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Defina os fundamentos do conceito da sexualidade na teoria de michel Foucalt ?

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Sarah M.M.

Fomos levados a pensar que através do sexo encontraríamos a liberdade, mas caímos em um jogo ardiloso. Quanto mais falamos (ou gritamos) sobre nossa sexualidade, quanto mais nos mostramos, mais nos embrenhamos nas malhas estendidas pelo saber-poder. Nosso sexo fala de si. O foco de luz colocado em cima dele o imobiliza, as teias de aranha se estendem, o poder se disfarça para melhor vê-lo, cheirá-lo, ouvi-lo e depois comê-lo, até que não sobre nada.

Sexo se tornou nossa identidade, mas por que? O que motiva essa obsessão ocidental pelo sexo? Entender o que causa esta fixação nos faz passar longe da questão jurídica ou de poder como algo centralizado. O discurso sexual é algo que atravessa nossa sociedade horizontalmente. As relações de saber-poder se dão de forma descentralizada. Estendem seus tentáculos em numerosas direções, interligando-os e fazendo-os interagir. A sexualidade é algo onde se pode e deve intervir.

Com o advento da modernidade, novos modos de vida se moldaram. Esta nova economia exigiu novos modos de produção, a nova rotina por sua vez, deu lugar a novos seres humanos. Se antes o poder do rei era organizado de forma a “fazer morrer ou deixar viver”, o novo mundo, sem rei, estava se auto-estruturando em torno de “fazer viver ou deixar morrer”. A população se tornou algo administrável, um problema a ser gerido para sua máxima efetividade.

A psicologia, a geografia, a medicina, economia e outros ramos do saber se desenvolveram para estudar e administrar a população. Contágio das doenças, prostituição, distribuição geográfica, família nuclear, se tornaram problemas desta nova época. Dentro destas novas disciplinas, apareceram novos personagens a serem avaliados e condicionados. A criança ganhou teorias que versavam sobre sua natureza sexual, muito importante e alvo de cuidados especiais. A mulher ganhou seu status de mãe, figura importante, essencial para o desenvolvimento da criança. Sua natureza neurótica, altamente sedutora e sexual, também foi exaltada como merecedora de atenção. As preocupações com o crescimento populacional também surgiram nesta época, bem como as etiologias dos chamados adultos perversos, por sua desestruturação das famílias tradicionais.


Um poder que tem a tarefa de se encarregar da vida terá necessidade de mecanismos contínuos, reguladores e corretivos. Já não se trata de por a morte em ação no campo da soberania, mas de distribuir os vivos em um domínio de valor e utilidade. Um poder dessa natureza tem de qualificar, medir, avaliar, hierarquizar […] uma sociedade normalizadora é o efeito histórico de uma tecnologia de poder centrada na vida”
– Foucault, História da Sexualidade I

A centralização dos dispositivos de sexualidade nos leva a crer em um pansexualismo. Já dissemos anteriormente que o sexo não traz a essência da pessoa (veja aqui), não somos puritanos, mas o sexo não é o motor da humanidade, a pulsão não é nosso combustível. Isso decorre de uma saturação dos dispositivos de sexualidade. A família nuclear burguesa foi seu principal alvo. Com o discurso de evitar a degeneração das futuras gerações, a estrutura edípica desenvolveu-se. A saúde mental e física dos pais refletia a saúde e desenvolvimento apropriado da criança. O pecado foi trocado pela patologia, o sangue azul dos nobres deu lugar aos discursos sexuais burgueses.

É neste contexto que a psicanálise se desenvolve. Centralizando o impulso sexual e codificando os discursos em torno de papai-mamãe-filhinho. Refinamento da confissão em sua melhor forma, um tipo de “pague-para-contar-sobre-sua-miséria-sexual”. A psicanálise não descobriu os segredos do inconsciente, ela sistematizou o inconsciente que era produzido na superfície da época, um significante tirânico organizando o desenvolvimento. Exatamente quando a questão do incesto também passou a ser uma questão de saúde pública.


A noção de ‘sexo’ permitiu agrupar, de acordo com uma unidade artificial, elementos anatômicos, funções biológicas, condutas, sensações e prazeres e permitiu fazer funcionar esta unidade fictícia como princípio causal, sentido onipresente segredo a descobrir a toda parte: o sexo pôde, portanto, funcionar como significante único e como significado universal”


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Nanda Nanda

Obrigada
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