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Desenvolva a noção de natureza humana, ressaltando a sua importância para a política, segundo Maquiavel.?

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Rafa Gomes

Para ele, a natureza humana é má. O homem gostaria de agir em consonância com o bem, mas, invariavelmente, ele está mais propenso ao mal, conforme se observa nos exemplos extraídos de Roma Antiga e também nos de seus contemporâneos. Os "homens geralmente são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ambiciosos de dinheiro'". Uma das condições fundamentais da política é a aparência de ser. A natureza dos homens faz com que eles se maravilhem com o que vêem, mesmo que estejam sendo enganados, e geralmente estão sendo, pois "os homens, em geral, julgam mais pelos olhos do que pelas mãos, pois todos podem ver, mas poucos são os que sabem sentir. C..) O vulgo é levado pelas aparências e pelos resultados dos fatos consumados, e o mundo é constituído pelo vulgo'". Merleau-Ponty observa que Maquiavel, ao descrever os fatos e interpretá-los, fugiu do "cinismo'". Ele vai na direção oposta aos hábitos estabelecidos no mundo erudito de vangloriar e impor normas que negam, senão toda a realidade, pelo menos uma parte fundamental.

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LR

Em toda sua filosofia política Maquiavel considera que há uma natureza inerente ao homem, ou seja, que há no homens instintos, características que o acompanham independentemente do tempo histórico, não se data, e sim o acompanha por toda a existência da humanidade, e esta natureza é má. A defesa era por um esforço de conhecer a “natureza humana e [pel]a necessidade de compreendê-la para se obter uma ação eficaz nos assuntos públicos” (FREITAS, 1997: 99). Sabendo que, independente da conjuntura, o homem é malvado, Maquiavel busca, ao considerar o que a história ensina e os fracassos de atores da época, qual é a forma ideal de um Estado, e com isso apresenta ao jovem ‘Príncipe’ diversos “conselhos para a organização e manutenção do poder político (...), baseado na existência de boas leis e boas armas” (FREITAS, 1997: 99).

“Talvez, seja essa a chave para a compreensão da natureza humana em Maquiavel: a natureza de um ser que está em conflito constante com os seus semelhantes e que, na civilização, através da política, busca a compreensão e satisfação de seus desejos, aumentando as possibilidades de conflito. A observação histórica de Maquiavel permite encontrar um homem que se assusta com os resultados de seus próprios atos, mas que também se reconhece em cada perversidade narrada, em cada tentativa de saber quem realmente é e o seu modo de agir. O homem apresentado por Maquiavel não é estranho a ninguém, nem mesmo aos que teorizaram sobre uma forma harmônica da sua natureza e que nunca se encontra, por ser, diversas vezes, desprovido de um elemento fundamental, a sua concreticidade. Esse homem idealizado é sepultado na teoria política de Maquiavel pois o poder trabalha com seres concretos e, se quisermos um homem atuante, ele tem que saber como funcionam as regras do poder, que por mais perversas que pareçam, são frutos de um comportamento anterior a Maquiavel, de um comportamento permanente de um único ser: o homem.” (FREITAS, 1997: 104).

Ser amado ou ser temido:

Segundo Maquiavel, para garantir a posição de governo é sempre mais interessante ser temido ao invés de ser amado, e justificada essa colocação da seguinte forma: “O amor é mantido por um vínculo de obrigações, que os homens, sendo malvados, rompem quando melhor lhes servir. Mas o temor é mantido pelo medo de ser punido, o que nunca termina.” (MAQUIAVEL, 1996: 85). O contexto dessa firmação de Maquiavel é a seguinte:

“Continuando pelas qualidades mencionadas, digo que todo príncipe deve desejar ser considerado clemente e não cruel. Porém deve estar atento para não usar mal esta piedade. César Bórgia era considerado cruel. Apesar disso, aquela sua crueldade havia restaurado a Romanha, unindo-a, pacificando-a e tornando-a fiel. Considerando-se bem, ver-se-á que Bórgia foi muito mais clemente do que o povo florentino que, para evitar a fama de cruel, permitiu que Pistóia fosse destruída. Portanto, um príncipe deve não se preocupar com a fama de cruel, para manter seus súditos unidos e fiéis. Porque, com pouquíssimas exceções, ele será mais clemente do que aqueles que, por piedade excessiva, permitirem que as desordem prossigam, de onde nascem assassinatos ou rapinas. Estas prejudicam um povo inteiro e aquelas execuções comandadas pelo príncipe ofendem apenas um indivíduo. Entre todos os príncipes, ao príncipe novo é impossível evitar a fama de cruel, por serem os Estados novos cheios de perigos.” (MAQUIAVEL, 1996: 83-84).

“Por outro lado, o príncipe deve ser prudente, ao acreditar e ao agir, não deve amedrontar-se a si mesmo e proceder com equilíbrio, prudência e humanidade; que a excessiva confiança não o torne incauto e a excessiva desconfiança não o torne intolerável.” (MAQUIAVEL, 1996: 84).

“Nasce daí uma questão: É melhor ser amado do que temido, ou o contrário. Responde-se que se quer ser tanto um quanto o outro. Mas como é difícil reuni-los, é muito mais seguro ser temido do que ser amado, no caso de ser preciso renunciar a um dos dois. Geralmente, pode-se dizer que os homens são ingratos, volúveis, mentirosos, traiçoeiros, covardes, ávidos por dinheiro. Se lhes fazes o bem, todos estão contigo. Oferecem-te o sangue, as coisas, a vida, os filhos, como disse antes, quando a necessidade está longe de ti. Mas quando a necessidade chega perto, eles se rebelam. E o príncipe que havia se baseado completamente nas palavras deles, se não tiver outras defesas, arruína-se. Pois as amizades que se conquistam com dinheiro e não com grandeza e nobreza de alma não são certas, não podem ser usadas. Os homens têm menos pudor em ofender alguém que se faça amar do que alguém que se faça temer. O amor é mantido por um vínculo de obrigações, que os homens, sendo malvados, rompem quando melhor lhes servir. Mas o temos é mantido pelo medo de ser punido, o que nunca termina.” (MAQUIAVEL, 1996: 85).

Referências bibliográficas:

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

FREITAS NETO, José Alves de. Breves considerações sobre a natureza humana em Maquiavel. In Hypnos, ano 1, n. 2, 1997.

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