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controle de constitucionalidade, nacionalidade

Em 2004, entrou em vigor a lei estadual “X”, de autoria de um deputado governista (partido A), sob protestos de alguns parlamentares da oposição (partido B), já que a lei era flagrantemente inconstitucional de acordo com a jurisprudência pacífica do STF. A oposição, contudo, venceu as eleições naquele ano e já em 2005, quando o partido B conquistou a maioria das cadeiras na Assembleia Legislativa, foi aprovada a lei Y que revogou a lei ”X”, ao dispor de forma distinta sobre a mesma matéria (revogação tácita), embora mantido vício de inconstitucionalidade.

A partir do caso descrito, utilizando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso, responda aos itens a seguir.

A) Após a entrada em vigor da Lei “Y”, pode o partido B ajuizar ADI, junto ao STF, pedindo a declaração de inconstitucionalidade da lei “X”? (Valor: 0,55)

B) O Procurador-Geral da República pode ajuizar ADI pedindo a declaração de inconstitucionalidade das leis “Y” e “X”, sucessivamente? (Valor: 0,70)

A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não pontua.

💡 2 Respostas

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Gustavo Pruche

a) Após a entrada em vigor da Lei “Y”, pode o partido B ajuizar ADI, junto ao STF, pedindo a declaração de inconstitucionalidade da lei “X”?

Não poderia ajuizar a ADI pois se trata de perda de objeto, ou seja, a lei já foi revogada tacitamente pela lei anterior. Lembremos do Artigo 2° §1°, que diz: “A Lei posterior revoga a lei anterior, expressa ou tacitamente”. Devemos observar outro argumento que não está presente no espelho oficial, e que vamos explorar de maneira complementativa. O partido político tinha representação na Assembléia, mas não no Congresso Nacional, portanto, esse seria outro motivo que impede o partido entrar com a ADI, tratando-se de não haver legitimidade  ativa.

b) O Procurador-Geral da República pode ajuizar ADI pedindo a declaração de inconstitucionalidade das leis “Y” e “X”, sucessivamente?

Sim, por causa do efeito repristinatório, que é cabível na ação direta de inconstitucionalidade. Tal efeito ocorre quando uma lei é revogada por outra e posteriormente a própria norma revogadora é revogada por uma terceira lei, que irá fazer com que a primeira tenha sua vigência restabelecida caso assim determine em seu texto legal. Se eventualmente fosse declarada a inconstitucionalidade da Lei “Y”, poderia então, pelo efeito repristinatório, a Lei “X” voltar ao ordenamento jurídico.

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Thalles Gameiro

 

  1. Após a entrada em vigor da Lei “Y”, o partido B não pode ajuizar ADI junto ao STF pedindo a declaração de inconstitucionalidade da lei “X”. Sobre o tema, Pedro Lenza explica que o “STF não admite a interposição de ADI para atacar lei ou ato normativo revogado ou de eficácia exaurida, na medida em que ‘não deve considerar, para efeito do contraste que lhe é inerente, a existência de paradigma revestido de valor meramente histórico’. Em razão de não caber a ADI e nem mesmo a ADC (pelos motivos expostos e em razão da ambivalência dessas ações), tendo em vista o princípio da subsidiariedade (art. 4.º, § l.º, da Lei n. 9.882/99- cf. item 6.7.3.6), a Corte tem admitido o cabimento da ADPF contra ato normativo revogado ou com a sua eficácia exaurida (ADPF 77-MC, Rel. pi o ac. Min. Teori Zavascki, j. 19.11.2014, Plenário, DJE de 11.02.2015).” (Direito Constitucional Esquematizado. 21ª ed. pg. 317)

 

B) Sim, o Procurador-Geral da República pode ajuizar ADI pedindo a declaração de inconstitucionalidade das leis “Y” e “X” sucessivamente para impedir o chamado “efeito repristinatório da declaração de inconstitucionalidade. O STF admite esse pedido. Segundo Pedro Lenza: “a declaração de inconstitucionalidade reconhece a nulidade dos atos inconstitucionais e, por consequência, a inexistência de qualquer carga de eficácia jurídica. Assim, dentre tantos efeitos, a declaração de inconstitucionalidade de ato normativo que tenha "revogado" outro ato normativo (nossa análise neste ponto refere-se à ADI perante o STF, de lei ou ato normativo federal ou estadual, ou distrital, desde que no exercício da competência estadual) provoca o restabelecimento do ato normativo anterior, quando a decisão tiver efeito retroativo. O STF vem utilizando a expressão "efeito repristinatório'' (cf. ADI 2.215-PE, medida cautelar, Rel. Min. Celso de Mello, Inf 224/STF) da declaração de inconstitucionalidade. Isso porque, se a lei é nula, ela nunca teve eficácia. Se nunca teve eficácia, nunca revogou nenhuma norma. Se nunca revogou nenhuma norma, aquela que teria sido supostamente "revogada" continua tendo eficácia. Eis o efeito repristinatório da decisão. Ocorrendo a modulação dos efeitos da decisão, nesse caso, parece-nos que a lei (objeto do controle) vai sim ter a eficácia de revogar a lei anterior. Isso porque, se a decisão reconhece efeitos da referida norma, temos de aceitar a sua existência, validade e, durante o período que o STF determinar, a sua eficácia, gerando, dentre tantos efeitos, a natural revogação de lei em sentido contrário ou se expressamente assim estabelecer. Por fim, destacamos um aspecto formal importante. Se o legitimado ativo da ADI objetivar que a Suprema Corte analise a inconstitucionalidade da lei que vai voltar a produzir efeitos (em razão do efeito repristinatório' da decisão), terá de,  expressamente, fazer o pedido de apreciação da referida lei, sob pena de o STF não poder, de ofício, apreciá-la e, para piorar, não conhecer da ação direta ajuizada. Nesse sentido: "EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade: efeito repristinatório: norma anterior com o mesmo vício de inconstitucionalidade. No caso de ser declarada a inconstitucionalidade da norma objeto da causa, ter-se-ia a repristinação de preceito anterior com o mesmo vício de inconstitucionalidade. Neste caso, e não impugnada a norma anterior, não é de se conhecer da ação direta de inconstitucionalidade" (ADI 2.574, Rei. Min. Carlos Velloso, j. 02.10.2002, DJ de 29.08.2003. No mesmo sentido, cf. ADI 3.148, Rel. Min. Celso de Mello, j. 13.12.2006, DJ de 28.09.2007). Por todo o exposto, fica claro que, em eventual controle normativo abstrato a ser instaurado, deverá haver a impugnação de todo o "complexo normativo", de toda a "cadeia normativa", tanto as normas revogadoras como as revogadas.” (Direito Constitucional Esquematizado. 21ª ed. pg. 375-377)

 

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