Quando observamos casos como o da União Europeia, que possui o maior acordo econômico do mundo, envolvendo diversos países, passa-se a ter características de um Estado nacional, ou de um superestado. E assim, em relação ao direito comunitário, esse modelo se torna muito próximo ao direito constitucional nacional, passando a ser chamado de direito constitucional transnacional.
Já o transconstitucionalismo pode ser definido como o cruzamento de diversas ordens jurídicas, sendo elas tanto estatais como transnacionais, internacionais e também supranacionais, relacionadas aos mesmos problemas, que possuem uma natureza constitucional.
Como todos sabem, os problemas centrais do constitucionalismo moderno sempre foram o reconhecimento e a proteção dos direitos humanos, de um lado; e o controle e a limitação do poder, de outro.
Sucede, porém, que na contemporaneidade, em razão da maior integração da sociedade mundial, estes problemas deixam de ser tratados apenas no âmbito dos respectivos Estados e passam a ser discutidos entre diversas ordens jurídicas, inclusive não estatais, que muitas vezes são chamadas a oferecer respostas para a sua solução.
Isso implica, como propõe, com muita propriedade, Marcelo Neves, uma “relação transversal permanente” entre as distintas ordens jurídicas em torno de problemas constitucionais comuns.
O Direito Constitucional, portanto, afasta-se de sua base originária, que sempre foi o Estado, para se dedicar às questões transconstitucionais, que são aquelas, segundo Neves, que perpassam os diversos tipos de ordens jurídicas e que podem envolver tribunais estatais e internacionais na busca de sua solução.
Neves explica que o conceito de transconstitucionalismo não tem nada a ver com o conceito de constitucionalismo internacional ou transnacional. O conceito está relacionado à existência de problemas jurídico-constitucionais que perpassam às distintas ordens jurídicas, sendo comuns a todas elas, como, por exemplo, os problemas associados aos direitos humanos.
Neste caso, impõe-se um diálogo entre estas distintas ordens jurídicas a fim de que os problemas que lhes são comuns tenham um tratamento harmonioso e reciprocamente adequado. Essa interlocução pode ocorrer das mais variadas formas.
É possível que ela decorra da vinculação das ordens jurídicas estatais às decisões das ordens jurídicas internacionais, como, por exemplo, a sujeição do Brasil às decisões emanadas da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em razão da adesão do Estado brasileiro às disposições da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH); é possível, outrossim, que essa conversação se desenvolva a partir do respeito e consideração espontânea e mútua entre as diversas ordens jurídicas (estatais e internacionais), como pode se verificar, por exemplo, quando um Tribunal estatal considera, sem estar obrigado a tanto, a decisão de outro Tribunal estatal ou internacional, e vice versa.
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Direito Constitucional I
•UNG
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