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41 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 3 Mediação como método de pacificação organizacional e social O acesso à justiça está ligado a vários aspectos importantes na imi- nência de contribuir com a promoção da liberdade, da dignidade e igual- dade. E é fato que a nossa sociedade está marcada pela dificuldade em garantir esse acesso a milhões de cidadãos que sofrem com a desigual- dade, vulnerabilidade e injustiças sociais. A crescente complexidade das relações sociais é permeada por transformações que exigem um aperfeiçoamento multidisciplinar e trazem uma visão global do contexto socioeconômico de atuação, re- afirmando o acesso mais factível e o respeito à territorialidade e às ca- racterísticas das partes. Toda essa complexidade torna evidente a im- portância de métodos consensuais de solução de conflitos. 42 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . O Poder Judiciário é um dos pilares do Estado Democrático de Direito e tem em sua essência a promoção do bem comum por meio dos princípios aplicados à teoria processual. Esse poder deve buscar estratégias e criar soluções para os conflitos com uma visão sistêmica, com o propósito de girar o movimento da cultura de paz e garantir o acesso à justiça com mais celeridade e efetividade. A mediação é um dos métodos de resolução de conflitos que apre- senta mais celeridade, menos burocracia, mais eficiência e proporciona um potencial impacto para uma cultura de paz, diminuindo o desgaste das jornadas processuais para as partes envolvidas. A mediação de conflitos é definida por Pinho (2005, p. 108) como “o processo por meio do qual os litigantes buscam o auxílio de um terceiro imparcial que irá contribuir na busca pela solução do conflito”. Pinho prossegue ressaltando que “esse terceiro não tem a missão de decidir, mas de ajudar as partes na missão de encontrarem uma solução con- sensual”. O autor ressalta, ainda, que o papel do interventor é ajudar na comunicação através da neutrali- zação de emoções, formação de opções e negociação de acordos. (...) pois funciona como um catalisador de disputas, ao conduzir as partes às suas soluções, sem propriamente interferir na substân- cia destas. (PINHO, 2005, p. 108) A mediação envolve princípios, etapas, métodos extrajudiciais, intra- organizacionais e vantagens, conforme apresentaremos nos próximos tópicos. PARA SABER MAIS Durante o procedimento de mediação, o mediador faz uso de técnicas de negociação, que serão escolhidas e aplicadas de acordo com as necessidades dos envolvidos e seus conflitos, buscando o êxito nos resultados e a satisfação das partes. O rapport, a escuta ativa, a recon- textualização, a validação de sentimentos, o afago, a sessão privada e 43 Mediação como método de pacificação organizacional e social M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. a inversão de papéis são algumas das técnicas utilizadas ao longo do procedimento de mediação em busca de solucionar os conflitos de na- tureza familiar, proporcionando a melhora da comunicação e da relação entre os mediados. 1 Princípios da mediação A mediação é uma técnica consensual de solução de conflitos que tem por objetivo solucionar pacificamente as divergências entre as par- tes. É mais complexa que a conciliação e conta com procedimentos e técnicas próprios, buscando fortalecer a relação e preservar os laços de confiança. Desenvolvida por muito tempo sem o amparo de uma base legal, a mediação teve sua metodologia e seus procedimentos baseados em princípios que foram construídos segundo a definição de vários doutrinadores. Para melhor defini-la, contamos com a Lei no 13.140/2015, a Lei da Mediação, que disciplina mediação judicial e extrajudicial (BRASIL, 2015b). Essa lei foi o resultado de vários projetos que envolviam o tema, trazendo aspectos comuns à mediação judicial e extrajudicial e inovando no trato dos conflitos que envolvem as pessoas jurídicas de direito público. Verificamos na atualidade, além da lei já citada, um estímulo à prática da mediação, especialmente com a edição do Novo Código de Processo Civil, que trouxe diversos dispositivos sobre a matéria, especialmente na Seção V, Capítulo III, Título IV, Livro III, Parte Geral e no Capítulo V, Livro I, Parte Especial. A esse respeito, também merece destaque a resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça. Na mediação, a comunicação é facilitada pelo mediador, que busca a pacificação, mesmo que não haja a celebração do acordo. É de extrema 44 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .importância avaliar os princípios que envolvem o tema da atividade exer- cida pelo mediador envolvido no caso, interpretando, aplicando a lei e au- xiliando na administração das emoções vivenciadas dentro dos conflitos. A jurista Fernanda Marinela (2012, p. 25) traz o conceito dos princípios: Assim, os princípios são mandamentos de otimização, normas que ordenam a melhor aplicação possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes, portanto, a sua incidência depende de ponderações a serem realizadas no momento de sua aplicação. Existindo para o caso concreto mais de um princípio aplicável, es- ses não se excluem. (MARINELA, 2012, p. 25) Os princípios estão previstos no art. 2 da Lei no 13.140/2015, como segue: Art. 2º A mediação será orientada pelos seguintes princípios: I. imparcialidade do mediador; II. isonomia entre as partes; III. oralidade; IV. informalidade; V. autonomia da vontade das partes; VI. busca do consenso; VII. confidencialidade; VIII. boa-fé. § 1º Na hipótese de existir previsão contratual de cláusula de me- diação, as partes deverão comparecer à primeira reunião de me- diação. § 2º Ninguém será obrigado a permanecer em procedimento de mediação (BRASIL, 2015b). 45 Mediação como método de pacificação organizacional e social M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Os princípios são regras que explicam a razão de ser das normas existentes; são guias que orientam a elaboração de normas que estão por vir e elementos de integração do direito quando nos deparamos com as lacunas. Veremos a seguir os princípios que norteiam a media- ção de conflitos. 1.1 Imparcialidade do mediador O princípio da imparcialidade é de extrema importância e vem descri- to no conceito de mediação, uma vez que é determinante que as partes elejam um terceiro imparcial que auxiliará na condução do diálogo, res- taurando a comunicação com ou sem acordo. A imparcialidade é requisito indispensável para qualquermétodo de resolução de conflitos que busque a justiça, sendo fundamental ao me- diador e demais partes. A comunicação deve ser pacificadora e demons- trar credibilidade. Art. 1º, anexo III, da Resolução Nº 125, – São princípios fundamen- tais que regem a atuação de conciliadores e mediadores judiciais: confidencialidade, decisão informada, competência, imparcialida- de, independência e autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes, empoderamento e validação. [...] IV – Imparcialidade – dever de agir com ausência de favoritismo, preferência ou preconceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram no resultado do trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e jamais aceitando qualquer espécie de favor ou presente; [...]. (CNJ, 2010) A Lei da Mediação, Lei no 13.140/2015, em seu art. 5, fortalece o princípio da imparcialidade, disciplinando que: Art. 5º. Aplicam-se ao mediador as mesmas hipóteses legais de impedimento e suspeição do juiz. 46 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Parágrafo único. A pessoa designada para atuar como mediador tem o dever de revelar às partes, antes da aceitação da função, qualquer fato ou circunstância que possa suscitar dúvida justifica- da em relação à sua imparcialidade para mediar o conflito, oportu- nidade em que poderá ser recusado por qualquer delas. Art. 173. Será excluído do cadastro de conciliadores e mediadores aquele que: […] II. atuar em procedimento de mediação ou conciliação, apesar de impedido ou suspeito. (BRASIL, 2015b) A comunicação é fator essencial na mediação e deve ser cuidadosa, pois tem o poder de manipulação quando conduzida de forma inade- quada ou persuasiva, levando o mediador a posicionar-se favorável por uma das partes, o que compromete a resolução dos conflitos. A imparcialidade deve ser transparente às partes, para gerar confian- ça no mediador e no próprio procedimento. Diversos cuidados devem ser tomados durante a sessão de mediação: dar a mesma atenção a ambas as partes, manter as cadeiras equidistantes e à mesma altura, considerar igualmente o que é dito pelas partes, etc. (ROSA, 2012). IMPORTANTE O Código de Processo Civil (CPC) estabelece: Art. 170. No caso de impedimento, o conciliador ou media- dor o comunicará imediatamente, de preferência por meio eletrônico, e devolverá os autos ao juiz do processo ou ao coordenador do centro judiciário de solução de conflitos, devendo este realizar nova distribuição. Parágrafo único. Se a causa de impedimento for apurada quando já iniciado o procedimento, a atividade será inter- rompida, lavrando-se ata com relatório do ocorrido e soli- citação de distribuição para novo conciliador ou mediador (BRASIL, 2015a). 47 Mediação como método de pacificação organizacional e social M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 1.2 Isonomia entre as partes O princípio da isonomia entre as partes está previsto na legislação bra- sileira na Constituição Federal (CF), no art. 5, caput e inciso I; e 37, caput, também encontrando abrigo no art. 139, I, do CPC, e de forma expressa no art. 2 da Lei de Mediação: “A mediação será orientada pelos seguintes princípios: [...] II “ isonomia entre as partes;” (BRASIL, 1988). Bueno (2016) define o princípio da isonomia por meio da figura do ma- gistrado representando o Estado-juiz, que tem o dever de tratar as partes de forma igualitária para que todos tenham as mesmas possibilidades de manifestação, expressão e oportunidade de dialogar, tendo a escuta necessária para validar seus interesses durante o curso do processo. A não observância do princípio da isonomia compromete todo o pro- cesso de mediação e pode causar grandes danos, ampliando os confli- tos e evidenciando mágoas entre as partes. 1.3 Autonomia de vontade entre as partes O mediador não oferece a resposta para resolver o conflito; ele di- reciona o diálogo para que as partes encontrem um caminho que leve ao entendimento e à possível solução. Esse direcionamento, além de imparcial, deve garantir a independência e a autonomia de vontade dos envolvidos. Nessa condução, temos também a autonomia do mediador, para que não haja desconforto na mediação. Rosa (2012) explica que, pelo princípio da independência e da au- tonomia, o mediador tem direito de atuar sem a influência de qualquer pressão. Para tanto, ele tem a faculdade de se recursar a atuar no caso, de suspender ou de interromper a sessão de mediação se entender que não há, naquele momento, condições adequadas à atuação. Ele tam- bém não é obrigado a redigir um acordo que seja ilegal ou inexequível – por exemplo, ele não é obrigado a redigir um acordo em que uma mulher seja proibida de ver o filho para sempre (acordo ilegal). 48 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Art. 1º, anexo III, da Resolução Nº 125, – São princípios fundamen- tais que regem a atuação de conciliadores e mediadores judiciais: confidencialidade, decisão informada, competência, imparcialida- de, independência e autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes, empoderamento e validação. [...] V – Independência e autonomia – dever de atuar com liberdade, sem sofrer qualquer pressão interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou interromper a sessão se ausentes as con- dições necessárias para seu bom desenvolvimento, tampouco havendo dever de redigir acordo ilegal ou inexequível; (CNJ, 2010) Por outro lado, a Lei de Mediação traz, no art. 2, V, a autonomia sob a ótica das partes: “A mediação será orientada pelos seguintes princí- pios: [...] V – autonomia da vontade das partes;” (BRASIL, 2015b). As partes possuem autonomia com embasamento legal, não sendo obrigadas a permanecer no processo de mediação e podendo celebrar acordos, recursar o mediador e escolher outro de sua preferência e de- finir regras para o procedimento da mediação. 1.4 Princípio da oralidade O princípio da oralidade traz a importância da comunicação transpa- rente entre emissor e receptor para a uma boa compreensão da exposi- ção e um bom entendimento da situação. 1.5 Princípio da informalidade O princípio da informalidade possibilita a construção de procedimen- tos de acordo com a situação, uma vez que não há procedimentos e normas fixas; os padrões mínimos são direcionadores presentes na Lei da Mediação no 13.140/2015 (BRASIL, 2015b). 49 Mediação como método de pacificação organizacional e social M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 1.6 Princípio da confidencialidade O princípio da confidencialidade envolve o sigilo das informações que circulam e diz respeito aos documentos, propostas ou decisões, seja antes, durante ou depois de concluída a mediação.1.7 Princípio de busca de consenso A mediação é um método de solução de conflitos que deve terminar sempre em consenso. O resultado se dá pelas partes, por suas vonta- des, sem intervenção de outra pessoa, e elas devem se submeter a uma decisão conjunta, sem a intenção de prejudicar o outro. 1.8 Princípio da boa-fé O princípio da boa-fé é extremamente importante, já que sua ausên- cia pode comprometer o andamento da mediação. Refere-se à hones- tidade, à sinceridade, à lealdade e à justiça na busca pela solução dos conflitos. 2 Etapas de mediação A mediação é um procedimento flexível e consensual no qual as par- tes buscam um terceiro para facilitar a comunicação, auxiliar no diálogo e caminhar para a solução do conflito. Basicamente, suas etapas se dividem em: pré-mediação, compreensão do caso e resolução. Alguns autores trazem estas etapas com mais abrangência, como Demarchi (2007, p. 171-179), que classifica a pré-mediação como etapa prepara- tória e divide o que chama de “mediação propriamente dita” em cinco etapas: 1) acolhida; 2) declaração inicial das partes; 3) planejamento; 4) esclarecimentos dos interesses ocultos; 5) negociação do acordo. 50 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . A acolhida é o momento em que o mediador recebe as partes, inicia o contato com as orientações sobre os procedimentos de mediação e cria um ambiente de confiança e respeito, para que todos sintam-se seguros e à vontade. Em seguida, temos a declaração inicial das partes, que passam a expor a situação e o contexto que culminou no conflito. O mediador faz um resumo de toda a explanação feita pelas partes, a fim de que todos entendam com maior clareza os pontos de conflitos e a amplitude do que envolve as partes, além de um planejamento das reuniões. Pela flexibilidade que compõe o método, cabe ao mediador encontrar o momento oportuno, de acordo com a necessidade apresen- tada nos fatos, para os esclarecimentos de interesses que não estejam visíveis inicialmente, mas que possam comprometer a resolução. A próxima etapa é a negociação do acordo; aqui, as partes são es- timuladas à exposição de possíveis soluções, ou seja, são orientadas pelo mediador a propor soluções que tragam a pacificação e que solu- cionem os conflitos. Segundo Moore (1995, p. 245): [...] é importante para os mediadores explorarem, com as partes, os padrões e critérios específicos que eles estão usando ao deter- minar a possibilidade de aceitação de um acordo. A compreensão de sua estrutura conceitual pode ajudar o interventor a trabalhar com sucesso dentro da própria visão de mundo das partes, inter- pretar a lógica de uma das partes para as outras e, finalmente, facilitar o acordo. Por fim, temos a instrumentalização e redação do acordo ou do ter- mo de encerramento da mediação, caso não se tenha um consenso no litígio – e o mediador deve sempre orientar as partes a respeito da con- vivência pacífica e harmônica na busca da solução do conflito. Martinelli (2015, p. 1) destaca que a negociação é um método que busca tornar 51 Mediação como método de pacificação organizacional e social M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. as relações contínuas, procurando sempre os objetivos em comum dos envolvidos e entendendo que satisfazer todos os interessados é vital para que haja uma negociação de sucesso. 3 Mediação judicial e extrajudicial A mediação judicial vem sendo amplamente utilizada nos tribunais como forma de desafogar o Judiciário da quantidade exorbitante de processos e da morosidade nas decisões, constituindo um método com viabilidade para a aceleração da solução dos conflitos. O chamado “movimento universal de acesso à justiça” pode ser ob- jeto de pesquisa em diversos compartimentos das ciências sociais; po- rém, no direito, ele assume um enfoque que repudia o formalismo jurí- dico, preconizando a inserção de componentes reais em sintonia com a realidade e contexto social. Segundo Leite (2008, p. 148), a concepção tridimensional do direito leva em consideração não apenas a norma em si, mas os fatos e os valores que a permeiam. A mediação judicial corresponde ao tipo de mediação que, em regra, ocorre durante o curso de um processo ou ainda na fase pré-proces- sual, por requerimento das partes ou designação do juízo, obedecendo estritamente os critérios estabelecidos na Lei no 13.140/2015 e nas nor- mas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do respectivo Tribunal de Justiça (BRASIL, 2015b). A Lei no 13.140/2015, em seu art. 11, estabelece critérios quanto ao exercício da função de mediador judicial e, nos art. 14 a 20, as diretrizes para o procedimento de mediação, sua condução e sua formalização (BRASIL, 2015b). Na mediação extrajudicial, o mediador é escolhido pelas partes, que espontaneamente buscam o método para a solução da divergência, preservando os relacionamentos, com previsão legal no art. 9 da Lei no 13.140/2015. O mediador deve ser uma pessoa capaz, que tenha a 52 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . confiança das partes e seja capacitada para o exercício da mediação. As partes podem ainda ser acompanhadas por um advogado ou defen- sor público; se uma das partes for assistida por um profissional, todas as demais também devem ser (BRASIL, 2015b). PARA PENSAR A Lei no 13.140/2015 traz a seguinte definição no artigo 1: “Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia” (BRASIL, 2015b). Pense sobre a importância de uma solução pacífica e que traga benefí- cios para as partes, como a diminuição dos custos financeiros e emo- cionais do processo, que poderia ser moroso junto ao Judiciário. 4 Mediação intraorganizacional O ambiente organizacional é formado por um conjunto de pessoas que podem apresentar divergências e consequentes conflitos, causan- do insegurança, instabilidade emocional e impacto no desenvolvimento organizacional. Braga Neto (2011) reitera sobre este assunto que: Tais conflitos, caso resultem em número muito elevado, compro- metem o crescimento e a evolução natural da própria empresa, criando um círculo vicioso que se autoalimenta, resultando na perda da competitividade da empresa, grupo de empresas ou cor- porações. Tal fato é decorrente da forma negativa em que, interna- mente, o conflito não somente é encarado, mas sobretudo como é administrado. Nestes casos, é muito comum a negação de que ele exista, pela fuga ou omissão. Por outro lado, perde-se muito tempo na sua resolução em reuniões infrutíferas, exigindo de seus dirigentes decisões próprias desgastantes ou pelo menos um en- caminhamento para as mesmas, acarretando forma impositiva de 53 Mediação como método de pacificação organizacional e social M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em cursode Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. fazer valer o respeito à hierarquia e ao poder, o que sem dúvida agravará ainda mais o conflito. (BRAGA NETO, 2011, n. p.) A mediação pode acelerar a resolução dos conflitos e facilitar os resultados, gerando impacto nas relações internas das empresas, pois tem como objetivo primordial manter o bom relacionamento entre os envolvidos. O art. 2 da Lei no 13.140/2015 prevê, na mediação, a confi- dencialidade como um de seus princípios norteadores, gerando confian- ça durante todas as etapas até a finalização (BRASIL, 2015b). PARA SABER MAIS A origem da mediação remonta à China Antiga, com os ideais e pensa- mentos do ilustre filósofo e político Confúcio – ou seja, desde os tem- pos mais antigos as comunidades já utilizavam o método da mediação para resolver os conflitos. 5 Vantagens da mediação A mediação apresenta vantagens claras, que são fundamentais para a solução dos conflitos: a rapidez, a economia, o sigilo, a construção de uma relação hamônica e pacífica e a diminuição do excesso de proces- sos que sobrecarregam o Judiciário. Todos são beneficiados com a utilização do método, que proporcio- na também um menor desgaste emocional durante o processo de ne- gociação e possibilita a realização judicial ou extrajudicialmente, cons- truída de acordo com os parâmetros necessários para a boa condução e solução dos conflitos entre as partes. 54 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Considerações finais A mediação é um método que traz diversos benefícios. Apesar de ser utilizada há algum tempo, a regulamentação pela Lei no 13.140/2015 (BRASIL, 2015b) trouxe mais segurança por meio dos princípios norte- adores, que são a base para a sua implementação. Como forma pacífi- ca de solução de conflitos, apresenta celeridade e total economicidade quanto aos custos financeiros, além de diminuição dos desgastes emo- cionais que muitas vezes são causados pela demora junto ao Judiciário. A transparência da comunicação e das informações contribui para que as partes sejam mediadas da melhor forma, em busca de um acor- do que minimize as possíveis perdas em razão dos conflitos apresen- tados. E é do mediador o papel fundamental nesse exercício; assim, ele deve agir com credibilidade, honestidade e cumprir os princípios exigi- dos pela Lei da Mediação. Referências BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 23 ago. 2021. BRASIL. Lei no 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 2015a. Disponível em: http://www.planal- to.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 25 ago. 2021. BRASIL. Lei no 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposi- ção de conflitos no âmbito da administração pública; altera a Lei no 9.469, de 10 de julho de 1997, e o Decreto no 70.235, de 6 de março de 1972; e revoga o § 2o do art. 6o da Lei no 9.469, de 10 de julho de 1997. Brasília, DF: Presidência da República, 2015b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2015-2018/2015/lei/l13140.htm. Acesso em: 25 ago. 2021. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03 http://www.planal http://www.planalto.gov 55 Mediação como método de pacificação organizacional e social M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do processo civil. São Paulo: Editora Saraiva, 2016. BRAGA NETO, Adolfo. A mediação de conflitos e suas diferenças com a con- ciliação. Conselho Nacional de Justiça, Brasília, 2011. Disponível em: https:// www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2011/02/ARTIGO%20Adolfo_MEDIACAO_ CONCILIACAO_FEV_20111.pdf. Acesso em: 4 set. 2021. BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução no 125, de 29 de novembro de 2010. Dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providên- cias. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/files/compilado160204202007225f- 1862fcc81a3.pdf. Acesso em: 1 set. 2021. DEMARCHI, Juliana. Mediação – proposta de implementação no processo ci- vil brasileiro. 2007. 239 p. 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