaltou a perfeição do estado de N., argumentando que nessa condição o homem obedece apenas ao instinto, que é infalível (...). ‘Tudo que sai das mais do Criador é perfeito, tudo degenera nas mais do homem’ (...). No próprio Rousseau, porém, essa exaltação do estado de N. contrasta com o valor atribuída do estado civilizado, com base no contrato social; na realidade, em Rousseau a noção de estado de N. constitui o critério ou a norma de julgar a sociedade presente e delinear um ideal de progresso.” (ABBAGNANO, 2007: 817).

KANT: “Kant entendia por estado de N. ‘aquele em que não há justiça distributiva alguma’” (ABBAGNANO, 2007: 817).

HEGEL: “Hegel mostrava o equívoco de se ter inventado o estado de N. como condição de fato na qual valesse o direito natural; isto por se interpretar a expressão ‘direito natural’ no sentido existente na N., e não de direito determinado pela N. da coisa.” (ABBAGNANO, 2007: 817).

 

Referência bibliográfica:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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