Vygotsky dedicou anos de estudo para compreender as relações entre o pensamento e a linguagem - e esse foi um dos maiores acertos de seu trabalho. Até então, os estudos sobre o tema buscavam dissecar os dois conceitos isoladamente.
Pensamento e Linguagem sempre estiveram associados e constituíram-se objeto de investigação para psicólogos e linguistas.
Para alguns teóricos, pensamento e linguagem diziam respeito ao mesmo processo de forma indissociável e, segundo essa concepção ficaria impossível estudar cada um dos processos de forma independentes, com vínculo puramente externo.
Vílchez (2007) considera pensamento e linguagem condutas interdependentes que se relacionam estreitamente entre si. Por isso, o estudo destes processos é bastante complexo, exigindo interdisciplinaridade por se referirem a diversos campos científicos.
A especificidade, profundidade e extensão dessas relações são admitidas por autores como Piaget, a escola Soviética e o cognitivismo porém a maioria das escolas e dos autores, coloca ênfase a um ou outro processo.
Para compreender essas relações, Vygotsky buscou analisar o desenvolvimento da criança. De acordo com ele, mesmo antes de dominar a linguagem, ela demonstra capacidade de resolver problemas práticos, de utilizar instrumentos e meios para atingir objetivos.
É o que o pesquisador chamou de fase pré-verbal do pensamento.
A criança é capaz, por exemplo, de dar a volta no sofá para pegar um brinquedo que caiu atrás dele e que não está à vista. Esse conhecimento prático independe da linguagem e é considerado uma inteligência primária.
Embora não domine a linguagem como um sistema simbólico, os pequenos também utilizam manifestações verbais. O choro e o riso têm a função de alívio emocional, mas também servem como meio de contato social e de comunicação. É o que Vygotsky chamou de fase pré-intelectual da linguagem.
Essas fases podem ser associadas ao período sensório-motor descrito pelo psicólogo suíço Jean Piaget ( ), no qual a ação da criança no mundo é feita por meio de sensações e movimentos, sem a mediação de representações simbólicas.
É a fase na qual a criança depende de sentidos como a visão para atuar no mundo e se manifesta exclusivamente por meio de sons e gestos, ligados à inteligência prática.
Por volta dos 2 anos de idade, o percurso do pensamento encontra-se com o da linguagem e o cérebro começa a funcionar de uma nova forma.
A fala torna-se intelectual, com função simbólica, generalizante, e o pensamento torna-se verbal, mediado por conceitos relacionados à linguagem.
Motivos que Vílchez considera o pensamento e linguagem interdependentes:
O pensamento precisa da palavra para se objetivar de maneira clara e articulada;
Ao pensar falamos com nós mesmos (linguagem interna);
A linguagem é facilitadora e inibidora do pensamento (Bernstein, Sapir etc);
A linguagem é reguladora da conduta (Luria);
A linguagem é elemento facilitador na tarefa de solução de problema;
A linguagem participa da formação e expressão de conceitos e raciocínios;
Para Vygotsky (2000), a decomposição entre pensamento e linguagem, cada um na sua forma pura, não elucida o que se observa quanto ao pensamento discursivo durante a primeira infância.
Percebe-se, então, que para Vygotsky, é no significado da palavra que se pode entender como se dá a relação entre pensamento e linguagem.
Assim, o método de análise da relação entre pensamento e linguagem, segundo Vygotsky, é semântico, do sentido da linguagem, do significado da palavra.
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