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Como são definidas a autolimitação e a heterolimitação do Estado em relação ao Direito?

💡 2 Respostas

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Estudante PD

Pode a autolimitação assumir duas formas, sendo a primeira decorrente de regras internas de conflitos que reconheçam a jurisdição estabelecida em outros países, conhecidas como regras de competência judiciária internacional. Ainda, há a autolimitação nos chamados sistemas jurídicos concorrentes com o sistema estatal, como por exemplo, normas do sistema religioso, normas estaduais e municipais. A segunda forma de autolimitação surge de regras internas que permitem a escolha da jurisdição estatal - cláusula de eleição de foro estrangeiro - ou jurisdição construída pelas partes - cláusulas compromissórias e o compromisso.

A heterolimitação, por sua vez, decorre das normas de Direito Internacional que consagram elementos que tolhem a livre ação do poder soberano do Estado. Em tal orientação cabem as fontes de Direito Internacional moderno, que podem informar uma eventual limitação da jurisdição estatal.

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Júnior Oliveira

A autolimitação e a heterolimitação do Estado tem como berço de discussão a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. A doutrina que se estabeleceu foi a de que o Estado se submete ao Direito sob dois aspectos: autolimitação e heterolimitação.

Pela Teoria da Autolimitação do Estado, inaugurada por Jellinek, no Estado moderno, os governados são sujeitos de direito e podem reclamar eficazmente a tutela jurídica estatal. O direito subjetivo é portanto o poder de querer que tem o homem em face do Estado,  reconhecido e protegido pelo ordenamento jurídico, enquanto se refere a um bem ou a um interesse.

Pra Jellinek, o indivíduo possui quatro posições quando se vê face ao Estado:

  1. Subjectionis: trata-se do status de subordinação, passivo, pelo qual os governados se submetem ao Estado e ao Direito Público;
     
  2. Libertatis: é o direito de liberdade, consubstanciado num status negativo do Estado,  em que o indivíduo é o titular de sua liberdade individual, estando à margem do poder de  intervenção estatal;
     
  3. Civitatis: aqui há um status positivo, por meio do qual o indivíduo é titular de direitos de prestações fornecidas pelo Estado;
     
  4.  activae civitatis: é um status ativo, em que o indivíduo é já sujeito do poder político e, como tal, titular do direito de participação no poder.

Segundo a teoria de Jellinek, o Estado é considerado em si como poder de fato, mas, com base no reconhecimento dos governados, torna-se um poder limitado do ponto de vista jurídico, de modo que o Estado é, ao mesmo tempo, estabelecido e limitado pelo próprio ordenamento jurídico, de modo que seu poder e seus interesses recebem caráter de interesse público. Essa relação de domínio entre o Estado e seus governados é uma relação de domínio jurídico e só se sustenta quando dominante e dominado se reconhecem titulares de direitos e deveres reciprocamente.

Apesar de se tratar de uma relação de domínio, não há falar em arbitrariedade, porque, mesmo quando o Estado detém supremacia para, em tese, exigir obediência dos governados, possuindo poder jurídico para criar e modificar o ordenamento jurídico, tais poderes só se sustentam quando (e se) reconhecidos que existem em razão do interesse público.

Vale dizer, o Estado impõe-se a si próprio, como regra suprema da ação, fazendo coincidir os preceitos jurídico e moral: regula todos os seus atos de forma a que correspondam, da melhor forma, ao interesse público amplamente considerado, sobretudo levando em conta os direitos subjetivos do povo, resultando daí a sua necessária autolimitação. Embora autolimitado, o Estado mantem a sua soberania e a sua supremacia, permanecendo intacta sua capacidade exclusiva de se autodeterminar, criando regras para si mesmo.

Carré de Malberg, inspirado na Teoria da Autolimitação do Estado, afirma que o Estado é como um poder dominador com a característica do Estado de dominar e de reduzir as resistências, de modo que o poder dominador é o traço específico do Estado e o ponto culminante da sua definição. Para Malberg, o Estado é não só unidade como também unanimidade, tendo um poderio (une puissance) que não deriva de nenhum outro poder (pouvoir) e que não pode ser igualizado por nenhum outro poder, considerando que o Estado precede o direito, contrariamente ao defendido pelos teóricos do contrato social. 

Carré de Malberg afirma que, se o estabelecimento do Estado constitui um puro fato não suscetível de receber qualquer qualificação jurídica, o que não vale para as pessoas jurídicas (porque recebem sua qualificação jurídica do Estado), certo é que a existência do Estado se identifica com o ato que o institui, isto é, a Constituição e os órgãos que dispõe o aparelho estatal em virtude desse ato constituinte original. E ai, pelo fato dessa organização o Estado é levado à unidade.

Já segundo o aspecto da Heterolimitação do Estado, há um direito superior ao direito positivo interno, que é criado pelo Estado. Esse direito superior é o direito objetivo, cujas regras são inspiradas sem um princípior de justiça fundado na solidariedade. Há o sopesamento de um direito.

Aqui haveria um limite de atuação estatal que, se originado de outro sistema legal, isto é, situado fora do ordenamento jurídico de um Estado, e considerado superior a este, estaremos diante de uma heterolimitação, que decorre das normas de Direito Internacional e que consagram elementos que tolhem, limitam a livre ação do poder soberano do Estado. Nesse sentido, cabem as fontes de Direito Internacional moderno, que podem informar uma eventual limitação da jurisdição estatal.

 

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