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Capítulo 7 
Greve e 
considerações 
sobre condutas 
antissindicais 
Ao longo deste capítulo vamos abordar aspectos relevantes sobre o 
direito de greve, lockout, as fundamentações legais, características e a 
responsabilização diante dos danos que podem ser causados a outra 
pessoa ou ao empregador. 
Como uma garantia constitucional, um direito com previsão legal, a 
greve constitui notadamente uma forma de liberdade e expressão, con-
textualizada na busca pela efetivação de alguns direitos que se defla-
gram na necessidade de melhores condições de trabalho e de salários, 
entre outras solicitações relevantes. 
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A greve traz um contexto histórico no qual o empregado utiliza meios 
para “forçar” o empregador a ceder diante das suas proposições. A or-
ganização sindical é quem tem a legitimidade para essa atuação, mes-
mo a titularidade para o movimento sendo do empregado; esse enten-
dimento se deve à atribuição dada aos sindicatos para a negociação 
coletiva. 
Iniciaremos apresentando os conceitos e a base de fundamentação 
legal, dando sequência às considerações que envolvem o tema central 
desta obra. 
1 Conceito de greve e lockout 
O direito de greve está assegurado na Constituição Federal (CF) 
(BRASIL, 1988) e foi regulamentado na Lei no 7.783/89 (BRASIL, 1989), 
que dispõe sobre o direito, definindo atividades essenciais e urgentes e 
demais tópicos relevantes. A mesma lei prevê o lockout e suas conse-
quências pela paralisação realizada pelo empregador. Seguiremos con-
ceituando ambos com as características e particularidades de cada um. 
1.1 Greve 
A greve é um fenômeno de estudo das ciências sociais que pode ser 
analisado tanto mundialmente quanto no Brasil, ao longo da história, as-
sociando-se ao exercício coletivo de direito, liberdade ou delito, a partir 
do ponto de vista, admitindo ou proibindo-se. 
A palavra “greve” tem origem no termo francês grève, ambos com o 
mesmo sentido. Ela ganhou esse significado por causa da antiga Place 
(praça) de Grève, em Paris, às margens do Sena. Esse local era um porto 
para onde iam os homens sem trabalho e em busca de uma oportuni-
dade ou um serviço temporário como carregador. Assim, “ir à Grève” 
significava estar sem trabalhar. 
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Segundo Leite (2020, p. 223), a origem da greve envolve vários fatos 
históricos e traz consigo a origem precoce dos movimentos coletivos 
dos trabalhadores; no entanto, esses primeros movimentos não podem 
ser caracterizados como greve, pois, em todos eles, não havia a estrutu-
ra moderna das relações de trabalho, uma vez que o sistema social era 
nitidamente escravista ou servil. 
Na perspectiva legal, a greve é contextualizada na CF no art. 9 
(BRASIL, 1988), que assegura ao empregado o exercício ao direito de 
greve, e no art. 2 da Lei no 7.783/89, definida como “suspensão coletiva, 
temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços 
a empregador” (BRASIL, 1989). É utilizada como uma forma de protesto 
do empregado contra o empregador, a fim de forçar a aceitação das 
reivindicações, independente se vinculadas aos salários, benefícios ou 
condições de trabalho. 
Para Martins (2011), a greve 
Trata-se de suspensão coletiva, pois a suspensão do trabalho por 
apenas uma pessoa não irá constituir greve” [...] “A suspensão do 
trabalho deve ser temporária e não definitiva, visto que se for por 
prazo indeterminado poderá acarretar a cessação do contrato de 
trabalho” [...] [e que] “A paralisação deverá ser feita de maneira pa-
cífica, sendo vedado o emprego de violência. As reivindicações de-
verão ser feitas com ordem, sem qualquer violência a pessoas ou 
coisas. (MARTINS, 2011, p. 868) 
A greve, ou paralização do trabalho, poderá ser de maneira total ou 
parcial, podendo envolver toda a empresa ou apenas alguns setores, 
ou mesmo seções. De acordo com a CF, a greve é considerada como 
um direito social, uma garantia fundamental, tratando-se de um instru-
mento de efetivação do direito à negociação coletiva, com vistas a ga-
rantia do direito da pessoa humana na busca por melhores condições 
de trabalho e qualidade de vida. Leite (2008, p. 1.074) define como uma 
forma de solução de conflitos coletivos e constitui um meio de autode-
fesa ou um instrumento de pressão econômica e política conferido aos 
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.trabalhadores socialmente organizados. O autor ressalta ainda que não 
é a greve em si que soluciona o conflito, pois a greve possui natureza 
instrumental, mas sim as normas autocompositivas e heterocompositi-
vas que certamente dela – greve – surgirão. 
1.2 Lockout 
Lockout é uma expressão inglesa que significa trancar, fechar, travar 
algo. Podemos dizer que se trata da “greve” do empregador – e, pelas 
análises realizadas na legislação, contemplamos que o exercício da gre-
ve é de titularidade dos empregados (CF, art. 9). 
Temos posicionamentos divergentes de alguns países sobre o 
lockout: 
• A Constituição mexicana, de 1919, traz a previsão da possibilidade 
de lockout no art. 123, condicionando seu exercício à autorização 
prévia do Estado. 
• A legislação francesa considera a licitude do lockout desde que 
decorrente de força maior ou da cláusula exceptio non adimpleti 
contractus. 
• A Constituição de Portugal determina a proibição do lockout 
(art. 58, n. 3). 
No Brasil, a Constituição de 1937 tratou do tema lockout e o proibiu, 
considerando-o nocivo ao trabalho e ao capital e incompatível com os 
superiores interesses da produção nacional, inviável ao desenvolvimen-
to econômico (art. 139, 2a parte). 
A Lei no 7.783/89, em seu art. 17, proíbe e define o lockout da seguin-
te forma: 
Art. 17. Fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa 
do empregador, com o objetivo de frustrar negociação ou dificul-
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tar o atendimento de reivindicações dos respectivos empregados 
(lockout). 
Parágrafo único. A prática referida no caput assegura aos traba-
lhadores o direito à percepção dos salários durante o período de 
paralisação. (BRASIL, 1989) 
Embora haja semelhança entre a greve e o lockout, não constitui 
uma inconstitucionalidade a sua vedação, uma vez que não há igualda-
de entre empregadores e empregados. É importante analisar os princí-
pios que norteiam o direito do trabalho,entre eles a proteção do econo-
micamente mais fraco; assim, a paralisação por parte do empregador, 
segundo a Lei no 7.783/89, pode prejudicar a negociação coletiva com 
os trabalhadores. 
O Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943 (CLT), já previa pena-
lidades a empregadores que fizessem uso do lockout sem autorização 
prévia ou desrespeitassem decisões proferidas em dissídio coletivo. 
Art. 722 – Os empregadores que, individual ou coletivamente, sus-
penderem os trabalhos dos seus estabelecimentos, sem prévia 
autorização do Tribunal competente, ou que violarem, ou se recu-
sarem a cumprir decisão proferida em dissídio coletivo, incorrerão 
nas seguintes penalidades: 
a. multa de cinco mil cruzeiros a cinquenta mil cruzeiros; 
b. perda do cargo de representação profissional em cujo 
desempenho estiverem; 
c. suspensão, pelo prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, do 
direito de serem eleitos para cargos de representação 
profissional. 
§ 1º – Se o empregador for pessoa jurídica, as penas previstas nas 
alíneas “b” e “c” incidirão sobre os administradores responsáveis. 
§ 2º – Se o empregador for concessionário de serviço público, as 
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.penas serão aplicadas em dobro. Nesse caso, se o concessionário 
for pessoa jurídica, o Presidente do Tribunal que houver proferido 
a decisão poderá, sem prejuízo do cumprimento desta e da aplica-
ção das penalidades cabíveis, ordenar o afastamento dos adminis-
tradores responsáveis, sob pena de ser cassada a concessão. 
§ 3º – Sem prejuízo das sanções cominadas neste artigo, os em-
pregadores ficarão obrigados a pagar os salários devidos aos seus 
empregados, durante o tempo de suspensão do trabalho. (BRASIL, 
1943) 
Algumas situações não são consideradas lockout: 
1. a paralisação definitiva, por razões econômicas ou financeiras, 
como a falência, a desapropriação, o factum principis; 
2. a paralisação provisória, pela força maior ou por necessidade, 
como a recuperação judicial, inundações, etc. 
PARA PENSAR 
A greve pode derrubar governos ou causar prejuízos 
Os objetivos das greves são trabalhistas e, em geral, buscam a obten-
ção de benefícios ou evitar a perda dos que a categoria já possui, como 
aumento de salário, qualidade de vida e melhoria das condições de tra-
balho. Mas uma greve também pode ter objetivos políticos, implícitos 
ou explícitos – foi o caso da greve dos trabalhadores de Gdansk, na 
Polônia, conduzida por Lech Walesa, em 1980, que derrubou o governo 
ditatorial daquele país e, depois, contribuiu para a queda dos governos 
comunistas do Leste europeu. 
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2 Fundamento constitucional e legal da 
greve 
A CF traz, em seu art. 9, o fundamento e a disposição legal sobre a 
garantia do direito de greve aos trabalhadores, resguardando a eles a 
decisão sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os pontos de interes-
ses que por meio dela defendam. 
Art. 9º - É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalha-
dores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interes-
ses que devam por meio dele defender.    
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá 
sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.    
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da 
lei. (BRASIL, 1988)  
Os requisitos formais para a efetivação do direito de greve encon-
tram-se estabelecidos na Lei no 7.783/89 e correspondem à: 
• negociação prévia; 
• assembleia dos empregados, de acordo com estatuto sindical, 
para decidir sobre a paralisação; 
• comunicação aos empregadores, respeitando o prazo de 48 ho-
ras para atividades não essenciais e 72 horas para atividades es-
senciais (BRASIL, 1989). 
3 Características da greve 
Conforme artigo 9, caput da CF, a titularidade do direito de greve é 
dos trabalhadores, pois a eles compete a decisão sobre a oportunidade 
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.do exercício e sobre os interesses que por meio dele busquem defender. 
Porém, a legitimidade para sua instauração pertence à organização sin-
dical dos trabalhadores, pois trata-se de um direito de natureza coletiva, 
conforme o texto do artigo 8, VI da CF. Desse modo, há a obrigatoriedade 
da participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho. 
O momento para o exercício tem decisão pertencente aos trabalha-
dores, conforme art. 1 da Lei no 7.783/1989 e art. 9, caput da CF. 
Art. 1º - Lei nº 7.783/1989 e art. 9º CF/1988 – É assegurado o di-
reito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a opor-
tunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio 
dele defender. 
A deflagração da greve ocorre quando, em Assembleia Geral 
Extraordinária especialmente convocada para esse fim, decide-se aca-
tar o indicativo de paralisação; então, deflagra-se ou ativa-se a greve e 
comando local de greve (CLG) é eleito para cuidar dos encaminhamen-
tos pertinentes ao desenrolar da greve e das etapas a serem seguidas. 
Quando a greve é deflagrada, temos a exclusão da figura da diretoria 
do sindicato, e as demandas da greve serão comandadas pelo CLG, que 
se responsabiliza por todas as atividades, sendo composto pelos mem-
bros da dir etoria do sindicato e por trabalhadores da base que queiram 
participar, eleitos em assembleia. 
Portanto, temos: 
• A titularidade do direito de greve é dos trabalhadores, pois apenas 
eles possuem a competência para decisão do momento em que 
se deve iniciar a greve e quais interesses a serem defendidos. 
• A legitimidade para a instauração da greve pertence à organização 
sindical dos trabalhadores, em virtude de ser um direito coletivo. 
Para que seja iniciada a greve, temos algumas etapas a serem segui-
das, conforme legislação sobre o tema, que determina a necessidade 
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da negociação coletiva, ou seja, uma forma de ajuste dos interesses en-
tre as partes na busca por uma solução capaz de atender aos anseios e 
às necessidades expressas. 
Art. 616, § 1º, CLT – Verificando-se recusa à negociação coletiva, 
cabe aos Sindicatos ou empresas interessadas dar ciência do fato, 
conforme o caso, ao Departamento Nacional do Trabalho ou aos 
órgãos regionais do Ministério do Trabalho e Previdência Social, 
para convocação compulsória dos Sindicatos ou empresas recal-
citrantes. (BRASIL, 1943) 
A greve iniciada sem que antes as partes tenham buscado, direta 
e pacificamente, solucionar o conflito apresenta ilicitude. Sendo frus-
tradas as tentativas conciliatórias, temos ainda a opção facultativa da 
arbitragem, conforme corpo do art. 3 da Lei no 7.783/1989,que diz: 
“Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via 
arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho”. Após essa etapa, 
temos a convocação da Assembleia Geral, realizada pela organização 
sindical, que definirá as reinvindicações, necessidades e a deliberação 
sobre a greve, conforme determinação do art. 4, Lei no 7.783/1989: 
Art. 4º Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na 
forma do seu estatuto, assembleia geral que definirá as reivindi-
cações da categoria e deliberará sobre a paralisação coletiva da 
prestação de serviços. 
§ 1º O estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades 
de convocação e o quórum para a deliberação, tanto da deflagra-
ção quanto da cessação da greve. (BRASIL, 1989) 
A legitimidade para o exercício do direito de greve é do sindicato, 
que representará os interesses dos trabalhadores nas negociações ou 
na Justiça do Trabalho. Em seguida, após a eliminação dessas eta-
pas, temos a previsão do prazo de antecedência mínima de 48 horas 
para notificar o sindicato patronal ou os empregadores diretamente 
interessados: 
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.Parágrafo Único, art. 3º Lei nº 7.783/1989 – A entidade patronal 
correspondente ou os empregadores diretamente interessados se-
rão notificados, com antecedência mínima de 48 (quarenta e oito) 
horas, da paralisação. 
Os serviços considerados de atividades essenciais devem respeitar 
o prazo de 72 horas: 
Art. 13 – Na greve, em serviços ou atividades essenciais, ficam as 
entidades sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso, obriga-
dos a comunicar a decisão aos empregadores e aos usuários com 
antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas da paralisação. 
(BRASIL, 1989) 
A CF determina quais são os serviços ou as atividades essenciais 
em seu artigo 9, § 1º, e dispõe sobre o atendimento das necessidades 
inadiáveis da comunidade – estando os serviços essenciais arrolados 
no artigo 10 da Lei no 7.783/1989, como segue: 
Art. 10 – São considerados serviços ou atividades essenciais: 
I. tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição 
de energia elétrica, gás e combustíveis; 
II. assistência médica e hospitalar; 
III. distribuição e comercialização de medicamentos e 
alimentos; 
IV. funerários; 
V. transporte coletivo; 
VI. captação e tratamento de esgoto e lixo; 
VII. telecomunicações; 
VIII. guarda, uso e controle de substâncias radioativas, 
equipamentos e materiais nucleares; 
IX. processamento de dados ligados a serviços essenciais; 
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X. controle de tráfego aéreo; 
XI. compensação bancária. 
Art. 11 – Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os 
empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acor-
do, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensá-
veis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. 
Parágrafo único. São necessidades inadiáveis da comunidade 
aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a so-
brevivência, a saúde ou a segurança da população. (BRASIL, 1989) 
Havendo greve que afete a sobrevivência, a saúde e a segurança da 
população, cabe ao Poder Público atender a essas necessidades, con-
forme art. 12 da Lei no 7.783/1989: “No caso de inobservância do dis-
posto no artigo anterior, o Poder Público assegurará a prestação dos 
serviços indispensáveis” (BRASIL, 1989). 
Outro fato a ser observado na greve diz respeito à abusividade desse 
direito, o que torna ilícita a organização ou execução da greve (lembran-
do sempre que a greve em si não é ilegal). Segundo Hermes Afonso 
Tupinambá Neto, é sabido que o abuso do direito, como conceitua a 
doutrina, importa no uso desmedido ou exagerado de um direito a ponto 
de incomodar ou causar prejuízo a outrem – prejuízo esse que, muitas 
vezes, pode ser de grande monta e até mesmo irreparável, causando 
danos à sobrevivência. 
Portanto, a greve será considerada ilegal ou abusiva quando não 
atender aos pressupostos legais, por falta de negociação prévia e por 
falta de comunicação antecipada ao empregador em todos os casos e 
à comunidade quanto às atividades essenciais. O artigo 9, §2º, da CF 
estabelece o princípio universal de que ninguém deve ser lesado ou co-
locado em risco, e os abusos cometidos durante o curso e andamento 
da greve trarão aos responsáveis consequências e penalidades legais. 
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4 Atribuições do sindicato 
Os sindicatos, como representantes dos interesses dos trabalhado-
res, são atores sociais que objetivam organizar e reivindicar, junto aos 
empregadores, benefícios e melhores condições aos empregados. A 
principal atribuição deles é a prática de negociações coletivas, sendo a 
greve um direito individual do trabalhador, mas, como já dito, de exercí-
cio coletivo declarado pelo sindicato. 
O caput do art. 9 da CF refere que o objeto da greve é a reivindica-
ção de melhores condições, em defesa dos interesses coletivos de um 
grupo de empregados. Os trabalhadores devem ser representados pelo 
sindicato correspondente (art. 8, III, da CF), que assume a posição de 
sujeito ativo do procedimento a ser instaurado; portanto, o sujeito da 
greve é o sindicato, a associação profissional ou uma comissão ou co-
letividade de empregados representados na busca por direitos. 
As atribuições do sindicato seguem a Lei no 7.783/89, que delimita 
os direitos grevistas. As atividades sindicais, conforme delineadas por 
Brito Filho (2000), compreendem 
o estudo das funções cometidas às entidades sindicais e às pesso-
as e grupos com atuação no campo das relações coletivas de tra-
balho, com destaque para a contratação coletiva, e a “atuação das 
organizações sindicais (...) quando da utilização dos meios de solu-
ção dos conflitos coletivos, bem como quando do uso dos instru-
mentos de ação sindical direta”. Dentro das atividades sindicais es-
tão incluídas, também, “as atividades que são desenvolvidas pelas, 
genericamente falando, organizações sindicais, sendo o sindicato, 
em sentido estrito, a principal delas”. (BRITO FILHO, 2000, p. 161) 
Na defesa dos interesses coletivos dos empregados, as organiza-
ções sindicais atuam na instauração e composição dos conflitos e 
dissídios coletivos, seja por meio da utilização da ação sindical direta, 
como a greve, ou pela via da negociação coletiva. 
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5 Caracterização do abuso de direito nas 
ações sindicais e situações abusivas no 
direito sindical 
O abuso de direito surge quando a ação apresenta atos ilícitos que 
afrontam a ordem jurídica, uma vez que o§2º do artigo 9 da CF prevê 
a punição dos grevistas que abusarem do direito de greve. Além disso, 
a Lei no 7.783/89 determina que a greve não poderá se sobrepor aos di-
reitos e garantias fundamentais. Os abusos terão impactos nas esferas 
trabalhista, civil e penal, e suas sanções serão proporcionais ao nível do 
abuso. Podemos exemplificar como abuso do direito de greve: 
1. O descumprimento do aviso prévio da paralisação. 
 Uma vez que não haja negociação com parecer favorável diante 
das reinvindicações, o prazo para que se inicie a paralização é 
de 48 horas para atividades normais e 72 horas para atividades 
essenciais; o descumprimento deste item corresponde a uma si-
tuação abusiva do direito de greve. 
2. A deflagração de greve sem assembleia geral. 
 A deflagração ocorre por iminência, ou seja, torna-se latente e ine-
vitável a paralização. Mas, para que aconteça, é regra que haja a 
assembleia geral especialmente convocada para esse fim. 
3. A ocupação ameaçadora de estabelecimentos. 
 Trata-se da invasão dos espaços pertencentes ao empregador, 
como ameaça e exercício de força. 
4. A realização de piquetes violentos. 
 O bloqueio não pacífico, utilizando métodos violentos, dos aces-
sos aos locais de trabalho, impedindo que outros adentrem ao 
ambiente do empregador. 
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.5. Sabotagem nas instalações e nas máquinas da empresa. 
 A sabotagem consiste na destruição de máquinas, matérias-pri-
mas e outros instrumentos de trabalho da empresa por parte dos 
trabalhadores. 
6. Agressão física. 
 Ação que provoca danos físicos e lesões aos envolvidos. 
7. Boicote aos serviços da empresa. 
 O boicote corresponde à oposição ou à obstrução ao negócio do 
empregador e à falta de cooperação por parte dos empregados. 
Todos os atos praticados durante o período de greve que configurem 
ilicitudes ou crimes deverão ser apurados de acordo com a esfera a que 
pertencerem; os abusos cometidos pelos empregados sofrerão penas 
aplicadas pelo artigo 482 da CLT (BRASIL, 1943), gerando, em seguida, 
dispensa por justa causa. 
6 Responsabilidade civil decorrente do 
abuso de direito 
A responsabilidade civil decorrente de abuso exige a ocorrência de 
ato ilícito que tenha nexo de causa e resultado a um dano, como de-
termina os artigos 186, 187 e 927 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 
2002, (Código Civil), podendo também ser encarado como ilícito o exer-
cício abusivo de um direito subjetivo. 
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência 
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao 
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exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim 
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo. (BRASIL, 2002) 
As excludentes de responsabilidade estão presentes quando os atos 
praticados são em legítima defesa ou no exercício regular de um direito 
reconhecido, já que não configuram ato ilícito conforme artigo 188, I, do 
Código Civil. 
Existem casos em que a responsabilização civil prescinde o ato ilíci-
to em hipóteses admissíveis somente quando a lei assim determinar ou 
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano impli-
car, por sua natureza, risco para os direitos de outra pessoa, de acordo 
com o artigo 927, parágrafo único, do Código Civil. 
Os atos ilícitos que são resultado de ação ou omissão, praticados du-
rante o movimento, podem ser realizados pelos dirigentes das organiza-
ções sindicais representativas, pelos empregados grevistas, entre outras 
pessoas que integrem o movimento. Observamos que há uma comple-
xidade das relações, com possibilidades ilimitadas de desdobramentos 
que resultem em atos ilícitos, segundo Sussekind (2002, p. 1.256). 
É admissível que a greve possa resultar em inúmeros atos ilícitos, 
ou que pode ser praticada com abuso. Mesmo sendo um direito a ser 
exercido, ela acarreta a responsabilização por eventuais danos causa-
dos, não sendo facultado ao sindicato nem aos grevistas a prática de 
atos violentos contra a vida ou patrimônio, como sabotagens, depre-
dações ou agressões. Reitera-se que os envolvidos podem responder 
civilmente por todos os atos praticados de forma nociva no decorrer do 
movimento grevista. 
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Considerações finais 
A legislação que aborda o tema sobre o exercício do direito de greve 
dos empregados traz o direito de manifestação com garantia consti-
tucional. Esse direito deve ser respeitado pelo empregador sob vários 
aspectos, não intervindo na divulgação, na manifestação ou forçando, 
por meio de ameaças, que os funcionários compareçam ao trabalho. Ao 
empregado é dado o direito legítimo à aderência ao movimento. 
Outro ponto crucial ao se tratar da greve é a responsabilização por 
atos ilícitos e danos causados que venham a afetar materialmente ou 
atentar contra a vida. Os envolvidos, quer sejam das organizações sin-
dicais ou empregados, poderão ser responsabilizados, mesmo em face 
do exercício dos seus direitos. 
A greve é uma importante ferramenta de liberdade de expressão na 
estrutura para resolução de um conflito, forçando o diálogo sobre as 
possibilidades e melhorias nas condições de trabalho; na ausência do 
acordo ou conciliação, ela força uma decisão. 
Referências 
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Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto.gov. 
br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 2 out. 2021. 
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das Leis do Trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ 
decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 1 out. 2021. 
BRASIL. Lei no 7.783, de 28 de junho de 1989. Dispõe sobre o exercício do 
direito de greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das ne-
cessidades inadiáveis da comunidade e dá outras providências. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.HTM. Acesso em: 2 out. 2021. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.HTM
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03
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BRASIL. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código 
Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ 
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LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito do trabalho. 12. ed. São Paulo: 
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TRINDADE, Washington Luiz da. A greve na atual Constituição brasileira. In: 
FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa (coord.). Curso de direito coletivo do tra-
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