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Para Marx a teologia é inseparavel da praxis humana?

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Luiz Claudio Prado Bonilla

O conceito de práxis é muito anterior à filosofia marxista, com raízes no pensamento de Aristóteles, mas foi por intermédio do pensador alemão Karl Marx que tal conceito, progressivamente, se aprofundou, passando a ser o elemento ... - Veja mais em https://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/praxis---marx-e-gramsci-natureza-e-luta-de-classes.htm?cmpid=copiaecola

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LR

"A tarefa dos tempos modernos foi a realização e humanização de Deus, a transformação e dissolução da da teologia na antropologia. (...)  'A negação da teologia é a essência dos tempos modernos'" (MARX, 2007: 80)

O materialismo histórico é a essência da teoria marxista. E a essência do materialismo histórico é a descrição feita por Marx de práxis. A Práxis neste contexto “designa o conjunto de relações de produção e trabalho, e a ação transformadora que a revolução deve exercer sobre tais relações” (ABBAGNANO, 2007: 922). Em se tratando de prárix material, e humana tendo que vista que a produção material só se concretiza através da dominação da natureza pelo homem, ou seja, através do trabalho, elementos do transcendental não são passiveis de reconhecimento. Assim essa recusa à metafisica é inescapável pois o materialismo histórico marxista “baseia-se inteiramente na ação concreta do homem que, por suas necessidades históricas, opera e transforma a realidade.” (LINGUORI; VOZA, 2017: 300).

Sendo a Teologia uma ciência “associada a ‘metafísica’, a ‘transcendência’”, e ela o é pois busca em Deus a explicação do mundo material, não é possível admiti-la diante da teoria marxista, pois o materialismo histórico busca na ação concreta do homem (na práxis humana), não apenas o entendimento do mundo, como também a indicação do passo seguinte. Marx compreende que “‘a religião, a família, o Estado, o direito, a moral, a ciência, a arte, etc. são apenas modos particulares de produção’” (BOBBIO, 1993: 740), ao admitir a religião como um determinado modo de produção, e a produção é sempre feita pela ação concreta do homem, o marxismo não nega a existência da religião, apenas: 1) Jamais assumiria para a existência de Deus pois caso admitisse que Deus existe, o marxismo não seria o que é hoje, tento em vista que optar pela explicação de elemento criador metafisico (a transcendência inerente ao conceito de Deus) leva obrigatoriamente a abdicação da explicação segundo o materialismo histórico e o marxismo, que é o próprio materialismo histórico, perderia completamente o sentido de ser; 2) Jamais negaria a importância histórica da religião, apesar de acusar a religião de ser o ‘ópio do povo’. O marxismo nunca nega a história, ao passo que dá a burguesia sua devida importância quando salienta o esforço necessária de superação do mundo feudal, da mesma forma que assume na religião seu momento revolucionário capaz de superar o mundo clássico. “O conceito de Deus do historicismo não é julgado monstruoso’, mas efêmero, isto é, válido historicamente”, assim como a burguesia deve e irá de findar, o conceito de Deus também está fadado ao mesmo fim, pois nada tem a ver com a realidade material do homem: “o conceito de natureza ‘buscado por Deus’ e, em consequência, o conceito de que os homens sejam filhos de Deus é a ‘maior utopia’.” (LINGUORI; VOZA, 2017: 195).

Entre a teologia e o materialismo histórico existe uma “diferença é enorme: ‘O senso comum afirma a objetividade do real na medida em que esta objetividade foi criada por Deus’, mas isso ‘incide nos erros mais grosseiros’; para o materialismo histórico ‘o que mais importa não é, portanto, a objetividade do tal como tal, mas o homem que elabora estes métodos’ (...). A conclusão é que ‘procurar a realidade fora do homem parece, assim, um paradoxo, assim como para a religião é um paradoxo [pecado] procura-la fora de Deus’ (...). A objetividade do conhecimento e, portanto, da ‘realidade objetiva do mundo externo’ (...) é de origem religiosa e todas as religiões ensinam que Deus criou o mundo antes de criar o homem. O materialismo histórico confia ao homem o progressivo conhecimento do mundo externo e o consequente domínio completo.” (LINGUORI; VOZA, 2017: 195).

O Conceito de Teologia:

a) “ciência ou estudo que se ocupa de Deus, da sua natureza e seus atributos e de suas relações com o homem e com o universo”; “conjunto dos princípios de uma religião; doutrina”; “conjunto dos princípios e dogmas da religião cristã”; “maneira particular de tratar as questões religiosas” (HOUAISS, 2009: 1829).

b) “’teologia’ é associada a ‘metafísica’, ‘transcendência’, e indica o mundo pré-moderno: somemente com a afirmação do método experimental ‘inicia o processo de dissolução da teologia e da metafísica, e de desenvolvimento do pensamento moderno, cujo coroamento está na filosofia da práxis’” (LIGUORI; VOZA, 2017: 770)

Práxis segundo Marx:

“Com a esta palavra (que é a transcrição da palavra grega que significa ação), a terminologia marxista designa o conjunto de relações de produção e trabalho, e a ação transformadora que a revolução deve exercer sobre tais relações. Marx dizia que é preciso explicar a formação das ideias a partir da ‘práxis material’, e que, por conseguinte, formas e produtos da consciência só podem ser eliminados por meio da ‘inversão prática das relações sociais existentes’, e não por meio da ‘crítica intelectual’ (...). Por ‘inversão da P. [ler Práxis]’, Engels entender a reação do homem às condições materiais da existência, sua capacidade de inserir-se nas relações de produção e de trabalho e de transformá-las ativamente: esta possiblidade é a subversão da relação fundamental entre infra-estrutura e superestrutura, em virtude da qual é somente a primeira (a totalidade das relações de produção e de trabalho) que determinam a segunda, constituída pelo conjunto de atividades espirituais humanas (...).” (ABBAGNANO, 2007: 922).

Referências bibliográficas:

LIGUORI, Guido; VOZA, Pasquale. Dicionário Gramsciniano: 1926 - 1937. São Paulo: Boitempo, 2017.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993.

HOAUISS, Antonio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Messo. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

MARX, Karl. A ideologia Alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Beuer e Stirner, e so socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845 - 1846). São Paulo, Boitempo, 2007.

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