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A IMPORTÂNCIA DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO BRASIL1 Iracir Maria Ferreira2 Declaro que o trabalho apresentado é de minha autoria, não contendo plágios ou citações não referenciadas. Informo que, caso o trabalho seja reprovado duas vezes por conter plágio pagarei uma taxa no valor de R$ 250,00 para terceira correção. Caso o trabalho seja reprovado não poderei pedir dispensa, conforme Cláusula 2.6 do Contrato de Prestação de Serviços (referente aos cursos de pós-graduação latu senso, com exceção à Engenharia de Segurança do Trabalho. Em cursos de Complementação Pedagógica e Segunda Licenciatura a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso é obrigatória). RESUMO O presente trabalho aborda a importância das aulas de educação física em escolas de tempo integral no Brasil, enfatizando seus benefícios para o desenvolvimento dos alunos. Nessa pesquisa, são abordados (1) Panorama das escolas de tempo integral no Brasil; (2) A Educação Física à luz do movimento eugenista; (3) A disciplina de Educação Física nas escolas no Brasil. Essa disciplina desempenha um papel fundamental na promoção da saúde física, mental e social dos estudantes. As atividades proporcionaram oportunidades para o fortalecimento muscular, melhoria da coordenação motora e prevenção de doenças relacionadas ao sedentarismo. Adicionalmente, a prática regular de exercícios contribuiu para a redução do estresse, ansiedade e melhoria da concentração dos alunos, proporcionando um ambiente propício para a aprendizagem. As interações sociais durante as aulas de educação física promoveram o desenvolvimento de habilidades de trabalho em equipe, comunicação e respeito mútuo, preparando os alunos para uma participação ativa na sociedade. Ao reconhecer a interconexão entre saúde física, bem-estar mental e interação social, as escolas de tempo integral investiram na formação integral dos alunos, proporcionando-lhes as ferramentas necessárias para uma vida saudável e equilibrada. Em suma, as aulas de educação física desempenharam um papel crucial no desenvolvimento holístico dos alunos. Palavras-chave: Educação física, desenvolvimento integral, saúde, bem-estar, interação social. ABSTRACT The present study addresses the importance of physical education classes in full-time schools in Brazil, emphasizing their benefits for student development. This research covers (1) an overview of full-time schools in Brazil; (2) Physical Education in the light of the eugenic movement; (3) Physical Education discipline in Brazilian schools. This discipline plays a fundamental role in promoting the physical, mental, and social health of students. The activities provide opportunities for muscle strengthening, improvement of motor coordination, and prevention of sedentary-related diseases. Additionally, regular exercise practice has contributed to reducing stress, anxiety, and improving students' concentration, providing a conducive environment for learning. Social interactions during physical education classes have promoted the development of teamwork, communication, and mutual respect skills, preparing students for active participation in society. By recognizing the interconnectedness of physical health, mental well-being, and social interaction, full-time schools have invested in the holistic development of 1 Artigo científico apresentado ao Grupo Educacional IBRA como requisito para a aprovação na disciplina de TCC. 2 Discente do curso de Licenciatura em Educação Física pelo Grupo Educacional IBRA. E-mail: iracirmf@gmail.com students, providing them with the necessary tools for a healthy and balanced life. In summary, physical education classes have played a crucial role in the holistic development of students. Keywords: Physical education, holistic development, health, well-being, social interaction. 3 1. INTRODUÇÃO No contexto educacional brasileiro, a implementação de escolas de tempo integral tem sido uma medida significativa para promover uma educação mais completa e abrangente. Dentro deste contexto, este artigo se propõe a discutir a importância das aulas de Educação Física nas escolas de tempo integral no Brasil. Nesse sentido, a presente pesquisa tem como objetivo explorar a importância das aulas de Educação Física no contexto da escola em tempo integral no Brasil, explorando os benefícios para o desenvolvimento físico, mental e social dos alunos, destacando a importância de uma abordagem holística no currículo educacional no contexto da escola em tempo integral. A escolha deste tema decorre do reconhecimento do papel multifacetado desempenhado pela Educação Física no desenvolvimento dos estudantes, papel crucial que desempenha no cultivo não apenas da saúde física, mas também do bem-estar mental e social entre os alunos. Embora exista uma ampla literatura sobre o tema da Educação Física, especialmente em relação aos resultados de saúde, há uma escassez de pesquisas especificamente focadas em seu papel em configurações de escolas em tempo integral. Ao examinar essa interseção, esta pesquisa visa contribuir para o amplo debate acerca da educação e saúde, considerando a necessidade de compreender melhor os impactos e benefícios das aulas de Educação Física em escolas de tempo integral, além de abordar o papel desempenhado por esta disciplina no contexto educacional brasileiro. Neste sentido, a partir do cenário exposto e as questões decorrentes do tema, de modo a compreender a contribuição da disciplina para a formação dos alunos, o problema central desta pesquisa reside na seguinte questão: qual é a importância das aulas de Educação Física na escola de tempo integral no Brasil e como essas aulas contribuem para o desenvolvimento integral dos alunos? O objetivo geral deste trabalho é compreender a importância das aulas de Educação Física nas escolas de tempo integral, dado o contexto brasileiro, visando identificar os principais benefícios físicos, cognitivos, emocionais e sociais das aulas de Educação Física, bem como investigar as possíveis barreiras ou desafios enfrentados na implementação efetiva desta disciplina. Em termos de metodologia, esta pesquisa adota uma abordagem qualitativa, recorrendo à literatura existente para fornecer estruturas teóricas e a captação dos elementos necessários para fomentar o debate. Foram utilizados autores como Darido (2003), Góis Júnior e Simões (2011), Simões e Tavares da Silva (2013), Oliveira e Daolio (2014), Fensterseifer e Gónzales 4 (2007), Taffarel (1999), Wilhelms e Sampaio (2014), Braga (2015), Cavaliere (2009, 2010, 2014), Hildebrandet-Stramann e Taffarel (2017), Nobrega (2005) e Freire (1997). Por meio desta metodologia, a pesquisa visa fornecer uma compreensão matizada do assunto e oferecer recomendações acionáveis para a prática da disciplina, sendo ela dividida da seguinte forma: (1) Panorama das escolas de tempo integral no Brasil; (2) A Educação Física à luz do movimento eugenista; (3) A disciplina de Educação Física nas escolas no Brasil; e, por fim, (4) Conclusão. 5 2. PANORAMA DAS ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL NO BRASIL De acordo com a Lei nº 9394 (BRASIL, 1996, art. 1º, caput), a educação no Brasil “[...] abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. Ainda conforme esta lei, a educação é um dever da família e do Estado, tendo como objetivo “[...] o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o mundo do trabalho” (BRASIL. Lei nº 9394, 1996, art. 2º). Segundo Hildebrandet-Stramann e Taffarel (2017, p. 111), a educação [...] é uma parte da socialização geral,isto é, aquele setor de interações conscientes e socialmente regulamentadas, nas quais o jovem, no seu processo de desenvolvimento, é qualificado a aprender maneiras culturais de uma sociedade e prosseguir no seu desenvolvimento e nesse processo de qualificação tornar-se uma pessoa independente e responsável. Nesse sentido, as escolas de tempo integral têm sido uma iniciativa importante para promover a qualidade da educação, oferecendo um ambiente propício para o aprendizado contínuo e o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e políticas dos alunos. Essas escolas oferecem uma jornada educacional mais ampla, que vai além do currículo tradicional, integrando atividades extracurriculares, apoio pedagógico e alimentação balanceada. Conforme Cavaliere (2014), a atual implementação da escola pública em tempo integral é uma reação à demanda por aprimoramento do sistema educacional público e à busca por maior qualidade no ensino. Este debate ganhou relevância no Brasil no início do século XX, com figuras como Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Lourenço Filho emergindo como impulsionadores da extensão da jornada escolar e da reforma curricular, visando consolidar uma escola pública democrática (Cavaliere, 2010). Cavaliere (2009, p. 52) argumenta que Os modelos de organização para realizar a ampliação do tempo de escola que vem se configurando no país podem ser sintetizados em duas vertentes: uma que tende a investir em mudanças no interior das unidades escolares, de forma que possam oferecer condições compatíveis com a presença de alunos e professores em turno integral, e outra que tende a articular instituições e projetos da sociedade que ofereçam atividades aos alunos no turno alternativo às aulas, não necessariamente no espaço escolar, mas, preferencialmente, fora dele 6 Inicialmente, essas escolas eram voltadas principalmente para comunidades em situação de vulnerabilidade social, visando oferecer oportunidades educacionais mais amplas e garantir a permanência dos alunos na escola durante todo o dia. Com o passar do tempo, o conceito de escola de tempo integral foi se expandindo para além desse público, sendo adotado por diversas redes de ensino em todo o país. No entanto, o país enfrenta uma série de desafios na implementação e manutenção dessas escolas, incluindo questões relacionadas à infraestrutura inadequada, que muitas vezes não está preparada para receber os alunos em tempo integral. Além disso, o financiamento insuficiente é uma questão crítica, pois as escolas de tempo integral demandam recursos adicionais para cobrir os custos com alimentação, transporte, material didático e atividades extracurriculares. A formação e capacitação de professores também representam um desafio, uma vez que o modelo de ensino em período integral requer uma abordagem pedagógica diferenciada, voltada para o desenvolvimento dos alunos em campos que podem ultrapassar a sala de aula. Além dos desafios mencionados anteriormente, a falta de envolvimento e participação da comunidade também pode representar um obstáculo significativo para a implementação bem-sucedida das escolas de tempo integral. É fundamental que as famílias, os pais e os responsáveis estejam engajados no processo educacional de seus filhos, apoiando as atividades desenvolvidas nas escolas em período integral e colaborando com os professores e demais profissionais da educação. A falta de apoio e engajamento da comunidade pode comprometer a eficácia das iniciativas de educação em período integral e dificultar a construção de uma cultura escolar sólida e participativa. Apesar dos desafios enfrentados, as escolas de tempo integral têm o potencial de desempenhar um papel crucial na transformação do sistema educacional brasileiro. Com investimentos adequados em infraestrutura, financiamento e formação de professores, essas escolas podem oferecer uma educação de qualidade e promover o desenvolvimento dos estudantes por meio de projetos e atividades extracurriculares, visando a redução das desigualdades educacionais e a construção de uma prática educativa voltada para a formação humana. Para garantir o sucesso das escolas de tempo integral no Brasil, é essencial que haja um compromisso contínuo por parte dos governos em nível federal, estadual e municipal, bem como dos diferentes atores envolvidos no campo da educação. Isso inclui a alocação de recursos financeiros adequados para a expansão e manutenção das escolas em período integral, bem como a implementação de políticas públicas que promovam a equidade e a inclusão no sistema 7 educacional. Além disso, é necessário investir na formação e capacitação continuada de professores e gestores escolares, proporcionando-lhes as ferramentas e o suporte necessários para atender às demandas do ensino em período integral. 8 3. A EDUCAÇÃO FÍSICA À LUZ DO MOVIMENTO EUGENISTA A introdução da Educação Física no Brasil, segundo Góis Júnior e Simões (2011), ocorreu por volta do século XIX, trazendo consigo a perspectiva higienista e utilitária da Europa. A disciplina foi inicialmente oferecida como ginástica no país, em 1837, em uma escola no Rio de Janeiro, sob responsabilidade de um médico. Em 1851, por meio da reforma Couto Ferraz, tornou-se obrigatória a prática de ginástica em todas as escolas do município da Corte, de forma que, em 1855, estabeleceu-se a ginástica como disciplina no ensino primário e a dança no ensino secundário. Conforme Simões e Tavares da Silva (2013, p. 9), No início do século XX, o positivismo no Brasil influenciou na criação das primeiras escolas de Educação Física, tendo os militares como pioneiros na área. Em 1910 foi criado na cidade de São Paulo o primeiro curso de formação de professores em Educação Física, destinados aos oficiais da Força Pública do Estado e meio civil. O curso era ministrado por oficiais franceses e desta forma se dava início ao embrião da Escola de Educação Física do Exército. Assim, não houve dificuldades para a inserção do método francês. A presença da Educação Física nas escolas brasileiras tem uma longa história, influenciada por diferentes correntes pedagógicas e contextos sociopolíticos. No entanto, uma análise mais profunda revela que, em certos períodos, essa disciplina foi instrumentalizada para promover ideais eugênicos, em consonância com o movimento eugenista. O movimento eugenista, influente no final do século XIX e início do século XX, promovia a ideia de aprimoramento da raça humana por meio de práticas seletivas de reprodução e educação. Influenciado por ideias de darwinismo social e conceitos de "melhoria" genética da sociedade, o eugenismo reforçava que certos traços físicos e mentais eram hereditários e que a seleção cuidadosa dos parceiros e políticas de reprodução poderiam melhorar a qualidade da população. Essas ideias foram impulsionadas por figuras como Francis Galton, que cunhou o termo "eugenia" em 1883. O movimento defendia a melhoria da raça humana por meio da seleção genética e social, buscando promover características consideradas desejáveis. No contexto da Educação Física, essas ideias se refletiram em políticas e práticas que buscavam promover determinados padrões físicos e atléticos, muitas vezes em detrimento da diversidade e inclusão. De acordo com Oliveira e Daolio (2014), a disciplina foi reduzida à prática esportiva como uma forma de controle social. 9 No contexto brasileiro, a introdução da Educação Física – ligada a ideais eugênicos, especialmente no início do século XX – dava ênfase em atividades físicas e atléticas específicas, refletindo uma busca por corpos saudáveis e vigorosos, vistos como ideais eugênicos. O movimento eugenista encontrou terreno fértil em um país que buscava construir uma identidade nacional, muitas vezes associada à imagem de um povo forte e saudável.Como resultado, as políticas educacionais frequentemente enfatizavam a prática de atividades físicas e esportivas como meio de desenvolver um corpo robusto e apto para o serviço militar e o trabalho. Dentro desse contexto, muitas vezes, indivíduos que não se enquadravam nos padrões físicos estabelecidos eram excluídos ou marginalizados. Isso contribuiu para a perpetuação de estereótipos e preconceitos em relação a determinados grupos étnicos, sociais ou físicos. Essa ênfase na "fortificação" física frequentemente levava à exclusão de grupos considerados "inferiores" de acordo com os padrões eugênicos da época. Indivíduos com deficiências físicas ou mentais, pertencentes a minorias étnicas ou sociais marginalizadas, muitas vezes eram deixados de fora dos programas de Educação Física ou eram submetidos a regimes segregacionistas. Segundo Simões e Tavares da Silva (2013), a Educação Física escolar era vista como um meio de democratização do Estado Brasileiro durante a ditadura militar. Nesse período, surgiram novas perspectivas para o ensino da disciplina, a partir das tendências construtivistas e desenvolvimentistas. Essas tendências pedagógicas trazem consigo uma nova abordagem sobre como o conhecimento em Educação Física é abordado nas escolas, destacando um enfoque na cultura corporal (SIMÕES; TAVARES, 2013). Darido (2003, p. 1) apontou que Os objetivos e as propostas educacionais da Educação Física foram se modificando ao longo deste último século, e todas estas tendências, de algum modo, ainda hoje influenciam a formação do profissional e as práticas pedagógicas dos professores de Educação Física. Embora o movimento eugenista tenha perdido influência ao longo do tempo devido às suas conotações discriminatórias e opressivas, seu legado pode ser observado em práticas contemporâneas de exclusão e marginalização na Educação Física e no esporte como um todo. Seus efeitos podem ser observados até os dias de hoje e a ênfase na excelência atlética em detrimento da diversidade de habilidades e corpos ainda persiste em muitos contextos esportivos e educacionais. Além disso, os estereótipos e preconceitos enraizados na ideologia eugênica continuam a impactar as percepções sociais sobre saúde, aptidão e beleza. 10 A análise da relação entre a Educação Física nas escolas brasileiras e o movimento eugenista revela a importância de se reconhecer e problematizar as influências históricas e ideológicas por trás das práticas educacionais. Ao compreender o contexto no qual determinadas políticas e abordagens foram desenvolvidas, pode-se trabalhar para promover uma educação física mais inclusiva e diversificada, que valorize e respeite a singularidade de cada indivíduo. A partir do pensamento de Fensterseifer e Gónzalez (2007), é fundamental abandonar a concepção de Educação Física meramente baseada em prática, técnica, mecanicismo, esportivismo e reprodução. Em vez disso, é crucial adotar uma abordagem que a reconheça como uma disciplina educacional capaz de produzir conhecimentos teórico-práticos relacionados à cultura corporal de movimento. 11 4 A DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO FÍSICA NAS ESCOLAS NO BRASIL Ao examinar a manifestação das práticas da Educação Física na escola contemporânea, reavalia-se também a sua abordagem pedagógica, visando a uma nova instrumentalização de seu objeto de estudo. Segundo Taffarel (1999), o que antes era considerada uma disciplina normativa, agora assume o papel de uma prática educativa mais abrangente e humanizadora – que leve em conta os processos históricos, sociais, políticos, econômicos – contribuindo para a formação integral do ser humano: Uma prática pedagógica humanizadora sustenta-se na participação dos sujeitos envolvidos no ato de conhecer, reconhece as diferenças culturais, sociais, étnicas, de gênero e de pessoa, sem reafirma-las como causa de desigualdade ou exclusão. Revela o compromisso com o desempenho escolar dos/as estudantes, ao tempo em que leva em conta o desenvolvimento integral dos sujeitos e reconhece que o modelo societário em que vivemos as oportunidades não são iguais para todos/as, uma vez que as condições não são as mesmas (BRAGA, 2015, p.36). A Educação Física é uma disciplina fundamental no contexto educacional, contribuindo para o desenvolvimento dos alunos em diferentes aspectos, sendo reconhecida como um componente essencial da educação, fornecendo, dentre outros, benefícios físicos, cognitivos e sociais. A Educação Física desempenha um papel crucial no desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo dos alunos, além de promover hábitos saudáveis, contribui para a formação de cidadãos ativos e conscientes. A Educação Física desempenha um papel multifacetado no contexto escolar, indo além do simples desenvolvimento físico dos alunos. Ela proporciona oportunidades para aprimorar habilidades motoras, promover a socialização, desenvolver valores como respeito, cooperação e liderança, além de contribuir para a melhoria da saúde e qualidade de vida. Os profissionais de Educação Física, conforme Nobrega (2005, p. 83-84), [...] têm muito a contribuir com a educação, socializando um novo conceito de corpo, a partir das diferentes expressões de movimento que, historicamente, fazem parte do seu acervo e outras, que possam vir a incorporar-se, considerando-se também que o movimento deve despertar no sujeito a percepção de si mesmo como ser corporal, em relação com os outros e com o mundo, e da sensibilidade como atribuidora de significado às ações humanas. Apesar da importância reconhecida, a Educação Física enfrenta desafios significativos em sua inserção nas escolas brasileiras. Questões como falta de estrutura adequada, ausência de profissionais qualificados e sobrecarga curricular são frequentemente citadas como obstáculos. Para superar os desafios, é necessário adotar estratégias que promovam uma prática 12 efetiva da Educação Física nas escolas. Isso inclui investimentos em infraestrutura, formação continuada de professores e integração da disciplina com outras áreas do conhecimento. Muitas escolas enfrentam dificuldades em oferecer instalações como quadras esportivas, campos de jogo e equipamentos adequados, limitando as possibilidades de desenvolvimento das atividades propostas. Conforme Wilhelms e Sampaio (2014, p.5), O atual contexto da realidade brasileira, no que diz respeito às escolas sem quadras ou área para a prática de esportes coletivos, ainda carece de cobertura. Cremos que, propiciar melhores condições de trabalho aos professores de Educação Física e seus alunos, significa valorizar a prática da disciplina e proporcionar uma prática educativa de melhor qualidade. Além disso, a formação e capacitação dos professores de Educação Física também emergem como um ponto crucial. É essencial que esses profissionais estejam preparados não apenas em termos de conhecimento técnico, mas também em habilidades pedagógicas e de gestão de aula. Investimentos em programas de formação continuada são fundamentais para garantir que os professores estejam atualizados com as melhores práticas e abordagens pedagógicas. Outro desafio relevante é a sobrecarga curricular enfrentada pelas escolas, que muitas vezes resulta na redução do tempo dedicado à Educação Física em detrimento de outras disciplinas consideradas prioritárias para avaliações padronizadas. Essa diminuição do tempo de aula pode comprometer a qualidade e eficácia do ensino da disciplina, limitando as oportunidades de aprendizado e vivência prática dos alunos. Nesse sentido, é importante promover uma abordagem interdisciplinar da Educação Física, integrando-a com outras áreas do conhecimento, como ciências, matemática e saúde. Isso não apenas enriquece o currículo escolar, mas também ajuda a contextualizar a importância da atividade física e seus benefíciospara a saúde e bem-estar geral. De acordo com Freire (1997), Em relação ao seu papel pedagógico, a Educação Física deve atuar como qualquer outra disciplina da escola, e não desintegrada dela. As habilidades motoras precisam ser desenvolvidas, sem dúvida, mas deve estar claro quais serão as consequências disso do ponto de vista cognitivo, social e afetivo. A saúde física deve ser um pilar central das aulas de Educação Física em escolas de tempo integral, de modo que as atividades planejadas e supervisionadas por profissionais especializados visem não apenas promover a aptidão física, mas também inculcar hábitos saudáveis desde cedo. Exercícios aeróbicos, jogos esportivos e práticas de resistência 13 contribuem para o fortalecimento muscular, melhoria da saúde cardiovascular e prevenção de problemas relacionados ao sedentarismo. Dessa forma, as aulas de Educação Física se tornam um investimento preventivo no bem-estar físico dos alunos, estabelecendo a base para um estilo de vida ativo e saudável. O bem-estar mental está intrinsecamente ligado à prática regular de atividades físicas. As endorfinas liberadas durante o exercício não apenas proporcionam uma sensação de prazer, mas também desempenham um papel crucial na redução do estresse e da ansiedade. Além disso, a melhoria da concentração e da capacidade cognitiva observada em alunos engajados em atividades físicas regulares destaca a correlação entre a saúde mental e as aulas de educação física. Ao fornecer uma válvula de escape para as pressões acadêmicas e sociais, essas aulas se tornam um elemento fundamental na promoção do equilíbrio emocional e mental dos estudantes. A partir de Heldebrandet-Stramann e Taffarel (2017, p. 39), movimentar o corpo nas aulas de Educação Física pode proporcionar experiências em três áreas: Mediante a função instrumental e sensitiva é possível adquirir experiências com o material por meio do movimento. Por intermédio da função social é possível fazer experiências sociais por meio do contato com outras pessoas. Por meio da função simbólica é possível fazer experiências corporais mediante um confronto direto como seu próprio corpo pelo movimento. Além disso, as interações sociais proporcionadas pelas aulas de educação física são cruciais para o desenvolvimento social dos alunos. Jogos em equipe, competições e atividades colaborativas criam um ambiente propício para o desenvolvimento de habilidades sociais essenciais. Aprendendo a trabalhar em equipe, respeitar as diferenças individuais e enfrentar desafios juntos, os estudantes não apenas desenvolvem laços sociais mais fortes, mas também adquirem competências interpessoais valiosas. Esse aspecto social das aulas de educação física contribui para a formação de cidadãos responsáveis e colaborativos, preparando-os para uma participação ativa na sociedade. O desenvolvimento holístico emerge da interconexão desses elementos – saúde física, bem-estar mental e interação social. Ao reconhecer que a educação não se limita apenas à transmissão de conhecimento acadêmico, as escolas de tempo integral abraçam a importância de nutrir todas as dimensões dos alunos. Essa abordagem integrada não apenas prepara os estudantes para os desafios acadêmicos, mas também os equipa com as ferramentas necessárias para enfrentar as complexidades da vida cotidiana de maneira equilibrada e resiliente. 14 Ao compreender em detalhes cada faceta do desenvolvimento proporcionado pelas aulas de Educação Física, percebe-se que elas vão além do mero exercício físico, pois podem contribuir para a formação de indivíduos saudáveis, mentalmente equilibrados e socialmente conscientes. Ao reconhecer a saúde física como um componente fundamental, as escolas investem não apenas na prevenção de doenças, mas também na promoção de estilos de vida saudáveis a longo prazo. O fortalecimento muscular, a melhoria da coordenação motora e a prevenção de problemas relacionados ao sedentarismo destacam-se como benefícios tangíveis, moldando uma geração mais ativa e consciente de sua saúde. O impacto positivo nas dimensões do bem-estar mental não pode ser subestimado. As aulas de educação física proporcionam não apenas uma pausa revigorante nas demandas acadêmicas, mas também um ambiente propício para a liberação de endorfinas, contribuindo para a redução do estresse, ansiedade e aprimoramento da concentração. Assim, o equilíbrio entre mente e corpo pode se manifestar como um resultado direto dessas práticas. A importância da interação social nas aulas de educação física transcende a esfera acadêmica, preparando os alunos para a sociedade. O trabalho em equipe, o respeito mútuo e o desenvolvimento de habilidades sociais são aspectos fundamentais que não apenas complementam a educação formal, mas também moldam cidadãos mais colaborativos e compreensivos. 15 5 CONCLUSÃO Ao fim desta exploração sobre a importância das aulas de Educação Física em escolas de tempo integral no Brasil, fica evidente que essas atividades desempenham um papel insubstituível no desenvolvimento global dos alunos. A interconexão entre saúde física, bem- estar mental e interação social estabelece uma base sólida para a formação humana, preparando os estudantes para serem sujeitos ativos nas mais possíveis áreas de suas vidas. Ao reconhecer a influência do movimento eugenista na implementação de tal disciplina nas escolas brasileiras do século passado, pode-se entender melhor as origens de certas práticas e ideologias presentes na Educação Física contemporânea. É essencial questionar e desafiar esses legados históricos, promovendo uma abordagem mais inclusiva, que valorize a diversidade de corpos, habilidades e experiências. Somente assim será possível criar ambientes educacionais que respeitem e celebrem a singularidade de cada indivíduo, sem perpetuar noções obsoletas de superioridade e inferioridade baseadas em características físicas. Nesse contexto, as escolas de tempo integral no Brasil representam uma importante estratégia para promover a qualidade da educação e o desenvolvimento de seus alunos. No entanto, para que essas escolas alcancem todo o seu potencial, é necessário enfrentar os desafios existentes e investir recursos significativos em sua implementação e manutenção. Com o apoio adequado do governo, das comunidades e de outros atores relevantes, as escolas de tempo integral podem se fortalecer e cada vez mais e se tornarem uma realidade acessível para mais crianças e adolescentes brasileiros. A inserção da disciplina de Educação Física nas escolas no Brasil, incluindo o período integral, é essencial para garantir uma educação ampla e de qualidade. Superar os desafios enfrentados requer um compromisso coletivo e contínuo com a promoção da atividade física e do bem-estar dos alunos. Somente através de investimentos em infraestrutura, formação de professores e integração curricular será possível alcançar uma prática efetiva e significativa da Educação Física nas escolas brasileiras de tempo integral. Em suma, as aulas de Educação Física desempenham um papel crucial no desenvolvimento holístico dos alunos, fornecendo benefícios que vão além dos limites da sala de aula. Ao reconhecer e fortalecer esses aspectos, as escolas de tempo integral no Brasil não apenas educam, mas cultivam indivíduos saudáveis, mentalmente resilientes e socialmente conscientes. Este investimento na formação dos alunos reflete não apenas na qualidade de vida durante a fase escolar, mas também na preparação para os desafios e oportunidades que a vida apresenta após a conclusão da educação formal. 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRACHT, Valter. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394, 1996. Brasília, DF: MEC, 1996. 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