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95 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 6 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais O direito do trabalho disciplina e regulamenta as demandas entre os sujeitos da relação trabalhista, que são definidos e apresentam funda- mentação legal por meio do Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como segue, in verbis: Art. 2º – Considera-se empregador a empresa, individual ou co- letiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. Art. 3º – Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependên- cia deste e mediante salário. (BRASIL, 1943) 96 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Empregados e empregadores são partes integrantes da negocia- ção coletiva. Diante da relevância histórica, social e política que envolve essa relação, em razão da especificidade e complexidade da matéria, existe a necessidade de um arcabouço jurídico que seja amplo e norteie as diferentes indagações e divergências que possam surgir. Os conflitos coletivos envolvendo empregados e empregadores que contemplam ações são os chamados dissídios coletivos, que podem ser jurídicos ou econômicos e atuam na busca por melhores condições de trabalho. Dentro da esfera trabalhista, os dissídios se relacionam com várias particularidades que são fruto de uma relação desigual, na qual o empregado quase sempre é o mais fragilizado. Na busca por harmonizar as relações entre empregados e emprega- dores, surgiram diferentes formas de composição dos conflitos coletivos. Destacam-se entre os principais meios de solução a autocomposição, a heterocomposição e a autodefesa, como vimos em capítulos anteriores. A negociação coletiva no ordenamento brasileiro é realizada por meio dos dissídios coletivos, nos quais o empregado é representado pelo sindicato. Esse é um processo utilizado para solucionar os inte- resses coletivos, criando ou modificando as condições de trabalho por meio da palavra do Poder Judiciário. Ao longo deste capítulo, vamos abordar a importância da negocia- ção coletiva pautada nos princípios e instrumento legais, as alterações ocorridas na legislação em face da reforma trabalhista, a legitimidade para propositura da ação e o poder normativo da Justiça do Trabalho. IMPORTANTE Os conflitos trabalhistas surgem a todo momento, sempre expressando interesses divergentes: os empregados desejam melhores condições de trabalho e qualidade de vida, enquanto os empregadores buscam maior lucratividade com menor dispêndio de recursos. É possível identificar a busca por interesses econômicos por parte dos empregadores, que 97 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. estabelecem uma relação de imposição na qual alguns empregados aceitam as condições impostas e outros buscam a informalidade para suprir as próprias necessidades e superar o desemprego. 1 Tipos de conflitos coletivos do trabalho Os conflitos coletivos de trabalho configuram o impasse, embate ou oposição entre os empregados, coletivamente considerados, e os respectivos empregadores, envolvendo as condições de trabalho a que estão expostos. Se, diante de um conflito coletivo, surge uma decisão, ela se estende a todos os trabalhadores de uma mesma empresa ou de determinada região. O direito do trabalho, doutrina majoritária que disciplina a relação entre os sujeitos empregado e empregador, classifica dois tipos de conflitos, a depender da relação da qual se originam. Os conflitos in- dividuais são divergências entre o empregado e o empregador acerca de condições de trabalho ou direitos e interesses individuais do empre- gado, previamente pactuados no contrato de trabalho que expressa os direitos e deveres de ambas as partes. Apresenta-se como um tipo de conflito individual que pode ser resolvido diretamente entre as partes. Quando figuram, na relação litigiosa, reclamante e reclamado, temos partes singulares; porém, é possível que haja a pluralidade de pessoas, constituindo o que chamamos de litisconsórcio, que pode ser ativo, pas- sivo ou misto. O litisconsórcio ativo ocorre quando duas ou mais pessoas se reú- nem para ajuizar uma ação em face de uma única pessoa. No litiscon- sórcio passivo, uma pessoa ajuíza em face de duas ou mais. E se ocor- rer o ajuizamento de duas ou mais pessoas contra outras duas ou mais, temos o litisconsórcio misto. São direitos idênticos que estão sendo 98 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . pleiteados, têm a mesma causa de pedir e, para economizar o dinheiro das custas, acontecem juntos, cada um com seus interesses perfeita- mente demarcados, ao contrário de conflitos coletivos, que apresentam interesses gerais. Os conflitos coletivos surgem das divergências de interesses, que não se limitam ao âmbito individual, mas se estendem à natureza cole- tiva. A sua violação acarreta danos coletivos, afetando interesses de um grupo de pessoas. Quando os interesses coletivos estão em conflito, afetam juridica- mente os membros de um grupo na defesa dos interesses individuais, pois estão ligados em uma relação comum a todos os membros do grupo. Para Nascimento (1988, p. 14), o interesse coletivo “é, portanto, o de um grupo de pessoas não nominadas, mas integradas numa única força de pretensão que é comum a todos”. Esses interesses pertencem a todos os integrantes do grupo e, quando ameaçados, afetam todos os membros e não pessoas isoladas. Assim, os interesses individuais podem ser reelaborados, podendo ou não estar em harmonia com o interesse coletivo, enquanto o interes- se coletivo poderá fazer a negação do interesse individual. O interesse coletivo tem previsão legal no art. 81, II da Lei no 8.078/1990, conforme se observa, in verbis: Art. 81 [...] II. Interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base. (BRASIL, 1990) 99 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Logo, conclui-se que os interesses coletivos são transindividuais e in- divisíveis, no sentido de que todos os membros de um grupo ou categoria podem usufruir ao mesmo tempo; e não são divididos em quotas-partes, uma vez que correspondemà síntese de interesses que o formaram e não a uma soma de interesses individuais. Quanto ao caráter transindi- vidual, temos a conflituosidade dos interesses coletivos atingindo uma coletividade de pessoas abrangidas por uma relação jurídica comum. A ameaça aos direitos coletivos deve ser um fato para que haja o conflito da mesma natureza – tendo em vista que tais direitos se refe- rem a sujeitos não identificados, mas organizados em um grupo deter- minado, ligados por uma pretensão comum. Leite (2008, p. 1.074) apresenta que o art. 842 da CLT traz, em seu contexto, a seguinte afirmação: “Sendo várias as reclamações e haven- do identidade de matéria, poderão ser acumuladas num só processo se se tratar de empregados da mesma empresa ou estabelecimento”; é possível identificar uma cumulação de conflitos que se ligam no plano subjetivo. Dessa forma, ressalta-se a importância da identificação dos tipos de conflitos, quer sejam individuais, quer coletivos, pois é a partir da natureza dos conflitos que se busca a melhor composição e resolução, primando pela manutenção da harmonia nas relações humanas em sociedade. 1.1 Conflitos jurídicos ou de direito Os conflitos jurídicos ou de direito têm por objetivo a interpretação ou aplicação da norma, ou seja, da lei, regulamentos da empresa ou cláusula normativa. Pressupõe-se uma fonte primária e, ao serem sub- metidos ao Poder Judiciário, recebem o nome de dissídios coletivos de natureza jurídica. 100 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 1.2 Conflitos de interesse ou econômico Os conflitos de natureza econômica visam a melhoria dos salários e remunerações, o que repercute sobre os ganhos. Denominados dis- sídios coletivos de natureza econômica, tem por objetivo modificar ou elaborar novas normas que assegurem novas condições de trabalho, segundo Martins (2002): Os conflitos econômicos são aqueles nos quais os trabalhadores reivindicam novas condições de trabalho ou melhores salários. Já nos conflitos jurídicos tem-se por objeto apenas a declaração da existência ou inexistência de relação jurídica controvertida, como ocorre em dissídio coletivo em que se declara a legalidade ou ilega- lidade da greve. (MARTINS, 2002, p. 709) 1.3 Conflitos de greve Os conflitos de greve correspondem a uma suspensão coletiva, tem- porária, pacífica, total ou parcial da prestação do trabalho ao emprega- dor, sendo reconhecida como direito de previsão constitucional de exer- cício coletivo. A greve é um instrumento de pressão dos empregados na busca por uma negociação e consequente evolução das relações ou divergências dos conflitos. Desse modo, a greve trata-se de um instrumento de efetivação do direito à negociação coletiva, com vistas a garantir os direitos da pessoa humana na busca por melhores condições de trabalho e qualidade de vida. Leite (2008) a define da seguinte forma: A greve, citada por alguns como forma de solução de conflitos coletivos, constitui, para nós, um meio de autodefesa ou um ins- trumento de pressão econômica e política conferido aos traba- lhadores socialmente organizados que possibilitará a solução do conflito. Vale dizer, não é a greve em si que soluciona o conflito, pois a greve possui natureza instrumental, mas sim as normas au- 101 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. tocompositivas e heterocompositivas que certamente dela – greve – surgirão. (LEITE, 2008, p. 1.074) A Constituição Federal (CF) de 1988 traz, em seu art. 9, a disposição sobre a garantia do direito de greve aos trabalhadores, resguardando a eles a decisão sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os pontos de interesses que por meio dele defendam (BRASIL, 1988). Os requisitos formais para a efetivação do direito de greve encon- tram-se estabelecidos na Lei no 7.783/89 e correspondem a uma nego- ciação prévia em assembleia dos empregados, de acordo com estatuto sindical, para decidir sobre a paralisação. Além disso, é necessária a comunicação aos empregadores, respeitando o prazo de 48 horas para atividades não essenciais e 72 horas para atividades essenciais. PARA PENSAR Abuso do Poder de Greve A definição de abuso do direito, que torna a greve abusiva, está previs- ta, genericamente, no artigo 14 da Lei no 7.783/89, a Lei de Greve, nos seguintes termos: “Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas na presente Lei, bem como a manutenção da para- lisação após a celebração de acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho” (BRASIL, 1989). O abuso de direito ocorre quando a greve é deflagrada com a inobser- vância das exigências do procedimento legal, pela não realização de as- sembleia para deliberação, falta de aviso prévio ao empregador e falta de comunicação prévia da greve aos usuários dos serviços essenciais. 2 Negociação coletiva A negociação coletiva caracteriza-se por uma forma de autocom- posição democrática com interesses profissionais e econômicos com 102 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .relevância social. Corresponde à principal forma de solução de conflitos extrajudiciais no direito coletivo do trabalho, com caráter normativo, e incorpora-se ao contrato individual de trabalho, prevalecendo os princí- pios que a norteiam: • O princípio da boa-fé ou da lealdade: apresenta o dever formal de negociar, sempre com atenção às informações necessárias para apresentar e justificar as propostas com interesses recíprocos, normas para melhoria das condições de trabalho e harmonia das relações entre as partes. • O princípio do conglobamento: impende vedação de invocar um prejuízo com base em objeção a uma cláusula sem a devida de- monstração de que esse prejuízo também é resultado da negocia- ção considerada de forma global em seu fim proposto ou aceito. • É dever das partes negociar em clima de paz, abstendo-se de gre- ve ou lockout em determinado período. • É dever das partes marcar previamente a negociação em relação à data-base. • É dever das partes declarar garantia formal de cumprimento dos compromissos relativos à negociação. Em paralelo, inclui-se o dever de adequação, por meio do qual as partes devem, racional- mente, proceder observando as possibilidades reais da economia como um todo e de cada empreendimento em particular. É importante ressaltar que a negociação coletiva não deve sobrepor o interesse da classe ao interesse público. Assim, os direitos básicos do trabalhador, como higiene, segurança do trabalho e integridade moral, com previsão legal na CF, ficam indisponíveis, não podem ser negocia- dos; apenas os direitos disponíveis podem ser negociados e disponibi- lizados em normas. 103 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e ocom partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Segundo Martinez (2019, p. 105), a sentença normativa é o ato de- cisório normativo que, diante da frustração da negociação coletiva ou da arbitragem coletiva, põe fim às divergências em torno das melhorias das condições de trabalho e de produção. As divergências são trazidas a juízo quando há desentendimento entre os sujeitos da negociação co- letiva frustrada – sindicatos das categorias profissionais e empresas, grupos de empresa ou sindicatos das categorias econômicas – no âm- bito dos chamados dissídios coletivos. 2.1 Convenção coletiva de trabalho e acordo coletivo de trabalho A partir da relação organizada e pactuada em valores éticos e em respeito aos direitos humanos, não predominando a lei do mais forte, mas a presença da responsabilidade na solução dos conflitos, temos o nascimento de dois instrumentos de negociação coletiva: a convenção coletiva e o acordo coletivo. O art. 611 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) define o que é a convenção coletiva de trabalho: Art. 611 Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho (BRASIL, 1943). A convenção coletiva de trabalho é o resultado de uma negociação realizada entre entidades sindicais, quer seja dos empregados ou dos respectivos empregadores. As convenções criam regras jurídicas que, mesmo sendo de direito privado, apresentam as primícias dos conflitos coletivos, preceitos abstratos, gerais e impessoais. Os acordos coletivos, segundo Delgado (2015, p. 1.473), do ponto de vista formal, são “acordos de vontade entre sujeitos coletivos sindicais” 104 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . e inscrevem-se na mesma linha dos negócios jurídicos privados bilate- rais ou unilaterais. Constituem um acordo de vontades entre as partes. Os acordos coletivos de trabalho têm previsão legal no artigo 611, §1o da CLT, in verbis: Art. 611 § 1º É facultado aos Sindicatos representativos de cate- gorias profissionais celebrar Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das acordantes respectivas relações de trabalho. (BRASIL, 1943) O acordo coletivo de trabalho seria então um pacto de caráter normativo pelo qual um sindicato representativo de certa categoria profissional e uma ou mais empresas da respec- tiva categoria econômica estipulam condições de trabalho aplicá- veis no âmbito das respectivas empresas, às relações individuais de trabalho. (DELGADO, 2015, p. 1474) A CF traz a necessidade de participação dos sindicatos no artigo 8, inciso VI; isso não se estende ou invalida os acordos coletivos de traba- lho, haja vista que as empresas por si só são entes coletivos, enquanto os trabalhadores necessariamente devem ser representados por meio dos sindicatos (BRASIL, 1988). 2.2 Data-base A data-base dos dissídios coletivos corresponde ao período anu- al no qual os empregadores e os empregados, representados pelos Sindicatos, se reúnem para analisar e rever os termos dos seus contra- tos coletivos de trabalho. É nesse período que os trabalhadores podem, de maneira coletiva e por intermédio do Sindicato, reivindicar e apresen- tar propostas quanto à revisão salarial, discutir os termos do acordo e/ ou a inclusão de novas cláusulas. São datas variáveis, de acordo com a categoria profissional, e o 1o dia do mês serve como início para vali- dação da aquisição dos direitos trabalhistas – ou seja: se o acordo é 105 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. fechado posteriormente à data base, os direitos são retroativos e seus efeitos incidem sobre o período já passado. 2.3 Vigência O acordo coletivo e a convenção coletiva têm vigência ou duração (tempo de vida) de no máximo 2 anos, conforme redação expressa no do artigo 614, § 3o da CLT: “Não será permitido estipular duração de Convenção ou Acordo superior a 2 (dois) anos, sendo vedada a ultra-ati- vidade”. A ultra-atividade ocorre quando uma lei é aplicada mesmo após o fim de sua vigência. No direito do trabalho, utilizamos esse termo para tratar das normas coletivas, da relação dessas normas coletivas e da perpetuação ou continuidade delas no tempo após o prazo de vigência ter se encerrado. Esse tema veio à tona novamente na Lei no 13.467, de 13 de julho de 2017 – com uma pequena alteração no parágrafo § 3o do artigo 614 da CLT, na parte final da redação, quando se acrescentou: “(...) sendo vedada a ultra-atividade”. 3 Negociado prevalecendo em face do legislado: possibilidades e limites da negociação coletiva O direito do trabalho busca a legitimação da relação entre empre- gados e empregadores, em sua forma jurídica, por meio dos contratos e regras firmadas entre as partes e pelos princípios da boa-fé, da dig- nidade da pessoa humana, da primazia da realidade, da norma mais favorável, da proteção e da irrenunciabilidade dos direitos. O direito do trabalho tem uma de suas bases fundamentada no prin- cípio da dignidade humana, que se faz presente nas relações trabalhis- tas impondo limites ao poder diretivo do empregador e vedando a dis- criminação por motivo racial, social e/ou religioso. Segundo Resende (2015), isso pode ser compreendido como: 106 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . A noção de que o ser humano é um fim em si mesmo, não podendo ser utilizado como meio para atingir determinado objetivo. Veda-se, assim, a coisificação do homem, e, no caso específico do direito laboral, a coisificação do trabalhador. Em outras palavras, não se admite seja o trabalhador usado como mero objeto, na busca inces- sante pelo lucro e pelos interesses do capital. (RESENDE, 2015 p. 20) Todos os princípios que norteiam o direito do trabalho buscam a pro- teção do empregado; porém, temos algumas mudanças implementa- das pela reforma trabalhista, principalmente no que tange à negociação coletiva. A negociação coletiva é um processo de solução de conflitos que tem por resultado a celebração de convenção coletiva de trabalho ou acordo coletivo de trabalho. Para sua realização, a CF estabeleceu, em seu art. 8, VI, a participação obrigatória dos sindicatos, uma vez que a empresa poderia ser considerada uma coletividade, demandando ao empregado a necessidade de representação: “Art. 8o É livre a associa- ção profissional ou sindical, observado o seguinte: VI – é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho” (BRASIL, 1988). A CF, no artigo 7, inciso XXVI, trouxe a valorização da negociação co- letiva com a finalidade de democratizare permitir que os trabalhadores participassem das decisões e da criação de normas que seriam aplica- das, favorecendo seus direitos; porém, ela flexibilizou prejudicialmente em dois casos: salário e jornada. Segundo Sérgio Pinto Martins, prevale- cia o negociado nos casos elencados nos incisos VI, VIII, XIV e XXVI, da referida legislação, mesmo antes da reforma trabalhista (BRASIL, 1988). A Lei no 13.467/2017, da reforma trabalhista, trouxe diferentes nor- mas para adequação às novas relações de trabalho. Foram incluídos os artigos 611-A e 611-B, que disciplinam a prevalência do que for pac- tuado em âmbito de acordo coletivo de trabalho (sindicato de trabalha- dores e empresa) e em convenção coletiva de trabalho (entre sindicato dos trabalhadores e sindicato patronal), sobre o legislado. 107 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Art. 611-A – A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: I. pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais; II. banco de horas anual; III. intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de 30 minutos para jornadas superiores a seis horas; IV. adesão ao Programa Seguro-Emprego (PSE), de que trata a Lei nº 13.189, de 19/11/2015; V. plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal do empregado, bem como identificação dos cargos que se enquadram como funções de confiança; VI. regulamento empresarial; VII. representante dos trabalhadores no local de trabalho; VIII. teletrabalho, regime de sobreaviso e trabalho intermitente; IX. remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado, e remuneração por desempenho individual; X. modalidade de registro de jornada de trabalho; XI. troca do dia de feriado; XII. enquadramento do grau de insalubridade; XIII. prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho; XIV. prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos em programas de incentivo; XV. participação nos lucros ou resultados da empresa. 108 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .1º – No exame da convenção coletiva ou do acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho observará o disposto no § 3º do art. 8º desta Consolidação. 2º – A inexistência de expressa indicação de contrapartidas recí- procas em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho não ensejará sua nulidade por não caracterizar um vício do negócio ju- rídico. 3º – Se for pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a convenção coletiva ou o acordo coletivo de trabalho deverão prever a proteção dos empregados contra dispensa imotivada durante o prazo de vigência do instrumento coletivo. 4º – Na hipótese de procedência de ação anulatória de cláusula de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, quando hou- ver a cláusula compensatória, esta deverá ser igualmente anulada, sem repetição do indébito. 5º – Os sindicatos subscritores de convenção coletiva ou de acor- do coletivo de trabalho deverão participar, como litisconsortes ne- cessários, em ação individual ou coletiva, que tenha como objeto a anulação de cláusulas desses instrumentos. Art. 611-B – Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a re- dução dos seguintes direitos: I. normas de identificação profissional, inclusive as anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social; II. seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; III. valor dos depósitos mensais e da indenização rescisória do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); IV. salário mínimo; 109 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. V. valor nominal do décimo terceiro salário; VI. remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; VII. proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; VIII. salário-família; IX. repouso semanal remunerado; X. remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% à do normal; XI. número de dias de férias devidas ao empregado; XII. gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; XIII. licença-maternidade com a duração mínima de 120 dias; XIV. licença-paternidade nos termos fixados em lei; XV. proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; XVI. aviso-prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de 30 dias, nos termos da lei; XVII. normas de saúde, higiene e segurança do trabalho previstas em lei ou em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho; XVIII. adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas; XIX. aposentadoria; XX. seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador; XXI. ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os 110 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; XXII. proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência; XXIII. proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos; XXIV. medidas de proteção legal de crianças e adolescentes; XXV. igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso; XXVI. liberdade de associação profissional ou sindical do trabalhador, inclusive o direito de não sofrer, sem sua expressa e prévia anuência, qualquer cobrança ou desconto salarial estabelecidos em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho; XXVII. direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender; XXVIII. definição legal sobre os serviços ou atividades essenciais e disposições legais sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade em caso de greve; XXIX. tributos e outros créditos de terceiros; XXX. as disposições previstas nos arts. 373-A, 390, 392, 392-A, 394, 394-A, 395, 396 e 400 desta Consolidação. Parágrafo único – Regras sobre duração do trabalho e intervalos não são consideradas como normas de saúde, higiene e segurança do trabalho para os fins do disposto neste artigo. (BRASIL, 2017) O art. 611-Ada CLT determina a prevalência das normas coletivas, acordos e convenções coletivas de trabalho sobre a legislação quando abordarem temas previstos no referido artigo, priorizando o interesse 111 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. coletivo; enquanto no art. 611-B da CLT, como pode-se observar, as re- gras afastam da ampla negociação as questões constitucionais garan- tidas aos empregados. IMPORTANTE O Supremo Tribunal Federal (STF) também é favorável à prevalência do negociado sobre o legislado. O ministro Luís Roberto Barroso, no julga- mento do Recurso Extraordinário – RE no 590.415/SC, entendeu como válida uma cláusula presente em acordo coletivo que dava quitação ge- ral às verbas rescisórias em razão de Plano de Dispensa Incentivada, elencando como fundamentos o exercício da faculdade e da autonomia do empregado de optar ou não pelo plano e a não verificação de assime- tria de poder no âmbito do direito coletivo do trabalho (BRASIL, 2016). 4 Implantação de política de benefícios via norma coletiva x direito adquirido Os benefícios concedidos aos empregados por seus empregadores não poderão ser retirados em face da incorporação ao contrato de tra- balho existente entre as partes, e sua supressão pode caracterizar al- teração contratual prejudicial ao empregado. A CLT, em seu artigo 468, define: Artigo 468 – Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a al- teração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, pre- juízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. § 1º Não se considera alteração unilateral a determinação do em- pregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo efe- tivo, anteriormente ocupado, deixando o exercício de função de 112 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .confiança (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017). § 2º A alteração de que trata o § 1º deste artigo, com ou sem jus- to motivo, não assegura ao empregado o direito à manutenção do pagamento da gratificação correspondente, que não será incorpo- rada, independentemente do tempo de exercício da respectiva fun- ção (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017). (BRASIL, 2017) Constitui habitualidade incorporada ao contrato de trabalho o benefí- cio concedido espontaneamente por longos períodos; havendo a cessão do benefício, temos a violação do “direito adquirido” constitucionalmente, garantido no artigo 5, inciso XXXVI, da CF. A única possibilidade de supressão do benefício concedido ao em- pregado pelo empregador é por meio de negociação coletiva de traba- lho, conforme determina a Súmula 277 do Tribunal Superior do Trabalho (TST): Súmula nº 277 do TST CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser modificadas ou suprimidas mediante negociação co- letiva de trabalho (BRASIL, 2012). 5 Dissídio coletivo e poder normativo da Justiça do Trabalho: ainda existe? Os conflitos coletivos econômicos, no Brasil, sempre foram solu- cionados pela via jurisdicional, tendo em vista o poder normativo dado à Justiça do Trabalho pela Constituição Federal; porém, houve uma 113 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. limitação desse poder, distinguindo entre matéria de lei e matéria de dissídio coletivo, concluindo que, havendo lei, não poderia a Justiça do Trabalho fixar, pelos dissídios coletivos, normas e condições de trabalho em desacordo com os seus dispositivos. O dissídio coletivo é um processo judicial de solução dos conflitos coletivos econômicos e jurídicos e importante mecanismo de criação de normas e condições de trabalho por meio dos Tribunais Trabalhistas, que propõe sentenças denominadas normativas quando as partes que não se compuseram na negociação coletiva acionam a jurisdição. A Emenda Constitucional no 45/2004 trouxe controvérsias quanto à função do poder normativo da Justiça do Trabalho, segundo Leite (2011): Há entendimentos de que o preceptivo constitucional em causa institui a arbitragem oficial no Brasil, extinguindo, assim, o Poder Normativo da Justiça do Trabalho. De nossa parte, pensamos que a sentença normativa, que é recorrível, não se equipara à senten- ça arbitral (irrecorrível), razão pela qual não nos parece que a EC nº 45/2004 teria proscrito o Poder Normativo. A exigência do “co- mum acordo” para instauração dos dissídios coletivos de natureza econômica restringe, sem dúvida, a via de acesso ao exercício do poder normativo, mas não foi intenção do constituinte derivado a extinção desse poder anômalo conferido a Justiça do Trabalho. (LEITE, 2011, p. 1.175) As jurisprudências mantêm as essências das alterações do art.114 da CF como pressupostos dos dissídios, evidenciando a manutenção do poder normativo e deixando claro que não houve extinção, nem tam- pouco a transformação para a arbitragem oficial. Mesmo depois da re- forma, é possível o ajuizamento do dissídio, pois sua admissibilidade encontra-se tacitamente prevista na competência do inciso I, art. 114 da CF (BRASIL, 1995). 114 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . A questão do comum acordo é um dos fatos mais importantes nas questões processuais que surgiram ultimamente, não apenas pelos reflexos econômicos e sociais do dissídio coletivo econômico nas re- lações entre empregados e empregadores, mas pelos singularíssimos aspectos que estão subjacentes às dimensões jurídicas. EXIGÊNCIA DE COMUM ACORDO PARA INSTAURAÇÃO DE DIS- SÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA (...) I – A Emenda Constitucional nº 45/2004 não aboliu o poder normativo da Justiça do Trabalho, nem lhe subtraiu sua função jurisdicional, desautori- zando assim a tese sustentada aqui e acolá de que teria passado à condição de mero juízo arbitral, extraída da exigência de comum acordo para instauração do dissídio coletivo. II – A atividade juris- dicional inerente ao poder normativo da Justiça do Trabalho quali- fica-se como atividade atípica, na medida em que, diferentemente da atividade judicante exercida no processo comum, não tem por objeto a aplicação de direito preexistente, mas a criação de direito novo, detalhe a partir do qual se pode divisar situação sui generis de ela, na sua atividade precípua como órgão integrante do Judici- ário, desfrutar ainda que comedidamente da atividade legiferante inerente ao Poder Legislativo (...). (BRASIL, 2011) Permanece vivo o podernormativo da Justiça do Trabalho, com al- gumas limitações, tendo liberdade para criar garantias ou potencializar as existentes, porém dentro dos limites constitucionais. Considerações finais A negociação coletiva, por meio dos dissídios coletivos, é um im- portante modo de conciliação de pontos relevantes e estratégicos na relação entre empregados e empregadores. Conta com a participação da Justiça do Trabalho, na qual é fundamental a atenção quanto aos preceitos legais e os princípios que norteiam essa relação conflituosa. É possível verificar algumas divergências quanto à aplicação da lei após a reforma trabalhista e a necessidade de adequação para que se 115 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. possa atingir os objetivos primordiais a que se refere, garantindo às partes segurança, equilíbrio, transparência e resolução dos conflitos de forma harmônica. Referências BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 2 out. 2021. BRASIL. Decreto-Lei no 5.452, de 1o maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del5452.htm. Acesso em: 1 out. 2021. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 590415/SC. O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, não conheceu dos embargos de declaração. Recorrente: Banco do Brasil S/A. Recorrido: Claudia Maria Leite Eberhardt. Relator: Min. Roberto Barroso, 3 de março de 2016. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?inciden- te=2629027. Acesso em: 5 out. 2021. BRASIL. Lei no 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, e as Leis no 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2017/lei/l13467.htm. Acesso em: 30 set. 2021. BRASIL. Lei no 8.984, de 7 de fevereiro de 1995. Estende a competência da Justiça do Trabalho (art. 114 da Constituição Federal). Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8984.htm. Acesso em: 27 ago. 2021. BRASIL. Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acesso em: 30 set. 2021. BRASIL. Lei no 7.783, de 28 de junho de 1989. Dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das http://www.planalto.gov www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8984.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015 https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?inciden http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto http://www 116 Mediação de conflitos, negociação e relações sindicais M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.HTM. Acesso em: 2 out. 2021. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho – TST. Recurso Ordinário Trabalhista: RO 16085-29.2011.5.01.000. Dissídio de natureza econômica. Recorrentes: Sindicato do Comércio Atacadista do Estado do Rio Grande do Sul e Sindicato dos Farmacêuticos no Estado do Rio Grande do Sul – Sindifars. Recorridos: os mesmos. Relator Min. Fernando Eizo Ono, 12 de setembro de 2011. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/diarios/30823488/pg-108-tribunal-superior- do-trabalho-tst-de-22-09-2011. Acesso em: 3 out. 2021. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula no 277. Convenção coletiva de trabalho ou acordo coletivo de trabalho. Eficácia ultratividade (redação alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) – Súmula cuja aplicação está suspensa nos termos da medida cautelar deferida nos autos do processo STF-ADPF Nº 323/DF. Relator: Min. Gilmar Mendes – Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e 27 de setembro de 2012. Disponível em: https:// www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_251_300. html#SUM-277. Acesso em: 5 out. 2021. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 9. ed. 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